dia & noite: o melhor da programação cultural da cidade Ano XI • nº 208 Setembro de 2012 R$ 5,90 em poucas palavras Na capa inspiradíssima de André Sartorelli, a referência é ao 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais antigo e tradicional do país, que tomará conta da cidade entre os dias 17 e 24. Em constante movimento, este ano não será realizado no Cine Brasília, sua casa, finalmente passando por merecida reforma. Será transferido para a Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional e, como no ano passado, terá exibições em Sobradinho, Taguatinga, Ceilândia e Gama. Entre as novidades, a criação de um prêmio específico para documentários. Leia tudo sobre o festival, inclusive as resenhas dos filmes em Luz Câmera Ação, a partir da página 31. Imperdíveis, também, são os comentários de Reynaldo Domingos Ferreira sobre dois filmes apresentados recentemente no Festival Varilux de Cinema Francês que entraram para o circuito comercial: Intocáveis, sucesso de bilheteria na França, e My way, o mito além da música, que conta a história de Forent Emilio-Siri, cantor e compositor francês autor, entre outros, do sucesso imortalizado por Frank Sinatra (páginas 40 a 42). Abençoados, então, sejam os irmãos Lumière! Boa leitura e até outubro Maria Teresa Fernandes Editora Divulgação Luz, câmera, ação. Foi depois de observar o mecanismo de uma máquina de costura que os irmãos Lumière criaram um projetor capaz de dar movimento a imagens fixas. Estava inventado o cinematógrafo, cuja noite de estreia se deu em 28 de dezembro de 1895, em Paris. A engenhoca que deixou atônitos os 33 convidados da estreia não demorou muito para ser aperfeiçoada e atrair multidões de apaixonados pelo cinema, geração após geração. E é para ele que se voltam os holofotes na edição mais cinematográfica já realizada por nossa Roteiro: nada menos que 11 páginas. 6 águanaboca Brasília ganha dois novos restaurantes japoneses que têm em comum a criatividade gastronômica e a arquitetura moderna: Yüjin, na 408 Sul (foto), e Nazo, na 214 Norte. 13 14 15 16 17 18 22 24 26 28 29 30 31 picadinho garfadas&goles pão&vinho doisespressoseaconta queespetáculo dia&noite culturaindígena cartadaeuropa graves&agudos paisagismo&decoração galeriadearte verso&prosa luzcâmeraação ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SIA – Trecho 17, Rua 20, Lote 90 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira Endereço eletrônico: [email protected] | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa André Sartorelli, sobre foto de José Ribamar | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Colaboradores Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela, André Sartorelli, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria, Vicente Sá | Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira, Sérgio Amaral | Impressão Editora Gráfica Ipiranga Tiragem: 20.000 exemplares | Para anunciar Rachel Formiga (3234.2472 / 8144.9935 / 9959.9935) 5 www.roteirobrasilia.com.br facebook.com/roteirobrasilia @roteirobrasilia Fotos: Divulgação água na boca Ebi Tempura Yüjin Maki Japas fusion Por Beth Almeida A té fins da década de 80 do século passado, a gastronomia japonesa era pouco conhecida por aqui, ficando restrita a locais como o bairro paulistano da Liberdade, com forte presença dos descendentes dos imigrantes japoneses que começaram a chegar ao Brasil em 6 1908. Isso mudou no embalo da chamada geração saúde, quando a culinária nipônica passou a ser sinônimo de alimentação equilibrada, e apreciar alimentos como os peixes crus dos sushis e sashimis tornou-se um hábito “chique”. O resultado disso é o que encontramos hoje: só em Brasília, são mais de 60 endereços servindo esse tipo de refeição. Não é para menos. A culinária japonesa conquistou os paladares brasileiros, não importa se o comensal tenha 8 ou 80 anos. Para esse enorme e diversificado público, Brasília passou a oferecer recentemente mais duas opções: na Asa Sul, o Yüjin, inaugurado em 24 de julho; na Asa Norte, o Nazo, que abriu as portas em 10 de agosto. No Yüjin, que significa amigo, a proposta do gerente-geral Alexandre Velasquez é somar ao bom cardápio o primor no atendimento. “As duas coisas devem estar associadas. Não adianta a casa ter bom atendimento se não tiver boa cozinha, e vice-versa”, ensina, com a experiência de quem já assessorou outras casas brasilienses, como Baco e Soho. O cardápio, com mais de 200 opções, foi elaborado pelo sushiman Takeo Nakayama, que tem 26 anos de dedicação à culinária oriental e também já prestou consultoria a outros restaurantes da cidade, como o Aloha Sushi Bar e Temakeria. São delícias como um shimeji na manteiga, que chega à mesa coberto com queijo gratinado. Assimilando um pouco da cozinha peruana (que, por sua vez, também tem influências da cozinha oriental), a casa serve ceviches de peixe branco e de salmão. Da cozinha italiana vem o carpaccio, que tradicionalmente é preparado com carne bovina crua ou, mais recentemente, com salmão defumado, mas que, sob a influência da cozinha japonesa, é servido com o pei- Fotos: Sérgio Amaral Uramaki Dragon e drinque Hot Pepper xe fresco. O serviço pode ser à la carte ou no sistema de festival, mas com os pratos servidos à mesa, em substituição aos bufês montados. E se a proposta é reunir amigos, a casa não poderia deixar de pensar naquele membro do grupo que, raríssima exceção, não gosta de nada da cozinha japonesa. Ele poderá escolher um dos quatro pratos da cozinha internacional que compõem o cardápio. O ambiente moderno projetado pela arquiteta Luciana Monteiro, com muitas linhas geométricas e cores predominantemente claras, também contribui para bons momentos ao longo da refeição. No primeiro andar, as mesas são acomodadas Tuna Tataki em taças formadas a partir do térreo, com espaço vazado entre elas, o que garante excelente acústica e privacidade para o bate-papo entre amigos. No Nazo – que quer dizer enigma, ou mistério, em japonês – o clima é ditado também pela decoração, jovial como seus proprietários, os amigos de infância Rafael Lago, Nícolas Fujimoto e os irmãos Renato e Tiago Almeida, todos na faixa dos 25 anos. O projeto de Mônica Pinto contempla paredes cobertas por grafites. Para um drinque antes da refeição, um simpático jardim ou o balcão de onde se pode observar o trabalho do bartender. A casa também optou por servir o festival, com 49 itens disponíveis, diretamente à mesa, mas com um sistema diferenciado de preços para os pratos especiais. “As pessoas às vezes querem consumir o festival, mas também querem um prato que não está incluído; nesse caso, podem pedir o prato especial no festival com um desconto de até 70%”, explica Rafael Lago. Entre esses mimos que podem acrescentar sabor à refeição são muitas as oções, como ceviche, tartar e carpaccio, para citar só algumas referências do caráter fusion do cardápio. Também peixes levemente assados com maçarico ou semi-grelhados, como o Tuna Tataki, com alho frito e cebolinha. O cardápio à la carte, com quase 100 opções, prima pela inovação, com surpresas como chips de mandioquinha com foie gras ao molho tarê, entre os tira-gostos, o delicioso Uramaki Dragon, com camarão empanado, maionese oriental, pepino e ovas de massagô, ou o Niguiri Umeboshi, com atum e ameixa japonesa, que é salgada e em conseva. Entre as bebidas, caipirinhas à base de sakê ou de vodka, com pelo menos 15 opções, mojitos e margaritas. Também 44 rótulos de vinhos e cervejas especiais, como a Czecvar, de origem tcheca, uma das lager mais premiadas do mundo, e a Vallentins, à base de trigo. Yüjin 408 Sul (3322.7453) De 2ª a 6ª, das 12 às 15h e das 19h à 1h. Sábados e domingos, das 12 às 16h e das 19 à 1h. Nazo 214 Norte (3033.7840) Diariamente das 12 às 15h e das 19 às 24h. 7 água na boca Coqueluche paulistana Por Mariza de Macedo-Soares Fotos Mauro Holanda I 8 r a São Paulo e não dar um pulo até o centro da cidade, deixar de visitar um de seus cartões postais, o Edifício Copan (Avenida Ipiranga, 200), pode ser considerado um pecado leve. Não conhecer o Bar da Dona Onça, que pontifica desde maio de 2008 no térreo dessa obra que Oscar Niemeyer projetou na década de 50, é pecado que beira o grave. O Dona Onça é lugar que não discrimina comensal, acolhe famosos e anônimos e recebeu todos os prêmios destinados a bares e restaurantes – o mais recente, melhor cozinha de bar. Tem cardápio que resgata pratos boêmios da capital paulistana e da cozinha do interior do Estado (stinco de leitoa, panelinha de codeguim e ensopado de moela de galinha, apenas para citar três); bar com espelho que reflete destilados e fermentados de fina procedência; carta invejável de cervejas de baixa e alta fermentações servidas em copos adequados e temperatura perfeita; cachaças para todos os gostos; adega com 260 rótulos; champanhe (é o “Bar Embaixador da Piper Heidsieck”); espumantes; logo criada por Paulo Caruso; uniforme dos garçons desenhado pelo estilista Walério Araújo; e a jovem, criativa, brava-porém-simpática chef Janaina Rueda (a dona onça) pilotando o fogão. Tudo começou no início de 2008, quando o empresário Julio Cesar de Toledo Piza, um boêmio histórico de São Paulo, conheceu Janaina Rueda (com ele na foto ao lado), que tinha planos de abrir um bar/restaurante e só aguardava uma oportunidade. Julinho, como é conhecido, saudoso dos bares/ restaurantes que o centro “antigamente” abrigava, topou na hora. Numa conjunção favorável de fatores, daquelas que vez por outra acontecem, juntaram-se então a chef, o empresário e um espaço vazio no térreo do Copan, de pé-direito alto, perfeito para uma pequena cozinha no mezanino e mesas para abrigar, sem amontoar, 50 comensais. Deu certo de tal forma que dois anos depois, em 2010, incorporou-se à primeira loja outra, vizinha, e o Dona Onça ganhou mais 34 lugares, expansão que lo- Picadinho com tartar de banana e ovo caipira frito. go pediu mais uma, dessa vez do lado de fora, debaixo de umbrelones, para atender a 25 pessoas sentadas – porque em pé, na beira da calçada e no meio da rua que corta o Copan, são atendidas comme il faut dezenas de outras que esperam, com grande paciência, “vagar mesa” na casa. Dona Onça, coqueluche paulistana, tem cardápio sazonal, como as semanas de moda, que muda duas vezes por ano e apresenta pratos para outono/inverno e primavera/verão. Os pratos do dia, vez por outra, sofrem alterações que Janaina chama de “brincadeiras”. Conta, divertida, que certa vez um assíduo comensal pediu o PF da Dona Onça (carne moída refogada com azeitonas, ovo cozido de gema mole ou não, arroz soltinho, feijão e couve, como a carne, refogada). Pedido feito e prato servido, o senhor misturou toda a comida, acrescentou gotas da pimenta da casa, salpicou farinha de mandioca por cima, pediu uma dose de cachaça e começou a comer de “boca boa”. Curiosa, a chef foi para a cozinha e numa panela repetiu o ritual de mistura que havia presen- Capeletti in brodo de carne com trufas negras. ciado no salão de refeições. Misturou ao feijão um pouco de arroz, carne moída refogada, farinha, três pimentas (uma de cheiro e outras duas de graus de ardência diferentes, porém leves) e couve picada. Arrumou num prato com ovo frito no óleo, de gema mole, e enfeitou com mais um pouco da couve refogada. Pediu uma cachacinha, comeu com vagar, intercalando golinhos com garfadas, e pronto: o “arroz mexidinho acompanhado de cachacinha” foi parar no cardápio. São muitos os carros-chefes da casa. No inverno, o capeletti in brodo de carne com trufas negras e ervas frescas e o steak à Diana com arroz puxado em molho, releitura do tradicional, dividem o estrelato com as sopas de macarrão com feijão e de cebola com músculo. A grande estrela da casa, que não depende de estação, é o picadinho, que chega à mesa com tartar de banana e ovo caipira frito. No item sobremesas, as estrelas ficam com os mini churros com doce de leite e com a espuma de coco servida com baba de moça. A companhia perfeita para o drinque Trio de mini sanduíches de sardinha no pão francês. de fim do dia de quem sai do trabalho e passa no Dona Onça para um intervalo, enquanto melhora o trânsito, são os mini sanduíches de sardinha no pão francês, servidos de três em três, que, de tão bons, fizeram por merecer seu canto de destaque dentro do cardápio da casa. Como bar de respeito que é, o Dona Onça prefere não trabalhar com reservas de mesas e abre suas portas diariamente às 11h. Fecha a cozinha às 23h nas segundas, terças e quartas feiras e às 24h nas quintas, sextas e sábados, sem expulsar ninguém. Aos domingos, porque ninguém é de ferro, abre apenas para almoço e, como todos os dias, quem chegar primeiro consegue se sentar às mesas, dentro e fora do restaurante, ou, se serve de consolo, pegar um lugar legal na calçada da rua que corta o Edifício Copan, o cartão postal paulistano da Avenida Ipiranga, 200. Bar da Dona Onça Avenida Ipiranga, 200 – Edifício Copan, lojas 27 e 29 – Centro – São Paulo (11-3257.2016) 2ª a 4ª feira, das 11 às 23h; 5ª a sábado, das 11 às 24h; domingo, das 11 às 17h. 9 Sérgio Amaral água na boca Parrilla à sombra da figueira Por Beth Almeida A Vila Planalto conta com tantos restaurantes que já ficou até conhecida como “a praça de alimentação da Esplanada dos Ministérios”. Os que lá trabalham são a maioria dos que buscam no bairro saborosas, relaxantes e variadas alternativas de almoço. Mas essa diversidade ficava restrita a esse horário, porque, com exceção do tradicional Traíra Sem Espinha, todas as casas fechavam à noite. Desde 13 de julho, o bairro passou a contar também com um agradável local para a happy hour ou o jantar. O Figueira da Villa, que obviamente também funciona no almoço, destaca-se pelo cardápio, 10 tendo como carro-chefe a parrilla preparada pelo uruguaio Miguel Ângelo. São oito tipos de cortes bovinos e ovinos, desde os tradicionais assado de tira, prime rib e picanha até raridades como as mollejas, ou timo, uma glândula do cordeiro apreciada pela maciez. Entre as aves, tulipas de frango marinadas no gengibre, que ficam uma delícia acompanhadas do molho chimichurri. Para equilibrar tanta proteína, dez opções de saladas e também o que a casa nomeou de parrilla vegetariana: tomates, cebolas, pimentões e abobrinhas assadas na lenha. O cardápio conta ainda com nove acompanhamentos para as carnes, como o arroz parrillero, com ovos, salsa, cebola, batata-palha e bacon, muito parecido com um arroz biro-biro. Para a entrada, ou para aquele drinque de fim de tarde, há também dez opções, como as empanadas de carne e queijo que o chef chileno Simon prepara com a massa ligeiramente folhada. Para arrematar a refeição, seis tipos de sobremesas. O Figueira é fruto do talento do baiano Valdir Neves, que há quatro anos mora no bairro e, ao deixar o setor público, decidiu seguir sua vocação, que vem de família. “Fui criado dentro de um restaurante”, conta, referindo-se ao que o pai manteve por muitos anos em Guanambi, sua cidade natal. Associado a isso, o dom nato de bem receber faz do local quase uma extensão da casa desse baiano gentil e bom de papo. Na decoração, Neves contou com a ajuda de Marcelo Galo para concretizar seus planos. A enorme figueira, cujas raízes estão fincadas dentro do salão principal do restaurante, ganhou iluminação especial na copa e, no tronco que fica dentro do restaurante, a companhia de bromélias e orquídeas, formando um simpático jardim de inverno. O mix entre o rústico e o moderno contribui para o clima aconchegante da casa, que também tem mesas na parte externa cobertas com enormes guarda-sóis. Para animar a happy hour, uma grande variedade de bebidas – cervejas especiais como a paulistana Baden Baden e a fluminense Therezópolis e 128 rótulos de vinhos de diversas nacionalidades. Tudo ao som de um saxofone tocando baladas de jazz e bossa nova, em volume adequado, permitindo uma agradável conversa. Uma ótima forma de começar a noite, menos no domingo, quando a casa funciona só no almoço. Figueira da Villa – La Parrilla O legítimo crepe bretão Gui Teixeira Acampamento DFL – Rua 1 – n° 2 Vila Planalto (3081.0541) De 2ª a sábado, das 12 à 1h; domingo, das 12 às 16h. Por Lúcia Leão fotos rodrigo oliveira A h, o amor! Que move montanhas, todos já sabíamos. Mas transformar, em três anos, um jovem engenheiro de som em respeitado mestre crepeiro, e transplantar para Brasília algumas boas raízes da cultura gastronômica francesa, pode-se considerar façanha inédita de Cupido! Pois foi por amor que Clement Wetzel descobriu-se um talentoso chef e presenteou a cidade com a creperia e bar In The Garden, um cantinho charmoso, com ambiente e paladares de uma simplicidade surpreendentes, na 413 Norte. O carro-chefe da casa são os crepes de trigo sarraceno, ou galettes, como se denominam na Bretanha francesa, sua região de origem. Foi lá, mais precisamente na cidade de Brest, que Clement aprendeu as técnicas e segredos no preparo da iguaria, quando resolveu fincar âncoras em Brasília e adotar um estilo de vida mais compatível com a estabilidade que almejava no casamento com a brasiliense Naraina, a grande paixão que o fez cruzar o oceano e abandonar as turnês musicais. “Como engenheiro de som, minha vida era viajar e viajar. Não podia estar casado assim. Então, fui pensando no que fazer e juntando dinheiro para montar um negócio. Resolvi pela creperia porque era 11 água na boca 12 uma iguaria com que sempre me identifiquei, desde a infância”, conta o pragmático e apaixonado Clement. O gosto de infância foi despertado pela avó Suzette, que preparava infindáveis rodadas de crepes nas ocasiões festivas de família e ensinou os fundamentos de seu preparo. Desde então, a rodela de massa crocante acompanha suas melhores lembranças, de festas de rua, reuniões com amigos e até de seu herói das histórias em quadrinhos, Gaston Lagaffe, que nunca consegue acertar a frigideira na hora de virá-la. Mas a técnica que hoje faz o sucesso do In The Garden o jovem chef foi aprender com quem ele considera o “mestre dos mestres crepeiros”, Jean Sebastian Hay, da creperia-escola Diwali, de Brest, cidade litorânea do extremo oeste francês. Na Diwali, Clement aprendeu que “há tantas receitas de crepe quanto há igrejas na França”. Mas os salgados, ou galettes, devem usar o trigo sarraceno e os doces o trigo branco. A receita do In The Garden é das mais simples, de mistura da farinha em água e um pouquinho de mel. O segredo, segredo mesmo, está na hora de fritar: numa chapa superaquecida a 220 graus, onde a massa deve ser jogada e manipulada rapidamente com a espátula para ser distribuída por igual sem passar do ponto. É questão de segundos. “Esse procedimento, que requer muito treino e habilidade, é responsável pela crocância que diferencia o nosso crepe”, revela Clement. Dessa chapa – francesa, produzida na Bretanha – a esfera de massa já crocante vai para outra, do tipo tradicional, mais fria, onde receberá os recheios. E aí, mais uma particularidade – e mais um trunfo – do In The Garden: recebe produtos de alta qualidade, quase sempre in natura (como os queijos brie, roblochon, raclette e de cabra, presuntos e salmão defumados) ou minimamente processados (como espinafre refogado e shitaki na manteiga) e ganha apresentações plásticas, bem coloridas e divertidas, especialmente nos “galettes completos”, finalizados com um ovo estalado, com a gema crua e bem amarela ao centro. “A simplicidade dos recheios é também uma marca do crepe bretão e mais uma coisa que eu aprendi com o mestre Jean Sebastien: deve-se respeitar a qualidade inalterável dos produtos, explorar seus sabores próprios, suas cores e suas características estéticas”, define o jovem empreendedor e mestre crepeiro. Clement Wetzel e seu crepe de trigo sarraceno: receita simples como a mistura de vinho com cerveja (abaixo) Um pouco mais elaborados, os crepes doces envolvem frutas, chocolate, calda de limão (uma versão da avó Suzette para o tradicional crepe suzette flambado em licor de laranja) e caramelo, em misturas irresistíveis. O cardápio do In The Garden se completa com dois outros itens simples da culinária cotidiana francesa: as saladas cruas e as omeletes. Assim como a carta de bebidas, onde, entre vinhos e uma boa variedade de cervejas, destacam-se a mistura das duas bebidas – vinho com cerveja, um drink bem ao gosto francês – e uma cidra artesanal, importada da Bretanha e recomendada por Clement: “É o acompanhamento por excelência para os crepes e galettes”. De fato, uma combinação dos deuses! Pra terminar, coloque tudo isso num ambiente simples e aconchegante, com pre- ços até bem palatáveis (entre R$ 13 e R$ 25 o prato), atendimento simpático e eficiente e está explicado como, em pouco tempo, o In The Garden conquistou brasileiros e franceses, de passagem ou residentes em Brasília, apenas apreciadores ou profissionais reconhecidos como o chef pâtissier Daniel Briand, uma referência em culinária francesa na cidade. Ele não esconde sua admiração pelo novo concorrente: “É um lugar muito simpático e a comida de ótima qualidade. Quase tão bom quanto o meu”, brinca. É difícil, assim, fugir do jargão: “Vive la France, vive l’amour!”. In The Garden 413 Norte – Bloco E – Loja 57 (3033.3093). De 3ª feira a domingo, das 17 às 24h. PICADINHO Malhação com feijoada raça Angus. E eles aproveitaram bem essa experiência”, comemora Jandir Dalberto, presidente da Fogo de Chão Brasil. e carne bovina. Mas o carro-chefe da casa é a sequência de camarão, composta de 12 pratos, servida no almoço e no jantar ao preço de R$ 39,90. Nos próximos meses, a rede Sumô também abrirá, na praça de alimentação do Liberty Mall, a delicatessen Babete, que servirá tortas, doces, salgados e, na happy hour, petiscos originais e cervejas. Cachaça DOC Depois de Paraty, no Rio de Janeiro, a região de Salinas, em Minas Gerais, é a primeira a obter para suas cachaças o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Com a conquista do selo, o produto de Salinas ganha valor e competitividade. O novo status contribuirá, com certeza, para lhe abrir as portas dos mercados americano e europeu. Pastas e carnes Casa Cor O Versão Tupiniquim, da chef Fabiana Pinheiro, será o restaurante oficial da edição 2012 da Casa Cor Brasília (de 29 de setembro a 6 de novembro na QI 19 do Lago Sul, chácaras 2 a 7). Vai dividir a praça de alimentação do evento com a Cristallo, que desde 1953 recheia a vida dos paulistanos com panines, vol-au-vents, tortas, sonhos e outras guloseimas, com a Joaquina Gourmet, que esteve também na edição do ano passado, e com a Respeitável Burger, de Dudu Camargo. 4Doze convida Todas as segundas e terças-feiras, a partir das 19h, um chef ou um gourmet tem a oportunidade de demonstrar seu talento culinário. É o projeto 4Doze Convida, promovido pelo charmoso bistrô da 412 Sul. Os próximos a se apresentar serão a gourmet Ozitha Teatini, dias 18 e 19, que vai preparar o camarão prestígio com arroz havaiano, e a chef Ana Victoria Neddermeyer, dias 25 e 26, com o carré de cordeiro ao molho de uísque com ratatouille aromático e mil folhas de mandioca. E o vencedor é... Fast-food árabe A praça de alimentação do Pier 21 ganhou o reforço da franquia paulistana Espaço Árabe, cujo cardápio exibe mais de 40 opções de pratos. Entre as entradas, as tradicionais pastas de berinjela, coalhada seca e fresca e grão-de-bico, além do quibe cru. As saladas dividem espaço com as esfihas de massa tradicional e sabores variados. Diariamente são oferecidos oito pratos principais e, na sobremesa, uma grande variedade de doces, entre os quais se destacam os ninhos recheados. Comida mediterrânea No Liberty Mall, a novidade é a filial do restaurante Sumô Med, de culinária mediterrânea, cuja primeira unidade fica na 116 Sul. Embora especializado em frutos do mar, serve também pratos à base de aves Divino Fogão Fotos: Divulgação Uma comida calórica como essa dentro de uma academia, lugar de culto ao corpo, à boa forma? À primeira vista, parece uma incoerência, mas logo o frequentador da Unique Fitness, no Sudoeste, constata que a feijoada servida aos sábados no Bistrô do Solarium, localizado no terraço da academia, é bem light, preparada exclusivamente com carnes e outros ingredientes “magros” – ou com pouquíssima gordura. Pagando R$ 33, o cliente pode se servir quantas vezes quiser. Mas é bom não exagerar. Mudanças importantes no serviço do Avenida Paulista (Centro de Lazer Beira Lago, ao lado da Ponte JK). “Continuaremos com o bufê de saladas e antepastos, mas passaremos a servir os pratos principais diretamente nas mesas dos clientes. Vamos sugerir combinações de carnes e pastas que agucem o sabor de cada ingrediente selecionado”, informa o proprietário, Roberto Magnani. “Constatamos que nossos frequentadores gostariam de ser servidos não somente com o bufê, e por isso resolvemos mudar a maneira de servir, além de apostar em novos sabores”. Como garantir que uma grande rede de restaurantes, com 120 unidades em todo o país, tenha todos os dias comida fresca e quente o tempo todo, sem perder o sabor e o tempero caseiro? Este foi o desafio do Divino Fogão, especializado em comida típica da fazenda. Para garantir esse frescor, a rede contratou o chef José Olivan Pego, com passagens pela Nestlé e Unilever e participações em festivais internacionais como Waldorf Astória e Bocuse D’Or, e que cozinhou para a comitiva do Papa Bento XVI quando esteve no Brasil. Apaixonado pela gastronomia brasileira, Olivan aceitou o desafio na hora: “A cozinha brasileira, mesmo com influências de todo o mundo, consegue ter uma cara própria, graças à diversidade de ingredientes”. O melhor PF Com 28% dos votos, o prime rib, um filé retirado das primeiras cinco vértebras do boi, foi eleito o melhor corte de carne do 1º Festival de Carnes Angus de Brasília, promovido pela churrascaria Fogo de Chão, do Setor Hoteleiro Sul. Em segundo ficou a picanha, com 13%, e em terceiro o bife ancho, com 11%. “A proposta do festival foi proporcionar aos brasilienses a oportunidade de experimentar novos e exclusivos cortes da Com a Galinhada Santa Ana, o bistrô paulista de mesmo nome foi o vencedor do concurso realizado pela Ticket para eleger o melhor PF do país, superando centenas de concorrentes. A receita vencedora, da chef Elaine Sá, é composta por coxas de frango, quiabo, arroz, cebola, manteiga, caldo de galinha, azeite, alecrim, pimentão vermeho, tomate, salsinha, quiabo, espiga de milho cozido, sal e pimenta do reino a gosto. O Ponto X, do Maranhão, ficou em segundo lugar, com peixe crocante, e o Santa Receita, também de São Paulo, em terceiro, com nhoque de quiabo com confit de coxa e sobrecoxa de frango. 13 GARFADAS & GOLES Luiz Recena GRASSI [email protected] As Aldas e as sogras As Aldas são as Aldas, podem ser algas ou ondas. Coisas que vão e voltam. É o mar. Meu mais novo vizinho da esquerda. Barulhento esse vizinho. Barulhento e metódico. Parece que usa métrica parnasiana mesmo morando no bairro de Vinícius de Moraes. Aquele que dizia que a beleza é fundamental. Não era só isso. Fundamental, às vezes, podem ser os sabores das comidas e das sogras. As sogras têm linha direta com a gastronomia, antes do telefone celular. Assim, minha avó Julieta ensinou Conceição, nora dela, a fazer 500 ravioles recheados de acelga com miolos de boi. Eram festins com datas marcadas: Semana Santa, fim de ano, alguns feriados e aniversários. Tempos depois, meu viúvo avô, depois do terceiro ou quarto prato, só para implicar, exclamava: “Tá bom, muito bom, mas... o da finada era ainda melhor!”. Coisas de um tempo passado, cuja memória só as visitas e a saudade conseguem avivar. Tia Quita Nogueira Cademartori entra nesta crônica pela mão de minha irmã Marina, de quem era sogra e a quem ensinou manhas e artimanhas do fazer culinário, com direito a dicas gaúchas para melhorar a feijoada carioca. Marina tudo aprendeu e, com a bagagem recebida de mãe e avós, a cada desembarque em Salvador da Bahia faz a terra tremer e os pratos se encherem. São pequenos banquetes de estilo romano antigo, aqueles de três, quatro dias. Desta feita, foram quase dez, com quitutes que foram dos patês de entradinhas até carnes, peixes e camarões. Volta, mana! A mãe Conceição, que cozinhava uma barbaridade, passou várias receitas para a Maria Ester, cunhada deste escriba e que, hoje, desempenha, entre outros papéis familiares, o de "Bibiana Cambará", personagem de Érico Veríssimo, uma espécie de fiel guardiã de um baú de memórias do tempo velho. Ester entra na história pela mão de Márcia, nora dela, que chegou com Pedro Augusto, o marido, e Maria Eduarda, a filha, sendo que esta última vem a ser minha sobrinha-neta. Aos dez anos, e sem ser nora de ninguém, receitas não aportou no Cais de Itapuã. Márcia recebeu da sogra o segredo do bife à milanesa. E a noite da primeira segunda-feira de setembro já entrou para o rol da fama e dos acontecidos à mesa da casinha nova na beira do mar plantada. 14 Então, Alda. Não foi nora nem é sogra, nem da família gaúcha. É da família misturada que fizemos em Brasília, com cariocas, piauienses, maranhenses, sulistas e nortistas e outras raças mais, num amálgama de culturas de onde muita coisa boa ainda está por sair. Comidas, principalmente. A cada mudança, nossa Alda larga Brasília e deixa órfãos seus inúmeros clientes de almoços e jantares e vem dar a mão ao desvalido casal. Mão e boia. Só para começar, veio uma feijoada carioca, leve, saborosíssima. Foi nesse instante que segredinhos, dicas e receitas foram trocadas. E as noras e sogras, muito justamente homenageadas. O cronista, bem deliciado e com algumas arrobas a mais, a todas agradece e pede mais, sempre que for possível e os aviões trouxerem as pessoas queridas, da Brasília próxima ou da distante e gaúcha Uruguaiana. E para não dizer Que não escrevi sobre novas garfadas e goles, dois passeios regulamentares foram realizados: um ao belo Projeto Tamar, na Praia do Forte, cada vez melhor e mais sólido, como a provar que o país melhora apesar dos sucessivos governos que pensem e façam o contrário. Ali, a poucos metros da entrada do santuário das tartarugas, está a melhor cerveja do pedaço, na pousada, bar e restô Brasil, com o atendimento do simpático José. Prefeitinho firme Em seguida, passeio, banho e almoço na Praia de Guarajuba, onde reina, faz mais de 30 anos, o Prefeitinho, cada vez mais forte e rico. A barraca antiga conheci pela mão de meu amigo e colega Fernando Vita, hoje escritor famoso e conselheiro poderoso de um tribunal baiano. O local mantém a tradição do bom peixe vermelho, frito, e do ensopado, desta feita com peixe olho de boi, apresentado com louvores aos uruguaianenses. Caipirosca de umbucajá, cerveja sempre gelada (véu de noiva, canela de pedreiro etc) e sucos de frutas completaram o bom almoço, sempre sob os olhares atenciosos do garçom José Maria. PÃO & VINHO ALEXANDRE FRANCO pao&[email protected] Grand Cru Não há quem conviva com o mundo do vinho que já não tenha ouvido o termo "cru", especialmente no que se refere a vinhos franceses, pois por aquelas bandas o termo identifica um vinhedo específico, ou uma zona delimitada, algo semelhante ao conceito de terroir, na busca pela identificação de um local geográfico no qual se produz um vinho de características peculiares, únicas e originais. Produzido na França desde antes de Cristo – e em Bordeaux, especificamente, a partir do ano 70 d.C., o vinho sempre foi um produto de sucesso no mercado francês, mas só veio a ganhar fôlego de exportação a partir do Século XII, com o casamento de Henry Plantagenet com Aliénor d'Aquitaine, que incentivaram fortemente o aumento da produção e as vendas dos vinhos da região para mercados externos. Entre os séculos XIII e XIV, um código de práticas comerciais chamado “política de vinhos” foi estabelecido para conferir ao produto da região vantagens comerciais perante regiões circunvizinhas. Os negócios frutificaram tanto que deram margem ao surgimento de falsificações de vinhos produzidos em outras regiões, e mesmo em Bordeaux, mas com qualidade inferior, o que passou a prejudicar o comércio exterior, especialmente com a Inglaterra. Para melhor orientar os consumidores e lhes garantir a qualidade do que iriam comprar e consumir, em 1855 a região vitivinícola de Bordeaux, dividida em sub-regiões (sendo as principais Saint Émilion, Pomerol, Médoc e Graves), adotou um sistema de qualificação conhecido como Classificação Oficial do Vinho Bordalês, que separou os vinhos em cinco categorias, levando em consideração o preço, o que à época equivalia à qualidade. Esses vinhedos passaram a ser chamados de Grand Cru e identificam, em tese, vinhos de alta qualidade e preços. Com origem na Argentina e estabelecida no Brasil já há mais de dez anos, uma importadora especializada originalmente nos melhores vinhos franceses teve a felicidade de adotar a marca Grand Cru e se transformou, nos últimos anos, numa das mais importantes de nosso mercado, estando presente também em Brasília, na QI 9 do Lago Sul. Seguindo a tendência que vimos comentando, a Grand Cru passou a realizar sua feira anual de vinhos, que teve lugar, nesta edição de 2012, na Casa da Fazenda, em São Paulo, local agradabilíssimo para esse fim. Lá estivemos para trazer-lhes nossas impressões. Além de suas tradicionais e afamadas importações da França e da Argentina, a Grand Cru veio se diversificando nos últimos anos e trazendo ótimos vinhos das mais diversas procedências. Nomes já muito conhecidos entre nós, como Cobos e Doña Paula, da Argentina, Leyda, Matetic e Santa Rita, do Chile, entre outros, estiveram presentes, como sempre, mas para comentar nesta edição escolhi um espumante, um branco e um tinto que são novidades na Grand Cru, ao menos para mim. Da Itália, o Ruggeri Prosecco di Valdobbiadene DOCG Quartese Brut, por R$ 78: de cor amarelo-palha, com perlage suave e aromas ainda um pouco fechados de maçã verde e amêndoas, boca agradável, séria e gastronômica, boa cremosidade e retrogosto de panificação. Muito bom. Da França, o branco de sonho Henri Bourgeois Pouilly Fumé en Travertin 2009, por R$ 110: de cor amarelo-palha, com claros aromas de maracujá e ótima mineralidade, acidez gastronômica e final longo, boca ao mesmo tempo fresca e estruturada. Muito elegante. De Portugal, o Perescuma nº 1 Tinto Reserva, por R$ 125: um vinho que poderíamos chamar de “super-alentejano”, com um lindo corte de Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Alicante Bouchet, Aragonês e Syrah. De cor rubi intenso, com frutas vermelhas maduras, notas de baunilha e leve tostado. Na boca é aveludado e bem estruturado, com taninos elegantes e bem domados. Excelente. 15 DOIS ESPRESSOS E A CONTA cláudio ferreira [email protected] Comer nas férias Não sou adepto do frango-com-farofa-no-papel-alumínio ou da laranja-cortada-com-a-tampinha-levantada como alimentação durante uma viagem de carro. Pior pra mim. Dependendo de onde se vá – e da quilometragem percorrida – o estômago sofre. O almoço na estrada faz parte da aventura de férias sobre quatro rodas. E, como toda aventura, revela surpresas boas e ruins. No circuito Brasília-Nordeste, é difícil encontrar paradas que nos tranquilizem para pelo menos um lanche. Tá certo, é preciso deixar um pouco a frescura de lado. Mas o aspecto das lanchonetes, lojas de conveniência de postos e restaurantes de povoados não é nada animador. Há muitas churrascarias no caminho – todas, indefectivelmente, com o gentílico "gaúcho" no nome – mas, convenhamos, comer churrasco e depois rodar mais 300 quilômetros de carro não me soa uma boa ideia. Do mesmo modo, experimentar carne de bode na estrada pode não ser recomendável. É bom lembrar que os banheiros também não têm essa qualidade toda. Fiquei com saudades das paradas do Sudeste, como as redes Graal e Frango Assado. Da rede Flecha, famosa no Nordeste nos idos das décadas de 80 e 90, só encontrei um exemplar, em Pernambuco. O resto são estabelecimentos locais e nos sugerem duas alternativas: ou arriscar a comida à beira da BR ou entrar nas cidades mais próximas para procurar opção mais razoável (o que não é garantido). Mas há surpresas boas. Em Posse, a última cidade de Goiás antes da divisa com a Bahia, um self-service chamado Tiodete me surpreendeu – comidinha honesta, picolé de sobremesa e ambiente familiar. Surpresa mesmo tive mais à frente, logo depois de transpor a divisa. Na cidade de Rosário, um mega posto de combustíveis, com direito a self-service de qualidade com carne na brasa e uma raridade por essas bandas: café espresso. 16 Para os gourmets, vale uma parada na Chapada Diamantina. Lençóis, na Bahia, reserva achados como o café da manhã da estalagem do Alcino, digno do filme A festa de Babette. Em um dia e meio de aventuras pelos restaurantes do local, passei do nhoque do italiano Os Artistas da Massa à carne de sol desfiada do Cozinha Aberta, duas felizes opções em meio aos paralelepípedos da cidade histórica. Há muito mais o que descobrir por lá: o esquema dos viajantes, em geral, é se esfalfar em caminhadas e passeios radicais pelas cachoeiras da Chapada durante o dia, para ter a recompensa gastronômica, à noite, num dos restaurantes do centro histórico. Os turistas estrangeiros, por exemplo, adoram a diversidade de pratos. Para os que, como eu, não viajam à noite e param nos hotéis das cidades maiores, é sempre bom ter cuidado com o café da manhã. Aparentemente inofensivos, fartos de bolos, doces e pães, podem esconder armadilhas. Uma dessas me pegou em Feira de Santana – desconfio que um inocente chocolate quente de uma simpática garrafa térmica quase estragou minhas férias, deixando-me com endereço constante (o banheiro) durante os três dias subsequentes. Nas capitais nordestinas, é claro, o serviço é bem diferente, as opções são mais variadas e, portanto, os riscos são menores. Mas é preciso parcimônia na hora de provar iguarias regionais. A barraquinha de rua pode ser tentadora, mas comidas como o sarapatel, por exemplo, merecem cuidado especial. Nas praias, a oferta é imensa – mas fico sempre pensando que o vendedor chegou cedinho, nem sempre acondicionou os alimentos a contento e, portanto, a comida está no sol há horas. Por isso, talvez seja mais prudente apelar para os industrializados: refrigerante, picolé etc. Natural? Água de coco parece a menos perigosa. que espetáculo Falando de amor na rua Fotos: Mila Petrillo Peça de Tennessee Williams é adaptada para espaços públicos de Brasília Por Alexandre Marino A tores, personagens e espectadores ocuparão os mesmos espaços e dividirão suas inquietações durante evento incomum, previsto para acontecer várias vezes na cidade até o final do mês. A professora, pesquisadora e diretora de teatro Simone Reis levará para as ruas e lugares públicos a peça Fale com ela doce como quê?, adaptação de texto do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams. Simone dirigirá dois grupos, o Teatro Pândego e o Laboratório de Performance e Teatro do Vazio (LPTV), nessa experiência que propõe o contato direto e aberto com o espectador. Serão, ao todo, dez apresentações do espetáculo, em diversos locais, culminando com três performances em frente ao Museu Histórico de Brasília, na Praça dos Três Poderes, nos dias 16 (domingo), 22 e 29 (sábados). A proposta é retirar do isolamento do palco e levar para o meio das pessoas as paixões pessoais dos personagens, incluindo o espectador no contexto da peça e fazendo do público co-autor da performance. O texto original de Tennessee Williams, Fale comigo doce como a chuva, tem como cenário um quarto de pensão, onde um casal dialoga e troca impressões sobre suas experiências e angústias. A partir dessa ideia, Simone Reis desenvolveu o roteiro de trabalho do grupo, que prevê a interferência direta do espectador, em espaços abertos. “Levamos o quarto para o meio da rua”, diz Simone. Ela acredita que seu trabalho segue a tendência do teatro contemporâneo, a de abrir intimidades e “jogar a luz cruel do sol sobre o pântano”, como definiu o escritor Nelson Rodrigues. “Colocamos para o público a discussão de questões pessoais, inclusive dos próprios atores”, explica Simone. “A paixão, o rompimento, o próprio sentido do amor são temas desse diálogo entre personagens, atores e público. É tudo muito energético e corporal. O resultado é a participação intensa do público”, afirma a diretora. E para estimular ainda mais essa participação, o videomaker Márcio Mota filmará toda a performance. Nas três últimas apresentações, Fale com ela doce como quê? Tentará povoar o vazio da Praça dos Três Poderes, entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, com essa discussão sobre questões pessoais. “Qual a importância de fazer teatro nesse espaço, entre monumentos gigantescos”, Simone pergunta. Ela mesma responde: “A arte estimula a reação das pessoas. É uma catarse. O cenário é político, mas a arte veio primeiro, é mais importante do que a política.” O trabalho de Simone Reis reúne os atores do Teatro Pândego, que ela criou em 1995, sob a perspectiva do teatro performativo, que aborda as artes cênicas de modo híbrido, intertextual e tragicômico, e os integrantes do LPTV, formado por alunos e professores do Departamento de Artes Cênicas da UnB com o objetivo de levar a arte para a população, fora da universidade. Ambos os grupos desenvolvem pesquisas sobre o teatro contemporâneo, a performance e sua relação com outras áreas do conhecimento. Simone Reis utiliza como material os códigos pessoais dos atores, a voz e o corpo em abordagem relacional, rompendo os limites entre espectador e ator e fazendo com que atores, personagens e o público interajam, promovendo o encontro. “Ao observar os performers transitarem por esses espaços de modo leve e rápido, o público cria conexões, encontra sentidos, movimentos, palavras e significados”, explica Simone. A apresentação em Brasília conta com a participação dos atores Deborah Soares, Felipe Fernandes, Mariana Neiva, Rogério Luiz, Carol Voigt e Pedro Mesquita, além do músico convidado Gabriel Preusse. A direção musical é de Iain Mott. Fale com ela doce como quê? 16/9, às 16h, 22/9, às 15h, e 29/9, às 16h, na Praça dos Três Poderes, com entrada franca. Informações: 3045-6434. 17 Divulgação dia & noite aosomdetimmaia “Tim Maia foi o ser mais livre que eu conheci", disse Nelson Motta para sintetizar o perfil de uma das figuras mais controversas, anárquicas e amadas que a música deste país já produziu. Foi Nelson quem escreveu o livro Vale tudo – o som e a fúria de Tim Maia, em 2008, inspirador do espetáculo Vale tudo, o musical, com direção de João Fonseca. Estrelado por Tiago Abravanel e visto por mais de 200 mil pessoas no Rio de Janeiro e em São Paulo, o musical voltará ao palco do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Tudo em Tim Maia é superlativo: o talento instintivo e avassalador, o temperamento explosivo, o tamanho, as confusões, os adjetivos... Morto em 1998, ele permanece intacto no imaginário e na memória do brasileiro, que transformou em história as lendas do mito bonachão. Dias 21 e 22, às 21h. Ingressos entre R$ 50 e R$ 120. fechandooinverno Divulgação rollapedra Está no ar até o dia 28 o festival que propõe às 22 bandas participantes surpreender os fãs executando algumas de suas principais músicas com arranjos e roupagem acústica, num ambiente intimista. Tudo isso em cenário e iluminação adequados, no aconchego da sala Cássia Eller da Funarte. Entre os grupos que se revezam no palco, sempre às quintas e sextas-feiras de setembro, às 20h, estão Os dinamites (foto), Faluja, Distintos Filhos e Etno. Ingressos a R$ 6 e R$ 3. Programação em www.rollapedra.com e ocupacaocassia2012.blogspot.com.br. Diego Bresani Divulgação A proposta é privilegiar a participação de músicos com formação no rock, mas que procuram expandir os limites do gênero com trabalhos mais intimistas e evidente preocupação autoral. Dias 21, 22 e 23, o Espaço Mosaico (714/715 Norte) apresenta o festival Fechando o inverno, com shows de bandas e artistas da cena independente de Brasília e São Paulo. Na programação, Beto Só (foto), Disco Alto, Heisel, The Johnny Nit Circus, Pierrot Lunar e a banda paulistana Lestics, que vem à capital pela primeira vez para lançar seu quinto disco. Ingressos a R$ 15. Classificação Indicativa: 12 anos. rockinstrumental A banda Passo Largo faz a prévia para o lançamento de seu primeiro disco com shows-surpresa em áreas públicas da cidade. Para comemorar o primeiro ano de vida e o disco de estreia, a banda apresenta dez músicas autorais e passeia por diversas influências além do rock, como a música brasileira, o jazz, o ska e o pop. Formada por Marcus Moraes, Vavá Afiouni e Thiago Cunha, a Passo Largo colocou o novo disco na internet. Para ouvir, é só baixar em http://www.mediafire.com/file/aaiednbuvilqad5/. 18 Divulgação raulzitoazul Acaba de ser lançado, pela editora Intermeios, O homem interdito, segundo livro do publicitário mineiro-brasiliense Marcelo Benini. São 37 histórias curtas que situam a narrativa em uma região de intersecção entre a crônica e o conto. Uma delas, intitulada Raulzito azul, sinaliza o olhar do cronista para a metrópole anônima, engarrafada de pedintes e moradores de rua, e "profetiza" uma revolução desses miseráveis que irão assaltar o poder em substituição aos engravatados de sempre: "O sinal abriu e percebi que Raulzito vinha descendo a rua recolhendo contribuições para a revolução. Rapidamente peguei todas as moedas que tinha e entreguei-as ao grande líder." Embora os textos sejam independentes, perpassa toda a obra a história de amor entre o narrador e sua vizinha pianista, história essa que é guiada pelo interesse de ambos pela literatura. Dois textos de O homem interdito farão parte de uma antologia alemã que será publicada em Frankfurt pela Editora Lettrétage, em 2013, por ocasião do Ano do Brasil na Alemanha. À venda no Sebinho e na Cotidiano Mix (406 Norte) e na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. 86 páginas, R$ 15. Divulgação asenguiasdeciriloquartim Três escadas vermelhas em forma de caracol com três metros de altura e mirantes com telescópios, onde o público pode contemplar a paisagem, o firmamento e as estrelas de forma diferente. O projeto Enguias, do artista brasiliense Cirilo Quartim, ocupa a Marquise da Funarte até 1º de outubro. A inspiração ele buscou no livro Prosa do observatório, do argentino Julio Cortázar, que conta a história de um sultão indiano que construiu em Delhi e Jaipur, na Índia, um intrincado conjunto de observatórios astronômicos e astrológicos, no Século XVIII. De forma poética, Cortázar relaciona esses observatórios com as estruturas macro e micro que o ser humano busca contemplar e compreender e as representa com duas imagens: as estrelas, acima, e as enguias, na profundidade. O artista funde diferentes linguagens: escultura, literatura e astronomia. De segunda a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca. Informações: 3322.2076. Divulgação Divulgação ícones Durante quatro anos, o artista plástico paulista Jair Correia colecionou signos impressos em embalagens, tais como "frágil", "este lado para cima", "perigo", "inflamável" etc. Esses pequenos sinais, gerados para traduzir significados, são vistos por pessoas de diversas culturas e de diferentes classes sociais, como também de diferentes graus de instrução e educação. Ele questionou, então: o sinal produzido é compreensível para todas as pessoas do mundo? A questão deu o mote para a composição da coleção de pinturas criada por Jair Correia para comemorar seus 40 anos de carreira. O resultado está na exposição Ícones – Outras palavras, na Funarte, até 1º de outubro. De segunda a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca. Informações: 3322.2076. Glênio LIma mestredasfiguras Uma antologia do artista plástico e professor da UnB Douglas Marques de Sá (1929/2010) está na exposição em cartaz na galeria do 10º andar do anexo IV da Câmara Federal. No acervo, parte inédita e importante da obra daquele que foi um mestre da figura e dos objetos do cotidiano. Em sua poética visual estão presentes os códigos da moderna estética brasileira, que na arte de Marques de Sá se traduziram em cores e formas muito pessoais. Durante a mostra, haverá a projeção do vídeo sobre a trajetória do artista com depoimentos de Wagner Barja (Museu Nacional), da arte-educadora Marília Panitz, da curadora Grace de Freitas e do historiador de arte Pedro Alvim, professores do Instituto de Artes da UnB. Até o dia 27, nos finais de semana e feriados, das 9h30 às 17h30. Entrada Franca. mestredascores As pinturas do mineiro Inimá de Paula (1918/1999) revelam paisagens por onde morou e andou, como os bairros cariocas, o litoral cearense e cenas da velha Europa. Os caminhos que sua arte percorreu, porém, sempre o trouxeram de volta às montanhas de Minas. Autodidata, Inimá de Paula iniciou-se nas artes folheando revistas de arte em preto e branco, desenhando e pintando. Uma retrospectiva do artista reconhecido pelos críticos como o mestre das cores está em cartaz no Gabinete de Arte da Presidência da Câmara dos Deputados até dia 27. Sábados, domingos e feriados, das 9 às 17 horas. Entrada franca. grandesbrasileiros Romero Britto pintou Frei Caneca, o "Ideólogo da República". Já Elifas Andreato ficou encarregado de retratar Getúlio Vargas, o "Modernizador". A Marysia Portinari coube a tarefa de homenagear, com seus pincéis, José Bonifácio, o "Patriarca da Independência". Aos mineiros-brasilienses Darlan Rosa e Henrique Gougon foi entregue a missão de pintar JK, o "Presidente do Otimismo", e Luís Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança". Essas cinco telas e outras 20 criadas especialmente para render tributo a grandes homens e mulheres que construíram a nação brasileira estão expostas no Salão Negro da Câmara dos Deputados até o dia 30. Concebida para marcar os 190 anos da Independência do Brasil (1822-2012), a mostra tem curadoria do ex-presidente da Câmara, historiador e atual ministro dos Esportes Aldo Rebelo. As 25 telas serão doadas ao acervo de bens culturais da casa. Diariamente, inclusive feriados, das 9 às 18h, com entrada franca. 19 Ansel Adams dia & noite revisitandoanseladams Por mais de seis décadas, de 1916 até sua morte, em 1984, Ansel Adams se dedicou a fotografar as belezas naturais dos parques nacionais dos Estados Unidos e a defender esses parques junto às autoridades do país. Em 2010, o fotógrafo Eduardo Moreira percorreu mais de 8.500km em 15 parques fotografados por Ansel com o objetivo de seguir os passos do mestre. "Busquei registrar imagens que fossem similares às que ele teria feito, resultando nesta exposição", afirma. Os brasilienses poderão conhecer esse trabalho na mostra Revisitando Ansel Adams – Parques Nacionais dos Estados Unidos, na Casa Thomas Jefferson (QI 9 do Lago Sul). Com curadoria de Dorival Moreira, a exposição de 33 fotos é uma homenagem aos 110 anos de nascimento de Adams. pesoeleveza coletivanafotoponto André Liohn imagemsemfronteiras 20 O fotojornalista André Liohn, ganhador do prêmio Robert Capa Gold Medal 2012, é o sexto convidado do projeto Imagem sem fronteiras. Até o dia 25, o paulista expõe na Galeria Olho de Águia (Taguatinga Norte) fotos da série premiada e outros registros da carreira. São cinco imagens ampliadas, captadas na cidade sitiada de Misrata (Líbia), além de projeções visuais. André Liohn nasceu em Botucatu e mora atualmente na Itália. É correspondente de guerra freelancer há mais de uma década. De terça a sábado, das 10 às 12h e das 14 às 18h.Classificação indicativa: 14 anos. Entrada franca. angústia Celso Júnior O fotógrafo Rui Faquini é o curador da primeira mostra coletiva da Galeria FotoPonto (Complexo Brasil 21), em cartaz até 30 de novembro. Lá estão imagens assinadas por Celso Júnior (foto), Elyeser Szturm, João Campello e Luiz Clementino que passeiam por temas variados retratados pelo olhar criativo de cada fotógrafo. De acordo com o curador, a galeria é "um ponto de encontro para mostrar fotos, discutir ideias e tendências da fotografia em sua trajetória desde a câmera escura até o fine arts atual, ou seja, a forma de imprimir imagens com cuidados, materiais e técnicas museológicas, certificadas, numeradas e garantidas quanto a sua longa durabilidade. Informações: 3039.8670. Entrada franca. É a peça Nós...! que ocupa o Espaço Mosaico(714/715 Norte) nos dias 28, 29 e 30. Fala sobre a paixão entre duas pessoas do mesmo sexo, mas não apenas isso: aborda a memória que transforma sentimentos através do tempo. Quando se percebem apaixonados, Lipe e Rafa se descobrem perante o maior conflito de suas vidas: como aceitar esse amor diferente? Com texto de Elmo Ferrér e direção de Lúh Rodrigues, a peça tem no elenco o próprio Ferrér e Láidison Peixoto. Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos a R$ 5. Classificação indicativa: 16 anos. Divulgação La casa tomada, de José Luis Rodríguez Fotografias que evidenciam a tensão entre violência e humanismo estão na mostra em cartaz até 20 de outubro no Instituto Cervantes (707/907 Sul). Realizadas por 15 artistas de seis países da América Latina, as 73 imagens escolhidas convidam o espectador a refletir sobre as desigualdades sociais e as situações problemáticas e violentas comuns às nações latinoamericanas. "Algumas fotografias angustiam e assustam; outras geram esperança", explicam as curadoras da mostra, Laura Terré (Espanha) e Rosina Cazali (Guatemala). O objetivo de Peso e leveza - esse é o nome da exposição - foi desenvolver ideias ligadas à bipolaridade que a região vive, entre a tranquilidade originária do crescimento econômico e a persistência de numerosos dramas sociais. De segunda a sexta-feira, das 11 às 21h. Sábados, das 9 às 14h. Informações: 3242.0603. Entrada franca Guga Melgar eraumavez...grimm Há 200 anos foi publicada a primeira edição de contos dos Irmãos Grimm. Para marcar a data, o CCBB apresenta, até 14 de outubro, o musical Era uma vez... Grimm, que se desdobra em duas versões – uma adulta e uma infantil. Com direção de José Mauro Brant e Sueli Guerra e composições de Tim Rescala, o musical tem no elenco José Mauro Brant e Wladimir Pinheiro, atores/cantores que vivem os irmãos Grimm e os personagens masculinos dos contos; e Chiara Santoro e Janaina Azevedo, atrizes/cantoras que se dividem entre as madrastas e princesas. O espetáculo apresenta, em cena, os próprios irmãos Grimm e seus personagens, contando e interpretando os contos Chapeuzinho Vermelho, O Junípero e Cinderela. Versão adulta: de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Versão infanto-juvenil: sábados, às 15h, e domingos, às 16h. Ingressos a R$ 6 e R$ 3. Divulgação fábricadepalavras Divulgação Divulgação Era uma vez um menino apaixonado pelo universo das letras. Tinha como exemplo seu pai, um homem muito culto e inteligente que passava horas do dia lendo. Ele adorava brincar de dicionário e a curiosidade de seus amigos era tamanha que começou a vender significados das palavras. A brincadeira foi tão longe que a turma criou uma fábrica de palavras. Inspirada no livro homônimo de Ignácio de Loyola Brandão, vencedor do Prêmio Jabuti de 2008, vem aí a peça infantil O menino que vendia palavras, com o ator global Eduardo Moscovis. Dirigido por Cristina Moura, o espetáculo aposta em recursos visuais como projeções em vídeo, trilha sonora original, canção interpretada por Adriana Calcanhoto e figurinos que estimulam a imaginação. Dias 15 e 16, na Sala Villa-Lobos, às 17h. Ingressos a R$ 50 e R$ 25. arosaquegiraaroda Divulgação desfilenauniversidade Uma palestra do estilista Alexandre Herchcovitch (foto) abre a Temporada IESB Fashion, Design e Beauty, que acontece nos dias 25 e 27, para estimular novos talentos do curso de moda. Na programação estão também oficinas sobre estética, arquitetura e design, além de desfiles de estilistas de Brasília e de coleções de seis alunos da faculdade: Letícia Farias, Natália Jatobá, Ricardo Rocha, Sandra Moser, Solange Bittar e Willian Maia. “Como a filosofia do IESB é unir a teoria à prática, nada melhor que proporcionar meios para que nossos alunos tenham a oportunidade de mostrar seu talento para o mercado e para profissionais de tão elevado gabarito quanto os que estamos envolvendo em nosso evento”, diz a professora Eda Machado, reitora do centro universitário. Duas das 30 criações serão escolhidas por um júri especializado que premiará os vencedores com bolsas de estudos no exterior. Esse é o nome da primeira peça infantil em cartaz no Teatro Caleidoscópio (102 Sudoeste), que comemora dez anos. O espetáculo é baseado no livro A rosa que gira a roda, da carioca Flávia Savary, e narra a ascensão de uma menina pobre e órfã que se transforma em salvadora do povo de Vila Aurora. Com tanto mau humor na cidade, um dia tudo congelou, menos Rosa, cantadora de pregões a quem cabe encontrar a roda que fará girar a vida de volta ao povo de sua vila. Na busca pela solução do problema, Rosa gira em torno de várias "rodas": de ciranda, da fortuna, de samba, entre outras. Só até o dia 23, sempre aos domingos, em duas sessões: às 11 e às 16h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10, vendidos uma hora antes do espetáculo. Informações: 3344.0444. 21 cultura indígena O mito do Texto e fotos Lúcia Leão N Amanhecer na aldeia, a caminho do banho de rio. inas, os pelas jovens dançar Os flautistas, seguid a do Quarup espalhando per passam o dia de vés ocas para anunciar a festa. música entre as 22 o princípio, o pai onça era casado com duas mulheres árvores. De uma delas nasceram o Sol e a Lua. Mas essa mãe árvore foi morta pela avó onça, enciumada do filho. Este foi, por tempos e tempos, um grande segredo guardado na família. Quando Sol e Lua descobriram o assassinato, romperam relações com o pai, fizeram uma guerra contra sua aldeia e decidiram homenagear a mãe. Nessa homenagem, a mãe árvore voltou à terra, despediu-se dos parentes e só então subiu definitivamente para o céu. Atravessou a Via Láctea e foi chefiar a Aldeia dos Mortos. Assim foi o primeiro Quarup, que desde então se repete para homenagear grandes homens e mulheres e festejar sua passagem definitiva para o mundo dos mortos. Como o que os índios Yawalapiti dedicaram, este ano, a Darcy Ribeiro. O Quarup, festa de assunção dos mortos, é o ritual mais importante das tribos do Alto Xingu e o mais conhecido entre os brancos. Estima-se que se realize há cerca de mil anos, tempo de presença humana comprovada na bacia do Rio Xingu. Longo, complexo e sofisticado, o ritual é aprendido e apreendido, de geração a geração, pelos povos que ainda conseguem se manter vigorosos, física e culturalmente, dentro do território protegido pelo Parque Indígena do Xingu. A cerimônia, realizada sempre no mês de agosto e apenas pelas nove etnias do Alto Xingu, se desenrola por 24 horas ininterruptas. Começa com a evocação do espírito homenageado, passa por uma noite de choros e lamentações e termina em pura alegria, com disputa intertribal de uka-uka, luta xinguana tradicional. A preparação da festa, no entanto, é minuciosa e demorada, assim como cada pedacinho do ritual é complexo e carregado de significado. Os primeiros movimentos do Quarup de Darcy Ribeiro, do índio Maipu e da índia Tepori – homenageados no mesmo ritual – aconteceram entre abril e maio, com a colheita do pequi e a primeira grande pescaria, ambos destinados a prover a festa. O peixe “moqueado” e o biju de tapioca, base da alimentação xinguana, alimentariam as quase mil bocas dos convidados. Dois dias antes da cerimônia, na quinta-feira, a aldeia Yawalapiti já estava em festa, com os músicos e os dançarinos anunciando a celebração. Em duplas, e sempre seguidos Quarup por jovens dançarinas, os flautistas, com seus imensos instrumentos de bambu, de quase dois metros de comprimento, rodam pelo terreiro central e entram em cada uma das ocas. A noite é hora dos cantos e danças ritmados por maracas. Nas primeiras horas da manhã de sexta-feira saem os “convidadores”. A pé, em bicicletas e de motos – um dos meios de transporte hoje mais comuns dentro do parque – eles vão a cada uma das aldeias do Alto Xingu convidar as outras etnias para a cerimônia. Os convidados chegam, em hordas, na manhã de sábado, e montam acampamentos em torno da aldeia Yawalapiti. Os troncos, escolhidos no mato e preparados pelos pajés, são então levados para o centro do terreiro e fincados no chão. Cada grupo de parentes enfeita o seu morto e os espíritos são evocados. Quando incorporam o tronco é preciso cuidado: ver ou ouvir o morto é aviso de morte certa. Começa, então, o choro dos parentes, que só para na alvorada, com a assunção. Enquanto os parentes dos mortos choram, os outros xinguanos pelejam: com movimentos épicos que remetem ao teatro grego, cada etnia convidada deve “roubar” o fogo do anfitrião. Grupos enormes chegam sorrateiramente, simulam enfrentar os guerreiros que guardam as fogueiras do centro da aldeia, pegam os troncos incandescentes e saem correndo, em gestos e gritos provocativos. Mas toda a força da tradição xinguana se mostrou mesmo na manhã de domingo, quando centenas de índios surgem de todos os cantos e ocupam o terreno central da aldeia. Pintados, enfeitados e exibindo os corpos de campeões, eles cantam, dançam e gritam com precisão e desenvoltura, como se tivessem ensaiado o ano todo para aquele momento. “Não poderia haver maior homenagem ao Darcy Ribeiro. Vaidoso como ele era, e orgulhoso da cultura indígena brasileira, certamente subiu ao céu radiante”, festejou Paulo Ribeiro, sobrinho do antropólogo e presidente da fundação que leva seu nome. Por vaidoso e ousado, Darcy certamente dará suas escapulidas à terra, nas noites de eclipse, para roubar penas dos pássaros para seus enfeites. E por teimoso e visionário, ficará lá do céu, dançando e cantando para alertar que o índio tem que viver, para que viva sua cultura milenar e todo o imaginário de que se constroem os corações e mentes do povo brasileiro. O Iphan e a Unesco planejam dar ao Quarup o título de Patrimônio Imaterial do Brasil e da Humanidade. iro enfeitam o tronco Índios e familiares de Darcy Ribe antropólogo. que vai receber o espírito do O cacique apresenta a Aldeia Yawalapiti os lutadores que vão representar no uka-uka. entam os campeões A luta em que os anfitriões enfras encerra o Quarup. idad conv ias alde das 23 Laura Durant carta da europa Os miseráveis e Victor Hugo Por Silio Boccanera, de Londres R 24 evi o musical Os miseráveis e só ao sair me dei conta de que a visita anterior para ver essa peça ocorreu 27 anos atrás, aqui mesmo em Londres. É extraordinária a durabilidade de alguns musicais nos palcos desta cidade que tanto cultiva esse estilo de teatro – de Cats a O fantasma da ópera, de Rei Leão a Billy Elliot. Dança e música explicam grande parte do sucesso, claro, mas não se pode esquecer do texto, do roteiro, da inspiração na obra original. No caso de Os miseráveis, é impossível deixar de lado o crédito à obra original do francês Victor Hugo, romancista, poeta, dramaturgo, ativista político, desenhista, homem de cultura geral, conhecido até por gente que nem sabe seu nome, mas já esbarrou em parte da obra sem identificar o autor. São admiradores que chegaram a ele via cinema ou teatro, onde descobriram personagens como Quasímodo, o corcunda feioso (na tela, Charles Laughton na versão antiga, Anthony Quinn no filme mais recente) que vivia na torre da catedral parisiense de Notre Dame, apaixonado pela prostituta de bom coração (Gina Lollobrigida acabou apagando a lembrança de outras artistas no papel). Pelos mesmos motivos, os frequentadores de teatro se encantam em Londres há quase três décadas com o personagem Jean Valjean, que o público tem ouvido cantar, neste longo período, nas vozes de atores variados que subiram aos palcos de Os miseráveis para contar a história ambientada na agitação de outro período histórico de anos rebeldes: Paris em 1848. Por trás da narrativa popular do cinema ou do teatro está a obra literária original de Victor Hugo, um retrato não ape- nas dos dramas pessoais de seus personagens lendários, mas também de uma sociedade em transformação. Ele foi um dos representantes maiores do movimento romântico na literatura, que dominou parte do Século XIX. Escritor prolífico, ele produziu, além de romances, peças de teatro, poesia, ensaios e artigos políticos. Victor Hugo não se conformava em escrever na solidão e deixar o mundo correr lá fora. Lutou contra a pena de morte e o abandono dos pobres nas ruas de Paris, propôs a união dos países europeus um século antes de ela vir a ocorrer. Membro do Parlamento, defendeu por muito tempo seu amigo Luís Napoleão como líder nacional, mas virou a casaca quando este abocanhou o poder de imperador. Resultado: quase 20 anos de exílio nas ilhas britânicas de Jersey e Guernsey, hoje conhecidos paraísos fiscais. Fora da França, Victor Hugo continuou a escrever e produziu poemas inflamados que inspiraram movimentos revolucionários em várias partes do mundo. O agitador italiano Garibaldi foi visitá-lo, Rifleman_82 os rebeldes do Haiti lhe escreveram e até o presidente dos Estados Unidos enviou-lhe uma carta. Era, ao mesmo tempo, revolucionário radical, antiesquerdista, anticomunista e defensor do capitalismo, religioso na fé e anticlerical na prática cotidiana. Burguês no conforto da vida privilegiada que os generosos direitos autorais lhe permitiram, Victor Hugo rompeu padrões de comportamento da época. Teve quatro filhos com sua mulher de toda a vida, Adele, mas conviveu durante meio século com a amante Juliette Drouet. Viveu outras aventuras amorosas e era conhecido pela maneira insistente de perseguir as mulheres que admirava. Morreu rico, graças aos royalties, e foi enterrado em 1885, com honras nacionais, no Panthéon, mausoléu dos grandes homens da França, após um cortejo seguido por um milhão de pessoas. Algum tempo atrás, entrevistei em Paris Jean-Marc Hovasse, biógrafo do escritor. Suas impressões continuam vivas. Conversamos no salão principal do apartamento onde Victor Hugo viveu em Paris – hoje um museu aberto ao público, na Praça Vosges. Fora da França, o público conhece Victor Hugo sobretudo por causa de suas obras mais populares – Os miseráveis e Notre Dame de Paris –, nem sempre lidas, mas com frequência admiradas nas versões do cinema e do teatro musical. A obra dele, no entanto, é bem mais rica. É verdade. O mundo o conhece mais pelos romances, porque são mais fáceis de traduzir. Ele é, em primeiro lugar, um imenso poeta e dramaturgo, responsável pela renovação completa do teatro, no início do Século XIX, com a famosa Batalha de Hernani. Mas ele escreveu também outras peças, como Rui Blas e Marion de Lorme. É um grande poeta, que, junto com o movimento romântico, desenvolveu uma nova poética a partir de Odes et ballades, seu primeiro tomo, seguido por Os orientais e uma série de outros. Esse é o lado mais difícil de Hugo para os estrangeiros, porque é difícil traduzir poesia, não importa o autor ou o idioma. E o lado dele como ativista político? Esse aspecto nem sempre é lembrado, mas ele de fato fez parte da Academia Francesa, depois da Câmara dos Pares e, finalmente, da Assembleia Nacional. De- pois de um exílio de 20 anos, tornou-se de novo deputado e senador. Como político, ele representava o quê? Foi eleito para a Sociedade dos Autores, que reunia gente de letras, para defender suas ideias, que são as da Revolução de 1848. Propunha a escola laica numa época de educação pública religiosa, pedia a abolição da pena de morte, proclamava ideias libertárias. Seus atos e suas palavras rendem uma obra imensa de orador político. Na Segunda República e após o retorno do exílio ele defendeu durante dez anos a anistia dos que participaram da Comuna de Paris, o que acabou conseguindo. Lutou muito pela criação do que chamava de Estados Unidos da Europa, incluindo uma moeda comum. Isso já naquela época, o que faz dele um homem de ideias contemporâneas. Ainda assim, o grande atrativo dele pelo mundo é sua obra de ficção? Os miseráveis foi lançado em 1862, com grande expectativa, publicação simultânea em cerca de 20 países, traduzido em vários idiomas já na primeira edição. Isso nunca tinha acontecido antes. É um grande romance, a obra em que ele pôs mais de si mesmo. Toca a fibra mais profunda dos leitores, não só pela qualidade da narrativa, mas também porque aborda política e filosofia, mistura trama de romance popular com um estilo poético. Hugo se dirige diretamente ao leitor e busca estabelecer uma relação especial com ele, como nunca antes um autor havia feito. Pode-se dizer o mesmo de Notre Dame de Paris? Sim, embora seja um romance de juven- tude, publicado em 1831, quando Hugo não tinha ainda 30 anos. Mas não podemos ignorar que o sucesso popular dele pelo mundo também se deve aos derivados, como filmes, peças de teatro e musicais. Os personagens que ele criou entraram no patrimônio da humanidade como grandes mitos: Esmeralda e Quasímodo, em Notre Dame de Paris, ou Cosette, Jean Valjean e Javert em Os miseráveis. Até hoje eles são conhecidos no mundo inteiro. Prova do sucesso total de um grande autor. As pessoas já viram trechos das obras no cinema ou no teatro, outros leram os romances ou estudaram na escola. Um livro como Os miseráveis precisa ser lido e relido, tem mais de mil páginas, é certamente um dos mais longos do Século XIX, foi modelo para Tolstoy escrever Guerra e paz. Oferece uma mistura permanente de história da França e da humanidade, com a narrativa de um romance. Não é leitura rápida, exige um certo esforço do leitor. Mesmo quem já viu filmes ou peças tem o que descobrir nos livros? Quem ler Victor Hugo vai descobrir o mundo. Vai se surpreender de ver que a obra dele é bem mais ampla do que a narrativa de aventura no cinema ou no teatro. O valor desses produtos derivados é remeter as pessoas às obras originais de um grande escritor. Os Miseráveis Queen’s Theatre 51 Shaftesbury Avenue, Londres Ingressos a partir de € 34,50 (cerca de R$ 90) 25 Débora Amorim graves & agudos Educação musical Por Heitor Menezes D 26 izem os versados em pedagogia musical que as crianças precisam ouvir música erudita (ouvir e prestar atenção, ok?). Asseveram que, por se tratar de um tipo de música rica em expressão, o ouvido infantil, ainda em formação, será estimulado ao ponto de perceber os diferentes sons, detalhes, timbres, harmonias etc. Resumindo: quem ouve e aprecia música erudita desde cedo não só adquire cultura musical como também desenvolve para toda a vida áreas do cérebro onde normalmente só aparece teia de aranha, o Facebook e reina a futilidade. Pois merece louvor esse Concerto para crianças, realizado com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. O projeto volta aos palcos, desta vez enfocando o compositor francês Claude Debussy. No mês passado comemorou-se o sesquicentenário de nascimento do grande mestre da música impressionista, sen- do muito justa a homenagem, ainda mais num projeto voltado para a petizada. A vida a e obra de Debussy serão encenadas em sessões abertas ao público, no sábado e domingo (15 e 16), na Sala Martins Penna do Teatro Nacional, no simpático horário de 5 da tarde. Para as escolas foram reservadas sessões exclusivas, conforme o calendário de apresentações do projeto. “O impressionismo é elemento determinante na concepção do espetáculo, que se vale da música, é claro, do teatro físico, teatro de bonecos e outras técnicas como o ilusionismo”, avisa o diretor da encenação Zé Higino. As obras do compositor de Clair de lune serão executadas ao vivo por um grupo de câmara formado por Francisca Aquino (piano), Beth Ernest Dias (flauta) e Janaína Salles (violoncelo). No elenco teatral, os atores Cirila Targhetta, Luciano Porto e Micheli Santini desdobram-se em diversos papéis ao longo da apresentação. Segundo a idealizadora do projeto, a professora da Escola de Música de Brasília Naná Maris, a iniciativa, que já contou, de forma similar, a história de Beethoven, Mozart, Chopin e Grieg para cerca de 42 mil espectadores, tem objetivo simples, porém dificílimo: desmitificar e disseminar a música clássica. “Colocamos a música erudita em primeiro plano e a cena, composta pelo som e por momentos da história de vida do compositor, em foco. Como resultado, a criança se dá conta de que a música erudita está presente em seu dia a dia”, acrescenta Naná Maris. De fato, fazer com que a meninada mergulhe nesse universo, ainda mais o de Debussy, recheado de sons, dissonâncias e intervalos maravilhosos, é o mesmo que dizer que brócolis é mais gostoso que batata frita. Olha, tem que saber preparar muito bem o brócolis. Gratinado fica uma beleza. Concerto para Crianças apresenta Debussy 15 e 16/9, às 17h, na Sala Martins Penna do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (50% de desconto no valor do ingresso inteiro mediante a doação de um livro infantil). Divulgação Setembro roqueiro Por Heitor Menezes J Jeff Scott Soto Maba á dizia Vanusa que queria ensinar o vizinho a cantar nas manhãs de setembro. É claro, o mês tem dado provas de ter sido, até agora, um dos mais musicais do ano. Musical roqueiro, diga-se. A gente esquece rápido, mas lembremos que o mês começou muito bem, com a apresentação apoteótica da banda norteamericana de progmetal Dream Theater, um sonho realizado para os muitos fãs. Depois, em pleno feriado de comemoração do Dia da Pátria, a nação rock’n’roll lavou a alma com o festival Porão do Rock. Sinceramente, teve coisa legal no PDR 2012 que se perdeu nos horários e muita gente acabou não vendo. Guitarras altas em plena madrugada só mesmo para os renitentes e candidatos à perda da capacidade auditiva, mas isso é outra conversa. Seguindo em frente, temos em destaque a visita do baixista CJ Ramone, dia 21, no Arena Futebol Clube (Setor de Clubes Sul). O nome entrega a figura: CJ Ramone foi baixista dos saudosos Ramones, entre os anos de 1989 e 1996, isto é, o período derradeiro dessa que foi uma das grandes instituições do punk rock de todos os tempos. O cara substituiu o grande Dee Dee Ramone e andou pra cima e pra baixo (literalmente) com os não menos grandes Johnny Ramone e Joey Ramone. Reconquista, o trabalho mais recente, o primeiro solo, lançado este ano, tem a participação sensacional de alfinetes pontiagudos do punk rock norte-americano: Steve Soto (The Adolescents), José Medeles (The Breeders, 22 Jacks), Billy Zoom (X), Two Bags (Social Distortion, U.S. Bombs) e Jay Bentley (Bad Religion, The Circle Jerks, T.S.O.L). Hey, ho, let’s go. Ah, punk rock não é a sua praia? Muito rude, né? Espeta demais. Tá bom, florzinha, que tal experimentar o (som do) vocalista norte-americano Jeff Scott Soto, dia 25, no América Rock Club, na QS 3, Pistão Sul de Taguatinga? Quem? Jeff Scott Soto pertence à linhagem dos grandes vocalistas do rock. Puxa o currículo do cara: ele é a voz no lendário Rising force (1984), disco do amado e odiado guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Lançou uma pá de álbuns com as bandas Talisman e Trans-Siberian Orchestra e tem vida própria em discos-solos infelizmente pouco conhecidos. Quer saber? O camarada tem gogó que é uma aula de rock’n’roll. Vai cabular? Olha o palavrão. Outro que vale conferir é o “dia rockabilly”, neste 14 de setembro, dentro do projeto Acústico Rolla Pedra, na Sala Funarte Cássia Eller (Eixo Monumental). O gênero será representado pelo Henry Paul Trio e os Bad Motors, ambos de São Paulo, além de Os Dinamites, de Brasília. Teddy boys, minas, suíças, topetes, figurinos, baixos acústicos e atitude rocker. Pode esperar um grande desfile de puristas e figuras esquisitas, para quem Carl Perkins, Gene Vincent, Bill Halley, Stray Cats e The Cramps são tudo de bom – e a vida, um mundo congelado nos anos 1950. Barulho, não. Rock é cultura. Acústico Rolla Pedra (Dia rockabilly) 14/9, às 20h, na Sala Funarte Cássia Eller (Eixo Monumental) CJ Ramone 21/9, às 21h, no Arena Futebol Clube (Setor de Clubes Sul, Trecho 3). Jeff Scott Soto 25/9, às 22h, no América Rock Clube (QS3, Pistão Sul de Taguatinga). 27 CJ Ramone paisagismo & decoração Pra não dizer que não falamos de flores B 28 rasília é o terceiro mercado consumidor de flores do país – e o primeiro em consumo per capita. A cidade tem a maior concentração de jardins planejados do Brasil. No entanto, somente 20% da demanda por flores e plantas ornamentais são atendidas pela produção local. O DF importa cerca de 80% do que consome. Várias iniciativas têm sido tomadas para estimular a produção local, tanto por órgãos públicos quanto pela iniciativa privada. Uma delas é a Fest-Flor – Feira Nacional de Flores, Decoração e Plantas Ornamentais – que busca mostrar ao brasiliense o que é produzido aqui, colocando em contato direto produtores e consumidores. A FestFlor foi criada em 2010 e realiza sua terceira edição de 3 a 7 de outubro no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Com a mudança de local – as duas primeiras edições foram realizadas no Centro de Exposições da Embrapa – a Fest-Flor deve atrair um público ainda maior que o recebido nos anos anteriores. Em 2011, mostra de arte floral, outra de paisagismo sustentável e uma terceira intitulada Espaço Burle Marx. A mostra de arte floral será composta de 12 espaços temáticos assinados por artistas de Brasília, apresentando novos conceitos de decoração. Haverá uma encenação de casamento, com igreja cenográfica decorada com flores produzidas no Distrito Federal. Já a mostra de paisagismo sustentável apresentará dez jardins temáticos com plantas nativas e outras adaptadas ao solo e ao clima do Distrito Federal e região. O Espaço Burle Marx trará uma exposição com trajetória, projetos e trabalhos do artista, com destaque para os projetos implantados em Brasília. FestFlor – Feira Nacional de Flores, Decoração e Plantas Ornamentais De 3 a 7/10 no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Fotos: Divulgação Por Elaina Daher segundo os organizadores, 30 mil pessoas visitaram a feira em seus quatro dias de realização. O número de estandes, 150 em 2011, também aumentou, passando para 250 este ano. Com isso, será maior a variedade e diversidade de produtos e serviços da cadeia produtiva de flores, decoração e plantas ornamentais. Além de adquirir mudas e plantas de diversas espécies, inclusive plantas nativas do Cerrado, o visitante terá à disposição fertilizantes, equipamentos, objetos de decoração, móveis e publicações especializadas. Poderá também contratar serviços como projeto e implantação de jardins, pergolados, piscinas, laguinhos e cascatas, sistema de irrigação automatizada e iluminação. Serão apresentadas opções para jardins verticais e para telhados verdes, as novidades do momento. Os visitantes receberão orientações técnicas de produtores e assistirão a apresentações e demonstrações de arte floral, além de participar de cursos, oficinas e palestras. Entre os cursos oferecidos, a diversidade é grande: arranjos para interiores, para casamentos, eventos e recepções; cultivo de orquídeas, gramados e plantas de interior; montagem de arranjos em ikebana; biojoias; confecção de flores artesanais; buquês de noivas; escultura na melancia, arranjo de flores e frutas, entre outros. Haverá, ainda, a Cozinha Flor Brasil, com cursos de gastronomia utilizando flores comestíveis em pratos frios, quentes, sobremesas e licores. As inscrições deverão ser feitas na própria FestFlor e o valor do ingresso é um quilo de alimento não perecível. A programação completa pode ser consultada em www.festflorbrasil.com.br. Paralelamente, será realizada uma galeria de arte Stefania Montiel busca no bioma inspiração e matéria-prima para criar mandalas e quadros Por Melissa Luz “E xplorar uma matéria-prima tão nobre, a terra, e entrar delicada e esteticamente em contato com a essência da natureza do Cerrado brasileiro”. Foi com esta frase estampada no convite que a artista plástica e educa-dora ambiental Stefania Montiel apresentou à cidade sua nova exposição, Sutileza em tons de terra, em cartaz até o final do mês no espaço Metropolitan Cultural, do Metropolitan Flat. A mostra é composta por cerca de 30 obras feitas com pigmentos minerais do Cerrado sobre madeira e papel reciclados. São mandalas e quadros que traduzem em formas geométricas a inspiração que a artista encontrou na imensidão da paisagem e da biodiversidade do Cerrado. O bioma mais antigo do mundo entrou na vida de Stefania quando ela ingressou na Secretaria de Educação para lecionar artes plásticas e desenho. Logo, a artista formada pela Universidade de Brasília foi convidada a integrar o projeto piloto Sutileza em tons de terra Até 30/9, no Metropolitan Cultural (Setor Hoteleiro Norte). Fotos: Divulgação O Cerrado em pigmentos e formas Núcleo de Educação Ambiental do Jaburu, onde ministrou oficinas com materiais reaproveitáveis, percorreu trilhas e militou pela educação ambiental. “A minha motivação, a minha inspiração artística, sofreu muita influência dessa ligação com o meio ambiente. Foi a partir daí que eu comecei a pesquisar e utilizar matéria-prima de reaproveitamento, de materiais que são descartados”. Para o curador da mostra, o búlgaro Bisser Nai, as peças de Stefania são lições de amor à natureza: “A artista tenta harmonizar o fazer artístico e o pensamento de uma mulher que traz como princípio a preservação ambiental. Com essas obras, Stefania cria possibilidades de explorar cores e texturas da terra, e entrar em contato com a essência da natureza do Cerrado brasileiro de forma delicada e estética”. Pernambucana de Serra Talhada, de onde saiu ainda pequena para Brasília, Stefania nunca perdeu contato com sua terra natal. “Apesar de ter vindo pra cá com três ou quatro anos, eu vivenciei muito a cultura pernambucana, os carnavais, as máscaras. Isso é bem perceptível na exposição de máscaras da Festa do Divino de Pirenópolis que fiz há seis anos”. Essa forte ligação com a cultura nordestina, entretanto, não afasta a artista do universo que a circunda no Planalto Central: “Eu sou apaixonada por Pernambuco, mas é aqui que eu moro, que eu pesquiso, que eu vou a campo. O fato de ter trabalhado conhecendo mais de perto o Cerrado permitiu que se criasse em mim uma forte ligação com o bioma”. 29 Ricardo Labastier verso & prosa Vinte anos na estrada Por Vicente Sá A 30 30 Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo já estava precisando de um balanço em sua carreira. Muito menos para repensar o trabalho e muito mais para que o público não se perca na vastidão do repertório e nos diversos meios que utilizam para mostrar seu humor (teatro, TV, DVD, cinema, internet, quadrinhos...) e até mesmo para compreendermos qual foi a história e a trajetória do grupo. Muita gente acha que Os Melhores do Mundo começaram com Joseph Klimber, em 2006, no Programa Jô Soares. E é aí que mora o perigo. É certo que essa apresentação, que foi colocada no YouTube sem o conhecimento dos comediantes e conseguiu dois milhões de acesso em menos de três meses, abriu ainda mais as portas do Brasil para o grupo, mas grande parte do trabalho já fora feito. Afinal, eles vinham trabalhando desde 1991, como o grupo A Culpa é da Mãe, e depois, em 1995/6, já como Os Melhores do Mundo, sempre mostrando que tinham vindo até aqui para chegar lá. E é exatamente disso que trata, com muita perícia, o jornalista e teatrólogo Sérgio Maggio no livro Os Melhores do Mundo – A festa do riso. Utilizando-se de um artifício muito seu conhecido, Sérgio Maggio transforma a saga dos comediantes Ricardo Pipo, Welder Rodrigues, Adriana e Jovane Nunes, Adriano Siri e Victor Leal em um “teatro documentário”, e nele junta depoimentos de quase 70 pessoas do mundo do teatro, incluindo, é claro, os próprios Melhores do Mundo, para ir preenchendo as lacunas desses mais de 20 anos de estrada e sucesso. Nos seis meses que trabalhou em pesquisas e entrevistas, Sérgio Maggio conversou com grandes figuras do teatro e da TV que, de uma forma ou de outra, tiveram alguma coisa a ver com o caminho trilhado por esses moleques do riso. Do Rio de Janeiro, Chico Anísio, Millôr Fernandes, Bruno Mazzeo e Isabela Garcia, entre outros. De Brasília, quase todo mundo: Hugo Rodas, Alexandre Ribondi, João Antônio e, é claro, Murilo Grossi, que faz uma bela e emocionada apresentação. Pela mãos de Sérgio Maggio voltamos no tempo e retomamos contato com uma Brasília quase desconhecida. Andamos no final dos anos 80 pelos teatros da cidade, conhecemos grupos e bandas que se foram, assistimos nascer o Jogo de Cena, bebemos no Beirute e caminhamos pelas madrugadas na cidade que saía da adolescência e pulava para os 30 anos de idade. Às vezes, até sonhamos juntos com Welder e Pipo. Com o livro, ficamos sabendo também dos contratempos e das pequenas brigas. Entendemos a dificuldade de fazer comédia no Brasil, considerada por alguns uma forma menor de teatro. E, mais que tudo, compreendemos o porquê de Os Melhores do Mundo terem chegado aonde chegaram. A festa do riso é um livro para ser lido pelos que viveram e não viram, pelos que viram, mas não viveram a Brasília dos anos 80 para cá, e por todos que, de alguma forma, amam o teatro de comédia e a história da cidade e de seus artistas. Os Melhores do Mundo - A festa do riso Sérgio Maggio - Coleção Brasilienses 122 páginas, R$ 35 31 luz câmera ação Um festival que O mais antigo e tradicional evento cinematográfico do país segue buscando uma fórmula capaz de se adequar à dinâmica dos novos tempos e exibe este ano mais um pacote de novidades AC Junior pensa e se recria Bianca Byington e Enrique Diaz fazem os papéis principais em Noites de reis, de Vinicius Reis. Por Sérgio Moriconi E m constante movimento, o Festival de Brasília aprofunda as mudanças iniciadas em sua edição do ano passado. Além da permanência do critério que aboliu o ineditismo – que pouca diferença vem fazendo na escolha das obras selecionadas – a principal novidade é a a criação de uma premiação especifica para filmes docu- mentários. Mutatis mutandis, agora são 12 longas e 24 curtas os concorrentes ao Troféu Candango. Outra iniciativa importante foi a decisão dos organizadores da Mostra Brasília de fazer uma seleção das produções brasilienses que concorrerão ao prêmio da Assembleia Legislativa do DF. Mas, no que se refere às duas principais competições do festival, o que salta aos olhos este ano é o grande número de realizações de Pernambuco: nada menos que sete representantes do Estado estarão presentes na sessão nobre da Sala Villa- Lobos. Entre eles, os longa-metragens de ficção Eles voltam, de Marcelo Lordello, Boa sorte, meu amor, de Daniel Aragão, e Era uma vez eu, Verônica, de Marcelo Gomes, este o mais experiente de todos, autor de Cinema, aspirinas e urubus e, em parceria com Karim Ainouz, de Viajo porque preciso, volto porque te amo. Curiosamente, os pernambucanos vão disputar o Candango com três cariocas: a experiente Lucia Murat, com A memória que me contam, Vinicius Reis, com Noites de reis, e Allan Ribeiro, com Esse amor que nos consome. Os longas de ficção da Mostra Competitiva 32 Eles voltam PE/2012, 100min. Roteiro e direção: Marcelo Lordello. Com Maria Luiza Tavares, Georgio Kokkosi, Elayne de Moura, Mauricéia Conceição, Jéssica Silva, Irma Brown, Clara Oliveira, Germano Haiut e Teresa Costa Rêgo. Cris, de 12 anos, e seu irmão mais velho são deixados na beira da estrada pelos pais. O castigo imposto a eles, devido às constantes brigas durante a viagem à praia, torna-se um desafio: os pais não retornam. Cris terá, então, que trilhar seu caminho de volta para casa, deparando-se com realidades distantes e distintas da sua. Uma fábula de tons, personagens e situações realistas sobre vivências que auxiliarão Cris a revisitar sua vida quando, finalmente, voltar. A memória que me contam RJ/2012, 95min. Direção: Lucia Murat. Roteiro: Lucia Murat e Tatiana Salem Levy. Com Irene Ravache, Franco Nero, Simone Spoladore, Otávio Augusto, Zecarlos Machado, Clarisse Abujamra, Hamilton Vaz Pereira, Miguel Thiré e Patrick Sampaio. Um drama irônico sobre utopias derrotadas, terrorismo, comportamento sexual e a construção de um mito. Um grupo de amigos que resistiram à ditadura militar, com seus filhos, vai enfrentar o conflito entre o cotidiano de hoje e o do passado quando um deles está morrendo. Boa sorte, meu amor PE/2012m 95min. Direção: Daniel Aragão. Ro- teiro: Daniel Aragão, Gregorio Graziosi e Luiz Otávio Pereira. Com Vinicius Zinn, Christiana Ubach, Rogério Trindade, Jack Mugler, Carlo Mossy, Maeve Jinkings, Jr Black, Marku Ribas, Júlio Rocha, Cacau Maciel, Gerlane Silva, Sandra Possani, Ana Lucia Altino, Zezita Matos e Bianca Müller. Dirceu, 30 anos, tem origens que remontam à aristocracia latifundiária pernambucana. Ele vive no Recife, cuja paisagem sofre descontrolado processo de transformação, em parte graças a seu trabalho numa empresa de demolição. Maria compartilha as mesmas origens sertanejas, embora use a cidade para outro propósito. Ela é uma estudante de música com alma de artista. Se Dirceu aspira a um mundo estável e presente, Maria vive em discordância com o presente. A presença dela, quase uma aparição, desencadeia em Dirceu a urgência por mudanças. Numa rota de fuga e peregrinação pelo deserto, um encontro singular está marcado para acontecer. Era uma vez eu, Verônica PE/2012, 90 min. Roteiro e direção: Marcelo Gomes. Com Hermila Guedes, W. J. Solha, João Miguel, Renata Roberta e Inaê Veríssimo. Esse filme revela as reflexões de Verônica, uma estudante de Medicina recém-formada, passando por um momento de incertezas. Ela questiona não só as suas escolhas profissionais, como suas relações mais íntimas, mas até mesmo a sua capacidade de lidar com a vida no Brasil urbano contemporâneo. Hamadeh e o comediante (também libanês) Claude Khalil. Eles terão como parceiros, em alguns dos principais papéis, Klarah Lobato, de Brasília, e a poetiza Elisa Lucinda. Também fazem parte do elenco Chico Sant’Anna, João Antônio, Sérgio Fidalgo, Narciza Leão e Adriano Siri, conhecidos artistas da cidade que tiveram de aprender árabe para poder dar conta de um enredo em que um adolescente libanês vem tentar a sorte no Brasil. Outro ponto alto do festival deve ser a exibição, na mostra Panorama Brasil, de O som ao redor, estreia em longa do pernambucano Kleber Mendonça (outra vez Pernambuco!), realizador de Recife frio, premiado em Brasília há alguns anos e um dos mais interessantes curtas feitos no Brasil nos últimos tempos. O filme teve críticas super elogiosas em publicações norte-americanas como – imaginem só – New York Times e Variety. Essa mesma mostra, dedicada a produções brasileiras recentes, apresentará Entorno da beleza, da brasiliense Dácia Ibiapina, um curioso documentário sobre concursos de miss em Brasília e nas cidades satélites do DF. Não estranhe a ausência do Cine Brasília, tradicional templo do festival. Como ele está fechado para reforma, toda a extensa programação do nosso principal evento cinematográfico teve de ser acomodada em outras salas. A Martins Pena, por exemplo, vai abrigar a Mostra Brasília, enquanto diversos espaços das cidades satélites de Taguatinga, Gama, Ceilândia Divulgação Entre os documentários, destacam-se os nomes do mineiro Cao Guimarães, com Otto, e do matogrossense Joel Pizzini, com Olho nu, sobre o cantor Ney Matogrosso. Não deixa de chamar a atenção a presença de uma produção do Piauí, o também documentário Kátia, de Karla Holanda. Obras de Goiás, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina vão igualmente frequentar a tela montada na Villa-Lobos. E Brasília? Bem, não deixa de ser surpreendente o fato de um único e solitário curta, A ditadura da especulação, de Zé Furtado, ter sido selecionado para uma das principais mostras do festival. Como consolo, resta ao público da capital conhecer a produção local através da já consagrada Mostra Brasília, que traz, entre outros, os longas Parece que existo, de Mario Salimon, e Sob o signo da poesia, de Neto Borges, ambos documentários, e os curtas ficcionais Bibinha, a luta continua!, de Adriana de Andrade, Colher de chá, de J. Procópio, Na cozinha, de André Luis da Cunha, Sagrado coração, de Cauê Brandão, e Véi, dos irmãos Érico e Juliano Cazarré, além do curta documental Vida kalunga, de Betânia Victor Veiga. Consolo maior para os brasilienses certamente acontecerá na noite de abertura do festival, dia 17, quando será exibido, pela primeira vez, o longa A última estação, de Márcio Curi, primeira coprodução internacional do cinema candango (leia na página 40). Produtor consagrado na cidade, Curi assume a direção de uma obra complexa, com um elenco internacional em que se destaca o ator libanês Mounir Maasri, a atriz libanesa/canadense Roula Entorno da beleza, da brasiliense Dácia Ibiapina, será exibido na mostra Panorama Brasil. Noite de reis RJ/2012, 93 min. Direção: Vinicius Reis. Roteiro: Rita Toledo. Com Bianca Byington, Enrique Diaz, Flavio Bauraqui, Raquel Bonfante, Sidney Martins e Luciana Bezerra. Alguns anos após uma tragédia familiar, Dora e a filha Júlia retomam sua vida cotidiana. É dezembro. Os palhaços e músicos da Folia de Reis dançam pelas ruas de uma pequena cidade do litoral do Rio de Janeiro. . Para Dora, ir à praia é reencontrar seu filho Lucas, cujas cinzas repousam no mar. A chegada de uma visita inesperada irá abalar essa rotina. É Jorge, o marido de Dora, que partiu no dia seguinte ao incêndio que matou Lucas e nunca mais voltou. Sua chegada traz de volta a dor da perda do filho, da falta do irmão. Dessa crise se abre a possibilidade de superação. Esse amor que nos consome RJ/2012, 80min. Direção: Allan Ribeiro. Roteiro: Allan Ribeiro e Gatto Larsen. Produção executiva: Ana Alice de Morais Com Gatto Larsen, Rubens Barbot, Wilson Assis, Cláudia Ramalho, Rubens Rocha, Ulisses Oliveira, Nego Maia, Éder Silva, Luís Monteiro, Valéria Monã, Zezé Veneno, Fernando Silva, Fernando Silva e Valeria Monã. Gatto Larsen e Rubens Barbot são companheiros de vida há mais de 40 anos e acabaram de se instalar em um casarão abandonado no centro do Rio de Janeiro. Ali, eles passam a viver e a ensaiar com sua companhia de dança. A luta do dia a dia se mistura com a criação artística e a crença em seus orixás. Por meio da dança eles se espalham pela cidade, marcando seus territórios. 33 A ditadura da especulação, de Zé Furtado, é o único curta-metragem brasiliense na Mostra Competitiva. Divulgação e Sobradinho – como já vem acontecendo há alguns anos – vão exibir, simultaneamente, a programação da Mostra Competitiva. Como de hábito, o festival vai promover uma enorme quantidade de cursos, eventos paralelos e lançamentos de livros. Mas, diferentemente de anos anteriores, todas essas atividades (ou quase todas) estarão relacionadas a uma reflexão sobre o próprio festival, sobre o cinema desenvolvido na Universidade de Brasília e sobre algumas personalidades que tiveram fundamental importância para o cinema da capital e do Brasil. Como Paulo Emílio Salles Gomes, principal homenageado desta 45ª edição do festival. Dois importantes eventos – Paulo Emílio e a crítica cinematográfica, realizado em parceria com a Associação Brasileira de Críticos de Cinema, e Presença de Paulo Emílio no pensamento cinematográfico brasileiro: ela ainda existe? – vão resgatar a relevância daquele que talvez tenha sido o maior pensador brasileiro do cinema. Paulo Emílio foi uma espécie de “pai primordial” do cinema de Brasília. Convidado pelo jornalista Pompeu de Souza para criar o pioneiro curso de cinema da Universidade de Brasília, isso num longínquo 1965, esse excepcional crítico e professor lançou as sementes da atividade cinematográfica da capital, inicialmente toda ela concentrada em torno da UnB. No dia 18, o seminário Memória afetiva: 50 anos de cinema na UnB, vai proporcionar mais uma reflexão sobre a importância da instituição. Outras duas mostras – Brasília 5.2 – cinema e memória, composta de dez documentários selecionados pela pesquisadora Berê Bahia, e A UnB e o cinema, organizada pelo cineasta e professor Marcos de Souza Mendes – são evidências de que o cinema de Brasília já possui uma rica e longa trajetória. Produtora Centro de Midia Independente do DF e Coletivo Muruá luz câmera ação Hermila Guedes em Era uma vez eu, Verônica, de Marcelo Gomes, um dos sete pernambucanos inscritos no festival. Os documentários da Mostra Competitiva 34 Um filme para Dirceu PR/2012, 80min. Roteiro e direção: Ana Johann. Participação especial de Teodoro, da dupla sertaneja Teodoro & Sampaio. A diretora recebe uma ligação telefônica de uma pessoa interessada em fazer um filme sobre a própria vida, que julga ter muitas semelhanças com as dos dois filhos de Francisco. Aos 17 anos, Dirceu ficou paraplégico e depois de um ano voltou a andar. Ele é gaiteiro e seu sonho é viver da música. A proposta é acompanhar sua vida durante três anos e incorporar o próprio processo do filme dentro do documentário. Kátia PI/2012, 74min. Roteiro e direção: Karla Holanda. Kátia Tapety tornou-se a primeira travesti eleita a um cargo político no Brasil. Foi vereadora três vezes, além de vice-prefeita. O filme é resultado de 20 dias de convívio com ela em seu pequeno município no sertão do Piauí. Otto MG/2012, 70min. Roteiro e direção: Cao Guimarães. Com Otto Matínez Guimarães e Florencia Martínez. O filme acompanha o processo de gravidez da esposa do diretor e o nascimento de seu filho. Instintivo e visceral como um gesto. Intimista e confidente como um diário filmado. Uma celebração à vida, um filme de amor. Doméstica PE/2012, 75min. Roteiro e direção: Gabriel Mascaro. Sete adolescentes assumem a missão de registrar, por uma semana, sua empregada doméstica, e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens. Entre o choque de intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme Entrevista com o Secretário de Cultura, Hamilton Pereira Qual é a relevância do Festival de Brasília para o cenário cinematográfico brasileiro? Chegamos a essa 45ª edição com o festival renovado e vigoroso. Em 2011, introduzimosmodificações bem recebidas pela sociedade: constituímos uma curadoria que não existia; antecipamos a data para setembro; abolimos o critério do ineditismo; introduzimos a exibição em digital; elevamos o valor dos prêmios; e descentralizamos a exibição para outras cidades, além do Plano Piloto: Sobradinho, Taguatinga e Ceilândia, além do circuito do Cinema Voador. Nesta edição ampliaremos as exibições para o Gama. Atendemos, dessa forma, a um dos princípios norteadores da nossa gestão: descentralizar a oferta de bens e serviços culturais para as cidades do Distrito Federal, aproximando do público espectador o melhor do cinema brasileiro do último ano. Essa edição recebeu 408 inscrições, tornando-se, assim, um grande estuário da produção cinematográfica do Brasil no último ano. Qual a importância de recuperar a história de Paulo Emílio Salles Gomes para as novas gerações? lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar, transformando-se em um potente ensaio sobre afeto e trabalho. Olho nu RJ/2012, 101 min. Roteiro e direção: Joel Pizzini. Com Ney Matogrosso. A vida e a obra de Ney Matogrosso retratadas a partir do conjunto de imagens e sons que o artista reuniu até hoje em sua casa, além dos existentes em arquivos públicos, em contraponto à performance de seu show Inclassificáveis, em cartaz pelo país e Europa. É um espetáculo-síntese de seu percurso musical, que, na montagem do filme, evoca cenas e situações da histó- Divulgação “Nosso festival se tornou um estuário da produção cinematográfica brasileira.” Trata-se de recuperar a paixão pelo Brasil, pelas culturas brasileiras, pelo cinema brasileiro. Homenagear Paulo Emílio significa algo mais do que homenagear um homem que amava o Brasil, as coisas do Brasil. Trata-se de chamar a atenção para um espírito inquieto, corajoso, crítico, cosmopolita no melhor sentido, sem abrir mão de um profundo amor pela aventura de se construir aqui a “civilização brasileira” de que falava Sérgio Buarque. Uma civilização aberta para dentro, mestiça, miscigenada. E aberta para fora. Ávida por aprender. Em permanente diálogo com as demais culturas do mundo. Para afirmar-se como um intelectual cosmopolita, Paulo Emílio não negava sua condição de brasileiro. ria de Ney tanto nos palcos quanto na vida cotidiana. Evitando o tom nostálgico e reverente, Olho nu busca a dimensão humana e sensível de um personagem cuja história se confunde com a melhor tradição do cancioneiro latino-americano. Como o próprio nome sugere, o filme ousa desnudar o homem por trás da fama, sondando, assim, as motivações de sua arte, o senso crítico, o caráter libertário e o ideário político que permeia seu repertório, pautado sempre pela coerência e qualidade estética. Elena MG/2012, 82 min. Direção: Petra Costa. Roteiro: Petra Costa e Carolina Ziskind. Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho Por que é importante distinguir ficção de documentários? A rigor, são linguagens distintas. Cada uma com um foco próprio, específico. No Brasil, a produção de documentários de alta qualidade vem se afirmando desde Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho. Manter essa linguagem analisada pela mesma comissão que avalia ficção acaba, a meu juízo, prejudicando a produção dos documentários, mantendo essa linguagem na sombra, sem o destaque que lhe é devido pela qualidade que alcançou. Qual é a expectativa da Secretaria de Cultura para este festival que acontece no Teatro Nacional? Se considerarmos o volume de obras inscritas, teremos um festival já muito significativo. Como afirmei antes, nosso festival se tornou o estuário da produção brasileira do último ano. Quanto à qualidade dessa produção, será objeto da avaliação do público sempre numeroso e ativo e da crítica. A política pública de cultura do Governo do Distrito Federal responde por criar as condições de organização, exibição e divulgação do festival, que esperamos seja bem acolhido pelo público. Realizar essa 45ª edição no Teatro Nacional atende a uma necessidade prática – o Cine Brasília passa, ao longo deste ano, por uma ampla reforma, para adequá-lo às condições de um cinema contemporâneo, com acessibilidade e as demais exigências para que se afirme como o palácio do cinema em Brasília. E como a sede permanente do mais antigo festival de cinema do país. da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar. Deixa Petra, a irmã de sete anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena. Tem apenas pistas. Filmes caseiros, recortes de jornal, um diário, cartas. Em todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos. E acaba descobrindo Elena num lugar inesperado. Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir. 35 luz câmera ação Fotos: Krishna Schmidt A última estação “U ma história emocionante, cheia de sentimento, com muito amor, conflitos, mas acima de tudo um relato fiel de como aconteceu a adaptação de muitos dos imigrantes que vieram para o Brasil”. Assim o diretor brasiliense Márcio Curi apresenta o filme, por ele dirigido, que será exibido para 1.200 convidados na abertura do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, dia 17, às 21 horas , na Sala Martins Penna do Teatro Nacional. Filmado em formato digital no Brasil e no Líbano, com roteiro original de Di Moretti, A última estação é uma coprodução das brasilienses Cinevideo e Asacine e da libanesa Day Two Pictures, de Beirute. No Brasil, 60% das cenas foram filmadas no Polo Cinematográfico de Paulínea e o restante em Santos, Anápolis, Brasília, Ilhéus e Belém. Festivalzinho 36 Curtas de animação e ficção com temática infantil e classificação indicativa livre, especialmente dedicados às crianças. É o Festivalzinho, realizado em parceria com a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, oferecendo programação gratuita de qualidade para alunos de escolas previamente agendadas. Os filmes serão exibidos entre os dias 18 e 21 na Sala Martins Pena do Teatro Nacional, dias 22 e 23 no CCBB e, em outros horários, também na Candangolândia, Ceilândia, Taguatinga, Cruzeiro, Gama, No elenco, os brasilienses Klarah Lobato, João Antonio, Chico Santana, Narciza Leão, Sérgio Fidalgo e Adriano Siri se juntam a Elisa Lucinda e ao ator e diretor libanês Mounir Maasri para contar a história de imigrantes libaneses que deixaram sua terra natal em busca de uma vida melhor do outro lado do mundo. O personagem principal é o libanês Tarik, que em 1950, ainda adolescente, se vê obrigado a vir para o Brasil junto com o irmão mais novo, Karim. No navio, os dois fazem amizade com outros meninos árabes e sírios, que ao desembarcarem no porto de Santos, em São Paulo, seguem caminhos distintos. Os anos se passam e, em setembro de 2001, após perder a esposa, o velho Tarik entra em profunda depressão, tem uma espécie de surto psicológico, cisma de reencontrar os companheiros da viagem de 51 anos atrás e sai a Guará, Núcleo Bandeirante, Park Way, Riacho Fundo II, Samambaia e Sobradinho. Entre os filmes programados, dois destaques: O filho do vizinho, produção de 2011 do Coletivo Casa 30, de Brasília, dirigido por Alex Vidigal, que recebeu o Troféu do Júri Popular no Festival Nacional de Curtas do Vale do são Francisco, e Traz outro amigo também, divertida investigação sobre um amigo imaginário da infância, dirigida pelo gaúcho Frederico Cabral, que recebeu no CinePE os prêmios de Melhor Curta do Júri Oficial e do Júri Popular, além de vários outros prêmios técnicos, como o de melhor roteiro. percorrer o país, na companhia da filha Samia, em busca dos “meninos”. A última estação veio enriquecer o portfólio da produtora brasiliense Cinevideo, que, após forte atuação na África, onde mantém escritório há cinco anos, passou a investir no mercado árabe, estabelecendo parceria com a rede de TV Al Jazeera e com ela produzindo uma série de documentários. Durante a produção do filme, que será distribuído no Brasil pela Polifilme, a Cinevideo cuidou da seleção do ator principal e das negociações com uma distribuidora libanesa. “Foi um trabalho muito prazeroso que realizamos no Líbano até chegar ao Mounir Maasri, que faz o imigrante Tarik. Graças ao relacionamento da Cinevideo com esse mercado, conseguimos também fechar uma importante parceria de distribuição local”, conta Monica Monteiro, presidente da produtora. Mostra Brasília O Troféu Câmara Legislativa chega à sua 17ª edição com formato renovado, prêmios mais volumosos e produções selecionadas por uma comissão formada por cineastas, produtores, críticos e professores de cinema. Do total de 94 filmes inscritos, 18 foram indicados para disputar R$ 200 mil em prêmios – dois longas e 16 curtas, sendo seis documentários e 12 ficções. Os filmes serão exibidos na Mostra Brasília, dias 22 e 23, na Sala Martins Penna do Teatro Nacional, com entrada franca. Zé Filho O diretor Márcio Curi: história emocionante sobre a adaptação de imigrantes no Brasil. A última estação Brasil/Líbano, 2012, 114min. Direção: Márcio Curi. Roteiro: Di Moretti. Com Mounir Maasri, Elisa Lucinda e Klarah Lobato. Elenco de apoio: Roula Hamadeh, Narciza Leão, João Antônio, Chico Sant’Anna, Sérgio Fidalgo, Edgard Navarro, Iberê Cavalcanti, Adriano Siri, José Charbel, Mohamad Rabah e Braheim Abu Nassif. Classificação indicativa: 12 anos. Ao longo de 16 anos, a CLDF premiou 52 filmes, investindo um total de R$ 1,2 milhão no cinema brasiliense. "É nosso dever apoiar a produção cinematográfica da cidade. E acho que podemos contribuir com muito mais, além da premiação", diz o presidente da CLDF, deputado Patrício. Sérgio Fidalgo, coordenador do festival, diz que é com muito prazer que acolhe a Mostra Brasília: "O Troféu Câmara Legislativa está consolidado e é fundamental para o nosso cinema". O cineasta Kleber Machado, da Associação Brasiliense de Cinema e Video, concorda: "O momento é de pensar o cinema brasiliense". Entrevista com o coordenador do festival, Sérgio Fidalgo “A separação entre documentários e filmes de ficção se fazia naturalmente necessária.” O que você gostaria de destacar no festival deste ano em relação às edições anteriores? Em primeiro lugar, eu destacaria a importância que nós estamos dando ao documentário. A separação entre esse gênero e a ficção se fazia naturalmente necessária pela qualidade e quantidade de ótimos filmes de não-ficção que, nos últimos anos, vinham sendo submetidos à comissão de seleção da principal mostra do nosso festival. Como apenas seis longas podiam concorrer ao Candango de melhor filme, criava-se um impasse. Este ano, os documentários terão direito a uma premiação bastante significativa. O melhor longa documental receberá a quantia de 100 mil reais, valor menor do que os 250 mil concedidos aos filmes de ficção, em virtude desses filmes terem um custo muito menor de produção. Entretanto, as outras premiações – como melhor fotografia, roteiro, direção etc – terão direito a quantias idênticas. Que outro aspecto você considera marcante na edição deste ano? É algo ocasional, mas o fato de o festival deste ano ter como sede principal a Sala Villa-Lobos não deixa de ser interessante. Destaco também a inclusão do Gama como uma das cidades satélites que receberão a exibição simultânea da Mostra Competitiva. Gostaria também de fazer menção ao fato de todas as produções concorrentes ao Candango deste ano serem inéditas, apesar de o critério de ineditismo não mais existir desde o ano passado. Outra mudança importante foi a introdução de uma seleção para os participantes da Mostra Brasília. Por que? Nós introduzimos uma seleção porque isso já era uma demanda da classe. Todos achavam que a produção não estava mais cabendo no formato Divulgação Com 19 anos de atuação, a outra produtora brasiliense – a Asacine, de Márcio Curi, diretor do filme – tem participação destacada no desenvolvimento da indústria audiovisual da capital brasileira. Sua produção está focada em filmes de longa-metragem, documentários para TV, institucionais, séries educativas, videoclipes, coberturas e registros de eventos empresariais, científicos, técnicos e culturais. É a única produtora de cinema da cidade a exibir no currículo a conquista dos mais importantes prêmios do júri do Festival de Brasília nas três categorias principais: melhor longa-metragem 35mm, em 1994, com Louco por cinema, de André Luiz Oliveira; melhor curta-metragem 35mm, em 2000, com Sinistro, de René Sampaio; e melhor filme 16mm, em 2006, com Passageiros da segunda classe, de Luiz Eduardo Jorge e Kim Ir Sen. da mostra, que, de início, era no sábado e no domingo, e depois se estendeu para praticamente todos os dias da semana, tendo que ser acomodada, ano passado, no Museu da República. Agora voltou a ser sábado e domingo, em duas sessões, uma às 14 e outra às 16h, na Sala Martins Pena. Por que apenas dois longa-metragens foram selecionados? Essa não era a intenção inicial. Em princípio, seriam quatro longas, mas a comissão achou por bem selecionar apenas dois e uma quantidade muito maior de curtas porque daria um panorama ao mesmo tempo mais amplo e variado do cinema de Brasília. Você mencionou a Sala Villa-Lobos como uma das singularidades da edição deste ano do festival. Que adaptações vocês fizeram para receber o evento? Bem, nós tivemos que adaptar uma praça de alimentação, semelhante àquela que já se tornou uma tradição no Cine Brasília. A nossa praça de alimentação vai ser feita lá fora, no gramado, na lateral do teatro. Vai ser um pouco menor, mas terá tendas e tudo o mais. Vamos juntar todas as empresas que ganharam a licitação do governo para montar a praça e pedir para os bares ambientarem sua área de acordo com a especificidade de cada um. 37 38 luz câmera ação As bem-amadas Divulgação Por Reynaldo Domingos Ferreira C omo se fora um conto de fadas moderno, que não dispensa os sapatinhos de cristal, Christophe Honoré narra, na comédia dramática As bem-amadas, a história dos amores e das desventuras de duas mulheres, mãe e filha, cobrindo o período entre a invasão da Tchecoslováquia pelas forças comunistas e o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center de Nova York. Implícita está no argumento, escrito por Honoré, a observação de ordem moral de que a juventude de hoje, talvez porque criada sob excessivo desvelo, mostra-se mais vulnerável aos duros embates da vida – procurando, por exemplo, o escapismo da droga ou até mesmo o suicídio – do que a geração sofrida vinda do pós-guerra ou da Guerra Fria. Sob esse aspecto, percebe-se que, na primeira fase da película, a linguagem, impulsionada pela força da ilusão do amor, seja viva e espontânea, e as canções de Alex Beaupain, que pontuam as sequências, sejam melódicas, de charme e de encanto, como Prague e Les chiens ne font pas des chats. Além disso, os dois intérpretes – Ludivine Sagnier (Madeleine jovem) e Radivoje Bukvic (Jaromil jovem) – são de aparência vistosa, cantam e atuam com bastante desenvoltura. Na segunda fase, o brilho da narrativa de Honoré já não é o mesmo, pela dramaticidade em que se dá o desenvolvimento da temática, a do desgaste físico e amoroso das criaturas. Decrescem nela também o ritmo e o vigor, enquanto a música ganha um tom melancólico, como J’en passerai, Jeunesse se passe ou Je ne peux vivre sans t’aimer. O agravamento vem com a posterior substituição dos intérpretes, quando do envelhecimento das personagens. Naturalmente, isso poderia ser evitado pelo uso da maquiagem, que opera, nos dias de hoje, verdadeiros milagres na mudança de fisionomias. Mas se esse recurso fosse posto em prática, não haveria a possibilidade de Catherine Deneuve (Madelei- ne) contracenar com a filha Chiara Mastroianni (Vera), o que foi o objetivo mais do que claro do filme. Os que chegam em cena, trazendo diferentes estilos de atuação – como o do realizador tcheco Milos Forman (Jaromil ), criador de Amadeus (1984) e de outras obras memoráveis –, não se ajustam ao ideal criativo de Honoré. A exceção, nesse ponto, talvez seja o ator americano Paul Schneider, que encarna Henderson, baterista homossexual, mais tarde soropositivo, que Vera conhece, na noite londrina, e por ele se apaixona. Que se passa em seguida? Para superar a falta de ajuste das interpretações, Honoré lança mão de eficiente recurso teatral. Reproduz, ao final da película, a cena do passado, quando principiou o romance entre Madeleine e Jaromil, um sedutor médico tcheco que estava em Paris participando de um congresso de medicina. Com isso, ele traz de volta os dois atores do início. Anteriormente, em flashback, Honoré mostra que Jaromil, então casado com Madeleine, fora localizado por ela, na noite em que houve a sangrenta ocupação de Praga pelos soviéticos, cometendo adultério. Madeleine se separa dele e volta a Paris com a filha ainda criança. Ela conhece François Gouriot (Gillaume Denaiffe), um militar com quem passa a viver, mas sem deixar de ter encontros esporádicos e fortuitos com Jaromil. Mais tarde, após a morte da filha, no cemitério de Reims, cidade onde passou a residir, ainda em companhia de François (Michel Delpech), Madeleine diz para Clément (Louis Garrel), amante de Vera: “O melhor presente que ela lhe deu foi a negativa de se casar com você. Só por isso seu amor por ela dura até hoje. Nada há que destrua o amor como a vida em comum!”. Em termos estéticos, o trabalho de Honoré é, como sempre, marcado por sua inegável intenção de aproximar ao máximo a cena dramática da pintura, ou, melhor dizendo, da pintura teatral, seguindo a linha de Jacques Démy, impulsionador do musical francês na década de 60. E ele o faz, dessa vez, pelas magníficas imagens de Rémy Chavrin, que dirigiu La Deneuve, contracenando com a irmã Françoise Dorléac em Les demoiselles de Rochefort (1967). Mas é de outra obra anterior dele – Os guarda-chuvas do amor (1964), também interpretada por Deneuve – que Honoré faz, como tributo, ligeira citação. Nos créditos finais, ele presta ainda homenagem à memória de Marie-France Pisier, encontrada morta, em abril do ano passado, na piscina de sua residência, em Saint-Cyr-sur-Mer. As bem-amadas (Les bien-aimées) França/Reino Unido/República Tcheca/2011, 139min. Roteiro e direção: Christophe Honoré. Com Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve, Ludivine Sagnier, Louis Garrel, Milos Forman, Paul Schneider, Rdivoje Bukvic, Michel Delpech, Guillaume Denaiffe e Clara Couste. 39 Divulgação luz câmera ação Intocáveis Por Reynaldo Domingos Ferreira O 40 tema da valoração da amizade, abordado em Intocáveis, de Olivier Nakache e Éric Toledano, é recorrente, no cinema francês, nos dias que correm. No caso dessa comédia dramática, é improvável o tipo de afeição que, tal como está exposto, surge do relacionamento entre um culto e milionário tetraplégico desde 1993 – a lembrar talvez o protagonista de O escafrando e a borboleta (2007), de Julian Schnabel – e um jovem pobre e imigrante, originário do Senegal e recém-saído da prisão. O roteiro de Nakache e Toledano é, contudo, inspirado em fatos reais, no livro autobiográfico editado entre nós sob o título Segundo suspiro, de Philippe Pozzo Di Borgo. A obra é constituída não de uma narrativa, mas de esparsas reflexões do autor, até de cunho religioso, sobre sua angústia após perder a mulher, que lhe deixou uma filha, e de sofrer uma queda ao se lançar de parapente do pico de uma das montanhas de Crest-Voland, município da Savoia, nos Alpes franceses. No intróito, pontuado pelo tema musical de Ludovico Einaudi, os roteiristas usam, como condão para dar início a um longo flashback, desabalada corrida, à noite, pelas ruas de Paris, de uma Maserati quatro portas. Ela é dirigida por Driss (Omar Sy), que, sem se importar com a perseguição policial, e tendo Philippe (François Cluzet), o proprietário, no banco do passageiro, comete todas as imprudências no trânsito até ser detido num ponto quase à saída da cidade. Para se livrar da punição, Driss alega aos policiais, com a conivência de Philippe, que sua pressa é causada pelo fato de estar a caminho de uma emergência hospitalar, pois seu patrão, que se encontra ao seu lado, babando, além de ser tetraplégico acaba de sofrer um AVC, necessitando de urgentes cuidados médicos. Os policiais acolhem a justificativa dada por ele e, compadecidos, lhe oferecem escolta até o próximo hospital. Ele saberá, porém, escapulir antes da dar ingresso no pronto-socorro, para, em disparada, tomar destino ignorado, que só ao final da película será conhecido pelos espectadores. Os bons conhecedores do cinema francês não deixarão de identificar, nessa e em outras situações criadas por Nakache e Toledano, estreitas semelhanças com as de Mon pote (2004), de Marc Esposito. O filme narra a história da amizade, que se consolida, entre o dono de uma concessionária de automóveis, Victor (Édouard Baer), e Bruno (Benoît Magimel), um ex-presidiário – grande admirador, como declara, de Ayrton Senna – que lhe pede emprego. Ou então com as de Meu melhor amigo (2006), de Patrice Leconte, que mostra a desesperada procura de um comerciante de antiguidades, François Coste (Daniel Auteil), por um amigo, qualquer que seja, pois não tem nenhum, a fim de vencer o desafio que lhe foi proposto por sua secretária, Catherine (Julie Gayet). É um motorista de táxi, também chamado Bruno (Dany Boon), que vai salvar sua situação, isto é, a carência de ter um amigo verdadeiro. O que confere mais categoria ao filme de Nakache e Toledano em relação à dos anteriormente citados – e que fez dele o mais visto na história cinematográfica da França – é o seu aspecto político, relacio- Intocáveis (Intouchables) França/2011, 113 min. Roteiro e direção: Olivier Nakache e Éric Toledano. Com François Cluzet, Omar Sy, Anne Le Ny, Audrey Fleurot, Clotilde Mollet, Alba Gaia e Cyril Mende. Divulgação nado com o problema da imigração europeia. Nesse sentido, é preciso compreender que Driss é um imigrante como o garoto curdo (Firat Ayverd) vindo do Iraque que, no drama Bem-vindo (2009), de Philippe Lioret, enternece a alma de um professor de natação (Vincent Lindon) em Calais, ao lhe deixar evidente seu intento de atravessar a nado o Canal da Mancha para ir se encontrar com a namorada, cuja família se mudou para Londres. A diretora de arte Olivia Bloch-Lainé, ao decorar a rica mansão parisiense de Philippe, suscita no espectador o aguçamento da percepção de detalhes que definem não só a personalidade dele como também se torna meio de expressão de suas preferências artísticas. Vale destacar que tem esse mesmo propósito a trilha sonora de Einaudi, composta de peças de Chopin (Noturno n. 9), Berlioz, Bach, Albinoni, Vivaldi e, principalmente, Schubert. É dele a Ave Maria que dá a Driss, ao chegar, noção precisa do ambiente em que vai viver durante o período de adaptação no emprego e do choque cultural que enfrentará em seguida – na verdade, com galhardia –, dada a sua autenticidade, que acabará por cativar em definitivo o patrão. É bom ressaltar, a propósito, que ele foi escolhido entre vários candidatos, todos portadores de credenciais aparentemente mais apuradas do que as dele, a fim de servir como acompanhante de Philippe. Mais do que qualquer outro fator, até mesmo da convencional direção de Nakache e Toledano, são as interpretações de François Cluzet, como Philippe, e de Omar Sy, no papel de Driss, que dão à película o seu extraordinário poder de sedução. Os dois atores estão soberbos. Não há como deixar de admitir, porém, que Omar Sy, ganhador do Cesar de melhor ator do ano, incorporou de tal forma as características de Driss em sua própria personalidade que se faz difícil identificar nele o que é interpretação. É possível que, nas primeiras sequências, ele se mostre um tanto caricato, o que não seria desejável. Mas, se isso acontece, é certamente porque os realizadores quiseram antecipar pela atuação da personagem o tom de comédia que pretendiam (e conseguiram) imprimir na linguagem narrativa de um tema originalmente dramático. My way, o mito além da música É extraordinária a atuação do ator belga Jéremie Renier no papel do cantor e compositor Claude François, no filme biográfico My way, o mito além da música, de Florent Emilio-Siri, exibido durante o recente Festival Varilux do Cinema Francês e prestes a entrar em cartaz no circuito comercial. Grande ídolo da juventude francesa nas décadas de 60 e 70, hoje totalmente esquecido, François foi também o autor de, entre outras, a canção My way (Comme d’habitude), que imortalizou Frank Sinatra e se tornou uma das músicas mais ouvidas no mundo. Com uma direção de ritmo frenético, a espelhar a própria vida de Claude François (Jéremie Renier), Florent Emilo-Siri, também autor do roteiro, em colaboração com Jean Rappeneau, evoca com habilida- de técnica as várias facetas do caráter do artista, do homem de negócios, do chefe de família autoritário, antipático, até mesmo odioso, e sedutor, como o pai, Aimé François (Marc Barbé). Mas Claude era, da mesma forma, afetuoso com os dois filhos e preocupado em se manter saudável, pois pouco bebia, não fumava, muito menos usava droga. Sua animação nos shows era, portanto, autêntica, genuína. A película tem início no Canal de Suez, no Egito, onde trabalha Aimé, como operador do mecanismo regulador das comportas. Preocupado com o futuro do filho, ainda criança (Tom Dufour), ele o leva ao trabalho a fim de motivá-lo a aprender seu ofício. Ao voltar para casa, onde a mulher, Chouffa (Monica Scattini), joga pôquer com amigas, ele, exigente, to- 41 Divulgação luz câmera ação 42 ma lições de violino de Claude, aluno do conservatório local. Também não passam despercebidos os olhares trocados por Aimé com uma das parceiras de jogo da mulher. Essa situação estável da família, contudo, sofre forte e definitivo abalo depois de uma crise político-social no Egito, em decorrência da qual Aimé perde o emprego. A família tem de se mudar para Marselha, onde passa a viver em condições precárias, sem ter mesmo o que comer. Claude, já rapazola, consegue ser contratado como baterista de um conjunto musical. Com seu salário, ele pensa poder ajudar a família, mas, ao falar com o pai, sua ideia é por ele prontamente repelida. Aimé quer ver o filho trabalhando em um banco. Os dois se desentendem e Claude é expulso de casa, ganhando, assim, a liberdade de trilhar seu próprio caminho. Contratado como baterista, ele também canta e dança, conquistando o público. Enquanto isso, sua irmã, Josette (Sabina Seyecou), se casa com um homem de posses e melhora a vida dos pais. Incentivado por amigos, Claude grava um disco com suas canções para mostrá-lo a empresários parisienses. De um deles recebe o conselho para ouvir, no Olympia, o tipo de música de que os jovens gostam, pois a dele, melódica, ao estilo da canção tradicional francesa, está ultrapassada. Ele vai a um show de Johnny Halliday (Arthur Defays). Vê como a moçada se comporta, animadamente, ao ritmo do rock. E se convence de que tem condições de criar música semelhante, ou até melhor, para se lançar ao sucesso. É isso o que faz. Depois de ser glorificado pelo público e pela imprensa por suas aplaudidas audições em toda a França, François enriquece, restaura um casarão, leva a mãe a morar com ele – o pai morrera – e conhece a cantora Janet Woollacott (Maud Jurez), com quem, apaixonado, se casa. Ela, porém, fica pouco tempo em sua companhia, pois logo o abandona para viver com o também cantor e compositor Gilbert Bécaud (Emmanuel Rossefelder), autor de Et maintenant... Foi a segunda esposa, Isabelle Forêt, quem lhe deu os dois filhos, Claude Jr. e Marc François. Ele teve ainda esporádicos casos amorosos com France Gall (Josephine Japy) e Sophie Mister (Kathalyn Jones), sua última companheira, que testemunhou sua morte, num acidente doméstico, aos 39 anos. Foi por sentir saudade da rotina de vida que levava com uma delas – possivelmente France Gall – que François interrompeu sua fase de agradar ao público para agradar a si próprio: retomou o tradicional estilo da canção francesa para compor Comme d’habitude, que gravou logo em se- guida. O importante é confirmar, pelo filme, que Frank Sinatra, embora tenha conseguido obter com a canção – a letra em inglês é de Paul Anka – o seu maior sucesso, nunca mostrou interesse, em suas várias viagens à França, em conhecer seu autor. E François, por timidez, mesmo tendo encontrado Sinatra à porta de um hotel, não conseguiu se apresentar a ele. Sem esquecer a excelência da trilha sonora de Alexandre Desplat, o filme deve ser avaliado principalmente pela soberba atuação de Jéremie Renier como o protagonista. Por sinal, foi depois de conhecer o ator e atestar sua impressionante semelhança física com François que os filhos dele autorizaram o início da rodagem da película, com locações na Bélgica e no Marrocos. Foi Renier quem indicou Benoît Magimel para interpretar o empresário Paul Lederman. Irreconhecível pela maquiagem e pelo sotaque judeu-marroquino, Magimel tem também brilhante participação. E, de forma generalizada, o elenco é muito bom. My way – O mito além da música (Cloco) França/2012, 148 min. Direção: Florent Emilio-Siri. Roteiro: Florent Emilio-Siri e Jean Rappeneau. Com Jéremie Renier, Benoît Magimel, Monica Scattini, Maud Jurez, Ana Girardot, Josephine Japy, Kathelyn Jones, Sabina Seyecou, Robert Knepper, Tom Dufour, Marc Barbé, Emmanuel Rossefelder, Arthur Defays e Marie Legault.