COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Avaliação da estabilização de solos com cal para fins rodoviários por meio do ensaio expedito para classificação MCT – Método das Pastilhas Camila Belleza Maciel Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Florianópolis, Brasil. [email protected] Ângela Grando Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Florianópolis, Brasil. [email protected] Rafael Augusto dos Reis Higashi Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, Brasil. [email protected] Cesar Schmidt Godoi Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil. [email protected] Marciano Maccarini Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Florianópolis, Brasil. [email protected] Masato Kobiyama Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Florianópolis, Brasil. [email protected] RESUMO: O Brasil possui aproximadamente 1.580.813 km de estradas distribuídas nas diferentes regiões, das quais aproximadamente de 87% não são pavimentadas (DNIT, 2009). Desta forma, além das características do solo adequadas como capacidade de suporte, expansão e permeabilidade, as questões ambientais também devem ser levadas em contas. A não adequação dessas características geotécnicas, além da instabilidade do solo em presença d’água, podem ser fatarores desencadeadores de fortes processos erovivos em estradas não pavimentadas. Neste artigo foi avaliada a estabilização química de um solo utilizado na construção e adequação de estradas não pavimentadas no município de Rio Negrinho, planalto norte catarinense. O teor ótimo de cal foi definido pelo Método de Eades e Grim – Método do pH. Este método permite, por meio da determinação do pH de uma mistura de solo, água e porcentagens determinadas de cal, definir o teor ótimo de cal para estabilizar o solo em questão. Após a determinição do teor ótimo de cal (7%), o solo foi classificado por meio do ensaio expedito de classificação MCT (Miniatura Compactada Tropical) no teor ótimo de cal, nas porcentagens de cal 4%, 5%, 6%, 8%, 9% e 10%, além da classificação do solo em estado natural. O solo natural foi classificado como não laterítico, ou seja, não apresenta um bom comportamento compactado. Os solos deste grupo caracterizam-se por terem capacidade de suporte baixa, baixo módulo de resiliência, elevada erodibilidade, elevada expansibilidade, elevado coeficiente de absorção e permeabilidade média. Após a adição de cal ao mesmo solo, este passou a ser classificado como laterítico nas amostras com teores de cal acima do estabelecido pelo método do pH como sendo o teor ótimo (7%), obtendo resultados satisfatórios para a utilização em estradas não pavimentadas. PALAVRAS-CHAVE: Classificação MCT, Método das Pastilhas, Estabilização de Solo. 1 INTRODUÇÃO 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. FINS RODOVIÁRIOS De acordo com os dados publicados em 2009 pelo DNIT, no documento intitulado “Relatório de Extensões do Sistema Rodoviário Nacional”, a rede de estradas do Brasil é composta por 1.580.813 km de rodovias, incluindo rodovias federais, estaduais e municipais (Tabela 1). Deste total, apenas 13,44% são pavimentadas e o restante, 1.368.371,7 km, são constituídas por estradas não pavimentadas (86,56%). No sul do país este número é ainda maior, correspondendo a 88% do total de estradas. De acordo com o Manual de Pavimentação do DNIT (2006), a estabilização das camadas da pavimentação ocorre por compactação de um material ou mistura de materiais que apresentem uma granulometria apropriada e índices geotécnicos específicos, fixados em especificações. Segundo Guimarães (2002), quando o solo não possui as características geotécnicas exigidas para suportar a obra projetada, principalmente quanto à sua resistência, tornase necessário corrigi-lo ou substituí-lo por outro, com a adição ou subtração de componentes, ou com a ação de agentes químicos. A escolha da técnica, denominada estabilização de solo, deve ser baseada na economia e ainda na finalidade da obra. De acordo com Caputo (2008), a estabilização de solos para fins rodoviários pode ser agrupada em duas categorias: estabilização mecânica e estabilização por aglutinantes (estabilização química). Na estabilização mecânica, a granulometria do solo é conservada ou corrigida pela mistura de um ou mais solos, antes da compactação, com o intuito de aumentar a coesão e/ou o ângulo de atrito interno do solo. Na estabilização química, adiciona-se ao solo uma substância que aumente a sua coesão ou que o impermeabilize, impedindo a redução da resistência pela ação da água. Entre os tipos de estabilização química utilizados em estradas estão o solo-cimento, solo-cal, estabilização betuminosa, etc. O tipo da estabilização escolhida depende das propriedades do solo no estado natural, das propriedades desejadas para o solo estabilizado e dos efeitos no solo após a estabilização (Corrêa, 2008). A resistência mecânica dos solos e misturas pode ser avaliada pelo índice de suporte Califórnia (ISC ou CBR), em que, além do valor da capacidade de suporte de amostras deformadas, obtém-se, também, o valor da expansão que, segundo Nogami e Villibor (1995), tem sido um parâmetro de grande importância em obras viárias (Pereira et al, 2006). Tabela 1 - Rede Rodoviária do Brasil Regiões Brasileiras Pavimentadas Não Pavimentadas km Total km % % km Norte 17.779,5 15,75 95.108,5 84,25 112.888,0 Nordeste Sudeste Sul CentroOeste 56.134,6 69.917,0 40.146,5 15,41 13,30 11,98 364.244,0 455.724,9 294.826,5 84,59 86,7 88,01 420.378,6 525.641,9 334.973,0 28.464,4 15,22 158.467,8 84,78 186.932,2 Em Santa Catarina, este número chega próximo a 89% do total de estradas existentes, incluindo rodovias federais, estaduais e municipais, como pode-se verificar na Tabela 2. Tabela 2 - Rede Rodoviária em Santa Catarina Rodovias Pavimentadas km % Não Pavimentadas km % Total km Federais 2.248,1 98,3 38,9 1,7 2.287,0 Estaduais Municipais Total km 3.811,6 914,6 6.974,3 68,24 1,7 11,29 1.773,5 52.977 54.789,4 31,76 98,3 88,7 5.585,1 53.891,6 61.763,7 Os materiais utilizáveis na construção, recuperação e conservação de rodovias não pavimentadas são, na maioria das vezes, encontrados nos próprios trechos ou em jazidas próximas aos mesmos. Em cada região, a escassez ou abundância destes materiais depende quase que exclusivamente das características geológicas e pedológicas locais (Higashi, 2008). Por sua natureza linear, uma rodovia pode atravessar uma grande variedade de solos, que apresentam diferentes características e propriedades distintas, e podem responder diferentemente às solicitações impostas pelas obras de engenharia. 2 ESTABILIZAÇÃO DE SOLO PARA 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 3 ÁREA DE ESTUDO A área de estudo corresponde à uma fazenda de reflorestamento destinada à produção de Pinus taeda (Figura 1). Esta fazenda está situada no planalto norte do Estado de Santa Catarina, entre os municípios de Rio Negrinho e Doutor Pedrinho. A região apresenta uma altitude média de 792 m e uma precipitação média anual de 1.572 mm.ano-1 (Kobiyama et al., 2004). Figura 2 – Distribuição granulométrica do solo com e sem defloculante Pela classificação HRB – Sistema Rodoviário de Classificação, o solo da jazida caracteriza-se como argiloso. Segundo a classificação SUCS – Sistema Unificado de Classificação do Solo, o solo da jazida analisada caracteriza-se como solo argiloso pouco plástico. Após uma prévia classificação física do solo, foram realizados os ensaios de compactação (NBR 7182/1986) e o ensaio para determinação do Índice de Suporte Califórnia, tendo por base a norma NBR9895/1987. Este último ensaio é realizado para avaliação da resistência a penetração e medição da expansão. Figura 1 – Estrada pertencente à área de estudo 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Caracterização Geotécnica 4.2 Estabilização do Solo com Cal Com o objetivo de avaliar o comportamento destes solos adotando a estabilização com cal como técnica de estabilização de solos, foi utilizado o Método de Eades e Grim – Método do pH. Este método permite, por meio da determinação do pH de uma mistura de solo, água e porcentagens determinadas de cal, definir o teor ótimo de cal para estabilizar o solo em questão. Foi utilizada neste estudo cal cálcica hidratada (CH-I). O menor teor que conduz a um pH de 12,4 é o teor necessário para estabilizar o solo, ou seja, na mistura há cal suficiente para toda a fase rápida e para dar início às reações pozolânicas, as quais consomem mais cal. Após a determinação do teor ótimo de cal, foi realizado o ensaio para determinação do Índice de Suporte Califórnia – CBR, além do ensaio expedito para classificação MCT – Miniatura Compactado Tropical, proposto por Nogami e Foi realizado o ensaio de análise granulométrica de acordo com a NBR 7181/1984 – Solo: Análise Granulométrica com o solo utilizado na construção e adequação de estradas dentro da área de estudo. Foram utilizadas amostras de solo em estado natural, com e sem a adição de defloculante Hexa-metafosfato de sódio. Segundo este ensaio, o solo analisado apresenta maiores porcentagens de silte (57,52 % do total com a utilização do defloculante Hexametafosfato de sódio). De acordo com esta análise, este material possui ainda 19,67% de argila, 14,79% de areia fina, 6,1% de areia média, 1,11 % de areia grossa e 0,81% de pedregulho, conforme a Figura 2. 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Villibor (1994). Este último ensaio foi realizado para três teores de cal acima do teor ótimo e três teores de cal abaixo do teor ótimo encontrado. Este ensaio, conhecido por Método das Pastilhas, permite a classificação do solo, por meio do comportamento de pastilhas moldadas em anéis de aço inox ou PVC de 20 mm de diâmetro interno e 5 mm de altura. Este método classifica os solos em duas grandes classes: os lateríticos e os não lateríticos. 5 Após determinada a umidade ótima do solo natural por meio do ensaio de compactação, foi possível realizar o ensaio do Índice de Suporte Califórnia, com e sem imersão em água. Este ensaio foi realizado com solo natural e solo com 7 porcentagens de cal, conforme Figura 3. RESULTADOS 5.1 Classificação MCT – Método Expedito das Pastilhas O solo utilizado nas estradas da área de estudo foi classificado como NS`-NA` (Sitoso – Arenoso Não Laterítico), ou seja, não apresenta um bom comportamento compactado. Os solos deste grupo caracterizam-se por terem capacidade de suporte baixa, baixo módulo de resiliência, elevada erodibilidade, elevada expansibilidade, elevado coeficiente de absorção e permeabilidade média. Após a adição de cal ao mesmo solo, este passou a ser classificado como laterítico em amostras de solos com teores de cal acima do estabelecido pelo método do pH como sendo o teor ótimo (7%). Em seguida foram realizados ensaios com 4, 5, 6, 8, 9 e 10% de cal, obtendo os resultados conforme a Tabela 3. Figura 3 – Resultados do Ensaio CBR com e sem imersão O solo no estado natural apresentou CBR de 21% com imersão em água e 23% sem imersão em água. Já o solo melhorado com cal, com teor de 7% de cal (teor ótimo obtido por meio do método do pH), apresentou CBR de 69% com imersão e 59% sem imersão. O solo com teor de 6% de cal atingiu valores próximos a este, atingindo 68% com imersão e 54% sem imersão. 6 Os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que a dosagem da cal obtida por meio do método do pH mostrou-se válida, sendo uma metodologia adequada para dosagem de cal para melhoria dos solos tropicais, sendo verificada pelo Método das Pastilhas. A adição de cal no solo utilizado na construção e adequação de estradas não pavimentadas modificou a estrutura do solo, passando de material siltoso/argiloso para um material arenoso, confirmando que o aditivo reage com o solo através das reações pozolânicas, tornando o mesmo, viável para uma camada compactada. O ensaio CBR permitiu a verificação da melhoria da resistência mecânica do solo após a adição de cal hidratada. Por meio do mesmo Tabela 3 – Resultados do Ensaio de Classificação MCT Penetraçã Contraçã Cal Classificação MCT o o 6% 5,0mm 0,1mm NS' - NA' –Siltoso - Arenoso Não Laterítico NS'-NA' – Siltoso - Arenoso Não Laterítico NA-NS' - Arenoso – Siltoso Não Laterítico NA'-NS'- Arenoso – Siltoso Não Laterítico 7% 0,0mm 0,4mm LA- LA'- Arenoso – Laterítico 8% 0,0mm 0,2mm LA- Arenoso Laterítico 9% 0,0mm 0,1mm LA- Arenoso Laterítico 10% 0,0mm 0,7mm LA'- Arenoso Laterítico 0% 5,0mm 0,8mm 4% 4,0mm 0,4mm 5% 3,0mm 0,3mm 5.2 CONCLUSÃO Índice de Suporte Califórnia e Expansão 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. ensaio pode-se observar que com uma porcentagem de 6% de cal os índices se aproximam muito ao teor considerado ótimo pelo método do pH. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181/84: solo - análise granulométrica. Rio de Janeiro, 1984. 13 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7182/86: solo – Ensaio de compactação. Rio de Janeiro, 1986. CAPUTO, H.P. Mecânica dos solos e suas aplicações, volume 2. 6 ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: LCT, 2008. CORRÊA, J.F. Avaliação das melhorias das propriedades físicas e mecânicas de solos originados de rochas sedimentares pela adição de cal para fins de pavimentação. Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil UFSC. Florianópolis, 2008. 131p. DNIT - Departamento Nacional de Infra-Estrutura dos Transportes – Ministério dos Transportes. Manual de pavimentação Publicação IPR-719. 3ª. Ed. Rio de Janeiro, 2006. 274p. DNIT - Relatório de Extensões do Sistema Rodoviário Nacional, versão 2009. Disponível em: http://www.dnit.gov.br/menu/rodovias/planejamento/ PNV2009_JULHO_TOTAIS_GERAIS.pdf. Acesso em 10/09/09. GUIMARÃES, J.E.P. A Cal: fundamentos e aplicação na Engenharia Civil. Associação Brasileira dos Produtores de Cal - 2ª Ed. São Paulo, 2002. HIGASHI, R.R. Metodologia de uso e ocupação dos solos de cidades costeiras brasileiras através de SIG com base no comportamento geotécnico e ambiental. Tese apresentada à Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, 2006. KOBIYAMA, M.; FRUET, D.; LIMA, R.T.; CHAFFE, P.L.B. Estudo hidrológico comparativo entre três pequenas bacias experimentais no município de Rio Negrinho – SC: (1) Descrição. In: V Simpósio Nacional de Geomorfologia. Santa Maria: Anais 2004. NOGAMI, J.S.; VILLIBOR, D.F. Identificação expedita dos grupos de classificação MCT para solos tropicais. Anais do 10° COBRAMSEF – ABMS, Vol. 4, p. 1293-1300. Foz do Iguaçu, 1994. 5