Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS
ISSN – 2175-4128
Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso
São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014
TRAGÉDIA GREGA: A PRESENÇA DO DESTINO EM ÉDIPO REI
Elisson Souza de SÃO JOSÉ1
Leandro dos SANTOS2
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi feito com o objetivo de mostrar ao leitor a forte presença do
destino na obra de Édipo rei, escrito por Sófocles em meados de 409 a.C.. Na sua
obra, Sófocles menciona diversas vezes a sua presença em na vida do personagem
principal, Édipo rei, que por mais que ele tentasse fugir do seu destina mais ele ia ao
seu encontro.
O artigo foi feito com base na obra Édipo Rei e de trabalhos acadêmicos já
existentes sobre a mesma. A tradução utilizada para o analise da obra foi a feita por
Paulo Neves (2013).
O artigo foi dividido em três partes e uma conclusão. Na primeira trataremos
do escritor Sófocles e da importância de suas obras; na segunda trataremos do que
vem a ser uma tragédia grega; e por último falaremos sobre a presença do destino na
obra de Édipo rei. Na conclusão, será feito um breve resumo da presença do destino
na obra.
SÓFOCLES
Sófocles nasceu em meados de 496 a.C., em Colono, cidade próxima a
Atenas, onde passou toda sua vida até morrer com uma idade aproximada de 90
anos.
Ele era filho de Sófilos, ateniense rico e dono de escravos e de influencia na
sociedade. Por vim de uma família de posse, ele pode se dedicar aos estudos e a
dramaturgia. Em 469 a.C., ele venceu o campeonato anual de dramaturgia derrotando
Ésquilo, dramaturgo consagrado e veterano da época. Ele venceu a competição
utilizando três tragédias e um drama satírico. Logo, Sófocles passaria a ser o
dramaturgo mais festejado e homenageado em vida. (SÓFACLES, 2013, p.2).
1
Formado em Português-Inglês e especialista em Metodologia do Ensino de Língua Inglesa. Atualmente faz
Mestrado em Educação e especialização em Psicopedagogia. Também faz parte do grupo de pesquisa NECUFS.
Email: [email protected]
2¹ Licenciado em Pedagogia, Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior, Mestrando em Educação PPGED/UFS, Membro do Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Educação - NETE/UFS. Email:
[email protected]
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No que diz respeito à vida de Sófocles, sabemos que ele foi um dos
trágicos mais venerados de seu tempo. Escreveu aproximadamente
123 peças teatrais e obteve 24 vitórias nos concursos trágicos, o que
significa que 76 de suas obras foram premiadas e nunca ocupou o
terceiro lugar, feitos jamais igualados na história literária de Atenas
(GOULART, 2009,p.12).
Sófocles não se dedicou apenas a vida poética. Ele também participou
ativamente na vida política de sua pátria. Foi tesoureiro geral de Atenas em 442 a.C. e
foi eleito, no mínimo, duas vezes estratego - comandante do exército em expedições
militares. (SANTOS, 2011, p.2).
Entre as obras feitas por Sófocles que existem ainda hoje (2014) estão partes
de Os Sabujos, Ajax, Antígona, Electra, Tranquinianas, Filoctetes, Édipo em Colono e
Édipo rei, obra que usaremos para analisar a presença do destino; mas antes vejamos
o que vem a ser a tragédia grega.
TRAGÉDIA GREGA
A tragédia grega está relacionada a o culto a Dionísio, deus grego
responsável pelas festas e pelo vinho, e a exuberância. Tal culto era clandestino pelo
fato dele ser um deus estrangeiro, o que levava a população se revoltar contra os
seus governantes.
O vocábulo “tragédia” provavelmente derivou-se de “tragoidia”, uma
palavra formada por duas outras: “trágos”, que se traduz por “bode”, e
“õidé”, que quer dizer “canto”. Assim, etimologicamente, tragédia
significa “canto do bode”. De acordo com uma das interpretações que
procuram explicar a causa dessa origem, conta-se que Dioniso, em
Ícaro, havia ensinado aos homens, pela primeira vez, a arte de
cultivar vinhas. Assim que as videiras cresceram, um bode, acusado
de tê-las destruído, fora castigado com a morte. Após persegui-lo e
esquartejá-lo, os homens, sobre a sua pele, começaram a dançar e a
beber até caírem desmaiados. Esse acontecimento, ao que parece,
passou a fazer parte dos rituais dionisíacos e a ser rememorado
anualmente. Haja vista que, durante os festivais, após um bode ser
oferecido a Dioniso, cantava-se e dançava-se até a exaustão. Tais
cantores e dançarinos travestiam-se em “sátiros, que eram
concebidos pela imaginação popular como ‘homens-bodes’”
(SANTOS, 2005, pp.3,4).
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As cantigas não eram só de alegria, mas também de tristeza, pois lembrava
o desaparecimento de Dionísio do mundo mortal. Sendo assim as cantigas em coro a
Dionísio passaram a ser visto como uma tragédia.
Com o tempo a tragédia parou de se tratar apenas da lenda de Dionísio e
ganhou força com outras mitologias. Entre os maiores dramaturgos trágicos que
surgiram durante esse período (522 a 405 a. C.) estão Ésquilo, Eurípides e Sófocles.
Apesar de muitas obras terem se perdido com o passar do tempo as que conseguiram
sobreviver no decorrer do tempo são muito apreciadas pelo seu grande valor cultural.
Algo muito comum nas tragédias gregas é a presença de um destino previsto
que não se pode escapar. Para falar mais a respeito dele trataremos da obra de Édipo
rei.
A PRESENÇA DO DESTINO EM ÉDIPO REI
Édipo rei é uma das obras mais importantes escritas por Sófocles que ainda
existe nos dias de hoje (2014) e que faz parte de uma trilogia composta também por
Antígona e Édipo em Colono.
A obra se resume em homem, Édipo, que foi predestinado a matar o pai e a
casar-se com a mãe, mas ao saber disso tentaria evitar ao máximo seu cumprimento;
o que faz com que a presença do destino seja frequente na obra.
O Oráculo havia informado a mãe de Édipo que um dia seu filho mataria
seuspai e se casaria com sua própria mãe!
“O SERVIDOR – Ela tinha medo de um oráculo dos deuses.
ÉDIPO - O que ele anunciava?
O SERVIDOR- que um dia a criança mataria seus pais” (SÓFOCLES, 2013,
p.74).
Querendo escapar do destino Jocasta, mãe de Édipo preferia ter seu filho
morto enquanto ainda era um bebê do que vê-lo sendo um assassino dos próprios
pais. Contudo, o servo que deveria matá-lo entregou para o rei de Corinto, onde
cresceu pensando que estava sendo criado pelos seus pais legítimos.
Ele só veio desconfiar que era vítima de uma maldição em uma refeição
quando um bêbado falou que ele era o filho suposto.
Durante um banquete, no momento do vinho, na embriaguez, um
homem chamou-me “filho suposto”. A expressão me incomodou, foi
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difícil suportar aquele dia, e logo no dia seguinte fui interrogar meu
pai e minha mãe (SÓFOCLES, 2005, p.50)
Ao saber que ele iria matar o pai e casar com a mãe, ele imediatamente fugiu
da cidade de Corinto para evitar seu destino, não sabendo que ao fugir da casa de
seus pais – adotivos- esta indo de encontro aos seus pais legítimos.
Durante a fuga ele se deparou em uma encruzilhada com Laio, seu pai, que
ele não conhecia. Nessa encruzilhada ocorreu um desentendimento e Édipo acabou
matando o próprio pai, cumprindo uma parte de seu destino.
O guia e o próprio velho procuram afastar-me com violência.
Encolerizado, golpeio o que pretende tirar-me do caminho, o
condutor. Mas o velho me ver, espera o estante em que passo perto
dele e de seu carro me desfere na cabeça um golpe com seu duplo
chicote. Ele pagou caro por esse gesto! Num instante, atingido pelo
bastão que eu empunhava, ele cai de costa do carro e rola pelo chãoe eu mato todos eles.(SÓFOCLES, 2013, p.51).
Assim sendo, Édipo segue seu caminho, não sabendo que o homem que
matara era seu pai. Ao chegar em Tebas encontrou a cidade com um enorme
problema, um monstro, a Esfinge, estabelecera-se na porta da cidade propondo um
enigma. Como ninguém sabia responder, a Esfinge ia matando um por um. Jocasta
tinha oferecido sua mão a quem livrasse a cidade desse monstro.
Infelizmente, Édipo soube o enigma e livrou a cidade daquele mal, mas como
presente teve casou com a rainha, que era sua mãe.
Em nenhum dos dois momentos Édipo soube o que tinha feito, ele não sabia
que era filho adotivo do rei de Corinto, o que fez com que suas atitudes fossem
justificadas. No entanto, o destino de cumpria mais uma vez.
Sua mãe, Jocasta pensando que o destino não tinha se cumprido chegou até
a dizer que seu marido, Laio, morreu por bandidos, não sabendo que ele foi morto por
Édipo.
Outrora um oraculo chegou a Laio, não de Apolo, mas de seus
sacerdotes. O destino que o esperava era morrer pela mão de um
filho que nasceria dele e de mim. Ora, Laio foi abatido por bandidos
estrangeiros no cruzamento de dois caminhos segundo consta; por
outro lado, três dias depois de ter nascido a criança Laio mandou
prender seus tornozelos e mandou abandoná-la em um monte
deserto. Deste modo, Apolo não pode fazer com que seu filho
matasse seu pai nem que Laio, como temia, morresse pela mão de
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seu filho. E era esse o destino que vozes proféticas nos
comunicavam! (SÓFOCLES, 2013, p.46).
Ao saber do ocorrido, Édipo mandou chamar o homem que foi encarregado
de levar a criança para o deserto para morrer e descobre que ele não fez o que tinha
sido ordenado. Também descobre que ele, Édipo, era filho de Laio e assassino de
seu próprio pai.
Édipo –Oh! Ai de mim! Então no final tudo seria verdade! Ah! Luz do
dia, que eu te veja aqui pela última vez, já que hoje me revelo o filho
de quem não devia nascer, o esposo de quem não devia ser, o
assassino de quem não devia matar!(SÓFOCLES, 2013, p.75).
Sua esposa e mãe ao saber do ocorrido acaba se enforcando. Quanto a
Édipo, decepcionado com seu destino prefere viver longe da cidade e cego, para não
ver o triste caminho que sua vida tomou.
CONCLUSÃO
A obra Édipo Rei é rica em predestinação e existem diferentes partes que
provam que por mais que Édipo evitasse seu cruzamento, ele sempre estava por
perto.
Não só Édipo como seus pais tentaram fugir do que já estava previsto
acontecer e o resultado foi que eles viveram distantes, no entanto, nos momentos que
se cruzaram, mesmo sem se conhecerem, cumpriram o proposito que estava
prescrito.
Portanto, é possível afirmar que na tragédia grega, por mais que se evite
cruzar com o destino ele sempre estará por perto. No caso de Édipo, a tentativa de
manter a distância de seus pais adotivos o levou a se aproximar de seus pais legítimos
e a cometer o assassinato e o incesto.
REFERÊNCIAS
GOULART, Rildo Rodrigues. Édipo rei: as relações entre Édipo e Jocasta. São Paulo, 2009.
(Dissertação de mestrado).
SANTOS, Anselmo Castro. A relação entre religião e poder presente na obra “antígona” de
Sófocles. In: SEGUNDO SEMINÁRIO DE ESTUDOS CULTURAIS. Anais eletrônicos... São
Cristóvão,
2011.
Disponível
em:
<http://www.gerts.com.br/seciri/anais_II_SECIRI/gt_05/gt05_02.pdf>. Acesso em: 10/05/2014.
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SANTOS, Adilson dos. A tragédia grega: um estudo teórico. Revista Investigações.
Pernambuco.
n.1,
2005.
Disponível
em:
<http://www.revistainvestigacoes.com.br/Volumes/Vol.18.N.1_2005_ARTIGOSWEB/A-tragediagrega-um-estudo-teorico_ADILSON-DOS-SANTOS.pdf>. Acesso: 18 mai. 2014.
SOFOCLES. Édipo rei. Tradução Paulo . Alegre: L&LM, 2013.
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