UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O Processo de Comunicação utilizado pela Organização Não-Governamental Projeto Araras para executar e divulgar o projeto “Araras Sem Lixo” Por: Teresinha de Jesus Fidelles de Almeida Orientadora Prof(a).Ms. Maria Esther Araújo Petrópolis-RJ Junho - 2003 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O Processo de Comunicação utilizado pela Organização NãoGovernamental Projeto Araras para executar e divulgar o projeto “Araras Sem Lixo” Por: Teresinha de Jesus Fidelles de Almeida Orientadora Prof(a).Ms. Maria Esther Araújo Petrópolis-RJ Junho - 2003 DEDICATÓRIA Ao meu pai Dimas (in memoriam) e a minha mãe Maria Theresa, pelo apoio e carinho. AGRADECIMENTOS A todos os participantes da Ong Projeto Araras, em especial as secretárias Geiziane e Cibele e a Presidente Beatriz. RESUMO Este estudo tem por objetivo conhecer o processo de comunicação de uma organização não-governamental, que trabalha com projetos ligados ao meio ambiente com ênfase na educação ambiental. Para a realização da monografia o primeiro passo foi uma pesquisa bibliográfica sobre Comunicação Social e Educação Ambiental para escolher quais os autores que seriam utilizados como referência teórica. Na área de educação ambiental os trabalhos de Marcos Reigota, Mauro Guimarães e Alexandre Pedrini, autores que relatam toda a história da Educação Ambiental e as implicações atuais, foram os mais utilizados. Em Comunicação Social optou-se por Marshall McLuhan, um dos primeiros a pesquisar sobre meios de comunicação, Juan Bordenave, que deu uma nova leitura às pesquisas de McLuhan e Luiz Beltrão, um dos grandes estudiosos da teoria da comunicação de massa. Uma das maiores dificuldades para realizar o trabalho foi encontrar textos que relacionassem os dois temas. Por isso, optou-se também pelos artigos do INESC (Instituto de Estudos Sócio-Econômicos), como base teórica. Em seguida realizou-se uma pesquisa nos jornais locais e assim escolheu-se a instituição que seria o objeto de estudo de caso: a Organização Não-Governamental Projeto Araras. Através de uma pesquisa de campo foram coletados os dados sobre a instituição escolhida. No estágio de observação pode-se acompanhar o processo de comunicação do projeto Araras Sem Lixo, o mais antigo da ONG, com maior repercussão local e que já atingiu resultados. Durante este estágio pode-se compreender como os meios de comunicação são utilizados para executar e divulgar as atividades desenvolvidas. SUMÁRIO Introdução........................................................................... .............................6 Capítulo 1 – Comunicação .............................................................................7 Capítulo 2 – Comunicação e Educação Ambiental.......................................15 Capítulo 3 – Projeto Araras: Um estudo de caso..........................................24 Conclusão........................................................................................................38 Referência Bibliográfica Anexos INTRODUÇÃO Numa sociedade em que a comunicação de massa exerce um poder inquestionável e portanto é responsável pela transmissão e fixação de muitos conceitos, saber de que forma os meios de comunicação social influenciam na divulgação e execução de projetos de educação ambiental, realizados por uma Organização Não-Governamental, é um tema que deve ser estudado pois o conceito de EA ainda não foi compreendido pela maior parte da população. Para entender como ocorre este processo de comunicação a instituição pesquisada foi a ONG Projeto Araras, que possui vários projetos ligados à educação ambiental, localizada no bairro de Araras (Distrito de Cascatinha-Petrópolis-RJ). Como base teórica na área de educação ambiental optou-se pelos trabalhos de Marcos Reigota, Mauro Guimarães e Alexandre Pedrini, porque são autores que relatam toda a história da Educação Ambiental e as implicações atuais. Em Comunicação Social Marshall McLuhan, um dos primeiros autores a pesquisar sobre meios de comunicação, Juan Bordenave, que deu uma nova leitura às pesquisas de McLuhan e Luiz Beltrão, um dos grandes estudiosos da teoria da comunicação de massa, foram os principais. Na pesquisa observou-se de que forma a ONG utiliza os meios de comunicação na comunidade envolvida e como estes meios influenciam no resultado final do projeto. Para facilitar a compreensão do tema, foi escolhido como objeto de estudo o projeto da ONG que teve maior repercussão na comunidade, ou seja, o Projeto Araras Sem Lixo. A partir de observações, entrevistas informais e documentos da instituição, foi possível conhecer quais os meios utilizados, de que forma, quais as dificuldades encontradas pelos profissionais envolvidos e o porquê destas dificuldades. Além disso, podese identificar se os meios utilizados pela ONG serviram para informar, comunicar e educar. CAPÍTULO 1 COMUNICAÇÃO COMUNICAÇÃO Comunicação. Esta palavra faz parte do dia-a-dia e apesar disso poucos conseguem definir o seu significado. Para muitos, sinônimo de poder. Para outros, de manipulação. Mas, afinal, o que é comunicação? Quase sempre quando se toca neste assunto logo vem à mente a grande mídia: televisão, jornais, rádio e internet. Porém, comunicação não é só isto. Estes veículos fazem parte da comunicação de massa (assunto a ser abordado posteriormente neste capítulo) , o que os torna mais fáceis de identificar com a palavra comunicação. Porém, comunicação é muito mais do que isso. Diversos autores estudaram o tema ao longo do século XX e várias definições surgiram. Antonio Hohlfeldt, no livro Teorias da Comunicação, explica que o termo comunicação vem do latim communicatio, onde, pode-se distinguir: “três elementos: uma raiz munis, que significa estar carregado de”,que acrescido do prefixo co, o qual expressa simultaneidade, reunião, temos a idéia de uma “atividade realizada conjuntamente” completada pela terminação tio, que por sua vez reforça a idéia de atividade.” ( Hohlfeldt, 2001,P.12) Do ponto de vista biológico a Comunicação é uma atividade “sensorial e nervosa e pode ser situada entre os seres vivos como necessidade não só para a sobrevivência, mas também para a perpetuação da espécie” (Melo, 1970, P.15) José Marques de Melo, em Comunicação Social, Teoria e Pesquisa (Vozes, 1970, P.14) afirma que, “comunicar significa tornar comum, estabelecer comunhão, participar da comunidade, através do intercâmbio de informações”. .No dicionário Aurélio comunicação é: “Ato ou efeito de comunicar(-se). 2. Ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual”. (www.uol.com.br/aurelio) Para Juan Bordenave comunicação é: “um processo tão natural como respirar, beber água ou caminhar,(...) é a força que dinamiza a vida das pessoas e das sociedades: a comunicação excita, ensina, vende, distrai, entusiasma, dá status, constrói mitos, destrói reputações, orienta, desorienta, faz rir, faz chorar, inspira, narcotiza, reduz a solidão e – num paradoxo digno de sua infinita versatilidade – produz até incomunicação”. (Bordenave, 1998, P.2) Alguns autores, como Sérgio Veloso, vinculam à Comunicação à idéia de participação. No seu entender participar é “o usufruto da condição de ser parte de um todo. Quem está isolado não pode ser parte, não participa. Comunicar é fazer participar, é trazer para a comunidade o que dela estava isolado” (Citado por Melo, 1970, P.22). Isto pode ser verificado em nossa sociedade, onde um simples aparelho de Tv nos leva a conhecer o outro lado do mundo, comprovando mais uma vez o conceito clássico de Marshall MacLuhan, que nos anos 70 escreveu que estávamos entrando para a era de uma "aldeia global", ou seja “com a crescente presença dos grandes meios de comunicação, o mundo veria, cada vez mais, suas fronteiras aproximadas. (Cruz, 1998, P.2) José Marques de Melo também conceitua comunicação como forma Pedagógica, ou seja, é “a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações jovens para adapta-las à vida social. Ou, em outras palavras, é o processo de transmissão de experiências e de ensinamentos”. (Melo,1970, P.18) Para a sociologia, comunicação é “o instrumento que possibilita e determina a interação social; é o fato marcante através do qual os seres vivos se encontram em união com o mundo”. (Melo,1970, P:22) Não é deste século que os fenômenos da comunicação vêm sendo estudados. Platão e Aristóteles já estudavam o processo comunicativo numa perspectiva psicológica. Aristóteles define Comunicação (Retórica) como: “a faculdade de ver teoricamente, o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão... e que sua tarefa não consiste em persuadir, mas discernir os possíveis meios de persuadir a propósito de cada questão”. (Melo,1970, P.24) O processo de comunicação jamais ocorreria sem a significação, isto é “a produção social de sentido” (Bordenave, 1984,P.62). Na definição clássica: “o signo é algo que está em lugar de alguma coisa para alguém...para algum organismo, e tem dois lados: o significante ou impacto perceptível em pelo menos um dos órgãos de sentido do organismo de interpretação – é algo inteligível (o conteúdo) sendo significado pelo anterior. O significado pode ser traduzido, enquanto o significante (também chamado de veículo do signo), não”. (Sebeok, 1997, P.51) Em todo o processo de comunicação deve ocorrer o feedback (resposta), ou seja, “uma resposta a uma mensagem. Isto inclui a idéia de que o transmissor ajusta, ou procura ajustar, o estilo de sua comunicação tendo em vista o feedback que está recebendo. O feedback regula o fluxo da comunicação. O feedback é um processo contínuo na comunicação”. (Dimbleby&Burton, 1990,P.47) Para uma orientação sobre o processo de comunicação, Juan Bordenave (1997, P.114) indica este modelo descritivo, elaborado por Claude Shannon e Warren Weaver, em 1948: FONTE EMISSOR Codifica mensagens SINAIS Ruido RECEPTOR DESTINATÁRIO decodifica mensagens A frase de Harold Lasswell “uma maneira conveniente para descrever um ato de comunicação consiste em responder às seguintes perguntas: Quem? Diz o quê? Em que canal? Para quem? Com que efeito?” é citada por Bordenave, “como o paradigma da comunicação no Ocidente” (Bordenave, 1997,P.229). O que para Dimbleby e Burton é o mesmo que dizer “um transmissor dirige uma mensagem através de alguma forma ou meio para um receptor com um determinado efeito“.(1990,P.35).Porém, estes conceitos podem estar mudando. Pierre Lévy, citado em Teorias da Comunicação, referindo-se à Internet, afirma que: “seria possível, talvez, falar em morte do emissor. Quando todos são emissores, não há mais emissor. Emissor-receptor, o internauta está fora da massa. A comunicação sai do estigma da manipulação para entrar na utopia da mediação. ...Pode-se concluir que, para Lévy, o emissor e o receptor estão mortos. Reina o emissor-receptor.” ( Holfeldt, 2002, Ps. 176 e 177) 1.1 – Comunicação de Massa A Comunicação de Massa é o processo “industrializado de produção e distribuição oportuna de mensagens culturais em códigos de acesso e domínio coletivo, por meio de veículos mecânicos (elétricos/eletrônicos) , aos vastos públicos que constituem a massa social, visando a informá-la, educá-la, entretê-la ou persuadi-la, desse modo promovendo a integração individual e coletiva na realização do bemestar da comunidade.” (Beltrão,1986, P.57) A comunicação de massa refere-se à comunicação “feita em larga escala, em termos de distância, pessoas e produtos envolvidos” (Dimbleby&Burton, 1985,P.206), isto é, aquela comunicação realizada pela mídia – imprensa, rádio e televisão – os chamados meios de comunicação de massa (v. item 1.2).O significado da produção de comunicação em massa refere-se “também à repetição das mensagens. Muitas vezes essas mensagens referem-se a idéias e crenças. Elas terminam nos influenciando em virtude de sua constante repetição”. (Idem) Os meios de comunicação de massa pertencem a grandes corporações, na maioria dos casos, não temos totalmente o poder de escolha, por exemplo, sobre a programação das emissoras de rádio e TV. O sistema e a organização que manipulam a comunicação de massa “não estão diretamente sob o controle dos indivíduos, mesmo que eles se dirijam diretamente a cada pessoa” (Idem) e a comunicação de massa tem proporcionado “maior envio e troca de informações. Mas não temos necessariamente o controle do que se está sendo transmitido nem o que se faz com as informações” (Idem). 1.2 – Meios de Comunicação Os meios de comunicação de massa são “instrumentos ou aparelhos técnicos mediante os quais se difundem mensagens – pública, indireta e unilateralmente – a um público disperso, denominado audiência” (Fraser, citado por Beltrão, 1986, P.117). Podem ser classificados de várias formas, seja pelo alcance individual ou pelos tipos de códigos. Marshall McLuhan considerava os meios de comunicação como extensões do homem e usava a classificação meios quentes e meios frios, ou seja, “o quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição. Por exemplo, uma fotografia, o rádio... Já o meio frio seria caracterizado pela baixa definição, como um desenho ou o telefone”.(McLuhan, 1964, P.38) Uma definição clássica é a de que “todos os meios são prolongamento de alguma faculdade humana – psíquica ou física” (McLuhan, 1972, P.54) e “os meios, ao alterar o meio ambiente, fazem germinar em nós percepções sensoriais de agudeza única. O prolongamento de qualquer de nossos sentidos altera nossa maneira de pensar e de agir – o modo de perceber o mundo.”(McLuhan, 1972, P.69) Esta citação pode ser exemplificada Com a televisão, onde “ocorre uma extensão do sentido do tato, ativo e exploratório, que envolve todos os sentidos simultaneamente, em lugar da visão apenas. Você tem que estar com ela.” (McLuhan, 1972, P. 153) Uma classificação bastante citada entre os teóricos é a de Wilbur Schramm que leva em conta o uso dos meios na educação e os divide por gerações: “1ª geração: Cartas, mapas, gráficos, materiais escritos, modelos, quadro--negro, demonstrações, dramatizações. 2ª geração: Livros impressos, manuais, provas (testes). 3ª geração: Fotografias, diapositivos, cinema, rádio, televisão. 4ª geração: Máquinas de ensinar (instrução programada laboratório de línguas, computadores digitais)”. (Schramm citado por Bordenave, 1995, P.65) Já Miguel Moragas Spa define os meios conforme os níveis em que opera o sistema, isto é , o nível interpessoal, o nível local, o nível nacional e o nível transnacional, e os classificou assim: “Micromeios Entende-se por microcomunicação o nível de comunicação primário e interpessoal que, embora utilize tecnologia complexa de emissão, parte de iniciativas emissoras individualizadas. Este seria o caso da fotocopiadora e do telefone. Outros micromeios seriam o cinema super-8, o vídeo-teipe, a fotografia, as gravadoras de fita. Mesomeios Entende-se por mesocomunicação o nível intermediário de comunicação em que participam grupos ou organizações que pretendem uma cobertura de signo local. Este seria o caso das emissoras FM ou a imprensa local ou inclusive comercial. Outros mesomeios incluiriam os livros, as revistas especializadas, os discos, a televisão por cabo. Macromeios Entende-se por macrocomunicação um nível de comunicação que, em um país de tamanho médio, coincide com o âmbito de cobertura nacional ou estatal: jornais de difusão nacional, cadeias de rádio e televisão. São também macromeios, os semanários, o cinema de 35mm, rádio de onda média. Megameios Finalmente por megameios pode entender-se a difusão comunicativa a nível transnacional...satélites de comunicação e..., as atuais emissoras de televisão ao difundir as grandes produções.... Entre os mais conhecidos estão as cadeias internacionais de rádio e tv, bem como e as agências de notícias”. (Spa citado por Bordenave, 1995, P.67) Os diversos meios que utilizamos também podem ser separados do seguinte modo: “1) forma de comunicação, que seria o caminho para se comunicar como falar, escrever ou desenhar; 2) veículos de comunicação, ou seja, os meios de comunicação que combinam diferentes formas e que implicam o uso de tecnologia. Um livro, por exemplo, é um meio de comunicação que utiliza formas como palavras, fotos e desenhos; 3)Mídia, os elementos de comunicação de massa de um grupo distinto dirigindo-se a outro, dentro do mesmo processo, como o rádio, a televisão e os jornais”. (Dimbleby&Burton, 1985, Ps. 16 e 17) O tema “meios de comunicação” ainda produz diversos conceitos e continua sendo estudado por diversos teóricos em várias áreas. Porém, não pode-se negar que: “todos os meios agem sobre nós de modo total. Eles são tão penetrantes que suas conseqüências pessoais políticas, econômicas, estéticas, psicológicas, morais, éticas e sociais não deixam fração de nós mesmos inatingida, intocada ou inalterada... Toda compreensão das mudanças sociais e culturais é impossível sem o conhecimento do modo de atuar dos meios como meio ambiente.” (McLuhan, 1964,P.54) CAPÍTULO 2 COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL O termo educação ambiental ainda é confundido com atividades ligadas à ecologia, porém sua definição vai muito mais além. Para Mauro Guimarães “a EA apresenta uma nova dimensão a ser incorporada ao processo educacional, trazendo toda uma recente discussão sobre as questões ambientais,e as conseqüentes transformações de conhecimento, valores e atitudes diante de uma nova realidade a ser construída.” (Guimarães, 1995, P.9) Ainda segundo este autor , “a EA centra o seu enfoque no equilíbrio dinâmico do ambiente, em que a vida é percebida em seu sentido pleno de interdependência de todos os elementos da natureza. Os seres humanos e demais seres estão em parcerias que perpetuam a vida” (Guimarães, 1995, P.14) Esta afirmação significa que o conceito de EA não combina mais com a separação entre homem e natureza, não prevalece a idéia de que o homem é superior à natureza. Para entender o que é a EA, é necessário definir primeiro o que é meio ambiente. Marcos Reigota considera que meio ambiente é: “um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relações dinâmicas e em constante interação os aspectos naturais e sociais.Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade.” (Reigota, 2001, P.21) O conceito de EA, da forma como é compreendido atualmente, surgiu há algumas décadas. Em âmbito mundial a questão ambiental começou a ser discutida amplamente e teve grande repercussão na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972, onde se estabeleceu o seguinte para a questão da educação para o meio ambiente: “Uma abordagem multidisciplinar para nova área de conhecimento, abrangendo todos os níveis de ensino, incluindo o nível não formal, com a finalidade de sensibilizar a população para os cuidados ambientais.” (Lima, citado por Guimarães, 1995, P.17) Uma importante resolução desta conferência foi a de que “se deve educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais” (Reigota, 1995,P.15). É neste ponto que, “podemos considerar que aí surge o que se convencionou a chamar de educação ambiental’. (Idem) As discussões sobre este tema não pararam nesta conferência. Em 1975 aconteceu em Belgrado, o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental, onde, na Carta de Belgrado, estão “explicitadas as metas e os objetivos da EA, onde o princípio básico é a atenção com o meio natural e artificial, considerando os fatores ecológicos, políticos e sociais,culturais e estéticos.” (Guimarães, 1999, P.18). Em 1976 , reuniões realizadas em Chosica – Peru e Bogotá – Colômbia, ficou definido que EA é “o instrumento de tomada de consciência do fenômeno do subdesenvolvimento e de suas implicações ambientais, que tem a responsabilidade de promover estudos e de criar condições para enfrentar esta problemática eficazmente.” (Guimarães, 1995, P.19) Mas foi em 1977 quando a ONU, através da Unesco, organizou a I Conferência Intergovernamental sobre Educação para o Ambiente, em Tbilisi, no Estado da Georgia (EUA), que as diretrizes,conceituações e procedimentos para a EA foram definidas. Kein, citado por Mauro Guimarães, destaca as seguintes conclusões e recomendações do documento final desta Conferência: “Devemos separar o mito do homem sobre a natureza e mudar as ações que massacram e responsabilizam o homem comum. Devemos estar atentos para a manipulação publicitária. Ao invés de produzirmos alimentos, habitações e bens muito duráveis ,são produzidas bombas e bens com duração reduzida. Os serviços deveriam ser realizados por equipamentos coletivos. Deveria ser restabelecida uma nova ética que rejeitasse a exploração, o consumismo e a exaltação da produção como fim por si só. Será necessária uma nova forma de agricultura e de indústria, uma nova urbanização, um novo urbanismo e uma nova forma de produção e consumo com largos benefícios sociais. A educação tradicional, abstrata e parcelada prepara mal os indivíduos que terão de lidar com a complexidade da realidade. A educação pra o ambiente deve reformular constantemente seus métodos, conteúdos e orientações à luz dos indivíduos, grupos e novas situações que surgirem. Esta educação deverá inspirar não apenas o comportamento do grande público, mas também os responsáveis pelas decisões sobre o meio ambiente. Este processo deve ser essencialmente uma pedagogia da ação para a ação. A reciclagem e a preparação de pessoa para a Educação Ambiental deverão ocorrer sob dois aspectos: levar à consciência dos problemas ambientais nacionais e internacionais e da participação e responsabilidade nossa na sua formação e evolução e promover um diálogo interdisciplinar, quanto aos conteúdos e objetivos de cada disciplina, articulando-as entre si, visando facilitar a percepção integral dos problemas ambientais e estabelecer uma possível ação bastante racional que corresponda aos anseios sociais.”(Kein, citado por Guimarães, 1995, Ps.19 e 20) Esta Conferência é considerada um referencial para a EA e Mauro Guimarães , também citando Keim, ressalta os seguintes princípios deste evento: “_Levar em conta a totalidade do ambiente, ou seja, considerar os aspectos naturais e construídos pelo homem, tecnológicos e sociais,econômicos,políticos,histórico-culturais,morais,estéticos; _Ser um processo contínuo e permanente, iniciando em nível préescolar e estendendo-se por todas as etapas da educação formal e informal; _Adotar a perspectiva interdisciplinar, utilizando o conteúdo específico de cada matéria de modo a analisar os problemas ambientais através de uma ótica global e equilibrada; _Examinar as principais questões relativas ao ambiente tanto do ponto de vista local como nacional, regional e internacional, pra que os educandos tomem conhecimento das condições ambientais de outras regiões; _Concentrar-se nas situações atuais e futuras do ambiente levando em conta a perspectiva histórica; _Insistir na necessidade e na importância da cooperação em níveis local, nacional e internacional para prevenir e resolver os problemas do ambiente; _Estudar, de modo sistemático do ponto de vista ambiental, os planos de desenvolvimento e crescimento; _Fazer com que os alunos participem da organização de suas próprias experiências de aprendizagem e tenham oportunidade de tomar decisões e de aceitar as conseqüências; _Inter-relacionar os processos de sensibilização, aquisição de conhecimentos, habilidade ara resolver os problemas e especificações de valores relativos ao ambiente em todas as idades, enfatizando sobretudo a sensibilidade dos alunos mais jovens em relação ao meio ambiente de sua própria comunidade; _Ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas verdadeiras dos problemas do ambiente; _Ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência, a necessidade de desenvolver o sentido crítico e as aptidões necessárias à sua resolução; _Utilizar diversos meios educativos e uma ampla gama de métodos para transmitir e receber conhecimentos sobre o ambiente, enfatizando de modo adequado às atividades e práticas e as experiências pessoais. “(Idem) Os princípios de Tbilisi foram reforçados na II Conferência Mundial para tratar da EA, realizada em Moscou em 1987. Além disso, esta conferência “atualizou uma série de questões e o pensamento sobre o que seria EA já assumia uma amplitude de tal ordem, que abrangia desde a promoção de uma conscientização ambiental, transmissão de informações e o desenvolvimento de hábitos, habilidades e valores, até mesmo, o estabelecimento de critérios, padrões e orientações para tomada de decisões em relação aos problemas de ordem ambiental.” (Carvalho, 2002, Ps. 53 e 54) No Brasil, na década, de 70 a EA ainda não estava desenvolvida, aconteceram apenas alguns atos isolados “sem contudo alcançar maior repercussão nos níveis nacional e institucional.” (Guimarães, 1995, P.21).Foi com a organização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (CNUMAD), no Rio de Janeiro, oficialmente denominada Conferência de Cúpula da Terra, mas também conhecida como ECO 92 ou RIO 92, que a “EA se estabeleceu perante a sociedade brasileira, criando uma forte demanda institucional.”.(Pedrini, 1997,P.26). Na ECO 92 foram aprovados cinco acordos oficiais internacionais: “ a) Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; b)Agenda 21 e os meios para sua implementação; c)Declaração de Florestas; d)Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas; e)Convenção sobre Diversidade biológica. Ainda durante este evento foi aprovada a “Carta Brasileira para a Educação Ambiental”, (Pedrini, 1997, P.30) A Carta Brasileira para a Educação Ambiental “enfoca o papel do estado, estimulando, em particular, a instância educacional como as unidades do Ministério da Educação e do Desporto (MEC) e o Conselho de Reitores das Universidades Brasileira (CRUB) para a implementação imediata a EA em todos os níveis.” (Idem) 2.1 – A EA e a Legislação no Brasil A EA foi formalmente instituída no Brasil pela lei Federal 6.938 , sancionada a 31 de agosto de 1981. “Esta lei foi um marco histórico na defesa da qualidade ambiental brasileira” (Pedrini, 1997, P.37) e é “a partir da aprovação desta lei que se inicia a fase holística ambiental brasileira, quando o legislador passa a tratar o meio ambiente enquanto um sistema integrado, organizando sua defesa e proteção, definindo padrões e conceitos, entre outras previsões.” (Benjamim, citado por Rocco, P.21). Nesta lei deve-se destacar que um dos princípios da EA deveria ser praticado “não só na instância formal (em todos os níveis de ensino) como informal (educação comunitária),objetivando capacitar a sociedade para a participação ativa na edificação de uma sociedade ideal.” (Pedrini, 1997, P.37) “Na década de 80 a EA passou a ser implementada, sob variadas óticas e por diferentes atores” (Pedrini, 1997,P.38), mas foi em 1994 que o Ministério do Meio Ambiente determinou que o IBAMA elaborasse o primeiro Programa Nacional de Educação Ambiental que “embora a proposta de programa tenha um referencial teórico coerente e esteja prevendo uma articulação governamental, dois dos seus objetivos não foram cumpridos: dar continuidade aos seminários anuais....e a realização da Conferência Nacional sobre Educação Ambiental.” (Pedrini, 1997, P. 40) Quanto aos órgãos educacionais, o MEC emitiu o parecer 226/87 de 11 de março indicando “o caráter interdisciplinar da EA e recomendando sua realização em todos os níveis de ensino”. (Pedrini, 1997, P.42). A EA também consta na LDB, no inciso I do artigo 36, e é prevista “para ter conteúdo curricular da educação básica a ser ministrada de forma multidisciplinar e integrada em todos os níveis de ensino”. (Idem) 2.2 - Como a Comunicação contribui para o desenvolvimento da EA Como já foi estudado no primeiro capítulo deste trabalho, a comunicação está presente em todos os nossos atos. Um processo de comunicação realizado de forma eficaz contribui para o sucesso de qualquer empreendimento ou atividade. Por isso, analisar de que forma a comunicação poderá contribuir para que as ações em EA sejam efetivadas com sucesso, torna-se uma necessidade. Partindo do raciocínio de que uma ONG ou mesmo uma escola tem uma estrutura de empresa, pode-se pensar no processo de comunicação da mesma forma. Ou seja, a comunicação deve “proporcionar segurança, continuidade e criatividade através da compreensão mútua da coletividade, entre emissor e receptor, sejam esses quem forem e em que momento ocuparem cada uma dessas posições”.(Lima, 1985,P.27). Portanto, o trabalho de divulgação, de assessoria de imprensa poderia ser executado com os mesmos critérios,ou seja, o Assessor de Imprensa seria “o responsável por múltiplas atividades e desempenha papel estratégico na política de comunicação dos assessorados (Fenaj, 1998, P.12). Mas, deve-se destacar que não basta usar todas as técnicas e meios de comunicação disponíveis, é preciso “levar em conta sua ética, sua operacionalidade, o benefício para todas as pessoas em todos os setores profissionais”(Lima, 1985,P.5). Em relação à EA deve-se lembrar que muitas organizações não-governamentais encontram dificuldades em lidar com a comunicação, tanto externa quanto interna. No artigo “Informação Ambiental, Educação em Redes: Criando a Cultura da Comunicação”, de Ida Pietricovsky de Oliveira, veiculado no site do Inesc(www.inesc.br), a autora aponta algumas causas para este problema: “Os movimentos sociais no Brasil, sindicatos, organizações de base e não-governamentais, vivem, ainda hoje, uma situação bastante complexa, da perspectiva de sua imagem junto a opinião pública. continuam a ter uma imagem de movimentos corporativos - no sentido negativo da palavra -, “basistas”, apenas reivindicatórios e ligados a conceitos de esquerda da década de 60.” (Oliveira, 1998, www.inesc.br) No Brasil, assim como em quase todos os países, os veículos de imprensa estão nas mãos de poucas pessoas. De acordo com Ida P.Oliveira, este atrofiamento faz com que ocorram “enormes dificuldades na relação com a imprensa, especialmente quando se trata de interesse dos movimentos sociais” (Idem.) Para modificar esta situação, Ida dá as seguintes sugestões: • apoiar as entidades para que identifiquem quais e quem são os meios de comunicação; • como se produz notícia, já que todos sempre produzimos informação; • criar conselhos de comunicação ou outras instâncias que promovam o debate em sua cidade, com critérios claros para que possam promover ampla participação; e buscar aprofundar a relação com os jornalistas (que são, em última instância, os editores) para que possam compreender melhor o universo de ação proposta pelos produtores e reeditores e com eles acompanhar o processo de trabalho realizado pela sociedade civil organizada. Entenda-se que esta relação não deverá se dar apenas para que uma matéria seja feita e publicada, mas para que o jornalista/repórter se sinta também um coadjuvante do trabalho social que está sendo realizado e entenda o melhor momento para fazer a matéria e como fazela, participar, enfim, da coletivização das propostas. (Idem) Como "é através da comunicação, da troca, que se dá a construção dos espaços políticos e culturais” (Idem) a autora acredita que a “possibilidade de que as redes, especialmente as eletrônicas que, apesar de serem absolutamente novas em nossa cultura, já têm tido impactos significativos na mobilização e na difusão de informações” (Idem.) e que os principais pressupostos para se atuar em educação ambiental, criar formas de comunicar e interar são: • a formulação de um dado deve ser amplamente especialmente com o público que se pretende atingir; discutida, • clareza na informação que se quer dar, ou seja, se é para divulgar novas tecnologias ou para difundir as leis que autorizam ou impedem determinado ato, por exemplo. Disseminar muita informação, simultaneamente, só provoca confusão; • somente a informação não é suficiente para mudança de comportamento, sendo a educação presencial e o estímulo - em geral financeiro - e o poder coercitivo do Estado as formas que • normalmente se conseguem, efetivamente, mudar o comportamento; • qualquer ação duradoura e de um amplo alcance precisa de uma ação articulada, ou seja, em rede, conectada por idéias ou projetos em comum; • por ser cara, a comunicação deverá ser detidamente discutida e os meios adequadamente trabalhados; • conhecer bem o público com o qual vai atuar, pois a difusão de uma idéia se soma ao trabalho que está sendo feito com um grupo, ou numa comunidade, podendo tanto servir para dar ênfase, como para atrapalhar um bocado; • dentro de um mesmo grupo existem diferentes formas de compreender a realidade, por exemplo, as mulheres, as crianças, os homens, os idosos e assim por diante. Por isso, quando se trabalha com grupos, mesmo que pequenos, nunca relevem estas diferenças, pois serão elas que poderão enriquecer tremendamente o trabalho de educação a ser feito; • evitar, a todo custo, explicar um conceito, uma idéia sem toda a sua complexidade. Ou seja, não sejam simplistas, sejam simples, mas não reduzam a realidade a um pedaço de uma coisa qualquer. Se tiver que explicar o que é sustentabilidade, coloque todo o conceito, cite exemplos explicando que mesmo estes, são parciais enquanto idéia mais ampla do que seja a sustentabilidade. (Idem) CAPÍTULO 3 PROJETO ARARAS: UM ESTUDO DE CASO PROJETO ARARAS A Organização Não-Governamental Projeto Araras,escolhida para este estudo, fica localizada no Bairro de Araras, no Distrito de Cascatinha, em Petrópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Araras é considerado pela ONG “um local único, que merece total preservação ambiental”(www.projetoararas.org.br) e que possui “um relevo de rochas espetaculares, uma fauna muito diversificada (podemos encontrar lontras, lebres, esquilos, tamanduás, guaches, maritacas, saracuras, jacús e outros tantos pássaros e animais da Mata Atlântica) e uma flora especial como as orquídeas nos campos de altitude, o "Rabo de Galo" com suas flores lilases e florada no mês de fevereiro, espécie endêmica, encontrada aqui, e somente aqui em Araras, além de uma enorme variedade de bromélias raras e muitas outras espécies” (www.projetoararas.org.br) Bastante procurado por turistas, tem 8.000 habitantes em 15 quilômetros de extensão, 2500 residências, 13 condomínios, 14 restaurantes, 8 pousadas, 5 áreas de ocupação desordenada, 1, creche, 1 shopping, 5 escolas, 4 públicas e 1 particular, sendo esta a única com ensino médio. A partir desses dados pode-se perceber que Araras convive com comunidades de alta e baixa renda o que gera muitos conflitos na hora da implantação de projetos de qualquer natureza, devido a diferentes interesses. Criada a partir da insatisfação de um grupo de moradores, que queria preservar e recuperar o bairro de Araras, a ONG Projeto Araras foi fundada em janeiro de 2001, mas sua história começou há mais de 20 anos, quando este mesmo grupo tentou montar uma associação. Por uma série de razões, o tempo passou e esta idéia não foi à frente.Inconformadas com o crescimento desordenado do local e outros problemas ambientais, estas pessoas decidiram tentar mais uma vez se organizar.O Projeto Araras surgiu, então, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, preservar e recuperar o meio ambiente em Araras,através da participação e envolvimento da comunidade. Fazem parte do Conselho, representantes das sete localidades de Araras (Poço dos Peixes, Cruzeiro, Mombaça, Perobas, Vale de Santa Luzia, Vista Alegre e Malta) e também do bairro – Vale das Videiras. Até maio de 2003 contava com 596 cadastrados, destes 20 são voluntários efetivos, ou seja, que participam com mais freqüência dos projetos, e 109 contribuem financeiramente. Um dado curioso sobre os cadastrados é que há muitos artistas e intelectuais participando do Projeto Araras, o que talvez contribua para uma boa imagem perante a comunidade, mas que também causa alguns problemas como o fato de causar a impressão de ser um projeto “só de ricos”, por isso as dificuldades para conseguir patrocínios. Para pagar as despesas básicas, a ONG além de contar com as doações, também vende camisetas com o logotipo do Projeto Araras e desenhos do cartunista Miguel Paiva. Para que esta instituição tivesse mais chance de êxito, os fundadores, antes de registrar a ONG, fizeram um levantamento de todos os problemas da região e optaram por cinco pontos considerados estratégicos para a questão ambiental: Educação, Saúde, Segurança, Infra-estrutura e Fortalecimento Comunitário. A partir desta divisão é que os programas foram elaborados e conseqüentemente os projetos. Até junho de 2003, os programas desenvolvidos foram: Meio Ambiente (com os projetos Araras Sem Lixo, Água e Corredor de Vida Silvestre); Educação (subdividido em Memória e Espaço Cultural);Infra-estrutura e Segurança.Estão em funcionamento o Araras Sem Lixo e o Espaço Cultural, que oferece cursos para comunidade local. (anexo 1) O Projeto Araras alcançou em pouco tempo uma imagem de credibilidade e eficiência em Petrópolis e já está servindo de exemplo de prática educativa, na área de meio ambiente. Pode-se citar como exemplo disso, o convite para realizar uma palestra na Universidade Católica de Petrópolis (anexo 3),o que ocorreu em 10/04/2003 e que foi uma oportunidade para a ONG divulgar seu trabalho para estudantes de Turismo e Economia. Em 2002 recebeu o Título de Utilidade Pública pela Câmara Municipal de Petrópolis. O Projeto Araras tenta estar presente em todas as situações que envolvem o bairro como problemas com falta de professores,a reserva biológica de Araras (anexo 3), instalação de antenas de celular, obras irregulares, etc. Em abril deste ano, por exemplo, entrou com um processo contra o Estado, através do MP, para conseguir professores para as escolas do bairro, o que pôde ser comprovado em reportagem veiculada pelo RJTV (TVSerramar) .Como membro titular do conselho de revisão do plano diretor e de suas leis complementares - CRPD que revê e atualiza o Plano Diretor de Petrópolis, Lei 4.870de1.991.,está tentando fazer com que seja aprovado o Distrito Ecológico de Petrópolis, que envolve o bairro de Araras e adjacentes. A criação do 6º Distrito de Petrópolis faz parte da Lei Orgânica do Município. Percebe-se nos participante da ONG, uma visão holística de meio ambiente, ou seja “de que o ser humano é natureza não parte dela” (Guimarães, 1993,P.30), embora sejam pessoas com formação educacional das mais diversas. Participam artesãos, advogados, médicos, comerciantes, professoras, entre outros. . 3.1 – Projeto Araras Sem Lixo Como estudo de caso para esta pesquisa foi escolhido o Projeto Araras Sem Lixo, porque tem maior repercussão local e divulgação em veículos de comunicação com alcance estadual e nacional (anexo 2). Este projeto foi também o primeiro do Projeto Araras, e começou antes mesmo da ONG existir oficialmente. Já está em sua quarta edição,onde tem como principal evento o Festival da Limpeza, que nos três primeiros anos foi realizado no mês de novembro, mas este ano será em setembro para coincidir com o dia Mundial da Limpeza, promovido pela ONG Australiana Clean-Up-The-World, que mantém contatos com o Projeto Araras. Problemas relacionados ao lixo são comuns em Araras. Além da poluição dos rios, casos de leptospirose ocorreram no bairro, e as queimadas nas matas, provocadas pela queima de forma inadequada do lixo verde, são freqüentes. A coleta de lixo antes não era regular, mas o Projeto conseguiu que fosse normalizada, em alguns logradouros. Em Petrópolis a coleta de lixo e a limpeza urbana e rural são de responsabilidade da COMDEP (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis), uma empresa de economia mista (pública/privada). Os objetivos do Araras Sem Lixo, conforme informações obtidas no site da ONG são: 1. Conscientizar a população de moradores, veranistas e visitantes através de educação nas escolas e campanhas. Tendo como meta melhoria da qualidade de vida e preservação da beleza e saúde local. 2. Parceria da comunidade com os órgãos competentes , hoje e sempre. (em curto prazo) 3. Implantação da coleta seletiva (em médio prazo) e galpão de reciclagem (em longo prazo ). (www.projetoararas.org.br) A principal estratégia para alcançar os objetivos do projeto é a integração, “tendo como fundamento o envolvimento das pessoas , comunidades, organizações não governamentais , órgãos ou entidades do poder público nas etapas sucessivas de planejamento, planos operacionais ,execução e campanhas”. (Idem) 3.2 - O Processo de Comunicação no Projeto Araras Sem Lixo Para entender como é o processo de comunicação do Araras Sem Lixo, foi realizado um estágio de observação de 80 horas, onde além de acompanhar os preparativos do principal evento, o Festival da Limpeza, foi feito um levantamento no local, com funcionários e voluntários sobre como a ONG divulga os outros projetos, como se comunica com a comunidade. Percebeu-se que os participantes sabem como deve ser o processo de comunicação, sabem com quem devem falar na imprensa local, utilizam a internet para divulgação, mas dois problemas foram detectados: a falta de verba para um projeto de comunicação próprio (não há profissionais contratados para esta função específica, nem um projeto definido e também não há verba para os outros projetos) e a falta de voluntários para fazer este tipo de serviço. A ONG tem apenas duas funcionárias para todas as tarefas administrativas e nem sempre elas têm tempo de fazer uma divulgação. Porém, elaboram os informativos, que tem como meta ser trimestral, mas este ano só foi enviado em abril. O site - www.projetoararas.org.br - (anexo 3) é atualizado por uma das secretárias, mas foi desenvolvido por um voluntário que depois não completou o serviço. Observa-se que o veículo mais utilizado é a internet, tanto para a comunicação com o público interno quanto com o externo. Os informativos (anexo 3) são enviados por e-mail para todos os cadastrados. Sempre que há reuniões ou outras informações a serem transmitidas este meio é utilizado. Para entrar em contato com os órgãos governamentais e outras instituições, o e-mail, é quase sempre, a primeira opção. Embora nenhum desses meios seja elaborado por especialistas, ao difundir as notícias, podese reconhecer a função jornalística da comunicação de massa, que é realizada “através da captação, interpretação e difusão de informações e opiniões sobre fatos, idéias e situações atuais, de interesse e importância para a segurança e orientação de cada indivíduo e da sociedade como tal.” (Beltrão, 1986, P.142). Através do site é possível claramente perceber que a ONG concorda com os conceitos de desenvolvimento sustentável e de educação ambiental atuais, ao deixar claro que quer o envolvimento de todos na questão e procura “levantar os principais problemas da comunidade....os conhecimentos necessários e as possibilidades concretas para a solução deles” (Reigota, 1994, P.27). A Carta da Terra é um dos destaques da homepage, o que reforça a idéia de que a ONG tem compromisso com as discussões ambientais mais recentes. Alguns links ainda não estão funcionando, por questões técnicas, mas esse meio está cumprindo a função de divulgar as atividades da ONG. Todas as informações sobre o projeto e também sobre a região podem ser encontradas. O texto (elaborado para o site e para o informativo) é parecido com o realizado por jornalistas, ou seja, “claro, preciso, direto, objetivo e conciso” , (Martins, 1997, P.15), embora contenha alguns adjetivos e de acordo com as regras básicas do jornalismo “no texto noticioso deve-se limitar aos adjetivos que definam um fato, evitando aqueles que envolvam avaliação“ (Martins, 1997, P.32) . A comunicação direta através do uso do telefone e do “boca a boca” também faz parte da estratégia de divulgação, pois nem todos os cadastrados têm acesso à internet. A falta de voluntários dificulta este trabalho. Quando conseguem patrocínio, fazem cartazes e folders (anexo 3) para divulgar projetos, como por exemplo, os cursos mantidos pelo Espaço Cultural, que não faz parte do Araras Sem Lixo, mas serve de exemplo de uma forma de comunicação utilizada por todos os projetos (anexo 3). As camisetas com ilustrações do cartunista Miguel Paiva, além de ser uma forma de conseguir recursos financeiros, também servem de divulgação pois têm o logotipo do Araras Sem Lixo (anexo 3) e os coordenadores sempre que vão a algum evento usam a camiseta como forma de propaganda. O Araras Sem Lixo é o projeto onde os meios de comunicação têm sido mais utilizados. Através de atividades com as crianças e ações junto à comunidade, vem tentando sensibilizar os adultos quanto à importância de tratar corretamente o lixo (anexo 3) e alertando sobre o porquê da preservação ambiental. Como já foi citado anteriormente, o Festival da Limpeza é a principal atividade do Araras Sem Lixo. Em 2003 acontece a quarta edição do que começou sendo chamado de DIA DA FAXINA, mas em 2002, como durou quase um mês, se transformou num festival onde outras atividades paralelas, para alertar sobre o problema do lixo, foram realizadas no bairro (anexo 1). Porém, o que mais chama a atenção é a faxina ou limpeza feita nos rios por moradores, veranistas, turistas e até mesmo residentes de outros bairros. Se forem comparar os resultados obtidos até agora, pode-se acreditar que a divulgação está surtindo efeito. Na 1ª campanha foram retiradas 177 toneladas de lixo, na 2ª 143 toneladas e na 3ª 59 toneladas. O fato da quantidade de lixo retirada ter diminuído é considerado um resultado positivo, pois pode significar que menos lixo foi jogado no rio durante o ano, ou seja, a comunidade estaria se sensibilizando e os conceitos de educação ambiental estariam se tornando parte do cotidiano. Embora isto não possa ser comprovado com absoluta certeza, porque não se contabilizou exatamente quantas pessoas participaram da limpeza. O Projeto Araras pelo DIA DA FAXINA recebeu, em 2002, o diploma Your Community Our Earth em reconhecimento a todas as comunidades e organizações do mundo inteiro que participam do Programa Clean UP The World. Uma parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a ONG, australiana, Clean Up The World para limpar o mundo. Os coordenadores do projeto acreditam que ainda há muito o quê fazer nesta área e que a comunicação ainda não é feita de modo que atinja a toda comunidade. Porém, ao observar como este projeto é realizado, notase que já estão mais organizados na hora de pensar no processo de comunicação. Para reunir todos os cadastrados neste projeto, até o final de maio eram 36, as secretárias enviam primeiro um e-mail e depois confirmam por telefone se as pessoas comparecerão à reunião programada. Na primeira reunião observada, apenas 8 pessoas compareceram. O objetivo era definir as metas de 2003, entre elas, o Festival da Limpeza. Durante este encontro algumas pessoas comentaram sobre a dificuldade para divulgação e foi nesta reunião que aceitaram o convite para uma palestra na UCP (Universidade Católica de Petrópolis) o que foi apontado como uma oportunidade de divulgar, não só o Araras Sem Lixo, mas também o Projeto Araras. Ficou decidido que quem daria a palestra seria um cadastrado que é professor com grande experiência acadêmica. Esta palestra que ocorreu no dia 10 de abril foi bastante aproveitada pela PA, que além de explicar sobre o Araras Sem Lixo, utilizando slides, relatou todo o histórico da ONG. Muitos estudantes se mostraram interessados em participar como voluntários. Pode-se constatar também que os participantes têm uma grande preocupação com a questão da Educação Ambiental. E embora o evento principal, o Festival da Limpeza, fosse o de mais destaque naquele dia, a questão da EA como uma mudança de comportamento foi comentada várias vezes, pois acreditam que é necessário um trabalho durante todo o ano, principalmente com as escolas, para que haja uma redução do lixo. Por isso, neste dia um assunto que deixou os participantes satisfeitos foi de que a Comdep instalou as placas com frases de conscientização, pedidas há quatro anos. (Uma das frases era o acróstico “Ar Puro - Rios Limpos -A natureza agradece –Respeite-Araras - Sem Lixo!”) São 7 placas, com material reutilizado e alguns comentaram sobre a dificuldade da leitura, pois achavam que havia muita informação. Isto mostrou preocupação com a forma de transmitir a mensagem, ou seja, uma preocupação com o feedback, que em comunicação significa, ”uma resposta a uma mensagem” (Dimbleby&Burton, 1990, P.214) que neste caso era o entendimento dos conceitos de preservação ambiental. Mas, a questão das placas mostra que o PA ainda terá muito trabalho para sensibilizar a comunidade, pois até o final desta pesquisa, só uma placa sobreviveu aos vândalos, as outras foram arrancadas. Outro assunto colocado em pauta neste dia foi o patrocínio da História em Quadrinhos elaborada pelo cartunista Miguel Paiva, há dois anos, que não cobrou pelo trabalho, pois ele também é cadastrado no projeto, mas há necessidade de patrocínio para ser publicado. Esta HQ, que conta a história de Ararinho e Vô Pedro, será distribuída nas escolas e no comércio local e tem por objetivo atingir toda a comunidade através de um texto leve e divertido, alertando para a necessidade de preservação de Araras e dos problemas gerados pelo lixo jogado no bairro pela geração atual e as conseqüências para a geração futura. Durante o encontro uma das coordenadoras lembrou que a EA faz parte dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais), mas que nas escolas de Araras isto não está ocorrendo. Por isso, as escolas locais são o lugar ideal para o PA desenvolver projetos de educação ambiental. Uma das grandes preocupações do “grupo do lixo”, como alguns voluntários denominam o projeto, é com o incentivo à reciclagem (anexo 3). Em Araras apenas um coletor recolhe todo o lixo reciclável (cerca de 12 toneladas) porém, o trabalho de reciclagem está parado, porque não há um local em Araras apropriado para isto. Neste encontro uma nova reunião foi marcada e pôde-se observar, pelos assuntos discutidos, que as pessoas envolvidas tem uma noção de que natureza e ser humano não podem se separar. Talvez algumas nem tenham percebido isso, mas foi comum ouvir expressões como “não podemos fazer uma campanha, sem pensarmos nos problemas dos moradores em relação ao lixo, não é só manter a beleza do local, precisamos pensar nas pessoas, e nas conseqüências do lixo...etc”. O que lembra as recomendações da Conferência de Tiblisi, como “Ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e as causas reais dos problemas ambientais” (Guimarães, 1995, P.21) e “Ressaltar a complexidade dos problemas ambientais e, em conseqüência,a necessidade de se desenvolver o sentido crítico e as atitudes necessárias para resolvê-los” (Idem). Nesta reunião foi sugerido fazer o festival em setembro, para coincidir com a clean-up the world. O Festival da Limpeza, além de ser uma atividade de EA, porque envolve toda a comunidade no trabalho de sensibilizar a população para o problema do lixo, também tem por objetivo fazer com que não só a limpeza dos rios se torne uma ação rotineira, mas que se deixe de jogar lixo no rio. Este evento é o que mais colabora para a imagem da ONG e o que mais repercutiu na cidade, porque mostra como é o trabalho do PA. Segundo, os coordenadores, depois de três festivais, este ano, o rio não encheu por causa do lixo. Em 2003 quando ocorreram as chuvas de janeiro o rio de Araras não transbordou como acontecia anteriormente. Já o Rio Piabanha, no Centro de Petrópolis,encheu rapidamente. Em 2001 os efeitos positivos desta atividade também foram percebidos, conforme noticiado no Jornal do Brasil (anexo 2). Na segunda reunião,com representantes das escolas, foram decididas as principais atividades e estratégias para o Festival da limpeza.É necessário esclarecer que o grupo que coordena o Araras Sem Lixo, tem ações durante o ano todo e trabalha em parceria com as escolas e o comércio e conseguiu colocar a idéia da reciclagem e da coleta seletiva na comunidade, porém nem toda a comunidade coopera, assim como nem todos os veranistas. Na reunião foi confirmado o Festival da Limpeza para o período de 19 de setembro a 31 de outubro, sendo que o DIA DA FAXINA será em 20 de setembro, para coincidir com a campanha da ONG Clean-UpThe-World. A mudança da data ocorreu, não só devido a vontade dos organizadores, mas também ocorreram reclamações da comunidade quanto ao mês de novembro, porque é a época das provas finais. No DIA DA FAXINA acontece uma grande limpeza no rio de Araras, com a participação da comunidade e também dos órgãos governamentais e ambientais.Durante a reunião ficou claro que o objetivo das coordenadoras não é simplesmente limpar o rio, mas sim fazer com que o lixo não seja jogado no rio, ou seja, a EA como “ação educativa permanente, pela qual a comunidade tende à tomada de consciência de sua realidade global” (Vilson, 2002, P.51, citando a Conferência de Chosica). Por isso, a necessidade da colaboração das escolas. Esta discussão surgiu porque uma professora achou que setembro ficaria muito longe da época das chuvas e quando chovesse o rio estaria cheio de novo. Nota-se aí uma dificuldade de conscientizar a comunidade “de mudar os comportamentos individuais e sociais” (Reigota, 1994,P.30). A participação das escolas neste processo é considerada fundamental e o festival já faz parte do calendário das escolas. Para 2003, com o objetivo de fazer uma interação entre as escolas, ficou sob responsabilidade das professoras a apresentação de palestras dos alunos maiores para os menores, sendo que cada escola fará as apresentações nas outras escolas. Os próprios alunos farão a pesquisa, obviamente, com o tema lixo, enfocando o ambiente e o ser humano. De acordo com as professoras, a noção das crianças sobre reciclagem de lixo é limitada. Por isso, levantaram a necessidade de aprofundar o tema reciclagem. As professoras e coordenadoras conhecem o Tratado sobre Consumo e Estilo de Vida, aprovado no Fórum Global, em 1992. A importância dos 3R’s, “junção das iniciais reduzir, reutilizar e reciclar” (Layrargues, 2002, P.180) foi citada várias vezes durantes a reunião. A política dos 3R’s é considerada “um slogan de grande eficácia pedagógica” (Idem). As apresentações dos alunos serão iniciadas em setembro e estendidas até o final de em outubro, porque as professoras acham que poderá ser uma forma de dar continuidade ao processo educativo. Os temas escolhidos foram:Reciclagem-reaproveitamento; Lixo verde e compostagem; Saneamento básico, incluindo as doenças causadas pelo lixo ; Queimadas; e Os principais cuidados com o lixo (na escola, em casa, ônibus, etc). Foi na segunda reunião que ficou decidido o quê se poderia chamar de ações de comunicação para o Festival da Limpeza. Se conseguirem patrocínio, utilizarão os seguintes meios: Faixas ou banners, para serem colocados em todo o bairro; Spots, gravados por algum artista que tenha casa em Araras (sugeriram Gil ou Djavan), para serem veiculados em carros de som pelo bairro;cartazes e folhetos com distribuição nos condomínios. Interessante acrescentar que algumas professoras ficaram preocupadas com as faixas e o carro de som, para que não ocorra poluição visual ou sonora, e a propaganda acabe trazendo transtornos. Por isso, concordaram em que assim que terminar o festival, o PA retirará todas as placas. Quanto ao som, esta seria a única maneira de atingir as localidades mais distantes. A história em quadrinhos de Miguel Paiva continua nos planos. Uma professora está negociando o patrocínio. A divulgação na imprensa também foi citada, embora não como prioridade. Através dos meios escolhidos percebe-se que realmente querem atingir a comunidade, pois selecionaram meios específicos para o perfil dos moradores. No Festival da Limpeza algumas atividades que deram certo ano passado serão repetidas,como as palestras sobre ecologia, realizadas por um grupo de universitários e o Teatro da Fundação de Cultura (Mama to na Lona). Para quem não é morador de Araras, a impressão que se tem do Araras Sem Lixo, é de que o projeto tem o apoio total dos órgãos governamentais (anexo 2), mas na prática não é o que acontece. Durante o ano, para conseguir melhorias no bairro muitos pedidos foram feitos e poucos atendidos (anexo 3). Mas, no Festival da Limpeza, os órgãos públicos realmente aparecem “pegando uma carona na mídia”, pois muitos artistas que têm casa na região participam do evento. Ano passado, por exemplo, os spots foram gravados pelos cassetas Bussunda e Beto Silva. Os meios de comunicação utilizados pelo Projeto Araras têm alcançado um bom retorno. A ONG tem a imagem de uma instituição com credibilidade e é respeitada na sociedade local, mas isto não tem sido o suficiente para conseguir que a comunidade participe mais dos projetos. O Projeto Araras mantém um clipping, palavra utilizada para “designar a atividade de medição de tudo aquilo que foi publicado” (Lima, 1985, P.62),atualizado, onde estão todos os recortes das notícias relacionadas ao Projeto Araras e ao bairro. De 50 matérias (entre notas de colunistas e reportagens) analisadas, 24 eram sobre o Araras Sem Lixo (anexo 2), 6 sobre o programa Educação, e as outras sobre o distrito ecológico e problemas com antenas celulares. Normalmente estes contatos com a imprensa são feitos por telefone ou e-mail. Muitas vezes a iniciativa é da própria imprensa. Os textos destas matérias são dos jornalistas do veículo, não foram retirados de releases “texto informativo distribuído à imprensa por uma instituição privada, governametal, etc,para ser divulgado gratuitamente, entre as notícias publicadas pelo veículo” (Rabaça&Barbosa, 1978,P.403), pois o Projeto Araras utiliza pouco este recurso, muito comum em assessorias de imprensa para “levar à redação notícia que possa servir de apoio” (Fenaj, 1994, P.25). Apenas na semana do Festival do Lixo, em 2002, foi enviada a programação, que um jornal local, publicou na íntegra (anexo 2). Através destas matérias constata-se que a imprensa local apóia e simpatiza com a causa da ONG. Em uma das reuniões percebe-se claramente que os moradores confundem a função da ONG com a do poder público. Pode-se citar como exemplo o fato de no meio de uma reunião um senhor entrar na sede e perguntar se já havia resposta para o conserto de uma calçada. Este não é o objetivo da ONG. Não quer substituir o poder público, mas ser um meio de pressão para que este cumpra sua função e para isso quer conscientizar a população para que ela entenda seus direitos. Mesmo não tendo um processo de comunicação contínuo, o Araras Sem Lixo está conseguindo fazer com que as questões ambientais sejam discutidas, não só o tema lixo, mas tudo o que está relacionado ao meio ambiente e a uma melhor qualidade de vida. Já se tornou exemplo de desenvolvimento sustentável no artigo que está no Livro Desenvolvimento Sustentável em Petrópolis, da Viana&Mosley Editor. Ainda não conseguiram envolver todo o bairro, pois há muitos interesses diferentes na região e o problema ambiental, nem sempre é encarado como prioridade por alguns.Os condomínios, por exemplo, também participam, alguns já tem coletiva seletiva, composteira para o lixo verde e os proprietários estão atentos a desmatamentos. A dificuldade de acesso aos meios de comunicação por parte dos moradores dificulta as ações. A direção do PA está tentando fazer uma rádio comunitária, pois considera este veículo de fácil acesso aos moradores. No final da pesquisa o método que o Projeto Araras estava utilizando para divulgar seus projetos, era participar dos eventos sobre meio ambiente que estavam acontecendo na cidade. Nesses eventos, sempre que tinha oportunidade, além de dar um cartão de visitas, a representante explicava sobre os trabalhos desenvolvidos pela ONG. Em um deles, fez uma interpelação em uma palestra, quando um professor deu a idéia de se fazer um dia da limpeza em Petrópolis, como se isso jamais tivesse acontecido em qualquer lugar do mundo. A representante aproveitou para explicar sobre o Festival da Limpeza e destacou que um dos problemas era justamente, a divulgação. CONCLUSÃO O Processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo, principalmente para a divulgação do Festival da Limpeza, se for feito como planejado, conseguirá alcançar os resultados pretendidos, pois a ONG está utilizando diversos meios, direcionados à comunidade que quer atingir. Deve-se levar em conta que o festival já está se tornando uma característica do local e que nos anos anteriores foi o projeto que deu a ONG esta imagem de credibilidade. Isto pode ser comprovado, na prática, pela quantidade de lixo recolhido, pelo número de pessoas da comunidade e de outros locais que se envolveram e pela repercussão obtida na mídia. Não há como garantir que em 2003 o sucesso será o mesmo, pois toda a estratégia de comunicação planejada para este ano, depende de patrocínio. Pelo que foi feito até agora, pode-se afirmar que o projeto já conseguiu envolver alguns grupos, por exemplo, as professoras, embora isto não signifique que toda a comunidade escolar participará, pois dependerá da forma como estas professoras farão a comunicação nas escolas. Para termos certeza de que o processo de comunicação utilizado pelo Araras Sem Lixo foi correto e que os meios de comunicação escolhidos influenciarão no resultado final, será necessário acompanhar os próximos passos e conferir o Festival da Limpeza, que serve como uma espécie de termômetro do PA, para saber se estão conseguindo passar, através dos meios de comunicação, alguma noção de EA. Ao conferir os resultados dos anos de 2001 e 2002, percebe-se que isto ocorreu de uma forma ainda tímida, mas significante, pois a comunidade já se preocupa com as questões ambientais. Mas o trabalho de educação ambiental não acontece de um dia para o outro, é uma tarefa que deve ser contínua e aqueles que se dispõem a fazê-la precisam ser persistentes. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo, Cultrix, 1979. BELTRÃO, Luiz;QUIRINIO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma Teoria da Comunicação de Massa. São Paulo, Summus, 1986 BORDENAVE, Juan E. Diaz. O que é Comunicação. São Paulo, Brasiliense, 1984. _____. Além dos Meios e Mensagens. Petrópolis – RJ, Vozes, 8ª edição, 1998. CAMARGO, Luiz Otávio de Lima. Perspectivas e Resultados de pesquisa em Educação Ambiental. São Paulo, Arte&Ciência, 1999. CARVALHO, Vilson Sérgio. Educação Ambiental & Desenvolvimento Comunitário. Rio de Janeiro, WAK, 2002. CRUZ, Graziela. 27 de Maio: Dia Mundial da Comunicação. Jornal Indústria e Comércio. Belo Horizonte - Edição de 26 a 28/junho de 1998. DIMBLEBY, Richard & Burton, GRAEME. Mais do que Palavras – Uma Introdução à Teoria da Comunicação. 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