Aos meus pais, Roberto e Maria José, e à minha irmã, Tacy. Agradecimentos Agradecimentos Dois anos passam rápido. E a orientação dos professores e a ajuda dos colegas e amigos são fundamentais. Não só profissionalmente, mas como suporte emocional. E foi algo que tive ao longo desse tempo. A oportunidade de conhecer o professor Cid e trabalhar no seu grupo é uma prova disso. Agradeço a ele por sua dedicação e competência, porque eu dei muito trabalho (ainda me lembro quando perguntei a ele o que era um “chopper” e ele riu). Outra pessoa a quem dei trabalho foi Leonardo, que competentemente me auxiliou nos experimentos e, com suas sugestões, pude melhorar a estrutura de minhas apresentações. Agradeço por sua extrema paciência. Também pude contar com meus colegas de laboratório Ernesto, Luis Arturo, Euclides e Marcos, que me apoiaram e ajudaram a solucionar problemas, como quando o laser quebrou. Agradeço também a Edílson, por suas dicas úteis e por me ceder os vidros de bismuto. Gostaria de agradecer também a Virgínia, por ter me ensinado a preparar a solução do laser de corante e por me auxiliar no uso de algum equipamento do laboratório de Química quando eu pedia. Agradeço a Marcos, da oficina eletrônica, que me atendeu todas as vezes que algum equipamento do laboratório não funcionava bem (ou teimava em não funcionar) e a Blênio, por ter polido as vitrocerâmicas que utilizei. Além das pessoas que já citei, há as responsáveis por manter os corredores e laboratórios do DF limpinhos, as que trabalham nas secretarias e nos outros setores. Ao pessoal da limpeza, seu Ivo (xerox), seu Humberto (almoxarifado), Ana e Sara (secretaria), Carlos (compras) e demais funcionários do DF, obrigada. Agradeço aos meus amigos de turma e de outros laboratórios, que me divertiam com seu bom humor e compartilharam seus conhecimentos comigo nas longas horas de estudo e revisões antes das provas. Agradeço também aos meus professores da graduação e da pós-graduação, por terem contribuído para minha formação acadêmica e por me atenderem quando precisava. Especialmente, agradeço àqueles que conviveram o tempo todo com minhas alegrias e meus maus momentos, sempre me apoiaram e contribuem continuamente para que eu seja feliz: a painho (por me buscar no DF tantas vezes, à noite, e por ser um pai simplesmente Agradecimentos maravilhoso), a mainha (por seu amor, seus bolos e lanches gostosos, sua paciência, ..., enfim, por ser minha mãe), a minha irmã Tacy (mesmo me chamando muitas vezes de doida e tendo usado uma lista de eletro minha como rascunho), a minhas primas Déborah e Duda (que foram obrigadas a me ouvir estudar muitas vezes em voz alta), a minha tia Fau (pelo seu carinho e sua comida gostosa) e meus outros familiares que me apoiaram. Por fim, agradeço a Deus, por ter deixado eu me ferrar quando mereci para que eu aprendesse e por ter me proporcionado momentos felizes ao longo desse tempo. E se tem algo que percebi bem é que, quando as coisas sempre dão certo, você aprende com elas; mas, quando dão errado e a solução demora a aparecer, além de aprender, você ganha experiência. E isso é muito importante. Índice Índice Resumo ..................................................................................................................................3 Abstract .................................................................................................................................4 Capítulo 1 – Introdução .........................................................................................................5 Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos .....................................................................................7 2.1 – Óptica Não Linear .............................................................................................7 2.2 – Absorção Não Linear .......................................................................................14 a. Conceitos Básicos ............................................................................................14 b. Absorção em Sistemas com Alargamentos Homogêneo e Não-Homogêneo .20 c. Absorção de Estado Excitado ..........................................................................23 2.3 – Absorção de Dois Fótons ...............................................................................28 a. Descrição Quântica .........................................................................................28 b. Coeficiente de Absorção de Dois Fótons .......................................................35 c. Absorção de Portadores Livres .......................................................................40 d. Aplicações ......................................................................................................41 Capítulo 3 – Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de Niobato de Sódio ..................................................................................................................46 3.1 – Nanocristais: Introdução .................................................................................46 3.2 – Vitrocerâmicas com NaNbO3 .........................................................................48 3.3 – Experimento ...................................................................................................50 a. Técnica Experimental Utilizada .....................................................................50 b. Resultados e Análise.......................................................................................57 Capítulo 4 – Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados ..............................65 4.1 – Vidros Formados por Óxidos: Introdução ......................................................65 1 Índice 4.2 – Experimento ...................................................................................................66 a. Técnica Experimental Utilizada .....................................................................66 b. Resultados e Análise ......................................................................................70 Conclusões ...........................................................................................................................74 Apêndices ............................................................................................................................75 Referências ..........................................................................................................................79 2 Resumo Resumo As características não lineares de um material podem ser analisadas a partir da polarização não linear induzida por um feixe óptico. Utilizando luz de alta intensidade, é possível medir propriedades como o índice de refração não linear, n 2 , e o coeficiente de absorção não linear, ordem, ( 3) 2 , os quais se relacionam à susceptibilidade não-linear de terceira . Neste trabalho, abordou-se o fenômeno da absorção não-linear, especificamente a absorção de dois fótons em vitrocerâmicas contendo nanocristais de niobato de sódio (NaNbO3), e vidros de óxidos de metais pesados, com o objetivo de se obter valores de 2 para as amostras de interesse. Os experimentos foram realizados variando-se a intensidade da luz incidente nas amostras através do sistema formado por uma placa de meia onda e um polarizador. Foi utilizado um laser de corante (bombeado por um laser Nd: YAG, operando a uma taxa de repetição de 5 Hz com duração de pulsos de 7 ns), emitindo em 580 nm, 610 nm, 630 nm (para as vitrocerâmicas) e 598 nm (para os vidros de óxidos). Além disso, foram realizadas experiências no comprimento de onda de 532 nm nos vidros formados por óxidos de metais pesados (composições (mol%): 25 Bi2O3 – 37,5 ZnO – 37,5 B2O3 e 12,5 Bi2O3 – 43,75 ZnO – 43,75 B2O3). O conjunto de resultados leva a uma discussão sobre o comportamento das amostras em relação à absorção de dois fótons e à limitação óptica. Dentre os efeitos analisados no caso das vitrocerâmicas, foi observada uma variação linear do coeficiente de absorção concentração de nanocristais. Foram determinados valores de 2 2 com a em função da concentração dos nanocristais e sua dependência espectral. No caso dos vidros de metal pesado, foram determinados valores de 2 que demonstram o grande potencial destes vidros para limitação óptica. 3 Abstract Abstract The nonlinear optical properties of a given material can be analyzed through its nonlinear polarization induced by a laser beam. Working with light at high intensities, it is possible to measure the nonlinear refractive index, n 2 , and the nonlinear absorption coefficient, 2 , which are related to the third-order nonlinear susceptibility, ( 3) . In this work, the nonlinear absorption was studied, specifically two-photon absorption process in glass-ceramic containing sodium niobate nanocrystals (NaNbO3) and heavy metal oxide glasses, aiming to determining the values for 2 for the samples of interest. The experiments were carried out varying the incident light intensity at the samples using a system formed by a half-wave plate and a polarizer. The light source was a home-made pulsed dye laser (pumped by a Q-switched Nd: YAG laser operating at 5 Hz, with a pulse duration of 7 ns), emitting at 580 nm, 610 nm and 630 nm (for the glass-ceramic samples) and 598 nm (for the heavy metal oxide samples). Futhermore, a measure at 532 nm was also performed for the heavy metal glass samples (compositions (mol %): 25 Bi2O3 – 37.5 ZnO – 37.5 B2O3 e 12.5 Bi2O3 – 43.75 ZnO – 43.75 B2O3). The results lead to a discussion about how the samples behave face to the two-photon absorption and about optical limiting. The two-photon absorption coefficient varied linearly in the glass-ceramic samples as a function of the concentration of nanocrystals. The values of 2 for the heavy metal oxide glasses showed a great potential for these glasses in the field of optical limiting. 4 Capítulo 1 Introdução Capítulo 1 - Introdução Atualmente, temas como armazenamento óptico de dados, chaveamento óptico e óptica computacional são freqüentemente discutidos. E a óptica não-linear é uma das ferramentas no estudo de fenômenos que possibilitam não só a sua interpretação física como também abrem um leque de opções para o desenvolvimento de dispositivos com aplicações na óptica, fotônica, medicina e comunicações. Usando-se luz a altas intensidades, é possível obter respostas não-lineares rápidas do meio no qual a luz incide. A síntese de novas estruturas, principalmente com o advento da nanotecnologia, aumentou a variedade de materiais não-lineares, introduzindo conceitos e técnicas na fabricação de nanopartículas, as quais podem constituir sistemas individuais ou serem inseridas em matrizes vítreas. Assim, as características desses meios hospedeiros são modificadas a depender da geometria, tamanho e concentração das nanopartículas neles presentes. As propriedades não-lineares de segunda ordem (relacionada a ( 2) ) são bastante estudadas em polímeros e estruturas completamente cristalinas. Já as de terceira ordem (relacionadas a ( 3) ), apresentam a vantagem de se trabalhar com sistemas centro- simétricos, o que aumenta as chances de usá-los em aplicações ópticas, apesar da exigência de se controlar a intensidade do feixe óptico e os processos de crescimento de micro ou nanopartículas que terão suas não-linearidades ativadas em maior ou menor grau por essa intensidade. Os fenômenos não-lineares de terceira ordem estudados são a variação do índice de refração não-linear e a absorção não-linear. Tais características se manifestam em conjunto ou não, a depender da composição do material e do regime de excitação ao qual o mesmo é submetido. Por trás da física da refração e absorção não-lineares, está o interesse de (utilizando-se métodos dinâmicos e passivos para amplificar, modular e chavear a luz ou limitar sua propagação) desenvolver dispositivos como chaveadores e limitadores óticos, que possam ser usados acoplados a filmes, fibras e sensores óticos, aumentando sua eficiência e, ao mesmo tempo, protegendo-os de danos que podem ser causados pelo laser à alta intensidade. No capítulo 2 deste trabalho, apresentam-se fundamentos teóricos de ótica nãolinear, descrevendo suas bases e o fenômeno da absorção não-linear, especialmente a absorção de dois fótons, do ponto de vista quântico. Além disso, algumas aplicações 5 Capítulo 1 - Introdução baseadas em outros processos de absorção não-linear, como a absorção saturada e a saturada reversa, entre outros, foram comentados. Nos capítulos 3 e 4, foi analisado o comportamento de dois tipos de sistemas (que usam matrizes vítreas como meios hospedeiros): as vitrocerâmicas, constituídas por nanocristais NaNbO3 (composição (mol%): 35 SiO2 – 31 Nb2O3 – 19 Na2O – 11 K2O – 2 CdO – 2 B2O3), e vidros contendo óxidos de metais pesados representados pelo arranjo Bi2O3 – ZnO – B2O3. No capítulo 3, estudou-se a absorção de dois fótons nas vitrocerâmicas, considerando o fator de preenchimento dos nanocristais distribuídos em cinco amostras de interesse. No capítulo 4, os vidros à base de óxidos de metais pesados possibilitaram o mesmo estudo e também a comparação da ordem de grandeza dos valores de 2 encontrados com relação a alguns sistemas que funcionam como bons limitadores ópticos. 6 Capítulo 2 Fundamentos Teóricos Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos 2.1 – Óptica Não-linear Quando um campo elétrico é aplicado num material dielétrico, há uma separação de cargas, o que resulta no aparecimento de dipolos induzidos que oscilam rapidamente no tempo, como representado na figura 2.1. A polarização1 do meio é definida como [Sutherland, 1996]: P (t ) N (t ) , (2.1) é a média sobre todos os onde N é o número de dipolos por unidade de volume e momentos de dipolo do meio (média de “ensembles”). Carga negativa Carga positiva (t) (a) E(t) (b) Figura 2.1: Comportamento do material dielétrico (a) na ausência e (b) na presença de campo elétrico aplicado. 1 A polarização, P , o campo elétrico, E , o momento de dipolo, , variam rapidamente com o tempo. 7 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos A baixas intensidades, a luz incidente no meio exibe comportamento linear, sendo sua polarização, no S.I., descrita por: (1) P(r , t ) onde (1) 0 E (r , t ) , (2.2) é a susceptibilidade linear do meio (no momento, ignora-se sua natureza tensorial). Entretanto, quando a luz incidente no meio for suficientemente intensa, a polarização passa a ser escrita como uma série de potências: P(r , t ) 0 (1) E (r , t ) ( 2) E 2 (r , t ) ( 3) E 3 ( r , t ) ... . (2.3) Os termos que variam não-linearmente com o campo passam a ter significado. As susceptibilidades não-lineares ( (2) , ( 3) ,...) dependem da freqüência do campo elétrico induzido no material e, por enquanto, serão consideradas constantes. É essa interação entre luz intensa e matéria a base da óptica não-linear. O primeiro fenômeno não-linear foi observado em 1961 por Franken et al., que conseguiram, ao incidirem um feixe de laser de rubi em um cristal de quartzo, gerar luz ultravioleta [Franken, 1961]. Em linhas gerais, um material comporta-se de forma não-linear alterando suas propriedades ópticas na presença de um campo elétrico induzido intenso. Tal intensidade só é conseguida através do uso do laser. Em qualquer meio, as ondas eletromagnéticas se propagam segundo as equações de Maxwell [Griffiths, 1999]: 8 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos f .E , B t E .B é a permeabilidade do meio e onde f , 0 B (2.4) (2.5) , (2.6) ( E) t Jf , (2.7) e J f são, respectivamente, as densidades de carga livre e corrente livre. Levando-se em conta a polarização de um meio não-linear (equação 2.3) e que o deslocamento elétrico de um meio é definido por D 0 E P E , este último pode ser reescrito na forma: D onde L 0 (1 (1) L E PNL , (2.8) ) é definida como a permissividade linear e PNL como a polarização não-linear. Considerando um meio não magnético, sem correntes livres e notando que f depende apenas do tempo chega-se, manipulando as equações de Maxwell definidas anteriormente e substituindo E pela expressão (2.8), à equação de propagação de uma onda em um meio não-linear: 9 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos 2 E n2 c2 2 E t 2 0 PNL t , (2.9) onde n é o índice de refração do meio. Assim, uma polarização que varia com o tempo funciona como fonte de novos componentes do campo eletromagnético. O campo elétrico, por sua vez, pode ser escrito como [Boyd, 2003]: E (r , t ) A( n ) exp[i(k n .r n t )] , (2.10) n onde e E( A( n ) n A( ) é n a amplitude do campo que varia pouco no espaço ) exp(ik n .r ) . A soma na equação (2.10) é feita sobre todas as freqüências n (positivas e negativas) do campo. Analogamente, a polarização é escrita como: P( r , t ) P( n ) exp( i n t) . (2.11) n Quando o processo não-linear envolve freqüências nas quais o cristal é transparente e não apresenta perdas, sendo a polarização devida somente ao deslocamento eletrônico, a mesma é tida como uma função do campo elétrico de tal forma que: d ( P.E ) C P.dE E.dP 0 . (2.12) C 10 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos O termo destacado pelo vermelho da equação (2.12), que representa o trabalho feito pelo campo elétrico sobre a polarização, é nulo para um meio sem perdas. Então, usando o teorema de Stokes no termo destacado pelo azul da expressão (2.12), chega-se à seguinte representação da polarização pelo gradiente de uma função potencial [Yariv, 1975]: P E . U (E) (2.13) Expandindo U ( E ) em série de Taylor (aqui, o caráter tensorial da susceptibilidade é levado em conta): U (E) 0 ij Ei E j 1 3 0 ijk Substituindo a equação (2.14) na equação (2.13), com Ei E j E k ... 2d ijk ijk . (2.14) , onde d ijk é uma 0 notação usada quando a simetria de Kleinman é válida [Boyd, 2003] obtém-se, para a iésima componente da polarização: Pi 0 ij Ej 2d ijk E j E k ... . (2.15) Usando a notação de tensores, a polarização é representada por: P 0 ( (1) E ( 2) EE ( 3) EEE ...) . (2.16) 11 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Os fenômenos ópticos não-lineares podem se manifestar através de processos paramétricos e não paramétricos. Nas interações paramétricas, os estados quânticos inicial e final são idênticos. Então, a população removida do estado fundamental é mantida em um nível virtual por um intervalo de tempo antes de voltar àquele. A breve permanência no nível virtual pode corresponder a um intervalo de tempo da ordem de E , onde E é a diferença de energia entre o estado virtual e o estado real mais próximo [Boyd, 2003]. Além disso, essas interações são descritas por susceptibilidades reais e a energia dos fótons é conservada nos processos paramétricos. Citam-se como exemplos de interações paramétricas: geração do segundo e terceiro harmônicos (figura 2.2), geração de soma de freqüências (figura 2.3) e oscilação paramétrica. Nas interações não paramétricas, há transferência de população entre estados reais. Tais processos são descritos por susceptibilidades complexas e não envolvem conservação de energia necessariamente, pois parte da que incide no material pode ser transferida para ele. A absorção saturada (SA), absorção saturada reversa (RSA) e a absorção de dois fótons (TPA) [Neto, 2005] são exemplos. 2 (2) 2 (a) (c) 3 (3) 3 (b) (d) Figura 2.2: (a) Geração do segundo harmônico (SHG). (b) Geração do terceiro harmônico. (c) e (d) Esquema de níveis das interações (a) e (b). As linhas tracejadas representam estados virtuais. 12 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos 1 3= (2) 1+ 2 2 3 1 2 (a) (b) Figura 2.3: (a) Geração de soma de freqüência. (b) Esquema de níveis. As linhas tracejadas representam estados virtuais. Nessa dissertação, estudou-se o fenômeno da absorção de dois fótons em meios nãolineares centro-simétricos ou isotrópicos [Yamane, 2000]. Nesses meios, a interação nãolinear predominante é a de terceira ordem. Para finalizar, considerando-se a equação (2.11), pode-se escrever a i-ésima componente da amplitude da polarização de terceira ordem, considerando a degenerescência D ( 3) (que pode assumir valor igual a 1, se todos os campos elétricos incidentes forem indistinguíveis, 3, se dois campos elétricos incidentes forem indistinguíveis, ou 6, se todos os campos elétricos incidentes forem distinguíveis), como [Sutherland, 1996]: ( 3) Pi ( 4 ) 0 ( 3) D ( 3) ijkl jkl ( 4 ; 1 , 2 , 3 )E j ( 1 )Ek ( 2 ) El ( 3 ) . (2.19) 13 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos 2.2 – Absorção Não-linear 2.2.a – Conceitos Básicos A absorção não-linear é uma função da intensidade do campo elétrico ou fluência de energia. Ela se relaciona com a variação da transmitância (T) de um material já que, a intensidades suficientemente altas, a luz que incide no material pode modificar suas propriedades ópticas e aumentar a probabilidade do meio absorver mais de um fóton antes de relaxar para o estado inicial. Considere-se que uma onda eletromagnética representada na equação (2.20) propaga-se num meio ao longo do eixo z, como mostra a figura 2.4. E(z ) . E0 exp( ik z ) (2.20) z 0 E k Figura 2.4: Campo elétrico propagando-se ao longo de um material. Com o vetor de onda escrito na forma complexa como: k k ik , (2.21) 14 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos tem-se que a intensidade do campo na posição z dentro da amostra é I ( z) . I 0 exp( 2k z ) (2.22) (ou ganho ,com O termo 2 k representa o coeficiente de absorção, ), o qual reduz a intensidade transmitida ao longo do material. Entretanto, k também pode ser escrito em função de um índice de refração complexo do material, n~ (n ik ) , de forma que: k n~ . c (2.23) O índice de refração do material é n . O coeficiente de extinção, k , se relaciona com o coeficiente de absorção por 2k c . O índice de refração complexo ainda pode ser representado por uma função da susceptibilidade complexa: n~ 1 1 . i (2.24) Levando-se em conta que k >> k (pois é desejável que as perdas ópticas lineares relacionadas a k sejam as menores possíveis; como exemplo, no experimento descrito no capítulo 3, para o comprimento de onda de 630 nm, k 10 5 cm 1 ek 1cm 1 ), igualam-se os quadrados das equações (2.21) e (2.23) e, usando a equação (2.24), chega-se a [Yariv, 1975]: 15 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos 2 k 2 2ik k (1 c i ) . (2.25) Igualando as partes imaginárias da equação (2.25) e substituindo 2k por , encontra-se a seguinte relação: c k 2 . (2.26) Da mesma forma, igualando-se as partes reais da equação (2.25) e substituindo k por n c , observa-se que: n . 1 (2.27) Ou seja, o coeficiente de absorção relaciona-se à parte imaginária da susceptibilidade e o índice de refração, à parte real da mesma. Num meio não-linear e isotrópico, o índice de refração não-linear está relacionado à ( 3) parte real de e o coeficiente de absorção não-linear, à parte imaginária de ( 3) . Supondo a interação, num meio isotrópico, de campos elétricos com freqüências e E( P( tem-se, usando a equação (2.19) para a polarização na freqüência b a ) a ) $ 2 "# 0 E* ( (1) ( a , com * ) Ea , que a polarização é escrita como [Sheik-Bahae, 2000]: ) 3 4 a a a ( 3) ( a ; a , a , a )Ea Ea * 6 4 ( 3) ( a ; a , b , b *! ) Eb Eb E a . (2.28) 16 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos A equação anterior pode ser escrita de uma forma mais simplificada por: P( onde eff ( a a 0 ) eff 2 ( a )Ea , (2.29) ) é a susceptibilidade efetiva do material. O índice de refração complexo apresentado na expressão (2.23), como % c 2 , a também pode ser escrito a partir de uma expansão binomial: n~ com n 0 e 0 n0 &n i c 2 ( 0 , & ) (2.30) a sendo o índice de refração linear e o coeficiente de absorção linear, respectivamente. Igualando-se as equações (2.30) e (2.24), com &n & com I a ,b 1 c 0 n0 ( 2 a ,b ) E a ,b 2 n2 I a I 2 a Re eff i Im eff , chega-se a: 2n 2 I b , (2.31a) 2 , (2.31b) I 2 b e: 17 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos n2 3 4 0 cn0 ( )n0 ( a ) b 3 2 com n 2 e 2 2 2 0 c n0 ( a )n0 ( b ) Re ( 3) ( a ; a , b , b ) Im ( 3) ( a ; a , b , b ) , (2.32a) , (2.32b) sendo o índice de refração e o coeficiente de absorção não-linear, respectivamente. Num meio absorvedor, a potência média absorvida por unidade de volume é: P V E (t ). P (t ) t , (2.33) com e sendo E (t ) Re[ E 0 exp(i t )] P (t ) Re[ 0 E 0 exp(i t )] , (2.34) , (2.35) a susceptibilidade complexa. Substituindo as equações (2.34) e (2.35) na equação (2.33), chega-se à conclusão que a energia absorvida pelos dipolos do meio depende da parte imaginária da susceptibilidade: 18 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos P V 0 E0 2 2 . (2.36) Assim, à medida que o campo elétrico penetra no meio na direção z, a intensidade varia da seguinte forma: Aplicando as relações E 0 2 2 c 0n dI dz P V I e k dI dz I . (2.37) c na expressão (2.36) tem-se: n , (2.38) 2 com k c . Ignorando a dispersão do meio não-linear, os campos de freqüências por propagam segundo a expressão (2.38) substituindo-se Bahae, 2000], com & & 0 a e b se e I por I a [Sheik- dado pela expressão (2.31b): dI a dz 0 ( a )I a 2 ( a ; a )I a 2 2 2 ( a ; b )I a I b . (2.38) 19 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos A absorção não-linear está representada nos termos de absorção multifotônica. A espectroscopia multifotônica pode ser usada, por exemplo, para estudar estados inacessíveis devido a regras de seleção para absorção de um fóton [Boyd, 2003]. Por exemplo: é possível investigar transições ópticas entre estados de mesma paridade. Em particular, a absorção de dois fótons utilizada em técnicas microscópicas reduz bastante o espalhamento resultante na imagem observada porque focaliza apenas na região do volume focal da amostra [Boyd, 2003]. A redistribuição de população induzida no material pela alta intensidade dos campos elétricos pode levar a fenômenos como a geração de portadores de carga livres em sólidos [Said, 1992]. A seguir, são descritos dois processos nos quais os efeitos da absorção não-linear se manifestam em maior ou menor grau. 2.2.b – Absorção em Sistemas com Alargamento Homogêneo e Não-homogêneo Sujeita a altas intensidades do feixe luminoso, a absorção de um material sofre uma redução devido à redistribuição de população nos níveis atômicos. Dessa forma, o sistema não absorveria mais luz do que no limite de baixa intensidade. Ocorre saturação da absorção. Quando o sistema é formado por dois níveis (figura 2.5), e todos os seus átomos possuam a mesma freqüência de ressonância ( eg ) , a largura de linha da absorção será alargada homogeneamente pela intensidade da luz incidente. Esse é um fenômeno natural conhecido por alargamento homogêneo por potência [Sutherland, 1996]. Nesse caso, definindo a intensidade de saturação por I s , o coeficiente de absorção não-linear,em função da intensidade I é dado por: 20 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos 1 (I ) com 0 0 , I 1 Is (2.39) dependendo da função “forma de linha” normalizada da absorção g (' ) [Yariv, 1975] e da intensidade de saturação, definidas por: g (' ) e 2T2 2 1 4( (' ' eg ) 2 T2 Is 2 4(n 2 h' )*2 g (' ) , (2.40) , (2.41) Nas equações (2.40) e (2.41), T2 representa o tempo de relaxação do estado e relacionado à largura de linha completa à meia altura por &' , 2( ; ) é a razão entre a T2 taxa de transição espontânea de e para g e a taxa de relaxação causada pela emissão de radiação. & e eg g Figura 2.5: Esquema de um sistema de dois níveis, com e eg e g & eg . 21 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Quando os átomos do material são distinguíveis e alguma propriedade interna do mesmo causa deslocamentos nas freqüências de ressonância de cada átomo, há o alargamento não-homogêneo. Ele pode ocorrer devido à variação do campo cristalino entre diferentes pontos do sólido, por exemplo, ou em um gás, quando é chamado de alargamento Doppler. Nesse caso, grupos de átomos se movem com velocidades distintas [Sutherland, 1996]. Sistemas com alargamento não-homogêneo apresentam um módulo de ganho dado por: 1 (I ) 0 I 1 Is , (2.42) . (2.43) com I s dado por: 2(n 2 h' Is )*2 &' Nesse caso, o meio que sofre alargamento não-homogêneo satura mais lentamente (figura 2.6). R( x) 1 S ( x) 0 0 2 4 x Figura ( x) 2.6: S ( x) Gráfico para de o (x I / I s ) , sendo alargamento homogêneo (equação (2.39)) e ( x ) R ( x ) para o alargamento não-homogêneo (equação (2.42)), mostrando a saturação mais lenta para o segundo caso. 22 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos A variação da intensidade ao longo do material que sofre alargamento homogêneo e não-homogêneo, respectivamente, é dada substituindo as equações (2.39) e (2.42) na equação (2.38): dI dz 0 1 I / Is dI dz 0 1 I / Is I I (homogêneo), (2.44a) (não-homogêneo). (2.44b) 2.2.c – Absorção de Estado Excitado Quando a intensidade do feixe luminoso incidente no material é bem maior que a intensidade de saturação, há uma promoção de elétrons significativa do estado fundamental para o primeiro estado excitado, o qual tem sua população aumentada razoavelmente. Este estado pode ser representado por uma densidade de estados ( ba ) (como é o caso dos semicondutores), como indicado na figura 2.7. Próximos a estes estados, existem outros de energia mais alta, representados pela distribuição ( cb ) . Quando um elétron alcança o estado b , ele pode fazer uma transição para um nível próximo ao que ele estava dentro da mesma banda representada por ( ba ) e só depois voltar ao estado fundamental. Também pode acontecer uma transição óptica do elétron de b para um nível próximo mais acima, localizado na distribuição ( cb ) e, após tal transição, relaxar para o estado fundamental. É o que se chama absorção de estado excitado. Ela pode ser absorção saturada (SA) ou 23 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos absorção saturada reversa (SRA) a depender da relação entre as seções de choque de absorção dos estados fundamental e excitado. ( cb c ) +b ( ba ) b +a a Figura 2.7: Esquema de estados mostrando os estados b e c representados por distribuições ( cb ( ba ) e ) , respectivamente. As seções de choque de absorção dos estados a e b são representadas por +a e +b . O coeficiente de absorção varia com a diferença de população entre os estados participantes de uma transição. Quanto maior for a diferença de população entre os estados, maior será a absorção. E se a seção de choque de absorção do estado excitado ( + b ) for menor que a do estado fundamental (+ a ) , então o material torna-se mais transparente à medida que a luz incide no mesmo a intensidades mais elevadas, como é o caso de alguns corantes [Tutt,1993], comportando-se como um absorvedor saturável. Se a seção de choque de absorção do estado excitado for maior que a do estado fundamental, a absorção aumenta e o material comporta-se como um absorvedor saturável reverso. Este fenômeno foi observado pela primeira vez por Giuliano e Hess [Giuliano, 1967]. As absorções saturada e saturada reversa podem ser abordadas de uma forma mais geral, a partir do modelo de cinco níveis para moléculas poliatômicas, ilustrado na figura 2.8: 24 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos S2 T2 + 1I + 2I S1 + 0I k ST T1 k SS kTS S0 Figura 2.8: Diagrama do modelo do sistema de cinco níveis. Na figura 2.8, os conjuntos de estados S 0 , S1 e S 2 são, respectivamente, singletos do estado fundamental, do primeiro e do segundo estados excitados. Já T1 e T2 são tripletos próximos aos estados excitados singletos. Uma transição entre um estado singleto e um tripleto só é possível através de mudança de spin (“spin flip”). Cada estado eletrônico é constituído por múltiplos níveis vibracionais e rotacionais. Quando um elétron sofre uma transição de um desses níveis dentro de um estado para outro nível dentro de outro estado eletrônico (representada pelas setas pontilhadas e sólidas maiores na figura 2.8), colisões envolvendo pouca energia transferem o elétron para o nível de menor energia dentro de dado estado (tal transferência está representada pelas setas sólidas menores na figura 2.8). O processo de absorção em um sistema como esse inicia-se a partir da transição do elétron do estado singleto S 0 para o estado singleto S1 . De lá, o elétron pode sofrer uma 25 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos transição para S 2 ou voltar para o estado fundamental a uma taxa de relaxação (k SS ) . Caso ele vá para S 2 , sofre um decaimento para S1 e pode chegar a T1 a uma taxa (k ST ) . A partir daí, pode decair para o estado fundamental a uma taxa (kTS ) ou ser transferido para o estado T2 relaxando, depois, para o estado T1 . As equações das taxas de transição relacionadas ao diagrama indicado na figura 2.8 são dadas por [Sutherland, 1996]: + 0I S0 t +0I S1 t T1 t N S0 , S1 N com S 0 N S1 , T1 N S0 S0 k ST S1 k SS S1 k SS S1 kTS T1 kTS T1 k ST S1 , (2.45a) , (2.45b) , (2.45c) N T1 ; e N S 0 , N S 1 , N T 1 as densidades populacionais de N seus respectivos estados de tal forma que sua soma seja N . Os termos + 2I +1I S1 e T1 , que apareceriam, respectivamente, nas equações (2.45b) e (2.45c), são desprezados porque a absorção promove o elétron para níveis acima do de mais baixa energia das bandas constituídas por S 2 e T1 (respectivamente) e ele decai rapidamente para o nível mais baixo dentro dessas bandas. A variação da intensidade devido à propagação do feixe através das moléculas é dada por: 26 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos I z (+ 0 N S 0 + 1 N S1 + 2 N T 1 ) I , (2.46) com + 0 , + 1 e + 2 representando as seções de choque de absorção dos estados fundamental, primeiro singleto e primeiro tripleto, respectivamente. No estado estacionário, as equações (2.45) resultam T1 k ST S1 . Mas, kTS k ST ~ 10 3 kTS . Dessa forma, a absorção não-linear é dominada pela seção de choque de absorção do tripleto T1 . Definindo 1 absorção saturada, é necessário que +1 + 0 e +0 1 , 2 2 +2 +0 , tem-se que, para haver +0 , 0 (figura 2.9a). Caso contrário, haverá absorção saturada reversa (figura 2.9b). A intensidade de saturação da absorção é dada por [Sutherland, 1996]: IS +0 ( k SS k ST ) . (2.47) No caso de excitação por laser pulsado, as equações (2.45) devem ser resolvidas simultaneamente enquanto o pulso se propaga no material. Já foram feitas medidas da energia transmitida em função da fluência da energia incidente em uma grande variedade de materiais [Sutherland, 1996]. A absorção saturada reversa e a absorção de dois fótons representam dois dos processos utilizados na obtenção de limitadores ópticos, tema que será abordado no tópico seguinte [Joshi, 1998]. 27 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos (a) (b) Figura 2.9: Transmitância ( T x I / I S ), para vários valores de 2 , na absorção saturada (a) e saturada reversa (b) no estado estacionário para o sistema de níveis da figura 2.8. 2.3 - Absorção de Dois Fótons 2.3.a - Descrição Quântica - Análise Qualitativa: Como foi dito na seção 2.1, a absorção de dois fótons (TPA) é um processo não paramétrico, com os estados inicial e final do sistema sendo reais. Nesse fenômeno, um primeiro fóton é absorvido, promovendo um elétron do estado fundamental para um estado virtual. Então o segundo fóton é absorvido simultaneamente a uma taxa suficientemente alta para que ambos estejam presentes no estado virtual por um tempo de vida virtual curto [Sheik-Bahae, 2000], o que torna o processo dependente da intensidade instantânea do laser incidente (relacionada à sua potência de pico). As freqüências dos fótons envolvidos no processo não são necessariamente iguais pois nele a energia de ressonância é dada pela soma das freqüências incidentes no material, sendo 2 caso os campos elétricos tenham freqüências iguais (figura 2.10a) ou e p , caso campos tenham freqüências distintas (figura 2.10b). O primeiro caso é observado em 28 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos experimentos de absorção de dois fótons que utilizam apenas um feixe de laser, na freqüência , incidindo no material, que é o caso do experimento realizado neste trabalho (capítulos 3 e 4). No segundo caso, usam-se dois feixes: um feixe de excitação, com freqüência e , e outro (feixe de sonda) com freqüência p , conforme mostra a figura 2.10b. n n p v v e g g (a) (b) Figura 2.10: Esquema de níveis da absorção de dois fótons para fótons com freqüências (a) iguais e (b) diferentes. As linhas tracejadas representam os estados virtuais. A probabilidade de transição de dois fótons em um sistema foi desenvolvida a partir da teoria de perturbação de segunda ordem por Göppert – Mayer [Sutherland, 1996]. A seguir, apresenta-se uma descrição quantitativa do fenômeno. - Análise Quantitativa [Boyd, 2003]: Considera-se que uma função de onda atômica . ( r , t ) , descrita como uma combinação linear dos autoestados do sistema, é dada por: .(r , t ) a m (t )u m (r ) exp( i m t) . (2.48) m 29 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos A equação (2.48) obedece à equação de Schrödinger dependente do tempo: i . t Hˆ . com o Hamiltoniano perturbado escrito como Hˆ ˆ é o operador momento de dipolo e E (t ) Hˆ 0 , Vˆ (t ) , sendo Vˆ (t ) (2.49) ˆE (t ) , onde E exp( i t ) . Substituindo a equação (2.48) na equação (2.49), e considerando que Hˆ 0 u m ( r ) m u m ( r ) , obtém-se: i dan dt a m (t )Vnm exp[ i( m n )t ] . (2.50) m O coeficiente a n (t ) pode ser expandido em uma série de potências de * de tal forma que: a n (t ) (0) (1) ( 2) a n (t ) *a n (t ) *2 a n (t ) ... . (2.51) Substituindo a equação (2.51) na equação (2.50), e Vnm por *Vnm , encontra-se ( 2) a n (t ) (desprezando a resposta transiente do sistema), que é o coeficiente de ordem perturbativa de interesse para a absorção de dois fótons: ( 2) a n (t ) nm m 2 ( mg mg E 2 5/ exp[i( 4 ) /3 mg ng 2 )t ] 12/ 1 2 /0 , (2.52) 30 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos onde mg m g é a diferença de freqüência entre um estado real m , próximo ao virtual v , e o estado fundamental g (figura 2.11). Quanto mais próximo um fóton incidente estiver desse estado real, ou seja, quanto menor mg , maior será a eficiência da absorção de dois fótons [Sheik-Bahae, 2000]. n m v g Figura 2.11: Diagrama de estados na TPA de freqüências iguais a , mostrando o estado real m próximo ao virtual v . ( 2) 2 A probabilidade do elétron ser encontrado no nível n é dada por a n (t ) : Pn ( 2) nm (t ) m 2 ( mg mg E2 2 ) 2 exp[i ( ng ng 2 )t ] 1 2 2 2 . (2.52) O termo em destaque na equação (2.52) pode ser escrito, sabendo que 1 cos x 2 sen 2 ( x / 2) , como: 31 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos $( 4 sen 2 " # 2 )t ! ng 2 . (2.53) , (2.54) Assim, a equação (2.52) passa a ser escrita como: Pn ( 2) nm (t ) 2 m ( mg mg E2 2 ) 2 f (t ) com f (t ) dada por: t2 f (t ) sen 2 ( x) x2 A função f (t ) está representada na figura 2.12, com x . ( ng (2.55) 2 )t / 2 . f (t ) 2( ( ( 2( x f (t ) , dada pela equação (2.55) em função de 2 )t / 2 . Figura 2.12: x ( ng 32 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Na figura 2.12, quando t é muito grande, f (t ) é proporcional à área sob o pico, 2(t , multiplicada por uma função delta de Dirac, ( 2 ) . Considerando que n ng pode ser representado por uma densidade de estados normalizada f (t ) 2(t ( ng (2) Pn ) (que tem a forma (t ) , representado pela integração da equação (2.54), com 2 ) , sobre todas as freqüências ( 2) ng 2( / &' ), ela deve ser levada em da função forma de linha da equação (2.40), com T2 conta no cálculo de Pn ( nm (t ) 2 m ( mg E2 : 6 ) mg ng 2(t ( ng ) ( 2 )d ng . ng (2.56) 0 Resolvendo a equação (2.56) e dividindo o resultado por t (pois a probabilidade de transição aumenta linearmente com o tempo), obtém-se a taxa de transição de dois fótons: Rn ( 2) nm (t ) m 2 ( mg E2 ) mg 2( ( ng 2 ) . (2.57) . (2.58) nc E / 2( , chega-se à A seção de choque de absorção de dois fótons é definida como: ( 2) + ng ( ) Rng (2) (t ) I2 Substituindo a equação (2.57) na equação (2.58), com I 2 expressão para a seção de choque de absorção: 33 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos ( 2) + ng ( ) 8( 3 2 n2c2 2 nm m ( mg ( ) mg ng 2 ) . (2.60) Se for considerado que há ressonância na transição do primeiro fóton ( ~ mg ) , que (2 ) (2(&' ) 1 , com &' sendo a largura da densidade de estados do nível n na freqüência 2 , e que apenas um nível domina a soma na equação (2.60), a mesma se reduz a: 2 ( 2) + ng ( ) 7 4( nm 2 n2 2 mg . c 2 &' (2.61) Experimentalmente, uma forma de se determinar a seção de choque de absorção de dois fótons de um meio de volume V é dada pela relação: 2 onde 2 + ( 2) N 0 . (2.62) é o coeficiente de absorção de dois fótons e N 0 é a densidade de átomos ou moléculas do meio [He, 1995]. No caso de meios dielétricos ou semicondutores, alguns modelos têm sido empregados para a descrição quântica do processo de absorção de dois fótons, como está discutido nas próximas seções. 34 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos 2.3.b – Coeficiente de Absorção de Dois Fótons Neste trabalho, o experimento realizado utilizou apenas um feixe laser, ou seja, os dois fótons absorvidos apresentavam a mesma freqüência (2.38) pode ser reescrita, com I b a 0 , Ia . Dessa forma, a equação I (que é a intensidade incidente instantânea) e . dI dz Na equação (2.63), 2 0 ( )I 2 ( )I 2 . (2.63) é chamado de coeficiente de absorção de dois fótons (também representado por 8 ). O coeficiente de absorção é dado por ( 0 2 I ) e, no lugar da equação (2.63), tem-se: dI dz ( 0 2 I )I . (2.64) , (2.65) A transmitância linear de um material é definida como: T (1 R1 ) I 0 exp( 0 L)(1 R2 ) onde I 0 é a intensidade que incide no material, L é a sua espessura e R1 e R2 são as refletividades em cada face do mesmo. Levando em conta a equação (2.65), com R1 R2 R , a equação (2.64) pode ser resolvida por integração em z, resultando: 35 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos I 0 (1 R) 2 exp( I ( L) 2 1 0 L) (1 R) I 0 1 exp( . 0 (2.66) L) 0 O coeficiente de absorção de dois fótons relaciona-se à parte imaginária de dado pela equação (2.32b) , com a eé , por: b 3 2 ( 3) 2 2 0 n0 c 2 ( 3) Im ( ; , , ) . (2.67) O coeficiente de absorção, o qual se relaciona à estrutura eletrônica do sistema, também pode ser escrito através das relações de Kramers-Krönig [Tanaka, 2004]: 0 e 2 ) 9 : f H :i ( 2 D f (E n ( E ni (2.68a) 2 : f H : n : n H :i 9 ) Di ( E ) dE D f (E ) 2 ) Di ( E )dE , (2.68b) onde H é o Hamiltoniano, : i é a função de onda do estado inicial (fundamental) e : f representa a do estado final. As densidades de estados inicial e final são representadas por Di (E ) e D f ( E n ) tanto em 0 com em 2 , com n 1,2 para os coeficientes de absorção linear e de dois fótons respectivamente. 36 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Quando as freqüências dos fótons absorvidos são iguais a ; , por exemplo, o índice de refração não-linear, n 2 , é relacionado a n2 $ (;) ! P " 22 d; 2 ( ) # (; considerando E ni é proporcional a ( E ni . (2.69) 2 1 n 2 por [Sheik-Bahae, 1991]: c Na equação (2.68b), o termo sistema. Assim, 2 ) relaciona-se à energia do gap, E g , do 1 . Substituindo-se este valor na equação (2.69) e E g2 , obtém-se que n 2 é proporcional a 1 . Essas relações são válidas E g4 para semicondutores amorfos. Dessa forma, semicondutores de gap estreito exibem valores maiores de valores de 2 2 do que os semicondutores com energias de gap maiores, que apresentam da ordem de 10 cm/GW [Tutt, 1993]. A teoria de semicondutores [Rezende, 1996] diz que, para um semicondutor formado por duas bandas parabólicas, a densidade de estados D(E) é dada por: D( E ) 1 2m * 2 2( 3/ 2 E 1/ 2 , (2.70) com m * sendo a massa efetiva do elétron. Já a diferença de energia entre as bandas de valência e condução (energia do gap) em semicondutores de gap direto é: 37 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Eg onde 2 k2 , 2 (2.71) é a massa reduzida do par elétron-buraco. Para E e substituindo a massa efetiva do elétron pela massa reduzida na equação (2.70), a mesma passa a (figura 2.13): D( D( ) 0 1 2 2 2( ) D( para , Eg , (2.72a) para < Eg . (2.72b) 3/ 2 E g )1 / 2 ( ) Eg Figura 2.13: Densidade de estados dependente da energia do fóton. 38 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Dessa forma, o coeficiente de absorção linear, 0 , que depende da densidade de estados, pode ser representado por: ( )9( E g )1 / 2 E g , o coeficiente 0 0 Observa-se que, quando Eg absorção de dois fótons, tem-se que, quando 2 , 2 . (2.73) é nulo. Analogamente, para a é nulo. O estudo da absorção de dois fótons em semicondutores, considerando-se a taxa de excitação do par elétron-buraco, levou ao desenvolvimento de um modelo teórico para a resposta não-linear do material ( 2 ) [Wherrett, 1984]. Segundo a teoria, tem-se, para o coeficiente de absorção de dois fótons, que: 2 F2 ( x B F2 Eg n0 E g3 2 / Eg ) 2 2x 1 x5 , (2.74a) . (2.74b) 3/ 2 Na equação (2.74a), B é uma constante multiplicativa. Na equação (2.74b), observa-se que, para x máximo de 2 1 , o coeficiente de absorção de dois fótons é nulo. O valor 2 localiza-se em x 0,714 [Tutt, 1993]. 39 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Finalizando esse tópico, uma abordagem mais abrangente da absorção multifotônica em semicondutores de gap direto propõe uma curva universal relacionando N , o coeficiente de absorção para N fótons ( N 1, 2, 3...), com a seguinte dependência [Brandi, 1983]: (N ) 9 S N f N ( x) , (2.75) . (2.76) com S N sendo o fator de escala do sólido e f N dado por: ( 2 N 1) Para N f N ( x) Nx 1 x 4N 3 2, a equação (2.76) torna-se f 2 ( x) 2x 1 x5 2 3/ 2 . A partir desta equação, chegou- se à equação da referência [Wherrett, 1984]. 2.3.c – Absorção de Portadores Livres Quando, na absorção de dois fótons, os elétrons são transferidos para níveis acima do topo da banda de condução, absorvendo fótons do feixe incidente, ocorre o processo de absorção de portadores livres (“free carriers”), que é um tipo de absorção de estado excitado e um fenômeno não-linear acumulativo, dependendo da influência que a intensidade do pulso incidente no material tem na distribuição de portadores na banda de 40 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos condução. A intensidade do feixe luminoso varia no material seguindo a estrutura da equação (2.64), adicionando-se o termo referente à absorção dos portadores livres: dI dz 0 I 2 I2 +N ( I ) I , (2.77) sendo + a seção de choque de absorção de portadores livres e N a densidade de pares elétron-buraco, que depende da intensidade incidente. Quando a duração do pulso do laser incidente, = l , é menor que o tempo de relaxação dos portadores, = p , a densidade de portadores livres varia temporalmente da seguinte forma [Said, 1992]: dN dt 2 I2 2 . (2.78) . (2.79) Se = l < = p , a equação (2.78) passa a ser escrita como: dN dt 2 2 I2 N (I ) =p Então, as equações (2.77) e (2.79) são resolvidas levando-se em conta os mecanismos responsáveis pela geração dos portadores livres e a largura do pulso do laser incidente. 2.3d – Aplicações O controle da intensidade do feixe óptico é um fator importante no desenvolvimento de sistemas como chaveamento, amplificação e limitação óptica, dentre 41 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos outros [Prasad, 1991]. Tais sistemas podem controlar a intensidade dinâmica ou passivamente. No primeiro caso, é necessário um conjunto de equipamentos que receba e processe os dados do sinal óptico o que, em geral, é uma desvantagem devido ao tempo gasto por cada equipamento na realização de sua atividade. Isso acaba retardando a velocidade de funcionamento do sistema. No segundo caso, a intensidade é controlada utilizando materiais que apresentam propriedades não-lineares que atuam como o conjunto de equipamentos do caso anterior, com a vantagem de responder instantaneamente à intensidade incidente. Nesse grupo estão, por exemplo, os chaveadores e limitadores ópticos, os quais podem ser usados como protetores de sensores e dos olhos humanos (especialmente se o feixe óptico incidente neles for um laser com pulso de alta energia). No caso dos olhos humanos, um limitador óptico teria de ser ativado a uma intensidade incidente da ordem cinco vezes maior que o máximo suportado pela retina, a qual oferece proteção aos olhos apenas para pulsos que durem mais de um décimo de segundo [Tutt, 1993]. No caso dos sensores, é necessário saber qual a intensidade máxima suportada pelos mesmos, a fim de se evitar que estejam funcionando em regime saturado no momento em que uma medida de limitação óptica, por exemplo, estiver sendo realizada. A figura 2.14 mostra o comportamento da intensidade transmitida num chaveador óptico e limitador em função da intensidade incidente. A partir de uma intensidade limite, I LIM , um chaveador ideal bloqueia a passagem do feixe óptico completamente. Já em um limitador óptico ideal, a intensidade transmitida atinge um valor constante após a intensidade incidente ultrapassar a intensidade limite. Contudo, em chaveadores e limitadores reais, as extremidades (ou asas) do perfil do laser incidente passam pelo material, a baixas intensidades, sem sofrer alteração. No caso do limitador óptico, isso faz com que, após a intensidade limite, a intensidade transmitida aumente bem devagar, apenas aproximando-se de um valor constante, e não assumindo tal valor. No chaveador, o mesmo efeito faz com que a intensidade transmitida não caia abruptamente a zero depois de I LIM , e sim atinja um valor constante acima de zero (figura 2.15). 42 I LIM Intensidade Transmitida Intensidade Transmitida Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos Intensidade Incidente I LIM Intensidade Incidente (b ) (b ) Intensidade Transmitida Intensidade Transmitida Figura 2.14: Comportamento de um limitador (a) e chaveador óptico (b) ideais. I LIM é a intensidade incidente a partir da qual o efeito é observado. I LIM I LIM Intensidade Incidente Intensidade Incidente (a) (b ) Figura 2.15: Comportamento de um limitador (a) e chaveador óptico (b) reais. Aqui, dar-se-á preferência ao funcionamento dos limitadores ópticos passivos, já que uma das suas aplicações principais relaciona-se à proteção de sistemas ópticos comumente utilizados hoje, como os telescópios e visores militares (“gunsights”). Na literatura, há estudos relacionados a eles, como os limitadores ópticos saturáveis reversos [Harter, 1984], cujas propriedades podem ser observadas, por exemplo, em compostos organometálicos, que são semelhantes aos orgânicos, com a diferença de haver metais em sua composição [Tutt, 1993]. Além da absorção saturada reversa, outros 43 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos fenômenos de absorção não-linear (como a absorção de dois fótons e a de portadores livres, refração não-linear e espalhamento induzido) podem ser responsáveis pela limitação óptica [Poirier, 2002], [Said, 1992], [Li, 2005]. Um limitador óptico pode conter mais de uma não-linearidade óptica envolvida no seu funcionamento ou ser dominada por uma delas. A figura 2.16 ilustra o comportamento da propagação da intensidade de um feixe óptico numa lente térmica (LT) através da autodesfocalização, a qual é um fenômeno não-linear refrativo. Figura 2.16: Potência de saída em função da potência de entrada num limitador óptico formado por uma lente térmica [Shen, 1984]. Dois valores relacionados ao funcionamento de um limitador óptico são o coeficiente ou valor de mérito (VM) e o intervalo dinâmico (ID), dados respectivamente por [Neto, 2005]: VM ID I MAX I LIM TMAX TMIN ou ID E MAX E LIM , (2.80) , (2.81) onde TMAX é o valor da transmitância linear máxima e I LIM e E LIM são os valores de intensidade e energia incidentes no material a partir dos quais o mesmo começa a sofrer o efeito da limitação óptica (figura 2.17). 44 Capítulo 2 - Fundamentos Teóricos a b I LIM I MAX Figura 2.17: Num limitador óptico, a intensidade limite é determinada pelo ponto de cruzamento das retas a e b , que representam o comportamento linear do material e o valor de limitação ideal. De acordo com a referência [Tutt, 1993], valores significativos de intervalos dinâmicos já foram encontrados em limitadores híbridos contendo ZnSe, em limitadores consistindo de suspensões de partículas de carbono (CBS – “carbon black suspensions”), em limitadores organometálicos (ID ~ 11), naqueles constituídos por C60 (ID ~ 8) e C70 ( ID ~10) e em limitadores formados por semicondutores como o Si e o GaAs (ID ~30). Além de um intervalo dinâmico aceitável, um bom limitador óptico deve apresentar alta transmitância linear e resistência à degradação natural. Concluindo este tópico, citam-se os cristais fotônicos como uma classe promissora para o desenvolvimento de limitadores ópticos. Eles apresentam um índice de refração modulado espacial e periodicamente, apresentando gaps de energia. Através do preenchimento de nanocanais (localizados no cristal) com um material não-linear de índice de refração semelhante ao dos mesmos, verifica-se uma propagação linear da luz a baixas intensidades incidentes. Quando a intensidade do laser é intensa, a interação do campo elétrico com o índice de refração dos canais muda e as faixas proibidas de energia impedem a passagem da luz [Neto, 2005]. 45 Capítulo 3 Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de Niobato de Sódio (NaNbO3) Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 3.1 – Nanocristais: Introdução Atualmente, a nanociência, que envolve o estudo de materiais com tamanhos de ordem nanométrica, vem se desenvolvendo e buscando novos métodos de sintetizar tais materiais de forma a utilizá-los na nanotecnologia. Há mais de dez anos, estudam-se os nanocristais (conhecidos também por pontos quânticos ou “quantum dots”), que são agregados de átomos que apresentam confinamento quântico e possuem propriedades físicas e químicas intermediárias às das moléculas e sólidos (figura 3.1). Figura 3.1: Dependência da luminescência (L) em função do tamanho da partícula. Os nanocristais podem ser sintetizados em forma de filmes finos, bastões ou inseridos em arranjos de outros materiais, como em matrizes vítreas. As características dos nanocristais estão intimamente relacionadas ao seu tamanho. Dessa forma, o ideal é sintetizar um nanocristal controlando a cinética do seu crescimento, o que possibilita se ter um certo controle sobre seu tamanho e forma. O grupo do Professor Paul Alivisatos [Alivisatos, 2001] já produziu e testou nanocristais em forma de bastão, os quais poderiam ser utilizados como LED´S, por apresentarem gaps de energia maiores que as energias de emissão e absorção em nanocristais esféricos. Por outro lado, estes últimos possuem potencial para serem usados 46 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 como marcadores biológicos. Ainda na biologia, é possível combinar nanocristais de ouro com as cadeias de seqüência de bases do DNA, o que possibilitaria o desenvolvimento de estruturas de complexidade semelhante à dos circuitos constituídos por semicondutores. Outra classe de nanocristais, conhecida por nanodiamantes, permitiu o estudo do seu confinamento quântico no limite da escala molecular. Dados espectrais foram obtidos para nanodiamantes de tamanho variável por pesquisadores da referência [Willey, 2005]. A condutividade de semicondutores já foi estudada em filmes finos formados por nanocristais de CdSe através da dopagem de suas cascas esféricas [Yu, 2003] e os efeitos de confinamento quântico também possibilitaram o estudo de ganho óptico em nanocristais formados por outros semicondutores, tornando viável o seu funcionamento como laser [Klimov, 2000]. Os nanocristais semicondutores, de forma geral, são bastante estudados na óptica não-linear, principalmente devido às propriedades não-lineares de terceira ordem, relacionadas às partes real e imaginária de ( 3) . O índice de refração não-linear e o coeficiente de absorção não-linear desses materiais despertam interesse não só pelo seu aspecto físico, mas também para aplicações em optoeletrônica, fotônica e dispositivos ópticos em geral [Banfi, 1998]. Muitas vezes, eles são incrustados em matrizes vítreas. Tais combinações passam a apresentar características que dependem não apenas do tamanho, da forma e do tipo de nanopartícula presente no vidro como também de sua concentração [Persans, 2004], isto é, há uma influência no comportamento óptico do sistema já que, à medida que a concentração de nanocristais aumenta, as interações entre eles tornam-se mais fortes, o que resulta mudanças nas respostas não-lineares do sistema como um todo. Vidros dopados com nanocristais de semicondutores que apresentam, simultaneamente, vários tipos de não-linearidades relativas à absorção ou refrativas devem ser estudados em experimentos montados para analisar cada efeito separadamente pois, caso todos os efeitos sejam estudados juntos, o tempo de resposta não-linear do sistema pode aumentar. Finalizando, os nanocristais apresentam grande potencial para aplicações tecnológicas em diversas áreas, desde que o crescimento dos mesmos esteja sob controle; e isso é conseguido controlando-se sua temperatura ou seu tempo de tratamento térmico durante os processos utilizados em sua síntese [Yamane, 2000]. 47 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 3.2 – Vitrocerâmicas com NaNbO3 As vitrocerâmicas (VC) são conceituadas como sistemas bifásicos, em que uma fase é formada por cristais (cujo tamanho está entre a ordem de alguns micrômetros e alguns nanômetros) e a outra é formada por um meio vítreo no qual tais cristais estão distribuídos. Essa distribuição pode ser homogênea ou não e, neste caso, ocorrem formações de aglomerados de nanocristais (“clusters”) dentro da matriz. Até a da década de 60, o estudo das vitrocerâmicas não era muito apreciado porque se pensava que perdas ópticas por espalhamento nunca seriam pequenas o suficiente para detectar as propriedades desejadas. O espalhamento, na maioria das vitrocerâmicas, era muito alto, de forma a impossibilitar sua aplicação em sistemas ópticos. Contudo, o desenvolvimento de métodos de preparação capacitou a aquisição de diferentes sistemas bifásicos transparentes e passíveis de serem analisados espectroscopicamente. A transparência em uma vitrocerâmica está relacionada à diferença entre os índices de refração da matriz vítrea e da fase cristalina. Quanto menor essa diferença, mais transparente será a vitrocerâmica. Além disso, o diâmetro dos nanocristais da mesma deve ser bem menor que o comprimento de onda do feixe óptico incidente no sistema. O conjunto desses fatores possibilita à vitrocerâmica apresentar características entre as de sistemas moleculares e sólidos, como foi mencionado no tópico anterior. A técnica de difração por raios x, por exemplo, mostra que, espectroscopicamente, as vitrocerâmicas comportam-se semelhantemente a sistemas cristalinos, visto que seus picos espectrais coincidem com os picos desses sistemas [Tick, 2000]. Vitrocerâmicas contendo nanocristais ferroelétricos, como os de niobato de lítio (LiNbO3), já são estudados há tempos [Borreli, 1971]. Eles podem ser preparados através da técnica de separação de fase induzida termicamente [Lipovskii, 2001] para serem usados em aplicações na fotônica. O tratamento térmico ao qual as vitrocerâmicas são submetidas é que determina a concentração dos nanocristais nas mesmas. Tais concentrações, que podem ser entendidas como a razão entre o volume ocupado pelos nanocristais na matriz hospedeira e o volume da própria (ou fator de preenchimento), é que ativam, em menor ou maior grau, as características ópticas do material. 48 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 Neste trabalho, as propriedades ópticas não-lineares de vitrocerâmicas contendo nanocristais de NaNbO3 foram estudadas. O comportamento de microcristais de NaNbO3 já foi analisado em vitrocerâmicas, bem como o comportamento de outros microcristais da mesma série que ele [Lipovskii, 2003] através do processo de tratamento térmico. A literatura fornece dados obtidos através de experimentos realizados nessas vitrocerâmicas no regime de excitação de picossegundo nos comprimentos de onda em 532 nm e 1064 nm utilizando-se a técnica de Z-scan [Sheik-Bahae, 1990]. Tais experimentos mostram como as propriedades não-lineares de terceira ordem (índice de refração não-linear, n 2 , e coeficiente de absorção não-linear, 2 ) são afetadas pelos fatores de preenchimento nas vitrocerâmicas [Maciel, 2002], [Bosco, 2003], [Falcão-Filho, 2004]. Seu comportamento também foi analisado nas regiões do verde e do infravermelho no regime de nanossegundo, obtendo-se valores para os coeficientes de absorção de dois e três fótons [Maciel, 2001]. A composição da matriz vítrea das vitrocerâmicas que foram utilizadas neste trabalho é dada por: 35 SiO2 – 31 Nb2O5 – 19 Na2O – 11 K2O – 2 CdO – 2 B2O3 (mol %). O grupo do Professor A. A. Lipovskii, da St. Petersburg State Technical University (Rússia), foi responsável pela síntese das matrizes hospedeiras, pelo tratamento térmico para que os nanocristais fossem nucleados na mesma e pela análise através da difração de raios-x. Todo o processo pode ser resumido da seguinte forma: utilizando o método de “melt-quenching”, o vidro é fundido e passa, após essa fase, por um resfriamento rápido. A partir daí, o material é transferido para um recipiente, o qual está a uma temperatura bem mais baixa. Ao entrar em contato com a sua superfície interna, o material esfria tão rápido que, ao passo que vai penetrando no recipiente, sofre choques térmicos sucessivos (tais choques resultam variações no índice de refração), ocasionando a formação de linhas de fluxo. Depois que a matriz vítrea está pronta, ela é cortada em pedaços de dimensões milimétricas e levada para o tratamento térmico, a 610º C. Cada pedaço é tratado, a essa temperatura, por um determinado número de horas e, ao final do tratamento, são obtidas as vitrocerâmicas com concentrações de NaNbO3 dependentes do tempo de tratamento pelo qual cada vidro passou. A difração de raios-x, por sua vez, mostra que o diâmetro médio dos nanocristais não é alterado pelo tratamento térmico, ficando em torno de 10 nm. Uma abordagem mais detalhada de todos os passos comentados pode ser encontrada nas referências [Maciel, 2001] e [Yamane, 200]. 49 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 O coeficiente de absorção linear, o , e o índice de refração linear, no , foram obtidos usando-se um espectrômetro de feixe duplo e a técnica de acoplamento óptico por prisma, descrita na referência [Falcão-Filho, 2004]. No experimento descrito na próxima seção, as vitrocerâmicas de NaNbO3 estudadas foram tratadas a 610º C por 2 h, 16 h, 33 h, 69 h e 206 h. 3.3 – Experimento 3.3.a – Técnica Experimental Utilizada Experimentalmente, o material a ser estudado deve ser posto em uma posição próxima ao plano focal. Dessa forma, ativa-se a não-linearidade do material a altas intensidades. O plano focal, por sua vez, está localizado entre o sensor óptico (ou detector de sinal) e a região de onde vem o feixe incidente. Usando uma lente antes do material e posicionando o mesmo próximo ao plano focal (figura 3.2), pode-se variar sua posição até que ele alcance o foco. Assim, a área do feixe incidente no material será mínima no plano focal, ocasionando uma intensidade máxima. À medida que o material é deslocado ao longo do eixo z, o diâmetro do feixe (supondo o mesmo gaussiano) varia de acordo com a equação [Yariv, 1975]: ( z) 0 1 2 z z0 onde 2 ( z ) é o diâmetro do feixe na posição z , 2 , 0 (3.1) é o diâmetro do feixe imediatamente antes da lente e z 0 é o seu parâmetro confocal, dado por z 0 n m( 2 0 / * onde n m é o índice de refração do meio onde está o material. 50 Plano Sinal de saída (u.a.) Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 z Sensor z 0 1.60 1.55 1.50 1.45 1.40 1.35 1.30 1.25 1.20 1.15 1.10 H E D C -2 0 2 4 6 8 Posição z (mm) (a) (b) Figura 3.2: (a) O material é deslocado ao longo do eixo z até alcançar o plano focal. (b) Sinal transmitido pela amostras H, E, C, D (estudadas no experimento descrito neste capítulo) em função da posição z. Posicionando a lente antes do material, de tal forma que a luz seja focalizada dentro dele (o material no plano focal, portanto), também ativa a não-linearidade do mesmo a altas intensidades com a vantagem de não se variar a área do feixe, e sim a potência incidente no material apenas (figura 3.3). Foi esse o caso do experimento apresentado neste capítulo. Medidor de potência z1 2 0 FN 2 S=1 1 Figura 3.3: A linha tracejada representa a propagação do feixe a altas intensidades. A potência de pico incidente máxima foi medida entre a lente e a amostra. O fotodiodo está com a íris completamente aberta (S=1) a fim de coletar toda a luz que nele incide. Filtros neutros (FN) foram posicionados antes do fotodiodo a fim de evitar que ele funcionasse em regime saturado. 51 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 Na figura 3.3, o material está fixo no plano focal e 2 1 e z1 são a cintura mínima do feixe e o novo parâmetro confocal da lente, respectivamente. A equação a seguir representa a relação entre a transmitância linear e o raio da íris ( ra ) na frente do fotodiodo, com a sendo o raio do feixe óptico, a baixas intensidades, quando este atinge o fotodiodo [Sheik-Bahae, 1990]: S 1 exp ra 2 2 . (3.2) a A equação (3.2) diferencia dois tipos de medida na técnica experimental conhecida como Z-Scan [Said, 1992], [Sheik-Bahae, 1990]. Quando S <1, significa que o raio da íris é menor que o do feixe óptico quando o mesmo incide nela. Nesse caso, tem-se o Z-Scan fechado (“closed-aperture Z-scan”). Assim, é possível medir o sinal não-linear refrativo do material. Quando S 1 , o Z-scan é aberto (“open-aperture Z-Scan”), pois ra >> a e apenas a absorção não-linear é observada pois, com a íris completamente aberta (ou simplesmente removida), o efeito refrativo é eliminado. A técnica utilizada nesse experimento assemelha-se ao Z-Scan aberto. Contudo, a posição do material estudado é fixa no foco e a intensidade incidente é variada controlando-se a potência de pico do laser incidente no material (no caso do Z-Scan original, a intensidade incidente é variada através de uma varredura na posição da amostra mantendo a potência de pico fixa [Sheik-Bahae, 1990]). Os materiais estudados neste experimento foram as vitrocerâmicas contendo nanocristais de niobato de sódio (NaNbO3). Elas foram classificadas de acordo com o volume ocupado pelos nanocristais na matriz vítrea, ou seja, seus fatores de preenchimento (f), que dependem do tempo de tratamento térmico ao qual cada matriz foi submetida. A tabela 3.1 mostra alguns dados das cinco amostras estudadas. Nela, a energia do gap ( E g ) foi calculada baseando-se no modelo de duas bandas parabólicas pela equação (2.73), a partir da absorção linear de cada amostra (figura 3.4). 52 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 16 A C D E H 14 0 -1 (cm ) 12 10 8 6 4 2 0 300 400 500 600 700 800 Comprimento de onda (nm) Figura 3.4: Espectro de absorção linear das amostras estudadas. As amostras C e D espalham mais luz do que as outras na região entre 400 e 600 nm. Tal espalhamento é causado pela existência de aglomerados de nanocristais de NaNbO3 em algumas regiões das amostras citadas (é o fenômeno de formação de “clusters”, mencionado na seção 3.1) [Falcão-Filho, 2004]. Entretanto, a estimativa da energia do gap dessas amostras não é afetada por esse fato. Tempo de Amostra Tratamento (h) A 2 C 16 D 33 E 69 H 206 Fator de preenchimento (f) 0,000 0,083 0,192 0,359 0,369 Eg (eV) 3,6 3,3 3,2 3,2 3,2 L (cm) 0,3250 0,3150 0,3175 0,3275 0,3250 R 0,092 0,095 0,100 0,106 0,108 Tabela 3.1: Dados das vitrocerâmicas contendo nanocristais de NaNbO3. 53 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 O valor da refletividade (R) para cada amostra foi calculado a partir do índice de refração linear de cada uma utilizando-se a equação: R n0 1 n0 1 2 . (3.3) O valor de n 0 , por sua vez, foi medido em função dos fatores de preenchimento das amostras, utilizando dados da referência [Falcão-Filho, 2004]. Já a espessura de cada uma, L, foi medida manualmente (utilizando paquímetro) após serem polidas. As medidas dos coeficientes de absorção de dois fótons das amostras foram realizadas utilizando-se potências de pico incidentes de lasers de corante feitos no laboratório nos comprimentos de onda de 580 nm, 610 nm e 630 nm, bombeando-se soluções de corantes (com concentrações distintas) pelo segundo harmônico de um laser Nd:YAG operando no modo “Q-switched”. A duração do pulso do laser, = l , é de 7 ns e a taxa de repetição, 5 Hz. A montagem experimental utilizada está representada na figura 3.5. Na figura 3.5, o laser de bombeamento (532 nm; polarizado verticalmente) incidiu na primeira cavidade (cubeta) contendo o corante específico para gerar laser no comprimento de onda desejado. Depois, a emissão laser do corante teve sua potência amplificada em outras duas cubetas. Antes de incidir na amostra, o laser propagou-se, respectivamente, por uma placa de meia-onda ( * / 2 ) e por um polarizador Glan-laser. Girando-se a placa de meia-onda de dois em dois graus, a potência do laser pôde ser variada. A potência média foi obtida através de um medidor localizado na posição indicada na figura 3.3. A potência de pico foi obtida dividindo-se esse valor encontrado por = l e pela taxa de repetição do laser. 54 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 N d : Y A G P A A O DF P 10 cm /2 Figura 3.5: Montagem experimental (DF=divisor de feixe, P = polarizador). Para medir a cintura mínima do feixe óptico, no comprimento de onda de 580 nm, e a posição do plano focal, foi utilizada a técnica da borda de faca (“knife-edge technique”) [Siegman, 1991], que funciona variando-se a posição transversal de uma gilete em frente ao feixe óptico até que a propagação do mesmo seja interrompida. Esse procedimento foi repetido para várias posições ao longo do eixo z e os dados analisados fazendo-se um ajuste ao comportamento teórico de um feixe Gaussiano [ver apêndice A]. Assim, a 55 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 posição do plano focal , a cintura mínima 1 e o novo parâmetro confocal da lente ( z1 ) indicados na figura 3.3 foram determinados. Para os outros comprimentos de onda (610 nm e 630 nm), fez-se uma estimativa de 1 usando-se a equação: 0 1 f z0 1 onde 0 f z0 , 2 (3.4) e z 0 são o raio do feixe óptico antes da lente e o parâmetro confocal da mesma, indicados na figura 3.3. As informações sobre o laser de corante para cada comprimento de onda e outros valores usados no experimento são dados nas tabelas 3.2 e 3.3 respectivamente. Sabendo-se a potência de pico incidente máxima e 1 , calculou-se a intensidade incidente máxima ( I o max ) e, a partir daí girou-se a placa de meia-onda para variar a intensidade incidente. Um ajuste teórico foi feito aos pontos experimentais nos três comprimentos de onda estudados [ver apêndice B]. (nm) 580 610 630 Corante Rodamina 610 Sulforodamina 640 DCM Concentração da solução Solvente (M) Oscilador Amplificador Metanol P.A. (O e A) 3,0 x 10-4 4,80 x 10 -6 Metanol P.A. (O e A) 4,0 x 10-4 1,18 x 10 -4 -4 DMSO P.A. (O) / Metanol (A) 5,8 x 10 1,58 x 10 -4 Tabela 3.2: Dados dos corantes utilizados (O – oscilador, A – amplificador). Informações sobre alinhamento do laser de corante usando uma grade de difração simples e sobre o laser Nd:YAG podem ser encontradas nas referências [Shoshan, 1977], [Liu, 1981], [Svelto, 1998]. O tipo de corante utilizado foi selecionado através do catálogo “Exciton: Laser Dye Catalog”. 56 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 Potência de pico (nm) (KW) 580 2,25 610 20,75 630 11,06 Detector de potência f (cm) (mm) ( m) z1 (mm) 10 0,59 31,0 5,2 10 0,70 27,7 4,00 5 0,85 11,8 0,69 Scientech 362 Scientech 362 Gentec 0 1 Tabela 3.3: Dados gerais usados no experimento. f é a distância focal, óptico imediatamente antes da lente, novo parâmetro confocal da lente e 1 0 I0 max 74,56 MW/cm2 857,12 MW/cm2 2,53 GW/cm2 é o diâmetro do feixe é a cintura mínima do feixe focalizado na amostra, z1 é o I 0 max é a intensidade incidente máxima. 3.3.b – Resultados e Análise O sinal da intensidade incidente nas amostras foi medido por um fotodiodo de referência, o qual funcionou como calibrador (ao sinal máximo de calibração, foi atribuído o valor máximo da intensidade incidente), e o sinal da intensidade transmitida por outro. Ambos foram conectados a um integrador de sinal (“boxcar”), conectado a um gerador de pulsos sincronizado externamente, e o sinal da intensidade transmitida visualizado num osciloscópio analógico. A equação (2.66) foi utilizada para fazer o ajuste dos pontos experimentais usando os parâmetros das tabelas 3.1 e 3.3, com os valores para 0 obtidos a partir do gráfico da figura 3.4 para cada amostra em cada comprimento de onda estudado. No comprimento de onda de 630 nm, as espessuras L de todas as amostras foram maiores que o parâmetro confocal (L> z1 ). Isso significa que o diâmetro do feixe dobrava a uma distância z1 dentro da amostra [Yariv, 1975], o que prejudicava a medida, já que o efeito absorsivo poderia ser confundido com o espalhamento causado pelo fato descrito na frase anterior. Então, utilizou-se um L efetivo ( Leff ) na equação (2.66), dado por [SheikBahae, 1990]: 57 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 1 exp( Leff 0 L) 2 z1 . (3.5) 0 O valor do coeficiente de absorção de dois fótons ( 2 ) foi retirado desse ajuste, feito no programa Microcal Origin®. A figura 3.6 (a, b e c) mostra os gráficos representando os resultados obtidos e os 60 580 nm H E D C A 50 40 30 20 10 0 (a) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2 Intensidade Incidente (MW/cm ) 2 Intensidade Transmitida (MW/cm ) 2 Intensidade Transmitida (MW/cm ) respectivos ajustes teóricos (linhas sólidas) para as amostras estudadas (A, C, D, E e H). 610 nm H E D C A 400 300 200 100 0 (b) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 2 Intensidade Incidente (MW/cm ) 58 1600 2 Intensidade transmitida (MW/cm ) Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 630 nm H E D C A 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 (c) 0 500 1000 1500 2000 2500 2 Intensidade Incidente (MW/cm ) Figura 3.6: Respostas não-lineares das vitrocerâmicas de NaNbO3 para excitação em (a) 580 nm, (b) 610 nm e (c) 630 nm. Observa-se que, para comprimentos de onda maiores, é necessário ter valores mais altos de intensidade incidente para que o efeito da absorção não-linear seja observado. No caso da figura 3.6 (c), tais valores foram conseguidos reduzindo o diâmetro do feixe incidente à metade utilizando-se uma lente de focalização com f = 5 cm em vez de f = 10 cm. A figura 3.7 relaciona a absorção de dois fótons à energia do gap das amostras e a figura 3.8, ao fator de preenchimento. 4,0 A 3,5 Eg=3,6 eV 2 (cm/GW) 3,0 2,5 580 nm 2,0 1,5 610 nm 1,0 0,5 0,0 630 nm 0,55 (a) 0,56 0,57 0,58 0,59 0,60 Energia do fóton / energia do gap 59 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 8 C 7 Eg=3,3 eV 5 4 2 (cm/GW) 6 580 nm 3 610 nm 2 1 0 630 nm (b) 0,60 0,62 0,64 0,66 Energiado fóton / energia do gap 9 H E D 8 7 Eg=3,2 eV 580 nm 2 (cm/GW) 6 5 610 nm 4 3 630 nm 2 1 0 (c) 0,62 0,63 0,64 0,65 0,66 0,67 0,68 Energia do fóton / energia do gap Figura 3.7: Coeficiente de absorção de dois fótons em função da razão entre a energia do fóton incidente e a energia do gap das amostras (a) A ( E g = 3,6 eV), (b) C ( E g = 3,3 eV) e (c) D, E e H ( E g = 3,2 eV). Os erros foram estimados considerando os erros introduzidos nas medidas devido às flutuações dos sinais no “boxcar”. 60 2 (cm/GW) Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 532 nm 580 nm 610 nm 630 nm 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Fator de preenchimento (f) Figura 3.8 : Coeficiente de absorção de dois fótons ( 2 ), em função do fator de preenchimento para as amostras estudadas em 532 nm, 580 nm, 610 nm e 630 nm (os valores para 532 nm foram retirados da referência [Maciel, 2001]. As tabelas 3.4 e 3.5 mostram os valores de 0 usados no ajuste teórico e os valores encontrados para o coeficiente de absorção de dois fótons, 2 . Na tabela 3.4, os valores entre parênteses para as amostras C, D e E são valores obtidos a partir da interpolação dos coeficientes de absorção lineares das amostras A e H, como pode ser visto na figura 3.9. Isso foi feito para verificar se os resultados de 2 obtidos usando os valores de da figura 3.4 manteriam o mesmo comportamento caso os valores de 0 0 retirados fossem considerados descontando o espalhamento das amostras. Como as amostras C e D fogem desse padrão, novos ajustes teóricos foram feitos utilizando-se os valores entre parênteses para 0 , retirados da figura 3.9 (o mesmo procedimento foi adotado também para a amostra E porque, apesar de não apresentar espalhamento evidente como em C e D, possui uma absorção linear maior que a da amostra A). 61 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 Amostra A C D E H 580 nm 0,21 0,73 (0,19) 1,28 (0,16) 0,28 (0,11) 0,11 0 (cm -1 ) 610 nm 0,14 0,54 (0,12) 1,02 (0,10) 0,22 (0,07) 0,07 630 nm 0,11 0,45 (0,39) 0,77 (0,08) 0,20 (0,05) 0,05 Tabela 3.4: Valores de 0 obtidos a partir do espectro de absorção linear das amostras (os valores entre parênteses foram encontrados por interpolação dos valores para as amostras A e H). Amostra A C D E H Tabela 3.5: Valores de usando os valores de 0,21 2 (cm/GW) 580 nm 1,8 3,7 (3,9) 4,9 (5,5) 6,3 (6,3) 7,6 0 610 nm 0,9 1,5 (1,5) 2,1 (2,6) 3,5 (3,5) 4,1 2 630 nm 0,2 0,8 (0,9) 0,9 (1,2) 1,5 (1,5) 1,9 encontrados através de ajuste teórico da tabela 3.4. 580 nm 610 nm 630 nm A 0 -1 (cm ) 0,18 0,15 0,12 H 0,09 0,06 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Fator de preenchimento (f) Figura 3.9: Interpolação dos coeficientes de absorção linear a partir dos valores para as amostras A e H. 62 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 Os novos valores encontrados para 2 mostraram que o comportamento das amostras não mudou, como se vê na figura 3.10. 11 532 nm 580 nm 610 nm 630 nm 10 9 2 (cm/GW) 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 Fator de preenchimento (f) Figura 3.10: Coeficiente de absorção de dois fótons em função do fator de preenchimento das amostras após levar em conta a absorção linear representada pela figura 3.9. A compatibilidade entre os resultados para 2 com os valores de 0 da figura 3.9 pode ser compreendido da seguinte forma: em cada medida não-linear, em cada amostra, procurou-se uma região onde o espalhamento observado fosse o menor possível, deslocando-se a amostra no plano focal em frente à lente de focalização do laser incidente. Encontrando-se tal região, fixou-se a amostra e a medida foi feita. Além de encontrar o coeficiente de absorção de dois fótons para cada amostra, havia a hipótese se tais resultados obedeceriam ao comportamento do modelo teórico descrito na referência [Brandi, 1983] e comentado na seção 2.3b, que mostra a dependência teórica de 2 nas equações (2.75) e (2.76). O comportamento experimental não coincidiu com o teórico, o que leva à conclusão que, no regime de excitação de nanossegundo, efeitos da contribuição de portadores livres devem ser levados em consideração. Então, é 63 Capítulo 3 - Absorção de Dois Fótons em Vitrocerâmicas Contendo Nanocristais de NaNbO3 necessário acrescentar uma nova banda ao modelo teórico, no caso das vitrocerâmicas de NaNbO3, bem como um termo extra, dependente da seção de choque de absorção dos portadores livres, na equação (2.64), para comparar os resultados experimentais com a teoria. 64 Capítulo 4 Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados 4.1 – Vidros Formados por Óxidos: Introdução Vidros de metais pesados podem ser formados por vários sistemas, dentre eles aqueles que contêm óxidos, halogenetos e calcogenetos. Nesses seus arranjos vítreos, um dos componentes é o formador de rede (“network former”) e outros componentes atuam como modificadores desta rede (“network modifiers”), mudando as propriedades do conjunto a depender de parâmetros como, por exemplo, sua concentração. Dentre os óxidos utilizados na constituição desses vidros, estão o óxido de silício (SiO2), único óxido que constitui um vidro sozinho, os óxidos de metais pesados, como sistemas formados por silicato de chumbo (PbO – SiO2) e óxidos de metais leves. Em particular, os vidros formados por óxidos de metais pesados contendo chumbo e bismuto despertam atenção devido ao seu potencial para aplicações fotônicas [de Araújo, 2005]. Vidros contendo óxidos de metais pesados com alto índice de refração e apresentando centro de inversão podem adquirir propriedades não-lineares de segunda ordem (relacionadas a (2) ) caso sua simetria seja quebrada intencionalmente através de métodos de polarização [Tanaka, 2005]. Isso não significa, contudo, que suas nãolinearidades de terceira ordem (relacionadas a magnitude de ( 3) ( 3) nesses materiais, maior é o efeito de ) desaparecem. Quanto maior a (2) induzido nos mesmos quando da quebra da simetria. Os vidros de metais pesados usados no experimento descrito na próxima seção são formados por óxido de bismuto (em concentrações distintas) como componente modificador da rede, fazendo parte do sistema Bi2O3 – ZnO – B2O3. Eles foram fabricados pela técnica de “melt-quenching” [Yamane, 2000] e apresentam não-linearidade de terceira ordem alta. Devido a tal fato, sua susceptibilidade não-linear de segunda ordem induzida pelo método de polarização térmica já foi estudada [Deparis, 2005]. Resumidamente, este método é dividido em três fases: primeiro, as amostras (conectadas a eletrodos) são aquecidas lentamente num forno até que seja atingida uma determinada temperatura ( T p ) aplicando-se uma tensão V aos eletrodos. Depois, as amostras são lentamente resfriadas, mantendo-se a tensão V, que só é desligada quando a temperatura atinge à do ambiente. O 65 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados processo deve ser realizado lentamente para se evitar a quebra das amostras e o valor de T p deve estar próximo da temperatura de cristalização ( Tg ) das amostras. Neste trabalho, a não-linearidade estudada foi a de terceira ordem, mais especificamente a absorção não-linear através do processo da absorção de dois fótons. As concentrações de Bi2O3 foram variadas no arranjo formado por Bi2O3 – ZnO – B2O3 de modo que a razão entre as concentrações de ZnO e de (ZnO – B2O3) tivesse um valor constante e igual a 0,5. 4.2 – Experimento 4.2a – Técnica Experimental Utilizada Neste experimento, os vidros formados por óxidos de metais pesados foram classificados em duas amostras (BZH7 e BZH2) de acordo com a concentração de óxido de bismuto em cada uma delas (tabela 4.1). Bi2O3 ZnO B2O3 ZnO/(ZnO+B2O3) (mol %) (mol %) (mol %) (mol %) BZH2 25,0 37,5 37,5 0,50 419 BZH7 12,5 43,5 43,75 0,50 470 Amostra Tv (0C) Tabela 4.1: Composição das amostras estudadas (T v é a temperatura de transição vítrea). O coeficiente de absorção de dois fótons para as amostras foi medido nos comprimentos de onda dos fótons incidentes em 532 nm e 598 nm. O experimento foi realizado no regime de excitação de nanossegundo utilizando-se a emissão no segundo harmônico do mesmo laser Nd:YAG do experimento descrito no capítulo anterior. No comprimento de onda da região do verde, o feixe gerado pelo segundo harmônico foi desviado da montagem do laser de corante por um prisma. Por sua potência (potência 66 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados média de 0,12 W e potência de pico de 3,43 MW) ser alta, ela foi atenuada através da inserção de filtros neutros na montagem experimental representada pela figura 4.1. Tal procedimento foi necessário para evitar que a amostra fosse queimada quando posicionada no plano focal. Uma placa de * / 2 foi utilizada para variar a potência incidente na amostra e a mesma foi posicionada no plano focal (de uma lente com f = 5 cm) semelhantemente ao experimento realizado nas vitrocerâmicas. A intensidade incidente máxima foi obtida usando-se um medidor de potência Gentec, posicionado da mesma forma que na figura 3.3. Nd: YAG /2 REFERÊNCIA f = 5 cm BOXCAR SINAL Figura 4.1: Montagem experimental para as medidas feitas em 532 nm. Para gerar laser no comprimento de onda de 598 nm, usou-se a mesma montagem experimental da figura 3.5, com dois amplificadores. Dados referentes ao laser de corante e informações gerais sobre o experimento são dados nas tabelas 4.2 e 4.3 respectivamente. 67 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados (nm) 598 Concentração Molar Oscilador Amplificador Sulforodamina 640 Metanol P.A. (O e A) 4,00 x 10-4 1,18 x 10-4 Corante Solvente Tabela 4.2: Informações sobre o corante utilizado no experimento em 598 nm. Potência 0 de pico (nm) (kW) (mm) 1 ( m) z1 Leff I0max (mm) (mm) (GW/cm2) 532 1,11 1 8,5 0,43 0.85 598 0,89 1,42 7 0,24 0,47 0,49 0,58 Tabela 4.3: Informações gerais sobre o experimento. 0 é o diâmetro do feixe imediatamente antes da lente, 1 é a cintura mínima do feixe focalizado na amostra, z1 é o novo parâmetro confocal da lente, Leff é a espessura efetiva e Iomax é a intensidade incidente máxima. A energia do gap das amostras foi obtida a partir dos valores dos comprimentos de onda obtidos a partir do espectro da figura 4.2 traçando-se retas paralelas ao máximo valor da absorbância, tangenciando o gráfico de cada amostra. A transmitância linear (medida usando-se um espectrofotômetro Beckman DU 7500) foi obtida para as amostras a fim de se confirmar os dados obtidos por meio da figura 4.2. Nesse caso, a energia do gap é aquela cujo comprimento de onda se localiza onde a transmitância é nula (figura 4.3). 1.5 BZH2 BZH7 Absorbância 1.2 0.9 0.6 0.3 0.0 400 800 1200 1600 2000 Comprimento de onda (nm) Figura 4.2: Espectro de absorção das amostras. 68 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados O coeficiente de absorção linear para cada amostra em cada comprimento de onda estudado foi medido a partir dos valores para a absorbância (ABS) obtidos a partir da figura 4.2 sabendo que: ABS 10 (1 R) 2 exp( 0 L) , (4.1) onde o termo da esquerda representa a transmitância linear da amostra. Resolvendo a equação (4.1), encontra-se 0 : 0 O valor de 0 ABS ln 10 2 ln(1 R) L . (4.2) foi desprezível tanto para a amostra BZH7 com para BZH2. Assim, a equação (2.64) foi reduzida a: dI dz 2 I2 . (4.3) Resolvendo a equação (4.3), tem-se: I ( L) I 0 (1 R) 2 1 R) I 0 2 L (1 . (4.4) No caso das duas amostras, L > z1 . Assim, utilizou-se um L efetivo nos ajustes teóricos dos resultados de BZH7 e BZH2. 69 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados A tabela 4.4 mostra os parâmetros das amostras utilizados na equação (4.4) para o ajuste teórico. 100 BZH2 BZH7 Transmitância (%) 80 60 40 20 0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de onda (nm) Figura 4.3: Transmitância linear das amostras. Amostra 0 (cm BZH7 BZH2 - -1 ) Eg (eV) 3,50 3,31 Eg (nm) 353 374 L (cm) 0,1 0,1 R (532 nm) 0,089 0,113 Tabela 4.4: Parâmetros das amostras usados no ajuste teórico. Os valores de R (598 nm) 0,087 0,110 0 são desprezíveis. 4.2b – Resultados e Análise Como no experimento descrito no capítulo anterior, os sinais das intensidades incidente e transmitida pelas amostras foram medidos, respectivamente, por um fotodiodo de referência e outro localizado depois da amostra. A íris posicionada em frente a cada fotodiodo estava completamente aberta ( S 1 ) e tomou-se cuidado para evitar que os detectores funcionassem em regime de saturação. O ajuste dos pontos experimentais foi feito no programa Microcal Origin® utilizando os parâmetros da tabela 4.4 na equação (4.4). 70 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados A figura 4.4 mostra os resultados obtidos para BZH7 e BZH2 em cada comprimento de onda estudado. Estimou-se um erro de 10% para cada medida a partir das flutuações das intensidades incidente e transmitida medidas para cada amostra. O coeficiente de absorção de dois fótons, para cada amostra em cada comprimento de onda estudado, foi retirado tomando-se uma média dos valores obtidos (através de ajuste 2 Intensiadade Transmitida (GW/cm ) teórico) em várias medidas. Os resultados são apresentados na tabela 4.5. BZH2 BZH7 0,35 532 nm 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 (a) 0,00 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 2 2 Intensidade Transmitida (GW/cm ) Intensidade Incidente (GW/cm ) 0,6 BZH7 BZH2 598 nm 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0,0 (b) 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 2 Intensidade Incidente (GW/cm ) Figura 4.4: Respostas dos vidros de óxidos de metais pesados estudados às excitações em (a) 532 nm e (b) em 598 nm. 71 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados Amostra BZH7 BZH2 2 (cm/GW) 532 nm 8,5 47,5 598 nm 4,0 14,2 Tabela 4.5: Coeficiente de absorção de dois fótons para as amostras estudadas em 532 nm e 598 nm. Observando a figura 4.4 e os resultados na tabela 4.5, verifica-se que o coeficiente de absorção de dois fótons ( 2 ) das amostras aumenta consideravelmente, em um mesmo comprimento de onda estudado, quando a concentração de Bi2O3 dobra (de 12,5% para 25%), o que permite concluir, mais uma vez, que o fenômeno de absorção de dois fótons é mais intenso quanto maior a concentração do material que funciona como dopante (no caso, modificador da rede) no vidro. Em termos de limitação óptica, foi obtido um bom resultado para a amostra BZH2 no comprimento de onda em 532 nm. A figura 4.4 (a) deixa clara a existência de um valor de saturação, como mostra a figura 4.5. BZH2 2 Intensidade Transmitida (GW/cm ) 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 2 Intencidade Incidente (GW/cm ) Figura 4.5: Comportamento da amostra BZH2 em 532 nm, na qual se observa uma curva típica de um limitador óptico. 72 Capítulo 4 - Absorção de Dois Fótons em Óxidos de Metais Pesados Um valor de intervalo dinâmico foi estimado para esta amostra com sendo ID=10, o que é aceitável para que se tenha um bom limitador óptico. Em 598 nm, amostra BZH2 apresentou um intervalo dinâmico menor, estimado em ID=2, já que a absorção de dois fótons é menos intensa neste comprimento de onda. Não foi possível estimar o intervalo dinâmico para a amostra BZH7, pois a curva de saturação observada na figura 4.5 não aparece com clareza nas medidas feitas para essa amostra. De forma geral, os vidros estudados apresentam grande potencial para aplicações em óptica não-linear e fotônica como protetores de sensores dependendo da energia do fóton incidente e das características inerentes aos mesmos. 73 Conclusões Conclusões O efeito da absorção de dois fótons pôde ser verificado com clareza nas vitrocerâmicas e nos vidros de óxidos de metais pesados estudados. Os resultados dos experimentos descritos nos capítulos 3 e 4 mostram que tanto a concentração de nanocristais de NaNbO3 como a do óxido de bismuto (Bi2O3) é um fator necessário (mas não suficiente, já que o regime de excitação também é importante) para que tais materiais possam ser comportar (ou não) como bons limitadores ópticos. No caso das vitrocerâmicas, não foi possível verificar uma saturação evidente na intensidade transmitida por cada amostra; além das mesmas apresentarem linhas de fluxo decorrentes da síntese das matrizes hospedeiras, a contribuição dos portadores livres não foi considerada, o que requer uma modificação no modelo teórico (o qual leva em conta duas bandas parabólicas em materiais de gap direto) e o acréscimo de um termo extra à equação (2.64), resultando dI dz 0 I 2 I2 +N ( I ) I , onde + é a seção de choque de absorção dos portadores livres e N é a densidade dos portadores dos pares elétron-buraco. No caso do experimento realizado, a equação (2.79) também deverá ser resolvida, a fim de se encontrar N (I ) , levando-se em conta a duração do pulso do laser incidente. Assim, vemos que o valor de 2 determinado neste trabalho representa um valor efetivo que não inclui a contribuição de + . A consideração da contribuição dos portadores livres permitirá obter o valor real de 2 . Uma outra possibilidade é, usando o modelo de Maxwell-Garnett [Falcão- Filho, 2004], identificar separadamente as contribuições dos nanocristais e da matriz hospedeira para o coeficiente de absorção de dois fótons. Já os vidros de óxidos de metais pesados (com absorção linear desprezível) apresentam alto potencial para aplicação em fotônica, a depender da concentração do modificador de rede. Tais materiais não apresentam linhas de fluxo visíveis e, devido à sua própria composição, são mais promissores para se comportarem como limitadores ópticos, conforme mostra a curva típica de limitação óptica exibida na figura (4.5) e analisada na última seção do capítulo anterior. Também nesse caso, uma análise teórica mais detalhada, considerando a contribuição dos portadores livres de carga, será feita no futuro próximo. Note-se, entretanto, que o intervalo dinâmico (ID) do material como limitador óptico não será alterado. 74 Apêndices Apêndices A – “Knife-Edge Technique”: Ajuste Teórico A figura A.1 representa o experimento para determinação da cintura mínima do feixe óptico. Para cada posição z do parafuso micrométrico, fez-se uma varredura da gilete na frente do feixe, ao longo da direção x̂ , girando-se o parafuso graduado em frações de polegadas. 2 10 15 40 ẑ 1 30 20 x̂ Figura A.1: Esquema experimental da técnica da borda de faca. Abaixo se encontram os pontos experimentais que melhor se ajustaram à teoria (que considera a intensidade transmitida de um feixe gaussiano em função de z ) utilizados para encontrar 1 em 580 nm (figuras A.2 e A.3). O foco foi determinado em z = 30 mm. 75 Apêndices 0.14 0.12 > (mm) 0.10 0.08 0.06 0.04 0.02 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 z (mm) Figura A.2: Diâmetro do feixe em função de z (nesse gráfico, z = 0 corresponde à posição de z = 30 mm no parafuso micrométrico). A curva sólida representa o ajuste teórico, o qual foi feito no programa Microcal Origin® utilizando-se a equação (3.1) multiplicada por uma constante C (C = 0.67). Figura A.3 (a) 76 Apêndices Figura A.3 (c) Figura A.3 (b) Figura A.3: Dados obtidos com o programa Mathcad@. (a) A função R(A) representa o comportamento teórico Gaussiano da intensidade normalizada em função de z. 1/J(0.07) é o fator de normalização. (b) As colunas Dk ,0 e Dk ,1 são os pontos experimentais (posição z, em polegadas, e sinal transmitido, em unidades arbitrárias, respectivamente). (c) Ajuste teórico com valor para cintura mínima correspondente a 15 x 10-7polegadas, o que equivale a 31 m. A curva azul representa tal ajuste aos pontos experimentais (curva vermelha). 77 Apêndices B – Placa de Onda: Ajuste Teórico A intensidade incidente em cada amostra de vitrocerâmica foi determinada variando-se a posição angular da placa de meia-onda (figura B.1) de dois em dois graus. O feixe, após passar pela placa, passou por um polarizador, o qual foi posicionado de tal forma que o laser incidente, já polarizado verticalmente, continuou a ter sua componente vertical do campo elétrico se propagando. O ajuste teórico foi feito usando a equação a seguir: I0 I 0 max cos(2? ) 2 . (B.1) 2 70 2 Intensidade Incidente (MW/cm ) 580 nm 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 ? (rad) (a) Intensidade Incidente (MW/cm ) 800 80 0,5 0,6 0,7 0,8 610 nm 700 600 500 400 300 200 100 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 ? (rad) (b) Figura B.1: Ajuste teórico (pontos pretos) dos pontos experimentais (pontos vermelhos) do comportamento do sistema placa de meia-onda + Glan-laser no regime de excitação de (a) 580 nm e (b) 610 nm (usados no estudo das vitrocerâmicas). No comprimento de onda de 630 nm, o laser é elipticamente polarizado, então a placa não se comporta da mesma forma, o que não leva a um bom ajuste. 78 Referências Referências [Alivisatos, 2001] P. Alivisatos, Berkeley Lab. 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