PROJETO GEOPARQUES
Serviço Geológico do Brasil – CPRM
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é signatário, entre outros 111 Estados-Parte, da convenção da UNESCO
para a proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural. O objetivo fundamental dessa
convenção é o de reconhecer os sítios culturais e naturais em âmbito mundial, de interesse
excepcional e de tal valor universal que sua proteção é considerada ser de responsabilidade
de toda Humanidade.
Ao adotar a convenção, as nações reconhecem que:
(a) cada país mantém sob a sua custódia para o resto da humanidade aquelas partes,
tanto naturais como culturais, do Patrimônio Mundial,
(b) a comunidade internacional tem o compromisso de apoiar qualquer nação na prática
dessa responsabilidade, se os seus próprios recursos são insuficientes e
(c) a humanidade deve exercitar o mesmo senso de responsabilidade para com as obras
da natureza, como para as obras de suas próprias mãos.
No entanto, a soberania de qualquer Sítio do Patrimônio Mundial (World Heritage Site) é
retida com o país onde esse sítio está localizado e a inclusão como propriedade na Lista do
Patrimônio Mundial é feita somente por solicitação do Estado concernente.
Há alguns anos e, particularmente, desde a Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, onde a Agenda
21, a Agenda da Ciência para Meio Ambiente e Desenvolvimento para o Século 21, foi
adotada, a proteção e o manejo do meio ambiente tem sido amplamente reconhecidos como
de alta prioridade. A UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura, contribui para essa prioridade promovendo a proteção e desenvolvimento
sustentável do patrimônio geológico geralmente através de duas estruturas de programas
independentes, (i) a Convenção do Patrimônio Mundial e (ii) a cooperação bilateral em
questões de patrimônio geológico através de sua Divisão de Ciências da Terra.
2. CONCEITO DE GEOPARK DA UNESCO
O conceito de Geopark (Geoparque) foi desenvolvido há dez anos por fontes
especialmente européias, em estreita cooperação com a UNESCO. O grande número de
pedidos que essa organização recebeu do mundo inteiro, durante anos recentes, de
instituições geológicas, geocientistas e organizações não-governamentais, refletiu na
crescente necessidade de uma iniciativa global para promover essas áreas do patrimônio
geológico.
De acordo com a UNESCO, um Geoparque:
a) é uma região com limites bem definidos, envolvendo um número de sítios do patrimônio
geológico-paleontológico de especial importância científica, raridade ou beleza, não apenas
por razões geológicas, mas também em virtude de seu valor arqueológico, ecológico,
histórico ou cultural;
b) em princípio, representa um território (paisagem) que é suficientemente grande para gerar
atividade econômica - notadamente através do turismo. Pequenos afloramentos, mesmo
tendo importância científica, normalmente não tem esse potencial;
c) deve ter normalmente tamanho suficiente para abarcar um número de pequenos sítios
(geosites) que, tomados em conjunto, mostram feições geológicas importantes, raridade de
beleza, não precisando ter unicamente significado geológico-paleontológico. Aspectos
arqueológicos, ecológicos, históricos ou culturais podem também representar e devem ser
vistos como importantes componentes de um Geoparque;
d) terrenos que são de interesse geológico-paleontológico (e arqueológico e biológico), mas
que não tem público permanente, ou localizam-se em locais muito remotos para gerar
atividade econômica, não deveriam servir normalmente como Geoparques. O conceito de
Geoparque é elaborado para relacionar as pessoas com o seu ambiente geológicopaleontolológico e geomorfológico; essa caracterização pode mudar com a evolução sócioeconômica da região no tempo;
e) tem de prover pela educação ambiental, treinamento e desenvolvimento de pesquisa
científica nas várias disciplinas das Ciências da Terra, e dar destaque ao ambiente natural e
às políticas de desenvolvimento sustentável;
f) deve ser proposto por autoridades públicas, comunidades locais e interesses
agindo em conjunto;
privados
g) deve ser parte de uma rede global (International Network of Geoparks), que deve
demonstrar e compartilhar as melhores práticas com respeito à conservação do patrimônio
da Terra e a sua integração em estratégias de desenvolvimento sustentável.
Em suma, um Geoparque sob a assistência da UNESCO deve:
(i) preservar o patrimônio geológico para futuras gerações (conservação);
(ii) educar e ensinar ao grande público sobre temas relativos a paisagens geológicas e
matérias ambientais (educação) e prover meios de pesquisas para as geociências;
(iii) assegurar desenvolvimento sustentável (turismo).
O impacto local é imediato, reforçando a identificação da população com sua região e
promovendo o renascimento cultural. Respeitando o meio ambiente, os Geoparques
estimulam, por exemplo, a criação de empreendimentos locais inovadores, pequenos
negócios, indústrias de hospedagem e novos empregos, gerando novas fontes de ganhos
(por ex. geoturismo, geoprodutos). Proporciona-se, assim, ganhos suplementares para a
população local e a atração de capital privado, além do desenvolvimento científico inerente à
função dos geoparques.
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3. PROJETO GEOPARQUES: OBJETIVOS
O Projeto Geoparques do Serviço Geológico do Brasil - CPRM objetiva identificar,
classificar, descrever, catalogar, georreferenciar e divulgar os parques geológicos do Brasil.,
bem como definir diretrizes para seu desenvolvimento sustentável.
Essa atividade deverá ser desenvolvida pelo Serviço Geológico do Brasil em conjunção com
as universidades e outros órgãos ou entidades federais e estaduais, que tenham interesses
comuns, e em consonância com as comunidade locais.
Para sua identificação, um parque geológico deve ter uma área suficientemente
grande para incluir diversos sítios que podem ser seguidos e visitados através de roteiros
definidos que, tomados em conjunto, mostram registros importantes da história geológica da
região e/ou do planeta ou beleza cênica excepcional, podendo incluir aspectos
arqueológicos, ecológicos, históricos ou culturais.
Alguns parques geológicos já se encontram definidos e foram total ou parcialmente
descritos. No entanto, sabe-se que há um grande potencial de parques geológicos ainda a
serem identificados.
Alguns parques geológicos já descritos coincidem em seus limites com parques
naturais, em especial por apresentarem raras belezas cênicas. Os limites de um geoparque
não coincidem necessariamente com os parques naturais ou outras áreas de reservas
ambientais.
No mapa da figura 1 anexa é mostrada, em uma primeira aproximação, a locação de
áreas potenciais de parques geológicos, incluindo alguns já descritos.
4. PAPEL DA COMISSÃO BRASILEIRA DOS SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEOBIOLÓGICOS – SIGEP
Essa entidade ocupou-se pela primeira vez no Brasil do levantamento, descrição e
publicação de sítios geológicos e paleontológicos, em sintonia com o World Heritage ou
Patrimônio Mundial da UNESCO.
A SIGEP, criada em 1997, é representada por nove entidades: Academia Brasileira de
Ciências-ABC, Associação Brasileira para Estudos do Quaternário-ABEQUA, Departamento
Nacional de Produção Mineral-DNPM, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis-IBAMA, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN,
Serviço Geológico do Brasil-CPRM, Sociedade Brasileira de Espeleologia-SBE, Sociedade
Brasileira de Geologia-SBG e Sociedade Brasileira de Paleontologia-SBP.
A Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos-SIGEP com site na
Internet (http://www.unb.br/ig/sigep ) publicou, em 2002, um primeiro volume sobre 58 sítios
e um segundo volume está em vias de preparação. Alguns dos sítios descritos ou em fase
de descrição apresentam características de geoparques. O trabalho do Projeto Geoparques
do Serviço Geológico do Brasil deverá ser sintonizado com as atividades dessa comissão,
da mesma forma em iniciativas similares como, por exemplo, o Projeto Caminhos
Geológicos do DRM do Estado do Rio de Janeiro.
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5. GEOPARQUES DO BRASIL : ALGUMAS PROPOSTAS
Alguns exemplos de áreas com capacidade potencial de se transformarem em
geoparques são referidos na tabela abaixo e em mapa anexo. Todas essas propostas, no
entanto, ainda precisam ser devidamente avaliadas. Outras possíveis áreas com potencial
de se transformarem em geoparques poderão ser identificadas.
Nome do Geoparque
Minas do Camaquã
Ametistas
Aparados da Serra
UF
RS
RS
RS/SC
Categoria (s) Principal (is)
História da Mineração
Mineralógico, Ígneo, Geomorfológico
Geomorfológico, Ígneo, Beleza Cênica
Floresta Petrificada
Jurássico (Araraquara)
Vila Velha
Iguaçu
Alto Ribeira
Itu
Vulcão de Nova Iguaçu
Serra da Canastra
Quadrilátero Ferrífero
RS
SP
PR
PR
SP
SP
RJ
MG
MG
Diamantina
Chapada Diamantina
MG
BA
Cabo de Santo Agostinho
Vale do Catimbó
Fernando de Noronha
Chapada do Araripe
Rio do Peixe (Sousa)
Serra do Martins
Chapada do Apodí
Sete Cidades
Serra da Capivara
Lençóis Maranhenses
Roraima
Chapada dos Guimarães
PE
PE
PE
PE/CE
PB
RN
RN
PI
PI
MA
RR
MT
Serra da Bodoquena
Chapada dos Veadeiros
Araguainha
Presidente Figueiredo
MS
GO
GO/MT
AM
Paleontológico
Paleontológico, Paleoambiental
Geomorfológico, Paleoambiental, Beleza Cênica
Geomorfológico, Ígneo, Beleza Cênica
Espeleológico, Paleoambiental
Paleoambiental
Ìgneo
Geomorfológico, Paleoambiental, Beleza Cênica
Paleoambiental, História da Mineração, HistóricoCultural
Geomorfológico, História da Mineração
Geomorfológico, Paleoambiental, Beleza Cênica,
Histórico-Cultural
Ígneo, Histórico-Cultural, Beleza Cênica
Ambiental, Geomorfológico
Ígneo, Beleza Cênica
Paleontológico
Paleontológico
Espeleológico
Espeleológico
Geomorfológico, Paleoambiental, Beleza Cênica
Paleontológico, Arqueológico
Sedimentológico, Ambiental, Beleza Cênica
Geomorfológico, Paleoambiental, Beleza Cênica
Geomorfológico,Paleontológico,
Espeleológico,
Beleza Cênica
Espeleológico, Paleoambiental
Geomorfológico, Paleoambiental, Beleza Cênica
Astroblema
Estratigráfico,
espeleológico,
histórico-cultural,
arqueológico
6. EXECUÇÃO E COORDENAÇÃO DO PROJETO
A execução do projeto está a cargo do Departamento de Gestão Territorial -DEGET,
da Diretoria de Hidrologia e Gestão Territorial-DHT, cabendo a coordenação executiva a
Carlos Schobbenhaus e a coordenação regional de representantes das diversas unidades
regionais da CPRM.
COORDENAÇÃO REGIONAL
1. Escritório Regional do Rio de Janeiro - Ivo Medina
2. Superintendência Regional de Porto Alegre - Vitório Orlandi
3. Superintendência Regional de São Paulo – Antônio Theodorovicz
4. Superintendência Regional de Belo Horizonte – Hélbio Pereira
5. Superintendência Regional de Salvador - Antônio José Dourado Rocha
4
6. Superintendência Regional de Recife – Sérgio Monthezuma Guerra
7. Superintendência Regional de Belém – Armínio Gonçalves Vale
8. Superintendência Regional de Manaus – Renê Luzardo
9. Superintendência Regional de Goiânia - Jamilo Thomé
10. Residência de Porto Velho - Amílcar Adamy
11. Residência de Teresina – Frederico José Campelo de Sousa
12. Residência de Fortaleza – Clodionor Carvalho de Araujo
7. METODOLOGIA DE TRABALHO PROPOSTA
a. Para a seleção do Geoparque
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Avaliação das contribuições existentes sobre a temática
Revisão da geologia objetivando identificar áreas potenciais
Contatos com entidades ativas nessa área
Contatos com docentes e pós-graduandos de universidades (projetos, teses em
andamento ou realizadas)
Divulgação e contatos com grupos ou entidades ligadas ao geoturismo, patrimônio
geológico via Internet (por ex. SIGEP, Grupo de Geoturismo)
Contatos com entidades governamentais solicitando parceria e apoio financeiro
Treinamento em turismo geocientífico/ecológico.
b. Para a caracterização do Geoparque
Atividades de escritório pré-campo
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Delimitação do possível polígono representado pelo geoparque e preparação de
base digital georreferenciada, usando imagens Geocover (Landsat TM / bandas
4,2,7 + banda 8 c/ resolução espacial de 15 m)
Compilação, integração e reinterpretação geológica da área selecionada, em
escala adequada, em meio digital
Compilação de outras informações de interesse do meio físico natural ou cultural
Estruturação de banco de dados
Reavaliação dos dados usando imagens Geocover e Shuttle (SRTM), para
determinadas escalas
Identificação e seleção de roteiros e sítios geológicos de interesse potencial
Contatos com técnicos que mapearam a área ou com especialistas temáticos
Elaboração de mapa geológico preliminar com base de dados relacional
Divulgação da proposta pela Internet para criticas e sugestões da comunidade
especializada
Convite para a participação de especialistas fora da CPRM
Atividades de campo
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Cheque de campo e reavaliação do mapa geológico integrado e dos
roteiros e pontos selecionados com uso de GPS
Estudo e descrição de sítios específicos e outros aspectos de
interesse
Elaboração de fotos digitais da paisagem e dos sítios
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Contatos com a comunidade local (prefeitos, pesquisadores,
agentes locais, moradores, centros de educação ambiental).
Atividades de escritório pós-campo
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Elaboração de mapa geológico do geoparque, em escala adequada, com
indicação de roteiros e sítios de interesse, estruturado em um SIG
Elaboração de MDT usando imagens do SRTM – Shuttle Radar
Topographic Mission (se for cabível)
Estudos de laboratório (petrologia, paleontologia, etc.) complementares aos
dados já existentes e visando a documentação dos sítios do geoparque
Elaboração de texto explicativo justificando a importância do geoparque e
descrevendo resumidamente a geologia com detalhes sobre os sítios
selecionados de interesse específico
Descrição de outros aspectos de interesse, inclusive históricoculturais
Organização de material fotográfico
Sugestões para o desenvolvimento do Geoturismo com participação
das comunidades locais.
Preparação e organização dos dados digitais.
Elaboração de banco de dados informatizado (alimentação e armazenamento
de dados e informações).
Elaboração de placas ilustrativas.
c. Para a divulgação do Geoparque
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Site da CPRM e SIGEP e outros na Internet
Folders e cartazes em congressos de cunho geocientífico e turístico nacionais
e regionais
Impressão de livro ou atlas sobre os Geoparques do Brasil
Convite para patrocínio da obra
8 PARTICIPAÇÃO EXTERNA
A execução do projeto deverá envolver parcerias com universidades, órgãos federais e
estaduais, sociedades civís e outras entidades, quer através da participação direta de
pessoas especializadas, quer através de convênios. Dentre os órgãos potenciais para
realização de convênios podem-se citar o Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, Ministério
do Turismo, entre outros.
9. FONTES DE INFORMAÇÃO
Camozzato, E. & Schobbenhaus, C. (2003). Geologia de Unidades de Conservação e de
Elementos Naturais Singulares - Projeto Geoparques. Considerações sobre Unidades
Federais e Estratégias para Avaliação do Patrimônio Geológico Nacional pelo SGB.
CPRM – DEGEO, 72 p. (inédito).
Brilha, J. (2005). Património Geológico e Geoconservação.
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Eder, W. & Patzak, M. (2004) Geoparks – geological attractions: A tool for public
education, recreation and sustainable economic development. Episodes, 27 (3): 162164.
Mansur, K. & Erthal, F. (2004). O Projeto Caminhos Geológicos e seus Desdobramentos no
Estado do Rio de Janeiro. Simpósio 26-Monumentos Geológicos, XLII Congresso Bras.
Geologia, SBG, Araxá.
Schobbenhaus, C., Campos, D.A., Queiroz, E.T., Winge, M., Berbert-Born, M.L. (2002). Sítios
Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos-SIGEP / DNPM /CPRM, 540 p. http://www.unb.br/ig/sigep
UNESCO (2005). International Network of GEOPARKS.
http://www.unesco.org/science/earthsciences/geoparks/geoparks.htm
Zouros, N. (2004). The European Geoparks Network – Geological heritage protection and
local development. Episodes, 27(3): 165-171.
Propostas e sugestões enviar para:
Carlos Schobbenhaus
[email protected]
Serviço Geológico do Brasil
Brasília-DF
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