Regras
313 - REGRAS PARA DE ALGUM MODO SENTIR E CONHECER AS VÁRIAS MOÇÕES QUE
SE PRODUZEM NA ALMA:
AS BOAS PARA AS ACEITAR E AS MÁS PARA AS REJEITAR(113)
São mais próprias para a primeira semana.
314 - 1ª regra. Às pessoas que vão de pecado mortal em pecado mortal, costuma
normalmente o inimigo propor-lhes prazeres aparentes, fazendo com que imaginem
deleites e prazeres sensuais para que mais se conservem e cresçam nos seus vícios e
pecados.
Com tais pessoas o bom espírito usa de um método oposto: punge-lhes
e remorde-lhes a consciência pela sindérese(u) da razão.
315 - 2ª regra. Nas pessoas que se vão purificando intensamente dos seus pecados e
caminham no serviço de Deus nosso Senhor de bem a melhor, o bom e o mau espírito
operam em sentido inverso ao da regra precedente. Porque neste caso é próprio do mau
espírito causar tristeza e remorsos de consciência, levantar obstáculos e perturbá-las
com falsas razões para as deter no seu progresso.
E é próprio do bom espírito dar-lhes coragem, forças, consolações e
lágrimas, inspirações e paz, facilitando-lhes o caminho e
desembaraçando-o de todos os obstáculos, para as fazer avançar na
prática do bem.
316 - 3ª regra. A consolação espiritual.(114) Chamo consolação quando na alma se
produz alguma moção interior, pela qual ela vem a se inflamar no amor do seu Criador e
Senhor e, conseqüentemente, quando a nenhuma cousa criada sobre a face da terra,
pode amar em si, senão no Criador de todas elas.
Do mesmo modo, quando derrama lágrimas que a movem ao amor do
seu Senhor, seja pela dor dos seus pecados ou por causa da Paixão de
Cristo nosso Senhor ou por outras coisas diretamente ordenadas ao
serviço e louvor dEle.
Finalmente, chamo consolação a todo aumento de esperança, fé e
caridade e a toda alegria interior que eleva e atrai a alma para as coisas
celestiais e para sua salvação, tranqüilizando-a e pacificando-a em seu
Criador e Senhor(115)
317 - 4ª regra. A desolação espiritual.(116) Chamo desolação todo o contrário da
terceira regra: como escuridão da alma, perturbação, incitação a coisas baixas e
terrenas, inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam à falta de
fé, de esperança e de amor; achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste e como se
separada do seu Criador e Senhor.
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Regras
Porque, assim como a consolação é contrária à desolação, assim os
pensamentos provenientes da consolação são opostos aos provenientes
da desolação.
318 - 5ª regra. No tempo da desolação não se deve fazer mudança alguma, mas
permanecer firme e constante nos propósitos e determinações em que se estava no dia
anterior a esta desolação, ou nas resoluções tomadas antes, no tempo da consolação.
Porque, assim como na consolação é o bom espírito que nos guia e
aconselha mais eficazmente, assim na desolação nos procura conduzir o
mau espírito, sob cuja inspiração é impossível achar o caminho que nos
leve a acertar.
319 - 6ª regra. Uma vez que na desolação não devemos mudar os primeiros propósitos,
muito aproveita reagir intensamente contra a mesma desolação, por exemplo, insistindo
mais na oração, na meditação, em examinar-se muito e em aplicar-se nalgum modo
conveniente de fazer penitência(117).
320 - 7ª regra. O que está em desolação considere como o Senhor, para o provar, o
deixou entregue às suas potências naturais, a fim de resistir aos diversos impulsos e
tentações do inimigo.
Porque pode resistir-lhes com o auxílio divino, que nunca lhe falta,
embora não o sinta distintamente, por lhe ter tirado o Senhor o seu
muito fervor, o grande amor(118) e a graça intensa, restando-lhe
contudo a graça suficiente(119) para a salvação eterna.
321 - 8ª regra. O que está em desolação esforce-se por se manter na paciência, virtude
oposta às aflições que lhe sobrevêm. E pense que bem depressa será consolado,
empregando contra tal desolação as diligências explicadas na sexta regra(120)
322 - 9ª regra. Três são as causas principais da desolação:
Primeiramente, a nossa tibieza, preguiça e negligência nos exercícios de
piedade afastam de nós, por culpa própria, a consolação espiritual.
Em segundo lugar, para mostrar-nos quanto valemos e até que ponto
somos capazes de avançar no serviço e louvor de Deus, sem tanta
recompensa de consolações e maiores graças.
Em terceiro lugar, para nos ensinar e fazer conhecer em verdade,
sentindo-o interiormente, que não depende de nós conseguir ou
conservar uma grande devoção, um intenso amor, lágrimas, nem
qualquer outra consolação espiritual, mas que tudo isso é um dom e
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uma graça de Deus nosso Senhor. E também para que não façamos
ninho em casa alheia, permitindo que o nosso espírito se exalte com
qualquer movimento de orgulho ou vanglória, atribuindo-nos a nós os
sentimentos da devoção ou os outros efeitos da consolação espiritual.
323 - 10ª regra. Quem está em consolação preveja como se há de portar no tempo de
desolação, que depois virá, tomando novas forças para esse tempo.
324 - 11ª regra. Quem está em consolação procure humilhar-se e abater-se tanto
quanto possível, lembrando-se de quão pouco é capaz no tempo da desolação, quando
privado dessa graça ou consolação.
Pelo contrário, quem está desolado lembre-se que muito pode com a
graça que lhe basta para resistir a todos os seus inimigos, procurando
forças em seu Criador e Senhor(121).
325 - 12ª regra. (122) O inimigo procede como uma mulher, sendo fraco quando lhe
resistimos, e forte no caso contrário.
Pois é próprio da mulher, quando disputa com algum homem, perder a
coragem e pôr-se em fuga, quando este lhe resiste francamente. Pelo
Contrário, se o homem começa a temer e a recuar, crescem sem
medida a cólera, a vingança e a ferocidade dela.
Do mesmo modo, é próprio do inimigo enfraquecer-se e perder o ânimo,
retirando suas tentações, quando a pessoa que se exercita nas coisas
espirituais enfrenta sem medo as suas tentações, fazendo
diametralmente o oposto.
Ao invés, se a pessoa que se exercita começa a ter medo e a perder o
ânimo ao sofrer tentações, não há animal tão feroz(v) sobre a face da
terra como o inimigo da natureza humana, na prossecução de sua
perversa intenção com tão grande malícia.
326 - 13ª regra. Também age como um sedutor,(x) em querer ficar oculto e não ser
descoberto.
Pois o homem corrupto,(z) quando solicita por palavras para um fim
mau a filha de um pai honrado ou a mulher de um bom marido, quer
que suas palavras e insinuações fiquem em segredo. Ao contrário muito
se descontenta, quando a filha revela ao pai ou a mulher ao marido
suas palavras sedutoras e intenção depravada, pois facilmente conclui
que não poderá levar a termo o empreendimento começado.
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Regras
Da mesma forma, quando o inimigo da natureza humana apresenta
suas astúcias e insinuações à alma justa, quer e deseja que sejam
recebidas e guardadas em segredo. Mas, quando a pessoa tentada as
descobre a seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual, que
conheça seus enganos e malícias, isso lhe causa grande pesar, porque
conclui que não poderá realizar o mal que começara, uma vez que
foram descobertos seus enganos evidentes.
327 - 14ª regra. Procede também como um caudilho, para vencer e roubar o que
deseja.
Pois assim como um capitão ou comandante de uma tropa, acampando
e examinando as forças ou disposição de um castelo, ataca-o pelo lado
mais fraco, da mesma maneira, o inimigo da natureza humana,
rondando à volta de nós, observa de todos os lados nossas virtudes
teologais, cardeais e morais. Onde nos encontra mais fracos e mais
necessitados quanto à nossa salvação eterna, por ali nos combate e
procura tomar-nos.
328 - REGRAS PARA O MESMO FIM COM MAIOR DISCERNIMENTO DE ESPIRITOS
São mais próprias para a segunda semana(123).
329 - 1ª regra. É próprio de Deus e de seus anjos, em suas moções, dar
verdadeira alegria e gozo espiritual, tirando toda tristeza e perturbação
que o inimigo costuma causar. Deste é próprio combater esta alegria e
consolação espiritual com razões aparentes, sutilezas e freqüentes
ilusões.
330 - 2ª regra. Somente Deus pode dar consolação à alma sem causa
precedente(124). Porque é próprio do Criador entrar, sair, causar nela
moções, levando-a toda ao amor de suua divina Majestade. Digo "sem
causa", isto é, sem nenhum prévio sentimento ou conhecimento de
algum objeto pelo qual venha tal consolação, mediante seus atos de
entendimento e vontade.
331 - 3ª regra. "Com causa", podem consolar a alma tanto o bom
espírito como o mau, mas para fins contrários. O bom espírito(w) para
proveito da alma, para que cresça e suba de bem a melhor. O mau, para
o contrário, e posteriormente para arrastá-la à sua perversa intenção e
malícia.
332 - 4ª regra. É próprio do espírito mau, que se disfarça em anjo de
luz, introduzir-se em conformidade com a alma devota e sair com
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Regras
proveito dele, isto é, suscitar pensamentos bons e santos, conforme
com a tal alma justa, e depois procurar pouco a pouco atingir seus
objetivos, atraindo a alma a seus enganos secretos e perversas
intenções.
333 - 5ª regra. Devemos atender muito ao curso dos
pensamentos(125). Se o princípio, o meio e o fim são todos bons,
inclinados inteiramente para o bem, é sinal do bom espírito. Mas se a
seqüência dos pensamentos sugeridos termina em alguma coisa má ou
que distrai ou que é menos boa do que a que a pessoa se propusera
anteriormente fazer, ou a enfraquece ou inquieta e conturba
tirando-lhe a paz, tranqüilidade e quietude que antes possuía, então é
sinal claro de que provém de mau espírito, inimigo do nosso proveito e
salvação eterna.
334 - 6ª regra. Quando o inimigo da natureza humana for sentido e
reconhecido por sua cauda de serpente e pelo mau fim a que induz, é
útil para a pessoa que foi por ele tentada observar logo a sucessão dos
pensamentos bons que lhe trouxe e o princípio deles. E como, pouco a
pouco, procurou fazê-la descer da suavidade e gozo espiritual em que
se encontrava, até levá-la à sua intenção depravada, para que, com
essa experiência conhecida e notada, a pessoa se guarde para o futuro
de seus costumeiros enganos.
335 - 7ª regra. Nos que progridem de bem para melhor, o bom espírito
toca a alma doce, leve e suavemente, como a gota de água que penetra
numa esponja. O mau toca-a com dureza, ruído e inquietação, como a
gota de água que cai na pedra.
Aos que procedem de mal a pior, os mesmos espíritos os tocam de
maneira inversa. A causa disso está em ser a disposição da alma
contrária ou semelhante a estes espíritos. Pois, quando é contrária,
entram com estrépito, sendo bem notados e sentidos. E quando é
semelhante, entram em silêncio, como em sua própria casa de porta
aberta.
336 - 8ª regra. Quando a consolação é "sem causa", embora não exista
nela engano, por proceder unicamente de Deus nosso Senhor, como se
disse, contudo a pessoa espiritual, a quem Deus dá tal consolação, deve
com muita vigilância e atenção considerar e distinguir o tempo
propriamente dito da atual consolação, do tempo seguinte, em que a
pessoa continua ardente e favorecida com o benefício da consolação
anterior. Pois muitas vezes, neste segundo tempo, a pessoa, por efeito
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Regras
dos próprios hábitos e em conseqüência das suas idéias e seus juízos,
ou sob a inspiração do bom ou do mau espírito, é levada a diversas
resoluções e opiniões, que não são dadas imediatamente por Deus
nosso Senhor. Por isso, é necessário que sejam muito bem examinados,
antes de se lhes dar inteiro crédito ou de serem postos em
prática(126).
337 - REGRAS NO MINISTÉRIO DE DISTRIBUIR ESMOLAS(127)
338 - 1ª regra. Se distribuo esmolas a parentes, amigos ou pessoas às quais me sinto
afeiçoado, tenho de observar quatro coisas, já mencionadas na matéria da eleição
(184-187).
A primeira é que o amor que me leva a dar esmolas a essas pessoas
desça do alto, do amor de Deus nosso Senhor, de forma que eu sinta
antes em mim que o amor mais ou menos vivo que lhes tenho é por
Deus, e que Deus resplandeça no motivo que me leva a amá-las mais.
339 - 2ª regra. Imaginarei um homem que nunca vi nem conheci e a quem desejo toda
a perfeição no seu ministério e no seu estado. Farei, nem mais nem menos, aquilo que
desejaria que ele fizesse na distribuição das esmolas, tomando para mim a regra e a
medida que desejaria que ele adotasse e que considero meio mais conforme à maior
glória de Deus e à maior perfeição de sua alma.
340 - 3ª regra. Examinarei, como se estivesse na hora da morte, que maneira de
proceder e que medida desejaria ter adotado no exercício da minha administração. E em
conformidade com isto, guardarei a mesma medida na distribuição das minhas esmolas.
341 - 4ª regra. Considerando como me acharei no dia do juízo, examinarei bem como
desejaria então ter usado deste ofício e ter desempenhado este ministério. E seguirei
agora a mesma regra que quereria ter seguido, no dia do juízo.
342 - 5ª regra. Quando alguém se sente inclinado ou afeiçoado a algumas pessoas às
quais quer distribuir esmolas, detenha-se e reflita bem as quatro regras precedentes,
examinando e verificando, à luz delas, a sua afeição. E não dê a esmola até que tenha
totalmente tirado de si, conforme a estas regras, a sua afeição desordenada.
343 - 6ª regra. Ainda que não haja culpa em aceitar os bens de Deus nosso Senhor
para os distribuir, quando a pessoa é chamada para este ministério, contudo no
determinar a proporção e a quantidade do que deve tomar e reservar para si mesmo ou
dar a outros pode haver dúvida de falta ou de excesso. Por isso, pode-se reformar em
sua vida e estado pelas regras precdentes.
344 - 7ª regra. Pelas razões acima expostas, e por muitas outras, no que concerne à
própria pessoa e ao regime da casa procedermos sempre de uma maneira, tanto melhor
e mais segura, quanto mais restringirmos e reduzirmos os gastos e quanto mais nos
parecermos com o pontífice supremo, nossa regra e nosso modelo que é Cristo nosso
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Regras
Senhor.
Foi em conformidade com esta regra que o 3º concílio de Catargo(128),
ao qual assistiu Santo Agostinho, determinou e ordenou que a mobília
do bispo fosse comum e pobre. Isto deve aplicar-se a todos os estados,
guardadas as proporções e tendo em conta a condição e nível das
pessoas. Assim no estado matrimonial temos o exemplo de S. Joaquim
e Sta. Ana que dividiam os bens em três partes: uma, davam-na aos
pobres; outra, ao culto e ao serviço do Templo; e a terceira
reservavam-na para a manutenção de si mesmos e de sua família.
345 - NOTAS PARA ENTENDER E SE ORIENTAR A RESPEITO DE ESCRÚPULOS E
INSINUAÇÕES DO INIMIGO
246 - - 1ª nota. Chamam vulgarmente escrúpulo o que procede do
nosso próprio juízo e liberdade, a saber: quando eu livremente julgo
que é pecado o que não é pecado. Assim, por exemplo, acontece que
alguém, depois de ter pisado casualmente uma cruz de palha, julga que
pecou. Isto propriamente é juízo errôneo e não verdadeiro escrúpulo.
347 - 2ª nota. Depois de eu ter pisado aquela cruz, ou depois de ter
pensado ou dito ou feito alguma outra coisa, vem-me de fora o
pensamento de que pequei. E, por outra parte, parece-me não ter
pecado. No entanto sinto com isso perturbação, a saber, enquanto
duvido e não duvido. Isto é propriamente escrúpulo e tentação do
inimigo.(129)
348 - 3ª nota. A primeira espécie de escrúpulo mencionada na primeira
nota deve ser detestada, porque ela é falsidade.
Quanto ao outro escrúpulo, indicado na segunda nota, durante algum
tempo não é de pequena utilidade para a pessoa que se dá a exercícios
espirituais. Ajuda-a até mesmo muito a limpar-se e a purificar-se,
separando-a inteiramente de toda a aparência de pecado, conforme
esta palavra de S. Gregório: "É próprio das almas boas ver faltas onde
as não há" ( Bonarum mentium est ibi culpam agnoscere ubi culpa nulla
est)(130).
349 - 4ª nota. O inimigo observa muito se a pessoa é relaxada ou
delicada. Se é delicada procura torná-la ainda mais delicada para mais a
perturbar e prejudicar. Por exemplo, se vê que uma pessoa não
consente em pecado mortal nem venial nem aparência alguma de
pecado deliberado, então o inimigo, que não pode fazê-la cair em coisa
que pareça pecado, procura fazê-la imaginar pecado onde não há, por
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exemplo, numa palavra ou num pensamento sem importância.
Se a pessoa é relaxada, o inimigo procura relaxá-la mais. E assim, se
antes não fazia caso de pecados veniais, procurará que dos mortais faça
pouco caso. E se antes fazia algum caso, procurará que agora faça
muito menos ou nenhum.
350 - 5ª nota. A pessoa que deseja aproveitar na vida espiritual,
sempre deve proceder de modo contrário ao do inimigo. Se o inimigo
quer relaxar a consciência, procure torná-la delicada. Do mesmo modo,
se o inimigo procura torná-la delicada até ao excesso, a pessoa procure
firmar-se solidamente no meio-termo para tranqüilizar-se totalmente.
351 - 6ª nota. Quando uma pessoa boa quer dizer ou fazer alguma
coisa dentro das normas da Igreja e das tradições dos nossos maiores,
para a glória de Deus nosso Senhor, se lhe vem um pensamento ou
tentação de fora, para que não diga nem faça essa coisa, trazendo-lhe
razões aparentes de vanglória ou de outra coisa, então deve levantar o
pensamento a seu Criador e Senhor. E se vê ser um serviço que lhe é
devido, ou ao menos, não lhe é contrário, deve agir de maneira
diametralmente oposta contra essa tentação, respondendo-lhe como S.
Bernardo: "Nem por ti comecei, nem por ti acabarei" ( Nec propter te
incepi, nec propter te finiam ).
352 - REGRAS PARA SENTIR(y) VERDADEIRAMENTE COMO SE DEVE NA IGREJA
MILITANTE(131)
353 - 1ª regra.(132) Renunciando a todo juízo próprio, devemos estar
dispostos e prontos a obedecer em tudo á verdadeira esposa de Cristo
Nosso Senhor, isto é, à santa Igreja hierárquica, nossa mãe(133).
354 - 2ª regra. Louvar a confissão sacramental e a recepção do
Santíssimo Sacramento pelo menos uma vez por ano, muito mais todos
os meses, melhor ainda cada semana, com as disposições devidas que
se requerem (18).
355 - 3ª regra. Louvar a assistência freqüente à missa, como também
os cantos, salmos e longas orações dentro e fora da igreja. Da mesma
forma, as horas ordenadas no tempo designado para todo o ofício divino
e para todas as orações e todas as horas canônicas.
356 - 4ª regra. Louvar muito as ordens religiosas, a virgindade e a
continência. E não tanto o matrimônio, como qualquer destas.
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Regras
357 - 5ª regra. Louvar os votos religiosos de obediência, pobreza e
castidade e os outros votos de perfeição voluntária.
É de notar que o voto, tendo por matéria coisas que conduzem à
perfeição evangélica, não se pode fazer de coisas que afastam dela,
como de ser comerciante ou de abraçar o estado matrimonial, etc.
358 - 6ª regra. Louvar relíquias dos Santos, venerando aquelas e
rezando a estes, louvar as estações, as peregrinações, as indulgências,
os jubileus, as bulas da cruzada, o costume de acender velas nos
templos.
359 - 7ª regra. Louvar as leis a respeito dos jejuns e abstinências da
quaresma, das quatro têporas, das vigílias, da sexta-feira e do sábado,
assim como as penitências, não só interiores, mas mesmo exteriores.
360 - 8ª regra. Louvar o zelo pela construção e ornamentação das
igrejas. Louvar o uso das imagens, e venerá-las conforme o que
representam.
361 - 9ª regra. Louvar finalmente todos os preceitos da santa Igreja, e
estar disposto para procurar razões em sua defesa, e nunca para os
criticar.
362 - 10ª regra. Devemos ser mais prontos para aprovar e louvar as
diretrizes, recomendações e comportamento dos nossos superiores (do
que para os criticar). Porque, supondo que algumas das suas
disposições não sejam, ou não tenham sido tais (que mereçam elogio),
falar contra elas, quer em sermões ao público, quer em conversas com
os simples fiéis, originaria mais críticas e escândalo do que proveito: o
povo viria a irritar-se contra os seus superiores, quer temporais quer
espirituais. Todavia, assim como é prejudicial falar mal dos superiores
na sua ausência diante do povo humilde, assim pode ser útil falar dos
maus costumes às pessoas que podem remediá-los.
363 - 11ª regra. Louvar a teologia positiva e a teologia escolástica.
Porque, como é mais próprio dos doutores positivos, tais como S.
Jerônimo, Sto. Agostinho, S. Gregório e outros mover os afetos e levar
os homens a amar e a servir em tudo a Deus nosso Senhor, assim é
mais próprio dos escolásticos como Sto. Tomás, S. Boaventura, o
Mestre das Sentenças e outros definir e explicar, conforme as
necessidades dos tempos modernos as coisas necessárias à salvação
eterna, e refutar e explicar melhor todos os erros e todas as falácias.
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Regras
Com efeito, os doutores escolásticos, mais recentes que os primeiros,
não somente se servem do conhecimento da Sagrada Escirtura e dos
escritos dos santos doutores positivos, mas, esclarecidos e ensinados
pela virtude divina, ajudam-se também dos concílios, dos cânones e
constituições da nossa santa Mãe Igreja.
364 - 12ª regra. Evitemos fazer comparações entre pessoas ainda vivas
e os santos que estão no céo. Porque há muito perigo de nos
enganarmos neste ponto; quando dizemos, por exemplo, que este
homem é mais sábio do que Sto. Agostinho, que é um outro S.
Francisco ou maior ainda, que é um outro S. Paulo na bondade, na
santidade, etc.
365 - 13ª regra. Para em tudo acertar, devemos estar sempre dispostos
a crer que o que nos parece branco é negro, se assim o determina a
Igreja hierárquica;(134) persuadidos de que entre Cristo Nosso Senhor
- o Esposo - e a Igreja - sua Esposa - não há senão um mesmo Espírito,
que nos governa e dirige para a salvação das nossas almas. Porque é
pelo mesmo Espírito e mesmo Senhor, autor dos dez mandamentos, que
se dirige e governa a santa Igreja, nossa Mãe.
366 - 14ª regra. Embora seja muito verdade que ningém se pode salvar
sem estar predestinado e sem ter a fé e a graça, contudo precisamos
ter muito cuidado na maneira de falar e discorrer sobre este assunto.
367 - 15ª regra. Habitualmente não devemos falar muito de
predestinação. Mas se em alguma ocasião se falar disso, faça-se de
maneira que os simples fiéis não caiam em algum erro. Algumas vezes
isso acontece, quando concluem: "Se já está determinado que me vou
condenar ou salvar, não são as minhas ações boas ou más que hão de
mudar esta determinação". E com este raciocínio tornam-se negligentes
e descuidam as obras que conduzem à salvação e ao proveito espiritual
das suas almas.
368 - 16ª regra. Da mesma forma é de advertir que, por falar muito de
fé e com muita insistência, sem nehuma distinção e explicação, não se
dê ocasião ao povo de vir a ser negligente e preguiçoso do obrar, e
isso... quer antes de a fé estar informada pela caridade, quer depois.
369 - 17ª regra. Igualmente não devemos insistir tanto na graça a
ponto de se produzir o veneno que nega a liberdade. Pode-se com
certeza falar da fé e da graça, mediante o auxílio divino, para maior
louvor de sua divina Majestade, mas não de tal forma nem por tais
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modos, mormente em nossos tempos tão perigosos, que as obras e o
livre-arb&iacutetrio sejam prejudicados ou mesmo negados.
370 - 18ª regra. Embora devamos estimar acima de tudo o serviço de
Deus nosso Senhor por puro amor, devemos contudo louvar muito o
temor da divina Majestade. Porque não somente é piedoso e santíssimo
o temor filial, mas até o mesmo temor servil, o qual ajuda muito a sair
do pecado mortal, quando o homem não alcança coisa melhor ou mais
útil. E quando sai dele, facilmente o ajuda a alcançar o temor filial, que
é totalmente querido e agradável a Deus, por ser inseparável do divino
amor.
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São mais próprias para a primeira semana. Com tais pessoas o