ID: 61661982 02-11-2015 Tiragem: 28137 Pág: 13 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 10,54 x 30,00 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 2 Supremo Tribunal condena médico "reputado" por perfurar intestino fustka. Decisão considera que profissional atuou com culpa. Ministério Público investiga três casos por mês de negligência médica FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA consentida e pretendida pela utente, este consentimento não abrangeu a lesão ocorrida. Deste modo, o médico agiu culposamente, não conseguindo provar que efetuou a colonoscopia cumprindo todas as exigências técnicas e todos os deveres de cuidado que conhecia e podia observar". E considera a sua conduta ainda mais censurável "quando se trata de um gastroenterologista "experiente, reputado e com conhecimentos e capacidades acima da média, pelo que se verificam os pressupostos de indemnizar". O Supremo Tribunal de Justiça .(STJ) considerou que um médico "experiente, reputado e com conhecimentos e capacidade acima da média" atuou "culposamente" ao perfurar o intestino de uma paciente na sequência de urna colonoscopia. E condenou-o a pagar, solidariamente com o hospital, uma indemnização de 304 mil euros. Valor esse que, porém, terá de ser confirmado pela Relação do Porto -que tinha decidido pela absolvição do réu -já que o valor referido foi apenas invocado em pri- Queixas que vão a julgamento meira instância. Uma decisão con- No final de 2012, das 67 queixas residerada inédita e que fará cebidas, apenas seis foram alvo de jurisprudência numa área - a ne- acusação. E em 2010, das 35 que gligência médica - difícil de julgar chegaram ao Ministério Público para os juizes. (MP) apenas dez revelaram indíNeste caso concreto, a decisão cios suficientes para ir a julgamenabrange apenas a to. Os dados do DIAP obrigatoriedade de de Lisboa - o único pagamento de uma departamento do MiDIAP de Lisboa indemnização, em nistério Público com investigou 295 sede de processo cítuna secção especialivel. Nas situações em zada na investigação casos desde 2010 que estas omissões ou deste tipo de crime até Junho falta de cuidado dos revelam uma realidamédicos ou enferde inegável: as queimeiros sejam igualxas de casos de neglimente punidos criminalmente, os gência médica são cada vez mais, números não são expressivos. Só mas o número de acusações não é neste ano, o Departamento de In- muito expressiva "As condenações vestigação e Ação Penal (DIAP) de praticamente não existem", explica Lisboa, liderado pela procurado- Eurico Reis, juiz da Relação de Lisra-geral adjunta Maria José Morga- boa, em declarações ao DN. Isto do, investigou três casos por mês também porque as decisões dede negligência médica (19 inquéri- pendem de "um juízo técnico que tos abertos desde janeiro a 30 ju- os juízes não têm em relação à pránho de 2015). Segundo dados tica médica. Não há formação dos avançados ao DN pelo gabinete da juízes em relação a muitas matérias procuradora-geral da República, da medicina para saberem", apondesde 2010 que são mais de quatro ta o magistrado que liderou a coos casos por mês investigados pelo missão mediadora do caso dos seis Ministério Público. No total - de doentes que cegaram no Hospital 2010 até ao primeiro semestre de de Santa Maria, em 2009. No en2015 -, foram 295 as investigações tanto, Eurico Reis lembra que "há feitas a médicos e enfermeiros por uma check-listque tem de ser feita negligência médica ou erros no nas cirurgias que pode evitar muidiagnóstico. tos riscos. E para isso não é necesNeste caso concreto decidido sário conhecimento técnico". O pelo STJ a 1 de outubro deste ano - que poderia evitar estes casos mais pelos juízes conselheiros Maria dos evidentes de má prática médica, Prazeres Beleza, Salazar Casanova acrescenta. Embora o juiz deseme Lopes do Rego - é admitido que bargador também admita que a "apesar do exame constituir uma negligência médica é de "difícil intromissão na integridade física prova". ID: 61661982 02-11-2015 Tiragem: 28137 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 5,22 x 10,10 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 2 JUSTIÇA Médico condenado a pagar 300 mil euros por erro clínico • O SupremoTribunal de Justiça não tem dúvidas: "Um médico experiente, reputado e com conhecimentos e capacidade acima da média" agiu "c-ulposamente" ao perfurar o intestino de uma doente na sequência de uma colonoscopia. O acOrdão corrige a sentença do Thbunal da Relação do Porto e obriga ao pagamento solidário com o hospital de uma indemnização. PORTUGAL PAG. 13