C L E V ERSON ANTUNES D E O L I V EIRA f r o n t e i r a s : u m A J ORNA D A P E L AS AM É RI C AS C URITI B A I D EORAMA 2 0 11 “DA MINHA JANELA, 11 DE SETEMBRO DE 2001” Cleverson Antunes de Oliveira TEXTO Antônio Fatorelli TRADUÇÃO PARA O INGLÊS Marcio Ricceli ENTREVISTA Fernando Burjato e Cleverson Antunes de Oliveira PROJETO GRÁFICO Ideorama FOTOGRAFIAS, VÍDEOS E DESENHOS Cleverson Antunes de Oliveira FOTOGRAFIAS Artur Ratton Kummer, Liudi Hara e Rafael Dabul (capa) ILUSTRAÇÃO DA FOLHA DE GUARDA Extratos de Bilz Almanac, 1898 (Friedrich Eduard Bilz - Alemanha, 1842-1922) contato www.fronteirasamericanas.com [email protected] Dados internacionais de catalogação na publicação Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Teixeira Oliveira, Cleverson Antunes de. Fronteiras: Uma Jornada Pelas Américas / Cleverson Antunes de Oliveira. Curitiba, PR : Ideorama, 2011. 58 p. : il. ; 34,5 x 27 cm. ISBN 978-85-62233-03-6 fronteiras: umA JORNADA PELAS AMÉRICAS Uma outra imagem Na atualidade, em que aspectos cada vez mais relevantes da experiência se realizam em ambientes modelizados ou simulados, modificam-se substancialmente a definição e o papel relativo das formas visuais. A fotografia, que pressupõe, na sua acepção clássica, a pureza do meio, cede lugar a um regime da imagem impuro e miscigenado. Também a imagem movimento passa por modificações substanciais, incorporando as singularidades do vídeo, uma forma, como assinalaram Raymond Bellour (BELLOUR, 1997) e Philippe Dubois (DUBOIS, 2004), que se apresentou como lugar de passagem Convertidos em algoritmos, os diversos elementos expressivos – sons, imagens e textos –, que tradicionalmente condicionaram as linguagens e as estéticas associadas aos meios, têm as suas especificidades questionadas. A passagem do sinal de luz para o sinal eletrônico e, posteriormente, para o bit, marca a transição da modernidade para a contemporaneidade, colocando em perspectiva os valores materiais e simbólicos, associados à representação foto-cinematográfica baseada no modo analógico de inscrição, projeção, difusão e apreensão da imagem. apenas no tempo, na duração da varredura do sinal eletrônico, possibilitando diferentes modalidades de atravessamento entre as imagens, como a sobreimpressão de camadas e o chroma-key, enquanto no contexto informacional a formação da imagem encontra-se associada a operações algorítmicas, ainda mais moduláveis e susceptíveis às alterações técnicas. Tais singularidades relativas à infraestrutura técnica das imagens eletrônicas e digitais são indicativas de que essas imagens encontram-se associadas a novos regimes temporais. É a relação ontológica fundada na gênese automática sobre a qual se instituiu historicamente um modo de ver e de avaliar as imagens de base fotoquímica que experimenta alterações substanciais no contexto das imagens eletrônicas e, logo a seguir, das imagens digitais. As imagens-vídeo existem Temporalidades complexas entre as imagens, fazendo vacilar de modo ainda mais evidente as reivindicações de purismo e de autossuficiência dos meios. Com as tecnologias informáticas, as mídias de base fotoquímica, como a fotografia e o cinema, têm as suas singularidades redefinidas e problematizadas. “HOVER”, 2006. Grafite sobre papel, 40 x 50 cm (20 x 16 IN.) A história recente dos meios visuais e audiovisuais é a de uma trama de assimilações, de contágios e de refutações recíprocas entre as diferentes formas de expressão, em flagrante desacordo com as pretensões modernistas de purismo e de autonomia. Essas tramas mais ou menos complexas sinalizam, no caso particular das relações entre as diferentes formas de produção visual, a existência de negociações e de empréstimos entre, por exemplo, a fotografia e as artes plásticas, o cinema e a literatura, a fotografia e o cinema. Distribuídos em rede, os meios singularizamse em função das diferenças advindas da confrontação com os outros meios, por vezes de modo ainda mais marcante do que em referência às suas características técnicas e processuais singulares. O status paradigmático da fotografia como meio processador das outras formas visuais confirma a sua radical modernidade, ao mesmo tempo que anuncia as inconsistências e mesmo o esgotamento das premissas hegemônicas do projeto moderno. Os procedimentos híbridos da fotografia pós-moderna, suas estratégias de serialidade, de repetição, de cenarização, de apropriação e de pastiche, anunciaram essas inconsistências, fazendo vacilar as suposições centrais do mito modernista de purismo dos meios, exatamente ali, no coração daquela que foi a sua metáfora mais emblemática. É notável que o potencial crítico desse movimento tenha se direcionado, de modo incisivo, às propriedades reprodutivas da fotografia, ao seu status de imagem múltipla, potencialmente capaz de mimetizar e de mercantilizar objetos e imagens de diferentes origens. As questões críticas suscitadas pela fotografia pósmoderna, a partir do final dos anos 1970, em especial as indagações sobre a originalidade da obra e sobre o papel do autor, presentes nas séries de Cindy Sherman, de Sherrie Levine, de Barbara Kruger, entre outros, confirmam as inconsistências implícitas na demanda modernista de autonomia dos meios e de originalidade da obra. A reciclagem de imagens preexistentes no âmbito da mídia de massa ou dos arquivos públicos, a produção serial de imagens a partir de clichês do cinema, a referência explícita a outros modelos e convenções da história da arte ou a reprodução literal de obras clássicas, foram procedimentos que colocaram em suspeita as suposições acerca do lugar do autor como produtor e sobre o ineditismo da obra. Ao deslocar o foco das propriedades formais da imagem, priorizada pela fotografia direta e pura, para o do seu modo de funcionamento no circuito cultural, a fotografia pós-moderna refez os elos das cadeias dos híbridos, evidenciando a natureza composta e múltipla da imagem. Ao violar os valores estéticos associados ao aqui e ao agora da representação, as fotografias produzidas sob esse signo exibiram as multiplicidades de tempos, de espaços e de referências atualizados na imagem instantânea, deixando entrever que nesse tempo suspenso do fragmento coexistem várias temporalidades sobrepostas. É uma operação fundamental sobre o tempo, de desdobramento e de multiplicação de vetores, efetuada de modo sistemático pelas produções fotográficas pós-modernas e estruturalmente presentes na morfogênese da imagem de síntese, que estabelece um curto-circuito no cerne da suposição ontológica que avaliza as premissas associadas ao ideal de autonomia dos meios. “MUNDO COWBOY”, 2002. Fotografia digital (impressão em Lambdaflex) 51 x 61 cm (20 x 24 IN.) A operação através da qual a imagem fotográfica deixa entrever uma temporalidade irredutível ao instantâneo já estava presente nas primeiras tentativas de fixação da imagem, na fotografia pictorialista do século XIX, na iconografia panorâmica, na cronofotografia de Jules Etienne-Marey e Eadweard Muybridge, nas experimentações das vanguardas futurista, concretista e surrealista, nos ready-mades de Marcel Duchamp, nas estratégias de serialização utilizadas por Andy Warhol e em diversos trabalhos conceituais realizados ao longo da década de 1960. De modo emblemático, a pop art – as séries fotográficas, os filmes e as transferências de suporte de Andy Warhol –, do mesmo modo que as assemblages de Robert Rauschenberg, indicavam um estado da imagem que só viria a intensificar-se com as imagens eletrônicas e digitais. Um lugar de passagens, de atravessamentos, de sobreposições entre os meios e no interior da própria imagem, um estado em que prevalecem as multiplicidades e os deslocamentos, especialmente resistente às tentativas de identificação de um centro ou à atribuição de relações hierárquicas. Por sua vez, a produção do cinema estrutural, do cinema matéria e do cinema expandido estava, nesse mesmo período – e os filmes realizados por Warhol são exemplares dessa direção –, tencionando os princípios estéticos, arquitetônicos e técnicos consagrados pelos dispositivos modelo da fotografia e do cinema. O vídeo, no curso das décadas de 1970 e 1980, intensificou ainda mais esses estados híbridos da imagem, apresentando-se como um potente agenciador, como um meta-meio, suficientemente “WEST”, 2003. Vídeo 4:30 min, filme Super 8 transferido para DVD flexível para associar, além das imagens estáticas da arte e da fotografia, as imagens movimento do cinema e da TV. O vídeo como lugar de passagens e de confluências que viria a ser radicalizado, principalmente a partir dos anos 1990, pela imagem digital, ainda mais suscetível às operações de quantificação e de modulação dos seus elementos constitutivos. A questão do tempo, das temporalidades múltiplas, é também a questão chave introduzida pela imagem digital, a saber, a da inevitabilidade de uma intervenção pós-produção que vem se somar ao tempo do registro, de modo a pressupor ao menos duas ações consecutivas, temporal e espacialmente dissociadas. Por sua vez, as instalações multimídia e os cada vez mais complexos dispositivos contemporâneos de exibição, comportam uma temporalidade estratificada, resultante da sobreposição de diferentes convenções visuais e, frequentemente, desta outra temporalidade, de natureza subjetiva, proporcionada pela integração dinâmica do observador à obra. Por sua vez, a instalação contemporânea, esse dispositivo da arte complexo e aberto a diferentes arranjos e formas, exibe esses estados múltiplos da imagem, intimamente associados às variações temporais e espaciais processadas no âmbito da experiência contemporânea. Prevalece, nesses ambientes, a lógica associativa da sobreposição de diferentes formas imagéticas, dispostas de modo a deflagrar um jogo de confrontação entre as convenções visuais e as expectativas historicamente referidas à fotografia, ao cinema, ao vídeo ou às artes plásticas. Nessas cenografias, as questões relativas às singularidades e à identidade dos meios encontram-se deslocadas, substituídas pelas sobreposições e atravessamentos, pelos modos múltiplos e sempre renovados de agenciamento das imagens e dos sistemas de mídias. A variabilidade da instalação, desses arranjos especialmente moduláveis, apresenta essa condição da imagem configurar-se de diferentes modos, a depender das relações estabelecidas no conjunto da obra, ao mesmo tempo que expõe sua irredutibilidade ao determinismo mecânico de base. No interior dessas disposições modulares, muitas vezes a imagem fotográfica produz movimentos, tremores, frêmitos, deslocamentos internos e tensões temporais irredutíveis às noções habitualmente associadas ao instantâneo. Por sua vez, a imagem movimento do vídeo e do cinema comporta paradas, suspensões e, por vezes, congelamentos. Esses estados transitórios encerram, nas suas variações, as tensões historicamente presentes nas imagens entre uma força narrativa, que se desdobra no tempo, e uma força interna, que aponta para a sua singularidade enquanto ocorrência pontual. “PROGRESSO HUMANO”, 2003. Vídeo 2:00 min (ciclo), filme Super 8 transferido para DVD “WEST”, 2003. Fotografia digital (impressão em Lambdaflex) 40 x 50 cm (16 x 20 IN.) “ATLANTIS”, 2002. Vídeo 4:00 min (ciclo), filme Super 8 transferido para DVD “Peyote - las Alimas, México”, 2005. Vídeo 12:00 min, filme Super 8 transferido para DVD “ANATOMIAS E SUPERFÍCIES - (Extratos de Bilz Almanac, Alemanha, 1898. Friedrich Eduard Bilz, 1842-1922)”, 2006. Vídeo 10:00 min, DVD Corpo e experiência Uma das consequências decisivas proporcionada pela convergência da fotografia, do cinema, do desenho, da pintura e da imprensa em uma mesma interface, é o surgimento de um efeito de camadas, de vários níveis e de estratos sobrepostos, indicativo do modo singular de temporalização associado às novas tecnologias imagéticas. Duas tendências associadas a essa condição da imagem são determinantes na identificação da maneira em como as tecnologias eletrônicas e digitais assimilam e reformulam as mídias analógicas: de um lado, uma submissão hierárquica das formas análogicas, como o cinema e a fotografia, ao modelo híbrido digital, que passa a redimensionar os modos de atuação presencial do cinema e o modelo clássico de representação fotográfica, como observou Thomas Levin (LEVIN, 2006, p. 206); por outro lado, a tendência ao hibridismo, à configuração de modelos miscigenados, que comportam diferentes modalidades de passagens e de atravessamentos entre as imagens, instituindo, no caso da relação fundamental entre a fotografia e o cinema, toda uma nova disposição de consequências técnicas e estéticas irredutíveis, localizadas nesse lugar intermediário entre a dilatação do instantâneo e os procedimentos de retardo ou de suspensão do movimento da imagem cinematográfica. Ou seja, por um lado, as formas cinematográficas e fotográficas analógicas encontram-se irreversivelmente relegadas ao status de um subconjunto da mídia digital. Simultaneamente, e de modo singular, a imagem movimento e, em especial a imagem digital em movimento, encontrase progressivamente associada à representação estática fotográfica, inaugurando novas modalidades de passagens entre as imagens, frequentemente associadas a outras inflexões temporais. O híbrido digital relaciona uma imagem suporte precário e um observador que é chamado a desempenhar papéis crescentemente produtivos, desencadeando simultaneamente a crise do objeto e a emergência de um novo papel, mais produtivo, do observador. ‘Sabe-se que na terminologia moderna, a noção de limiar define a intensidade mínima para que um estímulo possa suscitar uma resposta ou uma sensação. Ainda que esta noção permaneça válida do ponto de vista fisiológico, ela remete a um tipo de investigação que supõe limites claros entre diferentes tipos de estímulo e de resposta, entre sujeito e objeto, percepção e ação’ (FATORELLI e BRUNO, 2006, p. 13). O novo status da imagem técnica contemporânea se delineia nesse momento no qual não é mais possível distinguir claramente esses dois polos segregados no espaço e constitutivamente diferentes que tradicionalmente demarcaram limiares perceptivos estáveis. Ao tempo que confere centralidade ao corpo, a flexibilização do suporte implementa uma convergência sem precedente de mídias, posicionando-as lado a lado, umas sobre as outras, muitas vezes promovendo o atravessamento de diferentes estratos de mídia. Decorre desses efeitos de sobreposição uma condição de modularidade, fundada não mais sobre o modo constitutivo das imagens digitais individuais, mas entre os sistemas de mídia. Verificamos no contexto da informação – de sobredeterminação das tecnologias digitais sobre as imagens de base fotoquímica e de sobreposição complexa dos meios uma vez convertidos em sinais codificados –, a emergência de uma nova lógica de temporalização das imagens. As imagens fotográficas, os vídeos e os procedimentos digitais frequentemente associados nos trabalhos de Cleverson, como New York, de 2003, Real de Catorze de 2005 e Mexico City, de 2007, exibem essa singularidade da imagem na atualidade. Nessas obras as passagens, inscritas de diversos modos nas inúmeras viagens empreendidas pelo artista, encontram-se potencializadas pelo tratamento híbrido da imagem, que transita entre o vídeo, a fotografia e a pós-produção digital. Nesses deslocamentos no território o artista empresta seu corpo a uma deriva no espaço e no tempo, contraindo experiências processadas em domínios longínquos e em épocas primordiais, fazendo do percurso empreendido ao longo da experiência artística o índice ao mesmo tempo histórico, afectivo e existencial das mudanças processadas entre os eventos pregressos e a condição atual. É o caso das longas viagens realizadas pelos colonizadores europeus e os decorrentes impactos culturais e sociais sobre os povos locais, ficcionalizada em Mexico City (Mexico City, 2007), das rotas Hibridizações Presenciamos, nesse momento de transições, o surgimento de um conjunto significativo de trabalhos que passam a depender de arquiteturas complexas, de projeções em várias telas e de combinações entre diferentes formas visuais, como a fotografia, o desenho, o vídeo e a imagem digital. Nossa suposição é a de que esses trabalhos, no modo em que estão dispostos e pelas experiências estéticas que proporcionam, expressam as potências do híbrido contemporâneo e se apresentam como expressões culturais singulares, especialmente referidas às modalidades atuais de experiência. “TEARS”, 2003. Fotografia digital (impressão em Lambdaflex) 23 x 25 cm (9 x 10 IN.) perversas do narcoturismo em territórios esquecidos do terceiro mundo (Real de Catorze, 2005), ou das marcas indeléveis da violência urbana na vida real e imaginária de alunos em idade pré-adolescente de uma escola do Brooklyn/NY (Golden Years, 2005). A corrida célere do artista, recorrente em incontáveis deslocamentos de uma margem a outra do quadro, corrida frenética contra o tempo e contra o esquecimento, se realiza de modo anônimo, sob a figura de uma silhueta negra e impessoal, simplesmente recortada sobre o fundo de uma paisagem imutável. O contraste evidente entre a mobilidade da figura em primeiro plano, em permanente trânsito, e a estabilidade da paisagem, encena a ansiedade predominante da experiência contemporânea, simultaneamente crítica e impotente frente às iniquidades dos fatos. Como nos trabalhos de Jeff Koons, Matthew Barney e Cindy Sherman, o artista se insere na obra, se faz imagem, no caso de Cleverson, para atualizar o inconsciente coletivo de uma geração, suas angústias e seus desejos. Seu corpo funciona aqui como um ecrã, uma tela opaca sobre a qual se inscrevem os fragmentos de um imaginário coletivo, a um tempo singularizado pela ação pontual do artista e simultaneamente tomado como índice das expectativas de uma época. Há nos trabalhos de Cleverson um contraste evidente e incontornável entre violência e sedução, reforçado por uma reincidência da imagem em loop. Esse é o enredo do jogo lúdico entre os três banhistas (Progresso Humano, 2004/2005), um homem e duas mulheres, a beira-mar, quase sensual e já agressivo. Um mesmo gesto sucessivamente retomado, e um movimento de câmera circular que reenquadra os personagens sempre de modo parcial, sinalizam esse limiar entre o prazer e o sofrimento, entre a expectativa imaginária e a evidência do contato. De outro modo, mas igualmente marcado por essa atitude do artista que se apresenta como perscrutador do imaginário de uma época, somos confrontados às modalidades renovadas de negociação entre a vontade de futuro e a sensação de frustração associada ao momento atual. Irremediavelmente, não permaneceremos os mesmos após o 11 de Setembro. A sombra negra, recortada agora na forma de um tubarão, se confronta, de modo precário, entre avanços e recuos, à silhueta da cidade de Nova York, já subtraída das torres gêmeas (Atlantis, 2002). As armaduras excessivamente alvas desses dois seres, meio escafandristas, meio astronautas, embarcados na travessia entre a mitológica Nova York e o expresídio de Staten Island (New York, 2003), marcam toda a distância com a experiência prosaica que, em uma época já distante, parecia autorizar as pretensões de um futuro promissor. Predomina nesse trabalho o sentimento indelével de que algo se passou e alterou definitivamente o curso da história. A partir desse momento, o drama entre a vontade de realizar e o medo de ser vai ganhar novos contornos e comprometer de vez o jogo da ambivalência, lúdica e potencializadora, entre os opostos. É essa mesma dinâmica que se faz presente na figura utópica do Super-Homem (Clevelandia 99, 1999, Solar do Barão, Curitiba), o ícone da aventura norteamericana, agora submetido à imobilidade do seu protagonista, limitado aos restritos movimentos de uma cadeira de rodas. “NEW YORK”, 2003. Vídeo 5:00 min (ciclo), filme Super 8 transferido para DVD O recurso da sombra funciona nesses trabalhos como uma poderosa metáfora do modo de inscrição do artista na obra e, no âmbito semântico, como índice do deslizamento em direção a essa região turva, ameaçadora e essencialmente castradora que se sucedeu à época das experimentações. De modo certeiro, Cleverson enfrenta essa condição regressiva do ponto de vista da possibilidade de se fazer arte hoje, mobilizando o senso de humor e a ironia, sempre de modo a potencializar os recursos das linguagens com que trabalha. Esse é, também, o lugar da personagem feminina em King Kong (West, 2003 ), instada a perfazer, ao revês – o alvo da sedução transfigurado em sujeito da ação –, a trama narrativa da trilha original do King Kong. Mas será mesmo possível subverter a lógica desse clichê que recobre as relações clássicas de dominação? A obra tenciona esse aparente contra-senso e faz reverberar, de modo inquietante, a indagação acerca da sua possibilidade. Os trabalhos híbridos que integram a série ”Debris” e “Andes: algum lugar entre Chile e Argentina” investem em uma outra estratégia. São imagens inicialmente produzidas em vídeo, registradas no curso de longas e recorrentes caminhadas entre os territórios do Chile e da Argentina, posteriormente editadas quadro a quadro para, a seguir, ganharem contornos em nanquim, fita adesiva, entre outros materiais. Na montagem final essas imagens são associadas, em um novo circuito de passagem, à reproduções de animais empalhados, em ”Natureza Morta da America do Norte”. Tais operações de sobreposição de procedimentos técnicos emprestam a essas imagens uma atmosfera surrealista, simultaneamente associadas aos catálogos de registro etnográfico e ao inventário simbólico da contemporaneidade. Essa estranha forma de associação combina fotos hiperrealistas de natureza morta e uma paisagem de fundo criada no Photoshop, além de imagens de paisagens fotografadas, como as imagens “Pedra da Gávea” e “Cerro Torre, PatagôniaArgentina”, às imagens em movimento do vídeo, de modo a naturalizar o artifício e, ao mesmo tempo, produzir o efeito de estranhamento da natureza. Os cruzamentos entre a imagens fixas do desenho e da fotografia e a imagem fluxo do vídeo, reforçam esse estado de indiscernibilidade entre aparência e essência, produzindo uma nova entidade, híbrida e essencialmente impura. Por caminhos diferentes, as imagens dessa última série retomam as inquietações presentes nos trabalhos anteriores de Cleverson, como se uma linha de tensão as atravessasse indistintamente. O trabalho de arte situado no limiar entre o gesto autoral, único e presencial, e o imaginário de uma época marcada pela imagem, pelas passagens entre as imagens e pelas passagens nas imagens, com a força de incitar uma potência de pensamento e uma intensidade afetiva. Referências BELLOUR, Raymond. Entre-imagens. Campinas: Editora Papirus, 1997. DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004. FATORELLI, Antonio e Fernanda Bruno (orgs.). Limiares da imagem – Tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. ________. Movimentos improváveis – o efeito cinema na arte contemporânea. LEVIN, Thomas. “O terremoto de representação: composição digital e a estética tensa de imagem heterocrônica” in Antonio Fatorelli e Fernanda Bruno (orgs.), Limiares da imagem: tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. Another Image At this moment in time, in which increasingly relevant aspects of our experience take place in modeled or simulated environments, the definition and role of visual media change considerably. Photography, classically seen as a pure medium, gives way to a system of images that is impure and mixed. Moving images are also undergoing substantial changes, incorporating video’s singularities. As noted by Raymond Bellour (Bellour, 1997) and Philippe Dubois (Dubois, 2004), video presented itself as a place of Video-images exist only in time, when the electronic signal is scanned, enabling different types of layering between images, such as superimposition and chroma-key, whilst in an informational context, image formation is based on algorithms, which makes it even more open to modulation and susceptible to technical changes. Such singularities related to the technical infrastructure of electronic and digital images are indicative that these images find themselves associated to new temporal regimes. modernity at the same time as it reveals inconsistencies and even the exhaustion of hegemonic assumptions of modern design. These inconsistencies are found in the hybrid procedures of postmodern photography, its strategies of serialism, repetition, scenarization, appropriation and pastiche, wavering the core assumptions of purism of the modernist myth. It is remarkable that the critical potential of this movement has been incisively directed towards the reproductive properties of photography, to its status as multiple images, with the potential to mimic and to commercialize objects and images from different sources. Complex Temporalities The critical issues raised by postmodern photography passage between images, further upsetting ideas of purism and self-sufficiency of media. With information technologies, photochemistry- based media such as photography and cinema have their singularities redefined and problematized. Converted into algorithms, the various expressive elements which traditionally determine the language and aesthetics associated with the media, such as sounds, images and texts, are called into question. The conversion of light signal into electronic signal and then to bit, marks the transition from modern to contemporary, putting into perspective the material and symbolic values associated with the analog based photo-cinematographic mode of inscription, projection, dissemination and capturing of image. It is the ontological relation formed by automatic genesis, over which historically a way to see and Recent history of visual and audiovisual media is one of a web of assimilations, contagion and reciprocal refutations between the different forms of expression, in glaring disagreement with modernist pretensions of purism and autonomy. These more or less complex webs indicate, particularly in regards to the relation between different forms of visual production, the existence of negotiations and exchanges between, for example, photography and visual arts, cinema and literature, and photography and film. Spread out in a web, these media, already unique due to their technical and procedural characteristics, become even more distinguished in comparison to other media. in the context of electronic and digital images. regarding the originality of the work and the role of the artist, as in the work of people like Cindy Sherman, Sherrie Levine and Barbara Kruger, confirm the inconsistencies implicit in the modernist demand for autonomy and originality. The recycling of images found in mass media or public archives, the serial production of images based on cinema clichés, the explicit reference to other models and conventions of art history or the reproduction of classic works, were all procedures that called into question assumptions about the role of the artist and the originality of the work. By shifting the focus from the formal properties of the image, as prioritized by direct and pure photography, to the role it has in the cultural evaluate photochemical-based images has been established, that is experiencing substantial changes from the late 1970s onwards, especially questions The paradigmatic status of photography as the means of processing for other visual forms, confirms its radical sphere, postmodern photography relinked the chain of hybrids, showing both the composite and multiple nature of the image. By violating aesthetic values associated with the here and now of the representation, postmodern photography emphasizes the multiplicity of time, space and references found in the snapshot, illustrating the coexistence and overlap of various temporalities in the image. Postmodern photography attempts to deliberately and systematically analyze the unfolding and multiplication of time. This is also seen in the morphogenesis of synthesized image, which causes a short circuit in the heart of the ontological assumptions that endorse the premises associated to the ideal of autonomy of media. The way in which photographic images reveal a temporality which can not be reduced to an instant moment, was already present in the first attempts at picture capturing, such as in the pictorialist photography of the nineteenth century, also in panoramic iconography, the chronophotography of Jules Etienne-Marey and Eadweard Muybridge, in the avant-garde experiments of the Futurists, Concretists and Surrealists, in Marcel Duchamp’s ready-mades, in Andy Warhol’s serial art strategies and in various other conceptual works done throughout the 1960s. In a symbolic way, Pop Art - the photographic series, the movies and the mass-produced work of Andy Warhol – as well as Robert Rauschenberg’s assemblages, showed image in a state that would only intensify itself with the arrival of electronic and digital images. A place of passages, crossings and overlaps between different media and within the image itself. A state where multiplicities and displacement prevails, especially resistant to attempts at identifying a center or the attribution of hierarchical relations. In turn, the production of structural, material and expanded cinema in this same period created tensions with - and the films made by Warhol are a good example of this – the aesthetic, technical and architectural principles established in photography and cinema. Video, throughout the 1970s and 1980s, further intensified these hybrid states of the image, serving as a powerful intermediary, or a means-end, sufficiently flexible to connect not only the static images of art and photography, but also the moving images of cinema and TV. Mainly from the 1990s onwards, video became a place of confluence and passages radicalized, mostly, by digital images, and became even more susceptible to quantification and modulation of its constituent elements. The question of time and multiple temporalities is also a key issue with digital images. With the inevitability of post-production manipulation, we can determine that there at least two consecutive actions which are temporally and spatially disassociated. In turn, multimedia installations and the increasingly complex contemporary display devices, allow for a stratified temporality, which arises from the overlap of different visual media, and frequently, with this other temporality, of a subjective nature, created by the dynamic interaction of the observer with the work. In turn, the contemporary installation, this complex art device that is open to different arrangements and shapes, displays these multiple states of the image, which is closely associated with the temporal and spatial variations processed within the contemporary experience. What prevails in these environments is the associative logic of overlapping imagery, arranged in a way as to provoke a confrontation between the visual conventions and the historical expectations one has towards photography, film, video or the visual arts. In these scenographies, issues relating to the identity and singularity of the media are displaced, replaced by superimpositions and crossings, by the multiple and always renewed ways of looking for images and media systems. The variability of an installation, of these especially shifting arrangements, allows for the image to be set up in different ways, depending on the relations established by the overall work, at the same time as it exposes its adamancy to being determined by the mechanical aspect. Within these shifting arrangements, very often the photographic image produces movements, tremors, thrills, internal displacements and temporal tensions that are adamant to the notions commonly associated with the snapshot. In turn, the moving image of video and cinema includes stops, interruptions and occasional freezes. These transient states put an end to, through their variations, the tensions historically present between a narrative strength that unfolds over time, and an inner strength, which points to a singularity as a punctual occurrence. Sem título (Patagônia), 2009. Vídeo 2:00 min (ciclo) Body and Experience One of the consequences of the convergence of photography, cinema, drawing, painting and printing into a single interface, is the emergence of a layering effect, with various levels and overlapping strata, indicative of a unique temporal mode associated to new imaging technologies. and aesthetic consequences, located in this middle place between the dilation of the snapshot and the procedures of delay or suspension of the movement of the cinematographic image. That is, on the one hand analog cinema and photography are irreversibly relegated to the status of a sub-set of digital media whilst at the same time, the moving image, in particular Two trends associated with this condition of the image are crucial in identifying the way in how electronic and digital technologies assimilate and reformulate analog media: on the one hand, analog media such as cinema and photography follow the hierarchy of the digital hybrid model, which, as noted by Thomas Levin (Levin, 2006, p. 206), alters the way in which cinema and the classical model of photographic representation act, on the other hand, the tendency towards hybrids and the configuration of mixed models, which involve different modalities of passages and crossings between the images, establish, in the case of the fundamental relationship between photography and cinema, a whole new array of adamant technical digital moving image, is increasingly associated with static photography, bringing forth new modalities of passages between images that are frequently remains valid from a physiological point of view, it refers to a type of research that has clear boundaries between different types of stimuli and responses, between subject and object, and perception and action’ (FATORELLI & BRUNO, 2006, pg. 13). The new status of the technical contemporary image is defined when it is no longer possible to distinguish between these two poles that, traditionally, outlined stable thresholds, but are here separated in space and constitutively different. associated to other temporal dimensions. The digital hybrid relates a precarious support image to an observer, who has to play ever increasingly more productive roles, which simultaneously triggers the crisis of the object and the emergence of the new more productive role of the observer. ‘It is known that in modern terminology, the notion of threshold sets the minimum intensity that is needed for stimulus to elicit a response or feeling. Even if this concept As it centers the body, the flexibility of the support gives rise to a convergence with no media precedence, often promoting the crossing of different strata of media. What follows from these overlapping effects is a condition of modularity, now based between media systems, rather than on the constitutive mode of individual digital images. The emergence of a new logic of temporality of the images arises from the overdetermination of digital technologies over photochemical-based images. “debris”, 2010. Vídeo instalação, 12:00 min (ciclo), vídeo (3 canais) e áudio Hybridizations In this period of transitions, we see the emergence of a significant number of works that are reliant on complex architectures, projections on multiple screens and the combination of different visual forms such as photography, drawing, video and digital images. Our assumption is that these works, from the way they are displayed and the aesthetic experiences that they provide, express the potential of the contemporary hybrid. They are unique cultural expressions that communicate current experiences. The photographic images, the videos and the digital processing frequently seen in the work of Cleverson, such as New York from 2003, Real de Catorze from 2005, and Mexico City from 2007, showcase this singularity of the current image. In these works, passages, shown in various ways in the many trips taken by the artist, are emphasized by the hybrid treatment of the image, which moves between video, photography and digital post-production. With these shifts in territory, the artist allows his body to drift in space and time, contracting experiences gained in distant areas and from primeval times. The artist’s historic, emotional and existential experience throughout his artists experience is communicated taking into account both past and current experiences. In Mexico City (Mexico City, 2007) for example, we see the long trips made by European colonists and the resulting cultural and social impacts on locals, whilst in Void-Real de Catorze (Real de Catorze, 2005) we see the perverse routes of narcotourism in forgotten territories of the third world, and in Golden Years (Golden Years, 2004) we see the indelible marks of urban violence in the real and imaginary life of preteen students of a school in Brooklyn, NY. The artist’s frantic race against time and forgetting, recurrent in countless shifts from one edge of the frame to the other, is done anonymously through the use of an impersonal black cut out silhouette put against a background of an immutable landscape. The sharp contrast between the mobility of the figure in the foreground seen in permanent movement with the static landscape in the background, communicates the anxiety prevalent in present-day experiences, simultaneously critical and impotent when faced with the bare facts. Like with the work of Jeff Koons, Matthew Barney and Cindy Sherman, the artist puts himself in the work, and in Cleverson’s case, this is done to update the collective unconscious, the anxieties and desires of a generation. The artist’s body serves as an opaque screen, over which fragments of a collective imagination are inscribed. This imaginary collective is at once singled out by the artist’s prompt action and at the same time taken as an index of the expectations of an era. In Cleverson’s work there is a clear and inescapable contrast between violence and seduction, reinforced by the recurrent use of the image repeated in a loop. This is the plot of the game between the three bathers (Progresso Humano 2004), a man and two women by the sea, almost sensual and already aggressive. The same gesture is successively resumed, and a circular camera movement that always partially reframes the characters, indicates this threshold between pleasure and pain, between expectation and the evidence of contact. In an another way, but equally marked by the artist’s scrutinizing look at the imaginary of an era, we are confronted with renewed modalities of negotiation between the desire for the future and the feeling of frustration associated with the present. Hopelessly, we will not remain the same after September 11. The dark shadow, now cut in the shape of a shark, confronts itself precariously, in between buildings, with the New York skyline, now devoid of the twin towers (Atlantis, 2002). The excessively white armor of these two beings, half diver, half astronaut, traveling on the ferry between mythological New York and the former Staten Island prison (New York, 2003), show throughout the whole trip a prosaic experience that seemed to allow, a long time ago, the aspirations to a promising future. What prevails in this work is the indelible feeling that something happened and changed the course of history for good. From this moment on, the drama between the desire to achieve and the fear of being will redefine and compromise for good the game of ambivalence, playful and empowering, between opposites. It is this same dynamic that is present in the utopian figure of Superman (Clevelandia 99, 1999), the icon of American adventure, now motionless and wheelchair bound. In these works shadow is used as a powerful metaphor of how the artist inserts himself in his own work and, semantically speaking, as the rate at which it slides towards this murky region, threatening and essentially castrating that occurred in the period of experimentations. Matter of factly, Cleverson faces this regression from the standpoint of being able to make art today, playing with ideas of humor and irony, always maximizing the tools with which he works. The same can be said of the female character in King Kong (West, 2003), who serves as the subject of seduction then transfigured as the subject of the action, instead of following the narrative plot of the original King Kong. But is it really possible to subvert the logic of this cliché, which envelops the classic relations of submission? The work intends on showing this apparent contradiction and questions, in an unsettling way, its possibility. The hybrid works that make up the Debris -Andes:somewhere between Chile and Argentina – Naturezas Falsas series use another strategy. They consist of images initially produced on video, recorded in the course of long, recurring walks along regions between Chile and Argentina. These are later edited frame-byframe and then contoured with Nankin and masking tape, among other materials. In the final assembly, these images are put together, in a new circuit of passages, to reproductions of stuffed animals Americas dead nature. These mixed technical procedures, referring both to ethnographic material and today’s symbolic inventory, lend a manifestly surreal atmosphere to these images. These peculiar forms of association combine hyperrealistic pictures of dead nature, landscape photographs (such as the images “Pedra da Gávea” and “PatagoniaArgentina”) and images created in photoshop, also images captured by the artist, with the moving images of the video, so as to naturalize the artifice and at the same time, produce an effect of estrangement from nature. The intersections between the fixed images of the drawings and photography to the moving image of the video, reinforce this state of indiscernibility between appearance and essence, producing a new, impure, hybrid entity. Through different paths, the images in this last series return to the concerns present in Cleverson’s early work, as if a line of tension crosses them indistinctly. The work of art located on the threshold between the authorial, unique gesture, and the imaginary of a time marked by image, by the passages between images and by the passages in the images, with the power to incite powerful thinking and emotional intensity. References BELLOUR, Raymond. Entre-imagens. Campinas: Editora Papirus, 1997. DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004. FATORELLI, Antonio e Fernanda Bruno (orgs.). Limiares da imagem – Tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. ________. Movimentos improváveis – o efeito cinema na arte contemporânea. LEVIN, Thomas. “O terremoto de representação: composição digital e a estética tensa de imagem heterocrônica” in Antonio Fatorelli e Fernanda Bruno (orgs.), Limiares da imagem: tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. “ROCKAWAY”, 2003. Vídeo 4:30 min (ciclo), filme Super 8 transferido para DVD “FROM BROOKLYN”, 2005. Fotografia digital (impressão em Lambdaflex), 40 x 50 cm (16 x 20 IN.) “ANDES: algum lugar entre chile e argentina “ANDES: algum lugar entre chile e argentina”, 2006. Vídeo 5:00 min, áudio (2 canais), DVD “ANDES: algum lugar entre chile e argentina”, 2006. Grafite sobre parede, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, Brasil (Foto: Rafael Dabul) Estudo para “ANDES: algum lugar entre chile e argentina”, 2006. Grafite sobre papel, 100 x 72 cm (391/2 x 281/2 IN.). (Foto: Liudi Hara) Detalhes da instalação “FRONTIERS: A JOURNEY THROUGH THE AMERICAS”, 2006. M.Y. Art Prospects Gallery, Nova York, EUA. (Fotos: Artur Ratton Kummer) Estudo para “ANDES: ALGUM LUGAR ENTRE CHILE E ARGENTINA”, 2006. Estúdio do Artista, Nova York, EUA Estudo para “ANDES: algum lugar entre chile e argentina”, 2006. Grafite sobre papel, 100 x 72 cm (391/2 x 281/2 IN.). (Foto: Liudi Hara) DEBRIS “DEBRIS”, 2010. Fita adesiva e MDF sobre parede. Instalação (Casa Cor), Curitiba, Brasil. Estudo para “DEBRIS” #1, 2010/2011. Grafite sobre papel, 48 x 60 cm (19 x 231/2 IN.) Estudo para “DEBRIS” #2, 2010/2011. Grafite sobre papel, 48 x 60 cm (19 x 231/2 IN.) Estudo para “DEBRIS” #5, 2010/2011. Grafite sobre papel, 48 x 60 cm (19 x 231/2 IN.) Estudos para “DEBRIS” #3 e #4, 2010/2011. Fita adesiva e grafite sobre papel, 100 x 72 cm (391/2 x 281/2 IN.) Estudo para “DEBRIS” #6, 2010/2011. Grafite sobre papel, 48 x 60 cm (19 x 231/2 IN.) Detalhe de estudo para “DEBRIS” #7, 2010/2011. Grafite sobre papel, 48 x 60 cm (19 x 231/2 IN.) Detalhe da instalação “DEBRIS”, 2010. Fita adesiva sobre parede. Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (Foto: Rafael Dabul) Detalhe da instalação “DEBRIS”, 2010. Fita adesiva sobre parede. Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil “DEBRIS (Catastrofismo)”, 2008. Imagens do vídeo clipe da banda Cassim & Barbária Natureza Morta da América do Norte “natureza morta da américa do norte #1”, 2010. Impressão de jato de tinta sobre papel Hahnemuhle Photorag 308 g, 50 x 60 cm (20 x 24 IN.) “NATUREZA MORTA DA AMÉRICA DO NORTE #2”, 2010. Impressão de jato de tinta sobre papel Hahnemuhle Photorag 308 g. 110 x 80 cm (431/2 x 311/2 IN.) “NATUREZA MORTA DA AMÉRICA DO NORTE #3”, 2010. Impressão de jato de tinta sobre papel Hahnemuhle Photorag 308 g. 110 x 80 cm (431/2 x 311/2 IN.) “NATUREZA MORTA DA AMÉRICA DO NORTE #5”, 2010. Impressão de jato de tinta sobre papel Hahnemuhle Photorag 308 g. 110 x 80 cm (431/2 x 311/2 IN.) “NATUREZA MORTA DA AMÉRICA DO NORTE #9”, 2010. Impressão de jato de tinta sobre papel Hahnemuhle Photorag 308 g. 110 x 80 cm (431/2 x 311/2 IN.) “NATUREZA MORTA DA AMÉRICA DO NORTE #10”, 2010. Impressão de jato de tinta sobre papel Hahnemuhle Photorag 308 g. 110 x 80 cm (431/2 x 311/2 IN.) “NATUREZA MORTA DA AMÉRICA DO NORTE #11”, 2010. Impressão de jato de tinta sobre papel Hahnemuhle Photorag 308 g. 80 x 60 cm (311/2 x 231/2 IN.) TRECHOS DE UMA CONVERSA ENTRE FERNANDO BURJATO E CLEVERSON ANTUNES DE OLIVEIRA SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 2010 “Cleverson, a exposição fala de viagem - e não é a primeira mostra sua com esse assunto. Gostaria que você falasse um pouco das viagens que deram origem a esses trabalhos, quando isso ocorreu, e para onde foram. Você resolveu viajar para esses lugares pensando em criar trabalhos de arte, ou isso veio depois?” “Bem, olhando para trás, diria que o que deu início a isso tudo, foi a primeira vez que fui aos Estados Unidos, em 1996. Na primeira vez que essa ideia brotou na minha cabeça, foi de fazer um retorno ao Brasil, por terra, percorrendo o continente Americano, de Norte a Sul. A ideia me pareceu bem atraente. Dois meses depois, voei, retornando ao Brasil. Fiquei cinco meses no Brasil, em 1996. Após o retorno ao Brasil, fiquei só pensando na ideia de América, como os americanos se referem aos Estados Unidos. O que isso queria dizer, e em todas as possibilidades desta primeira ideia, de cruzar grandes distâncias de uma maneira lenta, andando, vagando, observando o continente, a América… Quando cheguei aos Estados Unidos pela segunda vez, a ideia de voltar percorrendo esses caminhos ficou adormecida… Nova York proporcionava um cenário sedutor, terrenos bem interessantes a serem observados… Isso foi começo do meu namoro com essas ideias, conto este período como uma das primeiras viagens. A condição de se estar em outro lugar, de anular uma identidade comum, longe de coisas que nos identificam, e que nos classificam, a ideia do Forasteiro, é fascinante… Acho que tem algo que se assemelha ao universo das estórias, dos mitos, Cristo, Ulisses, Macunaíma… Ir até algum lugar e voltar. Passaram-se 10 anos, lá do Brooklyn, na margem leste do East River. “Você considera essa uma exposição de fotografias? Ao mesmo tempo, você mostra numa exposição coletiva chamada “O estado da arte”, no MON, um desenho e uma instalação, que na verdade é um desenho no espaço. Como você relaciona esses dois aspectos da sua produção?” Houve o contato com americanos-latinos, colombianos, equatorianos, porto-riquenhos, judeus ortodoxos e não ortodoxos, irlandeses, afro-descendentes, chineses, árabes, indianos. Foi intenso… Em algum momento percebi que estas passagens já eram parte de uma impressão sobre aspectos das Américas, que diziam respeito a muitas Américas…. e o trabalho que eu vinha desenvolvendo, na época, já refletia um pouco os pensamentos sobre este universo, sobre o homem americano. A conclusão de que eu gostaria de que a minha arte tratasse destes assuntos deu uma nova direção ao trabalho. Então, pra começar, decidi que iria andar pelos desertos do Norte do México, guiado por todo o universo cinematográfico/publicitário/ literário – impressão e visão de mundo, dócil e paciente, comportamento de consumidor de mídias. Um lugar chamado pelos nativos de Huicholees, Vericuta, evocando o mundo dos viajantes, que documentaram o continente Americano, o México de Norte a Sul… Adentrando pelo norte,Texas. O destino final desta primeira viagem foi Uruguaiana, no Sul do Brasil. Entrei pela Argentina depois de ter descido até o Chile pela Costa Leste.” “A exposição do Solar do Barão, no Museu da Fotografia, mostra um fragmento destas minhas ideias, um exercício dentro de um suporte que determinamos como terreno da arte, suporte nesse caso, é a imagem impressa em papel fotográfico. Ela mostra um conjunto de documentos (captados por uma câmera fotográfica digital, simples e automática e também câmeras de filme convencional, uma câmera de Super 8), imagens de alguns lugares, como de um campo criador de ovelhas próximo à serra. Uma sala que imita uma natureza selvagem, recriada pelo homem, o objeto fotografado. É uma representação de um animal silvestre, empalhado ou recriado, no Museu de História Natural de Nova York… traços de uma passagem, de um observador que carregava consigo um objeto de captação de realidade… uma câmera fotográfica, híbrida, que também faz vídeos, como a de qualquer outro turista… Em um outro momento, quando atravessava a Cordilheira dos Andes, captei alguns minutos de imagem e som, na passagem do Chile para a Argentina. Essas imagens captadas pela câmera de vídeo, que era a mesma que usei pra captar as imagens em Nova York, foram depois cuidadosamente analisadas, e alguns dos frames foram escolhidos para serem os representantes desta passagem. Se transformaram em imagens fixas, impressas em papel, deslocando-se de um primeiro suporte, um arquivo digital, armazenado em meu computador, para uma cópia em papel, que transformou-se em objeto, a partir de uma máquina copiadora digital e pigmento preto sobre o papel branco. Esta cópia é o registro, que será copiada novamente e levemente alterada. Ela se transforma, então, em desenho, um desenho a nanquim, que posteriormente é digitalizado, por um escaner ou câmera fotográfica digital, quando torna-se novamente um arquivo digital, que pode ser projetado em várias superfícies, com o uso de um projetor LCD. As projeções dos desenhos materializam-se e preenchem o espaço… De uma maneira analógica, mecânica, esta paisagem é recriada tridimensionalmente, acomodando-se aos planos arquitetônicos, a silhueta negra do autocontraste dos desenhos em nanquim. Projetada, serve de registro para ser novamente fixada ou coberta por adesivos sobre as paredes e o chão… Este processo de passagem também caracteriza esta pesquisa, que se transforma em ação materializada ou corporificada dentro da minha obra.” “Sua exposição chama-se “Fronteiras: uma jornada pelas Américas”, e acho que a palavra “fronteiras” aí pode ter vários sentidos, e não apenas os limites entre os países, você concorda? De que fronteiras a exposição trata?” “Sim, concordo, o tema Fronteiras é o mote para uma subjetividade, a faísca que ativa o pensamento e as impressões sobre este conjunto de obras. Sabemos que a arte tem esta capacidade, de propor subjetividades. Propor subjetividades como exercício artístico, através de imagens registradas em vídeos, fotos e desenhos. São ações constantes em minha pesquisa… Agregar e cruzar algumas modalidades e suportes, e alguns limites entre situações físicas, ou da manufatura e processo de um trabalho de arte… Nesta série de trabalhos, fazer este cruzamento, emprestar do mundo da publicidade (como nos comerciais de cigarro dos anos setenta, ou da história das imagens do cinema americano), e adentrando e evocando o mundo da arte dos viajantes, que documentaram o continente americano. Usar o grande título “Fronteiras: uma jornada pelas Américas”, é uma estratégia de percepção, uma releitura, um comentário sobre o mundo das relações públicas, do mundo que constrói a cultura, assunto pertinente a ser explorado neste conjunto de coletas. Camuflar-se, e tornar-se um voyer. O observador do passante, gravar o passo do passante, a também sua respiração. Tarefa que se apresenta quase como a de um arquivista, nestas operações, pertencem ao campo das artes visuais, mimetizando cinema, televisão e fotografia, um sentido psicológico de pensar o tema, um passageiro, documentando a passagem. Estas modalidades de mídia, constroem por si só, uma cronologia imagética da história. E o grão do filme Super 8 – o próprio filme Super 8 –, já tem uma relação com temporalidade. Lembra filmes de família. Isso já contém um aspecto simbólico.” “A partir daí – ou quem sabe desde sempre –, seu trabalho é sempre preto e branco, ou quase preto e branco. Mesmo o vídeo Atlantis, que é colorido, tem as cores pouco saturadas. Lembra um pouco um filme envelhecido, um slide que desbotou.” “Aquela foi minha primeira experiência com filme, com movimento. Não lembro se impus algum limite, mas aceitei como aconteceu. Vi o filme, coloquei a música e pseudo-editei: não tem quase nada de edição ali. Mas o grau de comprometimento com a realidade vai se distanciando. A lente, a transferência para DVD, o esmaecimento da cor, o movimento. O número de frames por segundo é diferente do vídeo, e também tira essa distância. A música entra como mais uma camada. É quase como você ver uma direção sugerida por uma pincelada de um De Kooning: contém uma orquestração dentro daquele universo. A música ajuda a selar. A música quase não é sentida apenas pelos seus ouvidos: da ação, se vemos num vídeo um braço puxando uma pessoa, por exemplo, a música ajuda a acentuar esta ideia. As músicas limitam espaços de tempo. Criam atmosfera, como a luz.” Detalhes da vídeo-instalação “Fronteiras: Uma Jornada Pelas Américas (Brasil)”, Museu da Fotografia da Cidade de Curitiba, Solar do Barão, 2010 Agradecimentos PAGU LEAL, FELIPE MICHELENA, RAFAEL MILANI, CAROLINA FARION, FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA, ANA GONZALEZ, RODRIGO FERREIRA MARQUES, RAFAEL DABUL, ALFREDO GOMES FILHO, IGOR DANTAS, ANA CAROLINA ROCHA, WILLIAM SANTOS, SAMUEL DICKOW, GERALDO LEÃO, FERNANDO BURJATO, ANTONIO FATORELLI, ARTHUR FREITAS, LEANDRO SALGUEIRINHO, DRAUSIO RAFAEL HADDAD, CASSIANO FAGUNDES, CRISTINA LOUREIRO, MAURÍCIO ROSA, JACKSON MOLDURAS, ALBERTO DY, LETÍCIA DRANL ZUKWL, WANDERLEY E JUSSARA ANTUNES DE OLIVEIRA, MIYAKO YOSHINAGA, CINTIA RIBAS, DENNIS JULIAN CHYLA, ALZIRA FERREIRA, SONYA COLLINS, CHARLIE GRIFFIN, SHAWN BUTLER, CRISTINA DIAS AMADEO, PATRÍCIA SOLDATI, DANIEL CARVALHO, JORGE ELMOR, IVO MESQUITA, ELIANE PROLIK, MARCO OLIVEIRA, GABRIELA GIGLIOLI, PAULO HERKENHOFF, MAXI COHEN, NEIL KONIGSBERG, PAC LAB, THE SOUND SCAPES, ROGER ROTHSTEIN, MOSSA BILDNER, SYLVIA MARTINS, ARTUR RATTON KUMMER, LILKA NAKANISHI, KIKA VON KLUCK, VIK MUNIZ, LIUDI HARA, RAUL ZAMUDIO, TOM ZUMMER, RUDA E DENISE, JÔ BISCAIA E ANDRÉ BISCAIA, BEATRIZ BASTOS, MARCIO RICCELI, MARCO MELLO, TUCA NISSEL, DEBORA SANTIAGO, ORPEC. CLEVERSON ANTUNES DE OLIVEIRA NASCEU EM CURITIBA, EM 1972. OBTEVE O BACHARELADO EM ESCULTURA PELA ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ EM 1994. DE 1996 A 2008, VIVEU EM NOVA YORK ONDE ESTUDOU HISTÓRIA DA ARTE NA NEW YORK UNIVERSITY. VIVE E TRABALHA EM PIRAQUARA, PRÓXIMO A CURITIBA, BRASIL. BORN IN CURITIBA IN 1972.STUDIED AT ESCOLA DE MUSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ (B.A. IN SCULPTURE) IN 1994.LIVED IN NEW YORK FROM 1996 TO 2008. THERE, STUDIED ART HISTORY AT nEW yORK UNIVERSITY. LIVES IN PIRAQUARA, NEAR CURITIBA, BRAZIL.