Procuraclona Geral da Republica
JORNAL no ftommao
01.03.99
1:t4 TREVISTA/ Maria
Pa9- T
das Gracas Viegas e Silva
"Temos que descobrir a beleza da vida
O
tempo ajuda as vitimas do tragedias a retomarem, pouco
a pouco, suas vidas. As feridas fecham, contudo, as
cicatrizes permanecem , vindo a tona nas mais variadas
situacoes. Tom sido assim, ha 18 anos, com a viava do
s,.ocurador Pedro Jorge de Melo e Silva, a bancaria
;em-aposentada Maria das Gracas Viegas e Silva. Num momento
r-mo o do julgamento do Escandalo da Mandioca , na ultima
quarta-feira, por exemplo, ela nao teve como evitar as lagrimas,
sim como ocorreu durante esta entrevista ao reporter Jomeri
".,ntes. "As emocoes sao muito fortes", confessa. Como num filme,
naquelas horas passaram pela memoria toda a sua historia em
. munhao cam o procurador, assassinado apes denunciar a fraude.
r'i lembrou as ideais que ele nao conseguiu realizar, regozijou-se
cam as elogios pobiicos feitos a sua moral e profissionaiismo e,
freu, ao ouvir a narrativa do crime. Apesar de tudo. essa forte
'dher nao esmoreceu e encontrou forcas e fe para ensinar as
tubas, criapc s as epoca•do cr14 ie, que "todos temos,a,obrigacao
descobrir a beleza da vida
Jornal do Commercio - Como
sra. e suas filbas esido,
agora, ap6s ojulgamento?
Maria das Gracas Viegas a Silva
Minbas frlhas estdo nervosas. A
8crue mantem a calma, mas o pasio volta e, como numfilme,
mere com as sentintentos e atraparnuito a Lida. Vivemos recupertdo os pedacinhos que
,^.,braram dentro de rtes, na
dida do possr"cel. para recontecar..Vlas isso a necessario tambem
-que faz a gente repensar e retoir a vida mais ranidamente. 0
pagarnento tinha de acontecer
a senir de exemplo.
IC - 0 que acbou das
1 -nas?
Maria das Gracas - Ndo jbrant
isfatorras e as promotores tern
mais e que recorrerporque a soci-
edade e.rige poder acredilar nas
leis. Hoje, quern sao jacorecidos
sdo as corrttptos, os violentos e e
preciso haverpunirdo exemplar.
JC -A prdxima quartafeira serd aniversdrio de 17
anos da morte do procurador.
A sra. vai encomendar alguma
missa em cardter especial?
Maria das Gracas - vao, prefiro esperarpara quando completar 20 anos. Eu jd von a missa
diariamente e rezo para ele.
JC - Como foi a sua vida
apes o crime?
Maria das Gracas - Tivemos de
retomar tudo de forma traumatica, inas quando via que minbas
filbas precisavain de um projeto
de vida, de um recomeco, et me
j'onalecia. Renuncieisonbosepro-
jetos e busquei forma na fe, na
palavra de Deus, alem de ter contado corn o apoio da minba familia, a claro. Mas eu sempre mostret
as minbas filbas, que na epoca
tinbam 3 e 5 anos, que, apesar da
dureza, a genie tern a obrigacdo
de descobrir a beleza da vida.
JC - Elas faziam perguntas?
Maria das Gracas - Muitas.
Uma vez, estavamos rezando
antes de dormir e a menor perguntou: "se todo mundo tern anjo
da guarda, onde estava ode painlio?"
1C`-A'sra . se mudou de
Olinda para Boa Ylagem para
evitar lernbran£as?
Maria das Gracas - Sim. Apesar de as vizinhos serem 6timos,
havia a necessidade de nos afastarmos, inclusive para a nossa
seguranca.
JC - Cbegou a pensar em
Bair do Recife?'
Maria das Gracas - Sim. mas
era inviacel. Pensei nos pros e nos
contras, ate porque tinha de
enfrentar os fatos e nao fugir
deles. Fiquei.
JC -Ndo restaram segilelas
de todo esse episddio?
Maria das Gracas - Ndo.
,Vlinbas filbas. por exemplo, sao
pessoas tranquilas, ndo sdo agressivas nern amargas e sempre
foram excelentes alunas. Tent
alguns momentos de tristeza, mas
dentro do normal. Elas se sentem,
7
contudo, expostas e incomodadas
quando as pessoas as identijlcam
como "filbas do procurador", por
isso evitam a imprensa.
JC - Elas estudam direito
por injluencia?
Maria das Gracas - Ndo. Fit
sempre as orientei em tudo, mas
nunca injluenciei na escolba da
carreira quefossem segttir. 0 caso
envolvendo Pedro Jorge tambem
ndo serviu de inspiracao. Apesar
de Coda a beleza do exemplo do
pal, elas jbrant ensinadas a cantinhar por conta propria.
JC-Financeiramente, como
flcou sua vida apds a morte do
procurador?
Maria das Gracas - No comeco
foi dij^cil porque naquela epoca o
salano ndo era nutito boot, mas o
proprio Ministerio Ptiblico revin
isso porque ele rnorreu trabalhando. 0 ministerio, alias, tent
sido tuna verdadeira familia. La,
eles sdo nossos melbores amigos.
Geraldo Brinderro a muito quer tdo por todos nos.
JC - Qual o major exemplo
que o procurador deixou?
Maria das Gracas - 0 exemplo
da coragem, da fe, do perddo. que
ndo se deve desejar vent fazer o
mal a ningttent. A gente quer a
punicdo dos culpados, mas Para
que a justica seja feira, e nao por
vinganca. A sociedade precisa se
limpar e ndo ser corrompida e
enfraquecida por leis que ndo sdo
cumpridas e qua favorecem a violencta e a intpunidade.
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