Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial III, 1173-1176 IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X Evolução das características de superfície de pavimentos pétreos Evolution of surface characteristics of stone flooring L. M. O. Sousa1*, P. Teixeira2, M. C. F. Ramos2 Artigo Curto Short Article © 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP Resumo: Neste trabalho apresentam-se os resultados da avaliação de algumas propriedades do pavimento pétreo, constituído por placas de granito e de gabronorito, aplicadas numa zona comercial há cerca de 10 anos. Procedeu-se à avaliação da cor, da rugosidade e do brilho em cento e cinco placas do pavimento. Os resultados permitem verificar a homogeneidade cromática das duas rochas e diferenças significativas na rugosidade, com o granito a apresentar valores mais elevados. Verifica-se um desgaste diferencial entre as zonas com maior e menor tráfego pedonal que, contudo, não altera de modo significativo as caraterísticas estéticas dos materiais. Palavras-chave: Rocha, Pavimento, Cor, Rugosidade, Brilho, Desgaste. Abstract: This paper presents the results of the evaluation of some properties of the stone floor, which is composed of granite and gabbronorite slabs, applied in a commercial zone for about 10 years. The evaluation of colour, roughness and gloss was performed on one hundred and five plates. The results allow to verify chromatic homogeneity of the two rocks and significant differences in surface roughness, with the granite showing higher values. There is a wear difference between the areas of highest and lowest pedestrian traffic, however these differences do not modify significantly the aesthetic characteristics of the materials. Keywords: Stone, Pavement, Colour, Roughness, Gloss, Wear. 1 Departamento de Geologia e Centro de Geociências, Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro, Quinta de Prados, 5000-801 Vila Real, Portugal. 2 Retailgest, Centro Comercial Dolce Vita Douro, Alameda de Grasse, 5000703 Vila Real, Portugal. * Autor correspondente / Corresponding author: [email protected] 1. Introdução As características estéticas, apesar de subjetivas, são a base da seleção das rochas, pois definem a harmonia arquitetónica e melhoram a perceção visual dos edifícios. Esta subjetividade está relacionada com os vários fatores que podem ser considerados, tais como a cor, a textura, o brilho e o acabamento superficial, que podem ser valorizados de forma diferente pelos vários utilizadores (Sanmartín et al., 2011). Quando as rochas são polidas, é melhorada a perceção da textura e da cor, sendo este acabamento aquele que mais valor confere aos materiais pétreos. A durabilidade dos materiais pétreos é um dos pressupostos que preside à sua escolha para as mais variadas utilizações. Este aspeto é particularmente importante nas situações em que a rocha está sujeita a ações suscetíveis de modificarem o acabamento superficial, como é o caso dos pavimentos. O desgaste acelerado das rochas sujeitas a elevado tráfego pedonal poderá diminuir de forma significativa as suas características estéticas. A avaliação das propriedades de superfície das rochas polidas é realizada normalmente através da determinação de três propriedades, cor, brilho e rugosidade, que estão interrelacionadas (Sousa & Gonçalves, 2013). Contudo, a avaliação destas propriedades deve ter sempre presente o carácter polifásico das rochas, ou seja minerais com diferentes propriedades aleatoriamente distribuídos, o que tem implicações na metodologia utilizada nas determinações. A cor é determinada pela proporção dos diferentes minerais, sendo também influenciada pelo acabamento superficial e pelo grau de meteorização (Prieto et al., 2010; Sousa & Gonçalves, 2013). Os sistemas automáticos de determinação da cor, como é o caso do sistema de classificação de cor CIE, são cada vez utilizados para evitar a incerteza na determinação, tendo-se o cuidado de efetuar um número de determinações suficientes (Prieto et al., 2010; Rivas et al., 2011; Sousa & Gonçalves, 2012). As superfícies de rocha polidas apresentam irregularidades e imperfeições que são consequência das suas características próprias, tais como a composição mineralógica, o grau de meteorização e a densidade de fissuração, mas também do próprio processo industrial (Aydin et al., 2011). A frequência e localização das irregularidades, determinada nos perfis de rugosidade, ajuda-nos a avaliar os fatores que controlam a evolução do polimento. O brilho é a capacidade de uma superfície em refletir a luz incidente, está relacionado com a qualidade de polimento, tem um efeito nos atributos estéticos da rocha e está diretamente relacionado com a rugosidade (Sousa & Gonçalves, 2013). Neste estudo pretendeu-se avaliar a qualidade do polimento de rochas em pavimentos sujeitos a elevado tráfego pedonal. O estudo foi realizado numa área comercial, o Centro Comercial Dolce Vita Douro, localizado em Vila Real, que se encontra em funcionamento desde outubro de 2004. 1174 L. M. O. Sousa et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial III, 1173-1176 2. Materiais e métodos Na referida superfície comercial observam-se dois tipos de materiais pétreos aplicados no pavimento, um granito e um gabronorito, com acabamento amaciado (polimento com menos brilho). As dimensões das placas variam desde 80 cm×20 cm, no caso do gabronorito, até 120 cm×80 cm no granito, em ambos os casos com uma espessura de 2 cm. As placas estudadas foram selecionadas de modo a que estivessem localizadas em áreas com diferente intensidade de tráfego pedonal, para assim identificar possíveis diferenças. Procurou-se também fazer uma distribuição dos locais pelas duas rochas em apreço em função da proporção em que se encontram no pavimento. O granito é de origem portuguesa, com a designação comercial de Branco Micaela, possui grão fino a médio, de duas micas e com coloração acinzentada. É constituído por microclina (38%), quartzo (28%) e plagioclase (25%), moscovite (5%) e biotite (3%). Apresenta boas características físico-mecânicas, com 200 MPa de resistência mecânica à compressão e 0,7% de porosidade aberta (Leite & Moura, s/d). O gabronorito é originário da África do Sul, com a designação comercial de Nero Impala (ou Negro Impala), apresenta grão médio e uma coloração cinzenta escura. É constituído essencialmente por plagioclase (64%), ortopiroxena (30%) e clinopiroxena (4%), com ligeiras variações na respetiva proporção e a consequente variação na coloração da rocha. Apresenta características físicomecânicas superiores ao granito: 240 MPa de resistência mecânica à compressão e 0,3% de porosidade aberta (Finstone, 2013). Daqui em diante serão usadas as designações comerciais das rochas estudadas (granito – Branco Micaela; gabronorito – Nero Impala). Para avaliar as características das rochas aplicadas foram selecionadas 105 placas de rocha onde, na zona central, foram realizadas medições de cor, brilho e rugosidade, numa janela de observação com as dimensões de 10 cm×10 cm. As medições apresentaram a seguinte distribuição pelas rochas estudadas: Branco Micaela - 70 medições; Nero Impala - 35 medições. A cor foi determinada através de 20 medições com o colorímetro X-Rite 360, com geometria 45°/0°, utilizando o iluminante D65 e a abertura de 16 mm, por esta abertura permitir obter um valor fiável com um menor número de medições (Sousa & Gonçalves, 2012). Os dados foram expressos no sistema CIE-L*a*b* (CIE, 2004) constituído por três coordenadas: o parâmetro L* representa a luminosidade (L*=0, preto; L*=100, branco); o parâmetro a* é o eixo vermelho-verde (a*=60, vermelho ; a*=-60, verde); o parâmetro b* é o eixo amarelo-azul (b*=60, amarelo; a*=-60, azul). Para quantificar a rugosidade superficial recorreu-se ao medidor de rugosidade Mitutoyo SJ-201, tendo-se realizado dez perfis de medição, cada um com 12,5 mm de comprimento, em cada área de medição. Os resultados são expressos em Ra (média aritmética do perfil) e Rt (amplitude máxima da rugosidade) (Ribeiro et al., 2011). O brilho foi quantificado com o brilhómetro NovoGloss Trio (Rhopoint Instruments), com a geometria de 60°, efectuando 10 medições em cada área de medição. A geometria de 60° é a mais utilizada para avaliar a qualidade das superfícies de rocha (Yavuz et al., 2011). 3. Resultados e discussão Os valores médios dos parâmetros cromáticos L*, a* e b* obtidos para o Branco Micaela e o Nero Impala são 62,25, -0,25 e 3,93 e 26,29, -0,39 e 0,37, respetivamente. Como seria de esperar os dados relativos à caracterização da cor evidenciam uma diferença substancial entre as duas rochas, em especial no parâmetro L*, com valores mais altos no Branco Micaela. Estes resultados eram esperados, dada a evidente diferença na luminosidade dos dois materiais. Os valores no eixo a* não permitem fazer a distinção entre os dois materiais, embora em algumas peças do Nero Impala se verifique uma tendência para o verde (Fig. 1). O parâmetro b* é ligeiramente mais elevado no Branco Micaela, portanto no campo do amarelo, enquanto o Nero Impala se localiza próximo da neutralidade. Fig. 1. Relação entre os parâmetros cromáticos a*e b*. Fig. 1. Relationship between a* and b* chromatic parameters. A homogeneidade cromática das duas rochas é uma evidência, como se pode deduzir das nuvens de distribuição dos pontos. O cálculo da variação total de cor (ΔE*ab) através da fórmula ΔE*ab=((ΔL*)2+(Δa*) 2 +(Δb*)2))1/2 (Sève, 1991), em relação ao valor médio, mostra que não há muitos pontos com valores de superior a 3,0 unidades CIELAB. Diferenças superiores a este valor são distinguíveis pelo olho humano e devem ser evitadas através da colocação contígua de peças de coloração similar. Contudo, para a identificação de eventuais variações, o valor de ΔE*ab deverá ser determinado entre peças adjacentes, por nessas situações serem mais percetíveis as diferenças. Os valores médios da rugosidade média e da rugosidade total obtidos para o Branco Micaela e o Nero Impala são 1,56 µm e 9,90 µm e 0,80 µm e 5,13 µm, respetivamente. A rugosidade é notoriamente maior no O desgaste de pavimentos pétreos Branco Micaela, quer em termos de rugosidade média quer em termos de amplitude máxima e, como seria de esperar, é mais elevada do que a obtida em superfícies polidas (Sousa & Gonçalves, 2013). A menor dimensão do tamanho do grão no Branco Micaela, e consequentemente maior superfície de contacto entre minerais, origina maior perda de material. A maior área dos minerais do Nero Impala confere à superfície uma maior continuidade que, aliada à ausência de minerais micáceos, torna a superfície deste material menos rugosa. Deve-se assinalar que a menor rugosidade no Nero Impala também se verifica nos locais com pouco ou nenhum trafego pedonal, podendo-se atribuir esta diferença ao polimento inicial e não ao uso. A análise detalhada da superfície das placas de Branco Micaela permite observar pequenas depressões associadas às micas, tal como já tinha sido observado noutra investigação (Sousa & Gonçalves, 2013). Os valores médios do brilho obtidos para o Branco Micaela e o Nero Impala são 11,67 GU e 13,20 GU, respetivamente. O brilho apresenta um comportamento inverso ao da rugosidade com os maiores valores a serem observados no Branco Micaela, pois como já atrás foi referido este parâmetro encontra-se diretamente relacionado com regularidade da superfície. Em ambas as rochas verifica-se uma tendência para a diminuição do brilho com o aumento da rugosidade, embora essa variação seja mais evidente no Nero Impala para baixos valores de rugosidade (Fig. 2). 1175 uma carga pedonal diferente: as medições 33 a 37 correspondem a uma zona de passagem preferencial dos utentes; as medições 38 a 42 foram obtidas numa zona de ângulo morto sem tráfego pedonal atual e passado. A zona mais sujeita a desgaste apresenta valores de rugosidade mais elevados e menor brilho, enquanto na zona mais protegida se verifica o inverso. Em ambas as zonas o Nero Impala apresenta melhores características de superfície, refletindo a menor rugosidade inicial que resultou do processo industrial. Para estes mesmos locais procedeu-se ao cálculo da variação total de cor, verificando-se que apenas entre os pontos de medição 38 e 39 se obtém um valor de diferença de 4 unidades CIEALB, discernível, portanto, pelo olho humano. Fig. 3. Sequência de valores de brilho e rugosidade em duas zonas (branco-Banco Micaela; cinzento-Nero Impala). Fig. 3. Sequence of gloss and roughness values in two areas (whiteBranco Micaela; gray-Nero Impala). 4. Conclusões Fig. 2. Relação entre o brilho (geometria de 60°) e a rugosidade média. Fig. 2. Relationship between the gloss (60° geometry) and the mean roughness. A comparação das medições realizadas em zonas com tráfego pedonal intenso e reduzido/nulo evidencia diferenças nas características de superfície das duas rochas, embora sem uma nítida diferenciação (Fig. 2). Esta sobreposição de valores poderá ser devida às diferenças originais no acabamento das placas e também às modificações nos trajetos pedonais preferenciais em resultado da instalação pontual de obstáculos (mobiliário e outras instalações). Na figura 3 apresentam-se duas sequências de medições realizadas em duas zonas com As rochas estudadas mostram homogeneidade cromática, revelando potencialidade para serem utilizadas em grandes áreas. Os resultados obtidos permitem concluir que as rochas apresentam diferenças anteriores à sua aplicação em obra, em consequência das características texturais e mecânicas, verificando-se maior rugosidade na rocha cujos minerais apresentam menor dimensão. Os dados de rugosidade e de brilho permitiram identificar diferenças entre as zonas de maior e menor tráfego pedonal, resultantes do desgaste diferencial. Contudo, estas diferenças não influenciam o respetivo aspeto estético. A utilização do acabamento amaciado mostrou eficácia na manutenção das qualidades estéticas das rochas. Referências Aydin, G., Karakurt, I., Aydiner, K., 2011. An investigation on surface roughness of granite machined by abrasive waterjet. Bulletin of Materials Science, 34(4), 985-992. CIE, 2004. Colorimetry. International Commission on Illumination, 015:2004, 3rd Ed., Vienna. 1176 L. M. O. Sousa et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial III, 1173-1176 Finstone, 2013. Nero Impala. http://www.finstone.net/brochures/nero_impala_brochure.pdf (consultado em 5/3/2014). Leite, M.R.M., Moura, A.C., s/d. Base de Dados do Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas. LNEG, http://rop.ineti.pt/rop/ (consultado em 5/3/2014). 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