DIAGNÓSTICO AMBIENTAL NO ASSENTAMENTO RURAL IPORÁ NO AMAZONAS David Franklin da Silva Guimarães 1; Aline Araújo Patricio2; Vanessa Araújo Castelo Branco3; Marciléia Couteiro Lopes Ferreira 4; Norma Cecília Rodriguez Bustamante5 Resumo Os quintais dos produtores rurais na Amazônia têm uma grande variedade de espécies. Geralmente os agricultores optam por plantar consórcios de espécies frutíferas, florestais e agrícolas próximo às suas residências e em áreas denominadas agricultáveis. De certa forma, inconscientemente, realizam o plantio em formato de sistemas agroflorestais, com o objetivo de manter suas áreas produtivas o ano inteiro. Este trabalho objetivou diagnosticar aspectos sociais, econômicos e ambientais dos sistemas agroflorestais de propriedades rurais localizados no assentamento rural Iporá no município do Rio Preto da Eva, Amazonas, bem como identificar as espécies que compõem esses sistemas. Por meio do levantamento florístico foi possível identificar as espécies existentes nos quintais desses produtores rurais e através de questionários não-estruturados tornou-se possível identificar quais possuem importância econômica para os agricultores familiares da região. As espécies frutíferas como: cupuaçu, laranjeira, tucumã, açaí, coco e pupunha são as mais cultivadas pelos agricultores. Entre as espécies agrícolas merece destaque a produção de mandioca e entre as florestais, o uso não-madeireiro da castanha mostrou-se eficaz economicamente, contribuindo para a conservação da floresta primária e para o desenvolvimento sustentável. Os consórcios entre espécies florestais, agrícolas e frutíferas são imprescindíveis para a manutenção da floresta primária, ainda predominante no assentamento. Palavras-chave: Amazônia, desenvolvimento sustentável, propriedades rurais. ENVIRONMENTAL DIAGNOSIS OF IPORÁ RURAL SETTLEMEN IN AMAZONAS Abstract The backyards of farmers in the Amazon have a great variety of species. Usually farmers prefer to plant fruit species consortia, agricultural and forest close to their homes and farmland in designated areas. Somehow, unconsciously do the planting in the form of agroforestry systems in order to maintain their production areas throughout the year. This study aimed to diagnose the social, economic and environmental impacts of agroforestry farms located in the rural settlement of Iporá in the city of Rio Preto da Eva, Amazonas, and identify the species that compose these systems. Through the survey was possible to identify the species found in the backyards of rural producers and through unstructured questioning it became possible to identify which ones have economic importance for farmers in the region. The fruit species such as cupuaçu, orange, tucuman, açaí, coconut and pupunha are the most widely cultivated by farmers. Among the species deserves the agricultural production of cassava and between the forest, using non-wood chestnut was effective economically, contributing to the conservation of primary forests and sustainable development. The fellow members of forest species, agricultural and fruit are essential for the maintenance of primary forest still prevailing in the settlement. Keywords: Amazon, sustainable development, farms properties. 1 Acadêmico do curso de Engenharia Florestal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Amazonas – UFAM. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Engenharia Florestal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Amazonas – UFAM. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso de Engenharia Florestal, Voluntária do Programa de Educação Tutorial de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Amazonas – UFAM. E-mail: [email protected] 4 Professora Mestre do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. E-mail: [email protected] 5 Professora Doutora do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Tutora do Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. E-mail: [email protected] 1 INTRODUÇÃO Os quintais dos produtores rurais na Amazônia têm uma grande variedade de espécies. Geralmente os agricultores optam por plantar consórcios de espécies frutíferas, florestais e agrícolas próximo às residências principais e em áreas denominadas agricultáveis. De certa forma, mesmo que inconscientemente, realizam o plantio em formato de sistemas agroflorestais, com o objetivo de manter suas áreas produtivas o ano inteiro. Os sistemas agroflorestais (SAF’s) podem ser definidos como sendo a modalidade de uso integrado da terra para fins de produção florestal, agrícola e pecuária. Os SAF’s são uma alternativa integrada que tem como principal vantagem a aliança com a estabilidade dos ecossistemas (DUBOIS et al, 1996). Os aspectos principais dos sistemas agroflorestais estão na presença deliberada de componentes florestais para fins de produção, de proteção ou visando ambas as situações simultaneamente (PASSOS & COUTO, 1997). Na Amazônia, é comum o cultivo de espécies frutíferas em SAF comerciais multiestratificados. Estas espécies, em geral, são cultivadas por agricultores familiares com fins comerciais e para a subsistência (VIEIRA et al, 2007). Nos sistemas agroflorestais multiestratificados os agricultores podem obter renda com diferentes produtos durante todo o ano. Para a agricultura familiar isso é muito importante, pois justifica a viabilidade econômica deste sistema. Além deste fator a associação com outras culturas pode repelir pragas, enriquecer e proteger o solo. Os SAF’s são importantes alternativas de produção, principalmente para regiões como a Amazônia. A conciliação de espécies florestais com culturas agrícolas além de trazer inúmeros benefícios para o agricultor mantém boa parte da floresta intacta, causando assim um menor impacto nas atividades agrícolas da região. Os assentamentos rurais na Amazônia devem ter a prática dos sistemas agroflorestais com uma das principais opções de cultivo. Entretanto atividades deste gênero na Amazônia são pouco praticadas e investimentos na área ainda são insuficientes. O assentamento para reforma agrária Iporá, localizado em terras do Município do Rio Preto da Eva, Amazonas é um bom exemplo da prática de sistemas agroflorestais na Amazônia. Grande parte da floresta primária continua sendo mantida, mesmo em paralelo com a produção agrícola, oriunda da agricultura familiar. Com o objetivo de conhecer os quintais dos produtores rurais do Assentamento para reforma agrária, Iporá, o presente estudo realizou o diagnóstico ambiental de propriedades rurais localizadas nos ramais Manápolis e Pedreira, com ênfase no levantamento das espécies vegetais preferencialmente plantadas pelos agricultores. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado no assentamento para reforma agrária denominado Iporá, localizado no km 128 da Rodovia AM-010, em terras dos municípios de Rio Preto da Eva e Itacoatiara, estado do Amazonas. Segundo dados do INCRA (1991) o assentamento tem uma área total de 29.643ha e encontra-se dividido em áreas para preservação, parcelamento e estabelecimento de infraestrutura urbana. O Projeto do Assentamento foi criado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em 1991 após a desapropriação de uma fazenda de cana de açúcar que supria uma destilaria de álcool e uma fábrica de cachaça criadas em função do PROALCOOL. As mesmas faliram no início da crise do programa, e as terras serviram como pagamento de dívidas de financiamentos junto ao Governo Federal (FRANÇA, 2003). A vegetação predominante tem características de floresta primária, porém nas propriedades existem consórcios de várias culturas e sistemas agroflorestais. O plantio de árvores frutíferas é extenso, assim como o cultivo de mandioca e guaraná. A área possui uma boa rede de drenagem, formada por nascentes e cursos d’água pertencentes à bacia do Rio Preto. Porém, a maioria dos igarapés passa em áreas com desníveis elevados dificultando o acesso à água para consumo doméstico. O assentamento possui 120 km de estradas vicinais, escolas e postos de saúde, onde atualmente estão assentadas 693 famílias, das quais 155 possuem o título definitivo dos seus lotes. A economia do assentamento gira em torno da produção de farinha de mandioca, macaxeira e frutas como o cupuaçu, jambo, abacaxi, coco, laranja, banana, guaraná, além da piscicultura e do artesanato. Parte da produção de alimentos é encaminhada aos mercados consumidores de Manaus, Itacoatiara e Rio Preto. A outra é comercializada junto a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) e ao Governo do Estado. Apesar das várias plantações, boa parte da alimentação consumida vem dos municípios adjacentes ou da capital Manaus. Existem algumas criações de animais como galinhas, patos, suínos e bovinos. Um dos ramais mais antigo no assentamento é o Manápolis, onde existe uma vila com o mesmo nome, além da sede da associação de moradores, escola e posto de saúde. Ao longo de todos os ramais do Assentamento se observa a descaracterização com relação ao objetivo principal dos projetos para reforma agrária criada pelo INCRA. Várias propriedades encontram-se totalmente 2 abandonadas e outras ocupadas ilegalmente. Alguns lotes foram transformados em sítios, onde os proprietários contratam os serviços de caseiros para que realizem atividades de manutenção, ou apenas, mantenham os lotes sob a vigilância de ocupação. Em relação a equipamentos de infraestrutura urbana, o assentamento possui energia elétrica, porém não possui água encanada. Os moradores consomem água oriunda de poços artesianos perfurados ou dos igarapés existentes nas propriedades. Não existe sistema de esgotamento sanitário e o lixo é enterrado em valas nas propriedades. O acesso aos lotes dos assentados pelas vicinais não é dificultoso, apesar das estradas não serem asfaltadas. Mesmo na época de chuvas, veículos sem tração conseguem transitar pelos ramais. Na maioria dos lotes as residências são de madeiras retiradas dos próprios terrenos, cobertas com telhas de zinco ou palha. Ou mistas: madeira e alvenaria, grande parte delas construídas com os incentivos e programas do INCRA. Conforme citado por França (2003), a área do assentamento encontra-se parte no município de Rio Preto da Eva e parte no município de Itacoatiara, porém este sempre foi atendido apenas pelo município de Rio Preto da Eva, devido à maior proximidade da sede e maior interesse por parte dos governantes deste município. Os professores e agentes de saúde sempre foram pagos pela prefeitura de Rio Preto da Eva. Porém, o repasse de verbas para o município nunca levou tal situação em consideração. Assim, a Prefeitura do Rio Preto da Eva e os assentados sempre reivindicaram que o Iporá fizesse parte apenas de Rio Preto da Eva. Foram realizados levantamentos em dez propriedades rurais e a localização de cada propriedade ao longo do assentamento pode ser visualizada na figura abaixo. As espécies vegetais existente nas propriedades em um raio de 200 m da residência principal de cada propriedade foram catalogadas, sendo medidas a CAP (circunferência à altura do peito) dos indivíduos arbóreos e estimada a altura. Também foram coletadas as coordenadas geográficas nos pontos extremos das propriedades para posterior marcação em imagem georeferenciada. Todas as informações adicionais quanto às propriedades onde foram realizados os levantamentos foram obtidas através de questionamentos não estruturados junto aos produtores rurais assentados, tendo como base suas experiências diárias com a lida no campo e vivência pessoal. Os sítios visitados nos ramais Manápolis e Pedreira no assentamento Iporá para realização deste trabalho estão demarcados na Figura 1. Figura 1: Imagem georreferenciada do assentamento Iporá e propriedades de realização do diagnóstico. Figure 1: Image of the georeferenced of the Iporá settlements and properties diagnosis. Fonte: Eliezer Litaiff e Marcileia Lopes (2012). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste estudo foram identificadas 77 espécies cultivadas ou manejadas pelos agricultores rurais dos sítios em estudo. Das 77 espécies encontradas 31 foram identificadas no levantamento florístico realizado em um raio de 200m da residência dos produtores rurais dos sítios visitados no assentamento Iporá. A lista de espécies identificadas no levantamento florístico está na tabela 1. Tabela 1 – Levantamento florístico dos quintais dos produtores rurais. Table 1 – Floristic survey of farmers producers' backyards. Nº Nome Vulgar Nome Científico Quantidade Média de CAP (cm) Média de H (m) 1 Abacate Persea americana Mill. 17 72,5 6,0 2 Abiu Pouteria caimito Radlk 01 35,0 4,0 3 Acerola Malpighia glabra L 17 29,0 8,0 4 Andiroba Carapa guianensis Aubl. 32 32,5 6,0 5 Azeitona Syzygium cumini (L.) Skeels 13 110,8 8,8 6 Bacuri Platonia insignis Mart. 02 36,0 4,0 7 Bananeira Musa sp 36 - 3,0 8 Cajú Anacardium occidentale 20 34,8 4,0 9 Carambola Averrhoa carambola L. 05 53,0 6,0 10 Castanheira Bertholletia excelsa Bonpl 45 135,8 12,4 11 Coqueiro Coccus nucifera L. 61 - 5,0 12 Cumaru 01 72,0 10,0 13 Cupuaçu 21 30,0 4,8 14 Dendê Dipterix odorata (Aubl.) Willd Theobroma grandiflorum K. Schum Elaeais guineensis Jaquim 15 - 10,0 15 Goiaba de Anta Bellucia grossularioides 15 92,0 10,0 16 Goiabeira Psidium guajava L. 50 35,0 4,9 17 Guaraná Paullinia cupana Kunth. 24 - 2,0 18 Ingá Inga edulis Mart. 13 41,0 5,0 19 Jambeiro 24 87,3 6,3 20 Jaqueira Syzygium malaccense (L.) Merr & L.M.Perry Artocarpus integrifolia L.f. 16 90,0 8,2 21 Lacre 01 75,0 12,0 22 Laranjeira Vismia guianensis (Aubl.) Pers. Citrus sinensis (L.) Osb. 14 23,0 3,0 23 Limão Citrus sp. 68 23,7 3,8 24 Mangueira Mangifera indica L. 124 70,0 5,8 25 Murici Byrsonima carssifolia H.B.K. 28 42,7 5,3 26 Paleteira 05 110,0 11,5 27 Pau Brasil Clitoria fairchildiana Howard Caesalpinia echinata Lam. 01 22,0 4,0 28 Pitanga Eugenia uniflora L. 03 - 2,0 29 Taperebá Spondias mombin L. 17 82,4 10,4 30 Tucumã Astrocaryum aculeatum 92 10,0 10,0 31 Urucum Bixa orellana L. 29 - 3,0 Nos quintais dos produtores rurais foram catalogadas principalmente espécies frutíferas que, em sua grande maioria, são utilizadas para o consumo dos próprios agricultores, como a mangueira (Mangifera indica 4 L.), o tucumã (Astrocaryum aculeatum) e a goiaba (Psidium guajava L.). Além de espécies frutíferas também foram encontrados indivíduos florestais de grande porte como a castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl). Os consórcios utilizados pelos produtores rurais são evidentes na grande presença de espécies florestais e frutíferas nos seus quintais. De acordo com o relato dos agricultores, em seus terrenos existe uma variedade de 54 espécies vegetais, sendo de maior importância as culturas de interesse comercial. Tabela 2 – Espécies relatadas pelos produtores rurais dos sítios visitados. Table 2 – Species reported by farmers producers of the visiteds sites. Nº Nome Vulgar 1 Abacaxi Ananás comosus L. 2 Açaí Euterpe oleracea Mart. 3 Andiroba 4 Angico 5 6 Araçá Boi Araçá Boi QUANT Nº Nome Científico Nome Vulgar Nome Científico QUANT 05 28 Fava Benguê Elaeais guineensis Jaquim 899 29 Fruta Pão Artocarpus incisa L. Carapa guianensis Aubl. 50 30 Guaraná Paullinia cupana Kunth. 376 Parapiptadenia rigida (Benth.) 80 31 Graviola Annona muricata L. 27 01 32 Inajá Maximiliana regia 01 Eugenia stipitata McVaugh 33 Jucá Caesalpinia férrea Citrus sinensis (L.) Osb. Eugenia stipitata McVaugh 20 2 01 7 Arara Tucupi Parkia paraensis Ducke 101 34 Laranjeira 8 Ata Annona sp 02 35 Mamão Carica papaya L. - 9 36 Mandioca Manihot esculenta Crantz - 9 Babaçu Orbignya phalerata. 1500 10 Bacaba Oenocarpus bacaba Mart 62 37 Mari mari Poraqueiba Paraensis 73 11 Bananeira Musa sp 29 38 Mogno Macrophilla King 03 Biriba Eschweira ovata 13 39 Erythrina mulungu Mart. ex Benth 01 20 40 Nim Azadirachta indica A. Juss. 25 22 41 Noni Morinda citrifolia 01 Couepia bracteosa 01 12 13 14 Buriti Cacau Mauritia flMauritia flexuosa L.f. Theobroma cacao L. Mulungu 15 Café Coffea arabica L 177 42 Pajurá 16 Cajú Anacardium occidentale 82 43 Patauá Oenocarpus bataua Mart. 40 17 Cana de Açucar Saccharum officinarum L. 44 Pupunheira Bactris gasipaes H.B.K. 421 18 Canela Cinnamomum zeylanicum Blume 02 45 Pimenta do reino Piper nigrum L. 100 19 Caroba Jacaranda puberula 06 46 Pinhão Roxo Jatropha gossypiifolia L. - 20 Castanheira Bertholletia excelsa Bonpl 47 Rambutan Nephelium lappaceum L. 33 Croton cajucara Benth 43 Quararibea cordata (Bonpl.) Vischer 04 - 3442 21 Cedro Cedrela odorata L. 01 48 Sacaca 22 Coqueiro Coccus nucifera L. 312 49 23 Copaíba Copaifera multijuga 40 50 Seriguela Spondias purpurea 01 24 Cuieira Crescentia cujete L. 03 51 Teca Tectona grandis 17 25 Cupuaçu Theobroma grandiflorum K. Schum 52 Tucumã Astrocaryum aculeatum 92 26 Dendê Elaeais guineensis Jaquim 53 Uxi Endopleura uchi (Huber) 12 54 Mentha arvensis var. Piperacens Holmes. 50 27 Espinho Preto 7520 80 Acacia sp. 01 Sapota Vick Espécies frutíferas A lista de espécies frutíferas encontradas nos quintais dos produtores rurais do assentamento Iporá e relatados pelos mesmos pode ser observada na tabela 3. Tabela 3 – Espécies frutíferas registradas nos sítios visitados no assentamento Iporá. Table 3 – Fruit trees species registered on the sites visited in the settlement Iporá. Nº 1 Nome Vulgar Abacate Nome Científico Persea americana Mill. Quantidade 17 Nº Nome Vulgar 24 Graviola Nome Científico Annona muricata L. Quantidade 27 5 2 Abiu Pouteria caimito Radlk 01 25 Guaraná Paullinia cupana Kunth. 400 3 Açaí Euterpe oleracea Mart. 899 26 Ingá Inga edulis Mart. 13 4 Acerola Malpighia glabra L 17 27 Jambeiro 24 5 Araçá Boi Eugenia stipitata McVaugh 01 28 Jaqueira 6 Ata Annona SP 02 29 Mamão Syzygium malaccense (L.) Merr & L.M.Perry Artocarpus integrifolia L.f. Carica papaya L. 7 Azeitona 13 30 Laranjeira Citrus sinensis (L.) Osb. 1514 8 Babaçu Syzygium cumini (L.) Skeels Orbignya phalerata. 09 31 Limão Citrus sp. 68 9 Bacaba Oenocarpus bacaba Mart 62 32 Mangueira Mangifera indica L. 124 10 Bacuri Platonia insignis Mart. 02 33 Mari mari Poraqueiba Paraensis 73 11 Bananeira Musa SP 65 34 Noni Morinda citrifolia 01 12 Biriba Eschweira ovata 13 35 Pajurá Couepia bracteosa 01 13 Buriti 20 36 Patauá Cacau 22 37 Pitanga Oenocarpus bataua Mart. Eugenia uniflora L. 40 14 Mauritia flMauritia flexuosa L.f. Theobroma cacao L. 15 Café Coffea arabica L 177 38 Pupunheira Bactris gasipaes H.B.K. 421 16 Cajú Anacardium occidentale 102 39 Rambutan Nephelium lappaceum L. 33 17 Carambola Averrhoa carambola L. 05 40 Sacaca Croton cajucara Benth 43 18 Coqueiro Coccus nucifera L. 373 41 Sapota 4 19 Cupuaçu 7541 42 Seriguela 01 20 Dendê Theobroma grandiflorum K. Schum Elaeais guineensis Jaquim Quararibea cordata (Bonpl.) Vischer Spondias purpurea 95 43 Taperebá Spondias mombin L. 17 21 Fruta Pão Artocarpus incisa L. 02 44 Tucumã Astrocaryum aculeatum 992 22 Goiaba de Anta Bellucia grossularioides 15 45 Uxi 12 23 Goiabeira Psidium guajava L. 50 46 Urucum Endopleura uchi (Huber) Bixa orellana L. 16 01 03 29 Grande parte das espécies frutíferas plantadas nas propriedades são de interesse comercial para os produtores rurais, pois em época de safra destas plantas, os frutos são coletados e posteriormente despolpados para serem vendidos como polpas in natura ou para serem utilizados na fabricação de doces, comercializados nas feiras do município de Manaus. Esta preferência por espécies permanentes frutíferas também foi constatada por Franke et al. (1998), em estudos realizados em SAF estabelecidos em áreas de agricultores familiares do Acre. Segundo estes autores o cultivo das frutíferas tinha como finalidade principal a venda dos frutos e a subsistência das famílias locais. As espécies frutíferas de maior destaque de produção comercial são o cupuaçu (Theobroma grandiflorum K. Schum), a laranjeira (Citrus sinensis (L.) Osb), o jambeiro (Syzygium malaccense (L.) Merr & L.M.Perry), coqueiro (Coccus nucifera L.), a bananeira (Musa sp) , o guaraná (Paullinia cupana Kunth), pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.), tucumã (Astrocaryum aculeatum) e açaí (Euterpe oleracea Mart.). Autores como Homma et al., 1994; Almeida et al., 2002; Brilhante et al., 2004; Costa, 2006a encontraram com suas pesquisas que os SAF’s de agricultores familiares da Amazônia são compostos, em geral, por espécies frutíferas (Vieira et al., 2007). A vasta produção frutífera nos sítios visitados no assentamento Iporá é justificada pela alta demanda deste mercado local e da capital Manaus para a produção de polpas. Segundo dados da Secretaria de Planejamento do Amazonas - SEPLAN (2011), as frutas estão entre os principais produtos do setor primário no município do Rio Preto da Eva. Dentre elas destacam-se o coco (Coccus nucifera L.), a banana (Musa sp), a laranja (Citrus sinensis (L.) Osb.), o limão (Citrus sp.) e o mamão (Carica papaya L). Outro fator importante é a estabilidade de produção que as espécies arbóreas frutíferas oferecem aos pequenos agricultores. Espécies agrícolas Durante o levantamento nos sítios visitados foi possível observar algumas espécies de interesse agrícola plantadas nas propriedades. Sua variedade, intensidade e distribuição não é tão expressiva, como as espécies 6 frutíferas, mas também são importantes para o consumo e geração de renda no assentamento. As espécies agrícolas estão listadas na tabela 4. Tabela 4 – Espécies agrícolas nos sítios do assentamento Iporá. Table 4 – Agricultural species in the Iporá settlement sites. Nº Nome Vulgar Nome científico 1 Abacaxi Ananás comosus L. 2 Cana de Açúcar Saccharum officinarum L. 3 Mandioca Manihot esculenta Crantz 4 Pimenta do reino Piper nigrum L. A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é a espécie agrícola mais cultivada no assentamento. Segundo os agricultores é uma das principais fontes de renda do assentamento, através da produção de farinha de mandioca, além de ser importante na alimentação dos próprios comunitários. Segundo Almeida (2006), a preferência pela mandioca é explicada pelo fato de ser uma cultura que desempenha importante papel social como principal fonte de carboidratos para milhões de pessoas principalmente em países em desenvolvimento. No assentamento Iporá a produção da farinha mandioca é de grande importância para a economia local, visto que este produto é um dos mais comercializados pelos agricultores. Espécies florestais No levantamento florístico foi observada a presença na área agricultável das propriedades cerca de 25 espécies florestais. Algumas delas com grande frequência devido o seu interesse econômico. As espécies encontradas estão listadas na tabela 5. Tabela 5 – Espécies florestais encontradas nos sítios dos produtores rurais do assentamento Iporá. Table 5 – Forest species found in sites of the producers farmers of the Iporá settlement. Nº Nome Vulgar Nome Científico Quantidade 1 Andiroba Carapa guianensis Aubl. 82 2 Angico Parapiptadenia rigida (Benth.) 80 3 Arara Tucupi Parkia paraensis Ducke 101 4 Caroba Jacaranda puberula 06 5 Castanheira Bertholletia excelsa Bonpl 6 Cedro Cedrela odorata L. 01 7 Copaíba Copaifera multijuga 40 8 Cuieira Crescentia cujete L. 03 9 Cumaru 3487 Dipterix odorata (Aubl.) Willd 01 10 Espinho Preto Acacia sp. 01 11 Fava Benguê Elaeais guineensis Jaquim 20 12 Inajá Maximiliana regia 01 13 Jucá Caesalpinia férrea 01 14 Lacre Vismia guianensis (Aubl.) Pers. 01 15 Mogno Macrophilla King 03 16 Mulungu 01 17 Murici Erythrina mulungu Mart. ex Benth Byrsonima carssifolia H.B.K. 18 Nim Azadirachta indica A. Juss. 25 19 Pajurá Couepia bracteosa 01 28 7 20 Palheteira Clitoria fairchildiana Howard 05 21 Patauá Oenocarpus bataua Mart. 40 22 Pau Brasil Caesalpinia echinata Lam. 01 23 Pinhão Roxo Jatropha gossypiifolia L. 24 Teca Tectona grandis 17 25 Vick Mentha arvensis var. Piperacens Holmes. 50 - Estas espécies catalogadas e relatadas pelos produtores pertencem a 11 famílias botânicas diferentes, destacando-se principalmente a presença de espécies nativas da região amazônica. Entre as espécies identificadas destaca-se o angico (Parapiptadenia rigida (Benth.)), a andiroba (Carapa guianensis Aubl.), a arara tucupi (Carapa guianensis Aubl.) e a castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl). Diferente de outros locais, no assentamento Iporá as espécies florestais não são cultivadas primordialmente para fins madeireiros, mas para o extrativismo dos seus produtos florestais não-madeireiros. Entre os usos dessas espécies pelos comunitários destaca-se a coleta de frutos, como a castanha (Bertholletia excelsa Bonpl), de sementes e cascas para extração de óleos e resinas. CONCLUSÕES A economia do assentamento gira em torno da produção de farinha de mandioca, macaxeira e frutas como o cupuaçu, jambo, abacaxi, coco, laranja, banana, guaraná, mamão além da piscicultura e do artesanato. As espécies mais cultivadas pelos agricultores familiares visitados são: cupuaçu, castanheira, laranjeira, tucumã, açaí e pupunha. Foram catalogadas 77 espécies de 29 famílias botânicas diferentes nos sítios dos produtores agrícolas do assentamento Iporá em Rio Preto da Eva, Amazonas. Essa diversidade de espécies e a vasta presença de espécies frutíferas conferem segurança financeira e alimentícia aos agricultores familiares dessa região. Os consócios entre as espécies florestais, agrícolas e frutíferas são importantíssimas para a manutenção da floresta primária que é predominante no assentamento Iporá. Os SAF’s são importantes mecanismos para conservação dessas florestas. Atividades envolvendo produtos florestais não-madeireiros, como a castanha, têm grandes influencias nesse processo. AGRADECIMENTOS Aos produtores rurais do assentamento Iporá, e suas famílias, que participaram e contribuíram significativamente para a realização deste trabalho e a todos os integrantes do Programa de Educação Tutorial do Engenharia Florestal da Universidade Federal do Amazonas pelo empenho em realização deste projeto. REFERÊNCIAS DUBOIS, J. C.L. Manaul agroflorestal para a Amazônia. Rio de Janeiro: Rebraf, 1996. V. 1. PASSOS, C.A.M.; COUTO, L. Sistemas agroflorestais potenciais para o Estado do Mato Grosso do Sul. In: SEMINÁRIO SOBRE SISTEMAS FLORESTAIS PARA O MATO GROSSO DO SUL, 1., 1997, Dourados. Resumos ... 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