ANÁLISE DA GRAMÁTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE UM CONCEITUADO SISTEMA DE ENSINO Adriana de Araújo MORAES E.E. Coronel Queiróz Adriana Soares de SOUZA Sistema de Ensino Poliedro Érika Conceição de Brito MENDONÇA Colégio Engenheiro Juarez Wanderley (Instituto Embraer) Resumo. Este trabalho tem como escopo a análise dos livros de Português do Ensino Médio de um conceituado sistema de ensino sediado no Vale do Paraíba, delimitado à metodologia de ensino da gramática adotada pelo autor. A intenção é observar como a gramática é apresentada num sistema de ensino que é identificado como conteudista. Por meio do estudo do corpus, pretende-se definir qual a corrente de estudos gramaticais prevalecente, ou seja, quando o autor se vale da contextualização, e quando privilegia apenas a metalinguagem. A análise será feita observando-se tanto a condução do autor do desenvolvimento teórico dos tópicos gramaticais quanto a seleção de exercícios de cada capítulo, por entender que tal seleção permite perceber o posicionamento do autor a respeito do que se deve estudar e qual a importância que determinado tópico ou abordagem tem no entendimento global da disciplina, no caso, a Língua Portuguesa. Para isto, foi feito o levantamento dos exercícios dos livros dos 1º e 2º anos do Ensino Médio, identificando os que visam apenas ao conhecimento das regras da gramática normativa dos que contextualizam a gramática. Palavras-chave: gramática, contextualização, metalingüista, exercícios, análise. 1. Introdução Este trabalho consiste em uma pesquisa sobre a metodologia de ensino da Língua Portuguesa, com ênfase na gramática, encontrada no material didático de um conceituado sistema de ensino sediado no Vale do Paraíba. A análise desse material ganha relevância quando se verifica o desempenho dos alunos desse sistema de ensino nos mais disputados vestibulares do país, desde sua fundação, em 1993, até hoje. A aprovação – inclusive de alunos que a alcançam logo ao final do Ensino Médio – nos cursos em que é inequívoca a necessidade de um desempenho de excelência em todas as disciplinas, bem como a obtenção do primeiro lugar em vestibulares respeitados1 permitem supor a existência de afinidade entre os conteúdos gramaticais ensinados nesse sistema de ensino e a gramática incidente nas 1 Em 2007, alunos deste sistema de ensino (colégio e curso sedes e unidades parceiras) fizeram que ele conquistasse pelo 11º ano seguido a maior aprovação do ITA, o primeiro lugar geral da Unicamp, do Mackenzie, da UnB, da Unioeste, da medicina da UNESP, do curso de administração da Fundação Getúlio Vargas, da PUC-MG, entre outros resultados expressivos. provas de ingresso das principais instituições de ensino superior do país. Ou seja, tudo indica que o material atende à exigência do estudo gramatical que a academia busca em seus postulantes. Além disso, pretende-se observar como se apresenta o estudo da gramática em um sistema de ensino que se identifica com o rótulo de “conteudista” (em oposição ao construtivista) e que, segundo seus críticos, está na contramão das recomendações para o ensino da Língua Portuguesa professado pelos PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio). A pesquisa pretende responder se é possível determinar se há a adoção de determinada corrente de estudos gramaticais. A hipótese defendida pelo grupo de pesquisa é que o autor tem uma prática de ensino híbrida, misturando a gramática de uso à gramática normativa, sempre aprofundando a sistematização do conhecimento gramatical concernente ao programa do Ensino Médio. Para o desenvolvimento do estudo, tomou-se como corpus principal a coleção de livros de 1º e 2º Ensino Médio de Língua Portuguesa do sistema de ensino em questão. O 3º EM foi excluído porque é apenas revisional e utiliza o mesmo material do curso pré-vestibular (comumente essa prática é denominada “Terceirão”). Também são fontes de consulta, para análise comparativa, livros didáticos consagrados no mercado editorial, Celso & Cintra (1985), Faraco & Moura (2001), Nicola e Infante (1997), Carvalho (2008), Bechara (1995), Travaglia (2005) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, nas recomendações que faz para a área de Linguagens, códigos e suas tecnologias. A macroestrutura do trabalho está dividida em quatro partes: fundamentação teórica, análise quantitativa, análise qualitativa e conclusões do grupo. Na fundamentação teórica, serão enumeradas e comentadas algumas recomendações dos PCNEM, traçado um breve painel do ensino da gramática no Brasil e a discussão sobre a importância de seu ensino. Constará ainda a entrevista com o autor dos livros em estudo e serão delimitadas algumas 2 convenções (por exemplo: a que se refere neste trabalho a palavra “conteudismo”, entre outras). A análise quantitativa é feita pela classificação dos exercícios de cada capítulo, quantificando quantos são os contextualizados, metalingüísticos e os mistos, para que se faça a comparação dos dados da coleção em questão com os de outras duas coleções. A análise qualitativa dar-se-á pela eleição de alguns tópicos em que seja comum o embate entre a visão “conteudista” e a “contextualizada”, verificandose o posicionamento do autor nesses casos. Por fim, o grupo terá sua hipótese do gênero híbrido comprovada ou não, e poderá discutir qual o grau de consonância do material do sistema de ensino estudado e as discussões sobre o ensino da gramática defendida pelos ensaios acadêmicos constantes na fundamentação teórica. O processo metodológico consistirá, conforme já citado, na manipulação dos livros do referido sistema de ensino para a classificação quantitativa dos exercícios e na análise qualitativa pela leitura comparada com os livros de outros autores e uma entrevista com o autor. 2. Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Como a pesquisa deste trabalho é baseada na análise de livros didáticos, não podemos deixar de abordar o que é o Programa Nacional do Livro Didático. Tendo como objetivo a democratização do ensino fundamental nas escolas públicas do país, o MEC (Ministério da Educação), a partir de 1996, por meio de um processo pedagógico, iniciou a avaliação dos livros didáticos utilizados nas escolas para assegurar a qualidade, bem como a aquisição e distribuição gratuita desses livros. Antes de 1996, o executor do Programa Nacional do Livro Didático era a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), extinta em 1997, a quem cabia a aquisição e a distribuição gratuita dos livros didáticos escolhidos pelos professores. O grande paradoxo é que, mesmo sendo o maior comprador de livros didáticos do país, o governo não exigia nenhuma contrapartida das 3 editoras, pois não havia nenhuma avaliação quanto à qualidade desses livros conduzida pelo MEC, mesmo envolvendo cifras altas na negociação deles com as editoras. De acordo com BATISTA (2003), estudos demonstravam que parte de produções de livros didáticos no Brasil, desde a década de 1960, apresentava falta de qualidade com relação ao seu caráter ideológico e discriminatório, desatualização, incorreções conceituais e insuficiências metodológicas, além do fato de que esses livros eram comumente os principais materiais impressos usados pelos professores e alunos em uma parte significativa das escolas brasileiras. Como conseqüência desse fato, aliado a um possível despreparo dos professores, à falta de investimentos financeiros por parte do governo para a educação e à dificuldade para a circularização do livro didático, os livros didáticos acabaram por permear o tipo de trabalho dos professores, definindo, até mesmo, a postura destes em sala de aula e o currículo dentro das escolas. Somente a partir de 1990, o MEC inicia os primeiros passos para a discussão da qualidade do livro escolar. Por meio do Plano Decenal de Educação para Todos, em 1993, busca aprimorar a distribuição dos livros e capacitar os professores tecnicamente para avaliarem e selecionarem o livro a ser trabalhado em sala de aula. Além disso, o MEC formou uma comissão de especialistas aptos a avaliar a qualidade e estabelecer critérios na escolha do livro. O resultado disso repercutirá em 1996, com a universalização do PNLD e a formação de comissões por área de conhecimento, compostas por professores com experiências nos três níveis de ensino, assessoradas pelo Cenpec e coordenadas pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF), que foram incumbidas de estabelecer critérios de avaliação. Daí surgiram dois critérios, de acordo com BATISTA (2003): Critérios comuns de análise, os quais verificam a qualidade didática e pedagógica, editorial e gráfica e do manual do professor; e Critérios eliminatórios, responsáveis pela verificação da existência de preconceitos de raça, cor, sexo, idade, ou que induzam a erros conceituais. (BATISTA, 2003) 4 O PNLD legitimou o livro didático e levou as editoras a buscarem a qualidade em seus produtos; enfim, por meio dos debates que se seguiram à implementação do processo de avaliação de livros didáticos, o PNLD envolveu um número crescente de segmentos sociais no debate educacional, construindo, ao fim de seus primeiros cinco anos, um consenso em torno de seu papel fundamental para construir, com a comunidade escolar e universitária e com as editoras envolvidas no esforço de melhoria dos materiais didáticos, um novo padrão de qualidade para o livro escolar. (GOMES, 2003). 2.1 Livro Didático Segundo pesquisa realizada em 2006 pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), os livros didáticos têm 54% do mercado editorial no Brasil. Embora esse número seja considerado alto, os professores têm posturas diferentes com relação ao seu uso. Alguns usam o livro didático (doravante LD) com constância e fidelidade, outros não o adotam; outros ainda preferem montar o seu próprio material e há também quem utilize vários LDs ao mesmo tempo, afirma CORACINI (1999). Todavia o problema não é adotar ou não o LD, mas como empregá-lo, pois ele deve ser mais uma ferramenta nas mãos do professor e não o único material, o guia do trabalho do educador. Sendo assim, deve conter dicas para que o professor busque novas fontes para enriquecer seu trabalho e proporcionar liberdade para que o educador possa acrescentar novos instrumentos. Não existe livro perfeito, como advém do mundo editorial, o LD está sujeito a influências sociais, econômicas, técnicas, políticas e culturais pelo fato de passar pelos caminhos da produção, distribuição e consumo. E o professor corre o risco de reproduzir essas influências. Por isso, é muito importante, na hora de o professor escolher o LD, que o faça com consciência e que seja respeitada a sua independência. Também é fundamental que se leiam outros textos complementares em sala de aula, revistas especializadas, livros e publicações diversas, para construir uma opinião própria e independente. 5 Embora não haja dúvidas quanto à importância do papel do professor em sala de aula, não é possível ignorar o peso que tem o livro didático como fator determinante na condução do trabalho pedagógico, muitas vezes cumprindo o papel de tutor do currículo. Como afirma CORACINI (1999), a escola é o lugar de legitimação do LD; assim sendo, é onde ele se tornará legal e funcionará como portador de verdades que devem ser assimiladas tanto por professores quanto por alunos. 3. Recomendações dos PCNEM Parâmetro, de acordo com o dicionário Michaelis, significa modelo, referência. É isso que os Parâmetros Curriculares Nacionais desejam ser para as escolas: um modelo, um ponto de partida para o professor desenvolver seus projetos. Por volta dos anos 1970, estudiosos da língua começaram a debater sobre o tema dos conteúdos de ensino. Eles defendiam que as práticas de ensino deveriam levar em conta: classe social, espaço regional, faixa etária e, principalmente, gênero textual. Este último, ao ser praticado em sala de aula, possibilita ao professor abordar outras questões como: público-alvo, grau de formalidade, modalidade de uso (falada ou escrita) e registro utilizado. Possibilita também ao educador trabalhar as tipologias diferentes de um mesmo gênero. Por exemplo, dentro do gênero textual narrativa temos a tipologia narrativa fantástica e narrativa fabulística. O aluno passa a vislumbrar outros textos, e não somente os literários como vinha acontecendo até então, segundo afirma o impresso. Como resultado dos debates dos lingüistas, surgem então os PCN em 1998. De acordo com o documento, o Ensino Médio era visto, até então, apenas como uma preparação para a educação superior. Não havia, portanto, uma preocupação em fazer com que os conteúdos aprendidos na escola tivessem um sentido ou uma aplicação prática, fato que só aconteceria nas universidades. 6 Hoje, os PCNEM, definem o Ensino Médio “como um período de consolidação e aprofundamento de muitos dos conhecimentos construídos ao longo do Ensino Fundamental”. Atualmente, conforme publicação da Folha de S. Paulo há uma tendência de os vestibulares cada vez mais cobrarem outras competências além de conteúdos e de contextualizarem o que é pedido. Além disso, todos os grandes vestibulares de São Paulo pautam suas questões por aquilo que determinam os PCN. O referido documento afirma que os conteúdos devem fazer sentido já na escola e que esta deve formar para a vida. “Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado”, apregoam os PCN. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2000). 4. Primeiros estudos da gramática da Língua Portuguesa Para melhor compreendermos no que consiste a chamada gramática tradicional portuguesa, convém abordarmos um breve histórico de sua criação, para que tenhamos conhecimento acerca de sua origem e estrutura, pois esta gramática, embora tenha sofrido algumas mudanças ao longo dos séculos, ainda mantém certa semelhança com as gramáticas atuais. Segundo Nicola (1997), a primeira gramática da Língua Portuguesa surgiu no século XVI, em 1536, escrita pelo frade dominicano, construtor naval e filólogo Fernão de Oliveira a qual intitulava-se Grammatica da lingoagem portuguesa e a segunda surgiu logo após, em 1540, Gramática de João de Barro, que foi mais consagrada que a primeira, tanto por ter sido mais divulgada no tempo de sua publicação, quanto por sua melhor qualidade conceitual, de acordo com MONTEIRO (1999). A gramática de João de Barro se compõe de quatro partes: Ortografia, Prosódia, Etimologia e Sintaxe ou Construção. Nas duas primeiras, o autor 7 enumera as letras, descreve as sílabas, a quantidade e os acentos. Na terceira parte, estabelece uma classificação das palavras, além de deter-se na análise de flexões nominais e verbais. Na quarta, dedica-se ao estudo da sintaxe, definida como a conveniência entre as partes do discurso. E, após apresentar seus princípios de concordância e regência, inclui ainda mais dois capítulos: um que trata das figuras ou “espécies de barbarismos” e outro que retoma, de forma pormenorizada, a questão da ortografia. MONTEIRO (1999) Gramática de Fernão de Oliveira Gramática de João de Barros No texto de 1540, lê-se: “GRAMÁTICA é vocábulo grego: quér dizer çiênçia de lêteras. E, segundo a difinçám que lhe os Gramáticos déram, é um módo çérto e justo de falár e escrever, colheito do uso e autoridade dos barões doutos. Nós podemos-lhe chamár artefíçio de palávras póstas em seus naturáes lugáres, pera que, mediante élas, assi na fála como na escritura, venhamos em conhiçimento das tenções alheas. Porque bem assi entram as lêteras pela vista como as palávras pelos ouvidos – instrumento com que o nósso intendimento reçébe as máis das cousas. MONTEIRO (1999). 4.1 Definições de gramática de Bechara Ao se falar em gramática, é necessário, primeiramente, definir sobre qual gramática se pretende falar. O termo gramática permite várias acepções, 8 desde a idéia de gramática como mecanismo organizador das línguas, até a idéia de disciplina, daí a sua pluralidade. Por isso, é comum que se faça distinção entre a Gramática normativa (conjunto de regras necessário para se falar e escrever corretamente a língua) e a gramática descritiva (conjunto que descreve os fatos da língua; entre muitas outras que serão definidas mais adiante). Bechara (2005) divide a gramática em descritiva e normativa, sendo que a primeira ele conceitua como sendo uma disciplina científica que registra um sistema lingüístico levando em consideração todos os seus aspectos, tanto fonético-fonológicos quanto morfossintáticos e léxicos. Por ser de natureza científica, não lhe cabe estabelecer o que é certo ou errado. “A gramática descritiva se reveste de várias formas segundo o que examina mediante uma metodologia empregada, formas que não cabe aqui explicitar, apenas enumerar: estrutural, funcional, estrutural e funcional, constrativa, distribucional, gerativa, transformacional, estratificacional, de dependências, de valências, de usos etc. [...] Cabe à gramática normativa, que não é uma disciplina com finalidade científica e sim pedagógica, elencar os fatos recomendados como modelares da exemplaridade idiomática para serem utilizados em circunstâncias especiais do convívio social. A gramática normativa recomenda como se deve falar e escrever segundo o uso e a autoridade dos escritores corretos e dos gramáticos e dicionaristas esclarecidos.” (BECHARA, p. 52. 2005). 4.2 Definição de gramática de Faraco & Moura “A gramática é o conjunto de regras e princípios que orientam o funcionamento da língua. Modernamente, podemos distinguir pelo menos dois tipos diversos de gramática: a normativa, que estabelece regras a serem seguidas por todos aqueles que querem “falar e escrever corretamente”, e a descritiva, que tem como objetivo descrever e analisar a língua utilizada por um determinado grupo de pessoas num dado momento histórico.” (FARACO & MOURA, p.21. 1999). Esses mesmos autores conceituam mais detalhadamente a gramática em outras obras, aproximando-se à concepção de Bechara. (2005) [...] De acordo com a gramática normativa, só é válido o nível culto da língua, isto é, aquele empregado, geralmente, pela imprensa escrita, pelos escritores, pela elite social e econômica. O falar regional ou caipira é considerado errado, desvio que deve ser evitado para que a língua não se 9 degenere. Também é desprezado o nível coloquial, aquele que empregamos informalmente no dia-a-dia, com gírias e expressões populares. [...] Já a gramática descritiva não leva em conta o conceito “certo” ou “errado”, pois considera que não são os gramáticos que fazem a língua, mas o povo. Os gramáticos recolhem e analisam o material produzido pelos falantes, já que a língua é viva e dinâmica. Ela não está sujeita a regras eternas e imutáveis. [...] De acordo com essa concepção de gramática, existe apenas a linguagem adequada ou inadequada ao contexto. [...]. (FARACO & MOURA, p.19. 2001). 5. A crise no ensino da Língua Portuguesa Segundo BECHARA (1989) a crise no ensino do idioma possui três vertentes independentes, mas que se relacionam, refletindo na ação escolar. A primeira crise é institucional, na própria sociedade, a qual, depois do período pós-guerra, privilegiou o uso coloquial, renovando consideravelmente a língua popular. Embora esse movimento seja considerado positivo, trouxe conseqüências ruins à língua na medida em que, ao dar preferência para a oralidade, desprivilegiou a tradição da escrita, considerada culta. A segunda crise é proveniente das universidades, de onde surgiram diversas vertentes teóricas no campo da lingüística, as quais não foram capazes de “consolidar um corpo de doutrina capaz de permitir uma descrição funcional-integral do saber elocucional, do saber idiomático e do saber expressivo”. (BECHARA, p.7. 2000). A terceira crise é proveniente da própria escola, uma vez que o professor, ao se deparar com três tipos de gramática (geral, descritiva e normativa), e muitas vezes não sabendo diferenciá-las, prefere aplicar as duas primeiras e desprezar a última; “em conseqüência, despreza uma série de atividades que permitiriam levar o educando à educação lingüística necessária ao uso efetivo do seu potencial idiomático”. (BECHARA, p.7. 2000). Atualmente, o mais comum é encontrarmos diagnósticos dando conta da falibilidade do paradigma gramatical prescritivo sem ainda haver soluções consensuais para que se alcance a desejada gramática contextualizada, ou seja, aquela que ajuda o aluno a descobrir como a língua funciona em situações reais de uso, aprimora a compreensão e circunstâncias de leitura e amplia as possibilidades de usar a língua em situações de escrita. 10 Segundo Neves (1990), o ensino de gramática tem sido primordialmente prescritivo, apegando-se a regras da gramática normativa. Nas aulas, há uma ausência quase total de atividades de produção e compreensão de textos. Observa-se também uma concentração muito grande no uso de metalinguagem no ensino de gramática teórica para a identificação e classificação de categorias. Muitas vezes a gramática é aplicada em sala de aula com o objetivo principal de cumprir um programa pré-estabelecido, ora pelo governo – quando se trata de escola pública ─ ora pelo sistema de ensino da instituição, quando esta é particular, não havendo uma intenção lógica no uso dos conhecimentos adquiridos, que contribui para uma insignificância prática no dia-a-dia dos alunos. Segundo Neder (p.103.1990) “os exercícios de reconhecimento e classificação de classes de palavras e de funções sintáticas chegam a mais de 70% das atividades, ortografia aparece com 0,8% do total, enquanto que texto e redação somados não chegam a 3% do total.” Tais dados revelam uma abordagem superficial da gramática, que muitas vezes não leva os alunos a uma consciência crítica sobre a língua, ao contrário, esses exercícios “mecânicos” servem apenas como treinos metalinguísticos. Como afirma NEVES (1990, apud Possenti e Ilari, 1987), o professor gasta cerca de 80% do tempo das aulas com o ensino de teoria gramatical e reconhece nisso um problema, mas não consegue mudar de atitude porque ao procurar legitimar o seu papel, ele tende a repetir um modelo recebido. Isso não significa que o ensino da gramática normativa deva ser excluído. Cremos que a abordagem metodológica é que precisa ser mudada. Muitas vezes, há insistência apenas no conhecimento da metalinguagem, havendo listas extensas de exercícios, nos quais são exigidas apenas classificações, análises sintáticas, conjugações de verbos, entre outros, o que não contribui verdadeiramente para uma tomada de consciência acerca da própria língua, ou seja, tais exercícios não permitem que o aluno perceba que a gramática tem um papel importante, pois ela representa a estrutura formal da língua, e conhecê-la torna-se útil em várias circunstâncias em que a leitura e a escrita estão presentes. 11 Sendo assim, a gramática não é uma lista de regras que o indivíduo deva seguir para ser compreendida, ela não se limita a estruturar uma frase, um período. A gramática explicita o funcionamento da linguagem. SILVA (2006) acredita que sua aplicação nas escolas pode ser útil ao desenvolvimento cognitivo dos alunos, pois contribui para formar o senso crítico destes, uma vez que eles têm que recorrer a critérios para fazerem julgamentos. A prática de tecer julgamentos mediante a utilização de critérios adequados é uma excelente maneira de exercitar o senso crítico. Daí a autora considerar que a gramática corrobora o desenvolvimento da capacidade crítica se as regras forem utilizadas como critérios que garantirão a adequação da linguagem, ou seja, as regras devem ser entendidas como “critérios que possibilitam julgamentos de adequação da linguagem à norma padrão. Utilizar as regras como critérios de análise é, a nosso ver, a grande finalidade do ensino da gramática. Isso implica levar o aluno a perceber as ocorrências de certas construções, as relações entre os termos, as diferenças entre uso e norma-padrão, a fim de poder “deliberar” sobre os aspectos formais a determinado momento.” (SILVA, 2006). Entretanto, como Neves (2003) afirma, a forma como a gramática é ensinada nas escolas não favorece a reflexão: “O primeiro ponto que se oferece a comentário, quando se examina a gramática trabalhada nas escolas, tem relação com o fato de que não corresponde, absolutamente, à verdade dizer que ela é normativa. Haveria pelo menos uma ação social a ser destacada, se assim fosse. Mas não há. Os esquemas oferecidos são moldes, sim, mas apenas no sentido de ‘esquemas’ que mapeiam as entidades abstraídas nas categorizações a que levaram as reflexões sobre a linguagem que um dia os gloriosos filósofos da Grécia antiga fizeram, preparando o edifício da ‘arte da gramática’ (téchne grammatiké) que aí está. Compreender que lá, naquele momento histórico e naquela situação, o que se preparou como disciplina gramatical era justo e oportuno é possível a poucos. À força de virmos repetindo lições de gramática em que apenas se busca que os alunos saibam os nomes das categorias e das funções, e a subclassificação delas, vamos tendo como certo que aprender tais noções é aprender gramática, o que leva à conclusão límpida e irrefutável, de toda a comunidade, de que estudar gramática é desnecessário, pois tal estudo não leva a nada, e, mais que isso, é prejudicial, já que cria falsas noções e falsos pressupostos.” (NEVES, p.81. 2003.). 12 6. Análise dos Livros Didáticos Para a análise quantitativa dos livros do Sistema de Ensino, foi feita a tabulação dos exercícios dos quatro livros do Ensino Médio. Os livros estão divididos em 1º e 2º anos, sendo nomeados como livros 1 e 3 para o 1º ano e 2 e 4 para o 2º ano. 6.1 Análise qualitativa Para fazermos a análise quantitativa, foram utilizadas cinco categorias próprias para nomear os tipos de exercícios contidos nos livros. Classificamos de Gramática Normativa (GN) os exercícios metalingüísticos, que exigem que o aluno saiba a nomenclatura desse tipo de gramática; de Gramática Contextualizada (GC), os exercícios que seguem uma tendência moderna, ou seja, têm em seu enunciado explicações ou “pistas” sobre o significado da nomenclatura da gramática normativa e não exigem domínio metalingüístico, de Interpretação + Gramática Contextualizada (INT+GC) os que usam algum texto, mesclando exercícios contextualizados de gramática, que têm no enunciado explicações sobre a nomenclatura da Gramática Normativa e outros que exigem o entendimento do aluno a respeito do excerto apresentado; de Interpretação (INT), os exercícios que exigem conhecimento da leitura do próprio texto em questão, podendo ser literário ou não, e de Interpretação e Gramática Normativa (INT+GN) os exercícios que misturam interpretação de texto e exigem conhecimentos metalingüísticos da gramática normativa. Abaixo, tem-se um exemplo de exercício retirado do livro 3, página 123, o qual classificamos como Interpretação + Gramática Contextualizada (INT+GC). 29 Leia o texto a seguir. No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tina uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho 13 tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. Carlos Drummond de Andrade. Reunião. Rio de janeiro: José Olympio, 1972. Na segunda estrofe de seu poema, Drummond empregou duas vezes o verbo “esquecer”. No verso 5, a preposição “de” está explícita; no verso 7, subentendida. Levando em conta o padrão culto de correção gramatical: Apresente um argumento sintático que justifique por que essas duas regências estão corretas; Reescreva os versos 5 e 7, conforme as seguintes determinações: - retire o advérbio de tempo; - substitua o verbo “esquecer” por seu antônimo, mantendo o pronome. Redija sua resposta numa única frase, com os termos da oração em ordem direta. Resposta: a) No verso 7, o complemento do verbo é uma oração (subordinada substantiva objetiva indireta), enquanto no verso 5 o complemento é um termo de oração (objeto indireto). Muitos gramáticos aceitam a omissão da preposição nos objetivos indiretos. Lembrar-me-ei (de) que havia uma pedra no meio do caminho. ou Lembrar-me-ei (de) que uma pedra existia no meio do caminho.” 6.2 Análise quantitativa A tabela a seguir apresenta o resultado final da análise quantitativa feita nos livros didáticos, na qual constam os números totais de exercícios, de acordo com as categorias escolhidas: 14 A partir do estudo dos dados coletados e da leitura comparada, pode-se concluir que, a despeito do rótulo de “conteudista” atribuído pelo senso comum, o material estudado em verdade tem uma abordagem moderna. Os livros trabalham, em sua maior parte, com exercícios de interpretação de texto (INT) (26,76%). Em segundo, vem a interpretação mais a gramática contextualizada (20,04%) e em terceiro a gramática contextualizada (GC) (19,60%). Particularmente, no livro 3, observa-se uma quantidade maior de exercícios com a gramática normativa (31,93%). No livro 1, a quantidade de exercícios interpretativos impera, 38,48%. No total geral, a gramática normativa ocupa 17,40%. Com esses dados, é possível observar que o autor procura seguir uma linha moderna de ensino da língua portuguesa, sem abrir mão do ensino da norma culta e seguindo, fielmente, as recomendações dos PCNEM. Podemos 15 notar também que o autor utilizou-se de uma tipologia diversa de exercícios, porém de uma forma bastante equilibrada. Com a análise quantitativa, foi possível, ainda, observar que os livros analisados não são para o professor apenas cumprir o planejamento de aulas da escola ou levar em conta a dificuldade ou não dos alunos. Os livros foram concebidos com o propósito de ensinar a norma culta da língua aos alunos e também ensinar a contextualização, a capacidade de o aluno trabalhar com as variantes lingüísticas, identificar o porquê da transgressão gramatical em determinado texto, levando-os a uma reflexão constante da língua materna. Ou seja, privilegia-se não só a gramática no dia-a-dia, mas também a gramática nos clássicos de nossa literatura. 7. Conclusão O ensino de gramática ainda é considerado por muitos como dispensável devido à forma como tem sido feito. Em geral, os professores insistem em exercícios metalingüísticos que não promovem em nada a reflexão do aluno acerca da própria língua e seu uso prático, mas somente objetivam a memorização da metalinguagem, que, posteriormente, será cobrada em provas. Porém, os livros de Português do sistema de ensino em questão empregam uma maneira moderna de ensinar a língua portuguesa, especialmente no que tange à gramática. Nossas análises evidenciaram que tais livros procuram oferecer um ensino híbrido, ou seja, mesclam a gramática normativa à gramática de uso, em consonância com o currículo do Ensino Médio. Os exercícios analisados possuem um caráter reflexivo sobre a estrutura da língua, Embora o autor se valha de textos modernos -- cujas fontes são as mídias, como rádio, televisão, jornais, revistas, propagandas, internet -- ele não deixa também de privilegiar alguns autores consagrados do nosso idioma, como Castro Alves, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, dentre outros, cujas obras merecem ser abordadas por suas excelentes qualidades textuais. Sendo assim, o autor dos livros analisados teve a preocupação de fazer os alunos aprenderem sobre as obras não somente para saberem classificá-las de acordo com escolas literárias, mas também para refletirem sobre alguns 16 recursos lingüísticos e gramaticais, que são importantes para compor, inclusive, alguns aspectos semânticos do texto, permitindo a compreensão e diálogo com estes. Sendo assim, concluímos que os livros analisados aprofundam os conhecimentos gramaticais de acordo com o sugerido nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), seguindo uma linha moderna, considerando o que já é fato, ou seja, que a língua é um fenômeno em constante mudança e, por isso, seu ensino precisa acompanhar esse ritmo. 8. Referências BARRO, João de. Gramática da Língua Portuguesa. In BUESCU, Maria Leonor Carvalhão. Gramática da Língua Portuguesa: Cartinha, Gramática, Diálogo em Louvor da Nossa Linguagem e Diálogo da Viciosa Vergonha. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1971. Edição digital do Projeto BIT-PROHPOR (Banco Informatizado de Textos do Programa para a História da Língua Portuguesa), coordenado pela Profa. Dra. Rosa Virgínia Mattos e Silva, Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia. BECHARA, Evanildo. Para o conhecimento da Língua Portuguesa no século XVIII: os comentários de Francisco Dias Gomes. Vários autores. Para Segismundo Spina: Língua, Filologia e Literatura. São Paulo: Edusp, Iluminuras, 1995. CORACINI, Maria José Rodrigues Faria (org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático: língua materna e língua estrangeira. 1ª. ed. Campinas, São Paulo: Pontes, 1999. CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneio. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. FARACO & MOURA. Gramática. 12 ed. São Paulo: Ática, 2001. INFANTE, Ulisses & DE NICOLA, José. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15 ed. São Paulo: Scipione, 1997. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf Acessado em 28-07-2008. MONTEIRO, José Lemos. As idéias gramaticais de João de Barros. In: <http://www.filologia.org.br/revista/artigo/5(14)37-48.html> Acessado em 10-12-2007. NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? São Paulo: Contexto, 2003. OLIVEIRA, Martha Kohl, História, consciência e educação. Viver mente & cérebro, Rio de Janeiro: Ediouro, 2005, p.6-13. ROJO, Roxane & BATISTA, Antônio Augusto Gomes (orgs.). Livro didático de língua portuguesa, letramento e cultura da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 2003. 17 SILVA, E.R. Reflexões sobre a utilidade do ensino da gramática para o domínio da norma-padrão. Revista Intercâmbio, volume XV. São Paulo: LAEL/PUC-SP, ISSN 1806-275X, 2006. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Como tem sido o ensino de gramática nas escolas de 1º e 2º graus no Brasil. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 10 ed. Cortez, 2005. __________________. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. __________________. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?. 4 ed. São Paulo: Ática, 1989. . __________________. Língua e Literatura. V. único. 3 ed. São Paulo: Ática, 1999. <http://www.estacaodaluz.org.br/wps/wcm/connect/resources/file/eb20ee0e5fb3c20/CI LP1PAGLPB%2020Gramtica%20Joo%20de%20Barros%20XVI.pdf?MOD=AJPERES> Acessado em 10-dez-2007. 9. 9.1 Anexos Entrevista com o autor Renato Gomes 1) O que é gramática para você? R: Sistema que pressupõe um conjunto de regras que norteiam a língua e um repertório (léxico). 2) Você é conteudista? R: Procuro fazer a ponte forma-conteúdo, um não tem razão sem o outro. 3) Segundo a sua visão, que tipo de abordagem os grandes vestibulares fazem da gramática? R: As estaduais e federais valorizam o texto e a abordagem lingüística da gramática (sua funcionalidade). 4) Que critérios você utiliza na escolha dos exercícios de seus livros? R: Aqueles que possuem uma abordagem moderna. 18 9.2 Análise das apostilas de Português Tabela 1: Dados da análise das apostilas de Português Livro Livro 1 Capítulo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 INT + GN 4 5 0 0 5 1 3 2 2 2 2 0 2 0 0 0 2 0 30 INT + GC 4 2 1 1 11 2 3 3 2 0 11 0 7 2 0 3 6 0 58 INT 11 3 16 4 1 16 7 0 11 2 2 20 5 1 18 1 0 19 137 GC 1 2 2 6 3 1 4 6 3 7 1 0 5 14 0 11 6 1 73 GN 2 8 0 9 0 0 2 9 1 9 4 0 1 2 0 5 6 0 58 Total Capítulo 22 20 19 20 20 20 19 20 19 20 20 20 20 19 18 20 20 20 356 %INT + GN 18.18% 25.00% 0.00% 0.00% 25.00% 5.00% 15.79% 10.00% 10.53% 10.00% 10.00% 0.00% 10.00% 0.00% 0.00% 0.00% 10.00% 0.00% 8.43% %INT + GC 18.18% 10.00% 5.26% 5.00% 55.00% 10.00% 15.79% 15.00% 10.53% 0.00% 55.00% 0.00% 35.00% 10.53% 0.00% 15.00% 30.00% 0.00% 16.29% % INT 50.00% 15.00% 84.21% 20.00% 5.00% 80.00% 36.84% 0.00% 57.89% 10.00% 10.00% 100.00% 25.00% 5.26% 100.00% 5.00% 0.00% 95.00% 38.48% % GN 4.55% 10.00% 10.53% 30.00% 15.00% 5.00% 21.05% 30.00% 15.79% 35.00% 5.00% 0.00% 25.00% 73.68% 0.00% 55.00% 30.00% 5.00% 20.51% %GC 9.09% 40.00% 0.00% 45.00% 0.00% 0.00% 10.53% 45.00% 5.26% 45.00% 20.00% 0.00% 5.00% 10.53% 0.00% 25.00% 30.00% 0.00% 16.29% 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 3 3 13 6 14 4 10 1 12 4 0 7 77 2 10 0 6 12 4 9 0 4 4 1 2 54 2 2 5 0 4 0 6 16 2 2 18 0 57 5 5 1 5 2 3 5 0 1 2 0 1 30 7 1 0 3 8 7 9 0 1 8 0 9 53 19 21 19 20 40 18 39 17 20 20 19 19 271 15.79% 14.29% 68.42% 30.00% 35.00% 22.22% 25.64% 5.88% 60.00% 20.00% 0.00% 36.84% 28.41% 10.53% 47.62% 0.00% 30.00% 30.00% 22.22% 23.08% 0.00% 20.00% 20.00% 5.26% 10.53% 19.93% 10.53% 9.52% 26.32% 0.00% 10.00% 0.00% 15.38% 94.12% 10.00% 10.00% 94.74% 0.00% 21.03% 26.32% 23.81% 5.26% 25.00% 5.00% 16.67% 12.82% 0.00% 5.00% 10.00% 0.00% 5.26% 11.07% 36.84% 4.76% 0.00% 15.00% 20.00% 38.89% 23.08% 0.00% 5.00% 40.00% 0.00% 47.37% 19.56% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 3 2 0 0 3 1 0 0 5 2 2 1 6 0 25 5 0 1 0 2 0 0 6 0 5 2 3 8 5 37 9 0 11 19 0 0 18 2 0 13 0 14 6 12 104 1 18 3 1 12 13 1 9 12 0 23 2 16 3 114 0 0 5 0 2 6 0 3 3 0 34 0 24 0 77 16.67% 10.00% 0.00% 0.00% 15.79% 5.00% 0.00% 0.00% 25.00% 10.00% 3.28% 5.00% 10.00% 0.00% 7.00% 27.78% 0.00% 5.00% 0.00% 10.53% 0.00% 0.00% 30.00% 0.00% 25.00% 3.28% 15.00% 13.33% 25.00% 10.36% 50.00% 0.00% 55.00% 95.00% 0.00% 0.00% 94.74% 10.00% 0.00% 65.00% 0.00% 70.00% 10.00% 60.00% 29.13% 5.56% 90.00% 15.00% 5.00% 63.16% 65.00% 5.26% 45.00% 60.00% 0.00% 37.70% 10.00% 26.67% 15.00% 31.93% 0.00% 0.00% 25.00% 0.00% 10.53% 30.00% 0.00% 15.00% 15.00% 0.00% 55.74% 0.00% 40.00% 0.00% 21.57% 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Total Livro 4 0 6 5 12 3 5 1 0 1 1 6 40 16 27 1 2 7 1 1 0 6 1 8 70 3 1 14 4 4 5 0 9 6 2 1 49 1 2 0 6 4 4 23 2 5 6 2 55 0 4 0 17 2 5 15 9 2 10 3 67 18 20 20 20 19 20 19 20 20 20 61 20 60 20 357 0 20 40 20 41 20 20 40 20 20 20 20 281 0.00% 15.00% 25.00% 29.27% 15.00% 25.00% 2.50% 0.00% 5.00% 5.00% 30.00% 14.23% 80.00% 67.50% 5.00% 4.88% 35.00% 5.00% 2.50% 0.00% 30.00% 5.00% 40.00% 24.91% 15.00% 2.50% 70.00% 9.76% 20.00% 25.00% 0.00% 45.00% 30.00% 10.00% 5.00% 17.44% 5.00% 5.00% 0.00% 14.63% 20.00% 20.00% 57.50% 10.00% 25.00% 30.00% 10.00% 19.57% 0.00% 10.00% 0.00% 41.46% 10.00% 25.00% 37.50% 45.00% 10.00% 50.00% 15.00% 23.84% Total Geral 147 182 243 158 178 908 16.19% 20.04% 26.76% 17.40% 19.60% Total Livro 1 Livro 2 Total Livro 2 Livro 3 Total Livro 3 Livro 4 19