Estudos técnicos para subsidiar a proposta de criação do PARQUE ESTADUAL RIO SÃO FÉLIX Foto: Fátima Sonoda Estudo Técnico Meio Físico Brasília-DF, dezembro1de 2012 Diretor-Presidente Henrique Brandão Cavalcanti Superintendente-Executivo Cesar Victor do Espírito Santo Administrativo-Financeiro Carlos Daniel Martins Schneider Eduardo B. Passos Paulo Henrique Gonçalves Projeto estudos para criação de unidades de conservação no Estado de Goiás Coordenação Geral - Paulo de Tarso Zuquim Antas Coordenação Executiva - Mara Cristina Moscoso Coordenação do Meio Biótico - Paula Hanna Valdujo Administrativo-financeiro - Paulo Henrique Gonçalves Consultores setoriais Sistema de Informação Geográfica Renato Prado dos Santos – Coordenação Edivaldo Lima de Souza Meio Físico Tadeu Veiga – Coordenação Ana Raíssa Amorim dos Santos S PIDIAR ALNA Secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos Leonardo de Moura Vilela Superintendente de Unidades de Conservação José Leopoldo de Castro Ribeiro Gerente de Áreas Protegidas Gilvânia Maria Silva Coordenadora do Projeto Cerrado Sustentável Susete Araújo Pequeno 2 Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 7 METODOLOGIA...................................................................................................................... 8 RESULTADOS ....................................................................................................................... 10 1. Aspectos regionais ........................................................................................................ 10 O contexto regional aqui caracterizado corresponde à porção nordeste do Estado de Goiás. Nele se insere a área em apreço e outras áreas potenciais para conservação, abordadas em conjunto nas etapas iniciais dos estudos e ilustradas nos mapas regionais apresentados adiante............ 10 1.1. Geologia ................................................................................................................... 10 1.2. Geomorfologia.......................................................................................................... 14 1.3. Clima ........................................................................................................................ 17 1.4. Solos ........................................................................................................................ 19 1.5. Águas ....................................................................................................................... 22 2. Aspectos locais ............................................................................................................. 26 2.1. Geologia e recursos minerais ..................................................................................... 26 2.2. Relevo ...................................................................................................................... 28 2.3. Clima ........................................................................................................................ 28 2.4. Solos ........................................................................................................................ 29 2.5. Águas ....................................................................................................................... 29 2.6. Qualiade ambiental ................................................................................................... 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 32 3 Sumário de tabelas Tabela 1. Correspondência entre os tipos de solos ........................................................................ 19 Sumário de mapas Mapa 1. Geologia regional ............................................................................................................ 11 Mapa 2. Formas de relevo ............................................................................................................. 15 Mapa 3. Solos................................................................................................................................ 20 Mapa 4. Sub-bacias hidrográficas .................................................................................................. 23 Mapa 5. Geologia, relevo e hidrografia ......................................................................................... 27 Sumário de fotografias Foto 1. Porção central da área Larguinha/São Felix. Terrenos elevados sobre metapelitos do Grupo Paranoá. Cerrados e matas preservados, estrada secundária no espigão. Ao fundo, o vale acidentado do rio São Felix. Coordenadas UTM 190.857E e 8.503.206N. Foto: Tadeu Veiga ......... 30 Foto 2. Vale do rio São Felix, no extremo sul da área Larguinha/São Felix. Leito muito encaixado, vales escarpados em metapelitos e quartzitos do Grupo Paranoá. Coordenadas UTM 191.857E e 8.497.453N. Foto: Tadeu Veiga ..................................................................................................... 30 Foto 3. Platôs instalados sobre quartzitos do Grupo Araí, cobertos por cerrados rupestres, característicos da área Santo Antonio/Traíras. Coordenadas UTM 196.544E e 8.519.573N. Foto: Tadeu Veiga .................................................................................................................................. 31 Foto 4. Platô laterítico sobre o Grupo Araí, ao sul da área Santo Antonio/Traíras. Pequenas escavações abandonadas (garimpo de manganês), junto ao povoado São José. Coordenadas UTM 197.308E e 8.508.740N. Foto: Tadeu Veiga ................................................................................... 31 4 Lista de Siglas ANA APA CPRM DNPM E ENE EROS-USGS IRS MPpa MPpa3 MPpa4 MTE N N1dl NE NNE NP2pb NP2qfm NP2sh NP2sl NP2slcc NP2sld NP2slm NQdl NW PP13tz PP2γau PP2γau1 PP2γau2 PP4a PP4aa PP4acg PP4aqa PP4aqf PP4aqo PP4aqsx PP4as PP4t PP4tqt PP4tst1 PP4γ4pb1 PP4γpb Q2a S SAAR SAB SABc SABf SABfc SACNE SAP Agência Nacional de Águas Área de Proteção Ambiental Serviço Geológico do Brasil Departamento Nacional de Produção Mineral Leste Lés-nordeste Geological Survey Center for Earth Resources Observation and Science Indian Remote Sensing Grupo Paranoá Grupo Paranoá – Unidade 3 – Rítmica Quartzítica Intermediária Grupo Paranoá – Unidade 4 – Rítmica Pelito-Carbonatada Ministério do Trabalho e Emprego Norte Coberturas detrito-lateríticas Nordeste Nor-nordeste Grupo Bambuí – Subgrupo Paraopeba Fengita-quartzo milonito Grupo Bambuí – Formação Serra de Santa Helena Grupo Bambuí – Formação Sete Lagoas Grupo Bambuí – Formação Sete Lagoas – Fácies Calcário Grupo Bambuí – Formação Sete Lagoas – Fácies Dolomito Grupo Bambuí – Formação Sete Lagoas – Fácies Marga Coberturas detrito-lateríticas Noroeste Formação Ticunzal Suíte Aurumina Suíte Aurumina – Fácies Sienogranito Suíte Aurumina – Fácies Monzogranito Grupo Araí – Formação Arraias Grupo Araí – Formação Arraias – Fácies Metarenito Grupo Araí – Formação Arraias – Fácies Metaconglomerado Grupo Araí – Formação Arraias – Fácies Quartzito Arcoseano Grupo Araí – Formação Arraias – Fácies Quartzito Feldspático Grupo Araí – Formação Arraias – Fácies Ortoquartzito Grupo Araí – Formação Arraias – Fácies Quartzito Seixoso Grupo Araí – Formação Arraias – Fácies Metassiltito e Metarristmito Grupo Araí – Formação Traíras Grupo Araí – Formação Traíras – Fácies Quartzito Grupo Araí – Formação Traíras – Fácies Siltito Um Suíte Pedra Branca – Fácies Biotita Granito Suíte Pedra Branca Depósitos Aluvionares Sul Sistema Aquífero Araí Sistema Aquífero Bambuí Sistema Aquífero Bambuí – Subsistema Cárstico Sistema Aquífero Bambuí – Subsistema Fraturado Sistema Aquífero Bambuí – Subsistema Físsuro-Cárstico Sistema Aquífero Cristalino Nordeste Sistema Aquífero Paranoá 5 Lista de Siglas SGM SIEG SW W WSW Superintendência de Geologia e Mineração Sistema Estadual de Estatística e de Informações Geográficas de Goiás Sudoeste Oeste Oés-sudoeste ARA 6 APRESENTAÇÃO A Fundação Pró-Natureza (Funatura) foi selecionada mediante licitação e firmou com o Governo do Estado de Goiás, o Contrato no 009/2012. O objetivo central é realizar o projeto “Criação de Unidades de Conservação no Estado de Goiás” através da análise dos dados dos componentes de biodiversidade, geodiversidade e socioeconomia com apoio de imagens de satélite e Sistemas de Informação Geográfica. O resultado final busca ampliar o Sistema de Unidades de Conservação de Goiás com áreas de proteção integral. A atividade está inserida no Projeto Cerrado Sustentável Goiás, componente 1 - Proteção da Biodiversidade pela Expansão e Consolidação de Áreas Protegidas no Corredor Ecológico Paranã-Pirineus e na APA João Leite. Na seleção da categoria de Unidade de Conservação de proteção integral buscou-se equilibrar a necessidade de proteção de amostras das ricas biodiversidade e geodiversidade goianas com a possibilidade da unidade representar uma fonte adicional de renda para os municípios envolvidos. Nesse volume a Funatura apresenta as análises dos elementos da socioeconomia que levaram à proposta da criação do Parque Estadual Rio São Félix, situado no município de Cavalcante. O parque estadual subdivide-se em duas áreas próximas de serras, chapadas e encostas, separadas pelo vale do rio Santo Antônio. Seus limites englobam as cabeceiras e a parte alta das bacias dos rios Santo Antônio e Traíras na área setentrional. O rio Traíras forma a divisa com o estado de Tocantins em todo o seu curso. A área meridional abrange as cabeceiras do rio Larguinha, bem como parte do curso médio do rio São Félix na área fronteira à RPPN Serra do Tombador, mantida pela Fundação Boticário de Proteção à Natureza. O rio São Félix possui grande importância histórica e cultural para o estado de Goiás. Esse rio foi a via de chegada dos bandeirantes com origem no Maranhão que fundaram o garimpo do rio São Félix e as bases da cidade de Cavalcante, denominada com o sobrenome dos irmãos garimpeiros do grupo maranhense. Além de conservar os ambientes típicos dessas chapadas e mantê-los em estágio próximo ao encontrado pelos primeiros bandeirantes a chegar no estado, as cabeceiras dos rios, as encostas e os picos podem ser utilizados para turismo de aventura, ecoturismo e turismo cultural. A proteção dessas cabeceiras favorece também a zona de recarga dos aquíferos que irão abastecer as populações humanas e atividades agropecuárias do vale do rio Santo Antônio situadas fora de seus limites, no vale plano e estreito. Por todo o parque estadual existem mirantes naturais de suas belezas cênicas e do vale dos rios. Os seus rios encachoeirados, convidativos para turismo de aventura e ecoturismo. Compõem ainda o parque estadual atributos culturais que são importantes resquícios de uma das primeiras regiões goianas ocupadas durante o período colonial. 7 METODOLOGIA A área de estudo Larguinha/São Félix – Santo Antônio/Traíras foi selecionada como prioritária, em um conjunto de 15 áreas potencialmente destinadas à criação de Unidades de Conservação no Estado de Goiás. A seleção considerou a sua importância ambiental, avaliada em caráter multidisciplinar com base em dados secundários e no conhecimento dos diversos pesquisadores. Em seguida, realizaram-se estudos específicos para caracterização dos seus atributos físicos, bióticos e socioeconômicos. A caracterização do meio físico seguiu o conceito da geodiversidade, lançado por Veiga (1999 e 2002) e posteriormente consagrado pelo Serviço Geológico do Brasil (Silva, 2008, entre outros). A geodiversidade expressa as particularidades do meio físico, abrangendo rochas, relevo, clima, solos e águas, subterrâneas e superficiais. Tais atributos resultam da atuação cumulativa de processos geológicos múltiplos. Por sua vez, condicionam a paisagem e propiciam a diversidade biológica e cultural nela desenvolvidas, em permanente interação. O conhecimento da geodiversidade é essencial à abordagem criteriosa de qualquer área ou região: por preceder a biodiversidade, ajuda a entender a dinâmica ambiental vigente. Além disso, o subsolo pode conter recursos minerais, hídricos e energéticos, cujo aproveitamento precisa ser devidamente equacionado, para não comprometer a própria biodiversidade e a qualidade de vida dos seus habitantes. É o caso dessa área, aqui recomendada para conservação. Seus atributos físicos foram caracterizados com base em dados secundários e na experiência de trabalho dos geólogos. Entre os estudos prévios consultados, destacam-se os levantamentos sistemáticos pioneiros realizados pelo Projeto Radambrasil (Radambrasil, 1981, 1982) e estudos promovidos pela Superintendência de Geologia e Mineração da Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás, em parceria com o Serviço Geológico do Brasil e a Universidade de Brasília (CPRM/SIC-SGM, 2008, entre outros). A bibliografia completa é apresentada ao final. Utilizaram-se bases cartográficas, imagens de satélite e mapas temáticos disponíveis no Sistema Estadual de Estatística e de Informações Geográficas do Estado de Goás (SIEG). São informações homogêneas, atualizadas e suficientemente detalhadas para a contextualização regional. Os dados foram processados em plataforma Arc Map para elaboração dos mapas regionais apresentados adiante: geologia, relevo, tipos de solos e hidrografia. Tais mapas ilustram a área em foco, frente a outras áreas potenciais para conservação selecionadas na porção nordeste de Goiás. O contexto local foi caracterizado em maior detalhe. Elaborou-se um mapa específico da área de estudo Larguinha/São Félix – Santo Antônio/Traíras, abrangendo geologia, recursos minerais, relevo e drenagens principais. Na sequência, programou-se um sobrevoo de reconhecimento, em conjunto com os demais pesquisadores, visando: a) reconhecer os principais atributos descritos; b) avaliar a integridade ambiental da área; c) confirmar a pertinência da criação de uma unidade de conservação; e d) definir diretrizes específicas para a proposta de criação – tipo de unidade de conservação, limites, etc. O sobrevoo permitiu a coleta de informações relevantes e propiciou uma visão abrangente do contexto em foco. Os pontos descritos foram fotografados com câmera digital (Pentax WG-1) e georreferenciados com aparelho GPS de navegação (Garmin 60CSx). As observações foram imediatamente registradas em caderneta e mapas de campo. 8 De posse de todos esses dados, foi elaborado o presente relatório, buscando atender aos seguintes objetivos: Descrever a evolução geológica da região, apresentando o conjunto de rochas presentes, o seu empilhamento estratigráfico e sua estruturação; Descrever o relevo e respectivas unidades fisionômicas, caracterizando-as quanto às altitudes dominantes e suscetibilidade à erosão; Interpretar a evolução morfogenética quanto ao condicionamento litológico e estrutural da paisagem, altitudes e declividades; Caracterizar o clima quanto à dinâmica atmosférica e sua influência sobre as temperaturas, pluviosidade, regime de chuvas e umidade do ar; Caracterizar os solos quanto aos atributos físicos relevantes para conservação e manejo: permeabilidade, suscetibilidade à erosão e fragilidade ao uso; Caracterizar os recursos hídricos superficiais e subterrâneos quanto à disponibilidade, usos, áreas de recarga, vulnerabilidade à contaminação e potencialidades; Indicar locais atrativos à possível visitação pública, bem como locais com restrições à visitação e/ou à implantação de infraestrutura; Recomendar pesquisas futuras sobre os temas abordados; Fornecer subsídios para equacionamento de outros aspectos relevantes, tais como: monitoramento de áreas frágeis, recuperação de áreas degradadas, articulação com outras áreas preservadas (corredores ecológicos), etc. A criação da unidade de conservação aqui recomendada ensejará o progressivo aprofundamento de tais temas, em conformidade com a proteção ambiental e a legislação. 9 RESULTADOS 1. Aspectos regionais O contexto regional aqui caracterizado corresponde à porção nordeste do Estado de Goiás. Nele se insere a área em apreço e outras áreas potenciais para conservação, abordadas em conjunto nas etapas iniciais dos estudos e ilustradas nos mapas regionais apresentados adiante. 1.1. Geologia A porção em estudo está inserida na Província Tectônica do Tocantins, que compreende três cinturões dobrados ou faixas: Brasília, Araguaia e Paraguai, sendo a primeira dominante no Estado de Goiás (Almeida et al., 1977). A Faixa Brasília é um cinturão gerado pela colisão de dois blocos continentais antigos: Cráton Amazônico a oeste e Cráton São Francisco a leste. Essa colisão foi responsável pela deformação e metamorfismo presentes nas rochas ígneas e sedimentares da província (CPRM/SIC-SGM, 2008). A compartimentação tectônica da Faixa Brasília compreende: a) Terrenos GranitoGreenstone; b) Cinturões Paleoproterozóicos; c) Bacia Intracontinental - Rift Intracontinental Paleo-Mesoproterozóico; d) Seqüência Pós-Rift; e) Bacia Oceânica Mesoproterozóica; f) Arco Magmático de Goiás; g) Bacia Marginal de Arco; h) Raiz de Arco Magmático; i) Bacia de Margem Passiva; j) Bacia de Antepaís (CPRM/SIC-SGM, 2008). A porção em foco abrange: Cinturões Paleoproterozóicos, Bacia Intra-continental - Rift Intracontinental Paleo-Mesoproterozóico e Sequência pós-Rift, Bacia de Margem Passiva e Bacia de Antepaís, assim como formações cenozóicas (depósitos aluvionares e coberturas detrito-lateríticas). As unidades geológicas presentes são descritas a seguir, da mais antiga para a mais recente (mapa 1). 10 Mapa 1. Geologia regional 11 - Cinturões Paleoproterozóicos Essas são as rochas mais antigas. Correspondem ao embasamento da Faixa Brasília e têm idades Paleoproterozóicas (entre 2.300 e 2.100 milhões de anos). Na região de interesse, são representadas por metassedimentos da Formação Ticunzal e por rochas graníticas Suíte Aurumina, descritas a seguir: Formação Ticunzal (PP13tz) A Formação Ticunzal é constituída na base por paragnaisses, que passam gradualmente a xistos grafitosos, seguidos por muscovita xistos, sericita-clorita xistos, micaxistos granadíferos, tremolita xistos e grafita xistos (Alvarenga et al., 2006). Essas rochas são caracteristicamente politectônicas e polimetamórficas. Sugere-se que foram depositadas em ambiente marinho restrito, com atividade biológica (Pimentel et al., 2000). Hospeda mineralizações de urânio na região do rio Preto e provavelmente também na região de Campos Belos. A formação é a encaixante dos granitos e pegmatitos da Suíte Aurumina, hospedeiros dos depósitos de estanho e tântalo da região de Monte Alegre de Goiás (CPRM/SIC-SGM, 2008). Suite Aurumina (PP2γ2au) A Suíte Aurumina é formada por corpos graníticos sin a pós-tectônicos, intrusivos na Formação Ticunzal (Pereira, 2001). O granito típico é um corpo alongado segundo N30W, com zonas de deformação intensa que podem ser confundidas com as encaixantes. As principais litologias são muscovita granito, biotita-muscovita granito, tonalito e biotita granito (Botelho et al., 2006). As rochas da suíte hospedam mineralizações de ouro, estanho e tantalita. Em Cavalcante, ocorrem ouro e platinóides associados a veios de quartzo, em milonitos no contato entre o granito e a Formação Ticunzal. Há depósitos e ocorrências de estanho e tântalo em greisens e pegmatitos em Monte Alegre de Goiás (Botelho et al., 2006). Na região de estudo, estão presentes as fácies sienogranito (PP2γ2au1) e monzogranito (PP2γ2au2), sendo a segunda associada aos depósitos de ouro em Cavalcante e Aurumina (CPRM/SIC-SGM, 2008). - Bacia Intracontinental Paleo-Mesoproterozóica – Sequência Rift e Sequência pós-Rift São rochas de idade Paleo a Mesoproterozóica (entre 2.000 e 1.600 milhões de anos), também integrantes do embasamento da Faixa Brasília. São representadas na região por sedimentos anorogênicos da Formação Arraias do Grupo Araí, por intrusões graníticas anorogênicas da Sub-província Paranã – Suíte Pedra Branca (sequência Rift) e por rochas psamo-pelíticas da Formação Traíras do Grupo Araí (sequência pós-Rift) (CPRM/SIC-SGM, 2008). Grupo Araí – Formação Arraias (PP4a) A Formação Arraias do Grupo Araí é constituída por rochas metassedimentares e metavulcânicas depositadas sobre o embasamento. As principais litologias são: dacito, riodacito, riolito e basalto para as metavulcânicas; e metarenito, metaconglomerado, quartzito arcoseano, quartzito feldspático, ortoquartzito, quarztito com seixos, metassiltito e metarritmito para as metassedimentares. Apresentam estruturas sedimentares primárias preservadas, como marcas de onda e estratificações cruzadas, tabulares e acanaladas (Alvarenga et al., 2006). 12 Grupo Araí – Formação Traíras (PP4t) A Formação Traíras do Grupo Araí é caracterizada por rochas metassedimentares pósrift, depositadas em ambiente marinho. Os principais litotipos são quartzito e siltito. Assim como na Formação Arraias, suas rochas apresentam estruturas sedimentares primárias preservadas, tais como estratificação cruzada, marcas de ondas e diques de areia (Alvarenga et al., 2006). Suite Pedra Branca (PP4γpb) A Suíte Pedra Branca abrange os granitos da Sub-província do Paranã. Reúne 8 intrusões maiores, que sustentam altos topográficos circulares (Marini e Botelho, 1986). Os granitos são intrusivos na Suite Aurumina e na Formação Ticunzal, e estão parcialmente cobertos por rochas do Grupo Araí. Apresentam mineralizações de estanho (CPRM/SIC-SGM, 2008; Botelho et al., 2006). Há 2 litologias principais na Suíte: biotita granito (com texturas rapakivi e granofírica), e leucogranito. As mineralizações de estanho mais importantes são associadas ao leucogranito (CPRM/SIC-SGM, 2008). - Bacia de Margem Passiva Essa bacia é formada por rochas de idade Meso a Neoproterozóica (entre 1.600 e 600 milhões de anos), localizadas na Zona Externa da Faixa Brasília. Compreendem sequências pelito-carbonáticas e psamo-pelíticas plataformais do Grupo Paranoá (CPRM/SIC-SGM, 2008). Grupo Paranoá (MPpa) O Grupo Paranoá é composto por espessa sucessão psamo-pelítica, com importante contribuição de rochas carbonáticas. Na porção de interesse, estão presentes 2 unidades individualizadas por Faria (1995). A Unidade 3 (MPpa3) é composta por quartzito feldspático, filito carbonoso, argilito e metassiltito. A Unidade 4 (MPpa4) é formada por metargilito, ardósia, metassiltito, filito carbonoso, calcixisto e quartzito feldspático. Ambas mostram estruturas sedimentares primárias preservadas (CPRM/SIC-SGM, 2008). As rochas do Grupo Paranoá podem conter ocorrências de ouro. Os calcários são utilizáveis para a fabricação de cal e como corretivos agrícolas. Os quartzitos e areias derivadas são utilizados como insumos para construção civil (CPRM/SIC-SGM, 2008). - Bacia de Antepaís É formada por rochas de idade Neoproterozóica (entre 800 e 600 milhões de anos). São sedimentos pelito-carbonáticos do Grupo Bambuí, depositados em ambiente marinho raso. Grupo Bambuí – Subgrupo Paraopeba (NP2pb) O Grupo Bambuí compreende rochas pelito-siliciclásticas e carbonáticas, formadas em extenso mar epicontinental neoproterozóico. Segundo Dardenne (1978), sua deposição ocorreu em regime de plataforma epicontinental estável, sob megaciclos transgressivosregressivos de águas pouco profundas. O Subgrupo Paraopeba compreende as formações Sete Lagoas, Serra de Santa Helena, Lagoa do Jacaré e Serra da Saudade. Na porção em foco, foram englobadas por Lacerda Filho et al. (1999) sob o termo Subgrupo Paraopeba Indiviso, que abrange siltitos e argilitos por vezes calcíferos, calcários e lentes de quartzito. 13 A sequência contém ocorrências de fosfatos, potencialmente utilizáveis para a fabricação de fertilizantes. As rochas carbonáticas podem ser utilizadas para a produção de cimento, cal e corretivos agrícolas (CPRM/SIC-SGM, 2008). - Bacias Cenozóicas – Formações Superficiais Formações Superficiais correspondem a depósitos detríticos, formados in situ ou transportados, tais como: couraças ferruginosas sobre terrenos aplanados e sedimentos inconsolidados aluvionares. Coberturas Detrito-Lateríticas (NQdl) As coberturas detrito-lateríticas são representadas por lateritos autóctones com carapaça ferruginosa. Podem ocorrer sobre qualquer tipo de substrato (CPRM/SIC-SGM, 2008). São características de climas tropicais e propícias à concentração de ouro, manganês, alumínio e outros metais pouco solúveis, porventura presentes no substrato. Depósitos aluvionares recentes (Q2a) Os depósitos aluvionares se associam à rede de drenagem que flui sobre o embasamento cristalino e as bacias sedimentares. Compreendem as acumulações de sedimentos de calha e de planície de inundação, compostos por areias finas a grossas, cascalhos, lentes de material silto-argiloso e turfa. Os sedimentos podem ser utilizados in natura, como insumos para a construção civil (cascalho, areia, argila). As frações mais grossas podem conter concentrações de rutilo, ouro, zircão e diamante, as quais podem constituir depósitos de interesse econômico (CPRM/SIC-SGM, 2008). 1.2. Geomorfologia A porção estudada está localizada no Planalto Central Goiano (Pena et al., 1975), que ocupa a parte norte do Estado de Goiás e a parte sul de Tocantins. O planalto é limitado a oeste pela Depressão do Araguaia, a norte e noroeste pela Depressão do Tocantins, e a sul-sudeste pelo Planalto Goiás-Minas. Esses limites são bem marcados por diferenças litológicas, altimétricas e de aspecto geral do relevo. Conforme assinalado por Radambrasil (1981), o Planalto Central Goiano é caracterizado pela diversidade de formas de relevo e de rochas metamórficas, de estruturas complexas (falhamentos, intrusões), e de cotas altimétricas (entre 400 e 1.650m). As feições de relevo são devidas às rochas dobradas do Grupo Araí e às rochas dos grupos Paranoá e Bambuí, também dobradas e arrastadas sobre as primeiras. Os dobramentos e posteriores falhamentos tectônicos modelaram um relevo com áreas de dissecação diferencial, predominância de cristas e barras, facetas triangulares, sulcos e escarpas estruturais justapostas a áreas conservadas planas ou levemente dissecadas (Radambrasil, 1982). A porção em foco compreende as seguintes subdivisões do Planalto Central Goiano, descritas adiante: Planalto Alto Tocantins-Paranaíba, Complexo Montanhoso VeadeirosAraí e Vão do Paranã (Mapa 2). 14 Mapa 2. Formas de relevo 15 - Planalto Alto Tocantins – Paranaíba O Planalto Alto Tocantins – Paranaíba é marcado por relevo fragmentado, entremeado por depressões intermontanas, esculpidas por importantes formadores do rio Tocantins. As cotas na região variam entre 750 e 1.100m. A composição litológica é bastante variada, sendo as formas de relevo correlacionáveis às rochas dos grupos Araí, Paranoá e Bambuí (Radambrasil, 1981). O Grupo Paranoá forma um conjunto de relevo estrutural representado por intensa dissecação em formas aguçadas e cristas orientadas para NNE, sustentadas por quartzitos. Formas convexas ocorrem localmente. A rede de drenagem evidencia forte controle estrutural, geralmente direcionado em torno de NE-SW (Radambrasil, 1981). - Complexo Montanhoso Veadeiros – Araí O Complexo Montanhoso Veadeiros – Araí compreende dois grandes blocos planálticos, limitados por escarpas e serras com prolongamentos que seguem a orientação dos dobramentos. O bloco sul contém a Chapada dos Veadeiros, com orientação NE-SW. O seu prolongamento sul apresenta formas circulares comandadas por intrusões. No bloco norte predomina orientação estrutural N-S e nota-se melhor a sucessão de dobras com grande raio de curvatura. A altimetria varia entre 800 e 1.690m. Os pontos mais altos ocorrem na Chapada dos Veadeiros (Radambrasil, 1982). O relevo é caracterizado por formas estruturais instaladas sobre dobramentos do Grupo Araí, localmente cobertos por rochas dos grupos Paranoá e Bambuí, truncados por superfícies de aplanamento com posteriores efeitos de tectônica de falha. A porção norte do relevo também é influenciada pela presença de intrusões (Radambrasil, 1892). As formas de relevo refletem a rigidez litológica e a forte estruturação das rochas. Predominam formas residuais de flancos de dobras, nivelados por planos topográficos e esfacelados por fraturas e falhas, que favorecem a dissecação. Há também patamares estruturais, escarpas de falha, cristas assimétricas, facetas triangulares e planos de falha ou de dobra, vales e sulcos de paredes íngremes, controlados pelo fraturamento (Radambrasil, 1982). - Vão do Paranã O termo regional Vão do Paranã foi adotado para designar a depressão posicionada entre os relevos mais altos do Planalto Divisor São Francisco – Tocantins a leste, e do Planalto Central Goiano a oeste. Essa unidade tem formato ovalado, com eixo maior N-S. As cotas variam de 400 a 600m. As maiores elevações referem-se aos contatos com os patamares do Chapadão a leste e as Chapadas do Alto Rio Maranhão a oeste (Radambrasil, 1982). A característica mais importante do relevo do Vão do Paranã é a sucessão morfológica regular de planos encouraçados nos interflúvios e de planos argilosos mais baixos. Os relevos residuais são constituídos por camadas de calcário, na forma de cristas com orientação N-S. As áreas de acumulação têm escoamento difuso, e ocorrem comumente em planícies de inundação do rio Paranã e seus principais tributários. 16 1.3. Clima A porção nordeste de Goiás é caracterizada por temperaturas elevadas durante boa parte do ano, principalmente em função da forte radiação solar (Radambrasil, 1982). O relevo também assume importante papel no clima da região, tanto nos aspectos térmicos quanto na distribuição de chuvas. A influência térmica do relevo é comprovada pelas diferentes temperaturas observadas em diferentes níveis altimétricos da região. No que diz respeito à precipitação, a influência orográfica é ainda mais marcante (Radambrasil, 1982). A penetração de ventos úmidos do litoral é barrada pelas escarpas do Espinhaço e da Chapada Diamantina, o que torna o Planlto Central dependente das chuvas de verão trazidas pelo fluxo convectivo de orientação de oeste para leste. A ausência de ventos oceânicos acentua os efeitos da continentalidade durante a estiagem, período no qual a umidade relativa do ar torna-se muito baixa (Radambrasil, 1982). - Tipos climáticos A porção nordeste de Goiás é caracterizada por clima tropical de savana (clima quente, com estação seca acentuada, coincidente com o inverno austral), que corresponde ao domínio climático Aw da classificação Köppen-Geiger (Peel et al., 2007). Como dito, o clima do Brasil Central é controlado exclusivamente por massas de ar equatoriais e tropicais, sem influência da massa tropical marítima. Essa característica promove um clima com 2 estações bem definidas. As chuvas se concentram no verão austral (cerca de 95% da precipitação anual incide nesse período) e o inverno é seco. Os climogramas da Figura 3A evidenciam a dualidade do clima tropical de savana, marcado por período chuvoso no verão e seco no inverno. A amplitude térmica é significativa, com temperaturas médias variando entre 18ºC e 26ºC, e média anual de 23ºC. - Pluviosidade A pluviosidade é definida pelo Regime Equatorial Continental, que determina o período de outubro a maio como mais chuvoso, com registros médios entre 800 e 1.300mm. Destaca-se dezembro, com médias que podem alcançar 300mm (Figura 3). O período seco, de junho a setembro, apresenta seus menores índices em julho (5,8 mm). É caracterizado por baixa umidade relativa do ar. Em julho e agosto, os índices de umidade comumente situam-se abaixo de 30%, podendo atingir 10% ou menos. 17 Figura 1. Climogramas para 2011 das estações climáticas de Alto Paraíso de Goiás, Niquelândia, Monte Alegre de Goiás e Posse. Fonte: INMET, 2012 - Temperatura As temperaturas na região são condicionadas por sua continentalidade, pela latitude e pelo relevo. De maneira geral, são elevadas durante o ano todo, e mostram grandes amplitudes anuais. As temperaturas são mais altas em setembro, com máximas podendo atingir 35ºC. No verão, a temperatura máxima média varia entre 25ºC e 30ºC. Maio, junho e julho são os meses mais frios, sendo em julho as menores médias, que oscilam entre 15ºC e 20ºC (Figura 3). Como dito, o relevo condiciona variações locais de temperatura. Podem ocorrer diferenças de até 5ºC entre as médias do Vão do Paranã (25ºC) e dos Patamares do Chapadão (20ºC), na transição entre clima úmido e semiúmido (Radambrasil, 1982). - Balanço hídrico A porção nordeste de Goiás está sob influência de clima úmido, onde é registrado excedente hídrico durante todo o período chuvoso (Andreae et al., 2004). A região apresenta disponibilidade hídrica em 7 meses do ano e déficit em apenas 4 meses (especialmente agosto). O excedente hídrico, que consiste na água que escoa em superfície ou em profundidade, incorporando-se à rede de drenagem, pode atingir 800 mm anuais. 18 1.4. Solos Os solos resultam da interação entre clima, tipos de rocha e relevo. Por consequência, as principais feições geológicas e geomorfológicas da região se refletem nos tipos de solos presentes. O Projeto Radambrasil (1982) caracterizou os solos da região de interesse em ampla escala, por meio de mapeamentos sistemáticos. Em 2006, a Embrapa adotou uma nova classificação, sob o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. O mapa 3 mostra as classes de solo existentes na porção em foco. A tabela 1 mostra a correspondência entre os tipos de solos utilizados por Radambrasil (1982) e a atual classificação adotada pela Embrapa. Os prinicipais tipos de solo são apresentados adiante segundo a nova classificação (Embrapa, 2006). Tabela 1. Correspondência entre os tipos de solos CLASSIFICAÇÃO RADAMBRASIL (1982) CLASSIFICAÇÃO EMBRAPA (2006) Areias Quartzosas, Areias Quartzosas Hidromórficas e Aluviais Neossolo Latossolo Vermelho Amarelo e Latossolo Vermelho Escuro Latossolo Cambissolos Cambissolo Lateritas Hidromórficas Plintossolo Terra Roxa Estruturada Similar Argissolo 19 Mapa 3. Solos 20 Neossolo Em geral, são solos originados de depósitos arenosos profundos (ao menos 2m de profundidade), constituídos essencialmente por areias quartzosas e distróficas. São praticamente destituídos de minerais primários pouco resistentes ao intemperismo. Ocorrem em relevos planos a suavemente ondulados, comumente associados a latossolos, áreas de nascentes e veredas. São muito suscetíveis à erosão (Radambrasil, 1982). Como assinalado pela Embrapa (2006, entre outros), as regiões de neossolo (com latossolos associados) vêm sendo incorporadas a cultivos de grãos ou a plantios de eucalipto. Sua utilização demanda correção da acidez, adubação e irrigação em larga escala. Latossolo Os latossolos são formados pelo processo denominado latolização, que consiste na remoção da sílica e das bases do perfil (Ca2+, Mg2+, K+, etc.), após transformação dos minerais primários constituintes. Essa remoção promove o enriquecimento residual do solo em óxidos de ferro e de alumínio. São solos profundos (normalmente superiores a 2 m), têm aspecto maciço poroso, são macios quando secos e muito friáveis quando úmidos. Por isso, são suscetíveis à erosão, junto aos cursos d’água e nas bordas das chapadas. No bioma Cerrado, os latossolos ocupam praticamente todas as áreas planas a suavemente onduladas, com declividade inferior a 7%. Isso facilita o seu uso mecanizado, em chapadas e também em vales. Os latossolos são passíveis de utilização com culturas anuais, perenes, pastagens e reflorestamento. Um fator limitante é a baixa fertilidade, mas com aplicações adequadas de corretivos e fertilizantes, aliadas à época propícia de plantio de cultivares adaptadas, obtêm-se boas produções. Em consequência, tais solos vêm sendo intensamente utilizados pela agricultura mecanizada para produção de grãos – especialmente soja e milho (Embrapa, 2006). Cambissolo São solos constituídos por material mineral, com horizonte B. Devido à heterogeneidade do material de origem, das formas de relevo e das condições climáticas, as características desses solos variam muito de um local para outro. De modo geral, são solos drenados, álicos e pouco profundos. Apresentam fase pedregosa e não pedregosa. No nordeste de Goiás desenvolvem-se em relevos ondulados a fortemente ondulados, sobre rochas dos Grupos Paranoá e Bambuí. Os cambissolos desenvolvidos em relevo pouco movimentado apresentam bom potencial agrícola. Quando situados em planícies aluviais, estão sujeitos a inundações, que podem limitar o uso agrícola. De qualquer modo, prestam-se para cultivos diversos, ainda que em pequena escala (Embrapa, 2006). Plintossolo Plintossolos caracterizam-se pela presença de manchas ou mosqueados avermelhados, ricos em ferro e de consistência macia, que podem ser facilmente individualizados da matriz do solo (plintitas). Contêm também nódulos e/ou concreções ferruginosas, extremamente duras, que podem formar camadas espessas, contínuas e endurecidas (Embrapa, 2006). 21 Na porção em foco, os plintossolos ocupam terrenos planos laterizados, desenvolvidos sobre rochas do Grupo Bambuí. São naturalmente pouco férteis, devido à elevada acidez e toxicidade em alumínio, o que os tornam inaptos ou com aptidão restrita ao cultivo, sendo utilizados apenas como pastagens naturais. Argissolo Os argissolos apresentam, como característica diagnóstica, um horizonte B textural. São solos medianamente profundos a profundos, moderadamente drenados e altamente susceptíveis a erosão. Na região em estudo, ocorrem sobre rochas do Grupo Bambuí. Quando localizados em áreas de relevo plano a suavemente ondulado, podem ser usados para diversas culturas, desde que sejam feitas correções da acidez e adubação (Embrapa, 2006). 1.5. Águas A porção nordeste do Estado de Goiás integra a Região Hídrica Tocantins – Araguaia (Almeida et al., 2006). É representada por cursos d’água que vertem de sul para norte e formam os rios Araguaia e Tocantins (mapa 4). A rede de drenagem é diversificada e relativamente densa, mesmo tratando-se de uma região onde, em função do clima, nem todos os rios são perenes (Radambrasil, 1982). 22 Mapa 4. Sub-bacias hidrográficas 23 - Aspectos hidrogeológicos regionais Os recursos hídricos superficiais têm estreita relação com as águas subterrâneas. Rios, córregos e outras drenagens ora alimentam os aqüíferos, ora são alimentados pelas águas subterrâneas. Na porção de interesse, Almeida et al. (2006) destacam os seguintes domínios hidrogeológicos: Domínio Fraturado O Domínio Fraturado é constituído por rochas magmáticas e metamórficas, onde os processos tectônicos rúpteis foram responsáveis pelo desenvolvimento de fraturas que compõem o espaço eventualmente preenchido pela água. O potencial desses sistemas é vinculado à abertura, densidade e interconexão das fraturas. Os processos neotectônicos são de fundamental importância para a manutenção da abertura da porosidade secundária planar. Domínio Físsuro-Cárstico O Domínio Físsuro-Cárstico é representado por situações onde rochas carbonáticas (calcários, dolomitos, margas e mármores) ocorrem na forma de lentes, com restrita continuidade lateral, interdigitadas com litologias pouco permeáveis (siltitos argilosos, folhelhos, filitos ou xistos). Domínio Cárstico O Domínio Cárstico pressupõe rochas carbonáticas com ampla continuidade lateral e vertical, de forma que o processo de dissolução cárstica tenha considerável desenvolvimento, com abertura de espaços maiores que 1m. Nesses sistemas, comumente ocorrem drenagens subterrâneas de fluxo turbulento, similares a cursos de drenagens superficiais. - Recursos hídricos subterrâneos Na porção nordeste de Goiás, Almeida et al. (2006) propõem 4 sistemas aquíferos diferentes, descritos a seguir: Sistema Aquífero Cristalino Nordeste (SACNE) O Sistema Aquífero Cristalino Nordeste compreende o embasamento arqueanoproterozóico e a Formação Ticunzal, que ocorrem na porção nordeste de Goiás. É uma das regiões com menor disponibilidade hídrica subterrânea do Estado, por se tratar de um conjunto de rochas pouco fraturadas, expostas em terrenos arrasados, com amplos lajedos maciços e coberturas de solos da classe dos Neossolos e Cambissolos. Além disso, as taxas de precipitação pluvial são baixas e as chuvas são bastante irregulares – temporal e espacialmente. Sistema Aquífero Araí (SAAR) O Sistema Aquífero Araí corresponde aos litotipos do Grupo Araí: metaconglomerados, metarenitos e metapelitos. As rochas de granulação mais grossa apresentam fraturamento acentuado, o que regula as áreas de recarga do aquífero e as nascentes. O conjunto formado por metaconglomerados e metarenitos tem excelente produtividade e vazões específicas moderadas. Todavia, o conjunto de rochas metapelíticas apresenta condições desfavoráveis, com vazões médias baixas e alta incidência de poços tubulares secos ou de baixa produtividade. Sistema Aquífero Paranoá (SAP) 24 O Sistema Aquífero Paranoá corresponde aos litotipos do Grupo Paranoá. O estágio de conhecimento aqui é mais avançado, em razão de estudos realizados no Distrito Federal e entorno, bem como na região da Chapada dos Veadeiros. As camadas arenosas presentes caracterizam-no como excelente reservatório de água. Além disso, as rochas apresentam fraturamento com grande distribuição, abertura e interconexão. Quando não há interferência de material pelítico, as fraturas se mantêm abertas em profundidades expressivas. Outra característica marcante do SAP é a presença de lentes de calcários e camadas e lentes de quartzitos, associados a rochas argilosas. O desenvolvimento de carstificação nos litotipos carbonáticos pode apresentar diferentes estágios, desde praticamente ausente (nas lentes menores e isoladas) até bastante elevado (nas lentes maiores). Sistema Aqüífero Bambuí (SAB) O Sistema Aqüífero Bambuí corresponde ao conjunto de rochas do Grupo Bambuí e subdivide-se nos subsistemas: Fraturado, Físsuro-Cárstico e Cárstico. O Subsistema Fraturado (SABf) engloba as rochas das formações Três Marias e Serra da Saudade. São aqüíferos fissurados, controlados pela densidade de fraturamento. Apesar da predominância de materiais pelíticos, o comportamento rúptil dos metassiltitos mais maciços e a presença de bancos arcoseanos permite elevada atividade hídrica. O relevo favorece a infiltração e otimiza os reservatórios subterrâneos. O Subsistema Físsuro-Cárstico (SABfc) corresponde às formações Serra de Santa Helena e Lagoa do Jacaré e ao Subgrupo Paraopeba Indiviso. Distribui-se por todo o vale do rio Paranã e segue até o extremo norte do Estado. É classificado como FíssuroCárstico, pela presença de rochas pelíticas interdigitadas com lentes de rochas carbonáticas. Nesse caso, o volume de rochas carbonáticas é restrito e o aqüífero não apresenta feições típicas de sistemas fraturados ou de sistemas cársticos clássicos. O Subsistema Cárstico (SABc) é representado pela Formação Sete Lagoas, nas áreas com exposições contínuas de rochas carbonáticas. Localiza-se no nordeste do Estado, onde há a maior faixa de exposições de rochas carbonáticas, incluindo paisagem cárstica típica, com inúmeras cavernas, dolinas, sumidouros, surgências, drenagem superficial intermitente e vegetação caducifólia (matas secas ou matas decíduas, conforme a terminologia botânica do presente documento). - Recursos hídricos superficiais O compartimento representado pelo Rio Tocantins na Região Hídrica Tocantins – Araguaia é formado pela junção dos rios Maranhão e Tocantinzinho. Os cursos dos afluentes drenam preferencialmente nos sentidos NE e NW. Além desses dois cursos d’água, destacam-se, de montante para jusante: rio das Almas, dos Patos, Verde, Traíras, Preto e Paranã (Almeida et al., 2006). As nascentes têm boa densidade de drenagem. Em geral, os afluentes têm porte considerável e são desprovidos de áreas alagadiças expressivas. A região sul, onde se localizam as nascentes, é a mais desenvolvida e mais populosa, enquanto que a região norte-nordeste tem pequena densidade demográfica e baixos índices de desenvolvimento (Almeida et al., 2006). A região de estudo abrange duas sub-bacias: a) Alto Tocantins e rio Preto, cuja área de drenagem abrange do alto rio Tocantins à confluência do rio Preto, inclusive; e b) Tocantins entre os rios Preto e Paranã, cuja área de drenagem está compreendida entre a confluência do rio Preto exclusive, e a confluência do rio Paranã (CPRM/SIC-SGM, 2008). 25 - Usos e qualidade das águas Na porção nordeste de Goiás, as águas têm diversos usos, dentre eles, consumo humano, recreativo, irrigação, aquicultura e dessedentação animal, acrescidos da geração de energia em pequenas centrais hidrelétricas (PCH). A qualidade dos recursos hídricos está diretamente relacionada ao seu uso, às condições do meio físico circundante e às atividades antrópicas na região. Esses diversos fatores acarretam impactos degradantes, principalmente nas áreas das nascentes, com a supressão de vegetação de encostas, matas ciliares, instalação de processos erosivos, lançamento de lixo urbano em locais inadequados e despejo de esgotos domésticos e efluentes industriais, sem tratamento prévio (Almeida et al., 2006). Cita-se ainda a contaminação por agroquímicos (fertilizantes, inseticidas e herbicidas) junto às grandes plantações mecanizadas de grãos. De modo geral, restam poucas áreas preservadas, com destaque para as Unidades de Conservação existentes, públicas e particulares. 2. Aspectos locais Descrevem-se aqui os principais atributos do meio físico das áreas potenciais Larguinha/São Felix e Santo Antonio/Traíras, localizadas no município de Cavalcante. As áreas são relativamente próximas e foram inspecionadas em conjunto, em sobrevoo de reconhecimento. São representativas do Complexo Montanhoso Veadeiros – Araí, em seu segmento norte. Abrangem dois domínios geoambientais similares, caracterizados por terrenos montanhosos, estabelecidos sobre metassedimentos. Na área sul (Larguinha/São Felix) ocorrem quartzitos e rochas pelito-carbonáticas do Grupo Paranoá. Na área norte (Santo Antonio/Traíras) predominam metassiltitos do Grupo Araí. Nos topos aplanados desenvolvem-se couraças lateríticas. As porções elevadas são cobertas por campos e cerrados rupestres, com matas densas ao longo das drenagens encaixadas. A ocupação humana é incipiente nas áreas, porém marcante na porção entre elas, que abrange o povoado São José, ocorrências de minério de manganês garimpadas na chapada e a pecuária tradicional, estabelecida nos vales do rio Santo Antonio e do córrego Larguinha. O mapa 5 ilustra a geologia, o relevo e os principais cursos d´água da área e entorno. 2.1. Geologia e recursos minerais O substrato das áreas é formado por rochas dos grupos Araí e Paranoá, descritos adiante do mais velho para o mais novo. Estão estruturadas em torno de N-S, que é a direção da Faixa Brasília nessa região. Grupo Araí O Grupo Araí corresponde a um conjunto de rochas metassedimentares e metavulcânicas, metamorfizadas em baixo grau. Na área Santo Antonio/Traíras ocorre a 26 Formação Traíras (PP4t), constituída por metassiltitos frequentemente calcíferos e metarritmitos. Mapa 5. Geologia, relevo e hidrografia 27 Grupo Paranoá O Grupo Paranoá é composto por uma sucessão de metassedimentos detríticos, com contribuição química. Na área Larguinha/São Felix ocorrem 2 conjuntos de rochas: Unidade 3 – Rítmica Quartzítica Intermediária (MPpa3): composta por quartzitos feldspáticos, argilitos, ardósias, quartzitos finos a médios e metassiltitos. O pacote apresenta inúmeras estruturas primárias: estratificação cruzada do tipo hummocky, espinhas de peixe, gretas contracionais, marcas onduladas e laminações cruzadas por ondas. Unidade 4 – Rítmica Pelito-Carbonatada (MPpa4): composta por metargilitos, ardósias, metassiltitos, filitos carbonosos rítmicos, calcixistos e quartzitos feldspáticos finos a médios. A essas rochas se somam lentes de mármores e dolomitos (MPpa4mm). As estruturas sedimentares mais comuns são marcas onduladas, estruturas de carga e raras laminações cruzadas por ondas e estruturas de contrações. Os quartzitos têm geometria ondulada, lenticular e estruturas hummocky. Coberturas detrito-lateríticas ferruginosas As coberturas detrito-lateríticas ferruginosas são representadas por lateritos autóctones com carapaça ferruginosa. Quando possuem perfis completos, suas crostas podem ultrapassar 30m de espessura. Podem formar depósitos supergênicos de manganês e de ouro, entre outros metais. As principais ocorrências minerais dessa região estão relacionadas aos pelitos manganesíferos da Formação Traíras do Grupo Araí, que resultam em depósitos supergênicos de manganês sobre as chapadas (mapa 6) Registra-se também a ocorrência de ouro aluvionar. Todavia, predominam drenagens pequenas e encaixadas, o que restringe o desenvolvimento de depósitos aluvionares. 2.2. Relevo As áreas são representativas do segmento norte do Complexo Montanhoso Veadeiros – Araí. O relevo movimentado delineia paisagens notáveis pela beleza cênica e oferece substrato para habitats variados. Quartzitos são rochas resistentes à erosão e resultam em elevações marcantes no espaço investigado. Ocorrem morros aguçados e serras baixas, com topos aplanados estruturados em torno de N-S. Os flancos mais íngremes ostentam escarpas nítidas. As cotas ultrapassam 1.000m nos cumes da serra da Larguinha e na chapada ao norte do povoado São José. Os flancos estão entalhados até 500m. A oeste, os rios São Felix e Santo Antonio ocupam vales muito encaixados, situados em cotas abaixo de 400m. 2.3. Clima Como visto, prevalece na região clima tropical de savana, com 2 estações bem definidas quanto ao regime pluviométrico. As maiores elevações influenciam as condições climáticas locais, porém aqui não são suficientes para amenizar as temperaturas, ao contrário do que ocorre ao sul, na chapada dos Veadeiros. 28 2.4. Solos A erosão é o processo dominante na esculturação da paisagem, restringindo o desenvolvimento de solos profundos aos vales mais amplos, a exemplo do rio Santo Antonio e do seu tributário córrego Larguinha. Rochas argilosas e carbonáticas propiciam solos mais estruturados e férteis do que os derivados de rochas quartzosas. Ainda assim, nas áreas em foco predominam cambissolos e neossolos litólicos pouco férteis. As vertentes íngremes permanecem sem uso. Os vales situados entre as áreas e a oeste mostram sinais de ocupação por pecuária extensiva. Na chapada próxima ao povoado São José, ao sul da área Santo Antonio/Traíras, há pequenas escavações abertas para garimpagem de manganês. 2.5. Águas A região integra a bacia hidrográfica do Tocantins. A área Larginha/São Felix é limitada ao sul pelo rio São Felix, instalado em estreito vale escarpado. A porção entre as áreas corresponde a um vale mais amplo, ocupado pelo rio Santo Antonio e o seu tributário córrego Larguinha. Ao norte da área Santo Antonio/Traíras corre o rio Traíras, que forma o limite entre os estados de Goiás e Tocantins. Todas essas drenagens e os córregos tributários são marcados por forte controle estrutural. De modo geral, os leitos são muito encaixados e têm declividade acentuada, com corredeiras e quedas dágua condicionadas a camadas de quartzitos, mais resistentes à erosão. 2.6. Qualiade ambiental As áreas inspecionadas são representativas do Complexo Montanhoso Veadeiros – Araí, estabelecido sobre rochas metassedimentares dos grupos Araí e Paranoá. O relevo acidentado compõe paisagens com notável beleza cênica e proporciona suporte para habitats variados, em porção drenada pelos rios São Felix, Santo Antonio e Traíras, da bacia do Tocantins. Nos topos prevalecem campos e cerrados rupestres, com matas desenvolvidas nos vales entalhados. A cobertura vegetal permanece relativamente íntegra, com exceção da porção situada entre as áreas, que é ocupada pelo povoado São José, por pequenos garimpos de manganês e por pecuária tradicional. Por fim, assinala-se a importância das áreas para futuras pesquisas geomorfológicas. As feições de relevo ali presentes podem fornecer elementos importantes para compreensão da evolução regional da paisagem e a formação de relevos residuais: sucessão climática; processos erosivos pretéritos e atuais; fases evolutivas registradas em terraços, platôs e couraças lateríticas; neotectônica, etc. 29 Foto 1. Porção central da área Larguinha/São Felix. Terrenos elevados sobre metapelitos do Grupo Paranoá. Cerrados e matas preservados, estrada secundária no espigão. Ao fundo, o vale acidentado do rio São Felix. Coordenadas UTM 190.857E e 8.503.206N. Foto: Tadeu Veiga Foto 2. Vale do rio São Felix, no extremo sul da área Larguinha/São Felix. Leito muito encaixado, vales escarpados em metapelitos e quartzitos do Grupo Paranoá. Coordenadas UTM 191.857E e 8.497.453N. Foto: Tadeu Veiga 30 Foto 3. Platôs instalados sobre quartzitos do Grupo Araí, cobertos por cerrados rupestres, característicos da área Santo Antonio/Traíras. Coordenadas UTM 196.544E e 8.519.573N. Foto: Tadeu Veiga Foto 4. Platô laterítico sobre o Grupo Araí, ao sul da área Santo Antonio/Traíras. Pequenas escavações abandonadas (garimpo de manganês), junto ao povoado São José. Coordenadas UTM 197.308E e 8.508.740N. Foto: Tadeu Veiga 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, F.F.M.; HASUI, Y.; NEVES, B.B.B.; FUCK, R.A. 1977. Províncias estruturais brasileiras. Atas do Simpósio de Geologia do Nordeste. 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