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In: Silvia Figueiredo Brandão; Maria Antónia Mota. (Org.). Análise contrastiva de variedades do
português: primeiros estudos. I ed. Rio de Janeiro, 2003, v. I, p. 61-76.
De Vossa Mercê a você: análise da pronominalização de nominais em peças brasileiras e
portuguesas setecentistas e oitocentistas
Célia Regina dos Santos Lopes - UFRJ
Maria Eugênia Lamoglia Duarte – UFRJ/CNPq
1. Introdução
Pesquisas recentes já anunciaram algumas diferenças estruturais significativas entre a
vertente brasileira e a portuguesa da língua com base em corpora sincrônicos e diacrônicos,
particularmente no que se refere ao quadro pronominal. Em relação à forma você, originada do
pronome de tratamento Vossa Mercê, o que se ressalta atualmente como diferença relevante é o
seu emprego na interlocução. Em português europeu você está em distribuição com o(a)
senhor(a) e tu, segundo o grau de intimidade estabelecido entre os interlocutores, o que revela
que você ainda guarda traços de forma de tratamento. No português do Brasil, ao contrário,
você, já está perfeitamente integrado ao sistema de pronomes pessoais, substituindo tu em
grande parte do território nacional ou convivendo com tu sem que o verbo traga a marca
distintiva da chamada “segunda pessoa direta”.
Na verdade, a variação tu / você no Brasil não é uma questão simples. Peças de teatro
escritas no Rio de Janeiro, ao longo dos séculos XIX e XX, revelam que, por volta dos anos 2030 do século XX, a coexistência das duas formas desaparece, sendo quase exclusivo o uso de
você (Duarte 1993). No entanto, no último quartel desse mesmo século, nota-se no mesmo tipo
de texto um retorno do pronome tu, desta vez sem a forma verbal com a flexão de segunda
pessoa (Paredes Silva 2000). Com base numa amostra controlada de língua oral1, Paredes Silva
(2003) confirma esse retorno de tu à fala carioca, com a forma verbal não marcada. Segundo
Menon (1997) e Menon & Loregian-Penkal (2002), pesquisas realizadas nas três capitais do sul
indicam a ausência de tu em Curitiba, sua concorrência com você em Florianópolis e Porto
Alegre, com uma interessante particularidade: em Florianópolis, tu é menos freqüente que você,
mas tende a aparecer mais com a flexão verbal marcada, enquanto em Porto Alegre, tu é mais
1
Segundo a autora, as entrevistas sociolingüísticas não são o contexto ideal para o uso da segunda
pessoa, daí a necessidade de amostras controladas, que apresentem conversas naturais entre duas pessoas.
2
freqüente, mas a flexão verbal é mais rara2. Falta-nos uma descrição mais detalhada dessa
variação nas regiões norte e nordeste3.
O certo é que, além da referência definida, o uso de você (e também de tu) se expandiu
para os contextos de referência indeterminada (também em concorrência com tu em várias
regiões do país) e já aparece em construções existenciais, com um possível valor expletivo
(Duarte 1995, 1999, 2003, e Avelar 2003). No plural, pode-se dizer que você acabou por
substituir a forma pronominal vós.
Tendo em vista as diferenças entre o uso europeu e o brasileiro, pretendemos:
a)
delinear historicamente o processo de gramaticalização/pronominalização da forma
Vossa Mercê nos dois territórios;
b)
levantar as formas nominais e pronominais de tratamento mais freqüentes nos
séculos XVIII – XIX em português;
c)
identificar os fatores lingüísticos e extralingüísticos que aceleraram o processo de
gramaticalização de Vossa Mercê > você no português do Brasil, ocasionando sua inserção no
nosso sistema pronominal.
A amostra utilizada4 se compõe de textos literários (peças teatrais populares) escritos em
Portugal e no Brasil nos séculos XVIII e XIX. As peças brasileiras são comédias de costumes. O
material português inclui “entremezes” - farsas de um só ato, composições de caráter burlesco
ou jocoso, que apresentavam temas simplórios e personagens populares do cotidiano da época.
Escolheu-se este tipo de texto porque apresenta características que favorecem a presença -mesmo que às vezes caricatural -- de traços típicos da fala dos períodos históricos analisados.
2. O quadro teórico
Nos estudos funcionalistas sobre gramaticalização, revigorados nas décadas de 80 e 90,
autores como Lichtenberk (1991) retomam a discussão sobre o problema da transição
(Weinreich, Labov & Herzog 1968) e defendem ser o gradualismo inerente aos fenômenos de
2
Ana Zilles (comunicação pessoal) lembra que as Cartas do ALERS (Atlas Lingüístico e
Etnográfico da Região Sul) mostram que há áreas de uso exclusivo de 'tu', áreas de uso exclusivo de 'você'
e áreas em que as duas formas se alternam. Lembra ainda que fatores de natureza extralingüística são
extremamente relevantes nessa alternância.
3
Lemos Monteiro (1997) destaca o baixo uso de tu nas cinco capitais contempladas pelo Projeto
NURC, mas chama a atenção para o fato de que em Fortaleza o uso de tu é semelhante ao de Porto
Alegre, sem a marca de concordância, independentemente da classe social ou do nível de escolaridade. É
possível que a quase ausência de tu nas entrevistas do NURC se deva ao estilo próprio das entrevistas,
como apontou por Paredes Silva 2003 (cf. nota 1)
4
Veja-se a relação ao final deste artigo.
3
gramaticalização estudados. Postula-se, inclusive, que por ser um fenômeno contínuo, a
gramaticalização não é um processo que possa se extinguir. Assim como ocorreu com a gente
(cf. Lopes 1999, 2003), a gramaticalização, ou mais especificamente, a pronominalização de
Vossa Mercê > você acarretou perdas e ganhos em termos de suas propriedades formais e
semânticas por conta da mudança categorial de nome para pronome. Nem todas as propriedades
formais nominais foram perdidas, assim como não foram assumidas todas as propriedades
intrínsecas aos pronomes pessoais. Assim como mostra Lopes (1999, 2003), no mapeamento
diacrônico delineado na gramaticalização de a gente, a gramaticalização de Vossa Mercê não foi
um processo isolado, mas conseqüência de uma mudança encaixada lingüística e socialmente.
Há uma emergência gradativa de formas nominais de tratamento que passam a substituir o
tratamento cortês universal vós a partir do século XV, num primeiro momento pela ascensão da
nobreza e mais tarde da burguesia que exigia um tratamento diferenciado. Essa propagação, que
começa de cima para baixo, se dissemina pela comunidade como um todo e as formas perdem
sua concepção semântica inicial, gramaticalizando-se – algumas de forma mais acelerada que
outras, como é o caso de Vossa Mercê > vosmecê > você.
Cabe ainda discutir alguns aspectos lingüísticos que delimitam entre fins do século XVIII
o início do processo de pronominalização de Vossa Mercê e a efetiva gramaticalização de você a
partir do século XIX. Levam-se em conta, principalmente, os 5 princípios propostos por
Hopper (1991): estratificação (“layering”), divergência, especialização, persistência e
decategorização.
Como discutido em Hopper (1991) e em outros trabalhos que reinterpretam os princípios
propostos à luz da teoria da variação (Omena e Braga 1986; Lopes 1999, 2003; Naro & Braga
2000, Lopes e Duarte 2002 a,b,c; Rumeu, 2001), o princípio da estratificação (layering) estipula
a coexistência entre o novo e o velho em um domínio funcional amplo. Não há o descarte
imediato da forma mais antiga, no caso Vossa mercê, em detrimento da forma emergente (você),
mas um período de transição, de convivência das diversas camadas, que configurariam uma fase
de convivência entre as duas estratégias. Com relação ao princípio da divergência, postula-se a
permanência do item lexical original (Vossa mercê) convivendo de forma autônoma ao lado da
forma gramaticalizada (você), embora divirjam funcionalmente. O substantivo mercê conserva
ainda hoje sua integridade fonológica e até, de certa forma, semântica: Estamos à mercê de
bandidos. A forma gramaticalizada você, por sua vez, sofreu perda gradual de substância
fonológica (erosão) – Vossa mercê > vosmecê > você > cê5 -- e semântica (dessemantização) –
perda do caráter de reverência e cortesia original -- nos termos de Lehmann (1985).
5
Foram localizadas em algumas peças teatrais portuguesas dos séculos XVIII-XIX as seguintes
representações gráficas: Vossé(s), Você(s), Boixê(s), Vossa(s) Mercê(s), V.M., Boxa Mercê (Lopes, 2001,
4
Outro princípio, a especialização, associa-se à limitação das opções, que ocorre quando
há um estreitamento da variedade de escolhas, fazendo com que uma das formas se torne, em
alguns contextos, praticamente obrigatória. Pressupõe-se, pois, que a forma emergente (você)
passe paulatinamente a ocorrer em contextos lingüísticos específicos e diferentes dos contextos
favorecedores de Vossa mercê. A conservação de alguns traços do significado original,
aderindo-se à nova forma gramaticalizada, remete-nos ao princípio da persistência. Como
aponta o autor, nos processos de gramaticalização, detalhes da história lexical do item podem se
refletir na forma gramaticalizada durante estágios intermediários.
Por fim, o princípio da de-categorização (ou descategorização) proposto por Hopper
(1991) consiste na neutralização das marcas morfológicas e propriedades sintáticas da categoriaorigem (nome ou sintagma nominal), que assume os atributos da categoria-destino (forma
pronominal).
Ao mesmo tempo que acompanhamos o processo de gramaticalização de Vossa Mercê,
interessa-nos observar o comportamento da forma de tratamento (categoria-origem)
e do
pronome (cetegoria-destino), particularmente na função sintática de sujeito. Se o português dos
séculos XVIII e XIX apresenta características de língua de sujeito nulo (cf. Duarte 1993),
espera-se que o comportamento da forma de tratamento seja o de uma forma nominal –
preferencialmente expresso; o da forma gramaticalizada/pronominalizada, por outro lado, deve
espelhar o comportamento dos pronomes nos períodos em questão, que obedecem ao Princípio
“Evite Pronome”, sendo usualmente nulos. Essa perspectiva, associada ao quadro de Princípios
e Parâmetros (Chomsky 1981) está em perfeita consonância com o princípio da decategorização acima mencionado.
A análise quantitativa será feita com base na Sociolingüística Variacionista laboviana,
através da aplicação do programa VARBRUL (cf. Mollica e Braga 2003), que calcula as
freqüências e o peso relativo de cada fator lingüístico ou extralingüístico postulado. Como se vê,
o trabalho busca integrar a perspectiva variacionista, discutida em Weinreich, Labov & Herzog
(1968) e Labov (1994), a outros modelos formais e funcionais.
3. Um pouco de história
2003a). A incerteza e a diversidade de grafias evidencia a produtividade do uso de tal forma de
tratamento no período, o que pode ser uma tentativa de o escritor deixar transparecer, mesmo que de
forma caricatural, a alta freqüência da forma sincopada na boca de pessoas do povo.
(Ver ainda Ramos (1997) para um estudo sincrônico do processo de cliticização de você).
5
Cintra (1972) mostra que o atual sistema de tratamento difere daquele encontrado nos
primórdios de nossa língua em que não havia tratamentos do tipo nominal – pelo menos não
localizáveis nos textos. A oposição se estabelecia basicamente entre tu/vós (plano da
intimidade) versus vós (plano de cortesia ou distanciamento), como até hoje em francês.
As formas nominais de tratamento sofrem um processo de especialização já nos fins do
século XIV. O autor descreve esse processo de mudança, correlacionando-o a um processo de
hierarquização cada vez maior da sociedade. Vossa mercê, que aparece como tratamento para o
rei por volta de 1460, deixa de sê-lo em 1490. A degradação hierárquica - ou a ascendência da
nobreza? - é progressiva e a expressão passa a referir-se a duques, depois a infantes, a fidalgos
e, no século XVI, já é usada por Gil Vicente para patrões burgueses. Vossa Senhoria também
sofre, em menor escala, o mesmo processo de perda gradativa de reverência. Começa como
tratamento ao rei, passa a ser empregado para fidalgos da nobreza e se estabelece num nível
superior a Vossa Mercê. Vossa Alteza se especializa como tratamento ao rei no século XV.
Felipe II em 1586 na Espanha e em 1597 em Portugal estabelece legalmente como devem ser
empregadas as expressões de tratamento. Tal postura pode nos sugerir, em princípio, duas
hipóteses: 1) havia uma grande flutuação no emprego dessas formas de tratamento entre as
pessoas da época e 2) a sociedade tinha uma grande preocupação em determinar os papéis
sociais desempenhados pelos membros que a constituíam.
No século XVIII, vós, empregado para um único interlocutor, tido como traço arcaizante
praticamente cai em desuso.
“Para o lugar que o vós deixou vago no sistema, apresentou-se o você (...)
semelhante pelas origens às referidas fórmulas, mas muito mais evoluído dos
pontos de vista semântico e fonético, estava o caminho aberto para a progressiva
invasão e expansão das outras formas substantivas que levam o verbo para a 3a
pessoa.” (Cintra 1972:35-38)
Faraco (1996) afirma que a progressiva alteração do valor social da forma Vossa Mercê (e
variantes) é resultante da rápida multiplicação dessas formas em Portugal. Inicialmente utilizada
como tratamento ao rei, a forma Vossa Mercê (além de Vossa Senhoria) se estende ao
tratamento não íntimo entre iguais na aristocracia e começa, aos poucos, a ser utilizada por
pessoas de status social inferior (criados, subordinados, etc.) ao se dirigirem a membros da
aristocracia. Numa etapa final de decréscimo de formalidade, vamos encontrar Vossa Mercê e
Vossa Senhoria sendo utilizados como diferentes variantes sociais em oposição a tu, que era de
uso comum no tratamento íntimo.
A partir do século XVI, período em que o processo de ocupação do Brasil teve início, a
degradação semântica sofrida por vós, a simplificação fonética de Vossa Mercê e o seu uso
generalizado como você estavam em etapa bastante avançada (Faraco 1996).
6
4. Análise dos resultados
4.1 - A distribuição das formas por período histórico: estratégias mais freqüentes no
teatro
Os dados obtidos nas peças analisadas estão distribuídos na tabela a seguir:
Tabela 1. Distribuição das ocorrências segundo o tratamento utilizado:
Você
V. Mercê
Vós
Tu
Outros
Total
PE
23 (3%)
86 (12%)
107 (15%)
392 (57%)
88 (13%)
696
PB
88 (13%)
52 (8%)
46 (7%)
391 (60%)
79 (12%)
656
Total
111 (9%)
138 (10%)
135 (10%)
783 (58%)
167 (13%)
1352
Consideradas no conjunto, observa-se uma distribuição regular das ocorrências, com
exceção do baixo índice de uso de você no português europeu, destacando-se o uso de tu como a
forma preferida em ambas as variedades. Quando se considera cada período separadamente,
essa regularidade, entretanto se perde. Observem-se os gráficos a seguir:
Gráfico 1. Formas nominais e pronominais em entremezes portugueses
100%
80%
60%
40%
20%
0%
XVIII/1
V.Mercê
XVIII/2
Você
XIX/1
Tu
XIX/2
Vós
Outros
7
Observa-se que, no século XVIII, primeira fase, há uma distribuição regular, quase que
escalonada, entre as principais formas utilizadas, predominando o uso de tu sobre as demais. O
uso de você é o menos expressivo, com apenas 4%. Na passagem do século XVIII para o XIX,
tal distribuição torna-se mais polarizada, com considerável elevação no uso de tu, ao passo que
os outros recursos pronominais de referência ao interlocutor apresentam índices inferiores a
13%. O emprego de você mantém os 4% e chega a apenas 1% no último período analisado. A
ascendência abrupta do traçado da linha relativa a tu e as linhas descendentes para os outros
casos, inclusive para a forma vós -- tida como traço arcaizante e de desprestígio ou de fala de
pessoas velhas e provincianas -- evidenciam tal polaridade na passagem do século XVIII para
o XIX.
Gráfico 2.
Formas nominais e pronominais em peças brasileiras.
100%
80%
60%
40%
20%
0%
XVIII/1
V.Mercê
XVIII/2
Você
XIX/1
Tu
XIX/2
Vós
Outros
Em relação às peças brasileiras, verifica-se, na primeira fase do século XVIII, a mesma
concorrência entre as principais formas utilizadas com percentuais em torno dos 30%: Vossa
Mercê (33%), tu (29%), vós (25%). A forma você aparece timidamente com 13%. Outras formas
nominais (como o Senhor, Sua Senhoria, Vossa Excelência, Vossa Senhoria) só começariam a
aparecer na segunda fase. A partir da segunda metade do século XVIII, o uso do pronome tu
aumenta significativamente (63%), chegando a 90% na primeira metade do século XIX, quando
começa sofrer um declínio no fim do século XIX, voltando aos índices de finais do século
XVIII (60%). Você mantém-se estável nessas duas fases com um valor médio de 10%, mas
8
inicia sua implementação a partir da segunda metade do XIX, polarizando-se basicamente com
tu. Os outros recursos de referência ao interlocutor (Vossa Mercê, Vós) sofrem um declínio
significativo do fim do XVIII em diante, com índices próximos de zero durante o século XIX.
Outras formas nominais de tratamento concorrem com você no último período analisado.
Uma comparação entre os dois gráficos revela que, enquanto no Brasil a forma
gramaticalizada você invade paulatinamente o sistema pronominal no fim do século XIX,
anunciando uma concorrência com o pronome tu (concorrência que seria vencida nos anos 30
do século XX, como mostra a análise de Duarte 1993), em Portugal, o pronome tu passa a
suplantar os outros usos nesse mesmo período. Essa coexistência de formas num mesmo
domínio funcional vem exemplificar o princípio da estratificação (layering), mencionado na
seção anterior. Os baixos índices de vós, principalmente nas peças brasileiras desde a segunda
fase do século XVIII e a dessemantização sofrida por Vossa Mercê favoreceram o incremento
no uso de você.
4.2 - As diferentes estratégias em função das relações interpessoais estabelecidas
Além da freqüência de uso pelas fases históricas, considerou-se na análise alguns
aspectos não-lingüísticos, como as relações sociais entre os personagens nas peças, a clássica
dicotomia “poder e solidariedade” proposta inicialmente por Brown & Gilman (1960), etc. Tal
oposição conceptual leva em conta que o parâmetro do poder refere-se ao controle que umas
pessoas exercem sobre outras em uma determinada situação interativa. Esse controle do
comportamento de um sobre o outro desemboca numa assimetria no tratamento. A relação de
poder entre duas pessoas não é recíproca, pois ambos não têm poder na mesma área de
comportamento e a conseqüência disso é a eleição de certas formas de tratamento diferentes em
função da hierarquia que se estabelece entre os interlocutores. O segundo parâmetro, o da
Solidariedade, estabelece forças iguais, o mesmo nível na hierarquia social: a igualdade entre as
pessoas. Nesse tipo de relação, em geral, se outorga o uso mútuo do TU6 (recíproco ou
igualitário), logo o uso simétrico de TU configuraria intimidade (sentimento de solidariedade
6
A oposição é estabelecida entre o tu [+ familiar] e vous [+polido] ou T/V, utilizando o francês
como padrão, embora em cada língua exista o mesmo tipo de tratamento com formas variantes e
diversificadas.
9
entre os participantes da situação comunicativa). Estabeleceram-se, então, alguns tipos de
relação:
a)
De superior para inferior (patrão-empregado, pai-filho, etc)
b)
De inferior para superior (criada-patroa, filho-pai, etc)
a)
Membros de um mesmo grupo social (classes populares)
b)
Membros de um mesmo grupo social (classes não-populares)
Tabela 2– Uso das formas pronominais e de tratamento nas relações hierárquicas entre os
personagens das peças teatrais no PB e no PE
Tipo de relação
Você
V.M.
Vós
Tu
Outros
Entre informantes
De superior para inferior
24/376
16/376
42/376
276/376
18/376
6%
4%
11%
5%
73%
De inferior para superior
09/235
74/235
20/235
58/235
74/235
04%
9%
31%
25%
31%
Membros de um mesmo 57/318
17/318
15/318
218/318
11/318
5%
5%
3%
grupo social (popular)
18%
69%
Membros de um mesmo 21/423
31/423
76/423
276/423
64/423
5%
7%
grupo social (não popular)
18%
73%
15%
Contrapondo-se todas as formas nominais e pronominais utilizadas no teatro, observa-se
que, embora o pronome tu seja a forma mais freqüente em quase todos os tipos de relações
estabelecidas entre os personagens, os resultados evidenciam em síntese:
a) O uso significativo de tu (73%) quando há uma relação hierárquica de superior a
inferior. Nota-se que, apesar de apresentarem índices baixíssimos – em torno dos 5% -- a forma
Vossa Mercê, em vias de pronominalização, e a sua contraparte emergente você -- ainda
apresentam comportamento semelhante no continuum da gramaticalização: taxas de freqüência
praticamente idênticas neste tipo de relação.
b) A manutenção ainda de um caráter de cortesia e respeito nas formas nominais de
tratamento. Identificam-se índices idênticos para Vossa Mercê e para outras formas nominais
Vossa Excelência, Vossa Senhoria, etc (31%) nas relações de inferior para superior.
c) O predomínio do emprego de tu (69%) seguido de você (18%) entre membros de um
mesmo grupo social (classes populares).
d) O emprego do pronome tu (73%) seguido de vós (18%) e outras formas nominais
(15%) entre membros de classes não-populares. Vossa Mercê e você apresentam novamente
índices semelhantes de freqüência, evidenciando o gradualismo e a convivência entre o novo e o
velho no mesmo domínio funcional. Ressalte-se aqui, da mesma maneira que observado em (a),
10
a persistência, nos termos de Hopper, de alguns traços do significado original, aderindo-se à
nova forma gramaticalizada. Como aponta o autor, nos processos de gramaticalização, detalhes
da história lexical do item podem se refletir na forma gramaticalizada durante estágios
intermediários.
4.3 - Os indícios da inserção de você no sistema pronominal
Passemos ao exame dos dados à luz dos princípios discutidos por Hopper (1991),
particularmente o princípio da de-categorização que consiste, como mencionado anteriormente,
na perda ou neutralização das marcas morfológicas e propriedades sintáticas da categoriaorigem – no caso de Vossa Mercê, um nome -- e na assunção dos atributos da categoria-destino
-- pronome de 2a pessoa.
Mesmo não se podendo afirmar que no período analisado as duas formas já se
comportassem com duas variantes no sentido laboviano, estabeleceu-se o confronto entre as
ocorrências de você e de Vossa Mercê numa análise binária, a fim de que se pudesse observar os
traços que caracterizariam a inserção de você no sistema pronominal. Os resultados, em síntese,
indicaram:
(a) na primeira fase do século XVIII Vossa Mercê e você coexistem no mesmo domínio
funcional. A forma mais antiga coexiste ao lado da forma emergente.
(1) Senhor mestre barbeiro, veja vossa mercê como me pega nestas barbas (D.
Quixote- Barbeiro) (A Vida de D. Quixote, p. 42, XVIII/1)
(2) Ora, sô Mestre, você bem sabe que é obrigação dos de seu ofício, enquanto ø
fazem a barba, dizerem as novidades que há pela cidade. (D. Quixote-Barbeiro) (A
Vida de D. Quixote, p. 42, XVIII/1)
Os exemplos (1) e (2) são ilustrativos, pois um mesmo personagem (D. Quixote) ora usa a
forma desenvolvida (Vossa Mercê), ora a forma sincopada (você) para se dirigir à mesma
pessoa, o barbeiro. As duas formas são alternantes, principalmente, no início do século XVIII. A
partir desse período, as escolhas são mais restritivas, embora a mistura no tratamento
identificada na fala de um mesmo personagem continue sendo uma marca constante nos dados.
As análises, com base em diferentes corpora (Silva e Barcia, 2002, 2002a; Lopes e Duarte,
2002 a,b,c) evidenciaram o gradualismo da pronominalização de Vossa Mercê para você e a
coexistência por mais de dois séculos de diferentes formas nominais de tratamento ao lado de
formas pronominais.
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(b) com a diminuição de uso de Vossa Mercê, você passa a ocorrer predominantemente
não-explícito (.81), principalmente nas peças teatrais brasileiras, da mesma maneira que os
outros pronomes controlados: vós e tu. Confirma-se a perspectiva da perda de propriedades
nominais no processo de gramaticalização de V.M. para você. O fato de as taxas de freqüência
de você, não expresso, apresentarem um ligeiro acréscimo da primeira para a segunda metade do
século XIX (de 4% para 7%) indicam que a forma vulgar você estava perdendo gradativamente
a autonomia sintático-discursiva de nome, na medida em que começa a se comportar como os
outros pronomes numa língua ainda de sujeito nulo. Foram observadas altas freqüências para o
pronome tu não-explícito nos dois séculos, um comportamento compatível com o uma língua de
sujeito pronominal nulo, e em contrapartida as formas nominais de tratamento, inclusive Vossa
Mercê, apresentam índices relevantes como sujeito pleno. Compare-se o uso de tu e de você no
diálogo a seguir, em que você, como sujeito, só aparece expresso uma vez:
(3)
Tarelo – Alto lá com ciumes, leva ø lingoa:
Eu fui sempre constante
Não me ø faças lembrar o teu chibante.
Pepa – Sim, que ø tem que dizer-me,
Eu não o tenho desprezado sempre
Por amor de você? ingrato, ø diga ?
Tarelo – Mas estas guardas-costas?
Pepa – Huma figa
ø Olhe estas guarda-costas; ø quer sabe-lo?
Serão mais por você! Ora eu lho digo:
Ao depois que elle ouvio o desengano
De que o não queria
E que só a você eu pertendia,
Jurou de o procurar, ø anda a buscallo
E se acaso ø o achar ø ha de matallo.
Tornou-se a falla ao corpo? Você treme?
Tarelo - Que ø dizes? Tremer eu? ø Es bem criança.
(A Vingança da Cigana, 1794)
c) O mesmo procedimento se nota com os verbos no imperativo. Observou-se que, no
início do século XVIII, você (ainda em concorrência com Vossa Mercê) aparece explícito
combinando-se ao imperativo em 38% dos dados: índices similares aos da sua contraparte
desenvolvida, como mostram (4) e (5). A partir do século XIX, os empregos tornam-se
divergentes em termo funcionais e os exemplos de você identificados são categoricamente nulos
com o imperativo da mesma forma que se observa com tu:
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(4) Senhor mestre barbeiro, veja vossa mercê como ø me pega nessas barbas,
porque são as mais honradas que tem toda a Espanha. (D. Quixote-Barbeiro) (A
Vida de D. Quixote, p. 41, XVIII/1)
(5) Olhe você: se ø quiser levar duas gaiolas de grilos, que estão mui bem criados,
não será mau, para ø os comer nas estalagens. (Teresa – Sancho) (A Vida de D.
Quixote, p. 50, XVIII/1)
(d) Identificou-se favorecimento do traço de número plural (.93) com você(s), ao passo
que o singular favoreceria Vossa Mercê, uma vez que o peso obtido para o plural é de .41.
Confirma-se assim a hipótese de que a gramaticalização se deu primeiramente com a
forma no plural em substituição à forma vós que apresentou, nas peças brasileiras, índices
próximos de zero no fim do século XIX.
(e) A partir do século XIX há maior probabilidade de ocorrência da forma
gramaticalizada você (.81) contra (.06) no XVIII, principalmente, nas relações assimétricas de
superior para inferior (.76), o que nos leva a um outro princípio mencionado: o da
especialização. A forma pronominal você, seja em oposição ao pronome tu, seja contrapondo-se
à forma nominal Vossa Mercê, apresenta maiores índices entre membros das classes populares,
(.81) e (.89) respectivamente. Tal coincidência nas duas análises pode referendar o princípio da
especialização inerente ao processo de gramaticalização. Em um estágio inicial há uma
variedade de formas com nuanças semânticas diferentes como apresentado na ampla flutuação e
mistura de tratamento em função das relações hierárquicas estabelecidas. Durante o processo de
gramaticalização há um estreitamento de escolhas, como se viu na passagem da primeira para a
segunda metade do século XIX, e a forma emergente é especializada, tornando-se quase
obrigatória em determinados contextos. Faz-se necessário enfatizar ainda que Vossa Mercê não
perde completamente o caráter de cortesia, mantendo maior probabilidade de ocorrência nas
relações inversas (inferior a superior). Estes últimos comentários podem ser vistos na tabela
abaixo:
Tabela 3. Ocorrência de você vs tu e vs vossa mercê em peças teatrais brasileiras
VOCÊ X TU
VOCÊ X V. MERCÊ
Relações interpessoais
Oco.
T.
%
P.R Oco.
T.
%
P.R.
Superior para inferior
13
89
15
.32
13
17
76
.36
Inferior para superior
04
25
16
.25
04
21
19
.02
Mesmo grupo (popular)
39
143 27
.81
39
45
87
.89
13
Mesmo grupo (não-popular)
14
113 12
.21
14
18
78
.43
5. Considerações finais?
Voltar no tempo e olhar a transição da mudança é fascinante porque permite, embora com
dados que não representam nem de longe a realidade da época, observar o fenômeno em um
estágio de transição em que há reflexos de um passado bem remoto e projeções do que já está
consolidado no presente. Entretanto, ao supostamente terminar uma análise, que sempre é
preliminar, descobrem-se novos fatos que ficam por estudar. Cada vez que nos deparamos com
uma forma gramaticalizada, principalmente nos fenômenos em que há mudança categorial ou
recategorização, como é o caso de Vossa mercê para você, percebemos a continuidade e
gradualismo do processo. Ele nunca acaba. As formas não perdem completamente suas
propriedades originais e não assumem definitivamente os traços característicos da nova classe
da qual passam a fazer parte. Com você não foi diferente. Persiste a especificação original de 3a
pessoa, ou [φeu] nos termos de Lopes (1999, 2003), embora a interpretação semânticodiscursiva passe a ser de 2a pessoa [-EU]. Se os homens e mulheres do século XIX refletem tão
bem isso em suas cartas quando escrevem “Recebi ontem a sua cartinha que muito me alegrou
ver a tua letra e vejo que estás muito adiantado” e logo depois “...lembrei de quanto você
gostava de ver desembarcar os animais”, (Silva e Barcia, 2002a) imaginem o que não saía de
suas bocas! A interpretação semântico-discursiva já era inegavelmente de 2a pessoa [-EU],
mesmo que a forma você estivesse correlacionada ora com formas de 2a [-eu] (te/teu/vos/vosso)
ora com de 3a [φeu] (seu(s)).
Embora não possamos estabelecer ainda generalizações descritivas em função de
estarmos tentando fazer “um bom uso de maus dados” (Labov, 1994), foi-nos possível, em
síntese, levantar os seguintes aspectos que confirmam as conclusões obtidas em trabalhos com
outros corpora:
a)
Nas relações simétricas, predominou, nas peças brasileiras e portuguesas
setecentistas e oitocentistas, o mútuo tu (T/T), apesar de as outras formas nominais e
pronominais de tratamento também serem utilizadas.
b)
Com a gradativa dessemantização sofrida por Vossa Mercê, a forma vulgar você
tornou-se mais produtiva entre personagens populares e nas relações assimétricas de superior
para inferior, ao passo que Vossa Mercê, ainda em uso nos séculos XVIII-XIX, conservou-se
como forma mais produtiva nas relações assimétricas de natureza oposta: de inferior para
superior.
14
c)
A produtividade do traço de número plural, a mistura de tratamento e o emprego
maior como sujeito nulo nas peças brasileiras dão indícios de que a gramaticalização de Vossa
Mercê para você começa timidamente no século XVIII e se implementa de forma mais acelerada
no final do século XIX, principalmente, em substituição ao pronome vós.
6. Referências bibliográficas
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7. Textos utilizados:
7.1 - Amostra do português do europeu:
Século XVIII
- Entremez de Regateiras, 1706; Entremez famozo do Juiz Banana, 1706; Entremez famozo e
engrançado entitulado Dom Farrapo e Dom Palha, 1706 In: LOPES, Célia Regina dos Santos
(2001). Documentos dos séculos XVIII e XIX: Cartas cariocas e peças portuguesas –
Transcrição e fac-símile. Rio de Janeiro, UFRJ/FUJB, versão em CD.
- Entremez intitulado Comédia Imaginária e composiçoens retumbantes, 1783 e Pequena Pessa
A casa do Pasto, 1794 In: LOPES, Célia Regina dos Santos (2003)(Org.). Entremezes
portugueses dos séculos XVIII e XIX: ‘corpora’ do Labor-Histórico PB. Rio de Janeiro,
FUJB/Faculdade de Letras/UFRJ, versão em CD (a sair).
- Século XIX
- Entremez outeiro nocturno mal concertado e a pancada esbandalhado, 1802; Entremez novo
da Castanheira ou a Brites Papagaia, 1826; Entremez O Rato, 1877; Entremez português
intitulado O Doudo, 1866; Novo e gracioso entremez intitulado outeiro nocturno, 1802; Novo
entremez O gallego Lorpa e os tolineiros,1808; Peça "A filha do taberneiro, 1875. In: LOPES,
Célia Regina dos Santos (2003)(Org.). Entremezes portugueses dos séculos XVIII e XIX:
‘corpora’ do Labor-Histórico PB. Rio de Janeiro, FUJB/Faculdade de Letras/UFRJ, versão em
CD (a sair).
7.2. Amostra do português do Brasil:
Século XVIII:
- A Vingança da Cigana, In: CALDAS BARBOSA, Domingos (1794): A Vingança da Cigana,
Drama Joco Serio, Lisboa, Ed. Oficina Simão Tadeu Ferreira, Reprodução feita de exemplar
pertencente a Biblioteca Nacional de Lisboa.
- Vida de D. Quixote, Esopaida e Guerras do Alecrim, In: SILVA, Antonio José da, “O Judeu”
(1733): Vida de D. Quixote, Esopaida e Guerras do Alecrim, Notas de Liberto Cruz, Lisboa,
Imprensa Nacional/Casa da Moeda, (1975).
Século XIX:
17
- Duas páginas em branco (1866) In: QORPO SANTO, pseud. de José Joaquim de Campos
Leão (1829-1883): Teatro Completo, Fixação do tempo, estudo crítico e notas de Guilhermino
César, Rio de Janeiro, SNT/FUNARTE, (1980).
- Uma pupila Rica (1874) In: Macedo, José Manuel de. Uma pupila Rica, Rio de Janeiro,
Fundação Biblioteca Nacional.
- Caiu o Ministério (1883) e “Direito por Linhas Tortas (1871)”, In: CAFEZEIRO, Edwaldo
(ed. de) (1980): Coletânea Teatro França Júnior/Tomo II, Volume 5, Rio de Janeiro,
MEC/SNT/FUNARTE.
- “O Juiz de Paz da Roça” e “Judas em sábado de aleluia (1844)”, In: PENA, Luís Carlos
Martins (1815-1848): As Melhores Comédias de Martins Pena, Apres. Guilhermino César,
Porto Alegre/Rio de Janeiro, Mercado Aberto, (1987).
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