José Sócrates Primeiro-ministro Abertura Estratégia de Lisboa renovada — O desafio inadiável A Estratégia de Lisboa, concebida e aprovada durante a Presidência portuguesa da União Europeia, em 2000, teve desde o início por base a compreensão plena de que o futuro da Europa depende da resposta que esta consiga dar aos desafios da globalização e da concorrência internacional, sendo o grau de exigência desses desafios hoje muito maior do que no passado. No entanto, se os temas e desafios da Estratégia de Lisboa estão no centro do debate político da União Europeia desde 2000, a sua concretização ficou aquém das ambições. Dos resultados atingidos nos primeiros cinco anos sobrou um sentimento de justificada desilusão. Apesar dos objectivos e do caminho traçados, a Europa no seu conjunto não deu as respostas necessárias. É, pois, necessário que o talento aplicado na elaboração da Estratégia de Lisboa seja agora aplicado na sua execução. O crescimento e o emprego devem continuar a ser as palavras de ordem. Entre 2001 e 2005 a taxa média de crescimento anual quedou-se pelos 1,7% e a taxa de desemprego situou-se sempre acima dos 8%. No ano passado, a Europa contava com mais de 19 milhões de desempregados, o que vale por dizer que desperdiça um enorme potencial humano. Por isso o crescimento e o emprego foram os principais objectivos da União Europeia, ao reafirmar e renovar o compromisso com a Estratégia de Lisboa. Nessa medida, o seu relançamento terá de procurar, por um lado, dar maior enfoque às condições de competitividade, coesão e qualidade ambiental e, por outro, concentrar esforços na execução da Estratégia de Lisboa, através de acções concretas reflectidas em planos nacionais de reformas. A aposta no crescimento implica a execução da Estratégia de Lisboa em todas as suas vertentes: inovação, investimento no conhecimento, dinamismo do mercado e coesão social. Convém não menorizar, neste contexto, nem a qualificação do investimento público modernizador, a nível europeu e nacional, nem a importância de um melhor aproveitamento do mercado europeu, atacando, também, a debilidade da procura interna. Enquanto sectores decisivos do poderoso mercado europeu viverem em situação de anemia ou estagnação prolongada, a Europa não conseguirá retomar o trilho do crescimento e do emprego. A verdade é que a Europa não pode prescindir de mobilizar todos os instrumentos de política económica para estimular o crescimento. Estejam estes na política monetária, na política orçamental ou na política comercial. 11 Acresce que, como a Europa já demonstrou no passado, o crescimento económico, por si só, não resolve todo o problema do desemprego, e é também por esta razão que o binómio crescimento e emprego, no qual se focaram as prioridades da Estratégia de Lisboa relançada, faz, agora e sempre, todo o sentido. Daí ser fundamental o desenvolvimento integrado e simultâneo de todas as vertentes da Estratégia de Lisboa. Neste contexto, deverá ser incluída uma nova geração de políticas sociais, com uma orientação essencialmente pró-activa e preventiva, capaz de acompanhar as mudanças na economia e na sociedade europeias, adaptada às exigências da competitividade em globalização, à evolução demográfica e à promoção da coesão e ao diálogo social. 12 Só essa Estratégia Europeia para o Emprego poderá trazer uma melhoria visível da situação actual. Esta aposta comum é inadiável para a Europa e, em particular, para Portugal. O Governo português compreendeu essa necessidade desde o início, razão pela qual se empenhou fortemente na elaboração de um Plano Nacional de Acção para o Crescimento e Emprego, com medidas concretas que estão a ser implementadas e avaliadas, no quadro da aplicação prática da Estratégia de Lisboa ao nosso país. A Europa, o seu modelo e o projecto de integração que lhe está subjacente têm pela frente um desafio exaltante. O caminho está claramente traçado diante de nós. Resta percorrê-lo, com determinação e sentido de futuro. The renewed Lisbon Strategy — The unavoidable challenge T he Lisbon Strategy, conceived and approved during the Portuguese Presidency of the European Union, in 2000, contained since its inception the full understanding that the future of Europe depends upon the answer that it can give to the challenges of globalization and of international competition; such challenges are now much more demanding than ever in the past. However, if the topics and challenges of the Lisbon Strategy have been central to the political debate since 2000, those were never materialized in line with its ambitions. The leftovers of the results obtained during the first five years are no more than a justifiable delusion. In spite of the projected objectives and routings, Europe as a whole could not find the required solutions. It is thus necessary that the talent applied in the preparation of the Lisbon Strategy be now applied in its execution. Growth and employment must continue to be the order of the day. Between 2001 and 2005 the average annual rate of growth stopped at 1.7% and the unemployment rate was always in excess of 8%. Europe had more than 19 million unemployed in 2005, meaning that it is squandering an enormous human potential. That is the reason why growth and employment were the main objectives of the European Union when it reaffirmed and renewed its commitment to the Lisbon Strategy. As such, its re-launching will require a greater focus on competitive conditions, cohesion and environmental quality, as well as to concentrate efforts in the execution of the Lisbon Strategy through positive actions mirrored in the National Reform Programmes. The stakes placed on growth imply the implementation of the Lisbon Strategy in all its aspects: innovation, investment in knowledge, market dynamics and social cohesion. In this context, neither the qualification of a modernizing public investment, both national and European, or the significance of obtaining better advantages from the European market whilst assailing the weakness of domestic demand, should be diminished. While decisive sectors of the powerful European market continue anaemic or in prolonged stagnation, Europe will not be able to regain the route towards growth and employment. The truth is that Europe cannot avoid mobilizing all the tools of economic policy in order to stimulate growth. Whether these are in monetary, budgetary or commercial policies. 13 Further, as Europe has already shown in the past, economic growth, on its own, does not resolve the full problem with unemployment, and this is also the reason why the two pronged approach of growth and employment, where the renewed Lisbon Strategy has placed its top priorities makes, now and forever, all the sense. The integrated and simultaneous development of all the aspects of the Lisbon Strategy is thus fundamental. In this context, a new generation of social policies should be included, essentially proactive and preventive, capable of accompanying the changes in the economy and in European society, adjusted to the demands of being competitive within globalization, to demographic evolution and to the promotion of social cohesion and dialogue. 14 Only this European Strategy for Employment will bring visible improvement to the current situation. This common stake cannot be postponed either for Europe or, particularly, for Portugal. The Portuguese Government understood this need since the very beginning and thus the reason it took such pains to prepare a National Action Programme for Growth and Employment, with definitive measures that are being implemented and assessed within the frame of the practical application of the Lisbon Strategy in our country. Europe, its model and the underlying integration project are facing an exciting challenge. The route ahead is clearly defined. It remains to traverse it, firmly and with a sense of the future.