564 EVAPORAÇÃO 10-5: Esquema de cálculo de um evaporador de multiefeitos (caso de um evaporador triplo, em que i 1, 2, 3). V i e Li são, respectivamente, os caudais de vapor provenientes da evaporação da solução e de líquido que saem do evaporador i. Ai e Am são as áreas de transferência de calor do evaporador i e média. FIGURA 565 10.5EVAPORADORES DE EFEITO MÚLTIPLO 9. Estimar novos valores de T1, T2 e T3 de T1 A1T1 Am T2 A2 T2 Am T3 A3 T3 Am tal que seja obedecida a soma T1 T2+ T3 3 T i 1 Se esta soma não for obedecida, ajustar os três T , até que a soma seja satisfeita. Depois disso, calcular a temperatura de ebulição em cada efeito. 10. Com os últimos valores de T determinados no passo anterior, repetir os cálculos começando no passo 5. Normalmente são suficientes duas ou três iterações para obter áreas aproximadamente iguais. Como critério de convergência, admitir, para cada área, erros iguais ou inferiores a 10% relativamente à área média, isto é, Ai Am 0.1 Am com i 1,2,3 Exemplo 10.4 Um evaporador triplo em co-corrente concentra 22 500 kg/h de uma solução aquosa a 21.8ºC com 5% (em massa) de um açúcar até atingir 25% de sólidos, usando vapor saturado a 200 kPa como fluido de aquecimento. O calor específico (em kJ ºC–1 kg –1) de cada solução aquosa é aproximadamente dado por cp 4.19 − 2.35x, onde x é a fracção mássica do soluto. A pressão no interior do último efeito é 15.0 kPa e os coeficientes globais de transferência de calor de cada efeito (em W m –2 ºC –1 ) são U 1 2319, U2 2194 e U 3 1296. Desprezando a elevação ebulioscópica em cada solução, calcule: a) O caudal da solução que sai do 3.º efeito. b) A área de cada efeito, admitindo que são iguais em cada efeito. c) O caudal do vapor de aquecimento. d) As temperaturas de ebulição das soluções dentro de cada efeito. e) A economia do evaporador. 566 EVAPORAÇÃO Resolução: a) Começamos por obter as temperaturas, do vapor de aquecimento, Ts , e de saturação correspondente à pressão no interior do 3.º efeito, T 3 . Das Tabelas de Vapor (Ap. D) tiramos: Para 200 kPa, ts 120.2ºC. Para 15 kPa, t sat t3 52.9ºC (temperatura no interior do 3.º efeito, pois desprezamos a elevação ebulioscópica provocada pela presença do soluto). Fazemos de seguida um balanço mássico, global e ao sólido: F 22 500 L3 + (V 1 + V 2 + V 3) (1) e, considerando, como é habitual, que o soluto é não-volátil: x F F y 3 V 3 + x 3 L3 x 3 L3 0.05 22 500 0.25 L 3 L 3 4500 kg/h (2) b) Substituindo (2) em (1), obtemos: V V1 + V 2 + V 3 F – L 3 22 500 – 4500 18 000 kg/h (3) Vamos admitir, de início, que cada efeito vaporiza os mesmos caudais de solução, isto é, que V 1 V 2 V3 18 000/3 6000 kg/h 567 10.5EVAPORADORES DE EFEITO MÚLTIPLO Do balanço de massa global a cada um dos evaporadores, vem: F 22 500 V 1 + L 1 6000 + L 1 L 1 16 500 kg/h L 1 16 500 V 2 + L 2 6000 + L 2 L 2 10 500 kg/h L3 4500 kg/h L 2 10 500 V 3 + L 3 6000 + L 3 Do mesmo modo, fazendo um balanço de massa aos sólidos: xF F y1V1 + x 1L1 0.05 × 22 500 0 + x 1 16 500 x 1 0.068 x 1 L 1 y 2 V 2 + x 2 L 2 0.068 × 16 500 0 + x 2 10 500 x 2 0.107 x 2 L2 y 3 V3 + x 3 L3 0.107 × 10 500 0 + x 3 4500 x 3 0.250 Assim, como as áreas de transferência de calor são iguais em cada efeito, vem da Eq. (10.12): 3 T T1 T2 T3 i 1 (Ts T1 ) (T1 T2 ) (T2 T3 ) Ts T3 120.2 52.9 67.3 oC 3 T1 T i 1 1 / U1 1 / U1 1 / U2 1 / U3 (67.3) (1 / 2319) 17.5ºC (1 / 2319) (1 / 2194) (1 / 1296) T2 (67.3) (1 / 2194) 18.5ºC (1 / 2319) (1 / 2194) (1 / 1296) T3 (67.3) (1 / 1296) 31.3ºC (1 / 2319) (1 / 2194) (1 / 1296) Ajustamos, agora, as temperaturas para recalcular novos valores dos caudais de líquido. 568 EVAPORAÇÃO Precisamos saber estas temperaturas, pois o caudal de vapor, S, é determinado pelo balanço de energia. Para isso, é necessário conhecer as temperaturas em cada efeito e os calores específicos de cada solução aquosa (os quais são função da temperatura e da concentração da solução dentro de cada um dos três efeitos) . Começamos por determinar as temperaturas de ebulição em cada efeito: t 1 ts – T 1 120.2 – 17.5 102.7ºC t 2 t1 – T2 102.7 – 18.5 84.2ºC t 3 t2 – t3 84.2 – 31.3 52.9ºC De seguida obtemos, dos dados fornecidos, os calores específicos das soluções aquosas em cada efeito e da corrente de alimentação usando a equação: c p 4.19 − 2.35x F (x 0.05): c p,F 4.072 kJ/(ºC kg) L 1 (x 0.068): c p,1 4.030 kJ/(ºC kg) L 2 (x 0.107): c p,2 3.939 kJ/(ºC kg) L 3 (x 0.250): c p,3 3.602 kJ/(ºC kg) Uma vez que admitimos que o soluto é não-volátil, o vapor resultante da vaporização de cada uma das soluções em cada efeito é água (pratic amente) pura. Assim, tiramos das Tabelas de Vapor (Ap. D) as seguintes entalpias de vaporização: t s 120.2ºC (p sat 200 kPa) t 1 102.7ºC t 2 84.2ºC t3 52.9ºC vap hs 2201.5 kJ/kg vaph 1 2248.8 kJ/kg vap h2 2297.1 kJ/kg vaph 3 2374.8 kJ/kg 569 10.5EVAPORADORES DE EFEITO MÚLTIPLO Balanços de massa para obter os caudais da solução vaporizada: F V1 + L1 L 1 V2 + L 2 L2 V3 + L3 V 1 F – L1 22 500 – L 1 V 2 L1 – L2 V3 L 2 – L 3 L 2 – 4500 Estamos agora em condições de fazer um balanço de energia em cada efeito. Como estado de referência consideramos o líquido a 0º C (para o qual fixamos uL = 0 e hL 0) pois é este o estado de referência em que se baseiam as Tabelas de Vapor. Evaporador 1 (t1 102.7ºC): F hF ShsV L1h1L V1h1V ShsL F hF S vap hs L1h1L V1h1V Fcp,F (tF 0) S vaphs L1 c p,1 (102.7 0) V1 2679.1 22 500 4.072 21.8 S 2201.5 L1 4.030 102.7 (22 500 L1) 2679.1 (4) onde h1V , a entalpia do vapor saturado a 102.7ºC, foi retirada das Tabelas de Vapor e os valores de c p são os obtidos anteriormente. Evaporador 2 (t 2 84.2ºC): L1c p,1 (t1 0) V1vaph1(t1) L2c p,2 (84.2 0) V2h2V (t2 ) L1 4.030 102.7 (22 500 L1) 2248.8 L2 3.939 84.2 (L1 L2 ) 2649.9 (5) Evaporador 3 (t 3 52.9ºC): L2c p,2 (t2 0) V2 vaph2 L3c p,3 (t3 0) V3h3V L2 3.939 84.2 ( L1 L2 ) 2297.1 4500 3.602 52.9 (L2 4500) 2596.6 (6) Resolvendo simultaneamente as Eqs. (5) e (6), determinamos L 1 e L 2 e os novos valores dos caudais de solução que se evaporaram: L 1 16 896 kg/h L 2 10 859 kg/h 570 EVAPORAÇÃO V 1 22 500 – L 1 5604 kg/h V 2 L 1 – L2 6037 kg/h V 3 L 2 – 4500 6359 kg/h Substituindo o valor de L 1 na Eq. (4), determinamos um primeiro valor para o caudal do vapor de aquecimento: S 9095 kg/h Em resumo: Assumido (kg/h) S L1 L2 L3 Calculado (kg/h) 9095 16 896 10 859 4500 − 16 500 10 500 4500 Para garantirmos que estes valores são os finais, temos de usar um critério. O mais comum, por ser correcto, é a igualdade das áreas de transf erência de calor, pois os efeitos são, muito frequentemente, iguais entre si. Vamos, pois, verificar se é obedecido o critério da igualdade das áreas de transferência de calor de cada efeito. Se este critério não for obedecido, seguimos o procedimento indicado na Fig. 10-5. Obtemos a área de cada efeito de Ai qi Ui Ti Assim, temos para as três quantidades de calor cedidas no aquecimento de cada solução: q1 S vaphs 9095 2201.5 20 023 MJ/h 5.56 MW q2 V1 vaph1 5604 2248.8 12 602 MJ/h 3.50 MW q3 V2 vaph2 6037 2297.1 13 868 MJ/h 3.85 MW 571 10.5EVAPORADORES DE EFEITO MÚLTIPLO Conhecidos q1 , q2 e q 3, calculamos as áreas de transferência de calor em cada efeito: A1 A2 q1 5.56 106 W 137.0 m2 2 U1T1 2319 17.5 (W m ºC1 )(º C) q2 3.50 106 86.2 m2 U2 T2 2194 18.5 A3 q3 3.85 106 94.9 m2 U3 T3 1296 31.3 Fazendo a média destes três valores das áreas, obtemos A m 106.0 m2 Admitindo, como é razoável, um erro de 10% em cada área relativamente à área média (ver o esquema de cálculo da Fig. 10-5), as áreas calculadas apresentam um desvio apreciável (entre 10 e 29%) em relação ao valor médio. Justifica-se, por isso, procedermos a uma nova iteração. Para passar à 2.ª iteração, e seguindo o esquema da Fig. 10-5, vamos precisar calcular novas concentrações e capacidades caloríficas das corre ntes que saem dos evaporadores 1 e 2, com base nos últimos valores calculados para os caudais de líquido em cada efeito. Assim: x F 0.05 22 500 x1 F L1 16 896 0.066 c p,1 4.19 2.35 0.066 4.035 kJ/( ºC kg) x L x F 0.05 22 500 x2 1 1 F L2 L2 10 859 0.104 c p,2 4.19 2.35 0.104 3.946 kJ/( ºC kg) Temos também que calcular uma nova distribuição de temperaturas. Vamos fazê-lo com base nas equações da etapa 9 (pág. 565): T1 T2 A1T1 137.0 17.5 22.6ºC Am 106.0 86.2 18.5 15.0ºC 106.0 T3 94.9 31.3 28.0ºC 106.0 572 EVAPORAÇÃO Uma vez que a soma destas temperaturas deve ser 67.3ºC e que, para os valores obtidos, T1 T2 T3 65.6ºC 67.3ºC temos de efectuar um reajuste (aleatório) dos valores de Ti. Por exemplo, fazendo T1 24.3ºC, mantendo os restantes, vem para as novas temperaturas, t 1 = ts – T1 = 120.2 – 24.3 = 95.9ºC t 2 = t 1 – T2 = 95.9 – 15.0 = 80.9ºC t 3 = t 2 – T3 = 80.9 – 28.0 = 52.9ºC Das Tabelas de Vapor retiramos novamente os valores das entalpias da fase vapor e das entalpias de vaporização do líquido, a estas temperaturas: A 95.9ºC: h1V 2669.1 kJ/kg vaph1 2267.3 kJ/kg A 80.9ºC: h2V 2644.4 kJ/kg vaph2 2305.6 kJ/kg A 52.9ºC: h3V 2596.6 kJ/kg Procedendo como atrás, com base neste novo conjunto de valores, os balanços entálpicos conduzem a: L 1 16 836 kg/h V 1 22 500 – L 1 5664 kg/h V 3 L2 – 4500 6320 kg/h L 2 10 820 kg/h V 2 L1 – L 2 6016 kg/h S 8912 kg/h Para as novas áreas, obtemos A 1 96.7 m 2 A 2 108.0 m 2 A 3 106.0 m 2 O valor médio das áreas é, agora, Am 103.6 m2, o qual está a 10% do valor de cada uma das áreas calculadas. Assim, a área de transferência de calor em cada efeito é A 103.6 104 m2 573 10.6EQUIPAMENTO c) O caudal do vapor de aquecimento a usar é o último valor calculado na alínea anterior para esta grandeza: S 8912 kg/h d) Estas temperaturas já foram determinadas na alínea b): t 1 95.9ºC t 2 80.9ºC t 3 52.9ºC e) A economia deste evaporador triplo é determinado da Eq. (10.14). Das alíneas anteriores sabemos que a quantidade total de solução ev aporada é V N Vi 18 000 kg/h i 1 tendo sido gasto o caudal S 8912 kg/h de vapor de aquecimento. Substituindo valores, obtemos N Vi Economia V i 1 S S 18 000 2.02 2.0 8912 Ao contrário dos evaporadores simples onde a economia é sempre menor que 1, a economia de um evaporador de multiefeitos é sempre maior que a unidade, podendo atingir um valor igual ao número de efeitos, N. 10.6 EQUIPAMENTO Como vimos atrás, a evaporação requer que seja fornecido calor à solução para vaporizar o solvente. Este calor, que é considerável uma vez que co rresponde à entalpia de vaporização do solvente (água na maioria dos casos), é obtido frequentemente através da condensação do vapor de água. O tipo de equipamento usado na evaporação é por isso dependente do método de aquecimento da solução a evaporar. O aquecimento directo usa a radiação solar ou o borbulhamento de gases quentes (por exemplo, gases de combustão que estejam disponíveis e que não provoquem contaminação dos produtos).