O século XIX foi marcado principalmente por grande desenvolvimento tecnológico. Em 1856, por exemplo, o aperfeiçoamento de uma nova técnica na Inglaterra tornou possível a produção de aço em grande escala e a preços relativamente baixos. Pouco depois, o dínamo — uma máquina capaz de gerar energia elétrica — também seria aperfeiçoado. Seguiram-se, então, importantes invenções, como a do motor a explosão, do automóvel movido a gasolina, da fotografia e do cinema. Todas essas inovações provocariam profundas mudanças no mundo e nas relações econômicas internacionais, às quais se daria o nome de Segunda Revolução Industrial. A partir das últimas décadas do século XIX, verificou-se nos países industrializados uma tendência à formação de grandes indústrias. Empresas de maior porte passaram a absorver as menores, eliminando a concorrência e promovendo a concentração de capitais. Surgiram também grandes bancos, capazes de controlar parte significativa do sistema de crédito. Mais tarde, essa organização econômica seria denominada capitalismo monopolista. Para expandir seus lucros, os bancos e as grandes indústrias passaram a investir capitais em regiões da África, Ásia e América Latina, com o claro propósito de controlar fontes de matérias-primas e mercados consumidores. Esse fenômeno ficou conhecido como imperialismo. Ao mesmo tempo, potências europeias como a Inglaterra e a França se lançaram à conquista de vastos territórios na África e na Ásia, dando origem ao neocolonialismo. 1. O IMPERIALISMO A formação do capitalismo monopolista representou uma ruptura das teorias econômicas liberais que defendiam a livre concorrência das empresas e um mercado competitivo, sem interferência do Estado. Na disputa por mercados, os capitalistas eram obrigados a investir cada vez mais em tecnologia. Por isso, procuravam incentivar o desenvolvimento de novas invenções e o aperfeiçoamento das técnicas existentes, visando ao aumento da produtividade e ao barateamento dos produtos para vencer a competição com outras empresas. Ao mesmo tempo, na prática podia-se verificar a crescente substituição do trabalho humano por máquinas — processo que ficou conhecido como mecanização ou automação. Porém, como os concorrentes também faziam a mesma coisa, isso gerava uma corrida que acabava levando à diminuição dos lucros. Muitas empresas iam à falência e as que sobreviviam passavam a controlar fatias cada vez maiores do mercado. Desse modo, a concorrência acabou provocando a concentração da produção industrial nas mãos de poucos grupos econômicos, com a consequente formação de grandes monopólios. No final do século XIX, era tão forte a tendência à criação de monopólios nos Estados Unidos que o Congresso aprovou, em 1890, a lei Sherman — aprimorada em 1914, quando recebeu o nome de lei antitruste —, proibindo que uma única empresa, ou grupo de empresas, exercesse controle sobre o mercado de qualquer produto. Mesmo com a medida, a tendência à concentração de capital prosseguiu. Nessa época, outro fenômeno daria novos rumos ao sistema capitalista e à relação entre os povos: a fusão entre o capital industrial e o capital bancário. Dessa fusão surgiu, na Europa e nos Estados Unidos, o chamado capital financeiro, caracterizado pela criação de grandes instituições financeiras. Essa nova estrutura do capitalismo estava voltada para o mercado mundial e para a conquista de territórios. No caso das indústrias, a abertura para o mercado mundial tinha a finalidade de controlar as fontes de matériasprimas — minérios, produtos agrícolas e, mais tarde, petróleo — e, ao mesmo tempo, conquistar mercados consumidores para os produtos industrializados. Como nesse momento a concorrência se dava entre grandes grupos econômicos de nacionalidades diferentes, a disputa assumia formas extremamente agressivas. Na verdade, para assegurar o controle das fontes de matérias-primas e de mercados, as nações imperialistas não mediam esforços e chegariam, se necessário, até a medida extrema de declarar guerra. Para o capital financeiro, o mercado mundial representava a possibilidade da aplicação de capitais em setores lucrativos da economia de um país pouco desenvolvido. Durante o século XIX, por exemplo, empresas inglesas investiram grandes somas de capital na construção de ferrovias e no aperfeiçoamento de serviços públicos, como transporte urbano e iluminação a gás, em países como o Brasil. Com o objetivo de assegurar o domínio desse mercado colonial, os países industrializados lançaram-se à conquista de territórios e à criação de colônias. As potências europeias adotaram essa política principalmente na África, mas estenderam-na também à Ásia e à América Latina. Surgia dessa forma o neocolonialismo, isto é, impérios coloniais semelhantes em muitos aspectos aos que existiram entre o século XVI e o começo do século XIX. A expansão colonial colocou lado a lado as grandes empresas capitalistas (indústrias e bancos) e os governos dos países desenvolvidos, ou seja, os interesses do Estado acabaram se confundindo com os interesses privados na busca do aumento de poder, de lucros e da conquista de mercados. Nessa conjuntura, as relações entre as nações passaram a ser regidas pela força, levando ao domínio dos países mais fracos pelos mais poderosos. Essas relações obrigaram os países desenvolvidos a se armar para conquistar novos territórios e enfrentar a ameaça das potências concorrentes. Os novos impérios coloniais A repartição do mundo entre um pequeno número de Estados foi a expressão mais espetacular que já observamos da crescente divisão do planeta em fortes e fracos, "avançados" e "atrasados". Foi também notavelmente nova. Entre 1876 e 1915, cerca de um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia, entre meia dúzia de Estados. A Inglaterra aumentou seus territórios em cerca de 10 milhões de quilômetros quadrados; a França, em cerca de nove; a Alemanha conquistou mais de dois milhões e meio; a Bélgica e a Itália, pouco menos que essa extensão cada uma. Os EUA conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da Espanha; o Japão, algo em torno da mesma quantidade, à custa da China, da Rússia e da Coréia. As antigas colônias africanas de Portugal foram ampliadas em cerca de 750 mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora líquida (para os EUA), ainda conseguiu tomar alguns territórios pedregosos no Marrocos e no Saara ocidental. Dentre os impérios coloniais, apenas o holandês não conseguiu, ou não quis, adquirir novos territórios, salvo por meio da extensão de seu controle efetivo às ilhas indonésias, que há muito 'possuía "formalmente. 2. UM CONTINENTE SUBJUGADO A conquista do território africano pelas potências europeias no final do século XIX foi um processo rápido. Resultado de verdadeira "corrida" entre essas potências, a conquista provocou a divisão arbitrária da África em colônias e a dominação dos povos nativos. A justificativa ideológica para esse tipo de iniciativa teve como base a doutrina da missão civilizadora da cultura europeia, pela qual caberia às nações da Europa difundir seus hábitos, costumes e tradições entre povos "atrasados" e "primitivos". A longo prazo, essa "missão" deixou uma herança de fome, destruição, miséria, divisões étnicas, guerras e estagnação econômica entre os povos africanos, que até hoje sofrem as consequências da dominação. Mas a verdadeira razão dessa disputa entre os europeus foi a descoberta de ouro e diamantes no sul da África, por volta de 1870. Logo depois, surgiram na Europa a Associação Internacional Africana e o Grupo de Estudos do Alto Congo, criados pelo rei Leopoldo II, da Bélgica, que havia se unido a um grupo de financistas para explorar o território cortado pelo rio Congo, no oeste africano. Mais tarde, todo esse vasto território, riquíssimo em minerais, seria declarado propriedade privada do rei belga. Como era previsível, as iniciativas de Leopoldo II acabaram despertando a cobiça das outras potências, que decidiram entrar na disputa pela partilha do continente africano. Para dirimir as divergências, o chanceler alemão Otto von Bismarck promoveu a Conferência de Berlim (1885-1887). A essa altura, a Inglaterra já dominava a África Oriental Britânica e a Rodésia, além da Nigéria, Serra Leoa, Costa do Ouro e de regiões que depois seriam englobadas na União Sul-Africana. No Egito e no Sudão, os ingleses disputavam zonas de influência com a França, que resolveu abandonar a região em 1904, em troca do apoio inglês a suas ambições no Marrocos. A França já dominava a África Ocidental Francesa, a Tunísia, a África Equatorial Francesa, Madagascar e outras regiões. Controlava também a Argélia, que conquistara entre 1830 e 1857. A Itália e a Alemanha só se lançaram mais tarde à conquista africana, devido ao tardio processo de unificação verificado nos dois países. Mesmo assim, na virada do século XIX para o século XX, a Itália dominava a Eritréia, a Somália Italiana e a região da Líbia, enquanto a Alemanha controlava a África Oriental Alemã, a região de Camarões e a África do Sudoeste Alemã. Já os países ibéricos mantinham antigas possessões: Portugal tinha sob seu domínio Angola, Moçambique e a Guiné Portuguesa, enquanto a Espanha exercia o controle sobre o Marrocos Espanhol e a região do Rio do Ouro. A Guerra do ópio Durante muito tempo, a China permaneceu fechada a qualquer influência de outras regiões, sobretudo do Ocidente, procurando preservar intacta sua cultura milenar. Até o século XIX, por exemplo, apenas o porto de Cantão estava autorizado a comerciar com o Ocidente. Porém, em virtude de suas grandes dimensões, o país era cobiçado pelas nações europeias, que aguardavam apenas uma oportunidade para estender seu domínio sobre a região. Tentando criar essa oportunidade, comerciantes ingleses se dedicavam ao tráfico de uma droga muito consumida pelos chineses: o ópio. A droga saía de Bengala, na Índia, e era introduzida ilegalmente na China, afrontando decisões do governo chinês, que havia proibido sua entrada no país. Para coibir a atividade, a partir de 1839 as autoridades chinesas passaram a apreender e destruir os carregamentos de ópio. A medida serviu de pretexto para que os ingleses deflagrassem a Guerra do ópio (1839-1842). O confronto teve consequências desastrosas para a China, que foi obrigada, entre outras exigências, a ceder a ilha de Hong Kong, abrir cinco portos ao comércio exterior e pagar uma indenização de guerra aos ingleses. Mais tarde, o país seria submetido a novas humilhações pela Inglaterra, que provocou duas outras guerras do ópio, em 1856 e 1858. Depois de cada conflito, a China era forçada a pagar novas indenizações e a abrir outros portos ao comércio inglês. Alguns anos mais tarde, sobreveio a Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), na qual o país perdeu a Coréia e a ilha de Formosa para o Japão. O pior, entretanto, ainda estava por vir. A expansão do Japão contrariou os interesses das potências ocidentais. Alegando que a China era incapaz de se defender, essas nações passaram a competir por concessões territoriais e privilégios econômicos no país. A partir de 1895, a China foi dividida em zonas de influências. Em cada uma delas, uma potência assumiu o direito de comerciar e fazer investimentos, além de contar com a garantia de que a área não seria alienada em favor de outro Estado. 3. A ÁSIA SOB CONTROLE Ao contrário do atraso que caracterizava o continente africano, na Ásia havia um país em franco desenvolvimento: o Japão. As causas desse progresso remontam a 1868, quando ocorreu a Revolução Meiji, um movimento político que restaurou o poder do imperador, antes enfraquecido pela autoridade do xogum, supremo comandante militar. Com a restauração, o imperador pôde adotar uma série de medidas que deram início ao processo de industrialização e ao desenvolvimento do país, sob a orientação e a intervenção direta do Estado. O crescimento interno acabou alimentando ambições imperialistas no Estado Japonês, sobretudo entre os militares. Como consequência, entre 1894 e 1895, o país esteve em guerra com a China por disputas territoriais. O conflito terminou com a vitória do Japão, que anexou a Coréia e a ilha de Formosa, transformando-as em colônias. Outra presença marcante no Extremo Oriente foi a dos Estados Unidos, que em 1901 anexaram as Filipinas. De todo modo, as maiores colônias asiáticas pertenciam à Inglaterra, que controlava a Índia e a Birmânia. Nessa época, a França dominava a Indochina, enquanto a Holanda ocupava as Índias Holandesas, sob seu poder desde o século XVII. 4. AO SUL DO RIO GRANDE Na Ásia e na África, a dominação imperialista se deu por meio da conquista de territórios (neocolonialismo). O mesmo não ocorreu na América Latina. Para entender esse processo, vale recordar que, nos termos do pacto colonial, estabelecido na época da colonização, a economia das colônias foi definida como complementar à das metrópoles. Assim, cabia às colônias cultivar produtos tropicais de larga aceitação no mercado europeu ou oferecer metais preciosos que promovessem o rápido enriquecimento da metrópole, segundo a concepção mercantilista. A independência dos países da América Latina, no início do século XIX, não alterou muito essa situação. Vitoriosos em sua luta, os novos países não romperam radicalmente com as estruturas sociais e econômicas construídas durante o período colonial. Em todos eles, foi mantida a grande propriedade da terra voltada para a monocultura de produtos tropicais de exportação. Em alguns países, como o Brasil, até mesmo o trabalho escravo persistiu. Também as relações de poder não se democratizaram, e o governo continuou nas mãos de elites formadas pela aristocracia da terra e pelos grandes comerciantes. Nessas condições, os países latino-americanos não se lançaram ao desenvolvimento econômico autônomo e auto-sustentado, como aconteceu nos Estados Unidos. Ao contrário, para consolidar os novos governos, viramse obrigados a recorrer ao capital estrangeiro. Esse foi o caminho trilhado por elites educadas na tradição aristocrática da península Ibérica, acomodadas às enormes desigualdades sociais e habituadas a consumir produtos de origem europeia. Para essas elites, era cômodo e interessante ceder à dominação econômica dos países capitalistas industrializados, sobretudo da Inglaterra, que fornecia artigos de alta qualidade em troca dos produtos primários vendidos pela América Latina. Nessa época, a penetração do capital imperialista se dava por duas vias. A primeira eram os empréstimos públicos (de governo para governo) ou privados (de bancos particulares para governos); a segunda eram os investimentos diretos de capital, principalmente em mineração, operações financeiras, comércio de exportação e importação, transportes (ferrovias, companhias de navegação) e serviços públicos urbanos (iluminação a gás, linhas de bonde e outros). Dessa forma, embora fossem politicamente independentes, os países da América Latina passaram a manter com as nações industrializadas uma relação de dependência econômica. No entanto, não teria sido possível manter esse tipo de relação sem a aprovação ou até o apoio e a colaboração explícita das elites latino-americanas.