Batismo: A Circuncisão Cristã
(Gn 17:1-14; Cl 2:8-15; Mt 28:-18-20; Tt 3:5)
por
Rev. Paulo R. B. Anglada
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I. INTRODUÇÃO
O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordenados por Jesus para serem
observados na dispensação da graça. A ceia foi instituída quando da última participação de
Cristo na páscoa (Mt 26:26-30) [1]. O batismo está incluído na grande comissão,
mencionada em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16). Na concepção reformada, "os
sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus
para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como
para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e
solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra. [2]
1. Importância do Assunto
Há algumas questões controvertidas relacionadas ao batismo, especialmente no que diz
respeito ao batismo de crianças e ao modo do batismo. Nossos irmãos batistas e
pentecostais (a maioria em nosso contexto) não batizam crianças e só reconhecem o
batismo por imersão. As outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada,
anglicana, presbiteriana, metodista, etc.), diferentemente, batizam crianças e reconhecem a
legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão), preferindo o segundo.
Isto, além da prática católica de batizar, indiscriminadamente, qualquer criança, torna
necessário que forneçamos as razões das nossas práticas concernentes ao assunto. Este
artigo tem como propósito apresentar um resumo da teologia reformada concernente ao
batismo, especialmente no que concerne a estas questões controvertidas.
2. O Problema Básico
Do ponto de vista reformado, o erro básico daqueles que não batizam crianças e exigem a
imersão consiste em perderem de vista a continuidade da revelação da obra da redenção. A
progressividade da revelação da obra da redenção, planejada por Deus na eternidade, não
deve eclipsar a sua continuidade.
Antes de mais nada, é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamento não
ensinam duas religiões diferentes. A Igreja Cristã não é uma outra igreja. O Apóstolo Paulo
revela claramente que a Igreja Cristã não é uma nova árvore, mas apenas um galho
enxertado na mesma árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o ''pai de todos os crentes''
(Rm 4:11). Abraão é o pai tanto de incircuncisos como de circuncisos, ''que andam nas
pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado'' (Rm 4:11-12).
II. O SIGNIFICADO DO BATISMO
1. Não É um Atestado de Salvação
Não é necessariamente o sinal visível de que a pessoa está salva. Não se trata de um rito de
admissão pública na igreja invisível, mas na igreja visível — e esta inclui salvos e não
salvos:
Nem todos os de Israel são de fato israelitas; nem por serem descendência de Abraão são
todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de
Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os
filhos da promessa (Rm 9:6-8)
Há diversos exemplos de membros professos da igreja tanto no AT como no NT, os quais
foram circuncidados/batizados, mas que nunca experimentaram o lavar regenerador do
Espírito Santo. Auxiliares diretos do Apóstolo Paulo, como Demas, abandonaram a fé cristã
por amarem o presente século (2 Tm 4:10). Referindo-se a essa classe de pessoas, o
Apóstolo João explica que ''Eles saíram do nosso meio (da igreja visível), porque não eram
dos nossos (membros da igreja invisível); porque se tivessem sido dos nossos (da igreja
invisível), teriam permanecido conosco (na igreja visível); todavia, eles se foram para que
ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos (da igreja invisível)'' (1 Jo 2:19).
Parece desnecessário provar o que a História da Igreja e a experiência tornam mais do que
evidente.
2. Não é Meio de Salvação
O batismo não tem poder divino inerente. Em si mesmo ele não pode regenerar ninguém.
Esta doutrina (da regeneração batismal) é ensinada pela Igreja Católica. Para eles, o
batismo confere os mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo, purificando da corrupção
interna, garantido remissão da culpa do pecado e infusão da graça santificadora, unindo o
batizado com Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus. Na teologia Católico-romana, a
eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante nem dos méritos do
batizado, mas da própria ação sacramental.
Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si mesmo; ele não opera uma
nova vida; ele a pressupõe e a fortalece, mas não a opera nem garante. Eis o que diz a
Confissão de Fé de Westminster:
Posto (ainda) que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo a
graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, que sem ela
ninguém possa ser regenerado e salvo ou que sejam indubitavelmente regenerados todos os
que são batizados.
3. Não é Essencial à Salvação
A Igreja Católica pensa assim, mas nós, protestantes, não. O batismo é obrigatório, por
obediência aos preceitos de Deus. E a nossa desobediência a este preceito, naturalmente
resultará em empobrecimento espiritual, como acontece com a desobediência a qualquer
outro preceito do Senhor.
Entretanto esta concepção do batismo como essencial à salvação é contrária ao caráter
espiritual do Evangelho, que não condiciona a salvação à formas externas (Jo 4:21-24). O
ladrão arrependido na cruz é evidência incontestável disso. Jesus afirmou que naquele
mesmo dia ele estaria consigo no paraíso, sem batismo algum.
4. É a Continuação da Circuncisão
Os dois sacramentos do Antigo Testamento não foram abolidos, mas substituídos.
A páscoa (o sacramento comemorativo da igreja visível) transformou-se na santa ceia,
quando Jesus dela participou pela última vez (Mt 26:26-30).
A circuncisão (sacramento de admissão na igreja visível) transformou-se no batismo
cristão, visto que não mais havia necessidade de derramamento de sangue, pois o Cordeiro
Pascal estava preste a ser imolado. Em Colossenses 2:11-12, o batismo cristão é chamado
explicitamente de ''circuncisão de Cristo'' (o mesmo que circuncisão cristã) :
Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do
corpo da carne que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no
batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o
ressuscitou dentre os mortos.
O argumento do Apóstolo Paulo é evidente: nós cristãos também fomos circuncidados, não
com o corte do prepúcio, mas com o batismo cristão que tem a mesma função da
circuncisão judaica, podendo portanto até mesmo ser chamado de circuncisão cristã.
5. É o Selo do Pacto da Graça
Já que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica, o batismo é, para a Igreja
visível no Novo Testamento, o que foi para a Igreja visível no Antigo Testamento: a
confirmação (o sinal visível) da aliança que Deus fez com Abraão, o "pai de todos os
crentes." É exatamente este o papel da circuncisão, conforme as palavras do próprio Senhor
a Abraão, quando da instituição desta ordenança em Gênesis 17:1-13:
Quando atingiu Abraão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe:
Eu sou o Deus todo-poderoso: anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança (um
pacto) entre mim e ti, e te multiplicarei extraordinariamente... será contigo a minha aliança;
serás pai de numerosas nações... estabelecerei a minha aliança (pacto) entre mim e ti e a tua
descendência no curso das gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus, e da tua
descendência. Disse mais Deus a Abraão: Guardareis a minha aliança, tu e a tua
descendência no decurso das suas gerações... Circundareis a carne do vosso prepúcio; será
isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós,
todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa, como o comprado a
qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido
em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será
aliança perpétua.
A circuncisão dos Israelitas e dos prosélitos do judaísmo era, portanto, um sinal externo da
aliança de Deus com Abraão, segundo a qual ele (Abraão) e seus descendentes
constituiriam a igreja visível de Deus na terra. O batismo cristão, assim como a circuncisão
judaica, é, portanto, o sinal externo solene de admissão na igreja visível.
Isto não implica necessariamente em que todos os de Israel (da igreja visível no AT)
fossem ou seriam verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível), ou seja: que
necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salvadora. Nem implicava em que
aqueles que não fossem de Israel (judeus), não pudessem vir a ser verdadeiros israelitas
(membros da igreja invisível).
A circuncisão implicava, sim, em que seriam considerados povo de Deus, e seriam objeto
do seu especial cuidado, da sua bênção e da sua revelação. De fato, os compatriotas de
Paulo segundo a carne desfrutaram de privilégios especiais, tais como ''a adoção, e também
a glória, as alianças (os pactos da graça e da lei), a legislação, o culto e as promessas; deles
são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne...'' (Rm 9:3-4). Depois
de demonstrar a culpabilidade universal (de gentios e judeus), o Apóstolo Paulo pergunta:
''Qual pois a vantagem do judeus? ou qual a vantagem da circuncisão?'' Ele mesmo
responde: ''Muitas, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram
confiados os oráculos de Deus.'' (Rm 3:1-2).
Conclusão: O batismo, assim como a circuncisão, é o rito ou forma externa determinada
por Deus para simbolizar e selar a admissão de pessoas na igreja visível, como
beneficiários do pacto da graça e objeto do seu cuidado especial. É verdade que o símbolo
pressupõe, em geral, o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo pela Palavra (Tt 3:5),
por meio do arrependimento e da fé; mas não o opera nem garante.
III. AS CRIANÇAS NO PACTO DA GRAÇA NO ANTIGO
TESTAMENTO
A questão realmente importante com relação ao batismo infantil como "a circuncisão
cristã" é a seguinte: as crianças foram incluídas como beneficiárias do pacto da graça que
Deus fez com Abraão? E a resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão
as crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias do pacto da graça, como
membros da igreja visível no AT. Por isso deveriam ser circuncidadas: ''O que tem oito dias
será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações.'' (Gn 17:9-12). Não haveria
nenhum impedimento em instituir a circuncisão apenas para os adultos! Mas isso não
ocorreu. As crianças também foram incluídas, porque era o propósito do Senhor que sua
aliança fosse com Abraão e com a sua descendência.
O que precisa ser entendido é que esta aliança que Deus fez com Abraão, chamada pelos
reformados de pacto da graça, é a implementação histórica de uma aliança eterna, e nunca
foi ab-rogada (anulada). Esta aliança, cujo selo era a circuncisão e agora é o batismo (a
circuncisão de Cristo) é anterior à lei de Moisés e portanto continua vigorando. O pacto da
lei passou (um adendo), é verdade, bem como suas leis cerimoniais. Mas não a aliança da
graça com Abraão, a qual foi instituída cerca de quatrocentos anos antes da lei de Moisés.
A aliança com Abraão não passou, é ''aliança eterna''. As ordenanças, os símbolos dessa
aliança, mudaram: primeiro só a circuncisão; depois foi acrescentado a páscoa, e depois
ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. Mas a aliança é a mesma.
É isto o que o Apóstolo Paulo afirma em Gálatas 3:17. Demonstrando que a lei de Moisés
não pode invalidar a aliança com Abraão, ele diz: ''Uma aliança já anteriormente
confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar,
de forma que venha a desfazer a promessa.''
Logo, a aliança mencionada no Novo Testamento não é uma outra aliança, uma aliança
recentemente estabelecida, que ab-rogou a aliança feita com Abraão; mas a mesma aliança
renovada, por Aquele que é o Mediador da aliança: Jesus (cf. Gl 3:27,29). A palavra usada
não é " nevo", mas "kainov" como em novos céus e nova terra (não outros céus e outra
terra, mas estes céus e esta terra renovados).
O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Somos a
''comunidade de pacto''. Somos os verdadeiros descendentes de Abraão. ''Os da fé é que são
filhos de Abraão''(Gl 3:7). Somos (a igreja cristã) os ramos que foram enxertados; nos
tornamos participantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira (Rm 11:17). O meio de
salvação também não mudou. Somos salvos hoje do mesmo modo como foram os crentes
na época do Antigo Testamento; isto é, pela graça soberana de Deus mediante o
arrependimento e a fé nas Suas promessas, entre as quais a principal era a vinda do
Messias, o Redentor de Israel (Rm 4:1-17). Logo, por que razão os filhos dos membros da
nova aliança deveriam ser excluídos da comunidade do pacto, da igreja visível? Por que
negar-lhes o selo da pacto: o batismo?
IV. AS CRIANÇAS E O PACTO DA GRAÇA NO NOVO
TESTAMENTO
O Novo Testamento exclui as crianças da condição de beneficiárias do pacto da graça?
Não, em nenhum lugar do Novo Testamento os filhos dos que pertenciam a aliança — os
quais tão enfática e explicitamente nela foram incluídos em Gênesis 17 — foram excluídos.
Pelo contrário, há afirmações também explícitas de que continuam incluídos.
1. O próprio Senhor Jesus afirmou que eles pertencem ao seu reino: ''Deixai vir a mim os
pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus'' (Lc 18:16).
2. Pedro confirma que a promessa os inclui: ''Pois para vós outros é a promessa, para vossos
filhos, e para todos os que ainda estão longe'' (At 2:39)
3. O Apóstolo Paulo reconhece a posição dos filhos como ''santos'', quando pelo menos um
dos pais é crente. Escrevendo aos Coríntios, Paulo orienta os cônjuges que haviam se
convertido a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente dizendo: ''o
marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no
convívio do marido crente. Doutra sorte, vossos filhos seriam impuros; porém, agora são
santos'' (I Co 7:14)
4. Há ainda exemplos implícitos de sua prática nas páginas do Novo Testamento:
Lídia: o Senhor abriu o seu coração para crer, e logo foi batizada, ela e toda a sua casa (At
16:14,15).
O carcereiro de Filipos: Tendo perguntado a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser
salvo, eles responderam-lhe: ''Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe
pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os
seus'' (At 16:30-33)
Estéfanas: Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo havia batizado estava a ''casa de
Estéfanas'' (I Co 1:16)
5. Os Pais da Igreja, de um modo geral, reconhecem e mencionam a prática do batismo
infantil. Nove, dentre doze Pais que viveram nos dois primeiros séculos, referem-se à
prática do batismo infantil; ex: Justino Mártir (130), Irineu (180), Orígenes (230).
Posteriormente, Agostinho afirmou que ''nenhum concílio jamais ordenara o batismo
infantil por ser este uma prática que vinha desde os tempos apostólicos; e que nunca ouvira
ou lera de alguém na igreja que sustentasse o contrário''. O Concílio de Cartago recebeu
consulta se era lícito batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do
batismo infantil após o oitavo dia de vida era comum.
6. Deve-se se observar que, se não há exemplo explícito de batismo infantil no Novo
Testamento, também não há a menor referência a batismos de adultos nascidos e criados
em lares cristãos!
V. OBJEÇÕES
1. Não existe mandamento para batizar crianças
E nem era necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre foram reconhecidas como
membros da igreja visível do Antigo Testamento. Seria de se esperar o contrário: um
mandamento para não mais incluí-las na igreja do Novo Testamento. Também não existe
mandamento explícito instituindo o domingo como o dia do descanso cristão, nem
mandamento explícito incluindo as mulheres na Ceia do Senhor!
2. As crianças não preenchem as condições necessárias: arrependimento e fé
O mesmo argumento as excluiria do céu! "Se não vos arrependerdes, todos igualmente
perecereis" (Lc 13:3). "Quem nele crê não é condenado; o que não crê já está condenado"
(Jo 3:18). Mas Jesus não as excluiu, e mesmo os que fazem essa objeção não as excluem.
O argumento é válido apenas para os adultos que podem exercer a fé, mas não para as
crianças. A Bíblia também diz: ''Quem não trabalha não coma''. E as crianças! Devemos
deixá-las com fome, porque não podem trabalhar?!
No AT as crianças (filhos da aliança) também não poderiam se arrepender e ter fé nas
promessas (condição para a salvação também no AT), mas mesmo assim eram
circuncidadas e consideradas membros do povo de Deus (da igreja visível) e beneficiárias
da aliança.
3. Que benefícios pede produzir na criança?
Que benefício poderia produzir na criança a circuncisão? Muitos, não apenas para a
criança, como também para a igreja e para os pais, como veremos a seguir.
VI. IMPORTÂNCIA DO BATISMO INFANTIL
Para a Igreja
1) Edificação dos membros.
2) Responsabilidade da igreja na orientação dos pais e dos filhos.
Para os Pais
1) Conforto no sentido de que os filhos pertencem ao pacto. A não ser que rejeitem quando
adultos, essa é a condição deles.
2) Responsabilidades: fazer os filhos conhecerem a sua condição de pertencentes ao pacto.
Serem fiéis (dando-lhes bom testemunho). Educá-los no temor do Senhor.
Para as Crianças
1) Quando chegarem à idade da razão, saberão que pertencem à aliança e se perguntarão: O
que isto significa? E serão tão beneficiadas com o batismo quanto aqueles que são
batizados quando adultos.
2) Gozam de todos os privilégios da Igreja Visível: oração, conselhos, disciplina, ensino da
Palavra, exemplo dos outros fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto.
VII. O SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO
1. A Prática Batista e Pentecostal
Os nossos irmão batistas e pentecostais (estes historicamente procedentes dos primeiros),
insistem na imersão como sendo a única forma legítima do batismo.
A primeira razão que apresentam está relacionada ao simbolismo do batismo. Para eles,
baseados em Romanos 6:3ss e Colossenses 3:12, o batismo é uma prescrição para imergir,
como símbolo da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Eis os textos:
Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos
batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que,
como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos
nós em novidade de vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte,
certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5).
Tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes
ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl
2:12).
A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de exemplos de batismos por
imersão no Novo Testamento.
2. A Prática Reformada e Protestante
A prática reformada não insiste na necessidade de imersão (nem de aspersão). As razões
são as seguintes:
1) O simbolismo do batismo não está na imersão, mas na purificação, no lavar purificador.
Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da impureza, o batismo com água (que é
a circuncisão cristã) simboliza o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de
Cristo (por meio de Cristo): "ele [Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador do
Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso
salvador" (Tt 3:5).
Este simbolismo do batismo é exemplificado no relado do apóstolo Paulo das palavras de
Ananias no seu próprio batismo: "levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados..." (At
22:16). Isto é, o batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação do pecado.
Eis o que diz o Catecismo de Heidelberg sobre o batismo:
Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me encontro tão
seguramente lavado com o seu sangue e com o seu Espírito das impurezas de minha alma e
de todos os meus pecados, como lavado externamente com água que é usada para remover
a sujeira do meu corpo (resposta 69).
É claro que num sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decorrentes da salvação
estão implícitas no símbolo: a morte para o pecado, o novo nascimento, o ingresso no corpo
de Cristo por meio da nossa união com ele, etc. E muitas figuras são empregadas neste
sentido: morrer com Cristo, ser sepultados com Cristo, ressuscitar com Cristo, viver em
Cristo, andar em Cristo, revestir-se de Cristo (Gl 3:27), ser plantados com Cristo, etc. Mas
isso não significa que alguma dessas figuras seja a única simbologia indicada no batismo.
A simbologia do batismo está no lavar, na purificação pela lavagem de água, na ação
purificadora do Espírito Santo, o qual nos separa do uso comum (impuro) e nos une a
Cristo; e não no modo como essa lavagem é efetuada. Convém observar que, mesmo em
Romanos 6, o contexto geral é a purificação do pecado:
Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante? De
modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para ele morremos?... Sabendo,
isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído e não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs. 1-2, 6, 12).
O essencial no batismo, é explicitamente ensinado na sua instituição e nos demais textos do
Novo Testamento: que seja feito com água (At 10:47) e em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28:19).
2) Do uso da palavra batizar (baptivzw) na Septuaginta. Nas quatro vezes que o verbo
aparece, todas podem ser traduzidas por lavar, mas nem todas podem ser traduzidas por
imergir. Exemplos: Daniel 4:33, onde lemos que o corpo de Nabucodonosor "...foi molhado
do orvalho do céu..." Conferir Levítico 6:28: "e o vaso de barro em que for cozida [a carne
da oferta pelo pecado] será quebrado; porém se for cozida num vaso de bronze, esfregar-se
á na água." Mesmo em 2 Reis 5:14, onde a imersão é provável, o propósito é claramente de
lavagem como símbolo de purificação, conforme indicam os versos 10, 12 e 13.
3) Dos ritos de purificação no Antigo Testamento: freqüentemente por meio de aspersões
de sangue ou de água. Conferir números 19:9, 13 e 20. Estes ritos de purificação de
utensílios, etc., são chamados de batismos no Novo Testamento:
E vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por
lavar [ajnivpta ] (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não
comem sem lavar [niywntai] cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem
sem se aspergirem [baptivswntai]; e há muitas outras coisas que observam, como a
lavragem [baptismonv] de copos, jarros e vasos de metal e camas), interpelaram-no os
fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a
tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar [koinai - impuras]? (Mc 7:2-5).
Hebreus 9:10, 13, 19 e 21, fala da prática de abluções (baptismoi), de aspergir cinzas e
sangue (rJantivzonsa), o povo, o tabernáculo e os utensílios sagrados com vistas à
purificação religiosa.
4) Do uso da palavra no Novo Testamento:
a) Intercambiável com nivptw (lavar): maços 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38; Mateus 15;2 e
20. Observação: o modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de
água, como hoje.
b) A contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30) é reconhecidamente uma
contenda sobre purificação (v. 25).
5) Do caráter espiritual do culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma mas o
espírito. A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos oficiantes, no
templo, no rito, mas na sua natureza espiritual e verdadeira. Em conformidade com isso, em
nenhum lugar no Novo Testamento é especificada a forma do batismo (imersão ou
aspersão). Logo, por que enfatizaríamos nós?
6) É interessante observar também que não há um só exemplo de batismo no Novo
Testamento que especifique de modo explícito e inequívoco a forma de batismo (imersão
ou aspersão) praticada. Na verdade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos torna
até improvável a imersão. É o caso do batismo das grandes multidões na cidade de
Jerusalém, onde a água era escassa (at 2:37-41); do eunuco no deserto (); de Paulo na casa
de Judas, por Ananias (nada no relato indica que saíram da casa, At 9:17-19); e do
carcereiro de Filipos (At 16:30-33).
7) Os desenhos, gravuras e pinturas mais antigos (do segundo e terceiro séculos) de cenas
de batismos cristãos retratam o derramamento de água sobre o batizado.
CONCLUSÃO
1) O batismo com água foi instituído como substituto da circuncisão, como sacramento de
inciação na igreja visível de Cristo na nova aliança, visto não ser mais necessário o
derramamento de sangue. É, portanto, "a circuncisão de Cristo" (cristã).
2) O batismo não é um atestado de salvação (nem todos os batizados são necessariamente
salvos). Não é meio de salvação (não opera a salvação). Não é essencial à salvação (mas
deve ser praticado em obediência à ordem de Cristo).
3) O batismo é o sinal visível e selo do pacto da graça, de ingresso na igreja visível, do
nosso compromisso público solene com Cristo e com a sua obra. Por meio dele os membros
da igreja são visivelmente distinguidos das demais pessoas como povo de Cristo e
beneficiários da aliança.
4) O simbolismo do batismo consiste não apenas ou especificamente na imersão (ou morte
e ressurreição), mas no lavar purificador regenerador operado pelo Espírito Santo no
coração daquele que se arrepende dos seus pecados e crê na eficácia e suficiência da obra
de Cristo; e na sua conseqüência união com Cristo e com o seu corpo. O batismo não é
símbolo de uma figura, mas de uma transformação interna espiritual.
5) O modo do batismo não é relevante. Pode ser tanto por imersão como por aspersão.
Sendo que a aspersão (ou ablução) é preferível, na concepção reformada, à luz das práticas
(batismos, lavagens) purificadoras do Antigo Testamento e mesmo dos exemplos do Novo
Testamento e do testemunho da história da igreja.
NOTAS:
[1] - Conferir também Marcos 14:22-26; Lc 22:14-20; e 1 Coríntios 11:23-26.
[2] - Confissão de Fé de Westminster 27.1.
[3] - Newman, Lectures on Justification, 257. Citado por Alexander Hodge, Outlines of
Theology (Edinburgh: Banner of Truth, 1972), 625.
[4] - Capítulo XXIII, parágrafo V.
[5] - Trata-se do uso comum do genitivo (o genitivo descritivo), usado como um adjetivo.
Ex: toswmath aJmartiva - o corpo do pecado/pecaminoso (Rm 6:6); ejn tw/swvm ati th
sarkov - no corpo da carne/carnal (Cl 1:22). Assim também: to bavptisma jIwavnnou - o
batismo de João/Joanino (Mt 21:25).
[6] - É esta a simbologia do batismo: o lavar regenerado do crente pelo Espírito Santo.
[7] - Conferir Confissão de Fé de Westminster, 27.3.
[8] - ejbavfh (no verso 30 na LXX).
Fonte: Batismo Infantil, Editora Puritanos.
http://www.puritanos.com.br/
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