“Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que morre se vestir com o que não
pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída; a vitória é
total” (Paulo – Carta aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – versículo 54).
O espiritualista e o
monismo
Este livro contém transcrição de palestra espiritual realizada em 08/12/2012 em
Peruíbe – SP por incorporação pelo amigo espiritual JOAQUIM DE ARUANDA
organizada por FIRMINO JOSÉ LEITE, MÁRCIA LIZ CONTIERI LEITE
ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL
R. Pedro Pompermayer, 13 – Rio das Pedras – SP
(19) 3493-6604
WWW.meeu.com.br
MARÇO - 2013
O espiritualista e o monismo
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Índice
Ousar ..................................................................................................................................... 6
1ª. palestra ........................................................................................................................... 30
Elevação espiritual ............................................................................................................ 30
Oração .............................................................................................................................. 36
O estudo do espírito .......................................................................................................... 39
Comunhão espiritual ......................................................................................................... 40
Pensamentos .................................................................................................................... 46
Religiosidade .................................................................................................................... 46
O carma e o teatro da vida ............................................................................................... 48
Assédio sexual .................................................................................................................. 49
Amar o próximo................................................................................................................. 50
Condenação ...................................................................................................................... 53
Consciências ..................................................................................................................... 54
O espírito e o ser humano ................................................................................................ 54
Interesses.......................................................................................................................... 55
Véu do esquecimento ....................................................................................................... 56
Apenas viver ..................................................................................................................... 58
Experiências carnais ......................................................................................................... 58
A vida e a Causa Primária ................................................................................................ 59
2ª Palestra ........................................................................................................................... 61
Amar universalmente ........................................................................................................ 61
Consciência de ter se libertado ........................................................................................ 62
Libertando-se do maya ..................................................................................................... 64
O valor do ego .................................................................................................................. 67
A necessidade de encarnar .............................................................................................. 68
Medo ................................................................................................................................. 69
Ser humano ...................................................................................................................... 70
Amar.................................................................................................................................. 71
Práticas recomendadas .................................................................................................... 73
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O espírito e a inteligência ................................................................................................. 74
Adoração ........................................................................................................................... 75
Fazer o bem ...................................................................................................................... 75
Realizações ...................................................................................................................... 77
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Ousar
Para começarmos nossa conversa de hoje, gostaria de fazer uma pergunta: qual a
responsabilidade do espírito? Qual a responsabilidade que o espírito assume ao encarnar?
A nossa responsabilidade como encarnado é a de promover a reforma íntima. Todos os
espíritos que estão ligados a uma consciência material só se encontram neste estágio da sua
existência espiritual porque assumiram o compromisso de buscar a elevação espiritual através da
reforma íntima.
Se isto é verdade, é necessário, então, que se faça mais uma pergunta: o que é preciso
para promover a reforma íntima? Do que precisa um espírito para honrar o compromisso assumido
com Deus e com a espiritualidade antes da encarnação? Será que apenas o desejo de fazê-la é
suficiente?
O ser humanizado pode ter muita vontade de fazer, mas nunca chegar a realizar, pois a
vontade precisa se transformar em Realidade. Não basta apenas ter vontade: é preciso realização.
A partir do momento que o ser humanizado compreende a responsabilidade assumida
antes da encarnação entende a necessidade da realização. Mas, só compreender não adianta,
pois ele pode no primeiro obstáculo desistir.
Você pode ter vontade de reformar-se, pode desejar ardentemente elevar-se, mas se o
desejo não se transformar em prática nada será conseguido. Só que para que esta prática ocorra
há um elemento que é fundamental e sem ele nada se consegue em termos de elevação espiritual.
Claro, que o primeiro mandamento deixado por Cristo (amar a Deus sobre todas as coisas)
é fundamental, mas o ser humanizado pode até amar ao Pai, mas na primeira adversidade
estancar a prática da reforma íntima. Claro que existem muitos outros fatores tais como vontade,
perseverança, afinco e outros que são importantes, mas um é fundamental.
Para que você promova a sua reforma íntima, ou seja, alcance a consciência espiritual –
ter valores (verdades) na memória condizentes com a Realidade espiritual – é preciso que você
ouse. A ousadia é uma característica fundamental de todos aqueles que conseguiram promover a
sua reforma íntima, ou seja, conseguiram eliminar a consciência material e se fundiram com Deus.
A promoção da reforma íntima por parte de um ser encarnado, acima de tudo, é um ato de
ousadia. É necessário coragem para ousar, mas é preciso ousar nesta vida, pois sem a ousadia
não se realiza nada.
Qual o contrário de ousar? Acomodar-se. E o que é acomodar-se para um espírito que
assumiu a responsabilidade de executar a sua elevação espiritual? É viver como a humanidade
vive, perpetuar a sua ação dentro dos papéis planetários guiados pelas verdades da consciência
terrestre.
O espiritualista e o monismo
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NOTA: Papéis planetários – Diz-se das funções que o espírito vivencia durante
a vida carnal: pai, mãe, filho, professor, médico, etc.
A acomodação se dá quando, mesmo de posse dos ensinamentos deixados pelos mestres,
o ser humanizado continua vivendo como todo resto da humanidade, ou seja, continua balizando a
sua existência dentro dos códigos de normas e comportamento impostos pela sociedade.
Isto é acomodação e com esta postura nenhum ser humanizado realiza a sua reforma
íntima. De nada adianta se conhecer profundamente os ensinamentos trazidos pelos enviados de
Deus, se o espírito não ousar colocá-los em prática indo contra a rotina da humanidade, jamais
conseguirá realizar aquilo que se comprometeu em fazer.
Para que você realize a sua elevação espiritual é preciso que vá além das regras
societárias do planeta que, afinal de contas, preservam a humanidade do ser e não visam à
espiritualização deste. Por isto, é preciso ir além das regras das sociedades.
É preciso ir além dos preconceitos, das críticas e de todas as verdades pré-estabelecidas.
É preciso ousar ir contra os sistemas pré-estabelecidos que há milhares de anos servem ao ser
humano, ou seja, aprisionam o espírito na busca do bem material (as paixões e o prazer oriundo
da satisfação dos desejos).
Sem a ousadia de buscar reformar a sua vida a partir de novos parâmetros libertando-se
da escravidão da mesmice humana que ocorre há séculos, você não vai conseguir realizar aquilo
que se comprometeu. Ficará preso no igual a que todo mundo faz e quem caminha igual chega no
mesmo fim do outro. Portanto, ousar ser diferente é fundamental para a reforma íntima.
O que quer dizer o ensinamento de Cristo a respeito de oferecer a outra face? É ousar
reagir de um modo diferente aos acontecimentos. Ousar não brigar com quem briga com você,
quando a sociedade espera que reaja à altura a agressão sofrida.
É ousar ser taxado de bobo, de idiota por não reagir. É ousar perder aparentemente
alguma coisa, mesmo que a sociedade lhe cobre que você deve ganhar sempre.
Sem a ousadia, ou seja, sem uma ação diferente da normalidade, do padrão préestabelecido e esperado pela sociedade, você não consegue realizar a sua reforma íntima.
Digo isto porque o que a sociedade espera e cobra dos seres humanos é revidar quando
agredido. Quando ele não reage dentro dos padrões, é criticado, injuriado e acusado de não saber
viver. Portanto, para poder se reagir de uma forma diferente é necessário ousar, pois a sociedade
lhe cobrará a postura e você que busca a elevação espiritual não poderá se ofender com isto.
Esta não ofensa com a reação da sociedade terá que nascer da consciência de que se não
ousar fazer diferente, jamais conseguirá aquilo a que se propôs, porque estará preso no mesmo
caminho daqueles que não conseguem. Conscientizando-se da necessidade da ousadia, você
poderá ir contra os padrões, mas sem isto, sofrerá no momento que for caluniado e nada terá
realizado.
É por causa do medo de ousar, ou seja, por causa da acomodação a que se submetem os
espíritos encarnados, que, quando conversamos sobre os ensinamentos deixados pelos mestres a
respeito da família, por exemplo, as pessoas dizem: „ah, mas eu posso alcançar a evolução
espiritual mantendo os meus vínculos familiares‟. Não pode.
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Todos os mestres da humanidade (Cristo, Buda, Krishna, Lao Tse), foram unânimes em
questionar os padrões com que são vivenciados os laços familiares pela humanidade. Quem é
minha mãe, quem são meus irmãos? São todos aqueles que fazem a vontade de Deus.
Isto ocorre porque quando se fala em evolução espiritual, se fala em universalização
enquanto que o padrão do vínculo familiar vivenciado no planeta é baseado na individualização:
meu, minha. Ninguém quer destruir as famílias, mas é preciso que o ser humanizado aprenda a
conviver neste núcleo dentro do amor universal (amar a todos) para alcançar a elevação espiritual.
Portanto, se você não ousar ir além do padrão família que é conhecido no planeta terra
abolindo o “meu” pelo universal, não consegue elevar-se.
“Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não serve para ser meu
seguidor. Quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não serve
para ser meu seguidor. Só pode ser meu seguidor quem pega a sua cruz e me
segue. Quem se esforçar para conservar a sua vida vai perdê-la. E quem
perder a sua vida por minha causa vai achá-la” (Evangelho de Mateus, capítulo
10, versículos 37 a 39).
Sem a ousadia nenhum espírito humanizado consegue a sua elevação espiritual porque
não coloca em prática os mandamentos que Cristo deixou.
Para se cumprir o primeiro e o segundo mandamento (amar a Deus sobre todas as coisas
e ao próximo como a si mesmo) que o mestre nazareno classificou como aquilo que efetivamente
conduz à elevação espiritual é preciso ousar, pois só com ousadia o ser humanizado poderá amar
sem restrições.
Amar sem restrições é não prever o que acontecerá pela sua ousadia. Um amor sem
esperar nada, sem exigir nada em troca, sem querer ganhar por amar.
Ousar viver a vida espiritual na carne é entregar-se a uma ação diferentemente da forma
como os seres humanizados se entregam, ou seja, sem querer programar resultados para esta
ação. Os seres humanos não amam o próximo e a Deus, porque participam dos acontecimentos
dentro dos padrões humanos, ou seja, esperando ganhar alguma coisa com o que estão
praticando.
Quem ousa não se preocupa se vai ganhar ou perder, se vai ser considerado bom ou mal,
certo ou errado, se vai alcançar o que quer ou não vai realizar os seus desejos. Ousar é atirar-se
em um vazio, ou seja, participar da ação sem previsão de acontecimentos futuros. Isto denota a fé
em Deus, ou seja, o amor a Deus sobre todas as coisas.
A ousadia necessária para se amar a Deus sobre todas as coisas está descrita com
perfeição na história do alpinista que morreu quando estava escalando uma montanha de neve.
Ele caiu da montanha onde estava e ficou preso por uma corda à beira de um precipício
balançando-se no ar.
Já era noite e não conseguia se ver nada e por isto o alpinista não conseguia enxergar a
que distância estava do platô abaixo dele. Ele ficou se segurando na corda e balançando no vazio
sem saber se poderia largá-la ou não.
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No desespero apelo para o Pai: „Senhor, me ajude!‟. Deus ouviu e respondeu: „Largue a
corda!‟. No dia seguinte, o alpinista foi encontrado morto preso à corda, balançando no ar, mas a
menos de um metro de um platô que poderia ter amortecido sua queda.
Ousar é largar a corda sem olhar para baixo. É atender ao apelo divino sem querer saber
concretamente se há algo para lhe proteger ou lhe amparar. É atirar-se no escuro, ou seja, sem
saber o que acontecerá no futuro, pela confiança irrestrita que sente por Deus.
Se você precisa saber o que vai lhe acontecerá quando largar a corda (os padrões da vida
carnal) não ousou nada: atirou-se com a segurança material, confiou em si e em suas percepções,
ou seja, continuou seguindo o padrão humano de agir.
A reforma íntima é um salto para o escuro, uma ação que deve ser praticada sem se ter
certeza de onde irá aterrissar.
Todos aqueles que estão na busca da elevação espiritual com certeza já ouviram falar da
vida espiritual, no céu pregado pelas diversas religiões (paraíso, cidades espirituais, tenda árabe,
palácios suntuosos). Sabem que se conseguirem realizar a sua reforma íntima viverão nestes
lugares.
No entanto, apesar disto nenhum espírito humanizado conhece realmente (tem a
percepção material) destes lugares. Ninguém se lembra de como era a sua existência nestes
lugares antes da encarnação.
Por mais que leiam os romances espirituais ou ouçam as belas palavras dos pastores e
padres descrevendo o céu, a compreensão sobre o futuro depois do desencarne jamais será
concreta. Ela estará sempre no campo do ilusório, do não lógico material.
Isto é necessário porque só se alcançam estes locais, ou seja, se consegue a elevação
espiritual, com a ousadia. O espírito só gozará do banquete que Deus convida cada um se ousar ir
além da lógica material.
Por mais que estude, por mais que busque entender a existência espiritual, o homem
jamais conseguirá a comprovação material das coisas. Ele terá sempre que se entregar a uma
idéia, a algo abstrato para realizar a sua ascensão aos “céus”. Enquanto houver a lógica e a razão
material como guia, o espírito humanizado não conseguirá chegar a lugar nenhum.
Portanto, basicamente a elevação espiritual é um salto no escuro, pois você se atira a um
processo (reforma íntima) para alcançar um “lugar” que não sabe qual é. Vive querendo reformarse sem saber onde vai chegar e nem o que acontecerá contigo.
Ela não poder ser conseguida por meio lógicos e racionais (vou fazer o que os mestres
ensinaram para que aconteça isto comigo) porque assim continuará preso na cordinha, esperando
saber o que está embaixo ao invés de soltar a mão.
Ousar: isto é o fundamental para podermos aproveitar o portal que se abre na
espiritualidade com o objetivo energizar cada um na sua religação com Deus.
NOTA: Refere-se ao portal citado na palestra “Natal”, pois esta palestra foi
realizada logo depois daquela.
O espiritualista e o monismo
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Para que cada um possa aproveitar melhor o portal que se abre na comemoração natalina
é preciso aprender a ousar, aprender a agir além dos padrões humanos, sem medo do futuro e
sem querer projetar qualquer resultado.
A ousadia em amar a Deus acima de todas as coisas não pode prever resultados por esta
ação. Nem mesmo um “seja o que Deus quiser”, pois ainda assim estaríamos fazendo uma
previsão de futuro. Quem ousa não quer saber o que acontecerá, mas apenas louva a Deus e
entrega-se a Ele com confiança irrestrita.
Aquele que se entrega ao Pai o faz sem condição alguma, mas apenas O louva por tudo
que Ele faz acontecer. Nem com a condição de que será o que Ele quiser, porque neste caso não
houve ousadia, mas uma entrega se garantindo para o futuro.
Isto, portanto, é promover reforma íntima: um ato de ousadia extrema.
Um ato tão extremo que a elevação espiritual se caracteriza em ousar ser feliz quando tudo
o que você tem na vida deveria, pelos padrões humanos, lhe fazer sofrer.
Por exemplo, o filho está agonizando no hospital. Esta é uma situação em que os padrões
humanos ditam que a pessoa tem que sofrer. Qualquer um faz isso, não? Mas, como o Cristo
ensinou: até os ateus fazem isso (Evangelho de Mateus, capítulo 5 – versículo 43 a 48).
Até quem não acredita em Deus, até quem não é religioso sofre numa situação desta. Por
que você, que afirma que está procurando elevar-se, ou seja, fundir-se na unidade com Deus, age
igual, então?
Você que acredita em Deus e que O busca precisa ousar, ir além do que o ateu faz.
Precisa manter a sua paz, a sua serenidade. Nem vou falar que deveria manter a felicidade, pois
como você não compreende este estado de espírito, acharia que estou dizendo que deveria contar
piadas, ficar dando gargalhadas no hospital enquanto seu filho está agonizando.
A felicidade que eu falo não se representa por gestos, mas é um estado de espírito onde
prevalecem à paz e a harmonia interna: isto você que se denomina buscador de Deus deveria
ousar ter, mesmo que os padrões da humanidade dissessem ao contrário.
Seria preciso para honrar o seu compromisso assumido antes da encarnação que ousasse
não se desesperar, não criticar, não acusar ninguém como responsável pelo que está ocorrendo.
Assim você estaria promovendo a reforma íntima.
Esta ousadia necessária à evolução espiritual (manter-se em harmonia, mesmo quando o
acontecimento deveria ser vivenciado em desespero) diz também foi ensinado por Cristo.
“Quando vocês jejuarem, não façam uma cara triste como os hipócritas, pois
eles fazem assim para todos saberem que estão jejuando. Lembrem-se disto:
eles já receberam toda a recompensa. Quando vocês jejuar, lave o rosto e
penteie o cabelo para os outros não saberem que você está jejuando. E
somente o Pai, que não pode ser visto, saberá que você está jejuando. E Ele,
que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa” (Evangelho de
Mateus, capítulo 5 , versículo 16 a 18).
Não deixe ninguém ver que você está fazendo jejum, ou seja, que aquele momento não
está de acordo com os seus desejos. Mas, para isto é preciso ousar ser diferente da humanidade,
O espiritualista e o monismo
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ou seja, reagir aos acontecimentos de uma forma diferente dos padrões pré-estabelecidos pela
sociedade.
Um ser humano que perde seu emprego cai em desespero porque não quer largar a corda,
ou seja, não confia em Deus. Por causa desta reação padrão (desespero) acusa o governo, a
sociedade, o patrão anterior de injusto por ter lhe mandado embora. Reagir assim é fácil: até o
ateu faz.
Mas, você que está buscando promover a sua reforma íntima ao passar por um “jejum de
emprego”, precisa ousar. O que seria ousar neste caso? Confiar nos ensinamentos que os mestres
trouxeram.
“Por isso eu digo a vocês: não se preocupem com a comida e com a bebida que
precisam nem com a roupa que precisam para vestirem. Afinal, será que a vida
não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais
importante do que as roupas? Vejam os passarinhos que voam por aí: eles não
semeiam, não colhem, nem ajuntam em depósitos. No entanto, o Pai que está
no céu dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os
passarinhos? Nenhum de vocês pode viver alguns anos mais por se preocupar
com isso”.
“E por que vocês estão preocupados com as roupas? Vejam como crescem as
flores do campo: elas não trabalham nem fazem roupas para si mesmas. Mas
eu afirmo que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas
como essas flores. É Deus quem veste a erva do campo, que hoje floresce e
amanhã desaparece, queimada no forno. Então, é claro que Deus vestirá
também vocês, que têm uma fé tão pequena! Portanto,, não fiquem
preocupados dizendo: „Onde é que eu vou arranjar comida, bebida e roupas?‟
Os pagãos estão sempre procurando essas coisas. O Pai de vocês, que está no
céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto, ponham em primeiro
lugar nas suas vidas o Reino de Deus e aquilo que Deus quer e ele lhes dará
todas as outras coisas. Por isso, não fiquem preocupados com o dia de
amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada
dia bastam as suas próprias dificuldades” (Evangelho de Mateus, capítulo 6 –
versículos de 25 a 34).
Ouse não se desesperar por fé em Deus, por confiança e entrega absoluta no Pai que dá a
cada um aquilo que ele precisa e jamais se esquece de alguém. Se neste momento foi o
desemprego que ele lhe deu, é porque sabia que era o necessário para a sua caminha em direção
a Ele.
Promover a reforma íntima é louvar a Deus pelo desemprego, se é isto que está ocorrendo
na sua vida. É entregar-se à situação de desemprego sem viver como a maioria vive durante esta
época.
Não estou falando em acomodar-se no desemprego, mas procurar emprego sem
desespero, acusações, críticas ou julgamentos, aguardando em paz e harmonia o momento que
Deus lhe tornar novamente empregado. Por que digo que isto é a forma de reagir de quem está
buscando a elevação espiritual?
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Porque quem está buscando a elevação espiritual está buscando ligar-se a Deus acima de
todas as coisas para servi-Lo. Quem não vive a elevação espiritual está buscando o prazer
material, o serviço ao mundo.
Como Cristo também ensinou:
“um escravo não pode servir dois donos ao mesmo tempo, pois detestará um e
gostará do outro; ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem
servir a Deus e também servir ao dinheiro” (Evangelho de Mateus, capítulo 6 –
versículos de 24).
Então, se você que se diz buscador de Deus, em processo de reforma íntima para alcançar
a elevação espiritual reage como aqueles que não se preocupam com isto, será que está servindo
realmente ao Pai?
É, a característica principal da elevação espiritual é a ousadia, porque até aqueles que
assumem a posição de guru (guia espiritual) de alguém precisa ousar. Precisa ousar chegar aqui e
dizer tudo diferente do que pregam as doutrinas religiosas.
É preciso ousar chegar aqui e falar completamente diferente de tudo o que você ouviu até
hoje em matéria de elevação espiritual. Sabe porquê? Porque o que você ouviu até hoje não
resolveu.
Que vantagem leva os padres se eles ainda prometem orar a Deus pela sua saúde
material ou pelo fim do seu desemprego? Até um pagão faz isto! “Acalme-se tudo vai dar certo.
Você vai sair desta e conseguirá aquilo que quer”. Que vantagem leva os palestrantes dos centros
espíritas e os gurus hindus se eles ainda prometem uma vida carnal próspera? Até os pagãos
fazem isto! “Tenha fé, tudo se resolverá e você voltará a ter tudo o que quer”.
Se, como guia espiritual de vocês venho aqui e ensino que devemos a amar a Deus sobre
todas as coisas, que vantagem eu teria se não lhes ensinasse a ousar viver diferente do padrão
humano: a esperança de que seus sonhos e desejos se concretizem?
De nada adiantaria reuni-los para ensiná-los a amar a Deus se ainda colocasse este amor
subordinado às verdades humanas, ou seja, servindo à matéria. Por isto preciso ensiná-los a ousar
não depender da matéria para ser feliz.
Para fazer isso eu preciso ousar ir contra aquilo que esperam, pois o padrão humano é que
os guias espirituais se colocam à disposição da satisfação do prazer humano, ou seja, dão
esperanças de felicidade material em troca do amor a Deus.
Eu não falo desta felicidade, mas de outra que está além daquilo que vocês conhecem. E
para alcançá-la ensino que é preciso ousar abandonar a busca do prazer como fonte de felicidade.
Até hoje o ensinamento da evolução espiritual, ou seja, o caminho para alcançar o bem
celeste, é subordinado aos objetivos da humanidade, às regras e padrões planetários de felicidade.
Por isto os religiosos são tão humanos quanto os pagãos.
Quando tomam conhecimento de injustiças sociais (fome, desemprego, sem teto, sem
terra), por exemplo, reagem da mesma forma daqueles que não acreditam em Deus. Acusam os
poderes constituídos de não cumprirem o seu papel, auxiliam e promovem manifestações de
repúdio aos governantes.
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Nem parece que eles leram a Bíblia e escutaram o apóstolo Paulo falando do alto de sua
compreensão dos ensinamentos de Cristo recebido diretamente do mestre na estrada de
Damasco.
“Que todos obedeçam às autoridades. Porque não existe nenhuma autoridade
sem permissão de Deus e as que existem foram colocadas por Ele. Assim
quem é contra as autoridades é contra o que Deus mandou e os que agem
desse modo vão trazer a condenação para si mesmos. Somente os que fazem
o mal devem ter medo dos governantes e não os que fazem o bem. Se você
não quiser ter medo das autoridades, então faça o que é bom e elas o
elogiarão. Porque elas estão a serviço de Deus para o bem de vocês. Mas se
você faz o mal, então tenha medo, pois as autoridades de fato têm poder para
castigar. Elas estão a serviço de Deus e trazem o castigo Dele sobre os que
fazem o mal. Assim, você deve obedecer às autoridades, não somente por
causa do castigo de Deus, mas também por uma questão de consciência”
(Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 13, versículos 1 a 25).
Fazer o “mal” é revoltar-se, julgar, criticar, acusar. Fazer o “bem” é amar a Deus acima de
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quem faz o “bem” jamais sofre com o que está
acontecendo, porque está ligado ao Supremo e nada afeta esta ligação. Além disto, sofrendo e
acusando, você está simplesmente demonstrando na cara o jejum que está fazendo, como já
vimos.
É por causa da ousadia de ensinar o amor a Deus além do prazer e satisfação gerados
pela subordinação aos padrões humanos que a maioria das coisas que eu falo choca as pessoas.
No entanto, isto só ocorre com aqueles que estão acomodados e não querem ousar. Aqueles que
não querem fazer a reforma íntima ou que apenas fingem estarem procurando Deus imaginando
que com isto possam trapacear com o Pai e conseguir satisfazer-se materialmente.
Não esqueçam aqueles que se dizem buscadores de Deus, mas que não querem ousar
largar as suas cordas que Cristo ensinou: de Deus ninguém esconde as suas intenções. Que o
Espírito da Verdade ensinou: “Podem os Espíritos conhecer os nossos mais secretos
pensamentos? Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem
atos, nem pensamentos se lhes podem dissimular” (Livro dos Espíritos – pergunta 457). Se os
espíritos podem conhecer, imaginem Deus!
Portanto, quem não ousa largar sua corda, sua segurança material, no íntimo (intenção),
ou seja, submete a sua evolução espiritual aos padrões materiais de felicidade, não consegue iludir
a Deus. Pode conseguir iludir a ele mesmo, ao mundo, à sociedade, mas não ilude a Deus.
Este quando sair da carne acusará a Deus, à sociedade e a quem serviu como guia
espiritual da sua reforma íntima de não ter ensinado a Verdade que poderia lhe salvar. Já
pensaram nisto, senhores guias espirituais da humanidade?
Por isto, comecem vocês também a ousar. Ensinem o ser humano a confiar a subsistência
não só ao seu trabalho ou terra, mas a ter fé em Deus que o proverá dentro de sua necessidade,
ao invés de conclamar a discórdia incitando-os a rebelarem-se contra a Realidade.
No trabalho do Espiritualismo Ecumênico Universal existe uma característica importante:
não dá para brincar de elevação espiritual. Quem nos ouve não pode fingir que está buscando a
Deus, porque senão se rebelará contra nós.
O espiritualista e o monismo
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Isto porque ousamos sempre desafiar as verdades constituídas para transmitir a Realidade
universal sobre os assuntos. Quem está apenas buscando servir-se de Deus, com certeza se
choca com nossa ousadia e, para manter-se dentro de seus padrões, nos abandona.
Ousamos, por exemplo, dizer que o aborto não é um assassinato, mas uma ação
carmatica. Esta é uma ousadia porque fere todos os padrões estipulados até hoje pela
humanidade, inclusive pelos religiosos, ou seja, aqueles que dizem que estão procurando a Deus.
No entanto, se estudamos a Lei do Carma em toda sua profundidade, compreenderemos
perfeitamente a sua ação.
“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o
Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?
Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o
seu livre arbítrio”.
“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que
se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são
predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade
existe unicamente pela escolha que o Espírito faz, ao encarnar, desta ou
daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, institui para si uma espécie de
destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se
colocado”.
“859a. Haverá fatos que forçosamente devam dar-se e que os Espíritos não
possam conjurar, embora o queiram? Há, mas que tu viste e pressentiste
quando, no estado de Espírito, fizeste a tua escolha”.
“853a. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte
ainda não chegou, não morreremos? Não, não perecerás e tens disso milhares
de exemplos. Quando, porém soe a hora da tua partida, nada poderá impedir
que partas. Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e
muitas vezes o seu Espírito também o sabe, por lhe ter sido revelado, quando
escolheu tal ou qual existência.” (O grifo é nosso)
Estas citações foram retiradas de O Livro dos Espíritos..
Ninguém morre antes da hora e disto vocês têm milhares de exemplos: o feto “morre‟ no
momento que tem que morrer. Deus sabe de antemão o gênero da morte de um homem: Deus
sabia que aquele ”homem” morreria do gênero aborto.
Isto tudo porque foi pedido pelo espírito antes da encarnação e nisto se consiste o seu livre
arbítrio. Portanto, depois que o exerce, o espírito não pode esquivar-se de viver o momento que
ele mesmo programou: ser abortado.
Aí está a verdadeira aplicação da Lei do Carma para o aborto e por crer no ensinamento
dos mestres ousamos dizer que esta ação não é um assassinato. No entanto, aqueles que se
subordinam aos padrões humanos, mesmo que sejam espíritas ainda condenam os instrumentos
(mães) das ações carmaticas pedidas pelos espíritos antes da encarnação e chanceladas por
Deus.
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Os espíritas conhecem a Lei do Carma, mas aplicam-na para algumas coisas apenas: o
que está dentro do padrão humano (verdade) de “bom”. Com isto deixam de dar a esta lei uma de
suas maiores características: a universalidade.
Tudo que provêm de Deus é eterno e universal, ou seja, jamais deixou de ser Realidade e
serve para todos os elementos do universo. Desta forma a lei do carma serve em todas as
circunstâncias, mesmo que estas afetem o desejo humano do espírito encarnado de permanecer
“vivo”.
Para se promover a reforma íntima não se pode aplicar os ensinamentos apenas para
aquilo que queremos, mas ele também deve alcançar aquilo que não queríamos, que não
gostaríamos que ocorresse. Agir assim é subordinar a Lei do Carma que é divina à vontade
humana que é transitória e não almeja a integração com Deus.
“Sob a influência das idéias carnais, o homem na Terra só vê das provas o lado
penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu
ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual,
porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade
que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causa os
passageiros sofrimentos terrenos” (O Livro dos Espíritos – comentários de Allan
Kardec estampados junto à pergunta 266).
Por conhecermos a felicidade inalterável e eterna é que continuamos ousando combater os
padrões pré-estabelecidos, seja pela sociedade ou pelas religiões.
Ousamos dizer que o casamento não é indissolúvel, mas é uma ação carmática e
enquanto for preciso para a ação carmática será mantido, mas quando isto não mais for necessário
como prova para o espírito o rompimento ocorrerá naturalmente, sem que nenhum dos cônjuges
possa fazer algo para salvá-lo.
Ousamos falar com os vínculos familiares. Dizemos que “seu filho” nada tem de seu, mas
que é um espírito autônomo vivendo provas pedidas por ele mesmo.
Ousamos dizer que mãe não ama filho, mas possui. Pelo apego que os padrões sociais
conferem àquela que vivencia o “papel” de mãe o amor universal se torna impossível. A mãe quer
ser dona, quer mandar e comandar na existência do espírito autônomo.
Quer livrá-lo dos seus traumas e das suas decepções através de um ilusório comando da
vida do filho transformando-a naquilo que ela gostaria que tivesse acontecido com ela. Mesmo
aquelas que possuem o conhecimento religioso e sabem que todo espírito é filho de Deus, querem
comandar a existência do “filho” imaginando que podem desfazer o que o Pai faz.
Veja bem, ao afirmar que uma mãe não ama o filho, mas o possui, não estamos ofendendo
as mães, mas ousando acordar as pessoas para a Realidade: não existe seu filho, mas sim de
Deus.
Os “filhos” são espíritos autônomos que, como já vimos viverão um destino traçado por
eles antes da encarnação e que é “a conseqüência mesma da posição em que vem a achar-se
colocado” enquanto espíritos que são.
O espiritualista e o monismo
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É preciso ousar porque somente com ousadia é que se vive à Realidade e sem vivenciá-la
não se chega a Deus. Portanto, só quem ousa ir além dos padrões pré-estabelecidos de vivência
alcança o Pai, ou seja, promove a sua reforma íntima e alcança a elevação espiritual.
Sem ousar, ou seja, seguindo o caminho normal da humanidade, mantendo os padrões da
humanidade, mantendo a lei da humanidade, o espírito encarnado não vai a lugar nenhum, não
alcança nada. Por que? Por que se o espírito encarnado mantiver os padrões humanos não chega
a lugar nenhum?
Porque não vive a Realidade, a Verdade universal. Estamos embasando todos os nossos
comentários com citações para provar que a visão que estamos falando coincide com aquilo que
foi ensinado para lhe dizer uma coisa: estamos falando a Verdade.
Não a verdade humana, aquela que leva a realidade humana (sua ciência das coisas)
como real, mas aquela que fugindo a estes padrões se escora naquilo que é incompreensível para
a humanidade: a Realidade espiritual.
Conhece a Verdade, e a Verdade vos salvará. Este é o ensinamento de Cristo, mas onde
encontrar a Verdade?
Se nos guiarmos pelos padrões humanos jamais poderemos chegar à Verdade, pois tudo
naquilo que os homens crêem são verdades temporárias (alteram-se com o passar dos anos) e
individuais (só servem para determinados povos ou raças).
Quantas verdades já foram alteradas pela sociedade desde quando você nasceu? Se isto
ocorreu, elas nunca haviam sido reais e, pela lógica, as de agora também se alterarão
futuramente. Só esta rápida análise nos é suficiente para perceber que a verdade humana não é
eterna.
Mas e quanto à universalidade, será que as verdades do planeta são universais? Claro que
não. Em um lugar as pessoas possuem algumas verdades comportamentais que não são,
necessariamente seguidas pelos outros. Aliás, são sempre contestadas, pois todo mundo se acha
dono da verdade.
Portanto a Verdade absoluta (eterna e universal) não se encontra na Terra, mas sim fora,
no mundo de Deus, no espiritual. Quem poderia então ensiná-la? Apenas aqueles que vivessem
para a eternidade universal sem aprisionamento a efemeridade dos valores materiais, ou seja, os
mestres enviados por Deus.
Portanto, se apenas a Verdade trazida pelos mestres pode lhe servir como base para
promover a reforma íntima, como se chega a Deus? Qual o caminho para Deus?
“Eu sou o Caminho, a Verdade, a Luz. Ninguém chega a Deus a não ser
através de mim”.
Já ouviram esta frase? Quem é este eu da frase? O Cristo. E quem foi o Cristo? Aquele
que ousou enfrentar o mundo, que ousou vencer o mundo.
A “vida” de Cristo foi o maior exemplo de existir materialmente em união com Deus. No
entanto ela começou numa choupana e não num palácio. Aquele que viveu o maior símbolo de
poder, a fé, usava sandália de pescador ou andava descalço mesmo.
O espiritualista e o monismo
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Apesar de todo o seu poder dormia não em palácios suntuosos, mas no meio do campo;
não se alimentava em faustos banquetes, como as regras humanas levam os atuais “professores
da lei” a fazer, com as prostitutas e os cobradores de impostos. Ousou não chamar para si glória
de tudo que realizava, mas sempre dizia às pessoas que foi Deus e a fé deles que os salvaram.
Apesar de conhecer e manipular todos os elementos da matéria como se constata na
passagem onde anda sobre as águas, ousou se entregar, sem reação, a um exército de três ou
quatro legionários armados apenas com espadas e lanças.
E ainda disse para Pedro quando este tentou defendê-lo: “Guarde a sua espada, pois
quem usa a espada será morto pela espada. Por acaso você pensa que, se eu pedisse ajuda ao
meu Pai, ele não me mandaria logo doze exércitos de anjos? Mas, neste caso, como poderia se
cumprir o que as Escrituras Sagradas dizem que é preciso acontecer?” (Evangelho de Mateus,
capítulo 26, versículos 52 a 54).
Cristo ousou reagir a tudo o que aconteceu na sua existência carnal de uma forma
diferente do que qualquer ser humano reagiria. E como ele é o caminho para se chegar a Deus,
podemos entender que é preciso ousar para chegar a Deus. O caminho para chegar a Deus é a
ousadia de viver a vida carnal fora dos padrões pré-determinados pela humanidade.
Qual foi o resultado da ousadia de Cristo? Vencer o mundo. Portanto, a sua reforma íntima
deve ser vivenciada com a ousadia de vencer os padrões, a obrigatoriedade de reagir de uma
determinada forma aos acontecimentos. A elevação espiritual se alcança com a ousadia de lutar
contra as verdades que o mundo lhe impõe.
Quando ousando eu falo que não pode ter família, você pensa: “ah, mas se eu não ligar
para o meu filho, a vizinha vai dizer que eu não presto como mãe”. Isto é subserviência ao mundo
material.
Para se viver as posturas que levam à elevação espiritual é preciso ousar estar acima da
crítica, mas também acima do destino do filho. Ou seja, ousar manter-se em equilíbrio frente às
pressões externas e internas para que se submeta aos padrões humanos.
Ouse ser como a mãe passarinho: “você já sabe comer sozinho, então, suma...” Liberte-se
da ilusória responsabilidade que imagina ter sobre o destino do seu filho e não fique a vida inteira
perseguindo-o como um obsessor.
Cristo não teve filho, mas se tivesse jamais interromperia as atividades do filho para poder
saber como ele está como Maria fez, não? Deixaria ele viver a sua vida, vivenciar o seu destino,
sem estar constantemente perseguindo-o para “cuidar” dele.
É preciso ousar ir além dos padrões pré-estabelecidos sem esperar saber no que sua
ousadia resultará. Ousar é arriscar a tentar colocar os ensinamentos em prática, sem medo do que
pode resultar desta nova forma de ação.
Nós estudamos a reforma íntima há cinco anos. Muitos já nos ouviram e tiveram contato
com nossos ensinamentos. Quando isto ocorrem, elas afirmam: “velho, o que você fala tem lógica.
Eu acredito. Mas como será o mundo se colocar em prática tudo isso que está sendo ensinado?”.
Eu não sei: ouse para saber. Eu não posso lhe criar uma consciência do que acontecerá
com você depois que promover a reforma íntima, pois se assim o fizesse estaria quebrando o
ingrediente necessário para a promoção da elevação espiritual: o salto no escuro com fé.
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Se você quer se entregar, mas para isto precisa saber o final da história para analisar se
será satisfatório ou não, não houve ousadia nenhuma, não houve o exercício da fé.
Ontem me disseram: “ah, mas se colocarmos tudo isto em prática, não vamos ter o que
falar, não teremos mais nada que comentar”. Não sei.
Não sei se você ao conseguir a reforma íntima vai se emudecer ou se não terá mais
assuntos para conversar com os outros. Ouse colocar na prática para saber se vão ficar sem
assunto.
Talvez tenha assunto para conversar com os outros: não posso garantir. Mas se tiver eu
garanto que ele será diferente do hoje. Isto ocorrerá porque as suas conversas surgirão como fruto
da sua ousadia em não mais julgar, criticar, observar o próximo.
Enquanto não houver a ousadia de viver de uma forma diferente os assuntos terão que ser
sempre os mesmos, pois você só sabe viver com o padrão que a sociedade exige que você viva:
os homens conversarão sobre futebol e sexo; as mulheres conversarão sobre casa, filho e moda.
Isto é ponto pacífico porque não ousando ir além do normal você só comenta o que o padrão da
sociedade quer que comente.
Quando dois homens se encontram, a primeira pergunta é: “você viu o jogo de ontem?”.
Ele nem sabe se o outro gosta de futebol ou não, mas como é um homem que está à sua frente
sente-se obrigado a falar de “assunto de homem”.
O homem, na visão humana, não pode fugir do padrão pré-estabelecido. Se comentasse
sobre roupas, criação de filhos ou limpeza de casa, mesmo que quisesse porque senão o outro
poderia achar que ele era efeminado, pois é isto que diz a regra da sociedade.
“Se eu ousar falar sobre o que gosto ou quero, vão achar que eu gosto de homem, então
eu prefiro não ousar”. Sofre mantendo um diálogo que não lhe interessa, mas não ousa assumir-se
com medo da reprovação da humanidade.
Quantas coisas podem ser resolvidas com uma ousadia, quanto sofrimento pode deixar de
existir simplesmente porque você ousa contrariar a lógica humana sem prender-se aos padrões
humanos...
Quem conhece o nosso trabalho, os nossos ensinamentos sabe que ousamos sempre.
Ensinamos que cada um pode acordar na hora que quer sem se preocupar com o que os outros
acham disto e comer na hora em que tem fome realmente, sem se preocupar com o horário da
refeição ou o que os outros vão falar de você estar almoçando as cinco horas da tarde.
Muitos dizem que pregamos o anarquismo, a bagunça. Mas se a gente não ousar ir além
do certinho, adormece na cadeira porque ainda está com sono e tem problemas estomacais
porque comeu antes de haver necessidade. Portanto, não é bagunça que pregamos, mas a
vivência com as leis da natureza e não a subordinação aos padrões humanos que querem
determinar o que é “certo” de ser feito.
Foi isso que tentei falar neste ciclo de palestras sobre a reforma intima, quando estudamos
a Oração de São Francisco, a Hipocrisia, e o Natal. Ousei trazer verdades diferentes das humanas
sobre assuntos extremamente conhecidos: caridade, vida santa, o nascimento de Jesus.
O que fazemos em cada palestra é ousar ir além das verdades humanas em cima de um
tema, Ousar ultrapassar a visão convencional que satisfaz ao espírito humanizado.
O espiritualista e o monismo
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Fazemos isto porque temos como lema ensinar o que é a vida espiritual na carne. Para
tanto, temos que ir além da visão humana, pois cada um de vocês são “professores da lei” dentro
da visão que passei quando do debate deste tema.
NOTA: Professor da lei - Aquele que sabe o que é “certo” (a sua lei) e quer
impô-las aos outros.
Vocês estão acomodados nos padrões materiais e por isto constroem apenas uma
realidade em cima dela. No entanto, a Realidade é sempre diferente daquilo que o ser humanizado
acredita.
Vou dar um exemplo: uma moça é casada com um rapaz que é acomodado, desligado e
preguiçoso e ela é certinha, perfeita, tudo no lugar, tudo na hora certa. Eles moram em uma casa
que está situada num terreno muito grande.
Este terreno é totalmente plantado com grama, a qual não é cortada pelo rapaz. Ela, ligada
aos padrões humanos (a grama precisa ser aparada) brigava constantemente com ele para cortar,
ou seja, para que a sua lei fosse cumprida.
Claro que esta moça não estava vivendo este casamento com aquele determinado homem
à toa. Existia ali uma ação carmatica, ou seja, cada espírito escolheu viver com o outro como prova
para sua encarnação.
Assistindo às nossas palestras ela foi compreendendo a ação carmatica, ou seja, que ela
pediu para viver com o marido do jeito que ele era para desenvolver o amor universal.
Compreendeu que brigar não adiantava, pois isto não o levaria a cortar a grama e que somente
amá-lo do jeito que ele era poderia auxiliá-la na evolução espiritual.
Por isto parou de brigar, mas não ousou se libertar dos padrões pré-estabelecidos que ela
tinha. Imaginou que não brigando, ou seja, amando-o incondicionalmente Deus ia emanar para que
ele cortasse a grama. No entanto, como já vimos Deus não se subordina aos padrões humanos e
por isto ele continuou não a aparando.
Então ela veio conversar comigo e afirmou que o ensinamento não dava “certo”, pois havia
parado de brigar e o marido continuava não cortando. Eu lhe perguntei, então: “qual o problema de
grama estar alta?”.
Ela respondeu: “Mas quem pode viver com grama daquele tamanho?”. Eu lhe respondi:
“você, ou você está morta? Você não está vivendo com a grama daquele tamanho?”.
Ela respondeu: “estou vivendo”. “Então”, eu disse, “é assim que se vive: da forma que você
está vivendo. Antes você vivia com brigas hoje em paz. Estas são as duas formas que pode se
viver com a grama alta. Escolha a que você prefere”.
Veja, ela não deixou de sofrer porque parou de brigar, mas continuou se sentido mal do
mesmo jeito que antes. Ou seja, ela não ousou em momento algum ao buscar colocar em prática o
ensinamento: seja feliz com o mundo do jeito que ele está.
Apesar de conhecer o ensinamento e entendê-lo ela não ousou ir contra o mundo, pensar
em aprender a viver com a grama grande, mas colocou-o em prática visando satisfazer à sua
materialidade: a satisfação de ver o seu desejo atendido. Ela pôs em prática o ensinamento não
objetivando a elevação espiritual, mas achando que com isso resolveria o problema dela: a grama
seria cortada.
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Se não ousar, não se alcança a elevação espiritual porque a promoção da reforma íntima
não é garantia de realização de desejos. “Eu vou promover a reforma íntima, e a partir daí só vai
acontecer coisa boa para mim”.
Quem se entrega na busca espiritual com este pensamento não promove nada, pois se
elevar é estar acima do “bom” e do “ruim” ditados pelos padrões humanos. É preciso ousar
permanecer equânime em todos os momentos: naquele que se gosta e nos que não se gosta do
que está acontecendo.
Quem não ousa ir contra o mundo não se eleva. Não ousar ter paciência com quem lhe tira
paciência, não ousar buscar a cura sem procurar o médico, não ousar dar amor para quem lhe
agrediu, não ousar perdoar aquele que para você é culpado, não leva nenhum espírito a elevar-se.
Falamos na palestra anterior que o natal não é época de árvores enfeitadas, de troca de
presentes, de bebedeiras, mas será que você conseguirá ousar no próximo natal e não fazer nada
disto? Será que conseguirá ir além da e da fartura de comida e se lembrar do nascimento do
Cristo?
Só se você ousar ir além da humanidade, porque ela lhe cobrará que você vivencie o
próximo natal dentro dos padrões humanos, principalmente a sua família. “Você só vai ficar
rezando, e não vai me dar presentes?”. “Você não vai colocar uma árvore de natal na sua casa?
Nós estamos no Natal!”.
Buscar a reforma íntima é, principalmente, ousar não seguir os padrões da Terra, mas
ligar-se ao mundo maior, à Realidade: Deus e o mundo espiritual. Mas para isto é preciso ousar ser
alvo de críticas e de ser apontado como diferente pelo resto da humanidade sem perder a sua paz
e harmonia.
Acho que o que começou como “brincadeirinha” de reforma íntima para você, a partir de
agora está se tornando mais sério, não?
Com certeza a sua busca pela reforma íntima já se iniciou há muito tempo atrás quando
começou a freqüentar uma igreja, um centro espírita ou de Umbanda ou indo a um templo do
evangélico. No entanto, com certeza até agora este trabalho foi realizado pelo prazer de ouvir o
que o padre ou o que o pastor falavam, pelo prazer de trabalhar mediunicamente ajudando os
outros, pelo prazer de dar uma cesta básica ou uma refeição ao necessitado.
Agora, depois de ler estas linhas, com certeza ela transformou-se em muito mais que isto.
Transformou-se em algo muito mais sério: uma batalha contra você mesmo.
Mas a evolução espiritual sempre foi isto, mesmo que você não a visse desta forma.
Elevar-se sempre foi vencer a si mesmo (suas vontades e desejos) para entregar-se
completamente em Deus.
Agora, tudo que ensinei como elevação espiritual não é a realização da reforma íntima,
mas simplesmente caminho. Isto porque a realização espiritual do ser encarnado é o amar a Deus
acima de todas as coisas, inclusive destes ensinamentos.
É preciso isso amar a Deus acima do prazer de dar o prato de comida, amar a Deus acima
da vontade de ir ao centro. Ousar ir além de tudo o que conhece, sem manter padrão algum, pois
enquanto houver um padrão, há uma escravidão. Uma escravidão que você nem vê, porque acha
que está fazendo porque quer.
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A liberdade daquele que realiza a elevação espiritual tem que ser total. Preste atenção
nesta frase: “o pobrema é que ele tem menas qualidade”. Achou algum erro nela?
Se achou, desculpe, mas não entendeu nada do que falei até aqui: liberdade total. Você
imagina que está apenas criticando um erro de português, mas, na verdade, está sendo escravo
da gramática.
Nem adianta dizer que você gosta do português bem escrito, porque não está fazendo
porque você gosta. Este seu “gosta” só surgiu porque você é escravo da gramática. Se não fosse,
não veria erro, porque isto não existe.
A elevação espiritual é o fim da escravidão a todos os padrões do mundo. É não ter
gramática, não ter combinação de cores, não ter obrigação de ter isso, aquilo ou aquilo outro.
Como o apóstolo Paulo nos ensina: Cristo veio nos trazer a verdadeira liberdade. No
entanto, só tendo a ousadia que o mestre teve poderá se libertar da escravidão aos padrões do
mundo.
Você se lembra dos escravos que existiam nesse planeta? Quando chegavam a uma certa
idade eles eram libertados? Não. Eles eram escravos até a morte.
No entanto, alguns conseguiam libertar-se antes da morte. Quem eram estes? Os que
ousavam ir contra a escravidão, mesmo com o risco da própria vida, ou seja, da sua própria
satisfação.
O ser humanizado é um “escravo do mundo” em que vive e, por isso, precisa ousar ir
contra os sistemas estabelecidos, mesmo que isso lhe custe a própria vida (aquilo que desejava
materialmente para si).
É melhor você arrancar o seu olho que pode pecar, jogá-lo fora e entrar no reino dos céus
sem o olho do que ir para o inferno com o corpo inteiro. Estas foram palavras de Cristo e, portanto,
caminho que leva a Deus.
Daí pode se entender que, é melhor você sair da carne, se preciso for, amanhã e ir para o
céu do que não ousar e permanecer no inferno, ou seja, esta vida que você vive, por muito mais
tempo.
Sei que vocês vieram aqui hoje para uma “confraternização de Natal” mas, será que vocês
esperavam que eu fosse cantar “Jingle Bell”, que fosse contar sobre a estrela que brilhou no céu
em Belém...
Não posso. Sabe porquê? Porque aquele que quer auxiliar o próximo precisa
urgentemente deixar de ser conivente com a humanidade do outro.
Até agora eu estava falando com vocês como espíritos no processo de provação para
elevação espiritual. Agora vou falar com a maioria de vocês que está aqui presente e que tem um
trabalho espiritual a realizar, que está buscando auxiliar alguém.
É preciso deixar de ser conivente com os outros. Sabe o que é deixar de ser conivente com
os outros? É só dar um prato de comida para quem tem fome: isto é ser conivente com a
humanidade.
“Mas, velho, estou matando a fome de quem precisa. Isto não é ajudar o próximo?”. Ta
certo, você está matando a fome de quem precisa, e imagina que é só isso que precisa ser feito.
O espiritualista e o monismo
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Então, vamos chamar Cristo de volta à nossa presença e dizer que ele cumpriu de forma
“errada” a missão dele. Dizer para ele que precisa voltar para a Terra e abrir um restaurante para
dar comida de graça para os outros: aí estaria servindo-os, não é mesmo?
Não se esqueça que antes de tudo Cristo ensinou: “as Escrituras Sagradas afirmam que o
ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo o que Deus diz”. Portanto, há algo mais a se
levar do que simplesmente o alimento material: a palavra de Deus.
O espírito, encarnado ou não, vive da palavra de Deus, mas você, que sabe que acha mais
do que o próprio mestre, só dá o prato de comida. A palavra de Deus você não leva.
Aí está a sua conivência que eu falei anteriormente. Você dá a comida para sustentar a
humanidade do ser e, por isto, se torna conivente com ela, porque o faz acreditar que o homem
vive só do pão. Para se servir a Deus é preciso mais do que levar o pão, mas também a Palavra.
“Meu filho, Deus dá a cada um segundo as suas obras. O que você está passando é
resultado de uma obra anterior sua. Pare de mostrar que você é um sofredor, um pobre coitado.
Lave essa cara. Viva feliz, mesmo não tendo o que comer”.
Esta é palavra de Deus: o amor ao Pai acima da própria pobreza. Se quiser, pode dar o
prato de comida, mas nunca deixe de dar também a Palavra, o ensinamento de que, não importa
aquilo porque passeamos, será sempre Deus nos dando a justa medida que precisamos e
merecemos.
É isso que estou dizendo para aqueles que estão trabalhando no sentindo de auxiliar o
próximo na sua caminhada. É preciso ousar ir além do prato de comida e levar também a Palavra
de Deus.
Darei um outro exemplo que é muito comum entre os trabalhadores da seara bendita.
Vamos falar dos trabalhos mediúnicos de desobsessão que são realizados nas casas espíritas.
Antes me deixe fazer uma pergunta: Você acredita que um obsessor pode influenciar na
vida do outro, ou seja, pode “atrapalhar” a vida do próximo sem que para isto tenha motivos? Pode
“prejudicar” um encarnado apenas porque “não gosta” dele?
Achando que sim você acredita que ele é mais forte que Deus. Veja bem, Deus deu o livrearbítrio a todos os espíritos, mas o obsessor mata este livre-arbítrio sobrepujando a sua vontade à
do obsediado conduzindo a vida dele sem que este queira.
Claro que o obsessor não pode fazer o que ele quer livremente. Ele precisa se subordinar
às leis universais para que uma “injustiça” não seja cometida, ou seja, só será alvo de uma
obsessão aquele que estiver no mesmo padrão vibratório do obsessor.
Sendo assim, o espírito obsessor não está ali porque quer, mas porque o outro aceitou a
obsessão, ou seja, uniu-se a ele pela mesma intenção. Por isto o Espírito da Verdade nos ensinou:
“515 – Que se há de pensar dessas pessoas que se ligam a certos indivíduos
para levá-los à perdição, ou para guiá-los pelo bom caminho? Efetivamente,
certas pessoas exercem sobre outras uma espécie de fascinação que parece
irresistível. Quando isso se dá no sentido do mal, são maus Espíritos, de que
outros Espíritos também maus se servem para subjugá-las. Deus permite que
tal coisa ocorra para vos experimentar” (O Livro dos Espíritos) (o grifo é
nosso).
O espiritualista e o monismo
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Deste ensinamento podemos entender claramente a realidade: não existe obsessão, mas
união de dois espíritos afins. Ela, porém, só ocorre quando Deus permite que tal coisa aconteça e
com a finalidade de experimentar os envolvidos.
Portanto, não existe obsessão como a humanidade acredita: um espírito “mal” fazendo
coisas “ruins” com um outro, pobrezinho que é “vítima” da situação. Os dois são “culpados” e
precisam estar juntos para poderem aprender a amar a Deus sobre todas as coisas.
Agora, o que ocorre hoje nos centros espíritas? O encarnado é levado para uma sala. Lá o
obsessor é convidado a permanecer para ouvir um “sermão” enquanto que a “vítima” vai embora
sem nada ouvir.
O que acontece? O obsessor pode até ser salvo, mas o encarnado não alterará o seu
padrão vibratório. Aí se livra deste obsessor, mas logo Deus coloca outro, pois este ainda não
aprendeu a se universalizar. Por isto Cristo ensinou:
“Quando um espírito mau sai de alguém, anda por lugares sem água,
procurando onde descansar. Se não encontra nenhum lugar, ele diz:‟vou voltar
para a minha casa, de onde sai.‟ Então, volta e encontra a casa vazia, limpa e
arrumada. Depois sai e vai buscar outros sete espíritos piores ainda e todos vão
morar ali. E assim a situação daquela pessoa fica pior do que antes”
(Evangelho de Mateus, capítulo 12, versículo 43 a 46).
Esta desobsessão como hoje praticada, que protege o ser humano partindo do
pressuposto de que ele é vítima, só serve para o desencarnado, mas não auxilia o ser humano. É
preciso que o encarnado compreenda os motivos pelo qual a obsessão se iniciou para poder se
desarrumar a casa para que ela não sirva mais de abrigo para os obsessores.
Mas, para isto é preciso ousar. É preciso ira além da normalidade (o espírito fora da carne
é mal e o ser humano vítima deste). Ao invés de só “brigar” com o obsessor é necessário que o
doutrinador do centro espírita também converse com o encarnado: “ouça o que este espírito está
dizendo de você, porque é isto o que o está prendendo. O culpado dos seus problemas não é o
obsessor, mas você que merece ter esse obsessor, porque você é do jeito que ele está falando”.
Isto é não ser conivente com a humanidade do espírito encarnado. Sabe qual o resultado
da conivência que os religiosos têm hoje com a humanidade do espírito? Sete vezes mais
obsessões.
Sem levar a Palavra ao encarnado, os que se imaginam trabalhadores de Deus estão
proliferando o merecimento humano de haver a obsessão. Hoje retiram um obsessor, da próxima
vez terão que trabalhar para libertar mais sete.
Por que isto ocorre? Porque foram coniventes com a humanidade do ser, ou seja, não
disseram para o obsediado que o “culpado” da obsessão não era o obsessor, mas ele mesmo.
É preciso ousar. Os centros espíritas deviam mostrar ao obsediado que o obsessor está ali
por causa dele. O obsessor não é “mal” nem está “errado”: ele está aqui por o obsediado lhe deu
motivos para tanto.
Na verdade, nem um nem o outro está fazendo “obsessão” entre si. O que ocorre, na
realidade são duas auto-obsessões: os dois se obsediam e acham que um está obsediando o
outro.
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A obsessão é uma das engrenagens do carma. O obsessor está ali para ver se aprende o
que acontece quando se prende apenas no que ele gosta e o obsediado está com o obsessor para
ver se ele aprende que a evolução espiritual só depende dele.
É como num casamento. Existe obsessão maior para um espírito do que os vínculos
familiares como hoje é praticado no planeta? Casamento, filho, sogra, tudo é obsessão, porque
são relações baseadas em obrigações impostas. Qualquer casamento onde os cônjuges tenham
obrigações a cumprir (satisfazer a vontade do outro) é obsessão.
“Eu bebo porque o obsessor me faz beber”: isto é ilusão. Na verdade, este ser humano tem
um obsessor que participa desta ação com ele porque a sua vontade é beber.
“Meu guia mandou eu fazer uma „macumba‟, pois preciso dar uma cerveja para a entidade
para receber o que quero”. Isso também é obsessão, porque “macumba” (oferecimento de coisas
materiais a espíritos desencarnados) não resolve vida de ninguém.
Se você não tiver o merecimento para receber aquilo que deseja, pode fazer quantos
“despachos” quiser na “encruzilhada” que não resolverá a sua vida. O que vai resolver a sua vida é
a reforma íntima e não a “macumba”.
“Vou acabar com aquele outro, vou costurar seu nome na boca do sapo”. De nada adianta
isso, porque Deus dá a cada um segundo as suas obras e não porque você não gosta dele.
“551. Pode um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que lhe seja
dedicado, fazer mal ao seu próximo? Não; Deus não o permitiria” (O Livro dos
Espíritos).
Ninguém pode se libertar de uma determinada pessoa se isto não estiver previsto para a
sua encarnação. Todos são instrumentos para a ação carmatica do próximo e por isto, se alguém
lhe incomoda, o que é pode lhe afastar daquela relação é aprender a amar a Deus e a todos, ou
seja, promover a reforma íntima.
Portanto, a única coisa que pode resolver para você, ou seja, que pode lhe levar a viver
uma vida com paz, felicidade e harmonia é a elevação espiritual que é alcançada com a reforma
íntima.
Por que abordei este ponto hoje? Porque a promessa de um “futuro feliz” sem o trabalho
da modificação interna de cada um é um ato de conivência que muitos que se dizem missionários
do Senhor praticam.
E sabe porque as Igrejas, os templos e os centros são coniventes? Porque procuram fiéis,
seguidores, “casa cheia”. Eles precisam agradar o lado humano dos espíritos.
Se você for a um centro porque sente que está obsediado e lá eles lhe disserem que você
precisa mudar-se, que você precisa reformar-se ao invés de simplesmente prometerem o céu sem
esforço algum, lá você não volta mais. Diz que aquele centro não presta, porque é “muito
fraquinho” e vai buscar outro.
Ninguém quer ousar ver a sua própria culpa. Ninguém quer ousar chamar para si a
responsabilidade sobre a sua vida. Apesar disto, aqueles que se colocam à disposição de Deus
como lamparinas devem ousar levar a palavra de Deus, ao invés de simplesmente tentarem
satisfazer os desejos humanos dos espíritos encarnados.
O espiritualista e o monismo
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Para aqueles que trabalham em centros espíritas, o trabalho de desobsessão deve
abranger a responsabilidade do encarnado neste processo; para os que lidam com a umbanda, o
fim das promessas de bem estar material gratuitos (“faça isto que eu lhe dou aquilo”), deve ser
abolido.
Afinal, não existe ninguém superior a Deus e Ele dá a cada um segundo a sua obra. É Ele
que dá ao espírito tudo o que precisa, mas para a execução de suas provas e não para a
prosperidade material.
“533. Podem os Espíritos fazer que obtenham riquezas os que lhes pedem que
assim aconteça? Algumas vezes, como prova. Quase sempre, porém, recusam,
como se recusa à criança a satisfação de um pedido inconsiderado”.
“532. Têm os Espíritos o poder de afastar de certas pessoas os males e de
favorecê-los com a prosperidade? De todo não; porquanto há males que estão
nos decretos da Previdência. Amenizam-vos, porém, as dores, dando-vos
paciência e resignação. Ficai igualmente sabendo que de vós depende muitas
vezes poupar-vos aos males, ou, quando menos, atenuá-los. A inteligência,
Deus vo-la outorgou para que dela vos sirvais e é principalmente por meio da
vossa inteligência que os Espíritos vos auxiliam, sugerindo-vos idéias propícias
ao vosso bem. Mas, não assistem senão os que sabem assistir-se a si mesmo.
Esse é o sentido destas palavras: buscai e achareis; batei e se vos abrirá.
Sabei ainda que nem sempre é um mal o que vos parece sê-lo.
Freqüentemente, do que considerais um mal sairá um bem muito maior. Quase
nunca compreendeis isso, porque só atentais no momento presente ou na
vossa própria pessoa” (Citações retiradas de O Livro dos Espíritos).
Aí está a palavra de Deus que deve ser levada àqueles que batem às portas das casas de
oração à procura da satisfação de seus desejos. Mas, para isto é preciso ousar agradar a Deus e
não aos seres humanos.
Sabe por que? Porque a responsabilidade sobre a vida é somente do espírito encarnado e
de mais ninguém. Nenhuma outra pessoa é responsável pelo que acontece na vida de um espírito
encarnado. Só ele mesmo.
Quando o trabalhador de Deus joga a culpa em qualquer outro pela situação que o fiel está
passando, está sendo conivente a com a sua materialidade e, por isto, não está servindo a Deus. é
preciso realmente ousar em tudo.
Estamos chegando ao fim de nossa conversa, mas antes eu gostaria ainda de tocar em
mais um assunto. Apesar de muitos conhecerem os ensinamentos aqui citados, por que eles ainda
continuam escravos dos padrões mundanos?
Por exemplo: por que você acha que tem que pagar a quem deve? Porque sente
responsabilidade com a vida material, com a comunidade em que vive.
Só que quando você assume as responsabilidades com a vida material esquece um só
detalhe: a responsabilidade que assumiu com Deus antes da encarnação.
Antes de encarnar você diz: “Senhor eu quero esta chance porque me acho capaz de
buscar a elevação espiritual”. Aí, troca esta responsabilidade pela responsabilidade material.
O espiritualista e o monismo
página 26
Submete a sua existência às responsabilidades materiais, mas se esquece do compromisso
assumido anteriormente com Deus.
“Ah, eu tenho que pagar minhas dívidas”. Quem disse? Contrair dívida é uma ação
carmatica para você e para quem está devendo. Quem passa por um processo de falência é
porque escolheu, antes da encarnação, este gênero de prova para promover a sua reforma íntima
e elevar-se.
Para que ele pudesse viver a sua prova é preciso um agente carmatico, ou seja, alguém
que construa uma realidade que espelhe o gênero da prova escolhida. Portanto, ninguém deve a
este homem, mas se transforma em instrumento de Deus para elevar àquele espírito a prova que
ele mesmo solicitou.
Agora não esqueça: se isto é verdade é para os dois. Se alguém lhe deve o mesmo
pensamento deve ser aplicado. Neste momento você deve ousar não cobrá-lo e viver o
ensinamento dos mestres.
“Vocês ouviram o que foi dito: „olho por olho, dente por dente‟. Eu, porém lhes
digo: Não se vinguem dos que lhe fazem mal. Se alguém lhe der um tapa na
cara, vire o outro lado para ele bater também. Se processarem você para tomar
a sua túnica, deixe que levem também a capa. Se um dos soldados
estrangeiros forçá-los a carregar uma carga um quilômetro, carregue-a dois
quilômetros. Se alguém lhe pedir alguma coisa, dê; e empreste a que, lhe pedir
emprestado” (Evangelho de Mateus, capítulo 5 – versículo 38 a 42).
Este é o motivo pelo qual você tem que ousar: para honrar o compromisso firmado com
Deus antes da encarnação e que você simplesmente joga na lata de lixo em troca do seu
compromisso com a sociedade onde vive.
“Ah eu não posso falar o que você falou sobre o natal porque senão meu filho vai brigar
comigo”. Você deixa de honrar o seu compromisso com Deus para honrar o com o seu filho e acha
isto muito certo porque imagina que precisa disto para assegurar a felicidade dele. .
Sei que você se sente obrigado a dar um presente para o seu filho no natal porque todos
os seus amiguinhos receberão e ele se sentirá diferente dos demais. Mas honrar este
compromisso com a sociedade sai muito caro para existência espiritual do seu filho.
Agindo assim você criará nele o hábito dele receber presentes para ser feliz, ou seja, o
ensinará a condicionar a felicidade. Esquece-se, apenas, que quando um espírito condiciona a sua
felicidade ao recebimento de algo rompe com Deus e desonra o seu compromisso espiritual:
alcançar o amor incondicional, a felicidade incondicional.
Quem se sente obrigado a dar o presente ao filho não o está ajudando na elevação
espiritual porque está criando nele a obrigação de um dia dar presente para o filho ao invés de
aproveitar o portal do natal.
Agindo dentro desta cascata a humanidade permanece a mesma, o mundo continua o
mesmo: Deus continuará preso no céu esquecido da humanidade. Será o que é hoje: uma coisa
que você só se preocupa depois de morrer.
Só que depois da morte, não dá mais para alcançar a elevação espiritual e o compromisso
assumido antes da encarnação foi desonrado.
O espiritualista e o monismo
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Alem disto, Cristo já disse não se serve dois senhores ao mesmo tempo. Não adianta você
contemporizar (“vou ficar bem com meu filho e com Deus ao mesmo tempo”): isto é impossível; ou
você agrada a um ou agrada o outro.
Se eu pudesse pedir a Deus um presente para vocês neste natal, seria que Ele ajudasse
cada um a ousar nesta vida, porque sem isto não se chega a Deus. Sem isto ficamos presos na
mesma coisa a vida inteira, fingindo que está tudo bem.
Só que quando sai desta vida não dá mais para fingir. E aí eu lembro das palavras de
Sariputta, um monge que servia ao Buda.
“Amigos, se alguém que tenha e permaneça com qualidades mentais inábeis
tivesse uma estadia agradável no aqui e agora – sem ameaças, sem
desespero, sem febre – e na desintegração do corpo, após a morte, pudesse
esperar um boa destinação, então o Abençoado não ia advogar o abandono de
qualidades mentais inábeis. Porém porque alguém que tem e permanece com
qualidades mentais inábeis tem uma estadia desagradável no aqui e agora –
ameaçado, desesperado e febril – e na dissolução do corpo, após a morte,
pode esperar uma destinação ruim, é por isso que o Abençoado advoga o
abandono de qualidades mentais inábeis”.
“Se alguém que tenha e permaneça com qualidades mentais hábeis tivesse
uma estadia desagradável no aqui e agora – ameaçado, desesperado, febril – e
na desintegração do corpo, após a morte, pudesse esperar uma destinação
ruim, então o Abençoado não iria advogar permanecer com qualidades mentais
hábeis. Porém porque alguém que tem e permanece com qualidades mentais
hábeis tem uma estadia agradável no aqui e agora – sem ameaças, sem
desespero e sem febre – e na dissolução do corpo, após a morte, pode esperar
uma boa destinação, é por isso que o Abençoado advoga permanecer com
qualidades mentais hábeis” (Sutta Devadha – SN XXII.2).
Ao falarmos o que estamos comentando neste ciclo de palestras não queremos
simplesmente ser diferente ou mostrar o quanto somos “grandes (no sentido de culto)
espiritualmente falando, mas, pela experiência, temos certeza de quem ousar e vencer o próprio
mundo conseguirá uma vida plena de felicidade e alegria e além disto terá uma boa colocação
quando sair da carne.
Sabemos, ainda, que quem não ousar, ou seja, não colocar estes ensinamentos em
prática, não tem uma “vida” plena de felicidade, mas presa a vicissitudes (à momentos de prazer e
de dor) e quando sai da “vida” não tem uma existência numa boa colocação.
Outro dia me disseram que eu estava certo ao alertar para a necessidade de transformar a
vida num trabalho exclusivo de reforma íntima. A pessoa foi mais além: por isto Deus criou a
reencarnação, ou seja, como uma oportunidade de elevação espiritual.
O problema é que os espíritos encarnados acreditam que a elevação acontecerá apenas
com o reencarnar, como se o simples fato de vir à carne fosse o suficiente para se elevarem. Isto é
mentira.
O espírito só se eleva quando de posse da consciência material (encarnação), mas se nela
realizar a reforma íntima. Não basta apenas encarnar: é preciso conquistar a mudança interior.
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Aqueles que conhecem o processo de elevação espiritual, mas estão presos àquela idéia,
não fazem nada durante a vida, não ousam nada contra os padrões humanos. Acreditam que
simplesmente por mágica (nascer e morrer) se elevarão. Por isto estão encarnadoshá pelo menos
sete mil anos e nada conseguem.
Deixe-me falar uma coisa. Os espíritas acreditam que foi o Espírito da Verdade que
ensinou a reencarnação, mas ela é conhecida no oriente desde a antiguidade. Os chineses e os
japoneses, principalmente, vivem dentro desta realidade a milênios com uma crença fervorosa na
reencarnação.
No entanto, eles também caíram na ociosidade. Pela certeza que tinham de nova
existência carnal, trocavam a vida por qualquer compromisso material. Veja o exemplo do haraquiri
e dos kamikazes na segunda guerra mundial.
O que aconteceu? Deus deu a um o comunismo e ao outro duas bombas atômicas para
que pudessem acordar e dar valor à vida material. Não pela materialidade em si, mas como uma
oportunidade de elevação espiritual.
Se persistirem na ociosidade, o que será que Deus terá que dar aos espíritas para que
eles aproveitem esta encarnação ao invés de trocar a oportunidade de elevação pelas
responsabilidades materiais alegando a existência de novas oportunidades?
É preciso ousar reformar-se: não basta apenas reencarnar.
Foi pela ousadia que todos os mestres demonstraram a elevação espiritual. Estudem a
vida de todos aqueles que alcançaram a “santidade”, o “despertar”. Eles ousaram ir além da vida
carnal, além das responsabilidades materiais para servirem a Deus, amando-O acima de todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo.
Para aqueles que ousarem rebelarem contra o sistema, contra os padrões no mundo, uma
nova época está por vir.
“Então vi um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra
desapareceram e o mar sumiu. E vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que
descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e pronta, vestida como uma noiva
que vai se encontrar com o noivo. Ouvi uma voz forte que vinha do trono e
dizia:”
“Agora a morada de Deus está entre os seres humanos! Deus vai morar com
eles e eles serão o seu povo. O próprio Deus estará com eles e será o seu
Deus. ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais
mortes, nem tristeza, nem choro nem dor. As coisas velhas já passaram”.
“Aquele que estava sentado no trono disse: agora faço nova todas as coisas!”.
“E também disse: escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e merecem
confiança”.
“E continuou: tudo está feito! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A
quem tem sede darei água para beber, de graça, da fonte da vida. Quem
conseguir a vitória receberá isto de mim: eu serei o seu Deus e ele será o meu
filho. Mas os covardes, os traidores, os viciados, os assassinos, os imorais, os
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que praticam a feitiçaria, os que adoram ídolos e todos os mentirosos, o lugar
deles é o lago de fogo e enxofre, que é a segunda morte”
Estes textos foram retirados do livro Apocalipse, capítulo 21, versículo 01 a 08.
A Nova Jerusalém ou a vida no Mundo de Regeneração só será vivida por aqueles que
ousarem ir além dos padrões humanos e trouxerem o trono de Deus para as suas vidas. Afinal,
Paulo já nos ensinou: “o ser humano é inimigo de Deus”.
É por isto que o Espiritualismo Ecumênico Universal em sua “Carta à Humanidade –
Proclamação da Conversão” declarou:
“O inimigo, aquele contra quem nós devemos “guerrear”, ficou definido através
dos ensinamentos: o próprio “ser humano”. Agora é a hora do exército de
Nossa Senhora partir para a conversão dos “seres humanos”, transformando-os
em espíritos.
Com esta conversão será alcançada a terceira profecia passada por Nossa
Senhora em Fátima: O FIM DA RAÇA HUMANA. O novo tempo será marcado
pelo fim da raça dominadora do planeta (ser humano) e marcará o início da
raça ESPÍRITO NA CARNE, subserviente a Deus.
Para a “guerra” da conversão os soldados podem contar com toda ajuda da
espiritualidade, que por ordens divinas trará acontecimentos que questionarão o
“poder” imaginário que os seres humanos acham que têm sobre as coisas e
seres do planeta, materiais ou espirituais.
Que todos os combatentes espelhem-se na vida de Jesus na carne para viver a
sua, pois Ele foi o único espírito a colocar o AMOR em ação”.
Somente a ousadia de libertar-se de sua humanidade pode conduzir o espírito a viver o
novo mundo que surgirá no planeta. Ou como Cristo ensinou:
“felizes os que lavam as suas roupas para terem o direito de comer a fruta da árvore da
vida e para poderem entrar pelos portões da cidade. Mas, fora da cidade estão os viciados e os
feiticeiros, os imorais e os assassinos, os que adoram ídolos e os mentirosos em palavras e atos”
(Apocalipse, capítulo 22, versículos 14 e 15.
Com as graças de Deus.
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1ª. palestra
Elevação espiritual
Participante: Parece que um espírito, no estado que é concebido, ou seja, na
sua criação, embora perfeito, não consegue ter consciência de si mesmo. Por
isso, para ampliar cada vez mais a auto consciência, vivencia muitas e variadas
experiências ao longo da eternidade. Parece também que o contato com a
matéria mais densa é um dos principais meios se não o único e obrigatório
nesta trajetória.
Sendo mesmo assim que uma importante fase da caminhada da evolução se
desenvolve então, o espírito como co-criador que molda matéria até no plano
mais denso, o faz impulsionado por amor a todos os demais, porque expandir o
plano físico nada mais é do que ampliar o cenário aonde mais espíritos venham
a se desenvolver.
Tem algo que presta ou certo neste raciocínio?
O raciocínio é longo... Para melhor responder, proponho analisá-lo, passo a passo.
“Parece que um espírito que é concebido, ou seja, na sua criação, não
consegue ter consciência de si mesmo”.
Vamos estudar apenas este trecho.
O espírito, no estado que é gerado por Deus, não tem consciência de si como
individualidade. Essa afirmação é verídica.
Mas, porque ele não tem esta consciência? Porque, segundo o que foi ensinado pelo
Espírito da Verdade, ele nasce simples e ignorante – ignorante no sentido de não conhecer,
ignorar. Então sim, o espírito no início não tem consciência de si porque ignora os elementos do
Universo.
A partir do nascedouro, começará a conhecer os elementos do Universo. Que elementos
são esses? Não é a água, o ar, o vegetal ou o mineral. Na verdade ele conhecerá o único
elemento existente no Universo: aquele que foi chamado pelo Espírito da Verdade de fluído
primário ou fluído cósmico universal.
Aí está a primeira etapa da evolução do espírito: ele nasce puro, simples e ignorante, por
isso não reconhece a si mesmo como individualidade; a partir daí começa a vivenciar o processo
de conhecimento do fluído cósmico universal reconhecendo o resultado das múltiplas combinações
que este elemento pode ter.
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Quando o espírito conhece as múltiplas combinações a que o elemento primário do
Universo pode se submeter passa, então, a ter consciência de si mesmo e do mundo que o cerca.
Este conhecimento, no entanto, ainda não é profundo, pois, mesmo neste estágio, ele é como uma
criança que está no nível primário de estudo escolar: reconhece as letras, mas não sabe escrever,
não sabe juntar as letras para formar palavras.
O período de reconhecimento das combinações do fluído universal é descrito na Bíblia.
Corresponde a adaptação do homem ao paraíso, ou seja, quando Deus, depois de criar o homem
e a mulher, afirma: isso tudo é seu, visite cada lugar e dê nome a cada coisa que encontrar.
É exatamente isso que estou dizendo em outras palavras. O espírito é gerado por Deus e
aí o Senhor diz: o Universo é todo seu; visite tudo e dê nome a todas as coisas, ou seja, crie
reconhecimento para essas coisas.
Vamos continuar com a sua pergunta...
Parece também que o contato com a matéria mais densa é um dos principais
meios se não o único e obrigatório nesta trajetória.
Aqui começamos a discordar... “Parece que o contato com a matéria mais densa”...
Deixe-me dizer uma coisa. Em O livro dos Espíritos está escrito: no Universo existem
apenas dois elementos. Estes elementos lá são descritos como espírito e matéria. Afirma mais:
acima de tudo existe Deus. Portanto, no Universo, só existem o espírito, a matéria e Deus...
Está escrito lá também que a matéria é apenas o fluído cósmico universal. Agora lhe afirmo
quanto ao elemento material do Universo: ele não aceita densidades diferentes.
Lá atrás, antes de falarmos de ego e de construções de realidades, também tivemos que
usar este conhecimento (mundos em densidades diferentes), assim como o espiritismo também
usa esta denominação para falar dos planos mentais de vida. Mas, isso porque tanto nós como o
espiritismo, ainda não tínhamos trazido as notícias sobre o ego, a personalidade humana que o
espírito veste e sua vivência com ela.
Mas, veja, a partir do momento que compreendemos que o ego é o criador de realidades,
ou seja, é ele que cria o que é percebido, tenho que afirmar que não existe matéria mais ou menos
densa. O que existe, na verdade, é uma percepção ilusória de densidades do fluído cósmico
universal.
Vou lhe dar um exemplo. Olhe para a parede de sua casa. O que está vendo? Uma
matéria numa densidade diferente da espiritual. Mas isso não é verdade.
O que existe ali não é tijolo nem parede. O que existe é fluído cósmico universal. Na
verdade, você está tendo a percepção de uma matéria mais densa, mas estas percepções são
criações do ego, ou seja, ilusão, mundo de maya. O que existe ali é fluído cósmico universal, é
matéria universal na sua densidade original.
O espiritualista e o monismo
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Voltando, então à sua afirmação, posso lhe dizer que não é contato com matérias mais
densas um dos principais meios de evolução do espírito, mas que o processo que vem depois da
primeira fase de aprendizado é o contato com ilusões de densidades. Isso muda tudo, porque
muda o mundo que você vive. Ao invés de viver em um mundo real, verdadeiro, existente, passa a
viver num mundo perceptivo, percebido, simplesmente isso.
Então, sim: o espírito evolui primariamente no Universo tomando contato com o fluído
cósmico universal e as suas múltiplas combinações. Depois continua o seu progresso através de
vivência de mundos mentias onde a percepção é de que as matérias são mais densas.
Alterando isso, então, eu posso concordar com você o trabalho de viver nestes mundos
mentais onde a matéria é percebida com mais densidade é o processo de evolução do espírito.
Participante: Então, quanto mais iniciante na caminhada no contato com a
matéria única nós a percebemos como mais densa possível?
Não como iniciante no contato com a matéria primária. Enquanto você não acorda para a
consciência do “eu”, ou seja, não tem o contato completo com todas as possibilidades de
combinações do fluído cósmico universal, só se relaciona com a matéria primária em sua forma
original. A partir do momento que há a consciência do “eu” começará, então, a haver o contato com
as percepções de matérias em densidades maiores.
Quando este segundo processo ou caminhada começa, posso concordar com a sua
afirmação de agora. Isso porque, quanto mais no início desta segunda caminhada – não vou dizer
menor, atrasado, mas no início da caminhada – mais a percepção é de que a densidade da
matéria é mais grosseira.
A partir do momento que o espírito vai se afastando deste início, ou seja, aproximando-se
de Deus, as percepções do fluído cósmico universal vão transformando a matéria em menos
densa. É por isso é que os espíritos desencarnados falam de matérias mais fluídas. Na verdade as
matérias não são mais fluídicas, mas as percepções deste espírito é que vêem a matéria primária
desta forma.
As percepções, independente da densidade que conferem à matéria universal, existirão até
que o espírito volte novamente a conviver apenas com o fluído cósmico universal na sua forma
primária, ou seja, aproxime-se de Deus e da Realidade. Aí não haverá mais percepções mentais.
Participante: Então tem muito lugar ilusório ainda para visitar...
Olha, você está no pré-primário desta segunda etapa de caminhada. O planeta Terra, o
Mundo de Provas e Expiações, é o início desta segunda etapa de caminhada dos espíritos. Por
isso ele é o mundo onde as percepções da matéria são mais grosseiras, mais densas.
Eu diria que você ainda tem muito que caminhar no Universo.
Continuemos analisando sua pergunta...
O espiritualista e o monismo
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Sendo mesmo assim que uma importante fase da caminhada da evolução se
desenvolve então, o espírito como co-criador que molda matéria até no plano
mais denso, o faz impulsionado por amor a todos os demais...
Espere um pouco... Deixe-me falar algo importante: o espírito não é co-criador:, mas
assistente da Criação... O espírito não molda a matéria: ele tem a percepção de estar moldando.
O que é Criar? Como se moldam imagens? Para poder explicar isso terei que voltar a um
ensinamento que já conversamos há algum tempo...
Existem três deuses no Universo. O primeiro é o Ser, o espírito que é o Senhor do
Universo. O segundo são os deuses emanados, ou seja, os espíritos e as suas múltiplas
personalidades ou “eus”.
O espírito é o deus emanado. Por quê? Porque ele vive com consciências que Deus
emana.
Por exemplo, você, espírito, agora acha que é a consciência ou personalidade José. Ao
você imaginar-se como sendo o José, se torna neste personagem e o transforma, mesmo
ilusoriamente, em realidade. Mas, o José não existe na realidade: ele é uma emanação de Deus,
uma criação ilusória do Pai.
Tudo que José é está sendo emanado por Deus, criado pelo Pai e não existe na realidade.
Você, espírito, não é nem cria nada do José: apenas assiste ao que Deus emana. Por isso se torna
em um assistente da criação.
Terceiro deus do Universo: As emanações de Deus. São aquelas coisas que o José faz,
que o deus emanado José faz, mental ou materialmente falando.
Mas, quando falamos que o José faz, não estamos sendo fieis à Verdade. Isso porque o
José não faz nada, pois ele não existe, mas trata-se também apenas de uma emanação de Deus.
Na verdade, Deus emana e dá ao José a ilusão de estar fazendo. Quanto ao espírito, ele acha que
o José está fazendo, mas não tem interferência nenhuma neste processo.
Juntando tudo, então, posso dizer que, na Realidade, existe o espírito assistindo a tudo.
Ele está apenas assistindo as emanações de Deus, mas acha que é o José, e que está fazendo o
que o José faz.
O espírito, portanto, não é co-criador, mas assistente da criação.
Agora pode continuar a leitura deste parágrafo...
...o faz impulsionado por amor a todos os demais, porque expandir o plano
físico nada mais é do que ampliar o cenário aonde mais espíritos venham a se
desenvolver.
Antes não podia, mas agora posso falar sobre este trecho. Isso porque já deixei bem claro
que não é o espírito que cria, mas sim Deus.
O espiritualista e o monismo
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Sim, quando Deus cria toda a ilusão do mundo material, ou seja, quando ele emana as
percepções que criam o mundo material, faz por amor, por Amor aos seus filhos.
Isso porque Ele sabe, como você colocou, que essa etapa é importante. Agora, uma coisa
precisa ficar bem clara: essa etapa não é a mais importante...
O que é mais importante: aprender ou comprovar que aprendeu? Se você aprender de
verdade a comprovação nem se torna necessária... O que é mais importante: assistir aula o ano
inteiro ou fazer prova final? Assistir que eu digo é participar conhecendo e compreendendo os
ensinamentos... Será que se você participar da aula aprendendo o ano inteiro precisará fazer prova
final?
Portanto, a parte mais importante da segunda caminhada do espírito não é o contato com
as percepções mais grosseiras – que se trata apenas de uma provação de ensinamentos
recebidos – mas sim aquela onde o espírito toma conhecimento com a Verdade. Isso acontece
quando há contato com percepções menos grosseiras, ou seja, fora da carne.
Isso é Real... Agora, para muitos espíritos que, como os humanos, vão para a escola para
esperar a hora do recreio para comer e brincar, essa etapa se torna importante. Importante para
que? Para ele compreender que não dá para fingir que aprendeu...
Esta é a grande importância para o espírito da etapa chamada vida carnal. O espírito se
liga a este ego que cria percepções mais grosseiras, achando que sabe tudo, que conhece tudo,
que pode resolver todos os problemas. Vem para cá e falha, ou seja, não consegue amar a Deus
como todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Quando retorna a uma consciência que cria percepções menos grosseiras, vê suas falha e
descobre que ainda não aprendeu a lição. Aí compreender que tem se aplicar mais ao estudo
durante aquilo que vocês chamam de existência entre vidas.
Então, a encarnação, ou a vida ligada à percepção de matérias mais grosseiras, é
importante sim. Mas, não importante como evolução, porque na verdade a evolução está no
aprender, o que é feito no mundo espiritual, mas é muito importante para o espírito entender que
não dá para brincar de evolução espiritual.
Este é um aspecto que eu tenho batido muito. A maioria brinca de evolução espiritual, ou
seja, transforma o processo evolucionário em segundo princípio de vida. O primeiro é transformarse em um ser humano de sucesso material e feliz. O segundo é realizar isso, se possível, dentro
do que os mestres ensinam.
Se possível fazem cumprem com a segunda prerrogativa, mas a primeira tem que ser
feita...
É essa a grande importância da encarnação: o espírito compreender que tal modo de
pensar não dá certo...
O espiritualista e o monismo
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Outro dia, falei: olha temos que oferecer a outra face para quem bate em nós. Uma
pessoa, que faz palestras religiosas, me disse que não, que devemos reagir. Disse, então: não foi
isso que Cristo ensinou... Ele me respondeu: mas não dá para viver assim.
Mas, não dá por quê? Porque se não reagir, ele não se considerará um ser humano de
sucesso. Imaginará que, porque não reagiu, é um fracassado, humanamente falando...
Para este ser humanizado realmente não é possível viver os ensinamentos de Cristo, pois
a sua prioridade número um, apesar de ser religioso, é tornar-se um ser humano de sucesso... Ser
alguém reconhecido pela sociedade humanamente falando...
Este espírito, quando retorna à uma consciência que vive percepções menos densas
compreende, então que esta opção pela materialidade não dá certo para sua evolução espiritual.
Agora, então, respondendo a tudo que você falou, digo que o espírito começa o processo
evolucionário conhecendo o elemento do Universo e suas múltiplas combinações. Quando, depois
de processo, toma consciência de si mesmo passa a viver ligado à múltiplas personalidades onde
existem percepções de matérias mais grosseiras. Essas personalidades, no entanto, são
temporárias e só servem para o espírito entender que precisa se dedicar completamente ao
processo de evolução.
Participante: Insisto... Porque expandir o plano físico nada mais é do que
ampliar o cenário aonde mais espíritos venham a se desenvolver. Tem algo que
presta ou certo neste raciocínio?
Olha, “certo ou errado” não existe... Eu não posso dizer se o seu raciocínio está “certo”: só
quem pode fazê-lo é você, pois o seu “certo” não é o meu...
O que eu posso lhe dizer a respeito desse assunto é o seguinte: se o mundo da matéria
mais densa é ilusório, ele expandirá para onde?
Olhe ao seu redor. Você acha que está numa sala ou num quarto: isso não importa... Você
acha que está, mas não está, pois este lugar não existe.
Eleve-se um pouco mais. Olhe a cidade que onde imagina que está. Esta não é a cidade
que você está, mas a que acha que está. Você não está lá, porque ela não existe, é uma ilusão.
Sobrevoe o planeta Terra e olhe para ele... Você acha que está dentro daquele globo, mas
o planeta Terra não existe...
Só o que existe, só o que é Real é o Universo. Mas, para onde o Universo pode se
expandir?
Pense... Se expandíssemos o Universo para outros lugares, é sinal de que esses outros
lugares já existiam antes da expansão. E se já existiam, o que ele eram até então? Com certeza
um lugar onde Deus não era a Causa Primária, pois o Espírito da Verdade afirma que o Senhor
tem esta característica nas coisas universais...
O espiritualista e o monismo
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Que Deus é esse que você acabou de criar? Com esta teoria de expansão voltamos à
velha história dos múltiplos senhores (Deus e o diabo)... Sendo assim, Deus teria que conquistar
os espaços além do Universo de outros Senhores... Que mundo material vocês está desenhando,
não...
Não, desculpa, o Universo: o Universo não pode se expandir... Aliás, nem podemos dizer
que ele é fixo, pois é a única coisa que existe. Se disséssemos que o Universo é fixo, estaríamos
dizendo que ele era delimitado por outra coisa...
Sei que para vocês compreenderem isso é impossível. Isso porque a única forma como
conseguem imaginar um lugar é que ele está dentro de outro. Tudo para vocês precisa estar
dentro de outra coisa para existir, pois vocês humanos não conseguem imaginar nada infinito, que
não tenha fim.
O Universo é infinito e o que é infinito não pode ser expandido. Agora as expansões das
provas é outra coisa. Deus expandir as provas dos espíritos, ou seja, dar novas provações ao
espírito é outra coisa...
Oração
Participante: O senhor pode comentar sobre o poder da oração se é que ela
tem algum poder...
A oração tem um poder imenso... Tem um poder regenerativo, o poder de sublimar, curar e
elevar o espírito... Olha como é importante a oração...
Sim a oração é importante. Agora que sabemos disso, no entanto, nos resta saber agora o
que é a oração, não é mesmo?
Falo assim porque a oração não são as palavras de um texto. Em O Livro dos Espíritos
está bem claro: a oração são energias que se expandem...
A oração é os sentimentos que o espírito sente enquanto recita ou não palavras. É aquilo
que sai do coração e não da boca. Aliás, Cristo já disse: o problema não é o que entra pela boca,
mas o que sai pelo que coração.
A oração, ou seja, a união amorosa com Deus – sentir-se amado e amar a Deus sobre
todas as coisas (isso é oração) – tem todas estas propriedades que eu falei. Quem vive nesta
união amorosa com Deus, ou seja, ama e se sente amado, não sofre, não fica triste, não tem
depressão, nervoso, angústia, medo... Afinal se Deus é por nós, quem pode ser contra nós...
O espiritualista e o monismo
página 37
Então, sim a oração verdadeira tem um grande poder porque ela é formada por todas estas
propriedades. Agora a oração recitada, executada por palavras não tem valor algum. Ou, aliás, tem
sim: é um carma.
É muito fácil orar: quero ver viver de acordo com a oração. É muito fácil recitar uma oração,
quero ver viver como a oração propõe sentimentalmente.
Nós já estudados a oração do São Francisco, do Pai Nosso... Podemos pegar qualquer
uma e perguntar: será que vocês oram estas orações com o coração, ou seja, com o sentimento
sincronizado com estas palavras, ou oram apenas da boca para fora, mantendo o coração preso
em outras bases sentimentais?
Participante: Mas, o conceito oração do nosso ego é diferente. Então orar por
alguém não tem nenhum sentido?
Orar com palavras? Não... Orar com palavras não tem nenhum reflexo para quem se está
orando: tem para você. Vivenciar este acontecimento trata-se de uma prova para você.
Orar com o coração, isso faz sentido para o próximo. Isso porque, orar com o coração é
amar. Quando você expande amor em direção a alguém, doa amor a essa pessoa. Com isso este
espírito pode reagir melhor na luta contra o ego.
Oração com palavras é teatrinho e tudo que pertence à Divina Comédia Humana é carma,
prova. Então, fazer uma oração para os outros é apenas uma prova para você mesmo.
Mas, faço uma pergunta: fazer oração para os outros, para que? Para acabar com o
sofrimento? Para acabar com a carência de alguém? Desculpa, isso parece até Jó – personagem
do livro bíblico homônimo.
Jó pergunta assim em uma de suas falas: que Deus está errado eu sei, mas quem tem
coragem de dizer a Ele que está? Quem tem coragem de dizer a Deus que Ele está errado são
aqueles que oram pedindo, exigindo benefícios que o Pai, que tudo sabe, não deu...
Quando você ora para alguém, para melhorar a vida de alguém, está partindo da premissa
que Deus está “errado”. A sua oração está acontecendo porque imagina que aquilo não devia estar
acontecendo com aquela pessoa naquele ou em qualquer outro momento.
Nós temos que orar a Deus – orar de coração – a todo o momento sim, mas agradecendo
o que Ele nos dá. Não importa se o que Ele nos dá é fartura ou escassez, alegria ou sofrimento.
Não importa, porque tudo que Deus cria é planejado nos mínimos detalhes para que o espírito
possa executar a sua provação.
Deus não dá nada de mais nem de menos a um filho. Ou como vocês dizem: dá a cada um
a cruz que cada pode carregar...
Então, carregue a sua cruz louvando a Deus e oriente aos outros a fazer a mesma coisa,
ao invés de orar a Deus pedindo que encurte a cruz dos outros ou a sua...
O espiritualista e o monismo
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Na introdução do Evangelho segundo Tomé (livro escrito também pelo Espiritualismo
Ecumênico Universal), tem uma história que eu conto sobre carregar a cruz. Vou reproduzi-la aqui
porque cabe bem dentro do assunto:
A vida de vocês é um eterno caminhar. Vocês caminham levando uma cruz nas
costas. Uma cruz que, para cada um, sempre é mais pesada que a do outro.
Aí se conta que existiu um moço que era muito esperto e um dia disse:
“Eu vou ficar andando com esta cruz grande e pesada? Eu vou fazer uma coisa:
vou cortar um pedacinho da cruz e ninguém vai ver. Quer ver só?”
Ele cortou um pedaço da cruz e continuou caminhando. Engraçado, ninguém
falou nada com ele. Ninguém cobrou dele aquele pedacinho da cruz. Aí ele
disse:
“Está vendo como sou esperto? Já que agora eu cortei um pedacinho e
ninguém reclamou, vou cortar mais um pedacinho”.
Continuou andando e ninguém veio dizer para ele que não podia cortar pedaços
da cruz. Ele continuou caminhando confiante, porque a cruz tinha ficado mais
leve sem os dois pedaços.
Assim foi ele fazendo a sua caminhada, cortando pedaços da cruz, até que a
cruz ficou pequenina e ele a carregou nos ombros sem sentir muito peso, sem
muito problema.
Uma multidão caminhava junto dele, cada um com a sua cruz pesada e ele, o
grande homem, o homem que tinha descoberto o sentido da vida – cortar a cruz
– caminhava tranqüilo, sem esforço, sem sofrimento e sem cansaço.
Mas, como todos os homens que caminhavam pela planície da vida, um dia ele
chegou no desfiladeiro onde tinha um buraco muito grande para passar para o
outro lado. Ele então pensou:
“E agora, como eu vou fazer para passar?”
Aí um anjo apareceu para todos que estavam à beira do precipício e disse:
“Do outro lado está a terra prometida. Do outro lado está a vida que vocês
sempre quiseram. Se vocês perceberem, a cruz que cada um carrega é do
tamanho exato do buraco por onde vocês têm que passar. Joguem a cruz que
ela vai servir de ponte e vocês atravessam”.
Nosso amigo estava lá com o seu cotoco de cruz e ela não alcançava o outro
lado do buraco. Os outros passaram pela cruz e no momento que chegaram do
outro lado, a cruz sumiu. Mas o homem que carregava o cotoco teve que voltar
pela mesma estrada para recolher as partes que ele tinha cortado, para juntar
tudo e poder passar.
Acho que essa história o ajuda a entender se deve orar para ajudar o outro...
O espiritualista e o monismo
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O estudo do espírito
Participante: A pergunta é sobre o período inter vidas. Como se processa o
estudo nesta fase? Podemos entender isso com nossas mentes humanas?
Deus é tão interessante que muitas coisas ele deixa você entender através do ego, mesmo
ligado a ele.
A mesma pergunta que você está me fazendo agora, foi feita por Kardec ao Espírito da
Verdade e a resposta está em O Livro dos Espíritos: observando os espíritos encarnados.
É assim que se aprende. O espírito que está numa consciência que forma percepções de
matérias menos densas, observa como os seres que estão vivendo ligados a consciências que
formam matérias mais densas se relacionam com suas ilusões.
Os espíritos que estão no período que você chamou de inter vidas vêem como se
comporta o encarnado e juram que não irão agir da mesma forma. Agora, quando encarnam, ou
seja, quando vivenciam eles mesmos a personalidade humana aí não conseguem realizar...
Como eu disse no início desta resposta, Deus é ótimo, porque primeiro dá a resposta e
depois exemplifica na ilusão da vida como isso acontece. Ele deu a resposta através do espírito da
Verdade nos anos 1800 e no final do outro século cria um programa de televisão que reproduz de
forma semelhante este processo: Big Brother...
É no mesmo estilo que decorre este programa que acontece os estudos dos espíritos no
mundo inter vidas: os seres “sentam numa sala” e ficam assistindo os seus irmãos que estão
ligados ao ego e, portanto, presos na ilusão do mundo material. Durante este tempo, os seres do
mundo menos denso analisam o comportamento do espírito – não é do ego – a cada ilusão que é
criada. Analisa o comportamento do espírito e verifica como é a lei do carma em ação e entende o
que acontece com o espírito quando ele se deixa enganar por essa ilusão.
Somente uma informação para deixar bem claro o assunto: eles observam o espírito e não
o ego...
Por favor, não imagine que os espíritos da matéria menos densa ficam presos a observar o
comportamento humano (participação em atos através de atitudes e pensamentos). Isso não é
verdade: o que eles observam é a forma como o espírito reage às ilusões...
O espiritualista e o monismo
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Comunhão espiritual
Participante: Tive uma experiência de pensar coletivamente. Não lembro o que
foi pensado, mas pensava em conjunto com mais ou menos duzentos ou
trezentos seres.
Não era debate: simplesmente um pensamento que se desenvolvia
simultaneamente em várias consciências. Um único tema que se desenvolvia
utilizando vários pensadores ao mesmo tempo. Ninguém pensava algo
isoladamente, a todos pertencia igualmente a única coisa pensada, o que
tornava o pensar infinitamente mais leve do que pensar sozinho.
Você pode comentar este fenômeno?
Responda-me: você sabe o que foi pensado?
Participante: Não...
Está certo...
Esta comunhão espiritual que você descreve, pode acontecer: diversos espíritos
comungando num ideal. Aliás, não só pode: isso acontece sempre...
Esta é a Realidade do Universo. Deixe-me aproveitar a sua pergunta e explicar uma
coisa...
Se vocês pudessem dar um rótulo para identificar a linha de raciocínio dos ensinamentos
que transmito, poderíamos dizer que esta linha é monista. O que quer dizer isso?
Que a linha de raciocino dos ensinamentos que transmito busca fundir o múltiplo na
Unidade. Busca trazer aqueles que estão na multiplicidade para a Unidade. Por que isso? Porque
essa o monismo é a Realidade do Universo.
Deus é Um e Único; o Universo é Um e único; e a comunidade espiritual vive dentro do
Universo com as suas individualidades em comunhão perfeita consigo, com todos e com Deus.
Essa comunhão perfeita é a Unidade.
Essa é a Realidade do Universo. Todos os ensinamentos que lhe prende à multiplicidade –
ou seja, isso deve ser feito, aquilo não; isso pode, aquilo não – são ensinamentos dualistas e,
portanto, não universais.
Então veja, a consciência que se formou através do seu ego deu uma idéia do que é a
Unidade Universal: diversos espíritos comungando um bem comum que não pertenciam a ninguém
e é ao mesmo tempo de todos, sem posses.
Agora, o seu ego não consegue compreender o que é comungado entre os espíritos. Não
há palavra que descreva o que é comungado entre os espíritos.
O espiritualista e o monismo
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Veja bem: se há uma comunhão, é necessário que haja algo que seja comungado entre s
espírito. No entanto, aquilo que é comungado entre os espíritos não pertence ao mundo material e,
por isso, não pode ser reconhecido pela personalidade humana. O ego não consegue fazer idéia
do que é comungado, por isso, quando trouxe ao consciente a Realidade Universal (a comunhão
espiritual) criou a idéia de que o que estava sendo compartilhado era um pensamento...
Na verdade os espíritos não pensam, não comungam pensamentos, já que, segundo Buda,
este elemento, como outros, são coisas que se agregam ao espírito depois do advento... Os
espíritos comunicam-se entre si de uma forma diferente que os humanos...
Deixe-me dizer algo. No início desse trabalho, afirmamos que o espírito quanto mais ia
evoluindo perdia algumas características humanas. Uma delas era o falar, a palavra, o som...
Quando dissemos isso nos perguntaram: como os espíritos se comunicam então? Eu
respondi: amando-se. Um espírito ama (expande amor) e o outro recebe essa vibração e sabe
perfeitamente o que o outro está “querendo dizer”.
Sei que imaginar isso é incompreensível para você ego. Isto porque não há imagens ou
idéias que criem uma consciência de como se processa essa comunicação, já que para vocês a
comunicação precisa ter formas, pensamentos, sensações, memórias, percepções: seja formada
pelos cinco agregados do ego...
Então, comentando não a sua experiência, porque afinal o que você se lembra não foi
realmente uma experiência sua (do ego), mas sim do espírito, que apenas foi descrita pelo ego
dentro das suas limitações, posso dizer que você teve uma noção do que é a Unidade Universal.
Na verdade você, ego, não teve experiência alguma, mas apenas tornou-se consciente de algo
que ocorre com o espírito: a comunhão universal.
Mas, que fique bem claro: a comunhão universal não são diversos espíritos pensando, mas
sim uma plêiade espiritual que comunga algo, que a consciência humana jamais poderá descrever,
de forma única...
Participante: Foi isso mesmo, algo era comungado, mas o que era, não sei...
Isso parece música, não?
Não, no Universo não existe música. Porque se existisse música teria que existir a não
música, que poderia ser o silêncio ou a prosa.
Repare o que acabei de falar sobre dualismo: tudo o que é dual (pode ser ou não ser, estar
ou não estar) não pertence ao Universo. Existe um único elemento no Universo e ele não tem nada
a ver com a música (som) que vocês conhecem.
Sabe porque o seu ego descreveu essa comunhão como música? Porque ele é músico...
Não é você que é músico, é o seu ego que é. Por isso, ele raciocina, através de sons (o ritmo do
raciocínio é movido por música). Já o ego do escritor raciocina em palavras.
O espiritualista e o monismo
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O que é comungado entre os espíritos não parece com música... Não queira dar valores a
esta forma de comunhão porque a personalidade humana não tem idéias que possam descrever o
que é comungado.
O que ela pode saber sobre isso é só que o que é comungando não dual, é Único, Uno.
Além disso, ela pode saber que este elemento universal não pode deixar de existir ou existir em
alguns momentos. Se este elemento não fosse Único e pudesse deixar de existir em algum
momento, ele viraria dual como a música e a não música...
O elemento comungado entre os espíritos no Universo é Único, Uno e constante...
Saiba de uma coisa. Enquanto você, espírito, está iludido, vivendo a consciência humana,
ou seja, vivendo a idéia de ser o personagem humano (suas idéias, seus pensamentos, suas
emoções) está sempre nessa comunhão, sempre comungando.
Foi isso que eu quis dizer outro dia: o espírito só ama. Não faz mais nada. Naquele
momento chamei de amar essa comunhão, mas isso é apenas um nome, um rótulo. Podia chamar
de banana, de tesouro, de qualquer coisa, porque vocês não têm mesmo valores para descrever o
que realmente o espírito faz.
Esta é a Realidade Universal: o espírito comunga com a coletividade espiritual
constantemente – algo que chamamos de amar - mas tem a ilusão de estar irritado, depressivo ou
feliz. Tem a ilusão de estar escrevendo, tocando ou se divertindo...
Deixe-me falar algo: estão sendo muito importantes estas nossas reuniões exatamente por
causa de conversas como estas. Como já disse não temos mais nada a estudar: o que precisamos
é alcançar a prática e a essência do ensinamento.
A essência de tudo o que falamos é exatamente o monismo, ou seja, a compreensão de
que o Universo é Único, Uno e constante.
Participante: Fiz esta pergunta porque imaginava que não pudesse fazer
contato espiritual dessa maneira...
Você, ego, não fez contato espiritual algum. Deixe-me deixar bem claro isso...
Sabe de uma coisa: agora, que você, ego, não está tendo a idéia de estar tendo esta
comunhão, você, espírito está fazendo. Isso é Real, isso é Realidade... Não é porque o ego não
cria a consciência de você, espírito, estar comungando, que você não está.
O que você ego teve não foi um contato espiritual, mas sim uma idéia (consciência) criada
por Deus. O espírito tem a experiência espiritual, mas a personalidade humana recebe de Deus em
determinados momentos a idéia desta experiência que faz parte da Realidade Universal. Portanto,
você, ego, personalidade humana, não teve a experiência, mas sim apenas uma consciência da
comunhão que o espírito vive.
O espiritualista e o monismo
página 43
Então, você não teve nenhum trabalho espiritual específico: Deus criou a idéia através do
ego. São coisas completamente diferentes.
Mas, tem mais. Além de não ter realizado a experiência espiritual, não foi você ego, que
criou a consciência dela existir: foi Deus quem criou a idéia da comunhão. O que o espírito faz,
como ele existe, o ego não pode sozinho, ou por vontade própria ou do espírito tornar-se
consciente. É preciso que Deus dê a idéia.
Portanto, você, ego, não teve experiência espiritual e nem teve a capacidade de tornar a
comunhão universal consciente: tudo foi obra de Deus para dar a seu filho o justo e necessário
para a sua caminhada de retorno à consciência primária.
Participante: Essa idéia é ilusória?
A idéia é carma, é prova para o espírito. Ou seja, é algo gerado através do inescrutável
poder de maya por Deus para ver se o espírito acredita no que você acabou de dizer: “eu tive uma
experiência espiritual”. Seria muito engraçado se um espírito acreditasse que teve apenas em
determinados momentos uma experiência espiritual, não é mesmo?
Você, ego, não teve experiências nenhuma: teve apenas a idéia de ter tido.
Participante: Essa comunhão que o ego se lembra pode ter existido assim como
pode não ter?
A comunhão sempre ocorre, sempre existe. Agora, a idéia de a ter vivenciado, é só uma
idéia, uma ilusão, não a Realidade. O espírito que vivencia como real ter tido apenas uma
experiência espiritual em um determinado momento, nega a sua Realidade, a sua Universalidade...
Participante: Então eu apenas acho que percebi a comunhão... É isso?
Mais do que isso: você, ego, teve apenas a idéia de ter percebido a reunião, teve apenas
um raciocínio que a criou de forma fictícia. Aquela comunhão que você se lembra não existiu: foi
apenas uma imagem criada pelo raciocínio.
Deixe-me voltar a deixar algo bem claro: não confie em nada que o seu ego crie; não feche
questão com nada que o seu ego crie; não comprometa seu coração com o “certo e errado”, o
“verdadeiro ou falso” que o seu ego crie sobre qualquer coisa.
Por exemplo: você acredita que teve a idéia de ter tido essa percepção para lhe mostrar
que você teve uma experiência espiritual pessoal. Mas, quem disse que essa intenção é
verdadeira? As intenções com as quais Deus gera as percepções não são distinguíveis através da
razão...
Vou fazer uma suposição: essa idéia pode ter sido criada pelo seu ego só para justificar a
pergunta que você fez hoje, agora. Ou seja, ela teve a finalidade que o seu ego diz que teve, mas
pode ter servido apenas para justificar a existência da resposta que eu dei para que os outros
pudessem ouvir esse ensinamento.
O espiritualista e o monismo
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Ninguém sabe a finalidade com a qual Deus coloca as coisas através do ego, a não que é
uma provação, ou seja, para ver se o espírito ama ou não. Se você, espírito, acredita no que o ego
diz, ou seja, que foi uma experiência para fins pessoais, não estará amando universalmente.
Nada do que o ego diz é Verdade Absoluta, Universal. Para ilustrar bem isso, pergunto:
quem foi que descobriu o Brasil. A resposta seria Pedro Álvares Cabral. Mas, a idéia que afirma
que isso aconteceu é apenas uma criação de ego. É uma razão e não uma Realidade.
Ninguém pode afirmar que isso é verdade. “Ah, Joaquim, tem documentos que comprovam
isso”. Quem disse que estes documentos são reais? Os documentos não existem: tudo o que você
convive (percebe) é uma percepção gerada por Deus através do ego.
Olha, toda história universal é uma criação do ego, uma idéia que Deus traz ao consciente
através das formações mentais. Mais: as histórias que o ego cria podem ser coletivas (do planeta)
ou individuais.
Quem ainda tem mãe, pai, avó ou qualquer ascendente que já era adulto enquanto você
era uma criança, converse com ele sobre algum acontecimento histórico de sua vida, sobre algo
que você tenha certeza de que aconteceu de determinada maneira. Converse com seus ancestrais
sobre algo que você acredita ter feito e verá que eles dirão que o acontecimento não foi bem como
você se lembra...
Saiba de uma coisa: a sua própria história de vida é uma criação do ego. Coisas que
imagina ter feito, que tem certeza que fez, podem não ter sido feitas.
Por que isso é assim? Porque todas as razões lógicas que você tem embutidas na sua
memória fazem parte da sua história de agora. Por que elas influenciam no hoje? Porque levam a
dar veracidade e razão a algumas verdades de hoje.
Por exemplo, se você tem medo de água, pode imaginar que um dia quase se afogou e por
isso tem medo de água. Você justifica o medo de hoje com uma história do passado.
Mas, como eu já disse, não há este encadeamento entre as razões que o ego tem. A cada
momento Deus leva razões à consciência para que sirvam de provação para aquele momento e
estas razões nem sempre são fundamentadas em percepções realmente vividas.
A história que justifica o medo de água pode ser uma criação atual do ego para que você
acredite que realmente tem medo de água. Com isso, a provação de hoje é gerada: você, espírito,
vai vivenciar o medo que o ego cria, ou vai prender-se a Realidade e vivenciar apenas o amor?
Por isso, filhos, digo a vocês: sigam o conselho de Buda e Krishna. Estes mestres
ensinaram que devemos viver apenas o momento de agora, sem vinculá-lo a nada do passado ou
do futuro.
O espiritualista e o monismo
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Sri Krishna chega a ensinar assim: o verdadeiro sábio não tem outro lugar para guardar o
alimento que não a sua barriga. Quando estudamos isso fui bem claro: o que ele quer dizer é que o
verdadeiro sábio não tem memória.
Claro que o ego do sábio tem memória, pois como vimos através dos ensinamentos de
Sidarta Gautama, enquanto ele estiver encarnado terá este agregado. O que acontece é que o
verdadeiro sábio não acredita na sua memória e, por isso, não compromete o seu coração com o
que a memória traz à razão.
Só isso. Não comprometa o seu coração com o que a razão diz. Ou seja, não jure de
“coração junto” (alusão ao dito “jurar de pé junto”) que aquilo é verdade, é real.
Não faça isso, porque você pode “quebrar a cara”. Muitos juraram de pés juntos, por
exemplo, que Cabral descobriu Brasil, mas hoje até a própria ciência histórica afirma que o povo
da Escandinávia estive no Brasil muito antes de Cabral.
Participante: Quanto a essa percepção que tive, o que quis me dizer o ego
quando criou uma realidade distorcida em cima de uma Realidade Real?
Ele não quis dizer nada... Ele simplesmente propôs uma prova: e agora, você, espírito, vai
amar a Deus acima de todas as coisas ou vai achar que você mesmo gerou para si uma
oportunidade dessas. Você vai amar a Deus ou vai achar que você conseguiu isso sozinho?
Ego não tem intenção: é Deus quem faz as coisas. Aliás, ego nem existe: é apenas algo
ilusório, um elemento ilusório que a razão cria para descrever o faça-se de Deus. Como então
pode fazer alguma coisa ou ainda por cima ter intenções ao fazer?
NOTA: O “faça-se” de Deus foi profundamente discutido no estudo do Livro
Primeiro de O Livro dos Espíritos. Num dos capítulos deste livro Kardec
pergunta ao Espírito da Verdade como Deus age e o mensageiro espiritual
respondeu que para o ser humano é impossível compreender isso, mas que a
melhor definição estaria no livro Gênesis da Bíblia: Deus disse faça-se e a coisa
se faz. Ficou, então, para nós, como ensinamento, que o “faça-se” de Deus é a
sua forma de emanar tudo que existe.
Por isso afirmo: quem tem a intenção é Deus. Mas, qual a intenção do Senhor do
Universo? Dar uma oportunidade para que o espírito prove a si mesmo que aprendeu a amar ao
Pai acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Para poder fazer esta comprovação,
o espírito não pode acreditar no que o ego fala...
Sendo assim, esta foi a intenção com a qual você, espírito, recebeu a criação ilusória que
você, ego, tornou consciente.
O espiritualista e o monismo
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Pensamentos
Participante: Estando nós continuamente imersos em um mar de pensamentos
de muitas inteligências, podemos dizer que aquilo que pensamos é aquilo que
filtramos baseados na sintonia de nossos sentimentos naquele instante.
Eu não falei em momento algum que você está imerso num mar de pensamentos dos
outros. Isso não existe.
O que falei foi que há uma comunhão e que nela é comungado algo que você não sabe o
que é. Disse ainda que o ego, simplesmente para trazer essa comunhão a consciência, usou a
figura de que se tratava de pensamentos.
Não, os egos não comungam nem se imergem num mar junto com outros egos. Eles vivem
sozinhos. Os espíritos estão comungados com os outros, mas os egos vivem sozinhos. Até porque
ego não vive.
Aliás, ele nem existe, não é verdade? Ego é uma idéia, uma ilusão, uma percepção que
Deus cria e que o espírito crê ser real.
Portanto, não pode haver mar de pensamentos já que não existem pensamentos. O
pensamento é uma idéia de ter pensado, um acreditar que pensou. Ele não existe: você só
acredita que pensa.
Religiosidade
Participante: Com todos estes estudos, está ficando difícil participarmos de
algum outro tipo de casa (espírita, de umbanda, etc), principalmente naquelas
casas onde médiuns ou entidades falam coisas que já não condizem mais com
o que o nosso ego no momento está pensando. Como participar dessas casas
ou não devemos mais participar delas?
Primeiro que não está ficando para vocês (plural): está ficando para quem está e não está
para quem não está. Não pode se generalizar as percepções de cada um. Como disse os egos
vivem sozinhos, portanto, esta é uma percepção individual.
Já disse aqui que um ato não leva a outro; que dois mais dois não dá sempre quatro no
Universo. Não é porque alguém vivencia como o outro a percepção de estar aqui que tem que
viver exatamente o que o outro sente. Portanto, está ficando apenas para você e para quem mais
estiver sentindo e não para todos.
Agora, na Realidade, não está ficando difícil para você, espírito, mas sim para você, ego. A
idéia de estar ficando difícil freqüentar uma casa é uma criação do ego, ou seja, uma criação de
Deus. Trata-se, portanto, como vimos, de uma pergunta: você vai continuar amando a mim ou se
O espiritualista e o monismo
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prenderá nessa angústia de querer saber se deve ir ou não, o que acontecerá quando chegar lá,
como deve se comportar...
Saiba de uma coisa: não dá para se tentar solucionar problemas materiais da vida carnal
com esses ensinamentos. Eles não têm a menor intenção de lhe fazer viver de uma forma ou de
outra. O que eles querem é fazer com que você entenda que não deve comprometer seu coração,
ou seja, misturar seus sentimentos à emoção que o ego está criando.
Portanto, se você está em dúvida, não é você que está, mas sim o ego; e se ele está,
mantenha o seu coração em paz mesmo que ele esteja em dúvida.
Digo isso como orientador espiritual. Mas, materialmente falando, posso lhe responder de
outra forma a pergunta como freqüentar a casa que freqüenta: não sei... Sabe porque falo assim?
Porque você, ego, não pode decidir se freqüenta ou não e nem a forma como freqüentar uma casa.
Se você, ego, tiver que criar a percepção ilusória de freqüentar alguma casa, Deus a criará
de qualquer maneira. Além disso, será também Ele e não você que criará as razões de como se
sentir quando estiver freqüentando ou não. Tudo para que a freqüência ou ausência aliada aos
raciocínios e sensações (emoções racionais) gere a oportunidade de provação para o espírito.
Volto a repetir. Se alimente do hoje, do agora. Esqueça o futuro, não acredite no passado...
Você está agora num desses lugares? Não, então não se preocupe com isso. Amanhã, se
você foi, esteja lá. Se enquanto estiver lá o ego criar razões que afirme que as coisas não estão
certas porque cada um está falando algo diferente, observe estas formações de razões, mas não
comprometa o seu coração com essas sensações que o ego está criando.
Eu queria ter falado uma coisa antes dessa sua pergunta, mas acho que agora fica até
melhor. Grave isso: não dá para se relacionar com o ego acreditando em algumas coisas e não
acreditando em outras.
Se por premissa o ego é simplesmente um programa de computador que Deus usa para
criar uma realidade virtual, tudo o que ele cria é uma emanação de Deus. Mas, o que Deus
emana? Provas... Então, tudo é prova...
Não importa o que o ego está dizendo: tudo o que ele disse não tem finalidade nenhuma,
não tem passado algum, não tem futuro nenhum, ou seja, não levará a lugar algum. Trata-se
apenas de oportunidades para o espírito provar a si mesmo a sua universalidade ao não crer na
realidade das construções do ego.
Se a personalidade humana tiver que ir para outro lugar, se tiver que fazer, acreditar ou
pensar em outra coisa, quem criará esta outra coisa é Deus. Não será o ego que chegará, através
de raciocínios brilhantes, a conclusões maravilhosas.
O espiritualista e o monismo
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O ego não tira conclusões, não raciocina, não faz nada: ele simplesmente transforma uma
emanação de Deus numa ilusão. Agora achar que o ego é que dá vida (cria percepções) também é
uma ilusão. Deus é que faz tudo...
Deus é que é o Criador, o espírito é o espectador e o ego a tela que torna consciente o que
Deus está projetando...
O carma e o teatro da vida
Participante: Quero aproveitar dois exemplos dados para esclarecer uma
dúvida. É a respeito do impasse que se encontra quando conscientemente se
busca a emancipação da alma e a impossibilidade de se ligar ao teatro
carmático. Trata-se um caso que já foi estudado aqui onde um senhor tem uma
esposa que é médium sem controle. Supondo que o marido compreendeu que
não somente deve deixar a crítica de lado, mas que também deve passar a
viver feliz e apoiar a experiência de um espírito hora sua mulher. Pergunta: é
possível que ele compreenda isso, mas continue tendo palavras e atos
contrários à sua compreensão por não poder mudar o teatro terrestre,
sobretudo se este comportamento for carma da esposa em que o marido assim
deva se comportar. Esta é a primeira pergunta...
Esta sua primeira pergunta, longa, maravilhosa, muito bem conjeturada, só tem uma
resposta: que marido? Que esposa? Que compreensão? Que raciocínio? Veja, todos estes
elementos não existem.
Tudo o que você ouviu anteriormente não aconteceu de verdade: trata-se apenas de uma
emanação de Deus para criar uma prova para você. Não estou afirmando que esta pergunta não
foi feita em um dos nossos encontros. Ela foi, mas a sua lembrança e o raciocínio que ela serviu
para embasar são apenas sua prova.
Veja, marido nenhum pode mudar... Isso porque não existem maridos, mas egos. Como
um ego pode mudar, principalmente no caminho da busca da emancipação da alma? O ego,
mesmo que pudesse emancipar-se, não quer isso...
Querer emancipar-se, ter razões que digam que você quer emancipar-se, não é uma
Realidade, mas uma prova. Trata-se na realidade de uma vontade de emancipar-se, ou seja, um
dos frutos do egoísmo.
Olha o que eu acabei de dizer: não para dizer que uma parte do ego é Real e outra não;
não se pode dizer que ele raciocina em alguns momentos e em outros não...
Tudo isso é história, é sua prova. Isso porque o marido e a esposa que estão no seu ego
não são nem aqueles personagens humanos, nem os espíritos que estão ligados a eles.
O espiritualista e o monismo
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Deixa eu lhe dizer uma coisa. Em uma palestra anterior, me fizeram a pergunta mais
interessante que recebi em todos estes anos de estudo: “Joaquim, onde você está”? Eu respondi
com outra pergunta, que, aliás, é o tema de hoje: o que falei sobre as coisas materiais?
A pessoa, então, me respondeu: “o senhor disse que tudo é criação do ego”. Aí respondi a
ele: bom, se eu disse que tudo do mundo exterior é uma criação do ego, eu estou no seu ego.
Sabe, Joaquim não existe no mundo exterior, mas somente no ego daqueles que um dia
tiveram esta percepção. Mais: as palavras que você imagina que eu estou falando, não são
minhas, mas criações do seu ego. É a sua personalidade racional que está criando as palavras e a
compreensão do que você imagina que estou dizendo.
O mundo externo não existe e o do raciocínio também não. O que existe é o mundo do
espírito e este não será alcançado através da razão ou das percepções.
Assédio sexual
Participante: Qual é a lição de se passar por um assédio sexual?
Não sei...
Veja bem... O que são os acontecimentos de uma existência humana? Percepções que
servem para gerar provas para o espírito.
Qual é o fundamento básico de todas as provas que o ser universal se submete no Mundo
de Provas e Expiações? O egoísmo. Todas as provações do espírito, ou seja, todos os atos e
pensamentos do ego têm como objetivo fazer com que o ser universal comprove para si mesmo
que abandonou o seu egoísmo.
Sendo assim, um espírito, ao passar por um assédio sexual, estará vivenciando uma
provação onde terá a oportunidade de provar a si mesmo que venceu o egoísmo. Você pode até
achar que um assédio sexual não tem nada a ver com egoísmo, mas vamos ver o caso sobre um
outro ângulo.
Por que quem passa pelo assédio sexual sofre? Porque não gosta, não quer vivenciar o
que está acontecendo. Acha que é “errado” passar por aquela situação...
Ora, o que é isso, senão idéias fundamentadas em valores individuais? Sim, é uma idéia
individual, já que quem está assediando faz porque quer, porque gosta, porque achando “certo”
fazer isso... As opiniões de cada um a respeito do acontecimento são individuais porque cada um
tem a sua.
Agora, se analisarmos dentro da questão moral para fins de elevação espiritual, quem está
perfeito: quem acha “certo” a prática do ato ou quem acha “errado”? Nenhum dos dois...
Dentro do prisma do aproximar-se de Deus os dois estão “errados”. Isso porque cada um
acha que ele está “certo”. Ao agirem assim tornam-se egoístas, pois quererem ser o dono da
verdade.
O espiritualista e o monismo
página 50
Isso vale para qualquer coisa que ocorre durante a vida de um ser humano, já que sempre
haverá diversas opiniões sobre todas as coisas. Portanto, qualquer coisa que ocorra será sempre a
provação do egoísmo.
Apesar de agora dar esta garantia, comecei lhe respondendo que não saberia lhe dizer que
proveito tem um ato de assédio sexual. Por que fiz isso? Vamos entender...
O egoísmo se expressa sempre através de uma posse. Em todos as situações da
existência alguma possessão está sendo ameaçada.
Que posses são essas?
A posse moral: eu acho certo, eu acho errado...
A posse sentimental: eu gosto ou desgosto...
A posse do elemento material, no caso o corpo físico.
Uma destas três posses – ou ainda todas elas – estão em provação neste caso que você
citou. Como você perguntou genericamente, não saberia dizer qual delas, ou se todas elas,
estavam nesta provação. Por isso respondi logo que não sabia...
Mas, não importa se saber que posse está em jogo, se todas elas partem do egoísmo. Se
isso é verdade, então, o que está sempre em provação é o egoísmo.
O que está em prova sempre é o apego do espírito aos pensamentos gerados pelo ego a
partir do “eu”: eu estou certo, eu gosto, eu quero...
Amar o próximo
Participante: Entendo o amar o próximo como amar o espírito em todos os
humanos como manifestações divinas que são.
Deus atende as necessidades do espírito e não do humano.
Foi ensinado que devemos carregar a pedra que o humano nos pede até
mesmo pelo dobro do caminho solicitado ou mais.
Atendendo a um pedido humano estaria eu muito que provavelmente
colaborando para que esse se apegasse ainda mais ao ego o que me levaria a
não seguir o exemplo de Deus.
Pode comentar estas colocações?
Vamos lhe responder esta pergunta pensamento por pensamento...
Entendo o amar o próximo como amar o espírito em todos os humanos como
manifestações divinas que são.
Não tente entender o amar o próximo. Pois nenhum humano sabe amar o próximo. Por
que? Porque o amor humano ao próximo, como entendido pelo humano, é gerado a partir do
egoísmo, ou seja, é criado a partir daquilo que você quer amar...
O espiritualista e o monismo
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Você ama Hitler? Ama aqueles que jogaram os aviões contra as torres gêmeas? Ama os
terroristas que entraram em uma escola da Rússia e mataram as crianças? Claro que não... Então
você não ama o próximo, porque eles também são o seu próximo...
Não queira entender o amor ao próximo porque o ego humano não sabe amar. O amor, a
idéia de amar, do ego humano é egoísta, pois não ama universalmente, mas quem ele quer, quem
ele gosta, quem acha certo amar...
Foi ensinado que devemos carregar a pedra que o humano nos pede até
mesmo pelo dobro do caminho solicitado ou mais.
Não, não foi ensinado que se deve carregar a pedra que o humano pede. Cristo diz o
seguinte: você deve carregar a pedra que o soldado inimigo lhe pede...
Não se trata de um simples ser humano, mas do soldado humano que, no caso, era o
inimigo de quem estava ouvindo o mestre. Ou seja, o que foi ensinado é que o que o seu inimigo
pede deve ser feito em dobro...
Veja. Não é a qualquer ser humano que você deve fazer mais do que ele espera, mas
principalmente ao seu inimigo. Por isso acabei de perguntar se você ama alguns exemplos de
pessoas que são consideradas como inimigas da humanidade. Para seguir o ensinamento que
você citou, deveria amá-los em dobro.
Mas, existem outros ensinamentos de Cristo que podemos usar agora. Ele disse: se uma
ovelha se desgarra, eu abandono noventa e nove e vou até essa que se desgarrou e digo que lhe
amo mais do que as outras.
Repare que Cristo não diz que aquela ovelha voltou ao rebanho, ou seja, regenerou-=se
para que ele a amasse. Ela não voltou, Cristo a buscou onde estava. Ela continuava sendo uma
ovelha desgarrada quando o mestre afirmou que a amava mais do que as outras.
Se este é o ensinamento, é justo afirmar que você deve amar aos terroristas em dobro, que
deveria amar Hitler mais do que os outros...
Atendendo a um pedido humano estaria eu muito que provavelmente
colaborando para que esse se apegasse ainda mais ao ego o que me levaria a
não seguir o exemplo de Deus.
Que exemplo de Deus você quer seguir? Qual o exemplo da bondade de Deus que você
quer seguir?
A bondade de Deus que se expressou através da morte das crianças na Rússia? A
bondade que este presente quando os judeus que foram mortos nas câmaras de gás? Acho que
destas bondades você não quer participar, não é mesmo?
Talvez queira participar de outras. Quem sabe daquelas expressas nas passagens
bíblicas. Talvez você queira seguir o exemplo da bondade de Deus que foi expressa no Velho
Testamento onde Deus mandava os israelitas para guerra, prevenindo-os que todos iriam morrer?
Se não quiser pode ainda colaborar com a bondade de Deus que acontecia quando Ele trazia os
exércitos inimigos para dominar Israel?
O espiritualista e o monismo
página 52
Ainda não está disposto a ajudar? Que tal, então, participar da bondade de Deus com
Jesus Cristo, Paulo, Pedro e os primeiros cristãos? Todos mortos violentamente em nome da fé em
Deus...
É, a bondade de Deus nem sempre é bondosa, não é mesmo? Mas, mesmo assim não
deixa de ser bondade, sabia?
As idéias racionais que definem a bondade de Deus para o ser humano é apenas uma
criação do ego. Portanto, é uma ilusão, uma verdade relativa que serve para criar uma prova para
o espírito.
Fundamentando-se na idéia de que Deus salva e ajuda o ser humano, o ego propõe ao
espírito que espere Deus lhe salvar, que espere o Senhor lhe tirar da sensação de sofrimento. Ao
fazer isso o espírito não utiliza o elemento universal que pode “salvar”: a fé.
Deus não salva ninguém: Ele dá a cada um segundo as suas obras. Ele dá a cada um o
necessário para que o espírito possa agir contra as idéias do ego através da fé.
Esta é a bondade de Deus, este é o amor do Pai: dar a cada um o justo e necessário, não
como punição, mas como uma nova oportunidade de elevação.
Se isto é verdade, quando fizer ou não por alguém, estará seguindo o exemplo de bondade
do Senhor. Isso porque, o que acontecer, será fruto da bondade de Deus.
Respondendo-lhe, então, digo que sim, você deve seguir a bondade de Deus. Apenas
ressalvo que ela não é o que você imagina. A bondade de Deus não se expressa em fazer o
“melhor” para esta vida, mas em ter a certeza que se faz sempre o necessário, no sentido da
evolução espiritual, para cada espírito.
Aquele que quer fazer a bondade de Deus, então, apenas se preocupa em não seguir as
idéias de bondade que o “ego” cria. Ele está sempre vigilante aos seus pensamentos para manter
a união amorosa com Deus (amar e sentir-se amado por Ele), mesmo que os acontecimentos que
participe aparentem um sofrimento.
Sabe o que Cristo respondeu a Pilatos quando este lhe perguntou porque não se salvava,
já que era um rei, filho de Deus? “Se Deus quisesse que eu me salvasse, teria mandado dez
legiões de espíritos para isso”.
Na hora da morte completou: “Pai, afasta de mim este cálice, mas se não for possível, que
seja feita a vossa vontade”. Esse é o verdadeiro reconhecimento da bondade de Deus: saber que
Deus lhe entrega àquelas percepções de sofrimento com amor, como oportunidade de elevação.
A bondade de Deus jamais se prenderá ao que os humanos querem e, por isso, você
também não deve prender a isso. Aliás, fazer o que o outro quer é impossível, já que você, ego,
jamais deixará de seguir o seu egoísmo para fazer o que o outro quer.
Já dei esse exemplo aqui. Se alguém lhe pedir para dar um tiro nele, você fará? Claro que
não, não é mesmo... Mas, ele quer, ele precisa. Você não está disposto a ajudá-lo? “Neste caso,
não”, seria sua resposta, já que fazer isso foge aos seus princípios de ajuda.
Então você não quer ajudar o outro, mas sim fazer o que o seu ego diz que é “certo” e
“perfeito”. Na verdade está sempre buscando satisfazer-se, contentar sua vontade, e não ajudar os
outros. Isso não é uma bondade egoísta, uma bondade submetida aos seus conceitos de “bom”?
O espiritualista e o monismo
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Não, a idéia de Deus bondoso acaba com a própria Bíblia, já que em toda ela o conceito de
bondade é exatamente o oposto daquilo que os humanos acreditam. Acaba, também, quando
descobrimos que Deus é Causa Primária de todas as coisas. Repare, todas as coisas e não
algumas...
Quando se entra neste monismo surge uma nova idéia sobre a bondade de Deus, que se
consiste em dar a cada um segundo as suas obras; dar a cada filho seu, cada espírito, a
oportunidade e a prova necessária que gerará uma oportunidade de elevação...
Deixe-me dizer uma coisa muito claramente...
No Universo existe apenas Deus, o espírito e a matéria. O resto que a humanidade
acredita que existe são apenas figuras ilusórias, meras fantasmagorias...
Sendo assim, não existe o ser humano para ser amado por Deus ou pelos enviados dele.
O ser humano é uma ilusão. Não existe, também, vida humana; o que existe é a vida do espírito.
Sendo assim, é nesta última e através dos valores dela que Deu age...
Veja que ilusão o ego cria. Ele quer que Deus aja naquilo que é irreal, para satisfazer a
desejos egoístas de seres fantasmagóricos. Isso é impossível... Não se pode agir pelo humano
porque ele não existe e não se pode agir durante a vida humana porque ela também não existe.
Condenação
Participante: Não sei o que acontece comigo, pois não condeno Hitler, os
terroristas, estupradores... Já não é um passo não condenar os vilões do
mundo?
Não... Não ter nada contra não se consiste em passo algum. Para caminhar em direção a
Deus você não tem que ter nem contra nem a favor: tem que amar.
Já disse anteriormente que os humanos não sabem amar, por isso lhe digo agora que para
dar algum passo à frente é preciso que você seja equânime (tenha igualdade de ânimos) com as
coisas do mundo. Sendo assim, quando para você os terroristas e São Francisco de Assis forem a
mês coisa, quando o seu ânimo por Hitler ou Jesus Cristo for o mesmo, aí poderá começar a
imaginar que está chegando perto de Deus.
Não ser contra ainda é ter alguma coisa a respeito destes personagens. A elevação
espiritual é conseguida quando não se tem nenhuma opinião a respeito de qualquer coisa, pois as
variadas opiniões que o ser humano tem pelas coisas denotam ânimos diferentes. A elevação se
caracteriza pela consciência de que só Deus sabe.
Lembra-se do ensinamento de Cristo: amai a todos. O mestre não disse para amarmos
apenas os “bonzinhos”, os “certos”. Pelo contrário: ele disse para amar o inimigo acima de tudo.
O amor tem que ser igual por todos. Quando você diz que não tem nada contra a Hitler, já
está tendo, pois separou este personagem do outro que ficou conhecido como Jesus Cristo.
Saiba de uma coisa: Jesus Cristo e Hitler são a mesma coisa, farinhas do mesmo saco.
Isso porque são dois egos criados e administrados por Deus que se converteram em personagens
O espiritualista e o monismo
página 54
que serviram de instrumentos para a ação carmática dos espíritos ditos encarnados. Além disso,
na Realidade, os espíritos que estavam unidos a estes egos também eram iguais, pois foram
ambos criados à imagem e semelhança do Pai.
Os espíritos que viveram a vida Hitler e Jesus Cristo são idênticos, já que Deus não pode
gerar um espírito diferente do outro. Em essência eles têm a mesma pureza...
Os espíritos são idênticos porque Deus não gera espíritos diferentes entre si. Já os
personagens, foram diferentes, ou seja, tiveram existências diferenciadas. Mas, mesmo isso deve
lhe importar, não deve lhe fazer diferenciar um do outro, porque todos os personagens que vivem
no planeta Terra são criações de Deus.
Se isso é verdade, apesar da aparente diferença de ação entre eles, os dois personagens
foram iguais. Isto porque os dois saíram do amor de Deus, da Causa Primária.
Então, eles são iguais. Só quem diz que eles foram diferentes é o ego que julga pelos
valores humanos, julga pelos conceitos humanos de bondade ou não...
Consciências
Participante: Parece haver duas consciências distintas: uma do ego, outra do
espírito. Comente, por favor.
Não, não existem duas consciências distintas: existem sete... Apesar de dizer isso, afirmo
que, na verdade, existe uma única consciência: a consciência primária do espírito. Todas as outras
consciências não são reais, mas ilusões que o espírito vive.
A primeira consciência, ou a que realmente existe, é a Real, a única. Só ela existe
realmente. Agora, ao mesmo tempo em que esta funciona, o espírito está sujeito a outras seis
conscientizações, que são ilusórias e não reais, que funcionam ao mesmo tempo.
Todas as seis consciências ilusórias criam realidades relativas e ilusórias dentro de um
nível de percepção. Portanto, o espírito tem a sua consciência primária que opera na Realidade,
mas, ao mesmo tempo, recebe informações (realidades) diferentes de seis outras consciências.
Uma observação: falo aqui do espírito encarnado na Terra. De acordo com o plano de vida
e lugar de encarnação, a quantidade de níveis de consciências ilusórias diminui...
O espírito e o ser humano
Participante: Pelo que o senhor diz, parece que o espiritual permanece
inacessível pelo humano, visto que ele não tem como compreendê-lo.
A consciência humana, nesta escala de consciências que falei acima, é a sétima. A
primária, a Real é a um.
O espiritualista e o monismo
página 55
Acontece que a consciência dois, ou seja, aquela que vêm logo depois da espiritual ou
primária, não tem condições de acessar a realidade espiritual. Que dirá, então a sete, que já sofre
a influência das criações das outras seis...
Só para você entender melhor este esquema que tracei, diria que as consciências
funcionam como o computador de sua casa. A imagem que aparece no monitor é a realidade
produzida pela sétima consciência; a realidade criada pelo programa que é utilizado para criar a
imagem é a sexta. O programa que faz o criador da imagem funcionar é a quinta...
NOTA: Para ficar mais claro o exemplo dado pelo amigo espiritual, coloco
nomes nos elementos usados por ele e que não são do seu conhecimento.
Digamos que estejamos usando um programa de digitação de textos como o
Word. Como ele disse, a imagem virtual que aparece no monitor (o texto
digitado) é a sétima realidade, fruto da sétima consciência. Ao mesmo tempo
em que esta imagem nos é perceptível, temos uma realidade que é criada pelo
programa utilizado (Word) que não nos é perceptível.
Além disso, para que o Word funcione é preciso que exista o sistema
operacional, neste caso o Windows. Apesar de não aparecer no monitor, o
Windows está criando dentro do computador um mundo de realidades que são
utilizadas pelo Word para poder criar a imagem virtual na tela.
Além do Windows é preciso ter o DOS e mais além desse é preciso ter o
conjunto de Hardware. Todos estes elementos criam realidades que fazem o
posterior funcionar, mas que não são perceptíveis por nós, os assistentes da
imagem gerada pelo monitor.
Assim vamos até chegar à segunda consciência que são as peças que fazem o
computador funcionar...
Respondendo-lhe, então, definitivamente, afirmo que na segunda consciência não há idéia
que faça a Realidade ser conhecida, o que dirá, então, quando se vive como real apenas a
sétima...
Interesses
Participante: Visto que o interesse humano vai contra o interesse do espírito, é
o amor do Pai que nos faz estar conversando sobre espiritualidade e nos
impulsiona à emancipação?
Sim, é o amor do Pai que cria tudo, inclusive a ilusão desta conversa...
Eu não estou conversando com você, porque eu, Pai Joaquim, não existo e você, José,
também não existe. Deus cria a ilusão da conversa e não a conversa em si. Para que? Não sei...
O ego pode criar idéias do para que Deus cria as conversas entre egos, mas eu, espírito,
não sei. Veja bem: tudo o que o ego cria é apenas uma idéia e não Realidades.
O espiritualista e o monismo
página 56
Para mim que quero viver a unidade com Deus, a única certeza que posso ter é que eu,
espírito, não estou conversando com você, espírito. O que está sendo percebido por mim, espírito,
através do ego Joaquim trata-se apenas de uma ilusão.
Por isso lhe afirmo: por que e para que Deus está criando esta ilusão, eu não posso saber
na Realidade. Apenas Deus pode...
Estou percebendo que você está se espantando com minhas respostas... Deixe-me dizer
algo importante: não se ofenda quando lhe respondo desta forma. Não estou querendo lhe criticar
nem acusar de nada, mas é preciso chocá-lo ao responder. Se eu não chocá-lo, você continuará
preso à idéia que pode conhecer alguma coisa, que pode saber alguma Verdade ou Realidade...
Portanto, saiba que ninguém tem essa reposta para lhe dar. Desculpa, tem uma pessoa
que tem: um ego...
Os egos sabem a resposta para tudo. Mas, o que eles sabem, são respostas de ego, ou
seja, ilusões para criar provações e não Verdades, Realidades. Por isso não podemos ficar presos
ao que eles criam...
O que precisamos compreender é que só Deus sabe a Verdade. Os egos recebem noções,
idéias, criadas por Deus como provações e não com fidelidade à Realidade.
Isso nós precisamos saber... Já todas as demais idéias do ego, nós devemos abandonar...
Participante: Eu não me ofendo como que o senhor fala, mas me choco sim...
Mas a minha forma de lhe responder tem exatamente esta finalidade: lhe chocar.
É preciso chocar a humanidade de um ser para que ele não fique preso a idéias que o leva
a achar que algumas coisas são verdades e outras não, que algumas coisas são passíveis de ser
conhecidas e outras não. Isso não é Real...
Nada que você possa tomar ciência através da razão é Verdade no Universo. Além do
mais, nada é possível ser realizado pelo humano. Tudo o que realmente for realizado
universalmente será pelo espírito e não pelo ego. Mas, nesse caso, o ego humano não terá acesso
ao que realmente esta acontecendo.
Véu do esquecimento
Participante: Se o espírito pode experimentar várias vidas humanas sem tomar
consciência da sua essência espiritual, acredito que deve haver um véu do
esquecimento que separe a realidade humana da Real. Partindo desse
pressuposto, pergunto: que elementos ou situações são passíveis de vencer
essa barreira na vida intra-física, ou em outras palavras, o que e como a alma
pode pescar eventualmente do plano espiritual?
O que o ego criar, o que Deus der...
Repare... O que vocês chamam de vida intra-física é, na verdade, a existência tendo como
base as consciências formadas em um dos outros cinco níveis que citei anteriormente. Acontece
que quaisquer uma das outras consciências, com exceção da original, como a sétima, funcionam
O espiritualista e o monismo
página 57
também apenas de acordo com o que Deus fizer elas criarem. Elas não podem criar (funcionar)
realidades sem que Deus a faça funcionar, já que elas também são ilusões e não Realidades...
Portanto, repare bem e guarde este aviso para sempre: não há nada a ser sabido a não ser
que nada deve saber. Isto vale para a sua existência eterna em qualquer grau de ilusão
(consciência) que viva...
Preste atenção ao funcionamento do seu ego. A partir do momento que disse que nada
desta vida pode ser conhecido, ele começou, então, a querer saber de outra. Veja como ele lhe
impulsiona no sentido de buscar possessões morais (cultura)...
É, você, ego, quer sempre saber para poder criar uma posse... Mas, o que pode ser
sabido, se nada é possível ser saber? Então, você só precisa saber que nada saberá nunca.
Veja, você está na sétima consciência. Atrás dessa existem outras cinco funcionando
criando realidades que você não conhece.
Antes de poder ter acesso a qualquer coisa da Realidade Universal, você precisa se
libertar das realidades criadas por estas cinco consciências. Mas, como se libertar destas
realidades se você nem as conhece, que dirá saber como elas funcionam para poder libertar-se
delas...
Veja bem: você tem que vencer seis realidades ilusórias, fantasiosas, para poder chegar à
idéia principal, a Real. Se você ainda não consegue nem imaginar o que é essa fantasia que vive
como real, como conseguir superar todas as outras para poder chegar a alguma coisa que seja
Real?
Amigo, estou lhe respondendo bem positivamente para que você compreenda algo
definitivamente: não há nada a saber... Com isso não estou querendo que pare de perguntar: você
pode perguntar o que quiser. O que quero é lhe mostrar que esta busca sobre conhecimentos é
infrutífera... O que quero é que você, ao invés de se prender à curiosidade de saber o que não
pode compreender, entenda que não pode dar asas a esta busca do ego...
Acredite: você não deve acreditar em nada. Enquanto acreditar em alguma coisa, aquilo no
qual acredita, se transforma em uma idéia racional. Esta razão, no entanto, não lhe trará nenhum
adiantamento: será apenas um instrumento utilizado por Deus para dar ao espírito a provação que
ele precisa fazer.
Saiba de uma coisa: não há evolução espiritual construída pela razão. A elevação espiritual
constrói-se no coração, no amor, na relação amorosa com Deus e com todos.
Portanto, não queira entender o que é incompreensível ao ego humano.
Volto a repetir: só quem pode ter respostas a perguntas como essas são os outros egos.
Mas nesse caso não serão respostas válidas, reais, mas ilusões fantasmagóricas, como Krishna
diz. Além do mais, se conseguir respostas, não conseguirá chegar a conclusões (verdades)
nenhumas, a não ser que Deus as crie.
Sendo assim, não foi você quem compreendeu, mas Deus que deu a você, ego, uma
compreensão sobre um assunto que não existe a partir de uma resposta que Ele criou. Não é mais
fácil estancar esta busca desesperada, já que tudo sempre acabará da mesma forma: algo ilusório
que Deus cria...
O espiritualista e o monismo
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Apenas viver
Participante: Devemos, então, apenas ser espectador da vida. Apenas ir
vivendo sem se preocupar em fazer algo já que tudo é ilusão e o ego não faz
nada mesmo?
Krishna ensinou isso: repousa em Mim (Deus) e assista sua vida. Apesar disso ter sido
ensinado por um mestre, eu me atreveria a ir um pouco mais longe: não assista a sua vida, mas
sim a cada momento dela, sem conectar-se a passados ou futuros. Para fazer isso é preciso mais
do que assistir a vida: é preciso assistir as formações mentais.
O que estou querendo dizer com isso? Estou querendo dizer que se amanhã o seu ego
disser que vai a algum lugar, não comprometa seu coração com isso. Não acredite que irá ou
deixará de ir a lugar nenhum.
Assista ao pensamento sem participar dele: é isso que estou querendo dizer... Não se trata
de apenas assistir o ir ou não ir, mas também de assistir o pensar em ir.
Aliás, isso que estamos falando (assistir o pensamento) faz parte do Nobre Caminho
Óctuplo que Buda ensinou. Buda disse que é preciso ter atenção plena correta e fazer isso é ter
atenção ao pensamento que se está tendo naquele momento.
Esta atenção não se consiste apenas em acreditar ou não se a previsão trazida pelo
pensamento acontecerá ou não. Ela deve levar o ser a estar sempre atento no sentido de não
deixar o coração se comprometer com a razão...
Participante: É, só sobra a ilusão para saborear mesmo...
Experiências carnais
Participante: Como o espírito retém as experiências de vida na carne?
Como Deus criar através do ego...
Veja bem: o espírito não retém experiências. Ele não se lembra dos casamentos, dos filhos
que teve...
Ele se lembra das provas. Ele se lembra que foi testado na posse sobre uma mulher ou
sobre filhos. Ele não se lembra de casamento ou família que teve.
O que você chama de lembranças de vidas passadas, na verdade, são informações atuais
que Deus está mandando pelo ego. Mesmo que estas lembranças descrevam acontecimentos de
vidas anteriores, elas não estão vinculadas ao passado, mas foram criadas neste momento.
Quando um ego, num trabalho de terapia de vidas passadas se lembra de outras
encarnações, ele não está se lembrando de nada: Deus está passando aquelas informações
O espiritualista e o monismo
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naquele momento e está criando a idéia de que aquilo são lembranças... Isto porque, tudo que vem
pela razão é criação do ego atual.
Portanto, não há nem a ilusão para saborear. Da ilusão devemos querer distância, pois
enquanto a saboreamos, não conseguimos libertar-nos dela...
Você, o espírito, tem a ilusão para tratá-la como ilusão e não é para saboreá-la. A única
coisa que deve balizar o relacionamento com as ilusões é o nada: nada vale, nada sei, nada
funciona, nada é o que vejo, o que sei e nada posso saber.
Apesar deste ser o balizamento da sua relação com as ilusões, isto não deve acontecer de
forma racional, ou seja, por idéias. É preciso dizer com o coração que nada do que a razão cria é
Real.
Se você alcançasse uma consciência racional que nada sabia, isto seria irreal, pois o saber
que nada sabe ainda é um saber. Se soubesse pela razão não teria deixado de saber. Aliás, nada
teria feito, pois a compreensão racional de nada saber é algo dado por Deus. É Ele que lhe faz ter
a consciência racional de nada saber e não você que alcançou tal desprendimento...
É no seu coração que precisa não saber coisa alguma. Isso é alcançado pelo espírito
alcança quando ele não deixa perguntas como essas e curiosidades como essas afetarem o
coração.
É preciso não deixar a vontade de ajudar os outros ou a própria busca da elevação
espiritual afetar o coração. Isso se chama equanimidade. Estar equânime é não deixar a razão
afetar o coração.
A vida e a Causa Primária
Participante: Parece que tudo converge para Deus e, se não vai pelo amor, vai
pela dor. Um amigo me disse que isso seria imposição e cerceamento da
liberdade. O que dizer a ele?
Não, isso é dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Isso é dar a Deus a
posição de Senhor do Universo, de Criador e dar ao ser humano a posição de criatura, de
assistente da criação.
É isso que Cristo quis dizer quando afirmou que se deve dar a Deus o que é Dele e a
César o que lhe pertence. Mas, apesar deste ensinamento, a humanidade, orgulhosa de si mesmo,
quer dar a César o que é de Deus... Impossível...
Falo desta forma porque, se a humanidade diz que o ser humano é capaz de criar, está
chamado-o de criador. Com isso retira esta função de Deus...
Veja, deixe-me dizer-lhe algo. Eu não aceito nem que se diga que o ser humano é uma
marionete de Deus... Sabe por que? Porque o ser humano não pode ser nada, já que ele nem
existe.
O espiritualista e o monismo
página 60
Eu já disse aqui e vou repetir agora: poderíamos comparar a idéia que o espírito tem de ser
um humano como algo que surge no homem quando ele fuma maconha ou cheira cocaína: um
delírio...
A idéia de ser um humano é um delírio do espírito... Se o delírio não existe, como pode ter
direitos sobre o que é Real?
Sim, a personalidade humana é um delírio do espírito. Pense bem: será que o ser
universal, que é simples e puro, criado a imagem e semelhança de Deus e que por herança
genética possui tudo o que Deus possui, pode ser um humano? Claro que não...
Participante: Sempre adotei a idéia do humano como co-criador da Realidade
Universal, mas vou adotar essa idéia de manipulador da matéria universal...
Quem é o manipulador? O espírito, o ser humano? Não, apenas Deus é o Criador e por
isso o único manipulador. O que Ele faz é dar aos espíritos ilusões de estar manipulando alguma
coisa.
Quando você fala em manipular por si mesmo está falando em co-criador do mesmo
jeito.Saiba, não existem co-criadores. O que existe no Universo é Deus, o Criador e espíritos,
assistentes da criação. Assistentes de assistir, ver e não de ajudar...
O espiritualista e o monismo
página 61
2ª Palestra
Amar universalmente
Participante: Parece ser impossível ao humanizado amar universalmente,
mesmo que se empenhe para consegui-lo o que na verdade alcançam? Será
certo dizer que aquele que conseguir lograr o intento deixa de ser humanizado?
Ao humano é realmente impossível universalizar-se, mas para o espírito também o é.
Vamos entender isso...
Quando você fala em ser humanizado, na verdade está falando de um espírito que acredita
ser humano. A esse não é possível, porque o que é humano não pode jamais se tornar universal.
Porque tudo o que é humano não consegue amar universalmente? Porque as bases de
formação das verdades do ego são egoístas, individualistas. O ser humano, ou seja, a
personalidade humanizada a qual o espírito se liga e imagina ser, não conseguirá jamais se
universalizar, porque ela é por fundamento egoísta.
Mas, antes que alguém se arvore em julgar e condenar a personalidade humana, me deixe
dizer uma coisa: isso não quer dizer que a personalidade humana seja “má”. Isso quer dizer que
vencer o egoísmo é a prova do Mundo de Provas e Expiações.
A personalidade humana não pode ser boa ou má, pois como dissemos da ultima vez, ela
nem existe. É só uma ilusão. A personalidade humana é uma idéia, não uma Realidade. Sendo
assim, como pode alcançar alguma coisa?
Já quanto ao espírito, ele não pode universalizar-se porque já é universalizado. O que o
espírito pode fazer é retornar à consciência da universalização em que já vive.
O espírito não é egoísta, não é individualista. Ele se imagina como quando acredita nas
verdades criadas pelo ego como reais. Aliás, ele nem se torna egoísta: apenas tem a ilusão de se
tornar. Na Realidade ele continua sendo universal; só ilusoriamente é que vive egoisticamente.
Então, respondendo-lhe, o ser humano não pode alcançar a universalização porque todas
as suas verdades são fundamentadas no egoísmo e o espírito também não pode alcançá-la
porque ele já é.
A partir disso que vimos, vamos, então, desde logo colocar uma coisa bem clara: você,
espírito ou ego, não tem nada a fazer. Saiba de uma coisa: a evolução espiritual não se dá por
conquistas, por mudanças, mas ela acontece quando você, espírito, se liberta de algumas coisas.
Essa liberdade não se alcança por conquistas de coisas novas, mas por uma eliminação de coisas.
Existe apenas uma coisa que você precisa fazer: deixar de acreditar nas ilusões que o ego
cria. Por exemplo: aquela que diz que você tem que fazer alguma coisa para universalizar-se.
O espiritualista e o monismo
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Isso é uma ilusão que o ego cria. Você não tem nada para fazer, nada para realizar. Deve
apenas libertar-se da idéia que diz que o que você vivencia é real. Se você, espírito, já está
universalizado, mas não tem consciência disso porque vivencia a ilusão como Realidade, quando
não mais acreditar nas ilusões, retornará à sua consciência original.
Então, quanto à questão universalizar-se de sua pergunta, eu respondo afirmando que
ninguém pode se universalizar: o humano porque não é premissa do ego e o espírito porque já
está universalizado.
Outro aspecto da sua pergunta que gostaria de comentar: mesmo aqueles que se
esforçam... Quem se esforça por alguma coisa neste mundo? O ego? Não, ele não se esforça.
Aliás, ele nem existe.
O ego não é um elemento do Universo: ele é uma ilusão, algo que não existe. Já o espírito
também não se esforça porque na sua consciência primária já sabe que é universalizado e que
Deus é a Causa Primária de todas as coisas.
O que acontece é que o espírito acredita no esforço ilusório que o ego cria: “eu quero me
evoluir”, “eu tenho que fazer isso para evoluir”. Este pensamento até parece realmente puro, mas,
quem quer evoluir, na verdade não está nem buscando a evolução, pois este querer é egoísmo, é
fruto de um quer para si.
Quem quer alguma coisa para si é um egoísta... Portanto, quem quer universalizar-se tem
que antes de qualquer coisa deixar de querer...
Outro aspecto que você falou: quem lograr... Quem pode lograr alguma coisa num mundo
que não existe. Quem pode conquistar algo dentro de um mundo que não existe?
Para lhe responder a pergunta como um todo, poderia dizer que aquele que se libertar da
ilusão pode ser considerado não mais humanizado. O espírito que consegue desprender-se da
crença de que é humano, pode ser realmente considerado como não humanizado. Mas, ele não é
considerado desse jeito porque aprendeu ou conseguiu algo, mas simplesmente porque deixou de
acreditar que a humanidade é real.
Só para completar o raciocínio que diz que ninguém pode evoluir, quero lembrar algo que
falamos: o Universo é Único, Uno e Constante. Se você fala em sair de um ponto para outro, não
importa sobre o que seja, acabou coma Unidade.
Veja bem: se o Universo é Uno todos estão num ponto só; se o Universo é Único, não
existem pontos para se movimentar entre eles; se o Universo é constante, nada se altera, nada
muda de lugar...
Sei que este pensamento é difícil para vocês. Portanto, não queiram compreender: apenas
ouçam...
Consciência de ter se libertado
Participante: Como sei se me libertei, se é o ego ilusório que me dá essa
consciência?
O espiritualista e o monismo
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Você diz assim: com eu sei. Para poder comentar o que me pergunta, eu lhe digo: Quem é
você?
Participante: Um espírito...
Isso é teoria... Isso é uma idéia que o ego lhe dá...
Se você se considera um espírito, lhe pergunto: quem é você, o espírito? Como você é? O
que faz? Você não tem noção de nada disso... Não sabe nada do mundo espiritual pode ou de
como ser um espírito, como pode então se dizer espírito? A idéia de ser espírito é algo que o ego
cria.
Você não é espírito, é o ego. É um ego que está ligado a um espírito. O espírito existe, ele
está no Universo, mas você, razão, raciocínio e pensamentos é um ego.
Sendo assim, como o ego vai saber se ele chegou a algum lugar se ele nem ao menos
existe? Mesmo que existisse, como pode o ego chegar a algum lugar se ele não tem lugar para
chegar?
Ele é simplesmente algo que Deus cria passo a passo e não alguma coisa que se forma
continuamente. Para o ego não há chegada porque não há saída... Não há chegada porque não há
movimentação...
A consciência que você realizará alguma coisa é apenas uma idéia do ego formada sobre
o poder de maya (ilusão, reflexo). Krishna nos ensina que tudo que vem a mente de uma
personalidade humana é formada por maya, pelo poder inescrutável de maya.
Então, você não vai chegar a lugar algum, porque você é o ego e ele não tem aonde
chegar, porque não tem de onde partir. O ego não se muda: ele é sempre emanação de Deus, não
importando que idéia ele forme.
Então você ego, será sempre a emanação de Deus: nuca deixará de ser isso e nem
poderá ser outra coisa. Sendo assim, não há aonde chegar.
Agora, você existe como espírito, sim. Mas, o espírito que você é está completamente
distinto da razão que vive hoje.
Deixa eu lhe explicar uma coisa. Tem um estudo que fizemos e que falava sobre ser ego
ou espírito, onde digo assim: você, espírito, é aquilo que está e como você está humano, é o
humano. Você não é humano, é um espírito, mas por estar humanizado virou humano.
Você é só o ego. Mas, será que o espírito existe? Sim... Onde? No Universo... Onde é o
Universo? Em todos os lugares... Ele está aqui, portanto, mas não é quem você acha que é...
O espírito existe, mas ele não tem sensações, percepções, formas, pensamentos,
memórias. Tudo isso é ego. Raciocínio é ego; ver, ouvir e sentir odores também. O espírito está
longe de tudo isso.
Mas, mesmo que falássemos do espírito, este também não tem que saber se chegou a
lugar nenhum, porque na sua consciência primária, ele já está onde sempre esteve e onde sempre
estará.
Sabe, continuamos falando nesta conversa, como fizemos na anterior, em monismo e é
importante que falemos muito neste assunto. Isso porque é preciso que vocês compreendam de
O espiritualista e o monismo
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uma vez por todas que o monismo não aceita alterações. O monismo não aceita caminhadas de
um ponto a outro...
Veja bem, se você fala em alterações ou caminhadas, está dizendo em sair de um ponto
para chegar a outro. Criou-se o dualismo: um e outro ponto.
O monismo é a Unidade e quem está em Unidade já está e não pode perdê-la. Isso porque
dentro do monismo não existe a não dualidade: dois lugares distintos.
A não unidade é apenas uma idéia que o ego cria e que diz que você não está
harmonizado com o mundo, mas está. Mesmo você ego está harmonizado com o mundo.
Eu falei anteriormente sobre Hitler, por isso vou continuar no mesmo exemplo. Você acha
que este ego não estava harmonizado com o mundo? Claro que estava... Afirmo que ele estava
harmonizado com o Universo porque foi o criador de atos ilusórios que o mundo precisava.
Sabe, aquelas ilusões de fim de vida que ele protagonizou eram necessárias para os
espíritos que viveram aqueles acontecimentos. Sendo assim, aquele ego estava harmonizado com
o mundo. Pode não estar harmonizado com os seus padrões de mundo perfeito, mas isso são
apenas os seus padrões...
A Verdade é uma só: no Universo tudo está harmonicamente se interdependendo. Tudo
existe na Unidade. Mesmo a idéia da dualidade faz parte da Unidade.
Um dia me perguntaram: o que é ser universal, o que pode ser considerado como
Universal? Eu respondi que universal é tudo que existe no Universo.
Então, mesmo aqueles que segregam e os dualistas, são universais, pois eles existem,
mesmo que ilusoriamente, no Universo. O próprio dualismo dos dualistas e a segregação daqueles
que segregam faz parte do Universo. Portanto é universal, faz parte da Unidade.
Volto a repetir, não se podem distinguir os elementos do Universo: isso é uma coisa aquilo
não é. Isso porque quando se separa qualquer coisa se acaba com o monismo.
Mesmo que aparentemente algo não esteja unido ao Todo, está unido. Isso porque a
desunião é fruto do poder inescrutável de maya. Toda a idéia de dualismo é uma criação de Deus,
uma ilusão, porque só existe a Unidade.
Portanto, não há como se tornar Uno, alcançar a Unidade, pois você, não importa se ego
ou espírito, já é Uno, já está em Unidade. Apenas as suas ilusões afirmam o contrário. Por isso
afirmo: é preciso abandonar a ilusão para se voltar a Realidade.
Libertando-se do maya
Participante: Como quebrar as malhas de maya?
Não se quebram as malhas de maya, não se luta contra o ego. O que você pode fazer é
não acreditar que o que o ego cria é realidade.
O espiritualista e o monismo
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Mas isso não pode ser feito através da razão, ou seja, você ter pensamentos que afirmam
que o pensamento não é real. Na verdade, a única coisa que você pode fazer para desligar-se do
ego é manter o seu coração equânime, em paz.
Sendo assim, o trabalho para se desligar do ego se consiste em não comprometer o
coração com as razões, sejam elas formações mentais ou sensações, que o ego cria. Quanto mais
você vai conseguindo manter o coração distante da razão, mais esta última perde força. Ou seja,
menos força Deus dá à razão.
Só quando isso acontecer, você vislumbrará a Unidade. Mas, como já disse, este vislumbre
se dá no coração e não na razão. No racional não há como se separar a Unidade do dualismo,
porque a razão é por premissa dualista e nem se dá conta disso.
Participante: O desmontar da ilusão pelo coração, no fundo é uma forma de
evolução do espírito que se encontra a animar um corpo ou uma forma densa
em planos e planetas como a Terra?
Sei que você já nos ouve a algum tempo. Mas, também acho, que já compreendeu que
estou mudando um pouco a minha forma de falar... Por quê? Porque estamos trabalhando com
outros conceitos.
Portanto, terei que responder a sua pergunta passo a passo, para poder lhe transmitir
estes conceitos...
Vamos lá: O desmontar da ilusão pelo coração...
Na verdade a ilusão não é desmontada, quer seja pela razão ou pelo coração. A ilusão não
acaba, ela permanece. O que pode acontecer é deixar de se acreditar nela como real, de se
comprometer sentimentalmente com as verdades que ela cria.
Desmontar seria acabar com a ilusão e isso não pode acontecer. Você vivenciará a ilusão
(a razão) enquanto estiver ligado a este ego e isto não pode ser alterado...
Vamos a outro ponto de sua pergunta: no fundo é uma forma de evolução do espírito.
Não posso aceitar esta premissa que você utiliza, porque acabei de dizer que no Universo
tudo que existe é Uno, Único e constante. Sendo constante, que evolução pode existir?
Esta questão de evolução espiritual, você progredir espiritualmente, é uma idéia dualista,
de ego. O espírito nasce puro e permanece assim por toda a eternidade. O que é impuro são as
idéias que o ego cria, mas a pureza interior de um espírito não se compromete com as sujeiras, as
ilusões criadas pelo ego.
Eu disse outro dia: na Realidade, o espírito está no Universo amando simplesmente. Na
Realidade ele só ama.
Apesar de voltar a falar disso agora não se esqueça que eu complementei naquele estudo:
essa questão de amar é apenas uma palavra. Na Realidade o espírito está no seu mundo fazendo
alguma coisa que você não consegue saber o que é. Este algo, no entanto, ele jamais deixa de
fazer. Ele apenas acha que está fazendo outra coisa, mas não está.
Então, não há evolução de espírito, mas ilusão de evoluir. Se no Universo tudo é
constante, como pode alguma coisa alterar-se?
O espiritualista e o monismo
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Na verdade o espírito não se altera: se limpa. É diferente: evoluir é galgar novas posições;
se limpar é permanecer estático no mesmo lugar retirando camadas de sujeiras. São coisas
diferentes.
Na verdade nem tirando nada o espírito está, pois essa “sujeira” é uma ilusão. O espírito
tem a ilusão de estar sujo e acha que precisa se limpar e imagina que está fazendo isso...
Não, não posso aceitar a sua premissa para respondê-lo, pois ela é uma falácia. Se a
usássemos como base verídica para uma reposta, chegaríamos a uma falsidade.
Outro aspecto de sua pergunta: que se encontra a animar um corpo ou uma forma densa
em planos e planetas como a Terra.
O que é uma forma densa? O que é um corpo? O que é um plano de vida ou um planeta?
Veja, no Universo não podem existir elementos no plural ou formas diferenciadas. Se
existissem planetas, por exemplo, a Unidade teria acabado. Só existe o Universo e nele o espírito
tem a ilusão de achar que existem planetas.
O Universo não pode ter planos de vida. Sei que eu já falei neste elemento como real, mas
isso foi necessário antes de se chegar ao monismo. Ou melhor. Como caminho para se chegar a
ele.
Mas, na hora que você encara a Unidade de frente compreende que foi um conhecimento
necessário para lhe trazer até aqui. Compreende mais: agora esta idéia precisa ser destruída.
Sendo assim, é preciso que agora você destrua a idéia da existência de variados planos de vida
porque senão estaria se afastando, mesmo que ilusoriamente, da Unidade.
Além disso, não existem encarnados ou desencarnados. Aliás, o próprio Krishna fala isso
no Bhagavad Gita: o espírito não encarna ou desencarna. Um espírito não pode vir até a carnes,
até porque a carne não existe.
NOTA: Bhagavad Gita, capítulo II, versículo 20.
“Esse Ser não nasce nem morre e tampouco reencarna; o Ser não tem origem;
é eterno, imutável, o primeiro de tudo e todos e não morrer quando matam o
corpo”.
Some, então, tudo o que disse e veja se lhe respondi...
Participante: Mas, o espírito não trabalha com o fluído cósmico que é
vulgarmente chamado de matéria?
Eu não desdisse isso... Sim, o espírito trabalha com fluído cósmico universal, que é
vulgarmente chamado de matéria e que eu chamo de amor. Mas, tudo isso são apenas palavras...
Explique-me o que é isso que você falou (trabalhar com o fluído cósmico)? Você não sabe,
não é mesmo? Então, você não sabe o que é isso. O seu ego tem idéias, mas o que ele sabe de
tudo isso são ilusões e não verdades...
Participante: O não comprometimento no coração é o caminho do meio que os
mestres orientais ensinaram?
Sim, é o caminho do meio que Buda ensinou; é a equanimidade que Krishna ensinou.
O espiritualista e o monismo
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Para melhor compreender isso, deixe-me dizer uma coisa: o ponto do meio não é vazio de
nada. Na verdade ele é um ponto onde os dois extremos se fundem a tal ponto que um anula a
ação do outro.
Então, manter o coração equânime ocorre quando as razões de “certo” e “errado” se
fundem no seu coração a tal ponto que você não vibra de êxtase no certo nem sofre depressão
pelo errado. Neste momento você atingiu a equanimidade: igualdade de ânimos.
Isso é não comprometer o coração com a razão.
O valor do ego
Participante: É isso que me é difícil entender... Eu vejo o ego como uma peça
necessária no cenário do Uno. Sem ele o Todo não estaria completo. Não é
assim? Sem ele faltaria a peça que se chama “ilusória”...
Deixe-me falar primeiro uma coisa. Você me diz me que é difícil entender e eu pergunto:
difícil para quem? Para o ego? Para ele não há dificuldade ou facilidade, pois nem há
compreensão.
A compreensão que o ego alcança não é o fruto de um raciocínio, mas algo que Deus dá.
Se o Pai não criar algo que seja rotulado como compreensão de um tema, o ego jamais
compreenderá nada.
É difícil para quem, para o espírito? Para ele é impossível compreender alguma coisa do
mundo material.
Isso porque o espírito não entende nada que faça parte da razão humana. O espírito não
trabalha em sua consciência primária com nada que faça parte do mundo humano. Até porque,
tudo que é material é apenas uma ilusão, não existe e o espírito vive na Realidade, num mundo
Real.
O espírito que não conhece as formas ou as idéias do ego porque elas não fazem parte do
seu mundo. Aliás, elas não fazem parte de mundo, pois estes elementos não existem...
Eles são elementos que Deus cria através do ego. O tem a ilusão de estar percebendo
estas ilusões e acredita esta percepção é Real. Só neste momento o elemento humano tornou-se
real, mas isso aconteceu apenas para aquele espírito.
Então, não há nada para entender, nada para compreender. Se houver algo que você
possa chamar de compreensão, este algo será ditado por Deus e não uma conclusão que o ego
chegou por si. Se Deus não ditar, jamais você compreenderá.
Agora podemos continuar com a sua pergunta: Eu vejo o ego como uma peça necessária
no cenário do Uno.
Não, ele não é necessário: ele existe no Uno. Se é necessário ou não, eu não sei... Só sei
que ele existe. Sabe como sei disso? Porque você está vivendo ele...
O espiritualista e o monismo
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A partir do momento que ele existe, já está na Unidade. Mesmo que ele seja uma ilusão e
que o que crie seja dualista, a existência dele e de suas criações estão na Unidade,. Mesmo como
uma ilusão, como uma idéia apenas, o ego está presente na Unidade.
Necessário ou não, não sei... Se amanhã Deus, não vou dizer criar, mas mostrar a você
um outro processo diferente de consciência que já exista, o ego como conhecido por você agora
não será mais necessário. Mas isso não acabará com a existência do ego humano, pois apenas
para você ele perdeu a necessidade, mas continua necessário para outros...
Veja bem: não se pode julgar necessidade de nada. Prestem bem atenção nisso: no
Universo não existe nada a mais nem faltando. O Universo é preciso porque é a Unidade e ele está
completo. Sendo assim, nada pode ser criado ou deixar de existir.
Tudo está pronto: Não foi isso que Cristo ensinou? Salomão afirma também: quem pode
fazer alguma coisa que alguém não tenha feito?
Sabe, essa idéia que seus problemas são particulares, individuais, é só uma idéia gerada
pelo ego. Se você começar a conversar com um ou com outro verá que os problemas de cada um
são quase iguais, se não forem perfeitamente iguais. Sendo assim, não há nada a ser criado, nem
por Deus.
O Universo é Uno, Único e Constante. Se é constante, nada acaba nem nada começa.
Apesar disso, você, acreditando no ego, está preocupado com o futuro que irá acontecer.
Saiba que não há nada de novo para acontecer, porque nunca houve algo que já tenha acontecido.
O Universo continua sempre Uno, Único e Constante. São apenas as ilusões que se
alteram, que mudam de forma e, por isso, você acha que as coisas estão ou poderão ficar
diferentes.
No âmago, na Realidade, o Universo está parado enquanto você acha que as coisas estão
mudando... É, o Universo é parado, pois não pode mudar nem se movimentar. Mudando-se ou
movimentando-se, não seria constante.
A necessidade de encarnar
Participante: Ainda não entendi porque o espírito puro passa por uma
mergulhada no ego. Ou por outra, não tem o que entender? O conceito de
espírito puro e limpo que passa por uma fase de humanização, que finalidade
tem?
Não há nada a ser compreendido, porque afinal de contas você é o ego e esta
personalidade ilusória não compreende nada. Ela recebe alguma propositura de razão, que você
chama de compreensão, de Deus, mas não chega por si só a nenhuma conclusão.
Qual a finalidade da humanização? Não sei... Agora, sei que ela é real, ela existe, pois
vocês estão vivenciando isso. Agora por que, para que, como, quando, onde, no que vai dar, isso
são especulações que o ego faz.
O espiritualista e o monismo
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O verdadeiro sábio, aquele que consegue não comprometer o coração com a razão, como
Krishna ensinou, transita entre as coisas do mundo sem se apegar a elas. Ou seja, ele sabe que a
humanização existe, convive com a realidade de sua existência, mas não fica preso a querer
entender e compreender o porque e como se processa a humanização.
Deixa eu lhe dizer uma coisa. Eu já respondi perguntas iguais a essa de outra forma:
dando razões. Já disse, por exemplo, que o processo de humanização é preciso porque o espírito
em uma primeira encarnação se sujou. Mas isso foi em outros tempos... Hoje, alcançando o
monismo, atingindo uma compreensão sobre Unidade, não posso responder a esta pergunta da
mesma forma.
Na busca da compreensão da Unidade não se podem criar dualismos ou movimentações.
Como caminho para chegar ao conceito Unidade – sim, Unidade, para vocês também é um
conceito formado pelo ego, pois existe alguma coisa que acontece no Universo que o ego rotula
como Unidade, mas que realmente você não se sabe o que é – foi preciso formar alguns conceitos.
Mas, hoje não posso mais formá-los e por isso não posso responder a sua pergunta a não ser
dizendo que o ego só saberá quando deus quiser.
Mas, mesmo que Deus proponha ao ego compreender, esta compreensão não será real.
Isto porque Deus não propõe pelo ego Verdades Absolutas, mas sempre relativas. Isso porque Ele
não revela a Realidade, mas cria verdades ilusórias que tenham utilidade para a provação. Ou
seja, dá a cada uma idéia sobre o que é Real de acordo com a sua necessidade.
Então, existe uma Realidade e existe uma ilusão. Na Realidade existe uma Verdade, mas
na ilusão podem e existem diversas verdades. Se você acreditar que o que sabe é Absoluto
comprometerá certamente o seu coração com a razão.
Portanto, não queira saber, não queira discutir ou conhecer nada: apenas viva.
Viva para libertar seu coração da razão. Se ela lhe disser que isso acontece por causa
daquilo, não deixe seu coração vibrar nesta certeza. Se deixar, Deus lhe dará alguém que será
contrária a ela e criará idéias de críticas no seu ego e seu coração vibrará também nesta
freqüência.
É só isso...
Medo
Participante: Pode falar um pouco sobre o medo?
O medo é uma sensação criada por Deus através do ego. Medo é uma sensação
perceptiva.
Medo não existe. Onde há a Unidade não pode haver dualismo e por isso não pode haver
medo ou confiança.
O medo é uma ilusão gerada por Deus para ver se o espírito continua amando a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, ou acredita que está com medo.
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Ser humano
Participante: Pergunto como um humano ouve, pois me encontro ancorado na
humanidade. Portanto, só poderei compreender como humano, mesmo que
sabia que sou um espírito.
Como um humano que você é, saiba que não compreende nada: Deus lhe dá as suas
compreensões... Como humano que você é, saiba que você não ouve: Deus lhe dá as percepções
auditivas.
Estas percepções, ou seja, aquilo que você ouve, não é criado no mundo externo. Isso
quer dizer que não é um som que determina as palavras que você ouve. O que lhe é consciente
pela audição surge no mundo interno, no funcionamento da sua razão.
A própria ciência já comprova há muito tempo que a imagem, o som e o sabor não vêm de
fora, mas são formados no cérebro. Veja bem: você está muito longe de mim; tente imaginar como
teria que falar alto para que você pudesse ouvir aí a minha voz...
Não teria como ser ouvido, não é mesmo? Mas mesmo assim você me ouve, não? Para
entender isso, vamos compreender como o som se desloca, segundo a ciência.
Segundo as ciências humanas, você não está ouvindo a minha voz, mas capturando ondas
eletromagnéticas. Estas ondas lhe chegam em formato de energias e não de palavras. Ao serem
percebidas pelo cérebro, ainda de acordo com a ciência, elas são decodificadas pelo cérebro e se
transformam em palavras.
Esta é a verdade científica. Voltando agora ao nosso assunto (espiritualismo), lhe
pergunto: quem faz a conversão de uma onda eletromagnética em palavras, frase e idéias? O
cérebro?
Se o cérebro é inteligente, ou seja, é capaz de executar ações, é o espírito, porque o ser
universal, segundo definição do Espírito da Verdade, é o princípio inteligente do Universo. Mas, se
o cérebro é o espírito, pergunto: o ser universal morre? Sim, porque o cérebro morre, para de
funcionar, se decompõe.
Diante de tudo o que conversamos, posso então dizer que o seu ego percebe uma onda
eletromagnética, mas que existe algo ou alguém (Deus) que transforma esta matéria energética em
palavras, frases e idéias.
Apesar disso ser Realidade, não há compreensão sobre o tema que possa lhe levar a viver
de forma diferente. O ego continuará pensando que sempre estará ouvindo a voz do outro, as
palavras do outro, as idéias que o outro pronuncia. Portanto, de nada adianta tentar compreender
como funciona, universalmente falando, o ouvir humano.
Apesar de não compreender como isso ocorre, tenha a certeza de que tudo está sendo
criado dentro do ego e que não se trata de algo oriundo de outra pessoa. É na sua mente que a
onda eletromagnética se transforma em frases e sons a partir do faça-se de Deus. O que você
ouve, na verdade, não sai da boca de ninguém...
“Então, o que eu estou fazendo aqui se não há nada a ser compreendido” seria a sua
pergunta depois de constatar isso. Não sei, ou melhor, sei: aquilo que Deus lhe disser que está.
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Veja, na verdade você nem está aqui. Esta reunião, que aos próprios olhos humanos é
considerada como virtual, já que estamos nos comunicando pelo computador, para nós é mais
virtual ainda. Para nós é mais ilusória do que para vocês, pois vocês pelo menos acreditam que
existe uma conexão via computadores, mas para nós o próprio computador é uma ilusão...
Portanto, o trabalho da elevação espiritual se caracteriza pela libertação de toda razão. Eu
falei todas...
Neste trabalho, não adianta se fixar em um ponto e a partir dele criar verdades, como você
fez ao formular a pergunta. Você disse: eu sou humano e preciso. Não, você não precisa, porque
você não é humano: está humanizado...
O que você precisa é compreender que não precisa. Para que? Para poder exercitar e
trabalhar a desvinculação do seu coração, pois tendo a razão como criador de realidades, ou seja,
acreditando que você está, é ou faz, não conseguir ouvir o seu coração falando.
Porque os mestres orientais e até mesmo o próprio Cristo aconselham a meditação? Para
que você pare de ouvir a razão e ouça o coração.
O problema é que vocês não abrem mão da realidade que está sendo imposta pelo
raciocínio. Aí ficam querendo trabalhar tudo pela razão, pelo ego, pela compreensão, pela
sabedoria, pela idéia e não ouvem o coração.
Por causa disso, o coração de vocês fica como um bêbado: trôpego, indo de um lado para
outro, caindo e se levantando... Mas, isso só acontece porque vocês não conseguem ouvi-lo falar,
pois estão firmemente concentrados em ouvir a razão.
Adoro humanos que dizem, de coração e de razão: “eu sei” sobre alguma coisa do
Universo. Querer saber alguma coisa sobre o que não pode ser perceptível é a demonstração
maior do egoísmo que está no ego. Como um ego, limitado pelas coisas materiais, pode saber o
que está no Universo? Só Deus sabe. Então, não comprometa seu coração com o que o ego
disser que sabe ou não.
Amar
Participante: Mas, o humano não sabe amar como você diz. Como, então, me
situar? Você não se dirige a nós por amor, não faz como Cristo fez?
Realmente o humano não sabe amar. Ele é incapaz de amar universalmente: isso eu já
tinha realmente dito. Agora você me pergunta: a partir disso, como me situar?
Pois bem, o humano não pode se situar ou deixar de situar-se, pois no Universo não
existem dualidades. Qualquer forma que o humano se situe será a forma que ele deveria estar
situado.
Não há nada a ser realizado. Tudo que acontece faz parte da Realidade e, portanto, não
poderia deixar de ser diferente...
Veja bem. Não há como se situar, pois, não importa como está, você já está situado. Não
há como se portar de outra maneira, pois a maneira como se comporta faz parte da Unidade. Não
O espiritualista e o monismo
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há como fazer de outro jeito ou ter sensações diferentes das que fez e teve, pois o que está na
Unidade não pode ser alterado.
Saiba: o comportamento do ser humano não é gerado pelo ego de livre e espontânea
vontade, mas acontece como Deus o faz comportar-se. Portanto, o comportamento, seja ele qual
for, está harmonizado com o Universo e está presente na Unidade Universal.
É preciso que você compreenda que não existe “certo” ou “errado”. Quando me pergunta
como se comportar está propondo um dualismo: me comporto assim ou assado? Você não pode
se comportar de uma forma que não esteja presente na Unidade, mesmo que esteja humanizado.
Quanto ao restante de sua colocação, digo que sim, eu falo por amor. Mas este amor que
me move, não tem nada que você possa compreender. Portanto, não se preocupe com a maneira
como eu me comporto junto à minha missão e preocupa-se em libertar-se desta verdade.
Participante: Como saberei diferenciar que é o meu ego ou meu coração que
está falando a mim?
Racionalmente, por compreensão, compreendendo, você não saberá diferenciar.
Volto a repetir: o problema é que você quer realizar alguma coisa, quando não há nada a
ser realizado. Por isso está preocupado em reconhecer se está fazendo ou deixando de fazer
alguma coisa...
Deixe-me explicar algo. Existe um conceito oriental que é o “não”: não eu, não ser, não
realizar. Esse conceito não é negativo, ou seja, a não realização não é a negação da realização de
alguma coisa, deixar de fazer algo.
A não realização não é antagônica à realização. Ela é simplesmente um ponto entre o
realizar e o não realizar. Eu acabei de falar sobre isso: é o caminho do meio. A não realização
ensinada pelos egos orientais é um ponto onde a realização ou o não realizar se fundem
perfeitamente a ponto do acontecimento não influir no coração.
Você não pode saber se realizou porque não há realização para ser realizada. Você não
pode deixar de realizar, porque existe uma Unidade onde tudo está embutido. Sendo assim, o ato
de não realizar algo é a realização que deveria acontecer...
Ora, se não há realização a ser realizada, o que você está fazendo aqui – seria a sua
pergunta. Mas, eu não estou nem aqui...
Já falei sobre isso. O Joaquim que está falando e as palavras que você atribui a este
elemento estão sendo criados dentro do seu ego e não exteriormente. Não há como eu falar ou eu
me silenciar. Não há dualismos...
É isso que precisamos entender e eu sei que para os egos chamados ocidentais que são
formatos pela razão, para quem a razão é o deus, ou seja, o criador de todas as coisas, isso é
quase impossível. Compreender o “não” como desinteresse por, sem agir de forma omissa, é difícil
para os seres apegados à necessidade de ser, estar e fazer. Mas, apesar disso, é isso que se faz,
é assim que se conquista a liberdade do ego.
Viva o que você tem para viver, sem se preocupar em saber se está “certo”, se isso lhe
aproximará de Deus e sem querer saber o que está fazendo. Quando achar racionalmente que
colocou o coração à parte, viva esta informação sem glórias, pois se trata apenas de um achar do
O espiritualista e o monismo
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ego. Quando achar que não colocou, viva sem a depressão da dor, porque também é apenas uma
informação criada pelo ego e não uma realidade.
Sabe, não há conquistas a serem realizadas. Por isso não existem também momentos
onde se faça ou se deixe de fazer. O fazer ou deixar de fazer é um dualismo que não existe, que
não pode ser realizado. Existe apenas a Unidade, ou seja, o que foi feito.
É difícil se colocar em palavras para egos ocidentais estes valores, estes conceitos, porque
para vocês só existe o “sim” e o “não”.
Já alertei diversas vezes que quando dou uma determinada orientação não estou negando
o seu oposto. Por exemplo: já falei que estudar não tem importância para a elevação espiritual. Aí
um ego ocidental me disse: o senhor disse que não devemos estudar.
Eu não falei isso. O que disse é que você não deve se preocupar em ter que estudar.
Estudando ou não, mantenha o seu coração longe do êxtase ou da depressão que o ego cria...
Mas o ego ocidental não consegue entender isso. Ele acha que se eu disse que o estudo não é
necessário estou dizendo que não se deve estudar.
Por isso eu estou dizendo constantemente nestas palestras o seguinte: eu não falo, você
ouve. Saiba que a partir da percepção auditiva que Deus dá, Ele também dá uma compreensão
que você, por ser apegado às razões, jura que é real. Aí você acha que o que entendeu é o que eu
disse, mas não é...
O que você teve foi uma compreensão individualizada dada por Deus. O que eu disse e
minhas próprias conclusões não tem nada a ver com o que você acreditou...
Práticas recomendadas
Participante: Não precisamos fazer nada, tudo já está criado por Deus. Quais
práticas o senhor recomenda para que possamos retirar os véus e nos
tornarmos unos?
Boa pergunta... Depois de tudo o que disse, qual a prática você acha que eu
recomendaria? A que você fizer. Mas, se você não executar prática alguma, eu recomendo que
não pratique...
Veja... Que adianta recomendar a meditação se não for essa a criação de Deus? Que
adianta recomendar a oração se, dentro da Unidade, Deus não criar esta ação?
Deixe-me dizer-lhe algo. O ensinamento que estou transmitindo não tem a menor intenção
de lhe ensinar a viver. Pelo contrário, ele tem um objetivo específico: mostrar-lhe a necessidade de
assistir a vida.
Sabe, quando conversamos a primeira vez sobre ego, no início da primeira palestra sobre
este assunto, disse: para se libertar do ego é preciso, antes de qualquer coisa, criar a existência de
uma dupla personalidade; você e o ego.
O espiritualista e o monismo
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Disse ainda: é preciso compreender que o ego é a personalidade humana e você, não é
nada. Ou seja, algo que é incompreensível pelo ego. Depois continuei: a partir daí você deve
assistir o ego viver.
Voltando a pergunta que você fez, lhe recomendo, então, assistir a prática que Deus está
fazendo o seu personagem humano vivenciar seja ela qual for. Esta é a prática que eu recomendo.
O espírito e a inteligência
Participante: O espírito é inteligente ou assistente da inteligência. Pode pensar
por si ou só capta o existente?
É preciso, antes de respondê-lo, destacar alguns pontos. Primeiro: a inteligência espiritual
não tem nada a ver com pensar. O pensamento da inteligência humana não existe no espírito.
Sendo assim, o espírito não pensa porque ele não tem uma inteligência humana.
Segundo detalhe. Em O livro dos Espíritos está informado que o espírito é o princípio
inteligente do Universo. No entanto, mais abaixo, há outra informação que diz: a inteligência é um
dos atributos do espírito. Portanto, a inteligência não é o espírito.
NOTA: Perguntas 23 e 24.
Sendo assim, o espírito é inteligente, mas a inteligência não é o espírito.
Já disse que inteligência do espírito não é a material. O espírito se utiliza duma
inteligência, mas esta não tem em seu funcionamento nada a ver com pensar. Apenas para colocar
em palavras, posso dizer que a inteligência do espírito é emocional e o seu funcionamento o leva a
amar. A inteligência do espírito, então, é a propriedade que o faz amar...
Agora, como você não sabe o que é inteligência, o que é amar ou o que é propriedade, não
queira saber o que o espírito faz. Pela razão você jamais saberá o que o espírito faz...
Agora que já disse que você não de preocupar-se com isso, posso lhe responder se as
“idéias” do espírito são próprias ou não.
O espírito nunca tem “idéias” (sentimentos) próprias, porque tudo vem de Deus. O espírito
recebe o amor e emana o mesmo sentimento para o Universo. Como ele apenas pulsa o amor
recebido de Deus e se a inteligência dele é a capacidade de amar, lhe respondo que ele não tem
“idéias” próprias.
Mas, com respeito a idéias próprias, sejam elas de que tipo for (racionais ou sentimentais)
quero dizer mais uma coisa. Quanto mais o ego esteja desligado da materialidade, ou seja, seja de
um outro nível de consciência entre os que eu citei diferente do humano, menos “idéias” próprias
eles tem.
Um ego de um espírito que está em outros planos de vida, ao invés de questionar o que
acontece ou de querer criar ações, fala: “Senhor, fazei de mim instrumento da vossa vontade”.
O espiritualista e o monismo
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Adoração
Participante: Comente, por favor, a questão 654 de O Livro dos Espíritos?
NOTA: Pergunta 654. Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou
daquela maneira? Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com
sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com
cerimônias que não os tornam melhores para com seus semelhantes.
Essa também é uma afirmação de Cristo. Ele diz assim: vocês não sabem o que está
escrito na Bíblia quando Deus diz que não quer que queimem incensos em seu louvor, mas que
sejam bondosos de verdade.
Acho que esta pergunta que você pinçou reforça tudo o que eu falei. Deus dá preferência –
neste caso não podemos entender a preferência dentro dos valores humanos, mas sim que Deus
dá consciência da Unidade – a quem presta homenagens a Ele (ama) de coração e não de razão.
Deus não quer alguém que sabia que ele é bom, que Ele é o senhor. Ele não quer quem
saiba, ou seja, conheça racionalmente. Deus dá a consciência da felicidade prometida por Ele a
quem se liga sentimentalmente. Mas, para poder dar ou não esta consciência, ele utiliza como
parâmetros a utilização do bem e do mal pelo espírito.
Esta frase pareceria óbvia se aplicássemos os valores humanos, mas o bem e o mal não
podem ser tratados com valores humanos. Não se pode a partir de concepções humanas ditar
valores espirituais ou divinos.
Deus prefere aquele que separa o bem do mal, mas o bem espiritual nada trem a ver com
o “bom” material. “Bom” é aquilo que você acha bom (gosta, quer) e bem é aquilo que vem de
Deus.
O mal é a própria razão humana, porque ela é dualista e egoísta, enquanto que o amor é
Unidade e Universal. Já espiritualmente falando, o mal não pode existir, porque senão o Universo
seria dual. O mal também é o bem porque está na Unidade.
Portanto, no texto acima, o Espírito da Verdade afirma que Deus “prefere” (dá consciência
da felicidade que tem prometido a Seus filhos) aqueles que vivenciam tudo como vindo de Deus,
pertencentes a Unidade.
Fazer o bem
Participante: Se tudo já está feito, como posso fazer o bem e evitar o mal?.
Posso entender que este fazer o bem como uma postura baseada nos
sentimentos independente do ato físico?
Baseando-me no que acabei de responder, posso lhe dizer que você pode fazer o bem
amando a tudo o que você e os outros fazem. Não amando ao outro ou o que é feito, mas amando
a Deus. Estando em conexão amorosa com Deus.
Participante: Como saber o que vem de Deus se o ego sempre interfere?
O espiritualista e o monismo
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Realmente esta é uma dúvida imensa... Mas, se levarmos em conta tudo o que falamos até
agora, ela é banal...
Afirmamos que o ego não existe como um elemento autônomo, mas que se trata apenas
de um instrumento ilusório do qual Deus se utiliza para criar as provações do espírito. Ora, se é
assim, só podemos depreender que tudo vem de Deus, mesmo aquilo que o ego diz. Sendo assim,
não há para você saber, não é mesmo?
Na pergunta 1 de O Livro dos Espíritos está escrito que Deus é a Causa Primária de todas
as coisas. Todas... Se isso é verdade, mesmo quando seu ego diz que algo não veio de Deus, o
que o ego está acusando como não oriundo e a própria afirmação, vieram do Pai.
Portanto, ame o seu ego – mantenha o seu coração equanimente enlaçado com Deus – se
ele disser que Deus fez ou não aquilo, que você está ou não unido sentimentalmente com o Pai.
Veja bem. Na Unidade não se pode dizer que alguma coisa venha de Deus e outras não. A
Unidade é Uno, é tudo, mesmo que o seu ego diga que não é.
Participante: Mas, como humano não sei o que é amar...Como fico então se só
tenho que amar?
Veja, se você como humano tem a consciência de que não sabe amar, porque então quer
saber como amar?
Desculpe o que vou lhe dizer agora, mas é preciso alertá-lo de um aspecto do seu ego
para que você não deixe o seu coração se contaminar com isso.
Repare: é a quinta ou sexta pergunta que você, ego, me faz onde o teor buscar saber
como ou o que fazer. É também, a quinta ou sexta vez que eu, ego, vou lhe responder: não há
nada a ser feito. Você precisa apenas assistir o que Deus cria.
Preste bastante atenção a isso, pois se estiver fixo na razão, ou seja, com o coração
vibrando o desejo de conhecer que a razão está criando, você não terá condições de vislumbrar a
Unidade.
Sabe, lhe respondi no início a primeira palestra quando você disse que o espírito era o cocriador. que ele é o assistente. A partir desta informação lhe pergunto: o que é a personalidade
humana? A tela onde Deus projeta o filme para o espírito assistir.
Portanto, não queira ser co-patrocinador do que a tela está exibindo. Apenas assista a
pergunta, ou seja, não deixe o seu coração compartilhar com as criações da razão.
Além do mais, não me queira mal. Toda pergunta que você, ego, me perguntar como o
humano faz algo, tenho que lhe responder dessa forma: o humano não faz nada porque ele é
simplesmente uma projeção, uma emanação de Deus. Além do mais, ele é uma projeção ilusória,
porque nem existe...
Participante: Faça o que você fizer, estarei sempre fazendo a vontade de Deus.
É isso?
Não, faça o que você fizer será a vontade de Deus.
Não é você que faz a vontade de Deus: o que é feito é que é a vontade do Pai. Você não
faz nada... Aliás, nem existe...
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Realizações
Participante: Cristo disse que faríamos o que ele fez e mais. Em que sentido e
como é possível isso? Dá para alcançar algo além de se comungar na pureza
do espírito?
Por favor, me responda: você fala que Cristo afirma que você fará o que ele fez em atos?
Participante: Não. O que ele fez em realizações espirituais.
Então a resposta é sim: você fará o que Cristo fez em realização espiritual. Você, espírito,
terá a consciência do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Você, o espírito... Não você, o humano.
Mas, apesar desta resposta, deixe-me fazer outra. O ego, a personalidade ilusória e
transitória que o espírito vive como real, poderá um dia amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo, ou seja, alcançar a realização espiritual que o ego Jesus Cristo
alcançou? Sim, poderá...
Mas, não um ego humano, uma personalidade do Mundo de Provas e Expiações. Quem
poderá realizar isso é a personalidade (ego) que será vivenciada pelo espírito no Mundo Celestial
ou no Mundo Feliz.
Quem poderá realizar o que o ego Jesus Cristo realizou é a personalidade que o espírito
se ligará em outros sentidos de encarnação e não o deste. Mas, para isso, ainda tem muito chão
então é melhor deixar para lá.
Participante: Mas, como mais do que ele?
Veja, a sua assombração de achar que pode fazer mais que o mestre surge porque você
venera Cristo. Acha que ele é algo de extraordinário, mas não é. Trata-se de um espírito em
desenvolvimento igual a todos que estão aqui.
Cristo nasceu como você, espírito, nasceu. Passou pelo processo de evolução como você
está passando pelo seu. Alcançou um patamar que você alcançará e poderá ele, então, estagnar e
você não.
Salomão ensina assim: aos mestres devemos respeito, mas amor só a Deus. Não idolatre
Cristo, não o coloque como um super espírito, porque ele não é. É um espírito igual a mim e a
você. Ele foi gerado por Deus na eternidade com a mesma carga genética de todos os outros.
Eu já falei sobre esta idolatria quando disse que Jesus Cristo e Hitler são farinhas do
mesmo saco. Sim, são, pois são dois egos criados e administrados por Deus e vivenciados por
espíritos exatamente iguais entre si porque foram criados os dois à imagem e semelhança de
Deus.
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