NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2003, vol. XII, n.º 4 Acute Care and Antibiotic Seeking for Upper Respiratory tract Infections for Children in Day Care Parental Knowledge and Day Care Center Policies Friedman JF , Lee GM, Klemman RP, Finkelstein JA in Arch Pediatr Adolesc Med. 2003; 157: 369-374 Background: Children who attend day care are high consumers of antibiotics. Studies suggest that physicians prescribe unnecessary antibiotics for upper respiratory infections for children who attend day care on the basis of perceived pressure from parents and/or day care centers. Objective: To determine both parental and day care – level predictors of acute care and antibiotic seeking for children who attend day care. Methods: we conducted a day care center-based cross-sectional survey of parents and day care center staff. Two hundred eleven parents of children attending 36 day care centers in Massachusetts completed a survey. Day care center staff completed a separate survey addressing their day care center’s policies for ill children. Results: Few parents reported day care staff pressure to seek care from a phisycian (3.9%) or antibiotics /1.9%). In multivariate models, higher models, higher parent knowledge about upper respiratory tract infections was related to decreased acute care seeking for 3 upper respiratory symptoms (clear rhinorrhea, green rhinorrehea, and cough) in the absence of fever (odds ratios and 95% confidence intervals: 0.45 [031-0.65], 0.66 [0.52-0.85], and 0.57 [0.45-0.72], respectively). Parent reported acute care seeking was not related to a day care center’s polices for exclusion or physician clearance for these illnesses. Similar results were also found for the parental belief that antibiotics expedite return to day care for these symptoms. Conclusion: Although it has been suggested that inappropriate day care center policies for exclusion motivate parental acute care and antibiotic seeking, this study suggests that parental knowledge is a more important predictor of these reported behaviours than are day care center policies. COMENTÁRIO Este estudo é interessante. Supunha-se puder haver pressão dos infantários no sentido de os pais retirarem os filhos quando sofrem de infecção das vias aéreas superiores, e também pressão por parte dos pais junto dos médicos para prescreverem antibióticos para que regressem mais cedo. Afinal, o pessoal dos infantários não pressiona e os pais também não, principalmente quando estes têm conhecimentos sobre a problemática infecção das vias aéreas superiores/infecção. Os autores mostram preocupação pela progressiva resistência bacteriana aos antibióticos, particularmente do Streptococcus Pneumoniae, já que é o principal agente implicado em meningites, pneumonias, bacteriémias e otite média aguda. Referem que as causas da resistência antimicrobiana são múltiplas, mas que o uso e abuso de antibióticos não são alheios. Acrescentam de seguida que há estudos que documentam que Médicos de Família e Pediatras tratam frequentemente constipações e outras infecções virusais respiratórias com antibióticos e que os médicos relatam serem submetidos a pressão dos pais para que receitem antibióticos quer por suporem que assim deve ser ou para que regressem mais depressa ao infantário. Mais uma vez os mais fracos a serem vítimas da ignorância e da não perda de oportunidades. E mais uma vez a necessidade imperiosa dos médicos serem procuradores dos interesses das crianças. E entre nós? Há muitos pais a exigir antibióticos? Há pressões dos infantários no mesmo sentido? E há muitos médicos que tratam viroses respiratórias com antibióticos? Não há quem tenha dúvidas sobre a resposta afirmativa a estas perguntas, nomeadamente à última. Basta estar na linha da frente dos cuidados primários para se ter esta noção. Médicos de Família e Pediatras teimam desesperadamente matar vírus com antibióticos. Usamos indevidamente antibióticos demasiados vezes. Antibióticos e não só: - São anti-histamínicos para tratar rinites infecciosas; - Paracetamol juntamente com ibuprofeno em tomas alternadas [dois artigo recomendado 273 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2003, volI. XI, n.º 4 fármacos para quê? Ou um ou outro, ou melhor só um, o paracetamol. O que é preciso é saber desde o significado da febre às regras, passando pelas doses. A este respeito está tudo nos livros e em revisões excelentes, Bastos (1)]; - São os anti-inflamatórios enzimáticos para tratar uma plêiade de doenças, das pneumonias, à traumatologia, passando pela asma…Um mistério, como diz Luís Lemos, e que tenta desvenda-lo!(2) (Aconselhamos vivamente o leitor a ler “ O estranho, muito estranho, caso do Maxilase (e familiares)”(2). Mas como podemos usar menos antibióticos? Há boas e encorajantes propostas e notícias. Em Fevereiro passado, em pleno surto virusal respiratório, Lemos e colaborador fizeram a revisão da medicação prescrita a crianças que recorreram à urgência do Hospital Pediátrico de Coimbra e que tiveram alta, em dois dias consecutivos, sem que os médicos tivessem conhecimento prévio. Que verificaram? Percentagem de crianças a quem foram prescritos medicamentos de qualquer tipo, particularmente antipiréticos, 32 a 35% e antibióticos, maioritariamente Amoxicilina, já que não se dispõe de Penicilina oral, 13%, repetimos, 13% (treze). Quase não dá para acreditar. Mas a explicação é clara: neste Hospital a prática é de excelência, bissemanalmente divulgada e periodicamente actualizada. Mas não só: para além da “ dinâmica formativa do H. P” está “a ausência de tarefeiros” (3). Medite quem de direito. Outra boa notícia que contribui para a redução da necessidade de antibióticos é a demonstração da eficácia da vacina conjugada anti-pneumocócica. É eficaz nas crianças, menos 69% de infecções, contribuiu ainda para reduzir a taxa nos adultos (4), diminui o estado de portador, com a consequente diminuição de contágios no infantário. Mas é preciso estarmos atentos: tornar-se-ão as crianças portadoras de serogrupos que não estão na vacina? (5) E pior: um estudo mostrou que há crianças colonizadas com estirpes de 274 artigo recomendado Pneumococus resistentes aos antibióticos incluídas na vacina e mesmo nas vacinadas (6). Este mesmo estudo revelou como factores de risco para a resistência: infantários, infecção respiratória corrente e recente antibioticoterapia. Reduzindo a incidência de gripe que pode levar a infecções respiratórias que necessitem de antibioticoterapia, como otite e pneumonia, é obviamente outro modo de utilizarmos menos antibióticos. Como consegui-lo? Estendendo as clássicas indicações da vacina anual contra a gripe: vacinar todas as crianças entre os 6 e os 23 meses (7). Uma área interessante para reduzirmos o uso de antibióticos é a otite média aguda. É um diagnóstico frequente e tem merecido o consenso de que sendo maioritariamente de etiologia bacteriana, necessita de antibiótico. Ainda que a sua prevalência tenha vindo a aumentar (8), e seja sobrediagnosticada, (9) o que é certo é que tem sido a patologia mais responsável pela diminuição do consumo de antibióticos nos Estados Unidos (10). A que devemos atender? - A que muitas vezes cura espontaneamente; - Que apenas em cerca de 15% é que o antibiótico é útil (11,12,13); - Que tem como agente mais frequente o Pneumococus, e que este tem vindo a ser cada vez mais resistente à Penicilina (em Portugal passou de 8.8% em 1988 para 16.7% em 2000 (14); - Que o antibiótico de escolha é a Amoxicilina, em dose dupla da habitual, 80 a 90 mg/kg/dia; - Que devemos optar por tratamentos curtos, 5 - 7 dias (15) - E que se vai apontando como sendo útil e de aceitação dos pais, um tratamento diferido, em certas circunstâncias: prescreve-se antibiótico e aguardam-se 2 dias. Se a criança não melhorar inicia o antibiótico (16,17). Resumindo, para reduzirmos o uso de antibióticos devemos, entre outros: ➔ Insistir no conhecimento médico sobre a etiologia das infecções das vias aéreas superiores, da rinite à otite, passando pela amigdalite. ➔ Dar formação aos familiares sobre as patologias. ➔ Recomendar a vacina conjugada contra o Pneumococus e a extensão da vacina contra a gripe a todas as crianças entre os 6 e os 23 meses. ➔ Parcimónia no uso de antibióticos e preferência pela Amoxicilina no tratamento da otite média aguda. ➔ Tratamentos de curta duração quando indicados. Tojal Monteiro1 Luís Vale2 Nascer e Crescer 2003; 12 (4): 273-275 BIBLIOGRAFIA 1 - Bastos V. A febre. Saúde Infantil 2002;24/3:23-34. 2 - Lemos L. O estranho, muito estranho, caso do Maxilase (e familiares). Saúde Infantil 2003;25/2:19-20. 3 - Lemos L, Rodrigues F. Medicamentos prescritos no Serviço de urgência do Hospital Pediátrico. Saúde Infantil 2003; 25/2:57-59. 4 - Whitney CG e col. Decline in invasive pneumococal disease after the intoduction of protein – polysaccharide conjugate vacine. N Engl J Med 2003;348: 1737-1746. 5 - Lin PL e col. Incidence of invasive Pneumococal disease in Children 3 to 36 months of age at a tertiary care pediatric center 2 years after licensure of the pneumococal conjugate vaccine. Pediatrics 2003; 111:896-898. 6 - Finkelstein JA e col. Antibiotic – resistant Streptococus pneumoniae in the heptavalent conjugate vacina era: predictors of carriage in a multicommunity sample. Pediatrics 2003;112: 862-869. 1 Regente da Disciplina de Pediatria e Coordenador da Disciplina de Saúde da Mãe e da Criança - ICBAS - HGSA 2 Professor Associado de Pediatria. ICBAS - HGSA NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2003, vol. XII, n.º 4 7 - Center for Disease Control and Prevention. Prevention and control of influenza: recommendations of The Advisoru Committe on Immunization Practices (ACIP). MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2002; 51(RR-3)1-34. 8 - Auinger P e col.Trends in otitis media among children in United States. Pediatrics 2003;112:514-5209 - Garbutt e col. Diagnosis and treatment of acute otitis media: An assessment. Pediatrics 2003;112:143-149. 10 - Finkelstein JA. Reduction in antibiotic use among US children, 1996-2000. Pediatrics 2003;112:620-627. 11 - Takata GS e col.Evidence assessment of management of acutes otitis media: I. The role of antibiotics in treatment of uncomplicated acute otitis media. Pediatrics 2001;108:239-247. 12 - Rosenfeld RM. An evidenced – based approach to trating otitis media. Pediatr Clin North Am. 1996;43:11661181. 13 - Del Mar CB e col. Are antibiotics indicated as initial treatment for children with acute otitis media? A meta-analysis. Br Med J 1977; 314:1526-1529. 14 - Jacobs MR. Worldwide trends in antimicrobial resistence among common respiratory tract pathogens in children. Pediatr Infect Dis J 2003; 22:S109-119. 15 - Lemos L. Terapêuticas antibióticas curtas/simplificadas (Otite media aguda, amigdalite estreptocócica). Uma boa ajuda para o ambulatório! Saúde Infantil 2000; 22/2: 5-10. 16 - Cates C. An evidence based aproach to reducing antibiotic use in children with acute otitis media:controlled before and after study. Br Med J.1999;318:715-716. 17 - Siegel RM e col. Treatment of otitis media with observation and safety - net anti- biotic prescription. Pediatrics 2003; 112: 527- 535. artigo recomendado 275