CULTURA, FOCOS E FORMAS: UMA EXPERIÊNCIA DE ARTE E
CULTURA NO ENSINO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICO
Renata Lorencini Rizzi
Instituto Federal do Espírito Santo
Edmilson Bermudes Rocha Júnior
Instituto Federal do Espírito Santo
RESUMO: O presente artigo relata o desenvolvimento do projeto Cultura: focos e formas no ano
de 2011, que objetivou a inserção da arte e da cultura como prática pedagógica no Campus
Cachoeiro de Itapemirim do Instituto Federal do Espírito Santo de forma a promover a autonomia
do Educando conforme os preceitos da pedagogia de Freire. Para tanto, foram realizados 21
eventos entre atividades culturais de formação e entretenimento, dos quais participaram cerca de
1600 pessoas, da comunidade acadêmica e civil. Por fim, pode-se concluir que ao proporcionar
aos alunos o acesso aos bens culturais, o projeto Cultura: focos e formas, possibilitou, entre
outras coisas, a disseminação e perpetuação da cultura popular, bem como permitiu á aqueles sua
criatividade, enriquecer seus conhecimentos e formar sua identidade.
PALAVRAS CHAVE: Cultura; Educação; Indústria Cultural.
1. INTRODUÇÃO
O Ifes - Campus Cachoeiro de Itapemirim foi inaugurado em 2005, desde então as
atividades culturais existentes estavam limitadas as promoções da Biblioteca durante a Semana
Nacional do Livro e da Biblioteca ou a Jornada Acadêmica de Ciência, Tecnologia e Cultura. Em
alguns anos as duas ocorreram na mesma semana concentrando as atividades.
Para modificar esta realidade, à Biblioteca buscou fontes de recursos externos inscrevendo
projetos em diversos editais públicos e privados. No final de 2010 conseguiu recursos por meio
de um edital de patrocínios e realizou o projeto Cultura: focos e formas em 2011.
Por meio deste projeto realizou 21 eventos entre atividades culturais de formação e
entretenimento, sendo que em cada mês no ano foi trabalhada uma área das artes, englobando:
desenho, xadrez, artes plásticas, artes visuais, artes cênicas, música e fotografia. Por fim atingiu
um público de 1600 participantes.
Ao proporcionar aos alunos o acesso aos bens culturais, o projeto Cultura: focos e formas
possibilitou a disseminação e perpetuação da cultura popular, bem como permitiu á aqueles
conhecer e interagir com outros grupos culturais, desenvolver sua criatividade, enriquecer seus
conhecimentos e formar sua identidade, mais além o acesso aos bens culturais permite uma
formação para a autonomia.
2. O IFES E O ACESSO A CULTURA
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo - Ifes é
constituído por 17 campi, mais 32 polos de Educação à distância. Que ofertam cursos técnicos
integrados e subsequentes ao ensino médio, também cursos de graduação e pós-graduação, além
de desenvolverem ações de pesquisa e extensão que integram seus campi às comunidades em que
atuam.
Desde sua criação enquanto Escola de Aprendizes e Artífices, em 1909, manteve o ensino
voltado para formação profissional e tecnológica com pouco espaço para desenvolvimento de
atividades acadêmicas voltadas para artes e humanidades. Embora sua constituição seja herança
dos Liceus de Artes e Ofícios do séc. XIX, que abrigavam os órfãos e os ensinavam as atividades
manuais, por décadas, a instituição foi transformada e se desenvolveu a partir do ideal Positivista
de ordem e progresso que permeou suas transformações de nomenclatura e estrutura desde 1909
até 2008 com a criação do Ifes.
As transformações incluíram em 1937 o Liceu Industrial de Vitória; em 1942 a Escola
Técnica de Vitória; depois em 1965 como Escola Técnica Federal do Estado do Espírito Santo;
em 1999 Centro Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Espírito Santo – Cefetes.
Nesta trajetória, o Campus - Cachoeiro de Itapemirim foi inaugurado em 2005, como
Uned – Unidade de Ensino Descentralizada do Cefetes, e em 2008 transformado em Ifes –
Campus Cachoeiro. E mantém enraizado em sua cultura escolar a formação profissional, mesmo
que busque a formação integral do educando o fato de ser tradicionalmente uma escola técnica
faz com que as atividades culturais praticamente não existissem e estivessem sempre vinculadas
as promoções da Biblioteca durante a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca – SNLB ou a
Jornada Acadêmica de Ciência, Tecnologia e Cultura. Em alguns anos as duas ocorriam na
mesma semana concentrando as atividades.
As dificuldades enfrentadas no desenvolvimento das atividades culturais estavam também
em sua operacionalização, perpassando pela destinação orçamentária e pela dificuldade de
contratar artistas que no geral não possuem empresas. Até o ano de 2009 a FUNCEFETS
patrocinava as atividades culturais, mas a partir de 2010 esta instituição não pode mais arcar com
essa responsabilidade. A partir de então a Biblioteca buscou fontes de recursos externos
inscrevendo projetos em diversos editais públicos e privados e no final de 2010 conseguiu
recursos por meio de um edital de patrocínios, previu assim o desenvolvimento do projeto
Cultura: focos e formas para o ano de 2011.
3. CULTURA E FORMAÇÃO PARA A AUTONOMIA
Os alunos do Campus Cachoeiro são provenientes de diversos municípios do Sul do
estado do Espírito Santo. Muitos deles não possuem acesso a atividades culturais, enquanto bens
culturais. E ao ingressam na instituição para obterem uma formação para o trabalho essa realidade
não se modifica. Na tentativa de transformar essa realidade é que surgiu o Projeto Cultura: focos
e formas. Pois, a formação para o trabalho deve incluir também a formação para a vida e permitir
aos alunos o contato com os bens culturais os prepara de forma integral, os muni de inspiração e
criatividade, como também proporciona uma nova forma de lazer e de aprendizagem.
O termo Cultura pode assumir diversas definições, mas aqui entendemos cultura, de
acordo com Freire como “[...] todo o resultado da atividade humana, do esforço criador e
recriador do homem, de seu trabalho por transformar e estabelecer relações dialogais com os
outros homens” (MIZUKAMI, 1986, p. 87 apud FREIRE, 1974, p. 41). Para este autor e para a
Abordagem Sócio-cultural do Ensino o sujeito constrói sua cultura à medida que interage no
mundo e o ensino deve dotar esses sujeitos de instrumentos para que assumam os valores da
cultura popular e não apenas os consumam (MIZUKAMI, 1986).
Consideramos como importantes instrumentos o conhecimento e a apropriação das artes
em geral, pois o resultado da atividade humana ou esforço criador e recriador do homem citados
por Freire, podem ser traduzidos pela Cultura enquanto produção artística, ou seja, enquanto bens
culturais que “[...] são, em geral, os produtos do processo de criação artística, assim como os
suportes necessários a sua difusão [...]” (POLÍTICA 2011, p. 26 apud EVRARD, 1987). Contudo,
no geral os alunos tem acesso aos bens culturais após serem apropriados pela indústria e os
recebem prontos e acabados como bens de consumo. Porque o bem cultural se torna um produto
cultural quando passa a ser produzido e comercializado de forma industrial, como ocorre com os
livros, CD's, cinema e outros.
De acordo com Pucci (2006) baseado em Horkheimer e Adorno por meio da indústria
cultural a burguesia domina a proletariado, pois esta preenche o tempo livre do trabalhador,
impedindo que este se desenvolva intelectual e espiritualmente. A arte que antes assumia um
caráter de cartase, isto é, de libertação e purificação do homem, agora envolve o homem na
sociedade como se o entorpecesse. Pois,
Se um dos resultados benfazejos da catarse estética era gerar em seus participantes a
purgação espiritual para que pudessem aguçar os elementos de resistência e de confronto à
realidade adversa, na arte sem sonho destinada ao consumo o que se processa é um catarse
às avessas: sua pseudo poética leva os participantes à identificação integral com o todo, à
função impessoal com o real. (PUCCI 2006, p. 100)
Ao proporcionar aos alunos o acesso aos bens culturais, o projeto Cultura: focos e formar
possibilitou a disseminação e perpetuação da cultura popular, bem como permitiu à aqueles
conhecer e interagir com outros grupos culturais, desenvolver sua criatividade, enriquecer seus
conhecimentos e formar sua identidade, mais além o acesso aos bens culturais permite uma
formação para a autonomia.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O projeto Cultura: focos e formas, foi desenvolvido durante o ano de 2011. No qual
realizou 21 eventos entre atividades de formação e entretenimento, sendo que em cada mês no
ano foi trabalhada uma área das artes conforme segue:
Atividade

Oficina de desenho, com Ricardo Ferraz

Exposição de cartuns “Visão & Revisão,
Mês de Realização
Abr Mai Jun Ago Set Out Nov Dez
Conceito e Pré-conceito”

Oficinas de Xadrez, projeto Xadrez: jogo, x
arte, ciência.

Criação do
Coral do Ifes - Campus
Cachoeiro.

Oficinas e exposições de artes plásticas,
projeto Único e Múltiplos.

Apresentações teatrais da Asteca: “A
tímida luz
de velas das ultimas
esperanças”; “Micos 2”; “O Burguês
x
ridículo”

Oficinas de teatro.

Semana Prevenção às Drogas

Oficinas de criação audiovisuais.

Exibição de curtas-metragens.

Encontro de corais: Coral do Campus
x
Cachoeiro; Coral da 2ª Igreja Batista;
Coral Maria Penede; Coral Voz dos Anjos
e Coral Canto Livre.

Exposição,
oficina
e
concurso
de
fotografia.

I Forúm Sul Capixaba de Cultura.

Semana Nacional do Livro e da Biblioteca
(Contação de histórias)

x
x
x
Festival de Música: Oficina de Violão;
apresentação da Banda Art e Voz.

Concurso de bandas.

Cultura
Cachoeirense:
Exposição
x
CachuArt; apresentação dos grupos de
Caxambu e Xarola.

Encerramento das atividades do projeto,
com entrega dos brindes e apresentação
x
teatral “Estórias de um povo de lá”
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O projeto atingiu um público total de 1600 participantes, sendo 737 homens e 863
mulheres, grande parte com idade entre 12 e 29 anos de idade, sendo de 11 participantes de 07 à
11 anos; 691 participantes de 12 à 14 anos; 513 participantes de 15 à 17 anos; 239 de 18 à 29
anos; 139 de 30 à 59 anos e 7 participantes com mais de 50 anos. Estes partipantes residiam em
diversos municípios do Estado, a saber: Alegre; Alfredo Chaves; Vargem Alta;Castelo; Jerônimo
Monteiro; Ouro Preto; Mimoso do Sul; Monte Alegre;Rio Novo do Sul;Vila Velha; Muqui;
Marataízes; Vitória; Itapemirim; Presidente Kennedy; Piúma; Burarama; Monte Alegre; São
Joaquim; Guaçuí.
Em relação às atividades desenvolvidas pelo projeto, ao contrário do que se esperava, as
atividades de formação como as oficinas e mini-cursos não tiveram grande participação da
comunidade acadêmica e civil. Já nas atividades de entretenimento, a participação da comunidade
acadêmica foi maior a partir dos convites realizados aos professores que levaram suas turmas. As
atividades de maior sucesso foram as que tiveram parcerias externas como: o Encontro de Corais
e o Fórum de Sul-Capixaba de Cultura.
Porém, em uma instituição escolar onde as atividades culturais ocorriam pontualmente
durante a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca ou na Jornada Acadêmica de Ciência,
Tecnologia e Cultura, o projeto Cultura: focos e formas, cumpriu a função primordial de
disseminar a arte e a cultura e despertar o interesse de alunos e servidores por atividades que
antes não faziam parte da “cultura escolar”
6. CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos concluímos que para o sucesso das atividades culturais
dentro do ambiente escolar é necessário estabelecer parcerias internas com os professores e
externas com outros agentes culturais. Mas os dados coletados demonstram que o projeto atingiu
o objetivo proposto ao envolver um público total de cerca de 1600 participantes e realizar 21
eventos, pois proporcionou amplo acesso aos bens culturais.
REFERÊNCIAS
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,
1986.
POLÍTICA e gestão cultural. Disponível em:
<http://ead.cultura.gov.br/file.php/34/pol_tica_gest_o_cultural.pdf> Acesso em: 29 dez 2011
PUCCI, Bruno. O riso e o trágico na indústria cultural: a catarse administrativa. In: CARVALHO,
Alonso Bezarra de; SILVA, Wilton Carlos Lima da (ORGs). Sociologia e educação: leituras e
interpretações. São Paulo: Avercamp, 2006. p. 97-112.
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