CAMBIASSU – EDIÇÃO ELETRÔNICA
Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 2176 - 5111
São Luís - MA, Janeiro/Dezembro de 2010 - Ano XIX - Nº 7
GRAVURA: SUPORTE PARA A EXPANSÃO DOS
MEIOS DE COMUNICAÇÃO, MERCADO E
CONSUMO
Frederico Fernando Souza Silva – Mestrando do Programa de
Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo – SP. Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Email: [email protected]
RESUMO: O estudo discorre inicialmente sobre o contexto histórico da gravura, a litografia
como técnica que viabilizou o consumo das imagens. Trata-se ainda das principais técnicas de
gravação, a sua função no processo de hibridização das culturas e o seu caráter expansivo para
os meios de comunicação. Enfatiza-se os aspectos de memória, identidade e representação
presentes na gravura.
PALAVRAS-CHAVE: Gravura. Hibridismo Cultural. Memória. Identidade. Representação.
ABSTRACT: This study presents initially the historical context of the engraving, lithograph
as a printmaking technique which made feasible the images consumption. It also poses the
main engraving techniques, its relevancy over the cultural hybridism and its expansionism
nature through the means of communication. It emphases memory, identity and pictures’
representation aspects.
KEY-WORDS: Engraving. Cultural Hybridism. Memory. Identity. Representation.
1 INTRODUÇÃO
A informação vem se reproduzindo e disseminando pelo mundo de diferentes
formas. Na sociedade contemporânea, os meios digitais apresentam-se como os principais
elementos para a transmissão de dados e troca de informações. No entanto, o presente estudo
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retoma algumas reflexões sobre um dos mais antigos meios de reprodução e circulação da
informação, a gravura.
A gravura está presente na história dos meios de comunicação e da arte como um
artefato valioso que utilizou cronologicamente da madeira, do metal e da pedra para expandir
nas formas de reprodução da escrita e da imagem. Trouxe contribuições significativas para o
desenvolvimento dos processos gráficos.
Inicialmente, observa-se do ponto de vista histórico, que a gravura foi utilizada na
China, para a estampagem da seda e em seguida utilizada na impressão tabular, substituindo
então, os livros medievais caligrafados. Segundo Dasilva (1976), na China e na Pérsia desde
os tempos mais primitivos foi empregado o estêncil para estampar os tecidos. No século II
a.C., os chineses já imprimiam no pergaminho, usando como matriz a pedra cavada por
sulcos.
A gravura no Ocidente surgiu a partir do século XV com a imagem impressa e a sua
própria reprodução. O processo de gravação ocorria inicialmente com a xilogravura, tornando
possível copiar a imagem diversas vezes.
Sobre as técnicas de gravação e seus processos de produção, pontuamos alguns
aspectos. Inicialmente com a xilogravura, que é a técnica por meio da qual são feitas as
matrizes de madeira para a sua impressão. [...] “os europeus utilizaram intensamente a
xilogravura para produzir imagens sacras – santinhos – e cartas de baralho, em papel
pergaminho” (COSTELLA, 2006: 35).
A gravura em metal surge no século XV, porém ganhou força a partir do século XVI,
podendo ser feita por processos distintos como a água tinta, a água forte e a maneira negra,
ela alcançou um nível maior de precisão das imagens com traços mais delicados, aspectos que
não estavam presentes na gravação sobre madeira.
No final do século XVI, com os Carracci e especialmente com Agostino, a gravura
assume a dignidade de uma técnica artística autônoma, admite-se que a gravura não
transmite apenas a imagem ou o tema, mas também, mesmo operando em um nível
distinto e através de uma série de mediações, o valor integral da obra. (ARGAN,
2004: 16)
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Nesse período de aprimoramento, a gravura se consolida como uma importante
técnica de difusão cultural, principalmente no que se refere aos temas religiosos. Argan
(2004) coloca que a Igreja Católica revalorizou as imagens que a Reforma depreciara e
proibira; encorajou a formação e a difusão de uma nova iconografia sacra que fornecesse a
todos os fiéis os mesmos objetos e os mesmos símbolos para uma devoção de massa;
servindo-se da gravura como um meio poderoso de propaganda religiosa.
Ao final do século XVIII surge a litografia, técnica baseada na impressão plana que
utiliza matrizes de pedra calcária. Ela representou um grande avanço, sobretudo, para os
meios de comunicação da época.
Com a litografia, as técnicas de reprodução marcaram um progresso decisivo. Esse
processo, muito mais fiel – que submete o desenho à pedra calcária, em vez de
entalhá-lo na madeira ou de gravá-lo no metal – permite pela primeira vez às artes
gráficas não apenas entregar-se ao comércio das reproduções em série, mas produzir
diariamente, obras novas. Assim, doravante, pôde o desenho ilustrar a atualidade
cotidiana. E nisso ele tornou-se íntimo colaborador da imprensa. (BENJAMIM,
1983: 6)
2 LITOGRAFIA: imagens de consumo
A partir da litografia, a gravura atinge o seu ponto mais importante enquanto suporte
para as imagens de consumo, viabilizando “uma série de demandas e exigências geradas pela
revolução industrial” (FABRIS, 2008: 12). No processo litográfico descoberto por Alois
Senefelder, em 1797, o desenho original e o desenho impresso são quase que idênticos,
surgindo então a informação visual de primeira mão. A facilidade de execução, o menor custo
dos equipamentos, a recuperação das pranchas e o arquivamento do desenho no papel fazem
da litografia uma técnica revolucionária.
Segundo Fabris (2008), levando-se em conta que no século XIX, uma parcela
considerável da população era analfabeta, a necessidade de informação visual era grande e
crescente, principalmente para a propaganda política e para a publicidade comercial. Esses
são fatores que levam muitos estudiosos a considerar que a partir de então a imagem impressa
atinge sua maioridade.
O processo de produção industrial é determinante para esta maioridade, na medida
em que estabelece uma diferença crescente entre as modalidades e os ritmos de
produção da imagem e aqueles dos bens materiais. Face a uma demanda cada vez
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maior, a produção de imagens vê-se obrigada a pautar-se por novos requisitos:
exatidão, rapidez de execução, baixo custo e reprodutibilidade. (FABRIS, 2008: 12)
Dessa forma, observa-se a técnica litográfica como fator preponderante nas relações
de consumo, propagando informação e conhecimento, estando diretamente relacionada ao
crescimento da indústria no século XIX e conseqüentemente no século XX.
A litografia chega rapidamente ao Brasil, trazida pelo francês Arnaud Julien Pallière
em 1817, logo em seguida passou a ser utilizada pelos órgãos públicos para confecção de
impressos comerciais, como faturas, letras de câmbio e diplomas, além da impressão de
partituras musicais e mapas.
Dessa forma, reitera-se a relevância da gravura para a formação da imprensa,
disseminando
conhecimento
através
do
trabalho
editorial,
contribuindo
para
o
desenvolvimento das ciências e da cultura em geral.
Situando-se na mesma posição da mãe da imprensa, com a descoberta dos tipos
móveis, sua participação foi importante para a disseminação do conhecimento
através do trabalho editorial, que ensejou o desenvolvimento das ciências, das artes e
da cultura em geral. Nessa longa marcha, a gravura renovou-se, acresceu-se de
novos valores, participou do aperfeiçoamento dos processos gráficos, para colocarse em pleno século XX como arte independente, presente nos salões de arte e
grandes certames. (MARTINS, 1987: 16):
A história da gravura no Brasil está diretamente ligada à tipografia, principalmente
após a chegada da família real em 1808 e a instalação da Imprensa Régia. Durante esse
período a gravura teve grande importância na criação de rótulos e ilustrações para livros.
3 INFLUÊNCIAS ENTRE CULTURAS
A partir dos relatos dispostos anteriormente sobre a história da gravura, fica evidente
que o processo de confluência de diferentes culturas a partir da propagação da informação
aconteceu quase que naturalmente. Dessa forma, a gravura pode ser analisada como um
suporte importante para o processo de hibridização das culturas.
A circulação da imagem e o diálogo com a arte de diferentes locais enriqueceu e
reconfigurou as práticas culturais do ponto de vista estético e intelectual. Essa fusão cultural
fica evidente, por exemplo, nos traços da pintura européia presente nas obras de países
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orientais, latinos e norte-americanos; da mesma forma ocorre a influência desses países sobre
na arte do “velho mundo”.
As imagens também podem ser híbridas, como o historiador Serge Gruzinski mostra
em um estudo notável da arte cristã do México na primeiras décadas depois da
chegada dos missionários. A maioria das imagens foi feita por artesãos locais
imitando mestres europeus (como o irmão leigo flamengo fray Pedro de Gante) ou
modelos europeus, como pinturas e gravuras. Consciente ou inconscientemente, os
artistas locais modificavam o que copiavam, assimilando tudo a suas próprias
tradições e produzindo o que às vezes é conhecido como arte “indo-cristã”.
(GRUZINSKI apud BURKER, 2003: 25)
Encontrar uma mesma imagem em países ou regiões distantes do local de origem;
seja em um museu, exposição ou coleção particular, faz da gravura uma arte extensiva, na
contramão da escassez. Ela tem esse poder multiplicador ímpar perante as demais expressões
artísticas. A gravura não só influencia como também dá novas alternativas de mudança dentro
do que já foi feito no meio de uma determinada sociedade.
Neste contexto, Burker (2003) observa que, quando imagens ocidentais,
especialmente gravuras, chegaram na China no final do século XVI junto com missionários
católicos como Matteo Ricci, elas ajudaram a transformar a tradição chinesa de pintura
paisagista. Os artistas chineses não se converteram ao estilo ocidental – eles resistiram à
perspectiva, por exemplo - mas o conhecimento de uma alternativa a suas próprias
convenções para a representação de paisagens os libertou destas convenções e permitiu que
fizessem suas próprias inovações.
A idéia de hibridização cultural muitas vezes está ligada à mistura de diferentes
etnias dentro de uma sociedade, como se observa nas grandes metrópoles, no entanto é
possível perceber também a hibridização ocorrendo em atividades mais específicas como é o
caso do artesanato, das artes plásticas, da culinária, dentre outras.
Exemplos de hibridismo cultural podem ser encontrados em toda parte, não apenas
em todo globo como na maioria dos domínios da cultura – religiões sincréticas,
filosofias ecléticas, línguas e culinárias mistas e estilos híbridos na arquitetura, na
literatura ou na música. Seria insensato assumir que o termo “hibridismo” tenha
exatamente o mesmo significado em todos estes casos. (BURKER, 2003: 23)
A tradução entre culturas pode parecer um fenômeno do mundo globalizado devido à
rapidez com que as pessoas de diferentes lugares estão se comunicando, mas essas trocas de
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informações vêm ocorrendo a bastante tempo, nesse contexto a gravura está inserida como um
objeto tradicional nas relações de interação cultural.
Assim, enfatiza-se a finalidade que a gravura tem de estabelecer uma nova percepção
sobre a pluralidade de linguagens proveniente dessa mescla de manifestações culturais e a sua
contribuição na formação das culturas híbridas.
4 MEMÓRIA, IDENTIDADE E REPRESENTAÇÃO
Originalmente, a coisa gravada era destituída de valor estético, sendo apenas uma
presença testemunhal. Ainda não estabelecia relação com nenhum sistema de representação.
Porém mais tarde, o objeto gravado se enquadrou no universo dos objetos estéticos
representativos. Inicialmente com valor simbólico, não se figurava como um objeto de arte; a
gravura era usada apenas para marcar o lugar, mas sem ostentar uma vontade artística. No
entanto, ao final do período oitocentista e início do século XX as pesquisas sobre os acervos
iconográficos ganham força e desperta a atenção dos estudiosos.
Dessa forma, faz-se uma reflexão sobre a gravura e seus aspectos identitários,
tomando a técnica litográfica como exemplo; a sua importância na construção dos registros
imagéticos e o seu diálogo com os demais meios de comunicação como a fotografia e o
cinema, tendo como esteio o pensamento de Walter Benjamin.
Benjamin confere valor à litografia enquanto uma técnica de reprodução que utiliza a
mão para realizar a tarefa artística, em contraponto à fotografia que depende apenas do “olho
fixo sobre a objetiva” para produzir uma imagem; tornando-se um processo mais rápido e
ágil. “A litografia abria perspectivas para o jornal ilustrado; a fotografia continha o germe
do cinema falado.” (Benjamin, 1983)
Nesse sentido, cabe então pensar o valor da gravura, não somente da lito, como
também da xilogravura e da gravura em metal, como um objeto artístico-cultural que não
carrega a aura da unicidade, da autenticidade, porém oferece, enquanto suporte um forte valor
representativo das culturas de uma sociedade, contribuindo para a perpetuação de suas
identidades e memórias.
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Seguindo o pensamento de Benjamin (1983) em “A obra de arte na época de suas
técnicas de reprodução”, o autor vai ao encontro desse pensamento declarando de que a
caracterização da autenticidade de uma coisa é tudo aquilo que ela contém, e é originalmente
transmissível, desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico.
A partir dos estudos realizados nas últimas décadas sobre as representações, práticas
e identidades culturais, foram feitas relações com as coleções de obras de arte e documentos
de diferentes acervos públicos e privados. De forma que os historiadores denominaram tais
pesquisas como uma cultura de colecionar. A prática do colecionismo está relacionada
também à necessidade de trazer para o contexto da sociedade contemporânea novas
discussões e possibilidades de diálogos desses acervos com as novos suportes de criação e
informação.
As coleções são um tema da história das práticas que atrai os historiadores da
arte e da ciência e as equipes de galerias e museus. The Journal of the History
Collections foi fundado em 1989, e um grande número de estudos
importantes sobre os “gabinetes de curiosidades”, museus e galerias de arte
também apareceu naquela época. O foco principal está no que foi descrito
como a “cultura da coleção”. Os acadêmicos vêm estudando o que era
colecionado, a filosofia ou psicologia do ato de colecionar, a organização das
coleções, suas categorias básicas (a teoria subjacente à prática) e finalmente,
o acesso às coleções, em geral de propriedade privada antes da Revolução
Francesa, mas que desde então se tornaram cada vez mais públicas. (Burke,
2005: 80)
Há várias possibilidades de interpretação dos textos imagéticos, podendo oferecer
reflexões sobre paisagens de época e como esses mesmos espaços são vistos na sociedade de
hoje, a sua importância no passado e no presente. Assim como, formular questionamentos a
respeito das transformações estéticas e sociais ocorridas nos espaços urbanos e rurais, o
deslocamento da população, são aspectos passíveis de identificação e representatividade.
Resgatar a memória é interesse não só dos historiadores como do público em geral,
[...] “esse interesse cada vez maior provavelmente é uma reação à aceleração das mudanças
sociais e culturais que ameaçam as identidades, ao separar o que somos daquilo que fomos”.
(BURKE, 2005: 88)
Sem dúvida, há um interesse popular pelo resgate da memória. Assim sendo, é
importante intensificar o trabalho de pesquisa sobre a memória presente nos acervos, de forma
a reafirmar e fortalecer a necessidade de conhecer o passado, pois [...] “a história da memória
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é um campo que revela com rara clareza a importância dos esquemas ou estereótipos, e esses
esquemas ajudam a perpetuar as memórias”. (BURKE, 2005: 88)
Tomando como base os estudos das culturas nacionais, sob a luz de Stuart Hall
(2001), percebe-se que há um conjunto de valores e significados essenciais, sobretudo pelas
representações e identidades presentes na cultura de um povo.
As culturas nacionais, ainda segundo Hall (2001), são compostas não apenas de
instituições culturais, mas também de símbolos e representações. Desse modo, a linguagem
visual expressa através das técnicas de gravura demonstra parte de uma cultura a partir dos
textos, paisagens e personagens nela descritos e todo o contexto de época presente. Essa
interação do observador com a obra gera, direta ou indiretamente, um sentimento de
identificação do indivíduo com esses diferentes símbolos e representações.
Ainda sobre o pensamento de Hall (2001), ele declara que, as culturas nacionais, ao
produzir sentidos sobre “nação”, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem
identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação,
memórias que conectam seu presente com seu passado e imagens que dela são construídas.
É necessário atentar constantemente para a importância de conhecer e recuperar as
identidades de uma sociedade como forma de adentrar o presente e avançar para o futuro de
forma consciente sem ocultar ou desconhecer os importantes fatos da história. [...] “as
culturas nacionais são tentadas, algumas vezes, a se voltar para o passado, a recuar
defensivamente para aquele ‘tempo perdido’, quando a nação era ‘grande’; são tentadas a
restaurar as identidades passadas” Hall (2001: 56). Este constitui o elemento regressivo da
estória da cultura nacional. Mas freqüentemente esse mesmo retorno ao passado oculta uma
luta para mobilizar as pessoas para que purifiquem suas fileiras, para que expulsem os outros
que ameaçam sua identidade e para que se preparem para uma nova marcha para frente.
Através das diferentes técnicas de gravação já citadas anteriormente criaram-se obras
que nos falam das paisagens, costumes e cenas religiosas que instigam o observador a
perceber que diferentes símbolos podem ter a mesma representação e importância embora
pertençam a culturas diferentes.
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Duas questões gerais surgem com particular clareza da discussão das imagens
híbridas, embora elas tenham uma relevância muito mais ampla. Em primeiro lugar
há a importância dos estereótipos ou esquemas culturais na estruturação da
percepção e na interpretação do mundo. No nível microcósmico, o esquema tem
uma função semelhante à visão de mundo ou ao estado de coisas característico de
uma determinada cultura. Em segundo lugar, há a importância do que poderiam ser
chamadas de “afinidades” ou “convergências” entre imagens oriundas de diferentes
tradições. (BURKER, 2003: 26)
5 DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
A gravura tem todas as qualidades para ser uma arte popularizada. Seu parentesco
com a arte gráfica, presente no nosso cotidiano, o jornal, o livro, o cartaz, etc. Sua reprodução
em maior quantidade, a torna mais acessível, lhe dá a capacidade de decorar ambientes, de
estar presente nos livros, de poder ser armazenada em pastas ou gavetas.
Na gravura, é possível observar a proporcionalidade e o equilíbrio dos traços e
linhas. Ela ainda revela realidades ocultas e muitas vezes podem interiorizar as impressões e
sons locais de épocas distantes.
A partir dos acervos de gravuras é possível encontrar diferentes temas que
possibilitam uma imersão em períodos da história da iconografia brasileira que revelam
importantes relatos de época.
Podemos citar como exemplo o álbum Brésil Pittoresque (1859) de autoria do
fotógrafo francês Victor Frond. Foi o primeiro livro de litografias, realizado na América
Latina, o qual reuniu um total de 78 imagens que foram litografadas na casa de impressão
Imprimerie Lemercier, em Paris.
O livro apresenta paisagens de época das cidades do Rio de Janeiro, Recife e Bahia,
popularizando temas como o Pão de Açúcar, os Arcos da Carioca e o Outeiro da Glória,
estabelecendo assim os padrões da fotografia de paisagem no país. Além dos registros
naturais, Frond preconizou uma produção mais consistente, documentando também o trabalho
escravo e a vida rural, colocando-o na posição de precursor da antropologia visual no Brasil.
Nesse sentido, observa-se que as produções artísticas tomaram caminhos ainda mais
extensos, disseminando conhecimento e reflexão a partir das formas imagéticas, utilizando o
suporte litográfico como meio divulgador de novas propostas.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gravura reafirma sua importância para o alargamento dos meios de comunicação,
de forma que suas técnicas, respeitando as limitações de época, souberam implementar nos
suportes todo um imaginário do seu tempo. Popularizou-se aquilo que fora um privilégio de
poucos até então, novas concepções de espaço também geraram a posse simbólica do que até
então era completamente desconhecido.
Se hoje a informação circula pelo mundo em velocidade quase que instantânea, no
passado os povos tinham na imagem gravada sobre madeira, no burilado sobre metal e no
desenho sobre a pedra um aparato tecnológico para acessar os acontecimentos no mundo,
ditando assim os primeiros caminhos dos meios de reprodução que hoje fazem parte do nosso
cotidiano.
Entender o caminho dos meios de comunicação nos últimos séculos é relevante do
ponto de vista da perpetuação da própria história cultural da informação e seus
desdobramentos. A gravura enquanto objeto artístico-cultural aponta os caminhos para
identificar e pontuar essa trajetória, revelando novas formas e perspectivas para o
desenvolvimento dos estudos culturais.
REFERÊNCIAS
ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e persuasão: ensaios sobre o barroco. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
COSTELLA, Antonio F. Introdução à gravura e à sua história. Campos do Jordão, SP:
Editora Mantiqueira, 2006.
DASILVA, Orlando. A arte maior da gravura. Ed. Espade, 1976.
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FABRIS, Annateresa. Fotografia: Usos e Funções no Século XIX. ed. 1. reimpr. – São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
MARTINS, Itajahy, 1927 – Gravura: arte e técnica /Itajahy Martins. – São Paulo:
Laserprint: Fundação Nestlé de Cultura, 1987.
Textos escolhidos / Walter Benjamin, Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Jürgen
Habermas; traduções de José Lino Grünnewald ... [et al.]. São Paulo; Abril Cultural, 1983.
(Os pensadores).
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