Fotos: Divulgação EMBALAGEM Adaptar e evoluir Com o objetivo de aumentar o tempo que suas embalagens conseguem manter a temperatura de seus produtos refrigerados, a Pierre Fabre concebeu, juntamente com a Exeltainer e com a Andreani, um novo invólucro para a movimentação de medicamentos, conseguindo, assim, alcançar pontos de entrega antes não atendidos, além de diminuir o impacto ambiental O Brasil, com sua extensão territorial excepcional de 8,51 milhões de km² e com seis tipos de clima, do tropical ao semiárido, representa um verdadeiro desafio para a logística de produtos com temperatura controlada. Ao sair de um centro de distribuição na Região Sudeste, uma carga pode enfrentar variações de até 15 ºC se for para o Nordeste, por exemplo, dependendo da época do ano. Principalmente no caso de carregamentos que precisam utilizar mais de um modal para chegar ao seu destino, a exposição 56 - Revista Tecnologística - Julho/2015 a essas variações aumenta as chances de degradação do produto, o que limita os pontos que podem ser atendidos e o tempo de entrega. Portanto, o uso da tecnologia e o gerenciamento da dinâmica entre os parceiros de transporte são fundamentais para manter a qualidade da carga. A unidade brasileira da Pierre Fabre, empresa de origem francesa e terceiro maior grupo farmacêutico do mundo, conhece esse dilema profundamente. No Brasil, ela tanto fabrica quanto importa da Europa medicamentos e cosméticos, conhecidos por aqui pela marca Avène. No caso dos medicamentos, muitos devem ser mantidos em temperaturas específicas para que sua eficácia e a saúde dos pacientes não sejam colocadas em risco. Deste modo, as condições do transporte devem receber atenção total. Em um projeto que envolveu, além da Pierre Fabre, a Exeltainer, empresa de soluções em embalagens, Devido às proporções continentais do Brasil, as cargas podem enfrentar elevadas variações de temperatura, dependendo das regiões envolvidas e a Andreani, operasolução proposta apredor logístico originásentasse um tamanho rio da Argentina, um reduzido, mas mantivesse o volume útil conceito inovador de de que a Pierre Fabre embalagens para produtos de temperatura precisava, para gerar controlada passou a uma redução imediata ser utilizado, dispennos custos logísticos”, sando o uso de camiexplica Augusto Vainhões refrigerados, me, gerente de Vendas da Exeltainer. aumentando o tempo “A primeira parde permanência da te do projeto é o DQ temperatura necesSilva: caixas de isopor foram sária e diminuindo (sigla para Design Quasubstituídas por um novo lification). Nela, recoconsideravelmente o conceito de embalagem lhemos os dados neimpacto ambiental cessários para o desenho das caixas, gerado por suas operações. como as dimensões dos produtos do Criação e testes cliente e as quantidades transportadas. Nesta etapa, o objetivo é conseA Pierre Fabre do Brasil tem a ta- guir uma caixa desenhada de acorrefa de entregar medicamentos on- do com as necessidades do cliente e cológicos em várias partes do país, que tenha uma melhor relação entre o que nunca foi uma empreitada volume útil e volume exterior”, exfácil. “Observei, no passado, que tínhamos um índice considerável de reclamações de clientes por desvio da temperatura, que deve sempre estar entre 2 ºC e 8 ºC”, conta Tiago Germann da Silva, gerente de Logística da empresa. Mesmo com a maior parte das operações apresentando resultados satisfatórios, o executivo enxergou que havia espaço para melhorias nos procedimentos realizados. À época, as cargas eram transportadas em caixas de isopor com bolsas de gelo e em caminhões refrigerados. “A coleta refrigerada não atendia à expectativa e não se tentava reduzir o tempo de degradação do gelo. Buscamos, então, uma solução junto à Exeltainer”, explica. Responsável pelo conceito e pela criação das novas embalagens, a Exeltainer trabalha com a Pierre Fabre há mais de sete anos na Europa. “O cliente precisava de uma caixa reutilizável para manter a temperatura. Além disso, era necessário que a plica Vaime. “Usualmente conseguimos atingir esses objetivos por duas razões: não precisamos de moldes e não trabalhamos com EPS (poliestireno expansível, o isopor). Ele é o material com menor condutividade térmica do mercado, e a Exeltainer só trabalha com poliuretano (PU), o PU-XPS, completa. O executivo explica, ainda, que o novo produto desenvolvido passa por testes próprios antes da aprovação final. “A segunda etapa é a OQ (Operational Qualification): uma vez selecionado o desenho, produzimos a caixa e começamos o processo de qualificação”, diz. Terminados os testes, um relatório é fornecido ao cliente. O último passo é a PQ (Performance Qualification), ou seja, realizar envios reais em conjunto com o cliente para conhecer a performance da caixa durante uma operação de transporte de fato. A solução, Julho/2015 - Revista Tecnologística - 57 EMBALAGEM além de fornecer um maior aproveitamento de espaço, incrementa a autonomia das caixas utilizadas até então de 44 horas para algo em torno de 60 horas. Elas são robustas e apresentam maior vedação. Internamente, a caixa possui separadores e elementos de frio, recipientes retangulares que podem chegar até a -25 ºC, que garantem maior durabilidade que bolsas de gelo. A Pierre Fabre entendeu, porém, que, além das embalagens, o novo projeto iria afetar toda a logística de distribuição. “Quando passei a atuar na empresa, comecei a mapear os processos e receber as faturas de trans- Responsável pela criação da nova embalagem retornável, a Exeltainer trabalha com a Pierre Fabre há mais de sete anos na Europa 58 - Revista Tecnologística - Julho/2015 porte. E vi que essa conta era muito xa chegou ao destino, os farmacêutialta. Comecei a entender os motivos e cos responsáveis abriram, conferiram percebi que isso era devido ao relacio- a temperatura, preencheram um fornamento com muitos fornecedores – mulário e nos devolveram para contaoito, na época –, além de serviços que bilizarmos no teste. Isso foi feito três não apresentavam contratos”, lembra vezes, e os testes foram muito positiSilva. Antes, um fornecedor era res- vos”, destaca. Os testes aconteceram ponsável pelas caixas de isopor, outro no primeiro semestre de 2013. pelas bolsas de gelo, etc. A diminuiO papel do operador logístico, a ção dos fornecedores também se deu Andreani, foi muito importante para o na parte de transporte. Simultanea- sucesso tanto dos testes quanto da immente ao projeto de embalagens foi plantação. “Nós somos uma empresa aberto um BID que resultou na con- muito flexível, ouvimos a necessidade tratação de três empresas de logística do cliente. E quando a Pierre Fabre nos e, para esse projeto em específico, foi apresentou o projeto, ele foi totalmente abraçado pela Andreani. Durante escolhida a Andreani. Ainda na primeira parte do pro- todo o processo o acompanhamento jeto, foi preciso realizar testes para foi bem próximo e o setor de Qualidachecar, finalmente, se a embalagem de ficou envolvido desde o início até a iria suportar as variações de tempe- finalização”, diz Marilene Guimarães, ratura do trajeto. “Temos que seguir executiva de Contas da Andreani. uma metodologia de qualidade, pois Logística reversa somos uma empresa regulamentada e transporte pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Então, antes de introduzir o novo modelo precisávamos O gerente de Logística da Pierre realizar diversos testes. Fabre destaca que, antes mesmo dos testes Para ter uma validação serem realizados, ele de transporte, eu preciso fazer até três envios, havia notado que as com carga máxima e caixas recentemente mínima, e em condielaboradas possuíam ção de temperatura exum nível de qualidatrema”, explica Silva. de muito elevado, o “Escolhemos como que poderia permitir destinos o Paraná e seu reúso. “Desde o Goiás para submetermomento em que vi a mos as caixas aos excaixa pela primeira vez tremos de temperatura pensei que, já que reaVaime: a caixa precisava lizamos muitas entreexterna de frio e calor. apresentar um tamanho gas em determinadas São regiões de clientes reduzido, mas manter o regiões, e como ela é antigos com distâncias volume útil bastante robusta, poe prazos de entrega consideráveis. Nossa equipe de Ga- deríamos utilizá-la mais de uma vez”. rantia de Qualidade entrou em con- Assim, houve uma evolução no protato com o cliente, separamos uma jeto, e as empresas começaram a essolução placebo, então preparei três tudar a possibilidade de transformar caixas com a carga mínima e três com a embalagem em um item retornável. O modelo inicialmente desenvola carga máxima. Alinhamos esse teste com a transportadora e, quando a cai- vido era one way: foi concebido para apenas um ciclo de tornável, com um revestimento plástico. transporte e ficava com Foi simples, pois na o cliente em seu destino. Detectada a posEuropa já existe isso”, sibilidade de utilizar diz. “E com a transportadora realizamos as caixas novamente, uma análise de todos foi então desenvolvida a versão retornável os embarques que fizemos em 12 meses e da mesma. “Percebi uma projeção de cresque fazíamos entregas cimento, para então em 24 horas em uma implantar o PPU (pay caixa que suporta até per use), em que nós três dias, ou seja, uma Marilene: a Andreani é uma iríamos pagar a caixa caixa resistente. Além empresa que ouve a necessidade para cada ciclo que disso, era um recipiendo cliente, por isso abraçou te que, ao chegar ao a usasse. Esse gerentotalmente o projeto ciamento ficaria com cliente, virava resíduo. A caixa antiga, de isopor, gerava um a transportadora, pois controlamos trabalho de incineração para o clien- quando ela sai daqui e quando rete, e a intenção era eliminar esse tipo torna, mas remuneramos a transportadora por cada ciclo”, explica. “Eu de necessidade”, conta Silva. Esse foi o início da segunda par- tenho uma tabela de prazos de retorte do projeto, que envolve a logísti- no e preço, então hoje sei que um ca reversa da embalagem. “Chamei retorno custa de 25 a 30% do valor a Exeltainer para desenharmos a de uma caixa nova. Há caixas senmesma caixa em configuração re- do utilizadas pela décima vez, e no Empresas envolvidas O s Laboratórios Pierre Fabre nasceram em 1961 e tiveram a sua origem na farmácia Pierre Fabre, em Castres, uma cidade do sudoeste da França. Durante cerca de 20 anos, toda a estratégia do grupo foi focada no desenvolvimento dentro do mercado francês, criando apenas uma filial na Espanha, em 1971. A partir da década de 1980, porém, a companhia intensificou seu desenvolvimento internacional. No Brasil, atua nos segmentos de medicamentos e cosméticos, sendo conhecido no país pela marca Avène. Já a Andreani Logística surgiu em 1945, como transportadora de carga na província de Santa Fé, na Ar- gentina. Em 2002 deu início às suas operações no Brasil, sediada em São Paulo. A empresa oferece os serviços de distribuição, gestão de armazéns, digitalização e arquivo físico e gestão de risco. Atua nas áreas de saúde, cosméticos, máquinas e ferramentas, e-commerce e vendas diretas. A Exeltainer atua na indústria de embalagens há mais de 15 anos, oferecendo soluções técnicas e customizadas para o transporte de cargas que necessitam de temperatura controlada ou de produtos considerados perigosos. A empresa projeta, fabrica e valida sistemas para manter a cadeia de frio em todo o processo de transporte e distribuição. = EMBALAGEM quarto ciclo ela já está logística, sua farmacêutica responsável, sua paga”, ressalta. área Comercial, entre A logística reversa das caixas precisou outros. E a nossa área ser orquestrada princiComercial envolveu palmente com o opetambém os clientes. A rador logístico. “Em cada nota fiscal que é setembro de 2014 efeemitida pela Pierre Fativamente começou bre é anexado um folder com uma explicao projeto de logística ção do projeto”, diz. reversa. De início, foi “Quando começaapenas no Rio de Janeiro, e depois incluímos ram os testes, houve Renata: foi necessário treinar São Paulo”, diz Marium acompanhamento todos os envolvidos nas lene. Hoje, todo o Sul direto e um treinamenoperações de entrega to dos motoristas. Era e o Sudeste são atendidos pela operação. Na maioria das preciso que eles aguardassem que o cidades a ida ocorre por modal aéreo cliente conferisse a temperatura do e rodoviário e a volta apenas pelo ro- produto no momento da entrega e doviário. “Nas cidades onde não há retornasse com a caixa utilizada”, unidade da Andreani contamos com explica Renata Celestino dos Santos parceiros para esse trabalho”, expli- Mauro, farmacêutica responsável da ca a executiva. O serviço do operador abrange atividades de coleta, A Andreani realiza transferência por cross-docking no Rio de Janeiro e entrega, não sendo também a logística necessário realizar a armazenagem reversa das caixas, dos produtos. “A transferência para o modal aéreo ou rodoviário acontece que são reutilizáveis e no mesmo dia da coleta”, esclarece. Com essa nova característica do recicláveis, o que resulta serviço, que começou efetivamente em ganhos ambientais em abril de 2014, ao receber a caixa o cliente final confere a temperatura e redução de custos do produto, retira o mesmo da embalagem em que ele foi transportado e então devolve a caixa para o funcionário da Andreani ou parceiro que es- Andreani. “Temos uma célula aqui tiver realizando a entrega. Essa caixa, na empresa chamada Setor Aéreo que então, retorna pelo modal rodoviário faz o rastreamento dessa caixa. Assim, para a Andreani, onde será utilizada além da confiança no nosso colaboranovamente em outra entrega. Para dor, acompanhamos o local em que a isso, foi necessário desenvolver uma carga está full time”, conclui. iniciativa de treinamento para todos Ganhos e sustentabilidade os envolvidos, por se tratar de um tipo de serviço bastante específico. Afora a economia financeira, o Silva destaca que a adaptação do novo conceito demandou o envolvi- projeto representou menor impacmento de todas as empresas e cola- to ambiental. “A primeira redução é boradores. “Treinamos a empresa de consequência imediata do número to60 - Revista Tecnologística - Julho/2015 tal de embalagens necessárias para realizar o envio dos produtos”, explica Vaime, da Exeltainer. “Se você faz em um ano 10 mil envios, usando uma embalagem não reutilizável, você precisa de 10 mil caixas. Agora, se você controla a logística reversa e pode contar com um retorno das embalagens de 90%, você precisaria de 234 caixas reutilizáveis para conseguir o mesmo resultado. Isso significa fabricar 9.767 caixas a menos, com a consequente redução na necessidade de energia e água no processo de fabricação. Além disso, no primeiro caso, você precisa descartar 10 mil embalagens no meio ambiente, enquanto no segundo caso você não tem nenhum descarte no primeiro ano”. “A política da Pierre Fabre é pautada em sustentabilidade. Todo o material de merchandising, por exemplo, é reciclado, então esse projeto é muito alinhado à visão do grupo”, explica Silva. “Nenhuma das caixas chegou ao fim do seu ciclo ainda. Mas, quando isso acontecer, elas serão encaminhadas para a reciclagem, sem sombra de dúvidas”, destaca. O balanço do projeto aponta para economia e mais responsabilidade ambiental. “Houve muito envolvimento, comprometimento e conversa. Foi um projeto idealizado pela Pierre Fabre, mas produzido tanto pela Exeltainer quanto pela Andreani. Se não houvesse uma empresa que acreditasse no projeto, que quisesse produzir a embalagem, ou um transportador que fosse flexível para atender nossas necessidades, o sucesso teria sido impossí= vel”, finaliza Silva. Cristiani Dias Andreani: (11) 3515-8200 Exeltainer: (11) 4476-1328 Pierre Fabre do Brasil: (21) 2543-3956