CAROLINA IKEDA GRIZZA A PREVALÊNCIA DA BRONCOPNEUMONIA NO SETOR DE PEDIATRIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ, NO PERÍODO DE JUNHO DE 2000 A DEZEMBRO DE 2003 Cascavel 2003 CAROLINA IKEDA GRIZZA A PREVALÊNCIA DA BRONCOPNEUMONIA NO SETOR DE PEDIATRIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ, NO PERÍODO DE JUNHO DE 2000 A DEZEMBRO DE 2003 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Cascavel, como pré-requisito para a obtenção do título de graduado em Fisioterappia. Orientadora: Aneline Maria Ruedel Colaboradora: Carla Adriane Pires Ragasson Cascavel 2003 TERMO DE APROVAÇÃO CAROLINA IKEDA GRIZZA A PREVALÊNCIA DA BRONCOPNEUMONIA NO SETOR DE PEDIATRIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ, NO PERÍODO DE JUNHO DE 2000 A DEZEMBRO DE 2003 Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná ............................................................................................ Profª Aneline Maria Ruedel – UNIOESTE ............................................................................................ Profª Carla Adriane Pires Ragasson – UNIOESTE ............................................................................................ Profª Juliana Hering Genske - UNIOESTE Cascavel, 16 de abril de 2003 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho de pesquisa primeiramente a Deus e aos meus pais, pela paciência e esperança. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, pelos anos de espectativa e paciência, por toda ajuda e apoio que sempre me deram e sei que sempre irão me dar. Ao meu tio Issamu e minha tia Helena, por nos últimos meses me aconselharem e incentivare a continuar a lutar pelos meus ideais. A minha orientadora Aneline Ruedell que me apoiou e me deu suporte para realizar este trabalho e a minha co-orientadora, que me deu as idéias e todo o suporte metodológico e por ser uma pessoa muito especial. A todos os professores da minha graduação em especial: Gladson, Gustavo, Carlos, Fernando e Alexandre, por terem tido a vontade de me ministrarem uma reoferta e possibilitar a minha graduação. As minhas amigas e companheiras de graduação: Fabiana, Fabielle, Fran, Deborah, Tati B. e Mônica, por todas as alegrias e tristezas passadas juntas. Aos meus amigos: Xandi, Cata e Nelsão por toda ajuda e apoio sempre. E por fim, Robson, um companheiro que fez parte apenas ao final da minha graduação, mas que me proporcionou momentos de alegria e contribuiu muito para que este trabalho se realizasse. SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................... I LISTA DE FIGURAS........................................................................... II LISTA DE GRÁFICOS......................................................................... III LISTA DE TABELAS........................................................................... IV LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..................................... V 1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 01 2 REVISÃO LITERÁRIA....................................................................... 04 2.1 Bases Anatômicas e Funcionais do Trato Respiratório.................................. 04 2.2 Constituição da Estrutura Anatômica............................................................. 05 2.2.1 Caixa torácica................................................................................................ 05 2.2.1.1 Coluna vertebral............................................................................................. 06 2.2.1.2 Costelas.......................................................................................................... 06 2.2.1.3 Articulação costovertebral.............................................................................. 06 2.2.1.4 Esterno............................................................................................................ 06 2.2.1.5 Músculos respiratórios................................................................................... 07 2.3 Vias Aéreas..................................................................................................... 09 2.4 Concepção Geral da Arquitetura Pulmonar.................................................... 10 2.5 Estrutura das Vias Aéreas............................................................................... 13 2.6 O Aparelho Mucociliar................................................................................... 16 2.7 Estrutura dos Espaços de Trocas Gasosas...................................................... 17 2.8 Desenvolvimento Pré-Natal: Morfogênese..................................................... 18 2.9 Desenvolvimento Pós-Natal........................................................................... 22 2.10 Fisiologia Respiratória.................................................................................... 24 2.11 Regulação da Respiração................................................................................ 25 2.12 Retração Elástica dos Pulmões e da Parede Torácica..................................... 27 2.13 Diferenças de Pressão Durante a Respiração.................................................. 28 2.14 Complacência e Elastância............................................................................. 29 2.15 Resistência ao Fluxo....................................................................................... 30 2.16 Eficácia e Efetividade da Ventilação.............................................................. 30 2.17 Doenças Respiratórias na Infância.................................................................. 33 2.18 Pneumonias..................................................................................................... 34 2.18.1 Classificação................................................................................................... 35 2.18.2 Anatomia patológica....................................................................................... 36 2.18.3 Quadro clínico................................................................................................ 36 2.18.4 Patogênese...................................................................................................... 37 2.18.4.1 Pneumonia pneumocócica.............................................................................. 37 2.18.4.2 Pneumonia por hemófilo................................................................................. 37 2.18.4.3 Pneumonia por micoplasmose........................................................................ 38 2.18.4.4 Pneumonia tuberculosa................................................................................... 38 2.18.4.5 Pneumonia por anaeróbios.............................................................................. 39 2.18.4.6 Pneumonia estafilocócica............................................................................... 39 2.18.4.7 Pneumonia por legionelose............................................................................. 39 2.18.4.8 Pneumonia por pneumocistis carinii............................................................... 40 2.18.5 Complicações.................................................................................................. 40 2.19 Broncopneumonia........................................................................................... 40 2.19.1 Diagnóstico da broncopneumonia.................................................................. 41 2.19.2 Fatores de risco............................................................................................... 42 2.20 Tratamento...................................................................................................... 42 2.20.1 Uso de Corticoesteróides................................................................................ 42 2.20.2 Fisioterapia..................................................................................................... 43 2.20.2.1 Percussão........................................................................................................ 44 2.20.2.2 Vibração.......................................................................................................... 44 2.20.2.3 Vibro-compressão........................................................................................... 44 2.20.2.4 Drenagem postural.......................................................................................... 45 2.20.2.5 Exercícios respiratórios.................................................................................. 45 2.20.2.6 Benefícios da fisioterapia............................................................................... 46 3 METODOLOGIA.................................................................................... 47 4 RESULTADOS......................................................................................... 49 5 DISCUSSÃO.............................................................................................. 54 6 CONLUSÃO.............................................................................................. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. 60 ANEXO A................................................................................................... 65 RESUMO A broncopneumonia é considerada um tipo de pneumonia. É uma síndrome clínica mais comum após infecções pelo Mycoplasma pneumonial, tem início nas vias aéreas condutivas e, através da parede lesada de bronquíolos, há propagação aos alvéolos perobronquiolares e os ácinos adjacentes. A disseminação ocorre, fundamentalmente, por via canalicular. No quadro clínico temos tosse, dispnéia, cianose, tiragem, batimento de asas do nariz. A presente pesquisa teve como principal objetivo avaliar a incidência de broncopneumonia no Hospital Universitário de Cascavel e também analisar quais são suas principais características presentes. Realizou-se um trabalho de pesquisa e avaliação fisioterapêutica em 163 pacientes internados no hospital Universitário de Cascavel no setor de pediatria, durante o período junho de 2000 a dezembro de 2002, no qual 97 pacientes tiveram o diagnóstico de Broncopneumonia. A análise dos resultados revelou que a incidência de broncopneumonia ocorreu em 59,51% dos pacientes, sendo que ela teve predomínio em crianças do sexo masculino (61,85%); a idade que ela mais teve manifestação foi a de 0-3 anos (70,10%); o principal sintoma apresentado foi a febre e tosse (23,71%); o tipo de respiração predominante foi a diafragmática (28,87%); a principal característica de tosse foi a produtiva (27,83%); a expansibilidade pulmonar de prevalência foi a diminuída (42,27%); a mobilidade torácica de maior incidência foi a normal (41,24%) e a patologia associada com maior ocorrência foi o derrame pleural (4,12%). Concluímos que através do estudo realizado pode-se comprovar que a broncopneumonia é a patologia respiratória de maior incidência hospitalar. Com base nesse estudo, viu-se a importância da fisioterapia para o tratamento das afecções do trato respiratório, e também, que a elevada incidência da enfermidade leva à necessidade do conhecimento do fisioterapeuta a respeito da referida patologia, tanto em aspectos preventivos quanto de tratamento. Palavras-chaves: tratamento. broncopneumonia, incidência, fisioterapia, pediatria, pacientes, LISTA DE FIGURAS Figura 1. Músculos Respiratórios............................................................................... 09 Figura 2. Panorama do Sistema Respiratório.............................................................. 10 Figura 3. Representação Simplificada dos Pulmões................................................... 11 Figura 4. Representação Mecânica dos Pulmões........................................................ 12 Figura 5. Modificação da Estrutura Brônquica........................................................... 14 Figura 6. Revestimento das Vias Aéreas e Alvéolos.................................................. 15 Figura 7. Relação entre Cílios e Muco do Tecido Respiratório.................................. 16 Figura 8. Porções Distais do Parênquima Pulmonar................................................... 18 Figura 9. Representação do Período Pseudoglandular................................................ 19 Figura 10. Representação do Período Canalicular........................................................ 21 Figura 11. Elementos Básicos do Controle do Sistema Respiratório............................ 26 Figura 12. Pressões, Volumes e Fluxos Envolvidos na Ventilação………………….. 29 Figura 13. Tipos de Espaço Morto................................................................................ 32 Figura 14. Aspecto radiológico da Broncopneumonia.................................................. 42 Figura 15. Posições para Realizar a Drenagem Postural............................................... 45 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Incidência de broncopneumonia no sexo masculino e feminino da amostra......... 49 Gráfico 2. Prevalência da idade dos pacientes com broncopneumonia em relação ao sexo... 50 Gráfico 3. Principal sintoma relatado pelos pacientes com broncopneumonia....................... 51 Gráfico 4. Prevalência do tipo de respiração nos pacientes com broncopneumonia............... 51 Gráfico 5. Incidência dos tipos de tosse em pacientes com broncopneumonia....................... 52 Gráfico 6. Presença dos tipos de expansibilidade pulmonar em pacientes com 52 broncopneumonia................................................................................................... Gráfico 7. Presença dos tipos de mobilidade torácica em pacientes com broncopneumonia.. 53 Gráfico 8. Incidência de patologias associadas à pacientes com broncopneumonia............... 53 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Prevalência de Idade dos pacientes com Broncopneumonia em relação ao Sexo... 50 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CO2 – gás carbônico O2 – oxigênio PO2 – pressão de oxigênio PCO2 – pressão de gás carbônico UTI – unidade de terapia intensiva < - menor que TCE – traumatismo crânio encefálico HPP – história de patologias pregressas FC – freqüência cardíaca FR – freqüência respiratória GECA – gastro enterocolite aguda 1 INTRODUÇÃO Este trabalho procura abordar a incidência de broncopneumonia, no setor de pediatria do Hospital Universitário de Cascavel. Foi através dessa pesquisa que se pode comprovar de forma clara e detalhada a enorme prevalência dessa patologia, visto que, do grande número de internamentos hospitalares no setor, a maior ocorrência foi em patologias respiratórias, sendo a maior causa a broncopneumonia. Nas crianças as afecções do trato respiratório constituem as doenças mais freqüentes da infância, pelo número de crianças que afetam, em todos os níveis sócio-econômicos, e pelo número de vezes que incidem em cada criança. Sua importância nosológica é acrescida pelas complicações em órgãos e tecidos vizinhos e pela freqüente determinação de distúrbios nutricionais agudos (ALCÂNTARA e ROZOV, 1978). Assim, este trabalho tem grande importância, pois traz contribuições significativas para atuação da fisioterapia, proporcionando maior conhecimento ao profissional de fatores que afetam direta e indiretamente estas crianças, em relação às causas e sintomas e a importância de uma prevenção. Além disso, a divulgação da incidência de broncopneumonia é importante, também porque demonstra a necessidade de realizar alternativas para a prevenção da ocorrência e recidivas. A broncopneumonia é a síndrome clínica mais comum após infecções pelo Mycoplasma pneumonial. É a expressão usada para definir aquelas imagens radiológicas múltiplas uni ou bilaterais, de padrão alveolar, aspecto infiltrativo, limites mal definidos, irregulares, intercaladas por zonas de parênquima são. Nestes casos, pressupõe-se nítida participação bronquíolo-alveolar (GONÇALVES et al., 2000). Durante o trabalho, ainda, foram descritos os principais tipos de pneumonia, bem como suas características, isso porque a broncopneumonia é um tipo de pneumonia. A broncopneumonia apresenta o mesmo quadro clínico e sofre, praticamente, as mesmas manifestações. No decorrer do trabalho, foram feitas correlações sobre a anatomia, fisiologia e mecânica respiratória para o melhor entendimento da patologia, fundamental para a elaboração de um tratamento fisioterapêutico eficaz e adequado ao paciente. O tratamento deve ser visado para cada tipo de patologia, sempre de acordo com seus sinais e sintomas, levando em conta que são pacientes pediátricos, onde crianças são mais sensíveis e susceptíveis a recidivas se não tratadas com segurança e higiene, principalmente do terapeuta e por estarem em um local propício, que é o hospital. O tratamento proposto deveria ser informado e explicado de acordo com sua idade e capacidade de entendimento. É sempre mais fácil e agradável quando a criança é complacente com o tratamento. Ocasionalmente, as crianças podem recusar o tratamento (tanto porque elas, simplesmente, não o querem ou devido ao medo). Entretanto, se o tratamento for considerado essencial, ele deve ser dado após e durante cuidadosa explicação (PARKER E PRASAD, 2002). Bem como, o esclarecimento da patologia, suas principais causas, sintomas e o que o tratamento clínico faz, assim como o tratamento fisioterapêutico. Se a crianças for de uma idade mais avançada, esclarecer para a própria crianças, sem deixar é claro a participação dos pais, que são os primeiros a serem informados. É importante esclarecer os familiares, para que estes também se preocupem em diminuir a incidências de recorrências. A fisioterapia contribui muito para pacientes com afecções respiratória, como as citadas neste trabalho, broncopneumonia e/ou pneumonias. Segundo SHEPHERD (1996), na maioria desses casos à fisioterapia tem três objetivos principais: limpeza das vias aéreas, obstruída pelo acúmulo de secreções ou pelo material aspirado, reexpansão de um segmento pulmonar atelectásico e aperfeiçoamento do mecanismo respiratório e do controle da respiração, com isso, assegurar a transmissão adequada dos gases aos órgãos de importância vital, como por exemplo, o cérebro. O tema da pesquisa tem como objetivo principal, analisar a incidência de pacientes com broncopneumonia no Hospital Universitário de Cascavel, no setor de pediatria. Com relação aos objetivos específicos, destaca-se a verificação dos principais sintomas, causas e possíveis patologias que podem estar associadas. E ainda, destacar a fisiologia respiratória, permitindo um melhor entendimento de enfermidades como broncopneumonia, assim sendo uma forma de explicar e compreender a incidência da patologia já citada. Todos os dados demonstrados neste presente trabalho foram retirados do projeto de extensão de Fisioterapia Preventiva no Hospital Universitário do Oeste do Paraná, onde os acadêmicos do curso de fisioterapia fazem partem, para que possam assim aprimorar-se, ganhando experiência para abordar o paciente, para posteriormente, saber elaborar e traçar um plano de tratamento adequado ao caso clínico avaliado. Ao final do trabalho temos a conclusão que representa o resulta geral da pesquisa, bem como, o aprendizado sobre o quadro da patologia, formas de tratamento fisioterapêutico e clínico e abordagens ao paciente. 2 REVISÃO LITERÁRIA 2.1 Bases Anatômicas e Funcionais do Trato Respiratório O cuidado respiratório em crianças pequenas é muito diferente do cuidado para com os adultos. Existem diferenças anatômicas e fisiológicas as quais denotam critérios adicionais que necessitam ser usados para avaliação e tratamento. A idade das crianças afeta sua habilidade em entender o tratamento e cooperar com ele. O medo do desconhecido é sempre mais agudo nas crianças do que nos adultos (PARKER E PRASAD, 2002). O desenvolvimento do sistema respiratório nos mamíferos abrange três fases: morfogênese ou formação das estruturas respiratórias necessárias, adaptação à respiração atmosférica e crescimento dimensional. Na maioria das espécies, as duas primeiras fases se dão principalmente antes do nascimento. O crescimento continua após o nascimento, em geral a um ritmo que é determinado pelas necessidades funcionais dos outros sistemas orgânicos em desenvolvimento. Os efeitos de uma lesão do sistema respiratório dependem não apenas de sua intensidade, como também da sua época de ocorrência. Os insultos à morfogênese dos pulmões, por exemplo, tendem a produzir um comprometimento intenso e irreversível da estrutura e função respiratória. Porem as lesões que interferem no crescimento pulmonar freqüentemente são irreversíveis e podem ser compensadas pelo processo de crescimento (BEHRMAN, 1994). Os pulmões são os órgãos essenciais da respiração, sua principal função é oxigenar o sangue venoso. Dentro deles o ar inspirado é posto em íntima relação com o sangue nos capilares pulmonares. Os pulmões sadios são amolecidos e esponjosos. Eles são muito elásticos e encolhem cerca de um terço do seu tamanho quando a cavidade torácica é aberta. Cada pulmão preenche o seu espaço na cavidade torácica e é radiotransparente (MOORE, 1994). Para desempenhar adequadamente o seu papel respiratório, os pulmões possuem uma concepção estrutural que os possibilita adaptar-se as principais solicitações impostas ao seu funcionamento: a defesa contra microorganismos e substancias tóxicas inaladas; a manutenção da estabilidade mecânica dos espaços aéreos distais, e o ajuste da relação entre a ventilação e a perfusão (BEHRMAN, 1994). Os pulmões não se acham lentamente desenvolvidos no momento em que o recémnascido chora pela primeira vez. O número de bronquíolos e alvéolos e o diâmetro destes últimos aumentam até os oito anos de idade, mais ou menos. Existem provas sugestivas de que o número de alvéolos aumenta até a idade de 12 anos e de que o crescimento normal e a remodelagem do aparelho respiratório prosseguem inclusive durante a vida adulta (SHEPHERD, 1996). O sistema respiratório pode ser esquematizado como consistindo num trocador de gases (a interface alvéolo-capilar), uma bomba (os pulmões e a parede torácica) e num gerador neural que controla a bomba através de uma complicada alça de conexões aferentes e eferentes. A exemplo de outros sistemas que executam um trabalho externo, a função mecânica da bomba deve ser analisada em termos do trabalho e da eficiência. O trabalho realizado pela bomba é uma função relativamente simples das alterações de volume e da pressão aplicada aos pulmões. A eficiência respiratória (a proporção do trabalho realizado e energia consumida), por outro lado, é uma função complexa dos estados estrutural e funcional dos músculos respiratórios (BEHRMAN, 1994). 2.2 Constituição da Estrutura Anatômica 2.2.1 Caixa torácica A íntima relação entre os pulmões e a caixa torácica faz com que esta atue como um duplo fole, acionado pelas estruturas musculares. Na inspiração, o fole interno, ou seja, o pulmão, resiste ao movimento, enquanto o fole externo, isto é, a caixa torácica, segue sua tendência de expansão. Na expiração, o contrário ocorre. A retração do fole interno é limitada pelo fole externo, para evitar o colapso de pequenos espaços aéreos (GUYTON e HALL, 1997). Ela é composta principalmente de ossos (vértebras, costelas e o esterno) e músculos, é construída de tal modo que o volume da cavidade torácica pode variar durante a respiração. A parede torácica das crianças é delgada, devido ao pequeno desenvolvimento de seus músculos, e suas caixas torácicas são delicadas e flexíveis (MOORE, 1994). 2.2.1.1 Coluna vertebral São 12 vértebras e quatro curvaturas: cervical, dorsal, lombar e sacroilíaca. 2.2.1.2 Costelas Conforme SNELL1 apud GÓSS e JUNIOR, 2001, existem 12 pares de costelas que estão ligadas posteriormente às vértebras torácicas. Os setes pares superiores estão ligados anteriormente ao esterno pelas cartilagens costais. O oitavo, o nono e o décimo par de costelas estão ligados anteriormente entre si e a sétima costela por meio de cartilagens costais. O 11º e o 12º não estão ligados anteriormente ao esterno e são denominadas costelas flutuantes. 2.2.1.3 Articulação costovertebral Amarrada por ligamentos que lhe dão resistência a movimentos, trações e deslocamentos (CARVALHO, 2001). Dentre elas podemos destacar: as articulações esternocondrais, costocondrais e intercondrais (MOORE, 1994). 1 SNELL, R.S. Anatomia. Rio de Janeiro: Medsi, 1984 apud JUNIOR, L.C.S E GÓSS, Y. C. A utilização do flutter modificado em pacientes acometidos por pneumonia adquirida na comunidade. Blumenau: FURB, 2001. 2.2.1.4 Esterno O esterno é um osso plano alongado, que aparece com uma curta adaga ou espada de folha larga, forma a parte média da parede anterior do tórax (MOORE, 1994). Conforme DÂNGELO e FATTINI (1995), o esterno pode ser dividido em: manúbrio, corpo e processo xifóide. O manúbrio é a parte superior e articula-se com as clavículas, as primeiras cartilagens costais e a parte superior das segundas cartilagens costais. No corpo do esterno existem encaixes para a articulação com a parte inferior das segundas cartilagens costais e da terceira as sétimas cartilagens costais. Já o processo xifóide é a parte menor e mais inferior do esterno, formado por uma placa de cartilagem hialina (SNELL2 apud GÓSS e JUNIOR, 2001). 2.2.1.5 Músculos respiratórios O trabalho respiratório é realizado pelos músculos respiratórios. Esse trabalho exige uma energia que sobrepuje as forças elásticas e de atrito que se opõe à insuflação. A avaliação do trabalho mecânico envolve a mensuração de parâmetros físicos da força e distância. A avaliação do trabalho metabólico envolve a mensuração do consumo de oxigênio durante a respiração (RUPPEL, 2001). A retração e expansão da caixa torácica durante a expiração e a inspiração demonstram particularmente a contração diafragmática, a elevação das costelas é a função dos músculos intercostais (GUYTON e HALL, 1997). Para a mobilidade normal da caixa torácica é necessário que durante um movimento inspiratório, a caixa torácica tenha seus diâmetros vertical, látero-lateral e ântero-posterior 2 SNELL, R.S. Anatomia. Rio de Janeiro: Medsi, 1984 apud JUNIOR, L.C.S E GÓSS, Y. C. A utilização do flutter modificado em pacientes acometidos por pneumonia adquirida na comunidade. Blumenau: FURB, 2001. aumentados; o reverso ocorre durante a expiração, fazendo com que a cavidade torácica retorne ao seu formato original. Estes movimentos dependem dos músculos da coluna cervical, da cintura escapular, do dorso e das regiões intrínsecas do tórax (RICIERI, 2002). Os principais músculos inspiratórios são: a) diafragma: é o músculo mais importante da respiração, ele é responsável por 50 a 60% da ventilação, aumentando o eixo vertical e alargando as bases do tórax em sua fase ativa (inspiratória). Ele exerce ação sinérgica e antagônica com os músculos abdominais, conforme a fase da respiração (CARVALHO, 2001). b) intercostais Externos: origina-se no lado inferior das costelas, dirigem-se obliquamente para baixo e para frente, inserindo-se no lado superior da costela inferior. Sua contração faz elevar as costelas (GRAY, 1988). c) intercostais Internos: fixam-se aos corpos das costelas, e suas cartilagens costais são tão distantes do esterno anteriormente quanto, posteriormente, dos ângulos das costelas, e segundo GARDNER (1988), sua contração faz elevar as costelas. d) toracoespinhais: surgem nas apófises transversas das vértebras cervicais e se inserem na primeira e segunda costelas. Sua contração eleva a primeira e segunda costelas. Só entra em ação quando a dispnéia é intensa (BERTOLAZZO, 2000). e) peitoral maior: tem origem na metade interna da clavícula, no esterno, nas primeiras seis cartilagens costais e se insere no tubérculo maior do úmero. Quando os braços estão fixos o peitoral eleva as costelas e amplia a caixa torácica (GRAY, 1988). Já os principais músculos expiratórios são: f) abdominais: conforme SLUTZKY3 apud GÓSS e JUNIOR (2001), esses músculos possuem um papel muito importante durante a expiração ativa. São divididos em quatro partes sendo elas: - oblíquo externo: origina-se nas oito últimas costelas, inserindo-se na crista ilíaca; - oblíquo interno: tem origem na crista ilíaca e ligamento inguinal, suas fibras posteriores dirigem-se para cima inserindo-se nas três últimas costelas; 3 SLUTZKY, L. C. Fisioterapia respiratória nas enfermidades neuromusculares, Rios de Janeiro: Revinter, 1997 apud JUNIOR, L.C.S E GÓSS, Y. C. A utilização do flutter modificado em pacientes acometidos por pneumonia adquirida na comunidade. Blumenau: FURB, 2001. - transverso do abdome: tem origem nas cartilagens costais das costelas inferiores, crista ilíaca e parte lateral do ligamento inguinal, inserindo-se na aponeurose abdominal; - reto do abdome: tem origem nos ossos púbicos num trajeto ascendente, inserindo-se nas cartilagens costais da quinta à sétima costela. A contração do reto do abdome diminui a distância entre o processo xifóide e o púbis, e do oblíquo externo diminui o diâmetro transverso da caixa torácica. Ambos elevam a pressão intra-abdominal e empurram o diafragma para cima. g) interocostais internos (interósseos): são músculos muito importantes no ato expiratório, conforme DÂNGELO e FATTINI (1995), têm origem na borda inferior da costela e se inserem na borda superior da costela abaixo. Este puxa as costelas para baixo e para dentro, diminuindo o volume torácico (WEST, 1990). Figura 1 – Principais músculos respiratórios Fonte: RUPPEL, Gregg. O sistema respiratório. In: EGAN, Donald F. Fundamentos da terapia respiratória de Egan. São Paulo: Manole, 2001. p. 158. 2.3 Vias Aéreas Segundo DÂNGELO e FATTINI (1995), O sistema respiratório pode ser dividido em duas partes: porção de condução e porção de respiração. A primeira porção pertence a órgãos tubulares cuja função é a de levar o ar inspirado até a porção respiratória, representada pelos pulmões, e destes conduzir o ar expirado, eliminando o CO2. Assim dos pulmões o ar expirado é conduzido pelos brônquios e traquéia, órgão que realmente funcionam apenas como tubos condutores de ar (aeríferos). Acima destes, entretanto, situam-se a laringe, a faringe e o nariz, que não são apenas condutores aeríferos. Assim, a laringe é também um órgão responsável pela fonação; a faringe está relacionada com o sistema digestivo, parte dela servindo de tubo condutor de alimentos; e o nariz apresenta porções que cumprem função olfatória. Figura 2 – Panorama do sistema respiratório Fonte: SOBOTTA. Atlas de anatomia humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. p. 13. 2.4 Concepção Geral da Arquitetura Pulmonar No momento de nascer ocorre um fenômeno crítico: o feto que dependia das trocas gasosas através da placenta passa a respirar ar. Após o nascimento, os movimentos respiratórios são regulados de acordo com as necessidades metabólicas dependendo de numerosos fatores, inclusive do grau de maturidade do sistema nervoso (SHEPHERD, 1996). O sistema de bifurcações sucessivas do trato respiratório representa uma importante adaptação funcional visando propiciar um adequado condicionamento do ar inspirado (BEHRMAN, 1994). O aumento progressivo da área de secção transversal das vias aéreas somadas, ao longo de sucessivas bifurcações do trato respiratório, propicia uma lentificação do fluxo aéreo nos segmentos mais distais. O menor diâmetro das vias aéreas dos lactentes, particularmente, aqueles nascidos pré-termo, oferece alta resistência ao fluxo aéreo e qualquer edema de mucosa aumentaria significativamente a respiração (PARKER E PRASAD, 2002). Conseqüentemente, o vetor de energia cinética que impulsiona as partículas inaladas em direção ao território de trocas gasosas perde o momento gradativamente, fazendo com estas sejam depositadas ao longo das vias aéreas pela ação da gravidade, no processo chamado de sedimentação gravitacional (BEHRMAN, 1994). Como idéia geral, os pulmões podem ser descritos como um sistema de tubos (as vias aéreas), dispostos tanto em série como em paralelo, acoplados no seu final a um sistema de foles elásticos (o território alveolar). O modelo mais simples que poderia ser empregado consiste em um acoplamento em série de um tubo a um fole, como demonstra a figura abaixo (SALDIVA, 1999). Figura 3 – Representação simplificada dos pulmões Fonte: SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Bases anatômicas e funcionais do trato respiratório. In: ROZOV, Tatiana. Doenças pulmonares em pediatria diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu: 1999. p. 03 Um mecanismo importante para o impedimento da penetração de partículas nos segmentos mais profundos dos pulmões é dado pelo aumento progressivo da área de secção transversa das vias aéreas. Através da secção transversa das vias aéreas originadas a partir da bifurcação de uma via aérea mãe, teremos um aumento progressivo da área do trato respiratório. O aumento do calibre do trato respiratório é explicado pelo fato de a soma das áreas de secção transversa das vias aéreas filhas ser maior do que aquela da via aéreas originais (BEHRMAN, 1994). A primeira respiração é profunda, consistindo em uma contração do diafragma, a qual parece ser desencadeada pelas alterações tácteis e térmicas. Durante as primeiras inspirações, os alvéolos abrem-se uns após os outros, em direção do centro à periferia. A dilatação dos pulmões acontece durante o primeiro grito forte, se bem que pequenas regiões pulmonares permaneçam fechadas durante os primeiros 7 a 10 dias de vida. Durante as primeiras inspirações, o líquido contido nas vias aéreas passa a ser substituído pelo ar. Parte deste liquido é eliminado pelo nariz e boca, mas a maior parte é absorvida pelos pulmões, passando para os intestinos e sendo daí removidas pelo sistema linfático (SHEPHERD, 1996). Em geral, a abordagem mecânica de doenças respiratórias utiliza-se freqüentemente da representação pulmonar através de um único valor de resistência (determinado pelo calibre das vias aéreas) e de um valor de complacência ou capacitância (representado pelo comportamento elástico do território alveolar) (SALDIVA, 1999). A progressiva lentificação do fluxo e a interação do ar com as paredes das vias aéreas propicia a filtração, umidificação e aquecimento do ar inspirado. Estas funções implicam a resistência de mecanismos de remoção de partículas e a regulação da hidratação da mucosa respiratória (BEHRMAN, 1994). Um modelo mais complexo dos pulmões está representado a seguir: através da disposição em série e paralelo de vias aéreas, terminadas por elementos elásticos alveolares (SALDIVA, 1999). Figura 4 – Representação mecânica dos pulmões Fonte: SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Bases anatômicas e funcionais do trato respiratório. In: ROZOV, Tatiana. Doenças pulmonares em pediatria diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu: 1999. p. 03 A figura anterior (figura 4), define claramente dois compartimentos dos pulmões: um comprometido com a condução e o condicionamento (filtração, umidificação e aquecimento do ar inspirado); e outro território destinado a propelir ar durante a expiração. (SALDIVA, 1999) Conforme PARKER E PRASAD (2002) os pulmões dos lactentes são menos complacentes que os das crianças mais velhas e adultos, particularmente, em lactentes prétermo (< 37 semanas de gestação) em que também pode haver falta de surfactante. Uma diferença em relação ao tamanho dos dois pulmões resulta do desvio do coração embrionário para a metade esquerda da cavidade pleural. A posição do coração é responsável pela incisão cardíaca do pulmão esquerdo. As proporções relativas de laringe e traquéia se modificam, desde o período embrionário até a vida adulta. A traquéia é curta e estreita, enquanto a laringe é relativamente grande; somente alguns meses após o nascimento é que a traquéia começa a crescer mais rapidamente que a laringe, assumindo então as duas proporções relativas encontradas no indivíduo adulto (SHEPHERD, 1996). O território de condicionamento de ar inspirado é constituído na espécie humana por cerca de 16 a 23 gerações de vias aéreas, dependendo da localização dos pulmões. De modo geral, o ápice pulmonar representa menor número de gerações das vias aéreas antes de atingir os alvéolos, ao passo que as bases pulmonares possuem maior número de vias aéreas (BEHRMAN, 1994). 2.5 Estrutura das Vias Aéreas As diferenças anatômicas da via aérea superior permitem aos lactentes alimentaremse e respirarem simultaneamente até, aproximadamente, 3-4 meses de idade. Pensava-se que, efetivamente, isso os obrigaria a respirar pelo nariz, de modo que qualquer bloqueio nasal levasse a apnéia. Embora esse conceito tenha sido questionado, durante a observação clínica, os lactentes com passagens nasais ocluídas, tanto pelo muco, como por tubos, tiveram um aumento no trabalho respiratório e episodio de apnéia (PARKER E PRASAD, 2002). Há bifurcações da vias aéreas que desempenham um papel extremamente importante no processo de filtração do ar. Em um regime de fluxo laminar, as partículas inaladas são carregadas com maior probabilidade na região de maior energia cinética, ou seja, na proporção central da camada de fluido (BEHRMAN, 1994). A estrutura dos brônquios modifica-se progressivamente nos diferentes níveis do trato respiratório. A figura mostra um esquema de estrutura dos brônquios e bronquíolos respiratórios, onde brônquios (A) são estruturas com paredes espessas, contando com glândulas na lâmina própria e esqueleto de sustentação cartilaginoso. Bronquíolos (B) são estruturas altamente muscularizadas, desprovidas de cartilagem. Bronquíolos respiratórios (C) são estruturas delgadas, que apresentam alvéolos em sua parede (SALDIVA, 1999). Figura 5 – Modificação da estrutura brônquica Fonte: SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Bases anatômicas e funcionais do trato respiratório. In: ROZOV, Tatiana. Doenças pulmonares em pediatria diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu: 1999. p. 05 Este esquema demonstrado indica que as vias aéreas vão tornando-se cada vez mais delicadas à medida que se caminha para o interior dos pulmões. Esta adaptação progressiva visa permitir o processo de troca gasosa, diminuindo a interface que se interpõe entre o meio interno e o ar inspirado. Os bronquíolos respiratórios marcam a transição entre o compartimento das vias aéreas comprometidas e o condicionamento do ar e o território de trocas gasosas. Antes de atingir o final da linha (ductos alveolares e átrio alveolar), os bronquíolos respiratórios apresentam cerca de duas a três divisões (bronquíolo respiratório de segunda e terceira ordem, respectivamente). O território pulmonar ventilado por bronquíolo respiratório de primeira ordem é denominado ácino pulmonar, que representa a unidade funcional dos pulmões (SALDIVA, 1999). A estrutura da parede brônquica é diferente nos lactentes. A cartilagem é menos firme e haveria, proporcionalmente, mais glândulas mucosas. Ambos esses fatores predispõem-se para a obstrução e colapso da via aérea (PARKER E PRASAD, 2002). Figura 6 – Revestimento de vias aéreas e alvéolos Fonte: SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Bases anatômicas e funcionais do trato respiratório. In: ROZOV, Tatiana. Doenças pulmonares em pediatria diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu: 1999. p. 05 O epitélio de revestimento das vias aéreas modifica-se ao longo dos seus diferentes segmentos, como demonstrados na figura 6. Este esquema representa uma simplificação da estrutura das células das vias aéreas. Nos brônquios, temos um epitélio pseudo-estratificado colunar ciliado, com células secretoras de muco de permeio. Nos bronquíolos, existe uma diminuição da altura do epitélio e dos cílios, com menor número de cílios por célula. Nos bronquíolos aparece um tipo especial de célula secretora, a célula de Clara. Atribui-se a esta célula uma função essencial e muito importante ao sistema respiratório, que é a produção da substância surfactante dos bronquíolos (SALDIVA, 1999). Os alvéolos são revestidos por dois tipos de células: os pneumócitos dos tipos I e II. Compete ao pneumócito do tipo I revestir a maior superfície alveolar com menor espessura possível. Os pneumócitos I são células de diferenciação terminal, ou seja, não são capazes de dividir-se. Os pneumócitos II funcionam como células de reserva do epitélio alveolar além de possuírem a função de produção do surfactante alveolar. Isto implica que, em condições de agressão ao epitélio alveolar, deve ocorrer uma transdiferenciação celular de pneumócitos I para II, com prejuízo da produção do surfactante e, conseqüentemente, risco de instabilidade mecânica dos alvéolos (BEHRMAN, 1994). 2.6 O Aparelho Mucociliar A presença de células ciliadas ao lado de células de produção de muco deve-se à necessidade de um mecanismo de remoção das partículas inaladas e depositadas sobre as vias aéreas, o aparelho mucociliar (BEHRMAN, 1994). O aparelho mucociliar representa o principal mecanismo de defesa dos pulmões frente aos agentes externos. Cada uma das células do aparelho mucociliar possuem cerca de 200 cílios, como resultado, existem cerca de 1 a 2 bilhões de cílios por centímetro quadrado de mucosa (RUPPEL, 2001). Através da ação coordenada do batimento dos cílios do epitélio de revestimento, partículas aderidas ao muco, produzidas pelas glândulas da lâmina própria e células mucosas de revestimento, são transportadas em direção a orofaringe, para posterior eliminação por meio da tosse e deglutição (SALDIVA, 1999). Os princípios de acoplamento funcional entre os cílios e o muco são apresentados na figura 7: Figura 7 – Relação entre Cílios e Muco do Tecido Respiratório Fonte: SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Bases anatômicas e funcionais do trato respiratório. In: ROZOV, Tatiana. Doenças pulmonares em pediatria diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu: 1999. p. 06 Durante a fase de batimento ativo, o topo dos cílios penetra na epífise de gel, enquanto o batimento de recuperação ocorre na fase de maior resistência, a hipofase sol. A fase de batimento ativo é cerca de duas vezes mais rápida do que a fase de recuperação, permitindo o deslocamento unidirecional do muco em direção a orofaringe (SALDIVA, 1999). A eficácia da ação ciliar depende da camada líquida sobre o epitélio mucoso. Material particulado é transportado numa cobertura de muco no alto dos cílios. Os cílios batem (RUPPEL, 2001). O esquema da figura anterior também permite avaliar a importância da preservação das duas camadas do revestimento fluido das vias aéreas (gel e sol), bem como do ajuste adequado da espessura dessas duas camadas. Situações onde ocorre uma hipersecreção de muco (bronquite crônica), ou diminuição da fase sol (mucoviscosidade), podem alterar o equilíbrio entre as camadas, com conseqüente prejuízo do transporte mucociliar (SALDIVA, 1999). A hidratação do fluido brônquico faz-se pela secreção de cloro para a luz, enquanto a reabsorção de fluido ocorre por meio de fluxo de sódio em direção a fase serosa. Este mecanismo de trocas iônicas é importante para a compreensão da mucoviscidose, onde existe o efeito genético do sistema acarretando canais de cloro não funcionantes e canais de sódio hiperativos. Estes defeitos resultam em um muco desidratado, espesso, e de difícil remoção. Outro fator determinante da eficiência do transporte mucociliar diz respeito aos cílios (SALDIVA, 1999). 2.7 Estrutura dos Espaços de Trocas Gasosas Existem poucos alvéolos nas crianças jovens e, portanto, menos área de superfície para troca gasosa (PARKER e PRASAD, 2002). O território de troca gasosa compreende uma vasta superfície de membranas, visando otimizar a interação entre o ar alveolar e a perfusão pulmonar. As estruturas básicas dos segmentos terminais do território de troca gasosa é apresentado na seguinte figura (figura 8), onde bronquíolos respiratórios desembocam em ducto alveolar onde abrem-se diversos alvéolos (SALDIVA, 1999). Figura 8 – Porções Distais do Parênquima Pulmonar Fonte: SALDIVA, Paulo Hilário Nascimento. Bases anatômicas e funcionais do trato respiratório. In: ROZOV, Tatiana. Doenças pulmonares em pediatria diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu: 1999. p. 07 A geração de alvéolos permite a notável amplificação a área de troca gasosa nos pulmões. O território alveolar encontra-se estruturalmente adaptado de forma a permitir uma adequada interação entre o ar alveolar e o conteúdo capilar (SALDIVA, 1999). À medida que o ar penetra nos alvéolos, o surfactante distribui-se rapidamente no espaço alveolar, formando uma camada limítrofe entre o líquido remanescente e o ar que acaba de entrar. O surfactante mantém a tensão de superfície baixa na luz dos alvéolos; sua presença permite que o ar permaneça o tempo todo no interior dos alvéolos, impedindo que eles entrem em colapso (SHEPHERD, 1996). A manutenção da estabilidade mecânica de um território tão extenso fica por conta do controle de forças de tensão superficial, dado pela síntese do surfactante alveolar pelos pneumócitos tipo II, bem como pelo arranjo particular das fibras da matriz extracelular dos alvéolos (interstício septal), que apresenta interconexões com as fibras provenientes da pleura (interstício periférico) e com as fibras associadas aos brônquios e vasos (interstício axial) (SALDIVA, 1999). 2.8 Desenvolvimento Pré-Natal: Morfogênese O desenvolvimento do pulmão pode ser dividido dentro de quatro estágios (PARKER e PRASAD, 2002). O primeiro, ou período embrionário, começa aproximadamente na 4ª semana de gestação quando as vias aéreas primitivas aparecem como um broto epitelial originário no intestino anterior. Com 24 dias forma-se o divertículo intestinal (SHEPHERD, 1996). Este broto dicotomiza-se e cresce rapidamente para dentro do mesênquima que separa o intestino da cavidade celômica. O mesênquima peribrônquico ou esplancnopleura desempenha um papel essencial na modelagem dos pulmões no período embrionário. Primeiro, os brotos das vias aéreas primitivas dividem-se e formam uma estrutura semelhante a uma árvore apenas se estiverem em contato íntimo com o mesênquima. Segundo a vasculatura pulmonar um derivado mesênquimal (BEHRMAN, 1994). Com 26-28 dias formam-se dois ramos primários: os dois brônquios principais (SHEPHERD, 1996). O intestino anterior e os brônquios são envoltos por um plexo vascular, que se origina da aorta e drena para as grandes veias somáticas. Embora depois se conecte a artéria e veias pulmonares para completar a circulação pulmonar, o plexo mesênquimal conserva algumas conexões aórticas que constituem as artérias brônquicas. Finalmente, todas as estruturas de sustentação dos pulmões originam-se da esplancnopleura. Tais estruturas incluem a pleura, a rede septal dos pulmões e o músculo liso, cartilagem e coberturas conjuntivas das vias aéreas (BEHRMAN, 1994). Por volta da 6ª semana de gestação, inicio do segundo período, ou período pseudoglandular, os pulmões assemelham-se a uma glândula exócrina com um estroma espesso atravessado por ductos estreitos revertidos em um epitélio alto. As vias aéreas principais já estão presentes e em estreita associação a artérias e veias pulmonares. Com 810 semanas começa-se o aparecimento das glândulas paratraquéias e também começam os depósitos de cartilagem (SHEPHERD, 1996). Figura 9 – Representação de Período Pseudoglandular Fonte: DINWIDDIE, Robert. O diagnóstico e o manejo da doença respiratória pediátrica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. p. 11-342. Durante as 12 semanas de gestação, ocorre a delimitação nítida dos lobos pulmonares, fibras elásticas nas paredes da traquéia e dos brônquios principais, presença de anéis cartilaginosos nos brônquios lobares e segmentares e a formação de mais glândulas produtoras de muco (SHEPHERD, 1996). Neste momento, a traquéia e o intestino diferenciam-se das células anteriores e estão separados após a fusão progressiva das cristas epiteliais que crescem a partir da artéria primitiva. A fusão incompleta dessas cristas resulta numa fistula traqueofágica, uma má formação relativamente comum após o recém-nascido. Durante o período pseudoglandular, as vias aéreas continuam a ramificar-se até o aparecimento dos bronquíolos terminais, enquanto as células epiteliais colunares altas das vias aéreas começam a diferenciar-se em células ciliadas, não ciliadas, globulares e basais. As glândulas mucosas, cartilagem e músculo liso são distinguíveis nas paredes das vias aéreas na 16ª semana de gestação (BEHRMAN, 1994); nesta semana a ramificação dos brônquios esta praticamente completada (SHEPHERD, 1996). Durante este período, a circulação pulmonar também se desenvolve, ocorre a formação linfática e cartilaginosa e aparecem os cílios (PARKER E PRASAD, 2002). O diafragma se forma durante este período a partir de dois componentes mesênquimais. Seu centro tendíneo origina-se do septo transverso, uma lâmina de tecido mesodérmico situada entre o pericárdio e o pedículo do saco vitelino. Suas partes laterais são formadas pelas pregas pleuroperitoneais, que crescem a partir da parede corporal até se fundir com o mesentério esofágico e o septo transverso. A conclusão dessa fusão fecha a comunicação entre o tórax e o abdome e impõe um limite ao crescimento caudal dos pulmões (BEHRMAN, 1994). Durante o terceiro período, ou período canalicular, entre 16 e 28 semanas de gestação, as vias aéreas completam suas estruturas acessórias (cartilagem, glândula e músculo). Entre 18 e 20 semanas os septos podem ser distinguidos, ocorre o aparecimento de cílios nas células da traquéia e dos brônquios principais, propagando-se em direção a periferia e ainda a canalização das vias aéreas (SHEPHERD, 1996). Figura 10 – Representação do Período Canalicular Fonte: DINWIDDIE, Robert. O diagnóstico e o manejo da doença respiratória pediátrica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. p. 11-342. Por volta de 24 semanas inicia-se o período do saco terminal (PARKER e PRASAD, 2002), onde os brônquios são como no recém nascido a termo, encerra-se a formação de cartilagem e começam a formar os alvéolos. O mesênquima torna-se delgado na vizinhança das vias aéreas terminais, que se alargam para formar os espaços aéreos virtuais. E por fim, entre as 26 e 28 semanas, há a proliferação da rede capilar junto aos bronquíolos em desenvolvimento, o pulmão é agora o órgão mais vascularizado do organismo, e neste estágio, a vida extra-uterina torna-se possível, no que diz respeito às trocas gasosas (SHEPHERD, 1996). As células que revestem esses espaços aéreos diferenciam-se em células cubóides produtoras de surfactante e células alveolares do tipo I, mais achatadas. As células do tipo I provavelmente originam as células do tipo II indiferenciadas. Enquanto estas transformações estão ocorrendo, a rede capilar mesênquimal torna-se mais densa e aproxima-se dos canalículos recém-formados (BEHRMAN, 1994). Na 28ª semana, quando os pulmões entram no período secular, as vias aéreas terminais continuam a alargar-se e formar os sacos terminais. Agora, os capilares estão mais próximos dos sacos e são separados destes apenas por uma fina membrana basal. Esta aproximadamente caracteriza a criação de uma barreira virtual de ar-sangue capaz de favorecer a troca de gases, mesmo na ausência de estrutura alveolar típica do pulmão maduro. À medida que interstício mesênquimal se adelgaça, as paredes saculares se aproximam, fazendo com que os septos que separam os sacos terminais contenham uma rede capilar dupla (BEHRMAN, 1994). Com 28-40 semanas aparecem os alvéolos terminais sob a forma de divertículos dos bronquíolos: seu número aumenta ate o término da gestação, formando as câmaras comuns que são os ductos alveolares (SHEPHERD, 1996). Já a presença do surfactante, estará presente em pequenas quantidades entre 23 e 24 semanas de gestação, a quantidade presente, gradualmente, aumentará até ocorrer um aumento repentino, aproximadamente na semana 30 (PARKER e PRASAD, 2002). As trocas gasosas processam-se através da placenta. A partir da ventilação dos pulmões, no momento do nascimento, o leito vascular da placenta passa a ser substituído por outro leito vascular. A respiração fetal depende do estado do feto, contrastando com a necessidade de esforço inspiratório continuo que existe após o nascimento. Na falta de ar, as futuras vias aéreas do feto contém um líquido aminiótico que o feto inspirou durante os movimentos respiratórios realizados in útero, em parte pelas secreções das glândulas submucosas e das células em cálice do epitélio respiratório. O feto realiza movimentos com a caixa torácica que lembram os movimentos respiratórios, mas não se tratam de uma medida destinada as trocas gasosas. Antes do nascimento, o diafragma é capaz de realizar contrações vigorosas em forma de soluços (SHEPHERD, 1996). Depois da 36ª semana, o inicio do período alveolar, cristas secundárias começam a aparecem nos sáculos terminais, dividindo-os em alvéolos típicos. Os capilares nas paredes dos alvéolos proliferam rapidamente e funde-se numa única rede capilar. Ao nascimento os pulmões humanos contem uma média de 50 milhões de alvéolos, um número pequeno em comparação aos 300 milhões de alvéolos encontrados nos pulmões de um adulto. O músculo liso das vias aéreas está presente e sensível a estímulos constritivos e dilatadores desde o nascimento na maioria das espécies de mamíferos, incluindo o homem (BEHRMAN, 1994). 2.9 Desenvolvimento Pós-Natal O desenvolvimento pulmonar durante os primeiros meses após o nascimento caracteriza-se por um aumento exponencial da superfície da barreira de ar-sangue. Esse aumento é realizado pela multiplicação dos alvéolos e capilares pulmonares, um processo que continuam em ritmo mais lento até 5-8 anos. Depois desta idade, os pulmões crescem apenas por expansão alveolar. As vias aéreas aumentam o diâmetro (particularmente na periferia dos pulmões) e comprimento, mas não há crescimento de novas gerações de alvéolos. Em contraste, o numero de artérias e veias continua a aumentar. As arteríolas acinares sofrem um processo prolongado de muscularização. Ao nascimento, as artérias musculares param nos bronquíolos terminais. Aos 3 anos de idade, o músculo liso vascular alcança os bronquíolos respiratórios (BEHRMAN, 1994). Depois do nascimento, o alvéolo aumenta em tamanho e número. O número médio de alvéolos no recém-nascido é de 150 milhões. Aproximadamente na idade de 3-4 anos, o número adulto de 300-400 milhões de alvéolos terá sido alcançado, mas o crescimento alveolar continua até aproximadamente os 8 anos de idade (PARKER e PRASAD, 2002). Nascimentos de termo ocorre o aparecimento de bronquíolos terminais, sacos terminais rasos e de boca larga, aumenta o fluxo sangüíneo dos pulmões em virtude da expansão mecânica dos pulmões, alongamento das vias aéreas, vai ocorrer a presença de 20 milhões de alvéolos, estes se dilatam e expandem com o início da respiração (SHEPHERD, 1996). O desenvolvimento pós-natal dos pulmões é regulado por múltiplos fatores. Esses fatores são mal compreendidos, mas provavelmente incluem a constituição genética, nível de atividade, ambiente, influencia hormonal e crescimento geométrico da parede torácica. Existe boa correlação entre o crescimento somático e o crescimento pulmonar; indivíduos mais altos possuem pulmões maiores. O exercício, o hormônio do crescimento e a hipoxia ambiental (por exemplo, viver em altitudes elevadas) aumentam o número e superfície de alvéolos. Por outro lado, na maioria das deformações congênitas ou adquiridas da parede torácica esta associada a algum grau de hipoplasia pulmonar, sugerindo que a configuração do tórax influencia o crescimento pulmonar pós-natal (BEHRMAN, 1994). Com alguns meses os sacos aéreos terminais assumem a forma de xícara e formamse novos alvéolos acima dos espaços aéreos terminais, graças às transformações dos bronquíolos pré-existentes (SHEPHERD, 1996). Até aproximadamente os 8 anos, os pulmões continuam crescendo, com o aumento do número de divisões de bronquíolos e alvéolos, do diâmetro alveolar e da superfície disponível para as trocas gasosas. Da primeira infância ate a vida adulta, o numero de alvéolos e bronquíolos aumentam em 10 vezes e a superfície alveolar aumenta em 20 vezes. E depois até os 40 anos os espaços aéreos terminais aumentam mais ainda e também ocorre o aumento do diâmetro da traquéia e bronquíolos (SHEPHERD, 1996). 2.10 Fisiologia Respiratória A função essencial dos pulmões é prover oxigênio e remover gás carbônico dos tecidos do corpo. Para que isto ocorra, dois processos inter-relacionados devem estar presentes: ventilação, movimento de ar do ambiente até os alvéolos e trocas gasosas, a transferência de O2 e CO2 entre o gás alveolar e o sangue da mistura venosa que entra e sai dos pulmões (ROMALDINI, 1999). Devido a estes fatos, então, os pulmões devem estar adequadamente ventilados. A ventilação é o processo de movimentação do ar para o interior e para fora dos pulmões. Ela é diferente da respiração, a qual envolve eventos químicos e fisiológicos complexos ao nível celular (RUPPEL,2001). O tórax precisa aumentar e diminuir de tamanho para que o ar seja inspirado para o interior dos pulmões e expirado em seguida. Esta modificação do volume da caixa torácica ocorre graças à contração e ao alongamento coordenados dos músculos adjacentes a ela (SHEPHERD, 1996). Este movimento somente é possível quando força suficiente é aplicada para superar as forças que a ela se opõe internamente ao sistema respiratório – retração elástica e resistência ao fluxo aéreo. A interação entre estas diversas forças chamase mecânica da ventilação (ROMALDINI, 1999). A parede torácica dos recém-nascidos é altamente complacente. Em virtude disto e do fato de que os neonatos despendem grande proporção do tempo em sono profundo, durante o qual os músculos intercostais são inibidos, há pouca sustentação da parede torácica para ação diafragmática. Por conseguinte, a cada incursão dos neonatos em decúbito dorsal (sobretudo no sono profundo), a parede torácica é puxada para dentro paradoxalmente enquanto o abdome se expande. Isto cria uma carga adicional sobre o sistema respiratório e resulta em maior trabalho da respiração por ventilação-minuto no recém nascido do que no adulto. Alguns acreditam que esta seja uma razão importante da suscetibilidade do recém-nascido à fadiga muscular e insuficiência respiratória (BEHRMAN, 1994). As diferenças anatômicas nas configurações da caixa torácica não permitem ao lactente aumentar o volume pulmonar na mesma extensão como no adulto. Portanto quando em dificuldades respiratórias, o lactente aumenta a sua freqüência respiratória, em vez de aprofunda-la para manter o volume-minuto (PARKER E PRASAD, 2002). Os músculos respiratórios são recrutados para realizar tarefas distintas em momentos diferentes. Por exemplo, o diafragma e alguns músculos abdominais são ativados não apenas durante a respiração corrente, mas também durante manobras expulsivas como a tosse e defecação. Tais ações e outras são recrutadas quando um indivíduo salta, para enrijecer o abdome e o tórax. Em outras condições, os músculos respiratórios são totalmente inibidos. Por exemplo, quando se faz um discurso, a responsividade ao CO2 reduz-se substancialmente porque os músculos da fonação são recrutados em detrimento dos outros músculos respiratórios. A alimentação com mamadeira ou a amamentação no lactente às vezes é acompanhada da redução da ventilação e queda da PO2 arterial, por causa da inibição parcial dos músculos respiratórios e dos esforços da respiração. Diante de vários sinais neurofisiológicos (que representam opções sobre diversas necessidades), o controlador central pode intensificar ou reduzir a resposta a certos estímulos. Portanto, existe uma hierarquia que é usada pelas redes do tronco encefálico para determinar a resposta do sistema respiratório em qualquer momento dado (BEHRMAN, 1994). 2.11 Regulação da Respiração Os pediatras precisam familiarizar-se com os princípios gerais da regulação da respiração por pelo menos três razoes: (1) as situações clínicas envolvendo um ou mais elementos do sistema de controle respiratório são muito prevalentes, sobretudo em pacientes criticamente enfermos (por ex., apnéia, obstrução das vias aéreas superiores, asma intensa, hipoventilação e insuficiência cardíaca ou hipoxemia por varias causas) (ROMALDINI, 1999); a transição da via fetal para a neonatal é um processo extremamente complexo durante o qual ocorrem alterações importantes em quase todos os aspectos do controle respiratório (SHEPHERD, 1996), provavelmente, a compreensão do controle neural da respiração aumentara sobremodo nas próximas 1-2 décadas graças aos avanços explosivos do conhecimento da função cerebral em geral (BEHRMAN, 1994). O acionamento dos órgãos efetores da respiração se faz por via nervosa. A via nervosa responde a estímulos corticais, físicos ou químicos. O estímulo é conduzido, por via aferente, a uma série de estruturas nervosas centrais, que podem ser reunidas sob o nome de centro respiratório. Este por via eferente reajusta os mecanismos respiratórios em busca da homeostasia. (RIGATO, 1993). Os elementos básicos do sistema de controle respiratório são: o controle central, os órgãos efetores e os sensorais. Funcionando da seguinte forma, onde os órgãos sensoriais, que são os quimiorreceptores, vão responder a uma alteração na composição química de sangue ou outro líquido que estão a sua volta, há quimiorreceptores nos pulmões, nos corpos carotídeos e também nas vias aéreas superiores. Assim que é coletada a informação através dos órgãos sensorais, estes vão alimentar o controle central, que se localiza no cérebro, ele é coordenado pela ponte, bulbo e outras partes do cérebro, como, por exemplo, o hipotálamo, é através do controle central e de seus grupos de neurônios que as informações transmitidas até ele serão coordenadas e a partir daí poderão ser transmitidos impulsos até os órgão efetores. Os órgão efetores são os músculos respiratórios que irão realizar a ventilação, o qual principal é o diafragma (WEST, 1990). Figura 11 – Elementos básicos do controle do sistema respiratório Fonte: WEST, John B. Fisiologia respiratória Moderna. São Paulo: Manole, 1990. 3ª ed. P. 01188. O objetivo final do sistema de feedback respiratório é manter a homeostase dos gases sangüíneos numa faixa normal da maneira mais econômica, do ponto de vista mecânico e de consumo de energia. Para realizar este objetivo, o sistema faz uso de um ramo aferente e de um eferente. O ramo aferente é constituído pelos tecidos (por ex., as vias aéreas), que possuem terminações receptoras e enviam informações ao controlador central sobre certos parâmetros funcionais, como o grau de estiramento das vias aéreas. Os corpos carotídeos, que informam o controlador central sobre o estado do O2, representam outra parte importante do sistema aferente. Os sensores das vias aéreas e corpos carotídeos têm um meio de comparar os sinais a fim de detectar diferenças e enviar esta informação ao sistema nervoso central. A alça eferente é a parte do sistema de feedback responsável pela execução da decisão tomada centralmente (isto é, os músculos respiratórios e sua inervação). Existem muitos músculos da respiração, os intercostais e o diafragma são apenas dois deles. A atividade e sincronização dos músculos das vias aéreas, como será visto depois, são cruciais à determinação da resistência dessas vias e, por conseguinte, da magnitude da ventilação (BEHRMAN, 1994). 2.12 Retração Elástica dos Pulmões e da Parede Torácica Quando retirados da caixa torácica, os pulmões deflacionam abaixo do seu volume de repouso do tórax e, durante a insuflação, a pressão necessária para mantê-los inflados em qualquer volume aumenta progressivamente. Estas propriedades são chamadas de retração elástica. A retração elástica dos pulmões tem dois componentes principais: um componente previamente das propriedades elásticas do parênquima pulmonar (forças teciduais) e outra proveniente da tensão superficial na interface gás-líquido (força de superfície) (ROMALDINI, 1999). Para que o pulmão se distenda, para que ocorra a insuflação pulmonar, requer seja superada várias forças de oposição. A expiração normal é passiva, utilizando a energia armazenada durante a inspiração. As forças de oposição à insuflação pulmonar podem ser agrupadas numa das duas categorias a seguir: fibras elásticas e forças de atrito. As forças elásticas envolvem os tecidos pulmonares e torácicos, junto com a tensão superficial nos alvéolos. As forças de atrito incluem a resistência provocada pelo fluxo gasoso e pelo movimento tecidual durante a respiração (RUPPEL,2001). Está provado atualmente que os músculos intercostais movimentam a caixa torácica. Acredita-se geralmente que os músculos intercostais externos e a porção intercondral dos músculos intercostais internos (músculos paraesternais) promovem a inspiração levantando às costelas, enquanto a porção interóssea dos músculos intercostais internos tem função expiratória e abaixa as costelas. A compressão dos músculos intercostais externos abaixa as primeiras costelas e levanta as últimas, contribuindo desta forma para a expansão dos pulmões durante a inspiração. A tração para baixo que eles exercem sobre o terço superior do tórax é compensada pela contração dos músculos escalenos. Durante a inspiração forçada, como, por exemplo, durante os esforços, os músculos esternocleidomastóideo e escaleno se contraem, elevando o esterno e as costelas. Durante a inspiração, a descida do diafragma exerce tração para baixo sobre os pulmões, enquanto os músculos elevador das costelas e suprahiódeo fixam a traquéia e a laringe (SHEPHERD, 1996). 2.13 Diferenças de Pressão Durante a Respiração A parede torácica e os pulmões estão associados em série pelas forças dentro do espaço pleural. As forças que tendem a colabar os pulmões são opostas pelas forças que tendem a expandir a caixa torácica até o nível de repouso do sistema respiratório, quando as forças de retração elástica dos pulmões e de expansão da caixa torácica são de igual valor, porém em sentidos opostos, anulando-se, portanto, mantendo uma situação de equilíbrio estático (ROMALDINI, 1999). A ventilação ocorre em resposta aos gradientes de pressão criados pela expansão e contração da caixa torácica. A figura abaixo mostra as pressões e gradientes fundamentais envolvidos na ventilação. Essas pressões usualmente são mensuradas em centímetros de água (cm H2O). As pressões respiratórias freqüentemente são expressas em relação à pressão atmosférica (RUPPEL,2001). Assim durante a inspiração a pressão intrapleural é negativa e se torna menos negativa durante a expiração. Há variações regionais de acordo com a ação da gravidade. A pressão alveolar é negativa na inspiração e positiva na expiração, proporcionando a entrada e saída de ar dos pulmões (WEST, 1990). Figura 12 – Pressões, volumes e fluxos envolvidos na ventilação Fonte: RUPPEL, Gregg. Ventilação. In: EGAN, Donald F. Fundamentos da terapia respiratória de Egan. São Paulo: Manole, 2001. 7ª ed. p. 205-225. As diferenças anatômicas na configuração da caixa torácica não permitem ao lactente aumentar o volume pulmonar na mesma extensão como no adulto. Portanto, quando em dificuldades respiratórias, o lactente aumenta a freqüência respiratória, em vez de aprofundá-la para manter o volume-minuto (PARKER E PRASAD, 2002). 2.14 Complacência e Elastância A complacência mensura a distensibilidade, enquanto que a elastância é a propriedade de resistência à deformação (RUPPEL,2001). A complacência (C) é determinada por uma variação de pressão de retração elástica (∆P) produzida por esta variação de volume (∆V), em condições essencialmente elásticas de medidas. Já a elastância (E) é definida como a variação de volume associada à determinada variação de pressão da distensão das vias aéreas, portanto é inverso da complacência (ROMALDINI, 1999). 2.15 Resistência ao Fluxo Aéreo O movimento gasoso através das vias aéreas também causa resistência por atrito. A impedância à ventilação pelo movimento gasoso através das vias aéreas é denominada resistência das vias aéreas. A resistência das vias aéreas é responsável por aproximadamente 80% da resistência por atrito da ventilação (RUPPEL,2001). A contribuição relativa dos diversos componentes do sistema respiratório não é a mesma para a resistência total do sistema. Durante a respiração estável pela boca, a resistência das vias aéreas (Rwa) representa aproximadamente 65 por cento do total (Rsr). À medida que o fluxo aéreo aumenta, a contribuição da resistência das vias aéreas também aumenta para compor a resistência total do sistema respiratório. A relação fluxo-gradiente pressórico nas vias aéreas não é linear do fluxo-resistência das vias aéreas, resulta de variações dos padrões dos fluxos aéreos. À medida que os fluxos aumentam, aumenta progressivamente a turbulência nas vias aéreas, e quanto mais turbulento o fluxo, tanto maior as pressões necessárias para superar as forças viscosas e de atrito das vias aéreas. Em conseqüência da geometria tortuosa das vias aéreas superiores (extratorácicas) e da glote ser bastante estreita, a turbulência nestes locais ocorre em fluxos aéreos mais lentos do que nas vias aéreas mais periféricas (intratorácicas). Desta maneira as vias aéreas altas são as maiores responsáveis pelo aumento das resistências das vias aéreas com o aumento do fluxo aéreo. Durante respiração tranqüila, com a boca aberta, a resistência total é dividida quase eqüitativamente entre as vias aéreas altas e baixas. À medida que aumenta o fluxo aéreo, a razão das resistências entre as vias aéreas altas e baixas aumenta progressivamente (SALDIVA, 1999). 2.16 Eficácia e Efetividade da Ventilação Uma vez que a função dos pulmões é a de trocas gasosas, torna-se desnecessário salientar a importância das relações entre ventilação e fluxo sanguíneo tanto nos pulmões normais quanto em condições patológicas. Mas ainda deve-se salientar que a causa mais comum de alterações de trocas gasosas é a desigualdade na relação entre ventilação e perfusão. Apesar disto, informações sobre as relações entre ventilação e perfusão são relativamente difíceis de se obter. As razões para este fato são de variada natureza: a maioria das medidas de trocas gasosas necessita de punção arterial e, embora este não seja um processo difícil, somente é efetivado quando existe indicação evidente. Da mesma maneira dados topográficos requerem uso de gases radioativos e equipamentos extremamente caros, e informações sobre distribuição de razões ventilação-perfusão só podem ser mais bem obtidas por técnicas relativamente complicadas envolvendo infusão de gases inertes. Outro aspecto a ser salientado é que as informações sobre pulmões normais e com alterações mínimas são difíceis de serem obtidas em grandes populações devido a invasividade dos métodos usados para estudar trocas gasosas e relações entre ventilaçãoperfusão. Apesar disto há algumas informações na literatura sobre populações limitadas de voluntários normais estudas através destas metodologias mais sofisticadas (ROMALDINI, 1999). Mesmo nos pulmões saudáveis, a ventilação não é totalmente eficaz. Um volume substancial do gás inspirado é desperdiçado em cada respiração. Os gases devem se mover para dentro e para fora através das vias aéreas que conduzem à área de intercâmbio. Esse volume não participa do intercâmbio gasoso. Para cada inspiração, o gás que permanece nos tubos de condução é desperdiçado. Similarmente, as diferenças regionais ou locais na ventilação fazem uma porção do gás que atinge os alvéolos ser desperdiçada. Isso ocorre nos alvéolos com pouca ou nenhuma perfusão (RUPPEL,2001). Para que a eficácia da ventilação ocorra são necessários os seguintes fatores: a) PO2 arterial: útil na quantidade de desigualdade entre ventilação e perfusão em pulmões doentes. Suas vantagens são simplificadas e facilitadas para medir (ROMALDINI, 1999). PCO2 arterial: como parâmetro para avaliar desigualdade entre ventilação e perfusão é de pouquíssimo valor, pois é altamente sensível a variações de ventilação (ROMALDINI, 1999). b) Ventilação minuto: é o volume total que se move para dentro e para fora dos pulmões por minuto (RUPPEL,2001). c) Ventilação alveolar: a eficácia da ventilação depende do volume de gás fresco que chega aos alvéolos (RUPPEL,2001). d) Espaço morto fisiológico: mede a ventilação que vai para as unidades pulmonares com razões ventilação-perfusão anormalemnte elevadas e infinitas. Ele compreende o espaço morto anatômico e o alveolar (ROMALDINI, 1999). e) Shunt: engloba a porcentagem de sangue que passa por áreas de pulmão não ventiladas. Em condições normais deve exceder 5% do débito cardíaco (ROMALDINI, 1999). Figura 13 – Tipos de espaço morto Fonte: RUPPEL, Gregg. Ventilação. In: EGAN, Donald F. Fundamentos da terapia respiratória de Egan. São Paulo: Manole, 2001. 7ª ed. p. 205-225. A ventilação pode ser menos eficiente durante os primeiros dias de vida, pois há uma diferença entre a mecânica respiratória do lactente comparado ao adulto. O alinhamento relativamente horizontal da caixa torácica, a forma arredonda do tórax, a natureza cartilaginosa do esqueleto torácico e o ângulo horizontal de inserção do diafragma deixam poucas vantagens mecânicas aos músculos intercostais e auxiliares. A contração dos músculos acessórios da respiração surte pouco efeito, visto que o esqueleto torácico é rico em cartilagem flexível e apresenta pouca firmeza. Daí a tendência do tórax à retração em cada inspiração, particularmente durante o sono. Portanto qualquer fator que impede os movimentos do diafragma deve provocar insuficiência respiratória. Essa tendência é muito maior no prematuro, podendo prejudicar seriamente a sua ventilação (SHEPHERD, 1996). 2.17 Doenças Respiratórias na Infância A doença respiratória na infância é muito comum. Muitas das enfermidades são brandas; somente uma pequena proporção e mais seria, envolvendo o trato respiratório inferior. As mais altas morbidades e mortalidades das doenças do trato respiratórias inferior ocorrem no primeiro ano de vida (PARKER E PRASAD, 2002). Elas são responsáveis pelo grande sofrimento humano e por consideráveis prejuízos econômicos. As viroses representam a imensa maioria destas situações, sendo geralmente autolimitadase, portanto, de bom prognostico. As infecções bacterianas, embora menos freqüentes, costumam ser mais graves e predominam entre os casos que exigem atendimento hospitalar (SILVA et al., 1991). As anomalias da função respiratória são devidas a varias causas: a infecção (bronquiolite, pneumonia estafilocócica e estreptocócica); as malformações congênitas (fistula traqueofágica, cardiopatia congênita) e doenças de origem genética como, por exemplo, a doença fibrocística. Os recém-nascidos prematuros podem vir a apresentar a síndrome da insuficiência respiratória e outras afecções do aparelho respiratório, devidas à imaturidade deste último, e também do aparelho circulatório (SHEPHERD, 1996). A magnitude dos processos infecciosos respiratórios pode ser dimensionada através do desdobramento de alguns de seus tópicos, conferindo maior ênfase às infecções respiratórias agudas (IRA), englobando as pneumonias comunitárias, seguidas das determinadas por agentes incomuns, prosseguindo com as pneumonias nasocomiais, e aquelas dos imunossuprimidos, entre as quais esta um tipo especial de imunodeficiência representada pela síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA/AIDS), que recebe atenção destacada (GONÇALVES et al., 2000). O início das manifestações clínicas das deficiências predominantemente humorais tende a ocorrer por volta dos seis meses de idade devido a queda de anticorpos maternos e à produção de imunoglobulinas ainda de forma inadequada, período conhecido como hipogameglobulinemia fisiológica do lactente (SAMPAIO4 apud CARVALHO et al. 2002). A imaturidade da resposta inata neonatal é parcialmente compensada pela transferência transplacentária de imunoglobulina G da mãe, pois anticorpos específicos adquiridos da mãe podem promover opsonização e fagocitoses mais eficientes. Por outro lado ausência de anticorpos tipo específicos-adquiridos da mãe pode ser um fator predisponente à infecção por alguns agentes, independentemente da produção de anticorpos contra este agente pelo recém-nascido (CHRISTENSEN5 apud PINHATA e NASCIMENTO, 2001). Isso propicia o surgimento de doenças respiratórias com maior facilidade. E ainda a incidência de broncopneumonia pode ocorrer em pacientes com alguma patologia neurológica, levando a acreditar que pode ser devido à utilização de medicação, como os antiepiléticos, em que ocorre uma diminuição da imunidade e da atividade ciliar. (BEHRMAN, 2002). Para este estudo será analisada a grande incidência de broncopneumonias ou pneumonias que se manifestam durante a infância. Quando ela e associada a outro tipo de 4 SAMPAIO, C. Primary immunodeficiencies in Latin America. ACI Internacional, 1999.p. 61-157 apud CARVALHO, B. T. C. et al. Pneumonias de repetição em pacientes com deficiência de anticorpos e imunoglobulinas normais. Jornal de Pneumologia-mai-jun, 2002. p. 155-158. 5 CHRISTENSEN, K. Immunological characterization of mothers of infants with neonatal GBS infectyions: definition of risk group. Antibiot chemother, 1985.p.35-190 apud PINHATA, M. M. e NASCIMENTO, S. D.Infecções hospitalares. Jornal de Pneumologia, Rio de Janeiro, 2001, vol 77, supl. 1. p. S81-S96. patologia e porque seu grande índice de ocorrência. Antes disso deve ter conhecimento de como este tipo de patologia se manifesta, seu quadro clínico e uma boa forma de ser avaliada. Na análise da distribuição das distintas categorias clinicas das doenças respiratórias agudas, verifica-se que a pneumonia e, como grande primazia, a causa mais importante de morte (GONÇALVES et al., 2000). 2.18 Pneumonia A pneumonia é um processo infeccioso que acomete as vias aéreas inferiores, atingindo brônquios, bronquíolos, alvéolos e interstício pulmonar, com evolução dependente do agente agressor, idade do paciente, estado nutricional e respostas imunológicas. Pode ser uma infecção comunitária, não institucional ou não hospitalar, quando constatada ou em incubação não hospitalar e não relacionada à internação anterior, ou decorrer da infecção hospitalar, institucional ou nasocomial quando relacionada a internação (CARVALHO et al., 1996). Houve época em que o termo pneumonia significava, quase sempre, processo inflamatório agudo de um lobo pulmonar, provocado pelo pneumococo – pneumonia lobar. Posteriormente, a conceituação clínica da doença sofreu uma inevitável simplificação, passando o termo a traduzir a inflamação aguda, de qualquer natureza, localizada no parênquima pulmonar (GONÇALVES et al., 2000). Considerando que a pneumonia é um processo inflamatório predominante ou exclusivo do parênquima pulmonar, pode-se, num sentido amplo, incluir os mais variados fatores causais, como se exemplifica a seguir: a) físicos: radiações, calor e traumatismo; b) químicos: gases, poeiras, óleos e ácidos; c) biológicos: bactérias, vírus, micoplasma, rickétsias, fungos, protozoários e larvas de vermes com ciclo pulmonar; d) imunológicos: lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatóide (SILVA et al., 1991). 2.18.1 Classificação Os critérios invocados com essa finalidade são tão variáveis quanto numerosos. Assim, caso adotássemos o critério idade, teríamos pneumonias que têm preferência por crianças e outras por idosos; hábitos de vida, dos fumantes, grandes alcoólatras e abstêmios; quanto à habitação, urbanas e rurais; as que atingem pulmões sadios ou previamente comprometidos, primárias ou secundárias; sede, alveolar, intersticial ou mista; critério anatomoradiológico, subsegmentares, segmentares ou lobar; em relação à patogenia: inalatória, aspirativa ou hematogênica; e por último a classificação, que seria a ideal, baseada no critério etiológico, na maioria das vezes impossível de ser adotada na prática. Numa tentativa de atingir esse objetivo, convém classifica-las de acordo com seus agentes, ou seja, pneumonias causadas por: bactérias Gram-positivas; bacilos Gramnegativos aeróbios, anaeróbios; vírus; micoplasma; parasito e outros (GONÇALVES et al., 2000). 2.18.2 Anatomia patológica Observa-se um processo inflamatório de brônquios, bronquíolos e paredes alveolares, o qual leva ao aumento da produção de muco e à formação de exsudato. A obstrução, quando acentuada, acompanha-se de atelectasia. A pneumonia por aspiração localiza-se de preferência nos segmentos posteriores dos pulmões; no lactente, sua localização mais freqüente é no lobo superior direito, em virtude das condições anatômicas da árvore brônquica e da postura habitual em decúbito horizontal. A pneumonia devida à inalação de vírus ou bactérias apresenta geralmente distribuição difusa (SHEPHERD, 1996). 2.18.3 Quadro clínico A pneumonia é, tipicamente, um quadro de apresentação aguda. Geralmente o paciente procura a assistência médica num tempo entre 2 e 6 dias a partir do início dos sintomas. Esses sintomas se caracterizam pela presença de: a) tosse: é uma ação reflexa de defesa do organismo, por meio da qual é possível expulsar as secreções acumuladas e substâncias estranhas da árvore brônquica (COSTA, 1999). Pode ser produtiva ou não produtiva ou, eventualmente, eficaz ou ineficaz: na fase inicial a expectoração é em pequena quantidade e pode ter aspecto mucóide, evoluindo, freqüentemente, para o aspecto purulento. Pode haver hemoptise, geralmente de pequeno volume e associada à purulência do escarro; (NUNES et al., 2001). b) dor torácica pleurítica: é localizada e piora com a tosse e inspiração profunda. Embora sendo bastante comum, pode estar ausente em um número significativo dos casos; c) dispnéia: geralmente ausente nos quadros leves. Quando presente, caracteriza sempre um quadro grave; d) febre: está presente na quase totalidade dos casos, a exceção de idosos debilitados e pacientes imunossuprimidos. Sua ocorrência ajuda no diagnóstico diferencial de sinusites e bronquites agudas, onde está geralmente ausente. Outros sintomas gerais como mialgia generalizada, suores, calafrios, dor de garganta e anorexia são observados com freqüência variável. Dor abdominal pode ser observada em torno de 20% dos casos.É importante frisar que, em alguns pacientes, a única manifestação da pneumonia pode ser um quadro febril sem sintomas respiratórios, fazendo com que sempre complementemos o estudo de um paciente com febre sem foco definido com estudo radiográfico do tórax. 2.18.4 Patogênese Segundo SILVA et al. (1991) a pneumonia pode ter os principais tipos de manifestações: 2.18.4.1 Pneumonia pneumocócica É o tipo mais comum de pneumonia adquirida na comunidade (é um dos principais agentes etiológicos da pneumonia na criança, principalmente nos maiores de um ano). O agente etiológico é o Streptococus pneumonial e seu quadro clínico apresenta início agudo, com febre alta, calafrios, dor torácica, ventilatório dependente e expectoração mucopurulenta e/ou hemática. 2.18.4.2 Pneumonia por hemófilo É o maior causador de pneumonia em adultos. Seu agente etiológico é o Haemophilus inflenzae e o seu quadro clínica apresenta início agudo, febre alta, dor e é ventilatório dependente. Neste caso pode haver envolvimento multilobular de derrame pleural. 2.18.4.3 Pneumonia por micoplasmose Mycoplasma pneumonial, causa infecções respiratórias em crianças e adultos jovens. As infecções ocorrem através da via respiratória por propagação de gotículas grandes. O período de incubação é de 1 a 3 semanas. É encontrada principalmente em locais onde o contato próximo entre as pessoas é mais freqüente. Ex: escolas, quartéis, asilos. Seu quadro clínico apresenta início insidioso, com sinais e sintomas de infecção das vias aéreas superiores precedendo os do trato respiratório inferior, tosse intensa com expectoração escassa, febre baixa e prolongada, dor torácica de intensidade fraca e não é ventilatório dependente. Este tipo de agente etiológico, também, pode ser causador da broncopneumonia intersticial. De acordo com POWELL (2002), a incidência máxima ocorre em crianças escolares. O Mycoplasma pneumonial, responde por 33% das pneumonias em crianças entre 5 a 9 anos. A broncopneumonia é a síndrome clínica mais comum após infecções pelo Mycoplasma pneumonial. As células do epitélio respiratório ciliado são as células alvo da infecção e dificilmente invade além da membrana basal. 2.18.4.4 Pneumonia tuberculosa Seu agente etiológico é M. tuberculosis e seu quadro clínico apresenta uma fase predômica com astenia, emagrecimento, sudorese noturna e febrícula. Seque-se de tosse intensa com expectoração purulenta, às vezes hemática e quadro de pneumonia insidiosa até semelhante à pneumocócica. 2.18.4.5 Pneumonia por anaeróbios O agente etiológico é devido à flora mista e seu quadro clínico apresenta período de inconsciência por intoxicação alcoólica, anestesia, crise convulsiva e outros fatores. O início é insidioso ou com manifestações pneumônicas completas, o escarro é abundante e fétido. 2.18.4.6. Pneumonia estafilocócica Agente etiológico causador é o Staphylococus aureus e seu quadro clínico apresenta comprometimento, geralmente, grave, com manifestações respiratórias e torácicas. Pode ocorrer pneumatoceles e derrame pleural. 2.18.4.7 Pneumonia por legionelose O agente etiológico causador é Legionella pneumophilia e o seu quadro clínico apresenta-se muito parecido com uma gripe. Tosse seca, febre alta, calafrios, prostração, mialgias, envolvimento do SNC, fígado, rins e aparelho digestivo. Pneumonia por Klesbiella: agente etiológico causador é a Klesbiella pneumonial e o quadro clínico apresenta-se usualmente a uma pneumonia comum, leve e moderada, mas a doença grave pode ocorrer em idosos, portadores de doenças crônicas. Pode haver faringite e sinusite. 2.18.4.8 Pneumonia por pneumocistis carinni Cerca de 2/3 dos aidéticos apresentam uma ou mais episódios desse tipo de pneumonia, que constitui na infecção oportunista mais freqüente nesta grave imunodeficência. Sabe-se que nas pneumonias a definição do agente etiológico é difícil e, mesmo quando são empregadas todas as técnicas disponíveis, a definição etiológica só é feita em 30 a 40% dos casos pesquisados (LONGWORTH, 2001). 2.18.5 Complicações Segundo SANT’ANNA et al. (2002), as principais complicações freqüentes na pneumonia são as seguintes: a) comprometimento da pleura: pneumotórax, empiema ou piopneumotórax, é comum e pode ser um componente do quadro clínico da pneumonia bacteriana; b) dispnéia súbita: geralmente está relacionada com o pneumotórax; c) derrames discretos: ocorre reação pleural devido a presença de líquido claro e asséptico, pode ser verificado na pneumonia pneumocócica; d) pneumatoceles: vêem-se na pneumonia estafilocócica e na pneumocócica. 2.19 Broncopneumonia A broncopneumonia é a síndrome clínica mais comum após infecçõess pelo Mycoplasma pneumonial. É a expressão usada para definir aquelas imagens radiológicas múltiplas uni ou bilaterais, de padrão alveolar, aspecto infiltrativo, limites mal definidos, irregulares, intercaladas por zonas de parênquima são. Nestes casos, pressupõe-se nítida participação bronquíolo-alveolar (GONÇALVES et al., 2000). Na broncopneumonia a infecção tem início nas vias aéreas condutivas e, através da parede lesada de bronquíolos, há propagação aos alvéolos peribronquiolares e aos ácinos adjacentes. A disseminação ocorre, fundamentalmente, por via canalicular (SILVA et al., 1991). A doença caracteriza-se por um início gradual de cefaléia, mal-estar, febre, rinorréia, dor de garganta e tosse. A tosse costuma piorar nas primeiras duas semanas. Inicialmente a tosse não é produtiva. Um sinal importante é a presença de estertores e com a progressão da doença, a febre intensifica-se, a tosse piora e o paciente pode ter dispnéia. O envolvimento mais comum é em lobos inferiores (POWELL, 2002). 2.19.1 Diagnóstico da broncopneumonia Em relação ao diagnóstico, nenhuma observação clínica e laboratorial isoladas permite diagnóstico no início da infecção. Mas há observações úteis e sugestivas, como a pneumonia em crianças de nível escolar sendo que a tosse foi um achado proeminente, as culturas de escarro podem demonstrar o Mycoplasma pneumonial, após a primeira semana do início da infecção. Mas para que o diagnóstico seja confirmado é necessário em exame radiológico para detalhar, se há ocorrência ou não da patologia. Os métodos modernos de obtenção de imagens do sistema respiratório estão entre as técnicas mais valiosas de que se dispõe para elucidar a patologia complexa que, freqüentemente, o afeta. Este procedimento, especialmente aqueles que envolvem a exposição à radiação, só devem ser usados após uma consideração cuidadosa dos testes mais apropriados, em cada caso individual. O imageamento do sistema respiratório é usado com vários propósitos da severidade da doença e o seguimento da história natural de condições específicas durante certo período de tempo (DINWIDDIE, 1992). O aspecto radiológico da broncopneumonia é multiforme. As lesões não respeitam segmentação pulmonar, podem ser únicas ou múltiplas, dispersas ou confluentes, de limites irregulares, uni ou bilaterais. A trama vasobrônquica é aumentada (ALCÂNTARA e ROZOV, 1978). Figura 14 – Aspecto Radiológico da Broncopneumonia Fonte: ALCÂNTARA, Pedro e ROZOV, Tatiana. Infecções das vias aéreas superiores. In: ALCANTARA, Pedro e MARCONDE, Eduardo. Pediatria básica. São Paulo: Sarvier, 1978. 6ª ed. p. 1649-1730. 2.19.2 Fatores de risco Os principais fatores de risco para adquiri uma pneumonia, incluem baixo peso ao nascer (inferior a 2500 g), desnutrição, desmame precoce, deficiência de vitamina A, fatores ambientais (poluição atmosférica, fumo, aglomeração), fatores sócio-econômicos, faixa etária (predomina em menores em menores de um ano), vacinação deficiente e estado imunológico (HOFFMANN e SCATTOLIN, 2001). 2.20 Tratamento 2.20.1 Uso de corticoesteróides São os tipos de drogas mais importantes disponíveis para o tratamento de inúmeras infecções pulmonares. São absorvidos através do pulmão e entram na circulação sistêmica, acarretando efeitos extra-pulmonares. Devido a isso, seu uso é limitado em crianças. Os efeitos indesejáveis são doses-dependentes, com mínima ou nenhuma relevância clínica sistêmica (MIORIM e PALOMBINI, 2001). Os corticoesteróides são hormônios endógenos produzidos pelo córtex adrenal, os quais regulam as funções metabólicas básicas, assim como produzem um efeito antiinflamatório (RAU, 2001). Os principais efeitos sistêmicos indesejável, causados pelo uso de corticoesteróides em crianças, são o déficit de crescimento, podendo reduzir o crescimento das pernas nas crianças. Isso acontece porque este tipo de droga tem rápida absorção pela mucosa gastrointestinal, sofrendo metabolismo primeiramente hepático (MIORIM e PALOMBINI, 2001), mas ainda existem estudos que denotam certa controvérsia. Os principais medicamentos utilizados são eritromicina, claritromicina, ajitromicina e tetraciclinas. O prognóstico é bom, as infecções fatais são raras (BEHRMAN, 2002). 2.20.2 Fisioterapia Muitas técnicas fisioterapêuticas utilizadas em adultos podem ser aplicadas em crianças e as mesmas contra-indicações se aplicam (PARKER E PRASAD, 2002). Um dos princípios básicos da fisioterapia respiratória é a facilitação do clearance mucociliar e as manobras de desobstrução brônquica fazem parte de uma série de procedimentos que visam a esse objetivo (MACHADO, 2002). A mucosa respiratória normal produz uma camada de secreção que recobre e continuamente se move da atividade ciliar até a faringe, onde é deglutida sem que o indivíduo perceba. Quando a quantidade de secreção aumenta, como em pacientes com doença pulmonar caracterizada por hipersecreção do muco, a tosse torna-se um mecanismo adicional para o clearence mucociliar. O principal objetivo da terapia de higiene brônquica é auxiliar na mobilização e secreções retidas, com o propósito final de melhorar o intercâmbio gasoso e reduzir o trabalho respiratório (SCANLAN e MYSLINSKI, 2001). Normalmente a expectoração é contaminada com células da orofaringe, bactérias, alimentos e saliva. Se a carga de muco torna-se muito grande para esses dois mecanismos, sobretudo nas vias aéreas de pequeno calibre onde a tosse é menos efetiva, o resultado é o acúmulo de secreções (MACHADO, 2002). O tratamento deverá ser realizado antes da alimentação ou, pelo menos, uma hora após a alimentação para evitar o risco potencial de aspiração do conteúdo estomacal(PARKER E PRASAD, 2002). Existem várias modalidades de manobras de desobstrução brônquica, mas o que difere entre elas é a maneira mais ou menos vigorosas em escutá-las ou simplesmente pequenas variações da mesma técnica (MACHADO, 2002). 2.20.2.1 Percussão Produz uma onda de energia que é transmitida pelas vias aéreas, e acredita-se que com isso as secreções sejam deslocadas das paredes brônquicas e mobilizadas das regiões periféricas para as áreas centrais, onde serão expelidas ou aspiradas (MACHADO, 2002). 2.20.2.2 Vibração Constitui uma pressão intermitente que se executa sobre a parede do tórax durante a expiração, mediante a contrações isométricas repetidas do ombro e membro superior (MACHADO, 2002). 2.20.2.3 Vibro-compressão Além da vibração é associada e compressão torácica, é realizada na direção e no sentido oposto ao movimento de expansão da caixa torácica, para que os músculos sejam alongados e promova maior ventilação na inspiração subseqüente (MACHADO, 2002). 2.20.2.4 Drenagem postural É o auxílio e emprego da força de gravidade na desobstrução brônquica, é um dos recursos usados no tratamento das doenças pulmonares crônicas, com obstrução brônquica e secreção abundante (CARVALHO, 2001). Figura 15 – Posições para Realizar a Drenagem Postural Fonte: MALINOWISKI, Cynthia e WILSON, Barbara. Terapia respiratória neonatal e pediátrica. In: EGAN, Donald F. Fundamentos da terapia respiratória de Egan. São Paulo: Manole, 2001. 7ª ed. p. 1029-1083. 2.20.2.5 Exercícios respiratórios Sorrir e chorar são modos muito efetivos de expansão pulmonar. Os espirômitros de incentivo podem ser úteis em pré e pós-operatórios (quando a mobilização precoce não for possível) ou quando ensinar a técnica de inaladores. O “huffing” também pode ser introduzido quando a criança estiver com mais idade (PARKER e PRASAD, 2002). Ele é uma forma de estimular a tosse, onde o paciente é incentivado e ensinado a fazer uma expiração forçada soltando todo o ar, solicitando muito a função dos pulmões. 2.20.2.6 Benefícios da fisioterapia Todas as técnicas e manobras fisioterapêuticas, bem como os recursos que podem ser utilizados, devem ter associação umas com as outras, para que os resultados possam ser maiores e melhores. As técnicas e recursos, se usadas isoladamente, não trazem tanto benefício quando associadas umas entre as outras. As manobras geralmente são associadas também a respiração diafragmática e à expiração com resistência que resultam em aumento do volume corrente, redução da freqüência respiratória e conseqüente redução do trabalho respiratório (MACHADO, 2002). Em caso de aparecimento de crepitações devido à retenção de secreção, o paciente pode beneficiar-se do uso da percussão. Já pacientes em que perderam a retração elástica, esses pacientes beneficiarão de manobras que aumentam a ventilação pulmonar, como ocorre na vibração associada à compressão torácica (MACHADO, 2002). O uso da fisioterapia respiratória nos diversos problemas respiratórios que cursam com hipersecreçãso brônquica e/ou retenção de secreção visa principalmente melhorar o clearance mucociliar, aumentar a quantidade de secreção expectorada, prevenir infecção no trato respiratório e melhorar a função pulmonar (MACHADO, 2002). Verificou-se que a fisioterapia adequada leva ao aumento do PO2 do sangue arterial e que esse aumento tende a se manter (SHEPHERD, 1996). 3 METODOLOGIA Foi realizado um estudo prospectivo que verificou a prevalência da broncopneumonia no setor de pediatria, com faixa etária de 0 a 12 anos de idade, do Hospital Universitário de Cascavel. O hospital presta atendimento médico, fisioterapêutico, enfermagem, assistência social, psicológica e nutricional, entre outras, ele acolhe não só a cidade de Cascavel, mas também toda a região oeste. Ele ainda compreende os seguintes setores de atendimento hospitalar: clínica médica, neurologia, ortopedia, maternidade, oncologia, UTI adulto e neonatal. Os dados comparativos presentes nesse trabalho foram retirados do Projeto de Extensão em Fisioterapia Preventiva no Hospital Universitário do Oeste do Paraná, sob a supervisão da docente do curso, Carla Adriane Pires Ragasson como a colaboração dos discentes do terceeiro e quarto anos. Este projeto de extensão iniciou-se em junho de 2000, com previsão de durar dois anos, perpetuando até dezembro de 2002, pelo fato de ter ocorrido a greve na Universidade em questão. Durante este período de realização do projeto os acadêmicos que faziam parte do mesmo avaliaram 163 pacientes internados no setor de pediatria do Hospital Universitário, deste total 97 pacientes apresentavam o diagnóstico clínico de broncopneumonia. Este projeto de extensão tinha como principais objetivos: avaliar o paciente, detectando assim qual é sua patologia, diagnosticando quais são seus principais sintomas e com isso pode-se elaborar um tratamento fisioterapêutico adequado ao paciente. As avaliações e atendimentos eram realizados todos os dias pelos acadêmicos, sendo que acadêmicos dos primeiros anos do curso apenas faziam a coleta de dados, enquanto que os acadêmicos dos últimos anos além de realizarem as coletas de dados elaboravam um plano de tratamento adequado ao paciente. Nas fichas de avaliação constam dados pessoais do paciente, diagnóstico clínico, história da doença atual, história de patologias pregressas, hábitos de vida, história funcional, exame físico, exame neurológico, objetivos da fisioterapia, conduta adotada, médico responsável e o acadêmico responsável. As fichas de avaliação com os dados dos pacientes ficam com a supervisora e orientadora para que depois se quisessem ser realizados estudos, como este e muitos outros, os dados coletados fiquem a disposição dos acadêmicos e professores. Assim, após o atendimento ao paciente eram feitas observações e a conduta adotada pelo acadêmico era descrita em uma outra ficha de evolução que ficava disponível no posto do setor de pediatria, para que outro acadêmico pudesse prestar atendimento ou mesmo se algum professor ou a supervisora quisesse saber do tratamento realizado, todas as informações estavam contidas ali até o momento em que o paciente estivesse internado no hospital. Para determinar o diagnóstico clínico do paciente era utilizado seu prontuário, que fica contido no posto do setor. O prontuário permite a verificação da evolução diária do paciente e dados específicos do mesmo. Além da ficha de avaliação era necessário que o acadêmico possuísse um estetoscópio, para realizar uma ausculta minuciosa; um termômetro e um relógio para realizar a avaliação da freqüência cardíaca e respiratória do paciente. Estes dados eram importantes que estivessem presentes na ficha de avaliação. Para elaboração deste trabalho de conclusão de curso, foram retirados os dados das fichas de avaliação e realizada uma revisão literária, pesquisando sobre a anatomia, fisiologia respiratória, como também sobre a pneumonia e broncopneumonia. O critério de exclusão do estudo eram as fichas que não continham o diagnóstico clínico ou que este era dado como indefinido, mesmo que após a avaliação fisioterapêutica diagnosticasse doença do trato respiratório inferior. A partir dos dados das fichas foi realizada uma análise estatística e com os resultados foram feitas a discussão e a conclusão. Esta análise estatística foi realizada através de número de pacientes e suas porcentagens de cada dado avaliado, sendo que os gráficos e tabelas apresentadas fora elaboradas no programa Excel. 4 RESULTADOS De um total de 163 avaliações realizadas, durante todo o projeto, no setor de pediatria do Hospital Universitário de Cascavel, 97 pacientes apresentavam diagnóstico clínico de broncopneumonia, isto representa 59,51% do total de pacientes internados neste setor. Sendo que no período de setembro de 2000 a setembro de 2001, foram avaliados 84 pacientes com diagnósticos de broncopneumonia, representando 86,60% do total de pacientes avaliados com o diagnóstico da patologia. Já no período de outubro de 2001 a outubro de 2002 foram avaliados apenas 13 pacientes com diagnóstico clínico de broncopneumonia, representando 13,40% do total de pacientes avaliados com o diagnóstico clínico de broncopneumonia. Dos 97 pacientes com diagnóstico de broncopneumonia, 60 pacientes eram do sexo masculino (61,85%) e apenas 37 pacientes eram do sexo feminino (38,14%). 31,14% 61,85% Masculino Feminino Gráfico 1 – Incidência de boncopneumonia no sexo feminino e masculino da amostra Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão As idades das 97 crianças variaram de 0 meses até 12 anos. Sendo que de 0 a 3, 68 pacientes (70,10%); de 4 a 6 anos, 13 pacientes (13,40%), de 7 a 9 anos, 9 pacientes (9,28%) e por fim 10 a 12 anos, 7 pacientes (7,22%). Tabela 1 – Prevalência da Idade dos Pacientes com Broncopneumonia em Relação ao Sexo Idade 0 І——І 3 4 І——І 6 7 І——І 9 10 І——І 12 Total Masculino 42 10 3 5 60 Feminino 26 3 6 2 37 Total 68 13 9 7 97 Fonte: Dados colhidos do Projeto de Extensão As relações entre idade e sexo dos pacientes com brocopneumonia podem ser Nº de Pacientes melhor visualizadas no seguinte gráfico: 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 42 26 10 3 0–3 4–6 3 7–9 Idades 6 5 2 10 – 12 Masculino Feminino Gráfico 2 - Prevalência da idade dos pacientes com broncopneumonia em relação ao sexo Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão Já o principal sintoma apresentado pelas crianças avaliadas a que permaneceu com maior incidência foi febre e tosse, em 23 pacientes (23,71%); seguida de febre, em 15 pacientes (15,46%); tosse, em 12 pacientes (12,37%); dor torácica, em 6 pacientes (6,19%); dor torácica e tosse, em 6 pacientes (6,19%); febre e dor torácica, em 5 pacientes (5,15%); febre, tosse e dor torácica, em 2 pacientes (2,06%) e por fim do total de pacientes avaliados, 28 deles (28,87%) não apresentavam nenhuma das queixas principais citadas. 5,15% 6,19% 6,19% 2,06% 12,37% 28,87% 23,71% 15,46% Febre Febre e Tosse Tosse Dor Torácica Dor Torácica e Tosse Febre e Dor Torácica Febre, Tosse e Dor Torácica Sem Queixas Gráfico 3 – Principal sintoma relatado pelos pacientes com broncopneumonia Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão A prevalência do tipo de respiração foi a diafragmática, que apareceu em 28 pacientes (28,87%), já a torácica está representada em 20 pacientes (20,62%), a apical prevalecendo em 11 pacientes (11,34%) e por fim, do total de pacientes avaliados 38 não apresentavam dados sobre a respiração em suas fichas, representando 39,17%. 38 20 11 28 Nâo constavam 0 10 20 Nº de pacientes 30 40 Torácia Apical Diafragmática Gráfico 4 – Prevalência do tipo de respiração nos pacientes com broncopneumonia Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão Outros dados importantes são os tipos de tosse que o paciente pode de apresentar. O tipo de tosse que teve maior prevalência foi a produtiva, com 27 casos (27,83%); seguida de ineficaz, em 11 pacientes (11,34%); eficaz e produtiva, em 10 pacientes (10,31%); ineficaz e produtiva, em 7 pacientes (7,22%); ineficaz e não produtiva, em 7 pacientes (7,22%); não produtiva, em 5 pacientes (5,15%); eficaz, em 4 pacientes (4,13%) e por fim do total de pacientes avaliados, 26 deles (26,80%) não constavam o tipo de tosse. 30 27 26 Nº de Pacientes 25 20 15 11 10 7 10 7 5 5 0 Produtiva Ineficaz e Produtiva Eficaz 4 Ineficaz Ineficaz e Não Produtiva Não Consta Eficaz e Produtiva Não Produtiva Gráfico 5 – Incidência dos tipos de tosse em pacientes com broncopneumonia Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão Com relação a expansibilidade pulmonar, onde a prevalência foi a diminuída, com 41 pacientes (42,27%), em seguida apareceu a normal em 34 pacientes (35,05%), ainda a aumentada, com apenas 1 paciente (1,03%) e do total de pacientes 21 deles (21,65%) não constavam o tipo de expansibilidade pulmonar. Nº de Pacientes 60 41 34 21 40 20 1 Normal Diminuída Aumentada 0 Não consta Gráfico 6 – Presença dos tipos de expansibilidade pulmonar em pacientes com broncopneumonia Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão Na mobilidade torácica a prevalência foi a normal, em 40 pacientes (41,24%), seguida diminuída, em 35 pacientes (36,08%), ainda a aumentada, com apenas 1 paciente (1,03%) e do total de pacientes 21 deles (21,65%) não constavam o tipo de mobilidade torácica. 40 40 35 35 Nº de Pacientes 30 25 21 20 15 10 5 0 1 Normal Diminuída Aume ntada Não C onsta Gráfico 7 – Presença dos tipos de mobilidade torácica em pacientes com broncopneumonia Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão Do total de 97 pacientes avaliados, 20 deles apresentaram patologias associadas, onde a que teve maior incidência foi o derrame pleural em 4 pacientes (4,12%), em seguida ocorreram as cardiopatias em 3 pacientes (3,09%), o broncoespasmo em 3 pacientes (3,09%), GECA em 3 pacientes (3,09%), seguida de má formação cerebral em 2 pacientes (2,07%), TCE em 2 pacientes (2,07%), bronquite 1 paciente (1,03%), pneumonia em 1 paciente (1,03%) e sepse também em 1 paciente (1,03%). 3,09% 3,09% 4,12% 2,07% 3,09% 1,03% Cardiopatias GECA Bronquite 1,03% 1,03% Derrame Pleural Má Formação Cerebral Pneumonia 2,07% Broncoespasmo T CE Sepse Gráfico 8 – Incidência de patologias associadas à pacientes com broncopneumonias Fonte: Dados coletados do Projeto de Extensão 5 DISCUSSÃO Neste estudo fez-se um levantamento estatístico da incidência de broncopneumonia em pacientes pediátricos no Hospital Universitário de Cascavel relatando também seus principais sintomas. O comportamento de algumas doenças respiratórias tem demonstrado alterações importantes nas últimas décadas. No Brasil, com exceção da tuberculose, as doenças respiratórias não são de notificação compulsória, o que leva a escassez de informações epidemiológicas. (CORRÊA e OLIVEIRA6 et al. apud GODOY et al., 2001). As pneumonias, incluindo as broncopneumonias, são processos inflamatórios, geralmente agudos, comprometendo alvéolos, bronquíolos e espaço intersticial, que adquirem características diferentes conforme o agente etiológico, idade do paciente, doença de base e seu estado nutricional e imunitário (MARCONDES, 1978). Praticamente não há dados na literatura relacionados à prevalência e incidência de broncopneumonias como principal internação hospitalar. Mas segundo RUUSKANEN, O7. et al apud RODRIGUES (2002), as broncopneumonias foram identificadas 88% de crianças hospitalizadas, como sendo a patologia respiratória que predomina em hospitais. Conforme dados colhidos, do total de pacientes avaliados (163 pacientes) no setor pediátrico do Hospital Universitário, 97 pacientes (59,51%) apresentava diagnóstico clínico de broncopneumonia, sendo a principal causa de internação. ABRANTES8 et al. apud TEODORO E ANDRADE, 2000, também registraram que as infecções do aparelho respiratório (broncopneumonia e pneumonia) representam o grupo mais freqüente de 6 CORRÊA, J. C. I Consenso brasileiro sobre pneumonias. Jornal de Pneumologia, Rio de Janeiro, 2000. p. 63-108 apud GODOY, D. V. et al. Doenças respiratórias como causa de internações hospitalares de pacientes do sistema único de saúde num serviço terciário de clínica médica na região nordeste do Rio Grande do Sul. Jornal de Pnmeumologia, Rio de Janeiro, jul-ago, 2001. p. 193-198. 7 RUUSKANEN, O. et al. Pneumonia in childhood: etiology and response to antimicrobial therapy. Eur journal clin microbial infect dis, 1992.p. 23-217 apud RODRIGUES, J. C. et al. Diagnóstico etiológico das pneumonias-uma visão crítica. Jornal de pediatria, 2002, supl.2. P. S129-S140. 8 ABRANTES, M. M. et al. Causas de internações de crianças e adolescentes nos hospitais do SUS em Minas Gerais entre 1994 e 1995. Informe epidemiológico do SUS. Fundação nacional de saúde, Brasília, volume, VII, jan-mar, 1998. p. 95-104. apud TEODORO, B. N. e ANDRADE, S. M. Internações pediátricas no hospital universitário regional norte do Paraná. Universidade Estadual de Londrina, Londrina. Disponível: <http://uel.br> Acesso em: 08/12/2002. doenças em estudo de internações de crianças e adolescentes nos hospitais de Minas gerais conveniados com o SUS, nos anos de 1994 e 1995. Na amostra estuda a maior incidência de pacientes com broncopneumonia foi no sexo masculino, com 60 pacientes (61,85%) e feminino, com 37 pacientes (32,14%). Não foram encontrados dados suficientes na literatura que possam explicar esta prevalência. Nos países em desenvolvimento das doenças agudas do trato respiratório inferior constituem importante causa de internação hospitalar de crianças com idade inferior a cinco anos (BERMAN9 apud MIYAO et al., 1999). Através das fichas de avaliação, os dados colhidos seguem os da literatura relatada, em que pacientes com idades de 0 a 3 anos, totalizaram 68 casos (70,10%), seguida de 13 pacientes (13,40%) com idades de 4 a 6 anos, com 7 a 9 anos 9 pacientes (9,28%) e de 10 a 12 anos apenas 7 pacientes (7,22%). Mas conforme POWELL (2002), relata que a maior incidência ocorre em crianças de 5 a 9 anos, contrariando os dados. O confronto com os dados e a literatura pode ter ocorrido devido ao fato de que o principal agente etiológico das broncopneumonias é o Mycoplasma pneumonial, onde um bom campo para sua disseminação são as escolas, por isso o fato do autor ter citado esta faixa etária. É também relatado que, o início das manifestações clínicas das deficiências predominantemente humorais tende a ocorrer por volta dos seis meses de idade devido a queda de anticorpos maternos e à produção de imunoglobulinas ainda de forma inadequada, período conhecido como hipogameglobulinemia fisiológica do lactente (SAMPAIO10 apud CARVALHO et al. 2002). Isso propicia o surgimento de doenças com idades mais precoces e como as que mais afetam as crianças são as do aparelho respiratório, são elas que tem maio relevância. Entre os pacientes avaliados, a grande maioria relatava febre e tosse, em 23 pacientes (23,71%); seguida de febre, em 15 pacientes (15,46%); tosse, em 12 pacientes (12,37%); dor torácica, em 6 pacientes (6,19%); dor torácica e tosse, em 6 pacientes (6,19%); febre e dor torácica, em 5 pacientes (5,15%); febre, tosse e dor torácica, em 2 9 BERMAN, S. Epidemiology of acute respiratory in children of developing countries. Rev Infect Dis, 1991. p.62-454. apud MIYAO, C. R. et al. Infecções virais em crianças internadas por doença aguda do trato respiratório inferior. Jornal de Pneumologia, Rio de Janeiro, 1999. p. 334-344. 10 SAMPAIO, C. Primary immunodeficiencies in Latin America. ACI Internacional, 1999 apud CARVALHO, B. T. C. et al. Pneumonias de repetição em pacientes com deficiência de anticorpos e imunoglobulinas normais. Jornal de Pneumologia-mai-jun, 2002. p. 155-158. pacientes (2,06%) e por fim do total de pacientes avaliados, 28 deles (28,87%) não apresentavam nenhuma das queixas principais citadas. A literatura relata que quadro de broncopneumonias e pneumonias, os pacientes queixam-se de dor torácica. Em nosso estudo ela pode ser irrelevante, bem como a dispnéia que para MURAHOVSKI e SCHUSSEL (1981), onde esta se acompanha de outros sintomas: tosse, chiado, rouquidão, além de febre e até dor abdominal. Pois a grande incidência de broncopneumonia nos pacientes, foi na faixa etária de 0 a 3 anos, onde dificilmente a criança pode ou não relatar se há a presença de dor torácica ou dispnéia, então o principal sintoma vai ser baseado naqueles que o responsável pela criança pode sentir, como a febre e ver, como a tosse. Mas segundo BEHRMAN et al. (2002), relata que apenas tosse aparece precocemente, não associando com a febre. A respiração em que se teve maior prevalência nos dados coletados foi a diafragmática, onde esteve presente em 28 pacientes (28,87%), seguida da torácica com 20 pacientes (20,62%), a apical prevalecendo em 11 pacientes (11,34%) e por fim, do total de pacientes avaliados 38 não apresentavam nenhum dado sobre a respiração, representando 39,17%. Já segundo MALINOWISKI e WILSON (2001), os lactentes com dificuldade respiratória exibem tipicamente um ou mais dos seguintes sinais: adejamento nasal, cianose, ronco expiratório, taquipnéia, tiragem e respiração paradoxal. Este tipo de respiração refere-se a uma assincronia respiratória do paciente. Contradizendo o que traz na literatura, o tipo de respiração não deveria ter predomínio em apenas um e sim em praticamente um desequilíbrio entre os principais tipos, denotando uma dissincronia. A tosse é uma ação reflexa de defesa do organismo, por meio da qual é possível expulsar as secreções acumuladas e substâncias estranhas da árvore brônquica (COSTA, 1999). No caso dos pacientes avaliados a presença da tosse é um fator que com certeza estaria presente, sendo que o que prevaleceu foi a produtiva, em 27 pacientes (27,83%), seguida de ineficaz, em 11 pacientes (11,34%); eficaz e produtiva, em 10 pacientes (10,31%); ineficaz e produtiva, em 7 pacientes (7,22%); ineficaz e não produtiva, em 7 pacientes (7,22%); não produtiva, em 5 pacientes (5,15%); eficaz, em 4 pacientes (4,13%) e por fim do total de pacientes avaliados, 26 deles (26,80%) não constavam o tipo de tosse. Mas segundo POWELL (2002), inicialmente a tosse não é produtiva, levando em consideração o autor, os dados coletados estão contra a literatura. Esta contradição pode ter ocorrido, às vezes pelo fato da avaliação não ter sido feita no dia da internação, ou a crianças já estar apresentando quadro de tosse antes da internação hospitalar. A freqüência respiratória do paciente pediátrico, fisiologicamente é maior, mas no caso de desconforto respiratório ela tende a ser taquipneica (acima de 60 resp/min). A partir do momento em que se tem uma freqüência respiratória aumentada, o paciente inicia o uso da musculatura acessória, fazendo com que os principais músculos da respiração sofram uma fraqueza, em conseqüência disso a sua expansibilidade pulmonar diminua e segundo PARKER e PRASAD (2002), se uma criança com a musculatura respiratória hipotônica terá dificuldade aumentada para a respiração, tosse e expectoração. Conforme ALCÂNTARA e ROZOV (1978), em casos extremamente graves, aparecem contrações espasmódicas da musculatura do pescoço na tentativa de auxiliar a expansão da caixa torácica. De acordo com os dados colhidos no projeto, a expansibilidade de maior prevalência é a que encontra-se diminuída, com 41 pacientes (42,27%), seguida da normal em 34 pacientes (35,05%), ainda há a aumentada, com apenas 1 paciente (1,03%) e do total de pacientes 21 deles (21,65%) não constavam o tipo de expansibilidade pulmonar. Assim os dados do projeto foram a favor da literatura. Quanto à mobilidade torácica, a maior prevalência foi a normal, em 40 pacientes (41,24%), seguida diminuída, em 35 pacientes (36,08%), ainda a aumentada, com apenas 1 paciente (1,03%) e do total de pacientes 21 deles (21,65%) não constavam o tipo de mobilidade torácica. Com a relação à literatura não existem dados que associem o tipo de mobilidade torácica com a broncopneumonia. Muitas vezes a broncopneumonia não vem como causa principal e sim como uma conseqüência de uma patologia, ou ao contrário, ela pode ocasionar o aparecimento de outra patologia, assim durante a coleta de dados, na amostra apareceram, como maiores incidências casos de broncopneumonia associado ao derrame pleural, em 4 pacientes (4,12%), seguida das cardiopatias em 3 pacientes (3,09%), o broncoespasmo em 3 pacientes (3,09%), GECA em 3 pacientes (3,09%), seguida de má formação cerebral em 2 pacientes (2,07%), TCE em 2 pacientes (2,07%), bronquite 1 paciente (1,03%), pneumonia em 1 paciente (1,03%) e sepse também em 1 paciente (1,03%). Conforme (11), o comprometimento da pleura é comum e pode ser um componente do quadro clínico, outras complicações supuradas como, pericardite, peritonite, meningite, otite média, artrite, são mais raras. As cardiopatias também podem ocorrer e seus primeiros sinais são hepatomegalias e ritmo de galope. Mas nos dados colhidos há relatos de casos com má formação cerebral, Geca, TCE, entre outros que durante a revisão bibliográfica não são descritos casos ou incidências semelhantes. Problemas neurológicos, podem ter tido alguma incidência, como a má formação cerebral e TCE, devido a varias alterações respiratórias que podem ocorrer. Assim citada por BARBOSA (2002), em que pacientes com Paralisia Cerebral, por exemplo, trocas gasosas podem estar comprometidas em nível alveolar, expansibilidade pulmonar estará restrita e o diafragma pode estar encurtado, devido ao quadro de alteração do tônus muscular que tal patologia pode levar. E ainda a incidência em problemas neurológicos leva a acreditar que pode ser devido à utilização de medicação, como os antiepiléticos, que levam a uma diminuição da imunidade e da atividade ciliar. (BEHRMAN, 2002). 6 CONCLUSÃO O estudo aqui demonstrado possibilitou a observação da incidência de broncopneumonia no Hospital Universitário de Cascavel no setor de pediatria, como sendo uma das principais causas de internamento. Além disso, o estudo procurou abordar a prevalência de acordo com a faixa etária, doenças associadas e através dos principais tópicos da ficha de avaliação. As análises resultantes foram possíveis devido à metodologia utilizada, onde o principal recurso foi uma ficha de avaliação padrão do projeto de pesquisa e extensão. Onde esta foi recrutada para a coleta de dados e revisão literária. Vale ressaltar que alguns dados coletados podem ter ficado confusos devido a falta de algumas informações importantes, mas que muitas vezes não constavam nas fichas de avaliação. Pela análise dos dados, pode-se detectar pontos importantes e de interesse para a pesquisa, como por exemplo, a grande incidência de broncopneumonia e crianças da faixa etária de 0 a 3 anos, onde foram encontrados na literatura contradições, não chegando a um resultado conclusivo, em relação a literatura. E através da ficha de avaliação que foi conseguido observar os principais sintomas e características clínicas das crianças internadas. Com base nesse estudo, viu-se a importância da fisioterapia para o tratamento das afecções do trato respiratório, e principalmente a necessidade do fisioterapeuta em ter conhecimento da incidência de broncopneumonia, pois desta forma terá condições de verificar os fatores que agem sobre as crianças e que podem ser a causa de uma enfermidade citada acima. A partir de um conhecimento profundo, pode-se dar instruções precisas para a família e, principalmente, para a prevenção de novas intercorrências. 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ANEXO ANEXO A AVALIAÇÃO DE FISIOTERAPIA PEDIATRICA Nome: Leito: Idade: Área: Sexo: Raça: Ocupação: Procedência: Data de Internação: Diagnóstico Clínico: Procedimento Realizado (data): Queixa Principal: História Familiar: HPP: Hábitos de Vida: História Funcional: Exame Físico: Sinais Vitais: FC: FR: Temperatura: Respiração: ( )apical ( )torácica ( ) diafragmática Tosse: ( ) eficaz ( )ineficaz ( ) produtiva Secreção: Cor: Expectoração: Ausculta: Tórax: Postura: Expansibilidade Pulmonar: Mobilidade Torácica: Faz apnéia, dispnéia ou cianose: Tiragem Intercostal: Fatores Alérgicos: Exame Neurológico: História da Gestação: Período Neonatal: Desenvolvimento Motor: Corisa: ( ) não produtiva Reflexos e Reações: Tônus: Problemas Associados: Objetivos da Fisioterapia: Conduta Adotada: Médico Responsável: Paciente recebe tratamento fisioterápico: ( ) sim Observações: Acadêmico: ( ) não