O HOME-OFFICE E A CRIATIVIDADE
Vicente Volnei de Bona Sartor *
Gerson Rizzatti RESUMO
Esse artigo apresenta alguns aspectos relacionados com o home-office e a criatividade em um contexto de mudanças estruturais
nas carreiras dos profissionais em organizações competitivas e globalizadas. O home-office é uma estratégia muito eficaz
para as empresas e para os profissionais, pois torna o modelo organizacional eficaz sobre o ponto de vista da produtividade,
constituindo-se em um diferencial competitivo diante das necessidades do mercado atual.
PALAVRAS-CHAVE:
Home-office, criatividade e competitividade.
ABSTRACT
That article presents some aspects related to the home-office and the creativity in a context of structural changes in the
professionals' careers in competitive organizations. The home-office is a very effective strategy for companies and for
professionals, because it makes the organizational model effective in relation to productivity, and it is a competitive device
considering the needs of the current market.
KEY WORDS:
Home-office, creativity and competitiveness.
INTRODUÇÃO
Uma das exigências das organizações
contemporâneas e competitivas é a excelência
do trabalho humano. As organizações tiveram
que repensar suas estratégias buscando
alternativas com intuito de se tornarem mais
competitivas e rentáveis. Dentre essas
estratégias, uma das dimensões adotadas foi
a aplicabilidade do sistema de trabalho
denominado home office.
O home office é uma tendência geradora de
grandes impactos na área de recursos
humanos, e sobretudo conforme citam Bawa
e Dubash (1998) "... marca o fim do emprego
formal e das longas carreiras na mesma
corporação...".
O home-office surgiu como uma alternativa
para validar o processo de mudanças ocorrido
nas estrutura das organizações. Esse sistema
de trabalho começou a experimentar uma
grande expansão, haja vista sua praticidade e
minimização de custos. Além disso, o trabalho
na própria residência pode aumentar
consideravelmente a produtividade, devido à
evolução da informática e das
telecomunicações.
A competitividade entre as organizações
muitas vezes faz com que se dê ênfase à
produtividade e ao controle, inibindo outras
áreas de conhecimento que podem ser o
diferencial estratégico no mercado atual. Uma
dessas áreas relegadas é a criatividade
individual.
* Mestre. Professor e Pesquisador do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Recursos Humanos - NUPERH.
** Mestre. Doutorando do Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC,
Professor do Departamento de Ciências da Administração da UFSC e membro do Núcleo de Pesquisas e
Estudos em Recursos Humanos - NUPERH.
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Ao contrário do que comumente se pensa, a
criatividade não é apenas um processo criativo
voltado para áreas de marketing e
desenvolvimento, mas sim para toda a
organização. Na verdade pensar criativamente
também inclui expertise, ou seja, o
conhecimento técnico e intelectual aliado à
motivação. A combinação desses fatores conhecimento técnico com motivação determina o que uma pessoa realmente pode
fazer de forma criativa.
CONCEITOS DE CRIATIVIDADE
Conforme a literatura, a base da criatividade
é a idéia. Nesse sentido, faremos uma breve
análise de seu significado. Segundo Borges
(1997), a maioria das idéias é obtida ou
condicionada por uma informação criativa de
um indivíduo, podendo ser:
uma representação mental de uma coisa
concreta ou abstrata, imagem;
elaboração intelectual, concepção;
projeto, plano; e
invenção, criação.
Da mesma forma, Michaelis a define como:
"Representação mental de uma coisa concreta
ou abstrata. Imagem. (...) Modelo eterno e
perfeito do que existe. Delineamento, esboço.
Talento inventivo; engenho. Pensamento,
concepção, plano. Mente, imaginação.
Opinião, conceito. Noção, conhecimento.
Lembrança, recordação, reminiscência,
força.(...) uma força de realização. I. luminosa:
boa idéia. 1.. mãe: aquela que dá origem a
outras idéias. I. nova: opinião tendente a
alterar a organização da sociedade num
sentido avançado em liberdades. I. inatas:
idéias que se supõe presentes no indivíduo
antes de qualquer experiência. I.
incompletas..."
Esses dois conceitos sugerem que ter uma boa
58
idéia é saber identificar novas oportunidades
de negócios, e para identificá-las exige-se do
empreendedor predisposição e criatividade.
A predisposição está relacionada com a
habilidade para identificar oportunidades de
negócios.
A idéia é a base da criatividade, pois é a partir
dela que os novos empreendedores e os
inovadores mais valorizados nas organizações
têm os seus insights e transformam em
realidade o que até então permanecia em suas
mentes. A partir daí, a união corpo x mente,
matéria x espírito é inevitável. Une-se ao saber
o lado emocional do ser humano, a
criatividade e a liberdade de ouvir a voz da
intuição, o que para muitos é uma voz que
vem de dentro, sem que se possa controlá-la.
A voz que de dentro é responsável pela
geração de idéias criativas e inovadoras
Para a maioria das pessoas, a criatividade é
uma bênção divina e restrita a alguns
indivíduos iluminados. Na antigüidade, a
criatividade era associada a alguma forma de
loucura, ou como sendo transmitida
internamente pelos códigos genéticos;
justamente por tratar-se de pessoas
espontâneas, que possuem originalidade de
pensamentos, irracionalidade e rompem
maneiras tradicionais de agir (Borges, 1997).
Nos tempos atuais, pessoas criativas ainda
continuam sofrendo discriminações pois
ousam atuar de acordo com suas idéias. Por
mais inovadoras que sejam, sofrem sempre
um tipo de preconceito.
Para Chinelato Filho (1993) "a criatividade é
sinônimo de inovação, geração de idéias e
mudança de comportamento." Depende,
acima de tudo, da persistência do indivíduo,
já que este sofre as discriminações da
sociedade, conforme citado anteriormente.
Uma organização criativa é aquela que valoriza
o potencial das pessoas para a competência,
a responsabilidade e a ação. Para disseminar
potencial criativo latente nas pessoas, é
necessária uma cultura gerencial participativa
em que as pessoas tenham a oportunidade
de manifestar seu potencial criativo.
Bemvenutti citado por Baima (1998) afirma
que é preciso transformar subordinados em
homens de negócio, que "arrisquem , ousem
inovem." Desta forma, o comportamento
humano é valorizado.
hábito de ler e escrever;
contato com as artes e as ciências;
contato com os veículos de comunicação; e
abertura de espírito — ser flexível, receptivo
às novas idéias e com vontade de aprender.
Para estimular a criatividade, sugere-se que
as empresas pratiquem e possibilitem os
seguintes procedimentos:
desafio - combinando corretamente as
pessoas às tarefas em que elas melhor se
enquadram, para isso os gerentes precisam
de um profundo conhecimentos de seus
funcionários;
liberdade - proporcionando autonomia às
pessoas de forma que isto propicie a
motivação e consequentemente à
criatividade;
recursos - boa distribuição de tempo e
dinheiro, recursos estes que influenciam a
criatividade tendo que ser muito bem
distribuídos e gerenciados;
características dos grupos de trabalho - é
uma questão determinante para o estímulo
da criatividade, pois no momento da
formação de equipes os gerentes devem ter
a sensibilidade de aliar entre os integrantes
a mesma motivação pelo objetivo fim;
desejo mútuo de ajudar seus colegas; e o
reconhecimento de cada integrante do
conhecimento e a perspectiva singulares que
os demais trazem para o grupo;
encorajamento pela supervisão - saber elogiar
os sucessos e os esforços malsucedidos e
cultuar um clima de positivismo na
organização encorajando à criaçãode idéias
e dando importância a cada uma delas; e
apoio organizacional - por parte dos líderes
da organização estimula a criatividade dos
funcionários no momento que estes sabem
que o apoio realmente existe, não apenas
com "suborno" utilizando recompensas em
dinheiro, mas sim com trocas de
informações e colaboração aumentando o
conhecimento, o raciocínio criativo e
Entretanto, algumas empresas não valorizam
o potencial criativo de seus colaboradores. Em
decorrência disso, surgem alguns obstáculos
que dificultam o exercício da criatividade:
falta de informação;
hábitos e vícios arraigados;
desmotivação e imobilidade;
despreparo intelectual;
rejeição às mudanças; e
preconceitos culturais, religiosos, políticos
e sociais.
A mente humana, quando liberada das
barreiras acima citadas, é ilimitada em seu
potencial criativo. Sempre que o sujeito
criativo encontra as situações culturalmente
favoráveis, ele se sente cada vez mais
estimulado a desafiar e a criar. Ou seja, os
seres humanos sentem prazer ao pôr em
prática as suas capacidades, e esse prazer
cresce na medida em que cresce a capacidade
posta em prática.
Para Chinelato Filho (1993), a produção de
idéias visando à solução de problemas e de
novos negócios é o objetivo principal das
pessoas criativas. Desta forma, grandes
negócios surgem da intuição dos indivíduos.
Empresas que investem na criatividade são
aquelas que estão permanentemente
inovando.
De acordo com o mesmo autor, certos hábitos
posturas facilitam o desenvolvimento da
criatividade latente em todas as pessoas, a
saber:
..*•./41Wi TO
...0
59
consequentemente a motivação.
A PESSOA CRIATIVA
Estudos e investigações realizados por
pesquisadores visando identificar o indivíduo
criativo na população, compreender suas
atitudes, comportamentos e sentimentos, têm
apontado uma série de características comuns
nas pessoas criativas, que segundo Borges
(1997) são:
Fluência de flexibilidade de idéias — onde a
fluência é entendida como a capacidade
para gerar um grande número de idéias e
soluções diante um problema ou situação
específica.
Pensamento original e inovador — onde a
originalidade é um componente da
criatividade e não sinônimo. Gerar novas
idéias não necessariamente conduz a
aplicação dessas idéias.
Alta sensibilidade externa e interna - que
diz respeito a energia mais poderosa para
a realização criativa, que vem do
sentimento de possuir um ideal, um sonho
que se pretende realizar.
Fantasia e imaginação — que pode ser
observada como uma oportunidade para a
resolução de problemas.
Inconformismo — o indivíduo criativo, muitas
vezes, percebe o que é rotineiro sob
diferentes pontos de vista. Tendendo a ser
inconformista e resistente ás pressões da
sociedade para pensar e comportar de outra
forma a fim de conseguir realizar novas
descobertas.
Idéias enriquecidas e elaboradas - são
essenciais para transformação de um
produto.
7. Preferência por situações de risco, motivação
e curiosidade - são componentes essenciais
da coragem de ser arriscar. O indivíduo
está tão curioso e motivado para saber, que
não se importa com os riscos que possa
correr na procura da verificação de suas
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idéias;
8. Humor, impulsividade e espontaneidade —
O ambiente humorístico tende a favorecer
o aparecimento de idéias diferentes,
inovadoras e criativas.
A pessoa criativa estrutura as informações em
consistentes relações de causa e efeito,
estando apta a dar outro passo em frente,
classificando os fatos e as idéias que a rodeia.
Para ativar a criatividade, pode-se estabelecer
um ambiente encorajador e procurar orientar
a mente dos funcionários para canais criativos
e que conduzam as metas da empresa.
Desta maneira, os fatores capazes de avivar a
criatividade e que a tornam útil às organizações
são os seguintes:
o volume de encorajamento e orientação
recebido pelo indivíduo;
a qualidade do resultado criativo - variando
conforme o nível da aptidão mental de
quem o concebeu;
a motivação - ajuda a sustentar a
autodisciplina emocional e intelectual que
um criador precisa enquanto está
concentradora concepção de uma nova
idéia.
Para ser criativo é preciso ser conseqüente, a
partir da capacidade de olhar as coisas pelo
inverso, de ver o que ninguém viu.
Geralmente, isso significa ver o mais simples,
o óbvio. A criatividade é acima de tudo o
diferencial permanente nos negócios de
sucesso!
RELAÇÃO ENTRE O HOME-OFFICE E A
CRIATIVIDADE
De Masi, citado por Mendes (1999), afirma
que o ambiente favorável à criatividade é o
ambiente sem burocracias. Além disso, o fato
de muitas pessoas trabalharem num mesmo
edifício, considera ele, é "anti-criatividade",
"Edifícios são anti-criatividade. São gaiolas de
vidro em que somos obrigados a conviver com
colegas antipáticos e chefes mal-educados e
a comer aquela comida horrível de bandejão.
As empresas levam tudo para um mesmo
espaço: bar, restaurante, creche. As pessoas
ficam aprisionadas ali, vão de casa para o
trabalho, do trabalho para casa. É um horror."
Isto tende a confirmar que as pessoas que
trabalham em casa estão propensas a mais
insights, produzindo seus trabalhos com mais
criatividade do que aquelas que trabalham na
sede da empresa. As pessoas criativas
preferem empresas pequenas às grandes
corporações.
Outro aspecto valioso no estudo da
criatividade, segundo De Masi, é que as
organizações burocráticas contribuem para a
desmotivação e decorrente mau humor,
gerando falta de criatividade e predomínio de
procedimentos rotineiros e habituais.
Os controles rígidos observados nas grandes
organizações também impedem que a
criatividade possa aflorar, pois o controle é o
"reino da burocracia" e a "motivação é o reino
da criatividade".
A inovação conquistada a partir da criatividade
deve ser parte da missão da empresa, e estar
enraizada nos seus objetivos. A empresa deve,
sobretudo favorecer a criatividade através da
flexibilidade conferida aos funcionários. Por
este motivo, o Home-Office é uma alternativa
eficaz para trabalhos que exigem a criatividade
como diferencial competitivo.
Esta é uma das características marcantes do
sistema home-office, pois permite que o
funcionário realize sua auto-avaliação e
procura melhorar suas deficiências. Outro
ponto importante é que não estando
subordinado e não tendo a quem ouvir
constantemente o que fazer, esee trabalhador
pode estimular seu potencial criativo e
produzir trabalhos significativos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As grandes transformações afetaram
significativamente o mercado de trabalho,
onde só sobrevive aquele que tem o poder
de absorver continuamente as grandes
evoluções tecnológicas e o aprendizado como
um todo.
Tem-se no home-office uma maneira de
atender essa exigência, pois o funcionário que
trabalha em casa sente-se mais à vontade,
expandindo sua produtividade, sua
criatividade e sua qualidade de vida no
trabalho.
Desta forma verifica-se que, no mundo atual,
com a evolução constante das tecnologias, o
home-office é uma estratégia muito eficaz para
as empresas e para os profissionais, pois torna
o modelo organizacional eficaz sob o ponto
de vista da produtividade e sob a perspectiva
humana, constituindo um diferencial
competitivo em face às exigências do
mercado. Enfim, o home-office é tido como
uma tendência que provocará grandes
impactos na área de recursos humanos. Este
artigo destacou o home-office como uma nova
perspectiva para o mercado de trabalho e para
as organizações que pretendem a excelência
em seus recursos humanos.
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