VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 35
ARCAÍSMO E MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX: ASPECTOS
HISTÓRICOS NOS DEBATES SOBRE A EDUCAÇÃO
Coordenadora: MARCILIA ROSA PERIOTTO
Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação
O conjunto de trabalhos apresentados refere-se ao século XIX brasileiro e traz o objetivo de abordar temas
correlativos à educação no período. Busca-se a vinculação desses estudos a um eixo maior- o da modernização
social, econômica e política da sociedade-, entendendo-a como uma avantajada demanda social, imbricada nos
projetos que se revestiam de caráter progressista e contrários à manutenção das práticas enraizadas no passado
colonial. O debate sobre educação nos Oitocentos assumiu contornos vários: esteve presente na imprensa, nos
discursos políticos e nas experiências individuais ou coletivas, marcando cada um deles as especificidades de uma
época urgente de propostas capazes de somar forças a modernização, requerendo a impostação de novas
práticas sociais, cujo cerne advinha da implantação do trabalho livre e do fim da escravidão. Entretanto, o debate
progressista não encontrou espaço acolhedor desde sempre: a sua construção deu-se ao sabor das demandas
pontuadas no decorrer do longo século XIX e enfrentou um quadro opositor aguerrido à manutenção dos
privilégios e de uma concepção de mundo ligada à superioridade de classe. Estas características estão delineadas
perfeitamente nos estudos aqui apontados e transitam pela defesa de um tipo de educação preparadora de
quadros burocráticos oriundos das elites locais, como em Sabará a partir de 1850, ou no tomismo vinculado ao
Antigo Regime presente nas obras de Direito do professor José Soriano de Souza, escritas nos anos 1870, no
posicionamento do Dezenove de Dezembro (1854 a 1890), jornal de circulação nos campos de Curitiba a respeito
da formação de identidade dos paranaenses elevados a provinciais e, ainda, a proposta de educação feminina
emergente em dois jornais estudantis publicados na capital do Maranhão, e divergentes quanto ao novo papel da
mulher frente à nova realidade política e social nos fins dos Oitocentos. O ponto de unidade dos estudos é a
compreensão da importância da educação na formação de indivíduos que se presumiam necessários a
manutenção das prerrogativas elitistas ou a construção de uma sociedade moderna e progressista. A História da
Educação requer este esmiuçar historiográfico, fundamental à delimitação cada vez mais precisa do próprio
campo e das respostas que a época de hoje exige no sentido de se superarem os obstáculos interpostos ao
estabelecimento de uma sociedade democrática. Neste sentido, os estudos buscam compreender os processos
históricos que pontuaram o decorrer do século XIX brasileiro, inclusive os debates sobre a educação e os diversos
propósitos nela existentes.
A EDUCAÇÃO FEMININA NA IMPRENSA MARANHENSE: OS JORNAIS A ESCHOLA E O ENSAIO (1891)
Marcilia Rosa Periotto
Adriene Santanna
É um estudo sobre o modelo de conduta feminina determinado às mulheres em fins do século XIX. Os jornais A
Eschola (1891) e O Ensaio (1891), publicados no Maranhão, são exemplos de imprensa envolvida na definição de
modelos de comportamento feminino. Esses jornais dirigidos por estudantes em São Luís expuseram uma forma
de educação centrada nos velhos costumes e ideias, em oposição aos conteúdos educativos requeridos na
construção e afirmação do ideal feminino moldado nas transformações que atingiam o domínio patriarcal e
permitia às mulheres uma participação mais direta na dinâmica social brasileira. Considera-se o fato dos jornais
terem sido publicados no ocaso do século XIX, tempo de acentuada perda na supremacia da classe dominante
ligada à agricultura e ao latifúndio. A riqueza material passava a ser também produzida nas cidades com a
instalação de manufaturas e do trabalho dos imigrantes europeus, provocando profundas transformações no
corpo social, político e econômico brasileiro. O estudo objetiva traçar as condições de submissão das mulheres no
final do século XIX e os propósitos estabelecidos na sua educação. As mulheres pouco conviviam fora do círculo
familiar ou social, eram educadas a cultivar comportamentos condizentes ao extrato social dominante e tinham a
tarefa de perpetuá-los. Esse tipo de educação não descuidava das questões morais, pois se entendia que a
menina, ao se casar, seria o esteio do lar, e da formação dos filhos. Tinha que ser bem educada, nos moldes
rígidos do comportamento para também bem educar e manter acesa nos filhos a chama da natural superioridade
de classe. Nos jornais da época verificam-se propostas educativas voltadas às mulheres. A elas traçava-se um
modelo do feminino muito mais relacionado à manutenção do status social do que a um modelo modernizado de
feminilidade, sobretudo diante da chegada massiva de imigrantes que traziam mulheres trabalhadoras, e muitas
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
delas atuantes intelectualmente nos seus meios de origem e praticantes de uma liberdade garantida pela prática
do trabalho livre nos seus países de origem. A imprensa, de modo geral, põe-se como um espaço privilegiado da
memória histórica. Exatamente por trazer as marcas das transformações, da luta pela consolidação da nação, de
busca da identidade nacional, de estabelecimento de modelos sociais ou de oposição aos que denotavam
modernização dos hábitos e punham a perder o modelo patriarcal, faz-se num objeto que merece dos
pesquisadores uma atenção redobrada. A História da Educação e a pesquisa muito têm a analisar nos impressos
jornalísticos, na medida em que neles se encontram irrevogáveis marcas de um tempo histórico que até os dias
de hoje ainda persistem amalgamados no ideário social. Palavras-Chave: Educação- Imprensa; Modernização
Social; Educação Feminina.
LIÇÕES PARA A MODERNIZAÇÃO DA PROVÍNCIA DO PARANÁ NO JORNAL O DEZENOVE DE
DEZEMBRO (1854-1871)
Celina Midori Murasse Mizuta
Trata-se de um estudo documental de caráter histórico que tem como objeto e fonte de pesquisa o jornal O
Dezenove de Dezembro (ODD), o primeiro periódico a circular na Província do Paraná. Cândido Martins Lopes,
editor e proprietário do jornal, era tipógrafo conhecido pela qualidade de seus trabalhos em Niterói. A convite do
Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, presidente da província do Paraná, instalou a Tipografia Paranaense
em Curitiba, na Rua das Flores número 13. O primeiro número do jornal circulou no dia 1 de abril de 1854 e o
último no dia 9 de abril de 1890. Cândido Lopes prometera isenção política na publicação dos atos oficiais do
governo provincial e da assembleia legislativa, promessa difícil de ser cumprida. Manteve-se à frente do
empreendimento até dezembro de 1871, quando faleceu. O texto mostra a ação político-educativa dos artigos
publicados no jornal, sejam oficiais ou a pedido dos moradores da província ou ainda o próprio editorial. No caso
dos atos oficiais, evidenciavam a necessidade de dar forma e direção à província do Paraná, apontando quais
eram as novas normas estabelecidas para o seu funcionamento. Em caso de descumprimento dessas regras, o
governo provincial aplicava as sanções cabíveis, por exemplo o caso que envolveu o senhor Jesuíno Marcondes
de Oliveira e Sá, nomeado pelo presidente de província Vasconcellos para o cargo de inspetor geral da instrução
pública. O inspetor comunicou a autoridade provincial que um dos professores se recusava a cumprir as
determinações oficiais. O jornal publicou o desenrolar e o desfecho do episódio com a penalidade aplicada ao
professor. Em relação ao pedido dos moradores, selecionamos o caso da negra liberta Francisca Placidiana e seus
quatro filhos que, após a morte de sua senhora, foram incluídos no inventário, partilhados pelos herdeiros e
escravizados em Castro. O periódico ODD apresentou a petição elaborada e enviada por Antonio Rufino Nunes ao
presidente de província, bem como o encaminhamento da solicitação e a decisão final. Quanto ao editorial do
jornal ODD, o destaque coube ao posicionamento frente à questão da imigração na província paranaense, desde
o artigo de esclarecimento ao público sobre a Lei de Terras de 1850, a divulgação da Lei n. 29 de 21 de março de
1855 que incentivava a imigração na província, além de fatos relacionados aos imigrantes. Todos esses artigos
contribuíram para a formação e a modernização da província do Paraná e, ao mesmo tempo, para a
conscientização e a educação dos moradores quanto à sua nova condição de paranaenses e as ações dela
decorrentes. Para os pesquisadores no campo da História da Educação, o jornal traz preciosas lições de História
do Paraná e do processo educativo instaurado na província paranaense nos oitocentos. Palavras-chave:
Educação, Modernização, O Dezenove de Dezembro.
UM ESTUDO DO “COMPÊNDIO LIÇÕES DE PHILOSOPHIA ELEMENTAR RACIONAL E MORAL” DE JOSÉ
SORIANO DE SOUZA (1871)
Cristiano de Jesus Ferronato
O objetivo deste trabalho é analisar à luz da História da Educação o compêndio “Lições de Philosophia Elementar
Racional e Moral”, de José Soriano de Souza, publicado em 1871 e a sua influência no ensino de filosofia no Brasil
nos Oitocentos. No seu percurso intelectual José Soriano foi aluno do Lyceu Provincial da Parahyba do Norte,
atuou como professor da cadeira de Filosofia no Gymnásio Provincial Pernambucano e teve segundo alguns
pesquisadores, muita influência no campo da Filosofia brasileira nos Oitocentos. Publicou ainda vários trabalhos
onde se destacam temas como a religião, o Direito, entre estes se destacam o “Compêndio de Philosophia
ordenado segundo os princípios e methodo do doutor Angelico S. Thomaz de Aquino”, “Elementos de
Philosophia do Direito”. Soriano teve ainda uma grande atuação nos jornais de Recife atuando como redator e
jornalista em vários periódicos na segunda metade dos Oitocentos entre estes: o Cathólico, (1872), A Esperança
(1864) e A União. O Compêndio ao qual aqui nos detemos “Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral”,
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
escrito por ele, foi adotada como manual de filosofia no Gymnásio Pernambucano, instituição de ensino
secundário na qual lecionava. A obra de José Soriano de Souza trouxe no momento de sua publicação elementos
que remetiam ao pensamento tomista francês do Antigo Regime. Segundo Barbuy (2012), Soriano de Souza foi o
mais significativo vulto do pensamento tomista brasileiro do século XIX. Sendo este um dos elementos que
caracterizam o autor como o primeiro a difundir o tomismo no Brasil, nossa análise da obra parte destes aspectos
e de como eles se inserem no campo da história da educação. Para Deleuze (1992) os filósofos trazem novos
conceitos, os expõem, mas não dizem, pelo menos não completamente, aos quais problemas esses conceitos
respondem. Diante disso, pretende-se investigar os aspectos inovadores e não somente reprodutores no ponto
de vista do pensamento filosófico de José Soriano. Por meio do ensino de filosofia, da pessoa do professor José
Soriano de Souza e sua obra Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral, pretende-se aqui buscar as bases
para compreensão das diversas especificidades, signos e representações da área pesquisada. Como historiadores,
sabemos da impossibilidade de reconstituir o passado tal como ele foi vivenciado, o máximo que podemos é
recuperar algumas facetas, parte de um todo muito mais complexo e dinâmico. Para a análise aqui proposta
direcionamos o nosso olhar para a História Cultural e entendendo o livro didático como objeto cultural, buscamos
manter diálogos com alguns estudiosos desta área como Chartier (1998), Chervel (1990); Choppin (2004), Abreu
(1999), Bittencourt, (2004), Felgueiras (2010). Palavras-chave: Filosofia. Compêndio. Oitocentos.
A CÂMARA MUNICIPAL DE SABARÁ E A FORMAÇÃO DA ELITE SABARENSE NA SEGUNDA METADE DO
SÉCULO XIX
Marileide Lopes dos Santos
O trabalho aborda o envolvimento dos camaristas de Sabará/MG com a instrução da “mocidade” na segunda
metade do século XIX. O debate sobre a instrução esteve presente no centro das preocupações dos vereadores
de Sabará durante o século XIX, em alguns momentos de forma mais intensa e, em outros, apenas tangenciado. A
partir de 1850 o debate voltou-se para o ensino secundário, tornando-se mais presente nas falas dos camaristas.
Colégios particulares, como o Emulação Sabarense, o Externato da Cidade e a Escola Normal de Sabará foram
espaços em que os vereadores atuaram na condição de professores, pais de aluno, parentes de docentes, ou
como cidadãos preocupados com os rumos do Brasil. Essa inquietação com a educação expressava o desejo da
“prosperidade” do município como ainda de verem seus filhos preparados para serem “colunas” da “nação”.
Além da documentação da câmara municipal - especialmente atas e ofícios, os jornais foram grandes
colaboradores na difusão de ideias sobre a educação sabarense e das atividades das instituições escolares desse
período. As fontes que contribuem para o cruzamento de dados do presente trabalho são os jornais O Bom
Senso, Diário de Minas, O Correio Official de Minas, O Liberal Mineiro, A Folha Sabarense e O Contemporâneo. A
imprensa oportuniza apreender que o envolvimento político desses indivíduos não deixou de fazer parte dessas
instituições. Tanto a Câmara como as instituições escolares foram espaços de sociabilidades dos grupos de
dirigentes locais. O colégio Emulação Sabarense – fundado em 1853, pelo médico e vereador Anastácio
Symphronio de Abreu recebeu em seu quadro alunos das elites locais que, em tempos vindouros, se
constituiriam em alguns dos políticos que viriam a assumir a administração municipal e atuariam no campo da
educação, assim também o Externato de Sabará, criado em 1867. Essa instituição foi espaço não só da instrução
da mocidade, mas também de intensa vivência política e social. A Escola Normal sabarense, instalada em 1882,
levou para o município novas perspectivas de instrução, e por ela passaram vários alunos e professores que
tiveram de algum modo ligação com a Câmara, como por exemplo, os descendentes de vereadores e exvereadores que foram docentes na instituição. A elite sabarense, ou pelo menos parte dela, demarcou bem seu
lugar nessas instituições demonstrando que os esforços educativos visavam apenas a “mocidade” que fazia parte
de seus quadros. Levando-se em consideração o fato de que vários dos camaristas passaram por cargos da
burocracia administrativa do Estado, podemos considerar que esse movimento também se constituiu num
processo de educação política, nos tramites da administração pública imperial e no qual os jornais expressaram
as demandas da época. Palavras-chave: Educação e imprensa, Política, Sabará- Século XIX.
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