48 Artigo original PROCESSO DE APRENDIZAGEM POR MEIO DO JOGO NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL PAIXÃO, Anie Caroline Gonçalves1 Anie Caroline Gonçalves Artigo submetido em 20/07/2012 Artigo aceito em 10/08/2012 Correio eletrônico: [email protected] RESUMO Embora sucinto este artigo tem pretensões de discutir de forma efetiva os elementos possibilitadores do ensino aprendizagem dos conceitos de imitação e internalização na infância, para tanto, utilizamos o referencial da teoria Histórico-cultural como instrumento, afim de, facilitar a compreensão dos pressupostos do desenvolvimento infantil Deste modo procuramos avançar nestas questões para contribuir na criação de ambientes mais humanizadores em nossas escolas. O jogo irá trazer para a criança um desenvolvimento de forma significativa e integrada, como a ampliação do mundo social, das relações sociais, progredir na coordenação motora, emocional, raciocínio lógico, comunicação. O professor é o agente que leva a humanização, pois é o sujeito que irá ser o mediador atuante em sala de aula, deve também preparar atividades que desenvolvam nas crianças as habilidades posta acima. Deste modo é fundamental que o professor compreenda e domine os conceitos do jogo para trabalhar com as crianças. A teoria histórico-cultural dará suporte para este processo contínuo que é o ensino aprendizagem. Palavras-Chave: Infância; Teoria Histórico-Cultural; Humanização; jogo. 1 Licenciada no curso de Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCT/UNESP) e atualmente cursa Licenciatura em Pedagogia pela União das Instituições do Estado de São Paulo (FAPEPE/UNIESP), também realiza o curso de pós-graduação em Educação Matemática junto a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e é membra do grupo de pesquisa Cultura Corporal: Saberes e Fazeres. 49 ABSTRACT Although brief this article has pretensions to argue of form accomplishes the elements possibility of education learning of the imitation concepts and to place for inside in infancy, for in such a way, we use the reference of the Description-cultural theory as instrument, similar of, to facilitate the understanding of the estimated ones of the infantile development In this way we look for to advance in these questions to contribute in the environment creation more to make human being in our schools. The game will go to bring for the child a development of significant and integrated form, as the magnifying of the social world, of the social relations, to progress in the motor, emotional coordination, logical reasoning, communication. The master is the agent who takes the to make human being, therefore is the citizen that will go to be the operating mediator in classroom, must also prepare activities that develop in the children the abilities dispatch by post above. In this way it is basic that the professor understands and dominates the concepts of the game to work with the children. The description-cultural theory will give support for this continuous process that is education learning. Key-words: Infancy; Description-Culture theory; formation of the man; game. tendência de aprendizagem pela observação INTRODUÇÃO do outro. Caso esse processo seja bem Lima (2008, p. 47) nos adverte que para Aristóteles o jogo é um meio de relaxamento, divertimento, descanso e resgate de energias para as atividades humanas “sérias”. Apesar do trabalho ser considerado a atividade mais importante, o jogo era o meio de recuperação para a atividade produtiva, o que lhe dar status de relevância até mesmo à aquelas atividades pela qual transformou o jogo em algo secundário, ou seja, Aristóteles sucedido, poderá ser copiado pelos demais, o que possibilita o próprio desenvolvimento da sociedade, se não teríamos que está “inventado a roda até os atuais dias”, daí o jogo ter uma fundamental contribuição no processo de aprendizagem e significação do conhecimento já produzido pela sociedade humana, pois há sempre a observação da criança em relação ao adulto ou ao mais experiente. Mello coloca que o processo de não valorizava o jogo como um recurso pedagógico de fundamental importância. Podemos acrescer ainda que a forma de aprendizagem por imitação ao mais experiente é sempre um recurso adotado pelo ser humano e isso é explicado pelo conceito apontado pela Antropologia de imitação prestigiosa, ou seja, a uma internalização em que as crianças aprendem com os mais velhos, como por exemplo, controlar as emoções, falar, imaginar, entre outras, desenvolvem a inteligência e personalidade. Quando a criança utiliza algum instrumento criado por uma pessoa mais experiente ou uma geração passada ela começa a se apropriar de qualidades humanas e da historia dos seus 50 antepassados. Cada objeto demonstra a crianças”. Neste caso o educador é o qualidade de uma geração, o seu avanço mediador das atividades lúdicas, podendo tecnológico. intervir de forma a enriquecer as atividades Segundo Lima (2008, p. 26), existe propostas aos alunos. uma tendência nas instituições de não abrir O professor é o adulto que interage espaço para o jogo e nesta perspectiva a com a criança com o objetivo de promover atividade é vista como empecilho para a seu processo de humanização. aprendizagem, pois desconcentra e dispersa a criança. Devido a escola não possuir espaços adequados, nem material, nem tempo para desenvolver os jogos, fica ainda mais difícil o seu emprego como um valioso suporte para a aprendizagem. Tendo em vista o exposto acima, entendemos ainda que a atividade lúdica promova a familiarização com o mundo cultural e social, pois quando a criança Na antropologia, humanizar é o processo pelo qual todo ser passa para se apropriar das formas humanas de comunicação, para adquirir e desenvolver os sistemas simbólicos, para aprender a utilizar os instrumentos culturais necessários para as práticas mais comuns da vida cotidiana até para a invenção de novos instrumentos, para se apropriar do conhecimento historicamente constituído e das técnicas para a criação nas artes e criação nas ciências. (LIMA, 2007, p. 18). O professor é o agente que leva a joga, ao mesmo tempo, também reproduz e humanização, e sua ação é desenvolvida em recria o que tem aprendido com os mais grande parte dentro da escola que tem o experientes e desenvolve nas atividades papel de cumprir um objetivo antropológico lúdicas coletivas os seus aspectos: afetivo, muito importante: “garantir a continuidade emocional, moral, social, cognitivo, motor, da espécie, socializando para as novas já que todos eles, em maior ou menor grau, gerações são solicitados quando se está jogando. resultantes do desenvolvimento cultural da Ao contrário do que a maioria das instituições propõe e invenções humanidade”. (LIMA, 2007, p. 17). Segundo Lorenzato (2006, p. 25), desenvolve, Lima (2008, p. 33) sugere que para a aprendizagem de matemática os a proporcionar conceitos de correspondência, comparação, “experiências prazerosas, diversificadas”, classificação, seqüência, seriação, inclusão para que assim se possa desenvolver no e conservação, devem ser abordados junto aluno a capacidade de expressão, de às crianças de forma clara e variada. Sendo comunicação e de interação social. Sendo uma das maneiras de produzir o domínio do um dos deveres do professor “ajudar a conceito pelo aluno é trabalhar com deve pelo aquisições menos aprendizagem ou as estruturar o espaço e o tempo de brincar das 51 um conteúdo dá-se ao longo do tempo. Trabalhar muitas vezes o mesmo conteúdo, de formas diferentes, promove a ampliação progressiva dos conteúdos. (LIMA, 2007, p. 35). material concreto, visando obter mais experiência e desenvolver as habilidades que serão enraizadas com as práticas. Dessa maneira estes conceitos Para que o conhecimento seja devem ser colocados no currículo da escola formado é necessário que ocorra uma infantil para ser abordado de forma relação com o que já foi aprendido com o significativa ao longo do ano. Moreira e que esta armazenado na memória formando Candau (2007, p. 18) entendem “currículo uma nova integração. como as experiências escolares que se O jogo, quando adequadamente desdobram em torno do conhecimento, em empregado, meio a relações sociais, e que contribui para concentração, a construção das identidades de nossos/as persistência, inteligência, raciocínio lógico- estudantes”. matemático e emoção. Devemos ressaltar pode desenvolver memória, a atenção, Não podemos deixar de mencionar que o jogo é uma atividade processual, seu que ao exercitar a aprendizagem por meio fim central não é produto e portanto, não é do jogo, o professor alcançará uma uma atividade usada para fins financeiros aprendizagem significativa e possibilitará ou de enriquecimento, mesmo que ele possa conexões com o que a criança já sabe e o aperfeiçoar que aprenderá posteriormente, valorizando profissionais daqueles envolvidos. de forma diversificada tanto o currículo informal quanto o formal. Ainda, podemos Tendo a capacidade o jogo criativa um e caráter fundamentado necessariamente no prazer e recorrer a na liberdade daqueles que os realiza, Lorenzato (2006, p. 11) quando este afirma oferece amplas possibilidades de superação que a “criança aprende pela sua ação sobre de obstáculos “quase fictícios, feitos á sua o meio onde vive”, ao agir sobre os objetos medida e por ele aceitos.” (LIMA, 2008, a criança se desenvolve aprendendo com as p.43). suas sensações e percepções. É essa interação com o espaço e Santana (2008, p, 40) inicia a tempo, discussão colocando que o sujeito não vivenciados, que faz com que a criança nasce um ser humano ele se torna um realize uma aprendizagem de uma maneira homem, ao nascer possui a constituição significativa. biológica necessária para se desenvolver, “só se tornará homem através do processo Para que ocorra a aprendizagem é necessário retorna-se o conteúdo em momentos diferentes, pois o domínio de de humanização, que torna possível o desenvolvimento das aptidões humanas”. 52 Oliveira ao tratar do vão se apropriando das qualidades humanas desenvolvimento e do processo sócio- e nota através destes materiais a evolução histórico salienta que “o homem biológico da sociedade que esta inserida. transforma-se em social por meio de um Ao se apropriar da cultura humana e dos significados sociais, o sujeito atribui a estes significados culturais, que são constituídos socialmente, o seu próprio sentido, fruto de sua própria vivência, dando um sentido pessoal ao já estabelecido durante a história da humanidade. (SANTANA, 2008, p, 42). processo de internalização de atividades, comportamentos e signos culturalmente desenvolvidos.” (1997, p. 102). Vygotsky foi aqueles quem mais trabalhou na área conhecida como “pedologia” (ciência da criança, que integra os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos entre outras), isso lhe possibilitou a compreensão e o desenvolvimento de teorias que comprovam que a humanização é um fenômeno As relações humanas ocorrem por duas formas que são por apropriação da cultura e por transmissão, através da cultura, estes desenvolvimentos de humanização ocorrem pela principal fonte que é por meio da comunicação. histórico cultural. A construção do real parte, pois, do social (da interação com outros, quando a criança imita o adulto e é orientada por ele) e, paulatinamente, é internalizada pela criança. Assim, no pensamento silencioso, a criança executa mentalmente o que originalmente era uma operação baseada em sinal, presente no diálogo entre duas pessoas. Esta internalização da fala, assim como dos papéis de falante e de respondente, ocorre, aproximadamente, dos três aos sete anos. Tal diálogo interno libera a criança de raciocinar, a partir das exigências da situação social imediata, e permite-lhe controlar seu próprio pensamento (VYGOTSKY, 1979 In: OLIVEIRA, 1994, p. 44). O ponto central da teoria formulada por Vygotsky é que as funções psicológicas superiores são de origem sócio-cultural e emergem de processos psicológicos elementares, de origem biológica, através da interação da criança com membros mais experientes da cultura. Tal interação propicia a internalização dos mediadores simbólicos e da própria relação social. Em outras palavras, a partir de estruturas orgânicas elementares da criança, determinadas basicamente pela maturação, formam-se novas e mais complexas funções mentais, a depender da natureza das experiências sociais a que ela está exposta. (OLIVEIRA, 1994, p. 43 ). Santana O processo de humanização ocorre ao comentar Leontiev quando a criança convive com pessoas mais afirma que o processo de educação é um velhas que irão transmitir suas experiências processo de comunicação entre os seres de forma intencional ou por meio da humanos, isso por que através da cultura o observação da criança. Assim, quando usar- homem vai promovendo suas aptidões e se um instrumento são passados culturas construindo sua individualidade. (2008, p, armazenadas da humanidade, e os sujeitos 43). 53 Desta maneira Santana cita Leontiev coletivos porem neste momento as (1978) para salientar os aspectos da indagações e suas eventuais respostas são individualidade características internas, estritamente psíquicas, mesmo que adquiridas a partir do desenvolvimento das a partir de uma relação histórico cultural relações sociais em que o homem faz parte, social, já as relações interpessoal exigem mediante ao processo de educação. Sendo necessariamente então as condições humanizadora: material entre a primeira pessoa EU e enquanto A existência concreta do objeto – enquanto instrumento necessário à vida; A atividade adequada – aquela que esta inserida na realidade social, que propicia situações de re-produção do uso do objeto, de acordo com sua função social. Nela, a relação do sujeito com o objeto é mediada pelo educador, ou seja, pela pessoa mais experiente; A garantia de um processo dialógico, fazendo com que seja ativo em todo o processo. (LEONTIEV (1978) In: SANTANA, 2008, p, 43). O homem para se humanizar precisa uma separação física demais pessoas TU e ELES, desse modo há uma dependência de mais de um individuo, sendo também frutos das relações histórico cultural social. Os momentos interpessoal e intrapessoal não ocorrem de forma isolada, mas simultaneamente. Dessa maneira demonstra-se que “a criança aprende nas relações interpessoais e se apropria destas funções executadas coletivamente e, assim, se torna capaz de se objetivar em um nível cada vez mais dos instrumentos da sua cultura, aprender a elaborado, usas estes objetos o que o leva a usar a desenvolvimento”. (SANTANA, 2008, p, comunicação em todo o tempo deste 44). O mais experiente causa na criança processo de educação. uma espécie de conhecimento daquilo que promovendo assim o seu Santana (2008, p, 43) faz referencia faz, “capaz de dominar sua própria ação a Vygotsky por este entender como lei geral através de sua própria consciência e “que o desenvolvimento do psiquismo na controle” (OLIVEIRA, 1994, p. 44), até criança, que abrange todos os aspectos que seja capaz de refletir sobre suas atitudes intelectuais, emocionais e da personalidade, indo para um outro estágio de consciência. passa por dois momentos: um interpessoal e Segundo Santana (2008, p. 45), o intrapessoal”. Sendo que quando as relações desenvolvimento são intrapessoal o sujeito dialoga consigo quando a uma mudança no nível proximal, mesmo, dessa forma o EU e o TU que ocorre por meio de situações exteriores. constituem a mesma pessoa, o caso é que os São situações sociais mantidas com a elementos que embasam essa intra-relação criança e por ela. são os mesmo já desenvolvidos em âmbitos da criança acontece 54 Daí vem o destaque à ação intencional do adulto nas relações que estabelece com as crianças pequenas. Como intencionalidade entende-se a ação refletida do adulto que sabe, cientificamente ou conscientemente, quais valores humanos, sentimentos, formas de pensamento, capacidades, aptidões quer transmitir a criança e como fazê-lo. De acordo com a maneira pela qual o adulto reage a uma iniciativa da criança, está estabelecido um processo de comunicação entre esses sujeitos, que garantirá o processo de desenvolvimento. (SANTANA, 2008, p, 45). situações que tragam novas experiências à criança, a tornando um sujeito reflexivo com suas vivência. Ao mesmo tempo em que a criança aprende a agir sobre os objetos construídos socialmente, observando, comparando, compreendendo a constituição dos objetos, dos jogos, dos desenhos, etc., ao formar suas ações práticas, forma também as ações internas, que são operações de percepção, da razão, da imaginação, da memória, que acompanham e dão articulação e sentido às ações práticas. (SANTANA, 2008, p, 47). A criança inicialmente se utiliza para comunica-se ações que foram A criança não nasce comunicativa, inicialmente utilizadas para com ela, que vai se tornando a medida que vai sentindo serão reproduzidas com outras pessoas até necessidade e compreendendo que pode chegar a sua individualidade no modo de se chamar a atenção do adulto para si. Então é comunicar. de fundamenta importância a A comunicação é um conceito intencionalidade do adulto em transmitir primordial para o desenvolvimento da valores a criança, como controlar emoções, criança, tanto como individuo singular formar pensamentos, aptidões, tendo em como um cidadão, que se apropria da mente que conforme o adulto age com a cultura criança, ela reproduziram da mesma forma. histórica acumulada pela humanidade. Daí se torna relevante o papel da comunicação no processo histórico do ser enquanto unidade e enquanto humanidade global é o que afirma Santana: “sem a comunicação não teria como as novas gerações adquirirem a herança cultural construída historicamente e que dessa forma ela se perderia, Leontiev (1978) associa o processo de comunicação ao processo de educação”. (2008, p, 46). Devemos levar em consideração a intencionalidade do adulto em relação à educação da criança para proporcionar A concepção que o adulto tem de criança e de infância condiciona as expectativas do adulto sobre a criança e os papéis que ela exerce dentro de seu grupo social, ao longo de todo o seu desenvolvimento psíquico, sob a forma de condições concretas que o adulto propõe para a criança. (SANTANA, 2008, p, 49). Segundo Santana o individuo vai se apropriando das qualidades humanas ao longo da sua formação, sendo aprimorado o repertorio de comunicação a medida que vai crescendo e desenvolvendo-se. Este desenvolvimento é realizado ao passo que 55 se apropria da cultura histórica com potencial em que a criança precisa do relações interpessoais (2008, p, 49). auxilio de um parceiro mais experiente, já o Ao observar uma pessoa mais desenvolvimento real é quando a criança experiente e ao reproduzir a ação a criança pode realizar de forma independente e esta realizando um ato de construir o que já autônoma existe desenvolvimento real da criança e o seu para seguir fazendo novas conjecturas. é a distancia entre o desenvolvimento potencial que deve ser privilegiada pelas instituições educativas. Portanto, vemos que na imitação, a criança não sugere literalmente o modelo, muito de si e de sua reflexão são colocados nesses atos. A imitação é usada pela criança para ser aceita socialmente e para ir compreendendo as regras do grupo do qual faz parte. (SANTANA, 2008, p, 51). Segundo Santana (2008, p. 51), foi Vygotsky que iniciou o conceito de zona de Portanto para avançar o desenvolvimento real é necessário saber o nível de conhecimento da criança para progredir com atividades pensadas para o seu desenvolvimento, a educação é o instrumento capaz de promover a sua maturação. desenvolvimento proximal na psicologia, Sendo então dever das instituições “conceito este que expressa a intima relação educativas por meio de seus professores existente proporciona múltiplas experiências em que entre aprendizagem e desenvolvimento,” assim, a criança poderá se desenvolver plenamente, daí, “o contato das crianças Vygotsky cria um conceito para explicitar o valor da experiência social no desenvolvimento cognitivo. Segundo ele, há uma "zona de desenvolvimento proximal", que se refere à distância entre o nível de desenvolvimento atual - determinado através da solução de problemas pela criança, sem ajuda de alguém mais experiente - e o nível potencial de desenvolvimento medido através da solução de problemas sob a orientação de adultos ou em colaboração com crianças mais experientes. (OLIVEIRA, 1994, p. 44). com as mais diferentes fontes de conhecimento assegura a flexibilidade e o dinamismo do pensamento infantil, ampliando a possibilidade de adquirir novos conhecimentos e meios para a atividade intelectual”. (SANTANA, 2008, p, 53). A flexibilidade e dinamismo vão ser formando a medida que a criança vai ampliando o seu conhecimento sobre os Santana (2008, p. 51) faz uma objetos, num primeiro momento pode ter discussão sobre a zona de desenvolvimento impressões não clara e ao conhecer melhor proximal (ZDP) e o desenvolvimento real, a ter ZDP é a distancia entre o desenvolvimento pensamentos real da criança e o seu desenvolvimento pensamentos podem ser mais complexos a outras impressões, autônomos. formando Estes 56 medida que são desenvolvidas atividades na pré-escola para deixar impressões. O que os pais querem é que as escolas sejam capazes de antecipar a Mello em seus estudos mais recentes aprendizagem dos seus filhos. trata de um modo esclarecedor sobre a presença das crianças entre de três (3) e seis (6) anos na escola infantil. O mundo mudou as suas concepções incluindo o conceito de infância, pois há séculos atrás as crianças trabalhavam, serviam o exército, poderiam até É como se o conceito de criança que começamos a construir a partir da observação e do olhar informado pela Teoria Histórico-Cultural - uma criança forte e capaz de aprender - deflagrasse uma compreensão de que é possível e desejável apressar o desenvolvimento psíquico da criança e, com isso, acelerar o progresso tecnológico. (MELLO, 2007, p. 85). constituírem famílias, isso tudo por que a Este desejo para as crianças terem noção infância era desconhecia entre outras um desenvolvimento de forma antecipada é causas, mas todas estas coisas atualmente cada vez mais comum entre os pais, que são inaceitáveis para a criança, já se pressionam a escola a realizarem um ensino reconhece que ela precisa passar pela fase “avançado”. Mas a criança na educação de maturamento até chegar a vida adulta infantil necessita obter uma educação com para então ser independente. matérias Mello (2007, p. 84) se utiliza das teorias marxistas para dizer que a sociedade manipuláveis, ter varias experiências diferentes para desenvolver suas habilidades. estão O conjunto dos estudos desenvolvidos sob ótica histórico-cultural aponta como condição essencial para essa máxima apropriação das qualidades humanas pelas crianças pequenas o respeito às suas formas típicas de atividade: o tateio, a atividade com objetos, a comunicação entre as crianças, e entre elas e os adultos, o brincar. (MELLO, 2007, p. 85). preenchendo os seus dias com cursos como Com a socialização da criança em natação, inglês entre outros, se preparando relação aos adultos e entre elas mesmas é o para quando forem mais velhas serem que proporciona que possam transformar-se adultos produtivos. Também entendem que em seres humanos, isso por que, o que todas as classes sociais estão cada vez mais difere o homem do animal é a capacidade inserindo as crianças na escola antes dos de planejar o futuro, é o trabalho criativo, seis anos de idade o que não é muito juntamente se apropriando das qualidades aconselhável. humanas, é importante salientar que não atual ainda vive na pré-história humana com relação aos direitos da criança e do adolescente por até hoje não serem assegurados completamente. A autora relata que crianças de classe média e classe alta, estamos tratando neste momento de 57 caracteres biológicos, mas de uma genealogia ontológica. - por pessoas mais experientes”. (MELLO, 2007 p. 87). Tomamos como parte fundante do Esta relação de apropriação pode ser nosso entendimento a Teoria Histórico- realizada também pela observação do Cultural que entende o ser humano e sua aprendiz. Esse conceito – de que o ser humano aprende a ser o que é como inteligência ou personalidade, e de que a cultura e as relações com os outros seres humanos constituem a fonte do desenvolvimento da consciência – revoluciona a compreensão do processo de desenvolvimento que tínhamos até agora. Com a Teoria Histórico-Cultural, aprendemos a perceber que cada criança aprende a ser um ser humano. (MELLO, 2007, p. 88). humanidade como produto da história elaborada e vivida pelos próprios seres humanos ao longo dos tempos. (MELLO, 2007, p. 86). Mello deixa claro que a formação do ser humano parte da apropriação que este faz das qualidades humanas, isso se dar pela adequação dos objetos da cultura histórica e socialmente criados. (2007, p. 86). Na visão Histórico-Cultural é a educação formal e informal que irá A apropriação não é realizada de forma biológica ou genética, mas externas destes objetos utilizados pelos membros da sociedade passada, a medida que vai utilizando ou aprendendo a usar os objetos a criança vai adquirindo qualidades e aprendendo sobre a cultura da sociedade em que esta inserida. proporcionar a apropriação das qualidades humanas pelos mais novos, é evidente que no que concerne a as situações Matemática aprendizagem dirigidas possibilitam um melhor aproveitamento. Esta ideia de apropriação de conhecimentos através da cultura originou a compreensão gramsciana de que a criança será formada As formas de comportamento e de vida em sociedade que tomávamos todos espontaneamente por inatas (nossas maneiras de andar, dormir, nos encontrar, nos emocionar, comemorar os eventos de nossa existência…) são, na realidade, o produto de escolhas culturais. (LAPLANTINE, 1991, p. 22). Grifo meu. por meio da educação para ser um dirigente. Isso ao para teoria histórico-cultural a criança faz entendimento que “essa utilização adequada relações com o mundo aonde esta inserida e dos objetos da cultura exige que a relação rompe com a ideia de ser frágil, incapaz e das novas gerações com a cultura seja totalmente dependente ao adulto para gerir medida - de modo intencional e, em suas atividades. (MELLO, 2007, p. 89). permite chegarmos determinadas situações, também espontâneo Sendo o homem um ser sóciocultural nos permite dizer que a aprendizagem é fonte de desenvolvimento. Daí fica claro que a criança aprende desde o momento de seu nascimento, isso por que, 58 A Teoria Histórico-Cultural criança esta inserida, possibilitando a compreende que a criança desde muito cedo formação de novos motivos de conduta e é vista como um ser histórico-cultural, novas atitudes. capaz de explorar espaços e objetos que Mello coloca que o equivoco esta encontra ao seu redor, tendo capacidade de em ensinar na escola infantil, conceitos se comunicar com outras pessoas, até isolados e pontuais. Separados da realidade mesmo de esclarecer fatos ocorridos com em que faz sentido para a criança, “para a sigo mesmo ou os de mais. Teoria Historia - Cultural, a ausência de um Mello ainda se utiliza de Leontiev enfoque sistêmico em ao para explicar que a infância é um processo desenvolvimento de desenvolvimento humano importante e psíquicas da personalidade humana na que não deve ser acelerada, descrevendo da infância é responsável por esse equivoco”. seguinte forma: “a infância é o tempo em (2007, p. 94). que a criança deve ser introduzir na riqueza das relação propriedades Cada ato de experimento que a da cultura humana histórica e socialmente criança vai tendo criada, reproduzindo para si qualidades psicológicas especificamente humanas”. (MELLO, 2007, percepções, os sentidos, o pensamento, a p. 90). imaginação, a memória, a fala. Que vai como: exige a questões atenção, as Encontramos também em Lima transformando suas relações com o mundo. (2008, p. 17) a proposição de que a infância A escola trata estas questões em partes é distintas, o tempo de aprendizagem, de separada, fragmentada, que desenvolvimento das diferentes funções compromete o sucesso no ensino futuro ou motoras, psicológicas e psíquicas, das continuo. Trazendo dificuldades em todo o potencialidades que surgir e estão obscuras seu percurso escolar, que será refletida em na criança. sua vida adulta. Deste modo podemos afirmar que as A escola na infância trabalha com atividades mais significativas e que prende um enfoque de disciplinar o corpo em a atenção da criança são de caráter detrimento da formação da personalidade, evolutivas, no assim esquece de pensar em formar um aprendizado infantil está ligada ao interesse cidadão, um pai, um filho entre outros que a atividade lhe proporciona. sujeitos sociais. Essa atitude equivocada ou seja, a evolução Sendo assim, a escola não deve ser compromete o desenvolvimento do adulto. tão didatizada para poder levar o aluno a Quando não se dar a devida atenção mudanças significativas no lugar em que a a formação da personalidade, as qualidades 59 emocionais se Desse modo a criança vai imitando desenvolvem plenamente na infância, o que o adulto até aproximadamente seis anos, afeta constitui com isso a criança desenvolve memória, problemas para o desenvolvimento do imaginação, pensamento, linguagem oral, adulto. (MELLO, 2007, p. 95). atenção e função simbólica da consciência. de O e intelectuais modo negativo que se faz não e necessário Levando em consideração os compreendermos é que quando adulto as elementos constituintes da aprendizagem “a questões motivacionais, emocionais será realização do currículo precisa mobilizar ampliadas para sua vida adulta, mas o algumas desenvolvimento da base sensorial foi desenvolvimento humano, como a função formado na escola infantil, ou na idade da simbólica, a percepção, a memória, a infância. atenção e a imaginação”. (LIMA, 2007, p. Mello (2007, p. 96) comenta que funções centrais do 26). “em cada idade da criança há uma forma Contudo, o currículo precisar especifica por meio da qual ela melhor se contemplar também a vida no cotidiano, relaciona atribui pois, “a vida no coletivo sempre envolve a significados e sentido ao que vê e vive”, por cultura: as brincadeiras, o faz de conta, as exemplo: O bebe antes de completar um festas, os rituais, as celebrações são todas ano de idade se comunica emocionalmente situações em que a criança se constitui como mundo através do olhar, do corpo, do como ser cultural”. (LIMA, 2007, p 25). com o mundo, e choro, e percebe as relações dos adultos. Sendo o conhecimento um bem Conforme Vygotsky (1996, p. 341), comum que merece ser socializado a todos o que primeiro caracteriza a consciência da os seres humanos, o currículo constitui o criança é o surgimento da unidade entre as instrumento por excelência desta funções sensoriais e motoras. socialização, tendo o como ensino Como lembra Mello ao se referir “A mobilizado de varias ideologia Alemã” obra de Marx e Engels “a percepção, para que consciência nasce junto com a linguagem, “guardar” conteúdos na memória de longa quando a criança começa a compreender duração inclusive. (LIMA, 2007, pp. 22, verbalmente suas ações, quando se torna 28). dimensões o aluno da possa possível uma comunicação consciente com O professor quando trabalhar os os outros – superando a relação social direta conteúdos teve ter em mente que não é do primeiro ano de vida”. (MELLO, 2007, somente o conteúdo que modifica, mas a p. 97). 60 forma como é exposto, que traz a percepção de querer saber ou conhecer. LORENZATO, S. Educação Infantil e percepção matemática – São Paulo: Autores associados, 2006. A escola terá um bom ensino quando conseguir ligar o fazer independente da criança com as orientações do professor. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de educação Básica. Currículo, Desenvolvimento Humano. Secretaria de educação Básica. Brasília: MEC/SE, 2007. BRASIL. Secretaria de educação Básica. Currículo, Conhecimento e Cultura. Secretaria de educação Básica. Brasília: MEC/SE, 2007. MELLO, S. A. Infância e humanização: algumas considerações na perspectiva histórico-cultural. Florianopolis: Perpectiva, v. 25, n. 1, 83-104, jan./jun. 2007. OLIVEIRA. Z. M. R. L. S. Vygotsky: algumas Idéias sobre Desenvolvimento e Jogo Infantil Publicação: Série Idéias n.2. São Paulo: FDE, 1994. Páginas: 43-46 OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um processo sócio histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1997. Aprender São Paulo: SANTANA, M. S. R. 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