REFLEXÕES SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER E A ATUAÇAO DO PROFISSIONAL ENFERMEIRO Lucimara Fabiana Fornari (Bolsista/USF-UNICENTRO/autora), Leticia Garcia (Bolsista/USF-UNICENTRO/co-autora), Maria Isabel Raimondo Ferraz (Orientadora/co-autora), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências da Saúde/Departamento de Enfermagem Palavras-chave: violência contra a mulher, violência doméstica, violência de gênero, enfermagem. Resumo: A violência doméstica contra a mulher atualmente é considera como um problema de saúde pública por interferir no bem-estar e na saúde das vítimas. O objetivo deste trabalho é realizar reflexões sobre a violência doméstica contra a mulher e a atuação do profissional enfermeiro no cuidado das vítimas. A inclusão do tema nas grades curriculares de graduação em Enfermagem é de fundamental importância para formar profissionais qualificados e conscientes de sua atuação na sociedade. Introdução Os papéis destinados às mulheres, com o passar dos anos, se tornaram naturais, de forma que nascer, viver e morrer de submissão ao homem é comum para a maior parte delas (MONTEIRO; SOUZA, 2007). A violência contra a mulher passou a fazer parte do ambiente doméstico, aumentando o número de vítimas sem revelar sua verdadeira face. Para a proteção da mulher brasileira, em 2006, foi sancionada pelo Presidente da República a Lei nº. 11.340, denominada Lei Maria da Penha. Ela recebeu esse nome em homenagem a uma biofarmacêutica que foi vítima de seu companheiro durante anos. A criação da Lei foi em função da morosidade do sistema nacional de justiça em punir agressores, que pela impunidade permitia a perpetuação da violência contra a mulher. Oliveira e Fonseca (2007) referem que a violência contra a mulher na área de saúde pública é considerada uma endemia, que pode atingir todas as mulheres, independentemente da faixa etária, grau de escolaridade, renda, raça, etnia, crença ou religião. Schraiber e Oliveira (2006) relatam que a atenção do profissional enfermeiro dirigida às mulheres em situação de violência é uma forma de promover seus direitos e garantir sua saúde. Importante se faz destacar que é preciso capacitar os profissionais enfermeiros, a fim de que desenvolvam ações voltadas para a assistência à saúde da mulher com prevenção e controle da violência doméstica. Os enfermeiros poderão encorajar as vítimas para que elas se sintam fortalecidas e melhor preparadas para enfrentar a situação de violência. Diante do exposto, objetivou-se neste artigo realizar reflexões Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 violência doméstica ocorre em ambiente privado e é permeada pelo medo e vergonha. Isso dificulta a visualização das conseqüências para a saúde da mulher, impedindo também de tornar público esse tipo de violência. Depoimentos de mulheres vítimas de violência revelam que as vivências das agressões deixam marcas descritas como sintomas de doenças e são cercadas de um significativo sofrimento moral (MONTEIRO; SOUZA, 2007). Os profissionais de saúde desempenham papel fundamental na percepção do problema, pois tem estreito contato com as mulheres e podem atender as vítimas, acolher o caso e impedir agravos resultantes da violência (SCHRAIBER et al. 2002). No atendimento as mulheres vítimas de violência é preciso que os profissionais enfermeiros conheçam o histórico da paciente, pois a atenção voltada somente ao relato dos sintomas pode manter oculto o verdadeiro problema. A visita domiciliar também permite a aproximação do profissional de saúde com o cotidiano da usuária, identificando situações de violência (BRASIL, 2002). Muitas vezes os serviços de saúde não identificam as vítimas de violência, pois os profissionais não apresentam conhecimento e interesse na temática. Entre os fatores que interferem no diagnóstico dos casos em serviços de saúde, é importante destacar o preconceito, a redução da saúde ao processo patológico e a falta de conhecimento sobre como agir em uma situação de violência (SCHRAIBER; OLIVERIA, 2006). Para estabelecer uma relação efetiva entre profissional enfermeiro e vítima é necessário realizar o acolhimento, possibilitando o reconhecimento do problema e a orientação. A mulher vítima de violência doméstica procura o serviço de saúde para encontrar apoio, buscar informações sobre seus direitos e serviços disponíveis para a resolução do seu problema. Schraiber e Oliveira (2006) acrescentam que a existência de uma rede intersetorial é fundamental para atender as necessidades da mulher vítima de violência. O profissional enfermeiro pode contar com a participação de psicólogos, policiais e assistência jurídica, além de interagir com os demais profissionais da unidade de saúde, como médicos, pessoal auxiliar, assistentes sociais e outros membros da equipe multiprofissional. Conclusões É significativo o número de mulheres vítimas de violência doméstica, bem como o impacto desse tipo de violência à vida das mulheres e aos serviços de saúde. Mesmo com o crescente número de denúncias, ainda existem profissionais que podem se sentir despreparados e não expressar interesse em atender as necessidades integrais da mulher vítima de violência. Os profissionais enfermeiros têm significativa importância nos serviços de saúde, pois compõe uma equipe multiprofissional, responsável pelo atendimento às necessidades de saúde da comunidade. A inserção do tema violência doméstica contra a mulher, nas grades curriculares dos cursos de graduação em Enfermagem, é fundamental para que os enfermeiros se Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 sintam preparados para reconhecer e intervir nas situações de violação dos direitos humanos das mulheres. Referências 1. BRASIL. Lei nº 11.340 de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 ago. 2006. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço / Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. 3. MONTEIRO, C.F.S; SOUZA, I.E.O. Vivência da violência conjugal: fatos do cotidiano. Texto contexto – enferm. Florianópolis, v. 16, n. 1, p. 26-31, 2007. 4. OLIVEIRA, C.C.; FONSECA, R.M.G.S. Práticas dos profissionais das equipes de saúde da família voltadas para as mulheres em situação de violência sexual. Rev. Esc. Enferm. USP, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 605-612, 2007. 5. SAFFIOTI, H. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004. 6. SCHRAIBER, L.B.; OLIVEIRA, A.F.P.L. O que devem saber os profissionais de saúde para promover os direitos e a saúde das mulheres em situação de violência doméstica. Rio Grande do Sul: Fundação Ford, 2006. 7. SCHRAIBER, L.B. et al. Violência contra a mulher: estudo em uma unidade de atenção primária à saúde. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 36, v. 4, p. 470-477, 2002. 8. TAQUETTE, S.R. et al. Violência contra a mulher adolescente-jovem. In: FALEIROS, E. Violência de gênero. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2007. p. 6165. 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