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17 Workshop de Plantas Medicinais do Mato Grosso do Sul/7º Empório da Agricultura Familiar
Efeito protetor e antimutagênico de Aloe barbadensis Miller
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Alessandra P. Berti ; Hélina S. Nascimento ; Luciana S. Pacheco ; João R. Máximo Jr ; Fábio S. Barros ;
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Carmem L. M. S. Rocha .
1 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (PQ), 2 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (IC), 3
Universidade Estadual de Maringá (PG), 4 Universidade Estadual de Maringá (PQ).
RESUMO
Aloe barbadensis, popularmente conhecida como Babosa, possui grande valor medicinal e é amplamente
utilizadas pela população em geral. Inúmeras atividades já foram relacionadas a essa planta, tais como
antioxidante, antitumoral, hipoglicemiante, antibiótica, anti-inflamatória e imunomoduladora. O objetivo do
presente trabalho foi avaliar o efeito de A. barbadensis sobre a antimutagênese no sistema methG1 em
Aspergillus nidulans. Duas concentrações foram preparadas do gel da planta, sendo 4 e 8% (w/v). Somente
a maior concentração do extrato vegetal respondeu de maneira benéfica, sugerindo uma relação de doseresposta. Os resultados encontrados fornecem subsídios para a indicação de A. barbadensis, como forma
de prevenção e manutenção da saúde, como também, sugerem pesquisas mais específicas sobre o uso
contínuo dessas plantas.
Palavras-chave: Plantas medicinais, Babosa, Antimutagenicidade.
INTRODUÇÃO
A comunidade científica vem direcionando especial atenção à descoberta de
substâncias protetoras do organismo, principalmente de origem natural, tendo em vista
que o consumo frequente de compostos naturais, decorrentes de vegetais, frutas e
legumes, está associado com a redução da incidência de certos tipos de câncer no
homem, em virtude da presença abundante de antioxidantes (REDDY et al., 2003;
ANUPAMA et al., 2008).
É reconhecida a importância das plantas medicinais para a pesquisa farmacológica
e o desenvolvimento de drogas, tanto quando seus constituintes são usados diretamente
como agentes terapêuticos, mas também como matérias-primas para a produção de
compostos farmacologicamente ativos (WHO, 2001). Um exemplo bem sucedido é a
espécie Aloe barbadensis Miller. Pertencente a Asphodelaceae, possui inúmeras
propriedades, como anti-inflamatória (CHITHRA et al., 1998), analgésica (OLIVEIRA et al.,
2010), cicatrizante (MENDONÇA et al., 2009), antibiótica (SURJUSHE et al., 2008),
imunoestimulante (LISSONI et al., 2009), antioxidante (OJHA et al., 2011; ABOYOUSSEF; MESSIHA, 2013), antitumoral (TOMASIN; GOMES-MARCONDES, 2011) e
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antidiabética/hipoglicemiante (RAJASEKARAN et al., 2004; MISAWA et al., 2008; ABOYOUSSEF e MESSIHA, 2013).
Aspergillus é um grupo de fungos filamentosos, pertencente ao Filo Ascomycota,
com papel fundamental como um organismo modelo, empregado em pesquisas genéticas
e de biologia celular, principalmente em estudos baseados em mutações e regulação
genética, com a finalidade de avaliar substâncias genotóxicas e antigenotóxicas (SOUSA
et al., 2009). O Sistema Metionina foi desenvolvido por Lilly (1965), como um sistema de
avaliação de mutagenicidade utilizando como marcador, a reversão da marca metionina.
Em Aspergillus nidulans há duas vias biossintéticas para metionina. Na primeira, há a
síntese de cisteína, que é convertida a cistationina e posteriormente são sintetizadas
homocisteina e metionina. A cisteína produzida por esta via, inibe a enzima que é
responsável pela segunda via. Deste modo, um mutante para a primeira via, após a
síntese de cisteína, resulta na auxotrofia para metionina. Uma mutação reversa
verdadeira que ocorre no gene inicialmente mutado, restaura a atividade da enzima e a
síntese de metionina.
No entanto, Lilly (1965) observou uma frequência de mutação reversa
extremamente alta que foi posteriormente identificada como sendo supressão. Neste tipo
de reversão, o que ocorre é uma mutação nova, em um gene anterior à síntese de
cisteína, na primeira via, comprometendo a sua produção. Com a ausência deste
aminoácido, a segunda via torna-se funcional, produzindo metionina e uma pequena
quantidade de cisteína pela rota inversa da primeira via. Há, portanto, um grande número
de possibilidades de mutação que fazem a supressão deste gene, o que explica a alta
frequência de reversão espontânea. Este grande número de alvos mutacionais também
justifica a alta sensibilidade deste sistema na avaliação de agentes mutagênicos.
Diante do exposto, vários trabalhos vêem sendo realizados, empregando o Sistema
Metionina como sistema-teste na mutagenicidade e/ou antimutagenicidade. Tal como,
Rodrigues et al. (2003) que avaliaram o potencial antimutagênico do Cogumelo do Sol
(Agaricus blazei), sendo os resultados positivos, demonstrando de forma evidente a ação
antimutagênica do extrato testado.
MATERIAL E MÉTODOS
TRATAMENTOS
A mucilagem foi obtida das folhas frescas de A.barbadensis, após a retirada da
casca e extração do gel (parênquima). A mucilagem das folhas de cada espécie foi
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processada em liquidificador e previamente filtrada em papel, posteriormente em filtro
Millipore com 20 µm de poro (filtragem para experimentos de antimutagenicidade). As
mucilagens foram diluídas em água para obtenção das doses estipuladas e usadas para
os tratamentos imediatamente, não sendo portanto, armazenadas.
Os conídios dormentes da linhagem biA1methG1 foram submetidos aos seguintes
tratamentos: C: Controle com água destilada; B4: A. barbadensis (4% w/v); B8: A.
barbadensis (8% w/v).
LINHAGEM E MEIOS DE CULTURA
Foi utilizada a linhagem biA1methG1, originada de Glasgow (Escócia). Essa
linhagem é deficiente para biotina (cromossomo I) e metionina (cromossomo IV).
Os meios de cultura foram preparados segundo Pontercorvo et al. (1959) e
Clutterbuck (1974). Para o cultivo da linhagem biA1methG1 foi utilizado o meio completo
(MC). O meio seletivo (SM) para análise dos mutantes foi o meio mínimo (MM)
suplementado com biotina (0,02 g/mL). O meio para teste de sobrevivência (SMM) foi
preparado com a mesma composição do SM adicionando-se metionina (50 g/mL).
TESTE DE ANTIMUTAGENICIDADE
Os conídios de colônias crescidas por cinco dias a 37ºC em MC foram coletados,
agitados, filtrados em lã de vidro e distribuídos nos diferentes tratamentos. O tempo de
tratamento foi de quatro horas em função do potencial nutritivo do suco, pois após esse
tempo, os conídios começam a germinar e o método exige conídios dormentes. Após o
tratamento, os conídios foram lavados e centrifugados por três vezes com água destilada.
Para estimativa de sobrevivência foram feitas diluições adequadas e inoculado
0,1mL da diluição em dez placas de SMM, para cada tratamento e incubadas por três dias
a 37ºC.
Para análise dos mutantes, foi inoculado 0,1mL da suspensão sem diluição em dez
placas de SM para cada tratamento e incubadas por cinco dias a 37ºC. Todo este
procedimento foi repetido em triplicata.
A análise estatística dos experimentos do sistema methG1 foi feita segundo
Munson e Goodhead (1977), adaptado para o sistema methG1 por Scott et al. (1982).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Somente a maior concentração (8%) da espécie testada no sistema methG1 em A.
nidulans apresentaram atividade antimutagênica em níveis estatisticamente significativos,
sugerindo uma relação de dose-resposta, conforme observado na Tabela 1.
Tabela 1. Valores médios de 3 repetições, de viabilidade, mutantes e freqüência de mutação pelo
sistema methG1 do Controle (C) e dos tratamentos com os géis: B4 – A. barbadensis [4%]; B8 –
A. barbadensis [8%].
Experimento Tratamento Nº de conídios viáveis
Nº de
Frequência de
x 105/mL
mutantes/mL
mutação
C
70,13
52,66
12,30
B4
44,87
83,66
19,07
C
50,21
35
7,02
B8
55,11
33,66
6,36
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A análise estatística segundo Munson e Goodhead (1977) para os tratamentos resultou nos
seguintes valores de inclinação de retas: B4: m´= 9,53, m”= 19,07, mc= 15,04; B8: m´= 3,18, m”=
6,36, mc=7,09.
Resultados do presente estudo corroboram os publicados por Mehrabian et al.
(2012), que avaliaram o efeito antimutagênico de extratos etanólicos e aquosos de A.
barbadensis, provenientes de duas cidades diferentes do Irã, pelo teste de Ames. Ambos
reduziram a taxa de mutações, contudo, a planta advinda de uma das cidades se
destacou com o máximo de redução de mutações, refletindo que o impacto ambiental
influencia os componentes antioxidantes nas plantas.
Tendo em vista a forte associação entre potenciais antimutagênicos e
anticarcinogênicos, vale destacar a investigação realizada por Tomasin e GomesMarcondes (2011) que detectaram ação antitumoral da A. vera L. e mel, em ratos Wistar,
pelo controle do crescimento do tumor, diminuição da proliferação celular e aumento de
ocorrência de apoptose em células cancerosas.
O poder terapêutico das plantas medicinais ou outros produtos naturais,
geralmente não está associado à substância ativa, que apesar de ser o principal
componente para uma atuação específica, pode não ser tão eficaz quando isolado. Este
fenômeno é designado pelo sinergismo entre as substâncias, por meio da contribuição
mútua entre os componentes da planta (Davis 1993). Entre os constituintes da A.
barbadensis, destacam-se os polissacarídeos acemanan e glicomanan, que atuam como
imunomoduladores, enquanto a antraquinona aloe-emodina acarreta nas atividades
antitumorais (Pecere et al. 2000, Lissoni et al. 2009).
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No presente trabalho, os resultados encontrados apóiam grande parte de relatos
da comunidade científica em relação às propriedades benéficas de A. barbadensis,
sugerindo seu consumo como forma de prevenção e manutenção da saúde. Diante do
exposto, indica-se também intensificação nas pesquisas sobre o uso interno contínuo
dessas plantas.
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