XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA DE UM VIVEIRO DE CULTIVO DE CAMARÕES, NOS PERÍODOS SECO E CHUVOSO Vinícius Sabadim Saraiva – Curso de Engenharia de Aquicultura, Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) Campus de Alegre, ES. [email protected] José Francisco Valério Júnior – Curso de Engenharia de Aquicultura, Ifes - Campus de Alegre, ES. Arthur Cavatti Neto – Curso de Engenharia de Aquicultura, Ifes - Campus de Alegre, ES. Allan Emilio Piedade – Curso de Engenharia de Aquicultura, Ifes - Campus de Alegre, ES. Querubim Máximo de Siqueira Neto – Curso de Engenharia de Aquicultura, Ifes - Campus de Alegre, ES. Iara Evelim da Silva Ferreira – Curso de Engenharia de Aquicultura, Ifes - Campus de Alegre, ES. Danielle Mattos de Sousa - Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Ifes - Campus de Alegre, ES. Atanásio Alves do Amaral – Professor Titular-Livre, LEAPP, Setor de Aquicultura, Ifes - Campus de Alegre, ES. INTRODUÇÃO A comunidade planctônica é constituída por pequenos organismos que vivem suspensos na água, classificados tradicionalmente em três categorias: bacterioplâncton, fitoplâncton e zooplâncton. Cada ecossistema aquático possui um conjunto próprio de organismos planctônicos, cuja variedade, abundância e distribuição dependem das características físicas, químicas e biológicas do meio (SIPAÚBA-TAVARES, 1995). O zooplâncton de água doce é representado principalmente pelos protozoários, pelos rotíferos e pelos microcrustáceos (cladóceros e copépodos), além de outros animais menos comuns (ESTEVES, 2011). A comunidade planctônica dos ecossistemas aquáticos artificiais indica o grau de trofia e o padrão de qualidade da água desses sistemas, bem como a qualidade do alimento natural disponível para os peixes (MACEDO; SIPAÚBA-TAVARES, 2005). O conhecimento das espécies zooplanctônicas é necessário para a seleção daquelas que são adequadas para o cultivo em laboratório, visando à alimentação de pós-larvas, e também porque os organismos planctônicos são importantes indicadores da qualidade da água. OBJETIVO Conhecer a estrutura da comunidade zooplanctônica presente em um viveiro de criação de camarões de água doce, relacionando-a com o regime de chuvas da região. METODOLOGIA Local de estudo 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL O trabalho foi realizado no Setor de Aquicultura do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) – Campus de Alegre, sul do Espirito Santo, Brasil (20º 45' 35” S, 41º 27' 5” W), entre os meses de março e abril de 2015. O clima da região é Cwa, com verão quente e úmido e inverno frio e seco. Foi amostrado um viveiro de cultivo de camarão de água doce (Macrobrachium rosenbergii) povoado com 303 animais, cuja biomassa média corresponde a 11,2 kg. Os camarões eram alimentados diariamente, com taxa de arraçoamento equivalente a 5% da biomassa. Esse viveiro tem área de 800 m2 e o tempo da residência da água é superior a 30 dias. Procedimento experimental As amostras de zooplâncton foram coletadas com balde de 10 L, filtrando-as a água em rede com malha de 68 µm. No total foram realizadas 10 coletas, cinco no período seco e cinco no período chuvoso, com intervalo de 30 dias entre elas. Os organismos foram preservados com formalina tamponada 8%, na proporção 1/1 (concentração final 4%), para identificação e contagem. Os rotíferos foram contados em câmara de Sedgwick-Rafter, sob microscópio, com aumento de 100X. Os copépodos e os cladóceros foram contados em placa reticulada, em microscópio estereoscópico com aumento de 45 X. A identificação foi feita com o auxílio de bibliografia especializada. RESULTADOS O zooplâncton foi representado pelos Filos Rhizopoda (Protozoa, gênero Arcella), Rotifera (gêneros Brachionus, Filinia, Lecane e Poliarthra) e Arthropoda, este representado por microcrustáceos Cladocera (gêneros Ceriodaphnia, Diaphanosoma e Simocephalus) e Copepoda Argyrodiaptomus (subclasse Calanoida) e Mesocyclops (subclasse Cyclopoida). O número médio de indivíduos por litro de água, nos períodos seco e chuvoso, respectivamente, foi 206 e 68 para Rotifera, 51 e 14 para Cladocera, 58 e 71 para Copepoda Calanoida adultos, 92 e 286 para Copepoda Cyclopoida e 218 e 180 larvas náuplio, não sendo possível diferenciar Calanoida de Cyclopoida. O filo Rhizopoda não pode ser quantificado. Observou-se relação inversa entre o número de Cyclopoida e o número de Calanoida e o ciclo de crescimento populacional foi alternado, entre esses dois grupos. DISCUSSÃO Os organismos predominantes nos dois períodos foram os copépodos, nas formas jovem (larva nauplius) e adulta, seguidos por Rotifera. Observa-se o aumento do número de Copepoda Cyclopoida, no período chuvoso, e o aumento do número de rotíferos e de cladóceros, no período seco. Esse resultado é coerente com dados de Jaramillo e Pinto-Coelho (2011), que verificaram a substituição de Cladocera e de Copepoda Calanoida por Copepoda Cyclopoida, na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, quando ela se tornou mais eutrofizada. Segundo esse autor, a população de Copepoda Cyclopoida aumenta, no período chuvoso. Nesse período, devido ao aporte de nutrientes carreados pela água da chuva, a água se torna mais eutrofizada (SIPAÙBA-TAVARES, 1995). Os Copepoda Calanoida estavam presentes apenas quando a população de Cyclopoida era pequena ou ausente. Esse fato é justificável, devido ao hábito alimentar dos copépodos ciclopoides, que são carnívoros, predando Calanoida, Rotifera e Cladocera (SIPAÚBA-TAVARES, 2001; ESTEVES, 2011). CONCLUSÃO A comunidade zooplanctônica varia sazonalmente, influenciada pelo regime de chuvas, com aumento da população de Copepoda Cyclopoida e redução da população de Rotifera, Cladocera e Copepoda Calanoida, no período chuvoso. 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRUSCA, R. C.; BRUSCA, G. J. Invertebrados. Trad.: Fabio Lang da Silveira. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. ESTEVES, F. A. Fundamentos de Limnologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2011. JARAMILLO, J. C.; PINTO-COELHO, R. M. Novo atlas dos organismos zooplanctônicos do reservatório da Pampulha, Belo Horizonte, MG. 2011. Disponível em: http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/atlas/atlas.htm. MACEDO, C. F.; SIPAÚBA-TAVARES, L. H. Comunidade planctônica em viveiros de criação de peixes, em disposição seqüencial. Bol. Inst. Pesca, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 21-27, 2005. PÁDUA, D. M. C. Fundamentos de piscicultura. 2. ed. Goiânia: Ed. da UCG, 2001. PINTO COELHO, R. M. Métodos de coleta, preservação, contagem e determinação de biomassa em zooplâncton e águas continentais. In: BICUDO, C. E. M.; BICUDO, D. C. (Org.). Amostragem em limnologia. São Carlos: Rima, 2004. cap. 9, p. 149-166. RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados: uma abordagem funcional-evolutiva. 7. ed. São Paulo: Roca, 2005. SIPAÚBA-TAVARES, L. H. Limnologia aplicada à aqüicultura. Jaboticabal: FUNEP, 1995. 3