CASUÍSTICA DO ATENDIMENTO A PEQUENOS ANIMAIS NO AMBULATÓRIO VETERINÁRIO - UFPEL SAMPLE OF CARE FOR SMALL ANIMALS IN THE VETERINARY AMBULATORY - UFPEL Anacleto de Souza Rosa Junior1, Tiago Zim da Silva1, Erico de Mello Ribeiro2, Isabel Duarte Schuch², Marlete Brum Cleff3 Resumo O objetivo do trabalho foi determinar a casuística das enfermidades de cães e gatos atendidos no Ambulatório Veterinário (HCV–UFPel), a fim de planejar ações que possam melhorar a qualidade sanitária da população humana e animal de comunidades de baixa renda. No período de setembro de 2009 a abril de 2011, foram atendidos 705 animais, entre caninos e felinos. Os principais diagnósticos foram de enfermidades tegumentares (n=214, 30,36%), seguido das infecto-contagiosas (n=198, 28,08%), digestórias (n=63, 8,93%), reprodutivas (n=54, 7,65%), musculoesqueléticas (n=48, 6,80%), respiratórias (n=29, 4,11%), oncológicas (n=24, 3,40%), oftalmológicas (n=22, 3,12%), cardíacas (n=13, 1,84%), neurológicas e toxocológicas (n=4, 0,56%), urinário e metabólico (n=4, 0,56%). Conclui-se que as enfermidades tegumentares e infecto-contagiosas são as mais freqüentes no ambulatório veterinário que atende comunidades de baixa renda. Salientamos a importância do diagnóstico definitivo, uma vez que torna possível a identificação dos prováveis fatores que as influenciam e, por conseguinte, a avaliação dos impactos que estas enfermidades causam aos animais e principalmente à população a qual pertencem. Palavras-chave: educação, saúde, comunidade, cães e gatos. Summary The objective of this study was to determine the sample of diseases of dogs and cats seen at Veterinary Ambulatory (UFPel-HCV), in order to plan actions that will improve the quality of the health of human and animal population of low-income communities. From September 2009 to April 2011, we received 705 animals, including dogs and cats. The main diagnoses were diseases of intergumentary (n=22, 30,36%), followed by infectious (n=198, 28,08%), digestive (n=63, 8,93%), reproductive (n=54, 7,65%), musculoskeletal (n=48, 6,80%), respiratory (n=29, 4,11%), cancer (n=24, 3,40%), eye (n=22, 3,12%), cardiac (n=13, 1,84%), neurological and toxicological (n=4, 0,56%), urinary and metabolic ( n=4, 0,56%). It is concluded that the tissue and infectious diseases are contagious in more frequent veterinary clinic that serves low-income communities. We stress the importance of definitive diagnosis, since it makes it possible to identify the likely factors that influence and therefore assessment of the impacts that cause these diseases to animal and especially the population to which they belong. Key-words: education, health, community, dogs and cats. Segundo a literatura, cerca de 65% dos animais domésticos são domiciliados ou semidomiciliados, peregrinando diariamente pelas ruas das cidades, contribuindo para disseminação de diversas enfermidades (LIMA et. al., 2010). Atrelados à relação entre animais e a população, está o manejo inadequado e a falta de controle sanitário, o que 1 Acadêmico Faculdade de Veterinária – UFPel Médico Veterinário –Residente HCV - UFPel 3 Médico Veterinário – Doutor – UFPel Endereço: R: Voluntários da Pátria, 844, AP. 101 CEP: 96015730 [email protected] 2 representa um risco para a saúde humana, ambiental e dos animais, já que estes podem atuar como disseminadores ou reservatórios de doenças (FIGUEIREDO et. al., 2001). Assim, o objetivo do trabalho foi determinar as principais enfermidades em cães e gatos atendidos no Ambulatório Ceval (Hospital de Clínicas Veterinária – UFPel). Entre setembro de 2009 a abril de 2011, foram avaliados 705 animais, que passaram por atendimento clínico no Ambulatório Veterinário – UFPel, o qual atende animais da população em vulnerabilidade social em Pelotas – RS. O atendimento clínico é realizado por um docente do curso de Veterinária, um residente em clínica de pequenos animais, alunos de Pós-graduação e estudantes de Graduação, sendo realizado em dois turnos semanais. Uma ficha de atendimento com os dados do proprietário e paciente foi preenchida em cada consulta realizada. Após realizava-se anamnese, exame clínico geral e específico, além de exames auxiliares de diagnóstico. Os exames complementares, como: hemograma, enzimas hepáticas e renais, raspados cutâneos, exame fezes, culturas bacteriológicas e fúngicas, exames radiológicos, etc., eram encaminhados para o Hospital Veterinário para a obtenção do diagnóstico de certeza. Com o estabelecimento do diagnóstico, foram instituídos tratamentos direcionados para a resolução das enfermidades, além de serem utilizadas terapias alternativas como fitoterapia e homeopatia, diminuindo os custos com tratamentos. A maior freqüência dentre os 705 casos atendidos, foram de caninos (80%) seguido dos felinos (20%). O que concorda com os dados da literatura, tendo em vista que a população canina é mundialmente maior que a felina (DIAS, et. al., 2004). Com relação ao diagnóstico, as principais enfermidades foram no sistema tegumentar, seguidas das infecto-contagiosas conforme apresentado na figura 1. 35,00% Tegumentar Infecto-contagiosas 30,00% Digestório 25,00% Reprodutivo Músculo-esquelético 20,00% Respiratório 15,00% Oncológico Oftamológico 10,00% 5,00% Cardíaco Neuro e Toxicológico Urinário e Metabólico 0,00% Diagnóstico Inconclusivo Figura 1 – Diagnósticos em cães e gatos atendidos no ambulatório da Faculdade de Veterinária – HCV, UFPel distribuídos conforme o sistema. Dentre as principais doenças infectocontagiosas, destacaram-se a esporotricose; leptospirose, cinomose, parvovirose; as sarnas sarcóptica e demodécica, sendo essas enfermidades de relevância em medicina veterinária e saúde pública. A leptospirose é uma enfermidade zoonótica, grave, podendo ser fatal, sendo causada pela bactéria espiroqueta do gênero Leptospira (LAPPIN, 2006). Os animais domésticos contaminam-se principalmente pelo contato com a urina dos roedores infectados, águas paradas e contaminadas, através de mordidas, etc. (BARR, BOWMANN, 2009), podendo contaminar o homem, além da possibilidade de contágio por ambientes alagadiços com condições sanitárias precárias (FIGUEIREDO et. al., 2001). Foram diagnosticados um grande número de cães com cinomose e parvovirose, especialmente em filhotes, o que provavelmente ocorreu devido à falta ou incorreta imunização e a forma promíscua de criação, onde há convívio de animais de diferentes faixas 2 etárias, além de exposição de animais jovens, sem proteção, a ambientes contaminados. Os animais se contaminam através de urina, fezes e secreções de cães doentes, pois normalmente esses agentes sobrevivem por até um ano no ambiente (BARR, BOWMANN, 2009). Dentre as dermatopatias (30,36%), destacaram-se as sarnas demodécica e sarcóptica, os animais apresentavam-se com alopecia localizada ou generalizada, prurido intenso e debilitados. A infecção ocorre por contato direto com doentes, ou pelo contato indireto através de escovas, roupas, cobertores, tapetes, entre outros (BARR, BOWMANN, 2009). No momento de instituir tratamento, o proprietário deve ser orientado a fazer a eliminação das fontes de contaminação, esclarecendo que a sarna sarcóptica dos animais pode, contaminar as pessoas (LIMA et. al., 2010). Dentre as dermatopatias fúngicas, destacamos a esporotricose, pois contamina animais e homem, pela inoculação do Sporothrix schenckii na derme, principalmente através de arranhões ou mordidas, ou ainda pelo contato direto com feridas contaminadas de animais doentes, especialmente nos felinos. É reconhecida também a problemática em relação ao uso dos antifúngicos, no que se refere ao custo e a toxicidade dos fármacos disponíveis (BARR, BOWMANN, 2009). Fazendo uma análise global das principais enfermidades, pode-se observar em torno de 40% destas enfermidades poderiam ser minimizadas ou até mesmo evitadas, com medidas profiláticas com relação à saúde animal, assim como instituir educação sanitária voltada aos proprietários. Melhorando-se assim, a qualidade de vida das populações humana e animal Baseado nos resultados obtidos pode-se concluir que as enfermidades tegumentares e infecto-contagiosas são as mais freqüentes no ambulatório veterinário que atende comunidades em vulnerabilidade social. Referências Bibliográficas BARR S.C., BOWMAN D.D. Doenças Infecciosas e parasitárias em cães e gatos. 1ªed. Trad. SUMMA MEL. Rio de Janeiro: Revinter; 2009. DIAS, R. A.; GARCIA, R. C.; SILVA, D. F.; AMAKU, M.; NETO, J. S. F.; FERREIRA, F. Estimativa das populações canina e felina domiciliadas em zona urbana do estado de São Paulo. Revista de Saúde Pública, v. 4, n. 38, p.565 - 570, 2004. FIGUEIREDO, C. M.; MOURÃO, A. C.; OLIVEIRA, M. A. A.; ALVES, W. R.; OOTEMAN, M. C.; CHAMONE, C. B.; KOURY, M. C. Leptospirose humana no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil: uma abordagem geográfica. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 34, n. 04, p. 331- 338, 2001. LAPPIN, M. R. Doenças Bacterianas Polissitêmicas. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Manual de Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Elsevier, Cap. 100, p. 983 – 991, 2006. LIMA, A. M. A.; ALVES, L. C.; FAUSTINO, M. A. G.; LIRA, N. M. S. Percepção sobre o conhecimento e profilaxia das zoonoses e posse responsável em pais de alunos do pré-escolar de escolas situadas na comunidade localizada no bairro de Dois Irmãos na cidade do Recife (PE). Revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 15, p. 1457 - 1464, 2010. 3