UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Artes e Letras O Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira: Análise do agendamento de ambos os jornais Cláudia Sofia Camacho Henriques Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Jornalismo Orientadora: Prof. Doutora Anabela Gradim Covilhã, Outubro de 2010 Universidade da Beira Interior Departamento de Artes e Letras O Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira Análise do processo de agendamento de ambos os jornais Tese de Mestrado Jornalismo Trabalho efectuado sob a orientação da Professora Doutora Anabela Gradim AGRADECIMENTOS Este trabalho foi apenas possível graças ao enorme auxílio que me foi prestado por várias pessoas e entidades, a quem não quero deixar de prestar o meu reconhecimento. À Professora Anabela Gradim apraz-me agradecer o excelente apoio e orientação manifestada ao longo da dissertação. À Universidade da Beira Interior, esta magnífica instituição que me acolheu estes anos que cá passei. Aos meus pais, em especial à minha mãe que foi o meu suporte estes anos todos e que me apoiou incondicionalmente nesta etapa. Ao meu namorado pelo apoio, compreensão e paciência. Aos meus irmãos e amigos pelo apoio e amizade que fizeram com que esta etapa fosse mais agradável. O meu sincero agradecimento a todas estas pessoas que contribuíram para a concretização desta dissertação, estimulando-me intelectual e emocionalmente. Na vida não vale tanto o que temos Nem tanto importa o que somos Vale o que realizamos Com aquilo que possuímos E, acima de tudo importa O que fazemos de nós. Francisco Cândido Xavier LISTA DE SIGLAS DN- Diário de Notícias DNM- Diário de Notícias da Madeira R.A.M.- Região Autónoma da Madeira ÍNDICE DE TABELAS Quadro I- Categorias Temáticas do DN Quadro II- Categorias Temáticas no DN da Madeira Quadro III- Categorias Temáticas do DN Quadro IV- Categorias Temáticas no DN da Madeira ÍNDICE ABSTRACT ........................................................................................................................... 8 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................10 CAPÍTULO I - HIPÓTESES E METODOLOGIA .............................................................14 1.1. Objectivos e hipóteses de investigação ......................................................................................... 14 1.2. Constituição e descrição do corpus de análise............................................................................... 14 1.3. Categorização dos dados ............................................................................................................... 15 1.4. Tratamento dos dados .................................................................................................................. 16 CAPÍTULO II - BREVE HISTÓRIA DOS “DIÁRIOS DE NOTÍCIAS” ...........................18 2.1. Diário de Notícias .......................................................................................................................... 18 2.2. Diário de Notícias da Madeira ....................................................................................................... 22 CAPÍTULO III - INFORMAÇÃO NOTICIOSA .................................................................29 3.1. A Importância da Imprensa Escrita na vida dos portugueses ......................................................... 29 3.2. A Informação dada pelos diferentes jornais .................................................................................. 33 CAPÍTULO IV - OS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS ..................................................................37 4.1. Alinhamento de cada um dos jornais ............................................................................................ 37 4.2. Organização e estrutura das notícias ............................................................................................. 40 4.3. Análise da constituição e conteúdo das notícias ........................................................................... 42 4.4. Agenda-setting dos diferentes jornais ........................................................................................... 43 CAPÍTULO V - ESTUDO EMPÍRICO E ANÁLISE DOS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS.......46 5.1. Resultados e análise dos dados empíricos ..................................................................................... 46 CONCLUSÃO .......................................................................................................................55 ANEXOS .............................................................................................................................. 58 ANEXO I- CAPAS DOS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS DE OUTUBRO DE 2009 .................59 ANEXO II- CAPAS DOS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS DE JANEIRO DE 2010 ...................73 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................87 Abstract Este trabalho pretende contribuir para o estudo da imprensa em Portugal, e pretende fazê-lo abordando os processos de agendamento do Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira. Para a concretização deste estudo optou-se por analisar comparativamente os dois jornais diários em dois meses escolhidos de forma aleatória e pretendeu-se avaliar até que ponto o Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira dariam a mesma informação, ou verificar se antes as suas agendas seriam marcadas pela diferença e diversidade. Em ambos os jornais encontraram-se marcas de proximidade com os respectivos leitores, que constituindo grupos „sociologicamente‟ muito distintos, determinam naturalmente agendas fortemente diferenciadas nas duas publicações analisadas. Palavras-chave: Imprensa, Jornais, Diário de Notícias, Diário de Notícias da Madeira, agenda-setting 8 ABSTRACT This work aims to study the press in Portugal, as it approaches the scheduling of the Diario de Noticias and Diario de Noticias da Madeira. The object of this study was to analyze comparatively the two newspapers in two months, and intended to evaluate to what extent the Diario de Noticias and Diario de Noticias da Madeira would share the same agenda, or, on the contrary, would give their readers different information. The research found out marks of the proximity of both newspapers agenda with their readers, which accounts for the difference and diversity of both agendas. Keywords: press, newspapers, Diário de Notícias, Diário de Notícias da Madeira, agenda-setting 9 INTRODUÇÃO A presente dissertação pretende analisar os valores-notícia que orientam o processo da agenda-setting1 no Diário de Notícias e no Diário de Notícias da Madeira. Este case study pareceu-me especialmente interessante porque se ocupa do estudo e análise do funcionamento do processo de agendamento de ambos os Diários de Notícias – jornais que por terem o mesmo nome, teoricamente teriam o mesmo nível de rigor e qualidade jornalística. O estudo parte do princípio que se o processo de agendamento num jornal e os valores notícia que o norteiam fosse totalmente „objectivo‟, a agenda de ambos os diários de notícias deveria ser significativamente semelhante. Com este estudo, espera-se obter uma compreensão do conceito de agendamento, assim como as características, semelhanças e diferenças existentes na agenda dos jornais analisados. Como hipóteses para o presente trabalho são formuladas as seguintes: Existem diferenças no processo de agendamento de ambos os Diários de Notícias, e ao longo deste trabalho serão analisadas as respectivas diferenças e semelhanças entre os Diários. Essas diferenças verificam-se pela necessidade de o jornal se adaptar aos seus públicos, e seriam menores se o processo de agendamento fosse determinado por valores-notícia „objectivos‟. Notar-se-á que existe uma certa tendência para privilegiar a notícia política, em ambos os jornais. Tal facto deve-se à proximidade que faz com que a notícia local ou nacional seja mais ou menos importante, mediante os leitores a que se destina. 1 Agenda-setting é o vocábulo utilizado para designar o estudo do poder de agenda dos meios de comunicação, ou seja, a capacidade que estes possuem para evidenciar jornalisticamente um determinado assunto. Investigam a importância dos media como mediadores entre o indivíduo e uma realidade da qual este se encontra distante 10 Para tal, o trabalho foi iniciado com uma pesquisa, recolha e compilação de todas as informações necessárias para a realização e uma melhor compreensão dos objectivos desta dissertação. Seguidamente foi iniciada a fase de selecção e apuramento da metodologia a qual, para Fortin2 “operacionaliza o estudo, precisando o tipo de estudo, as definições operacionais das variáveis, o meio onde se desenrola o estudo e a população.” Ainda segundo a mesma autora a definição da metodologia também consiste em precisar como será feita a integração da questão em estudo num plano trabalho, o qual estabelecerá o conjunto de actividades que irão conduzir à realização da investigação. Para a selecção do corpus empírico, ou seja, dos materiais a analisar, escolheram-se dois meses distintos, Outubro de 2009 e Janeiro de 2010, tendo sido feitas recolhas e posterior análise de todos os jornais produzidos por ambas as publicações no período em análise. Todos os meios que fazem com que a notícia chegue ao público são jornalismo. Na base deste processo estão a elaboração, a periodicidade e a persistência. Rui Barbosa3 considera que “a imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça”. Segundo Jefferson o carácter de um jornal é muitas vezes medido pela resistência que oferece às pressões políticas e económicas. Quanto mais independentes e livres são os veículos de informação, mais crescem na confiança do público, que sabe distinguir entre a controvérsia da tendenciosidade. O estudo dos efeitos dos meios de comunicação tem importância para a sociedade, uma vez que permite compreender como estes meios trabalham na formação da opinião pública. 2 FORTIN, Marie Fabienne (1999), O processo de investigação, da concepção à realização, Loures, Lusociência – Edições Técnicas e Científicas Lda. p. 108 3 BARBOSA, Rui. (1990), A imprensa e o dever da verdade. São Paulo: Com-Arte; Editora da Universidade de São Paulo, 80 p. 11 É inegável a influência dos meios de comunicação no quotidiano das pessoas. As conversas interpessoais entre as pessoas são sugeridas pelos jornais, televisão, rádio e internet, propiciando aos receptores a hierarquização dos assuntos que devem ser pensados e falados. Consequentemente, a realidade social passa a ser representada por um cenário montado a partir dos meios de comunicação de massa. A corrente de investigação que estuda sobre o quê e como os assuntos devem ser “pensados” é a hipótese do agenda-setting. Neste trabalho procuro mostrar como a escolha dessa agenda depende mais do público a que o jornal se destina, do que do universo do objectivamente noticiável que efectivamente o rodeia. No capítulo I, falarei dos objectivos e hipóteses de investigação na presente dissertação, e porque escolhi para objecto de análise dois jornais de imprensa diária: o Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira. Explicarei a constituição e descrição do corpus de análise e de toda a fase metodológica que foi indispensável para este estudo. No capítulo II, abordou-se a história de ambos os Diários de Notícias, os seus fundadores e o progresso que estes jornais têm vindo a ter, bem como todo um conjunto de instrumentos teóricos que são necessários para o tema que me predispus a desenvolver nesta dissertação. No capítulo III, debrucei-me sobre a importância da imprensa escrita na vida dos portugueses e da informação dada pelos Diários de Notícias, jornais que apesar de terem o mesmo nome, têm diferentes processos de agendamento. Em ambos os jornais encontraram-se marcas de proximidade com os respectivos leitores, que constituindo grupos „sociologicamente‟ muito distintos, determinam naturalmente agendas fortemente diferenciadas nas duas publicações analisadas. O capítulo IV, relata o alinhamento de cada um dos jornais, sendo que para isso falarei dos valores-notícia de cada um dos Diários de Notícias. Para isso incluí a estrutura das notícias dos diferentes jornais e o agenda-setting dos mesmos. Por último, no que toca ao estudo de caso, apresentarei os resultados e análise dos dados empíricos, as categorias temáticas dominantes em ambos os Diário nos meses 12 de Outubro de 2009 e Janeiro 2010, e analisarei quais as personagens mais referenciadas nessas notícias. 13 CAPÍTULO I - Hipóteses e Metodologia 1.1. Objectivos e hipóteses de investigação Neste estudo foram analisados os alinhamentos dos dois Diários de Notícias, com a finalidade de verificar se existiam diferenças entre estes dois tipos de jornais, nomeadamente no que concerne aos seguintes aspectos: - Páginas dedicadas a cada categoria temática; - Critérios de noticiabilidade; - Peso relativo dos conteúdos de interesse do público; - Tendência dominante nas notícias transmitidas (positivas/negativas); - Construção da notícia (simples ou complexa); - Personagens que mais aparecem como centro das notícias; - Notícia de abertura (manchete) em cada um dos jornais. 1.2. Constituição e descrição do corpus de análise A análise feita do Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira incidiu sobre os meses de Outubro de 2009 e Janeiro de 2010, o que fez com que o total de cada jornal impresso analisado fosse de 62 (31 jornais em cada mês); ou seja, de 124 para a totalidade da amostra. Sendo que o Diário de Notícias tem em média sessenta páginas, que podem variar consoante o dia da semana foram analisadas 1860 páginas, as quais juntamente com o Diário de Notícias da Madeira perfazem um total de 3720 páginas. Em média cada jornal tem entre sete a doze notícias por página, por isso, pode-se fazer uma estimativa de que foram analisadas pelo menos cerca de 1240 notícias em ambos os jornais. 14 1.3. Categorização dos dados Para estudar as diferenças e semelhanças entre a agenda dos dois Diários de Notícias, foram estabelecidas algumas variáveis de análise, que depois de relacionadas, permitiram verificar essas características ao nível do conteúdo de cada um dos jornais. 1.3.1. Categorias Temáticas Esta variável permitiu a classificação temática dos jornais impressos. Geralmente o jornal é dividido em secções mediante o tema sobre o qual se ocupam. A integração das notícias nas respectivas categorias foi efectuada sempre que apresentavam as seguintes características: Política - Todos os assuntos relacionados com o Estado, Governo, Governo Regional, medidas governamentais, assuntos parlamentares, etc. Todas as actividades que os políticos portugueses desenvolveram dentro e fora do país. Economia – Assuntos que dizem respeito à indústria, comércio, serviços e qualquer acção que tenha influência na estrutura económica. Cultura – Categoria que engloba todas as notícias versando sobre arte, cinema, exposições, música, literatura etc. Desporto – Inclui todas as notícias sobre modalidades e competições desportivas, clubes, jogos, conferências de imprensa com jogadores, eleições para os clubes, etc. Casos do dia - Notícias relativas a indivíduos em situações adversas e incontroláveis que criam uma deslocação radical dos processos rotineiros da vida diária. Fait-divers e casos de polícia são o género de notícias que podem ser incluídas em „Casos do dia‟. 15 Internacional - Nesta categoria incluem-se os acontecimentos protagonizados por estrangeiros, ou seja, que ocorrem fora do território nacional, sejam eles de índole política, desportiva, económica ou cultural. Sociedade – Assuntos do dia-a-dia da sociedade civil. Esta categoria inclui subcategorias tais como: Educação, Saúde, Ciência, Religião, Justiça, Ambiente e Segurança. 1.3.2. Notícia de abertura (manchete) A primeira página de cada jornal constitui uma súmula dos temas mais importantes de que este trata, pelo que a sua análise é relevante. No cruzamento desta variável com as categorias temáticas foi possível identificar quais as notícias que mais aparecem como manchete. 1.3.4. Personagens da notícia Com a variável personagem da notícia pretende-se saber quais as pessoas que mais se destacam em cada categoria temática. Serão criadas subcategorias para as personagens: políticos, artistas, desportistas/dirigentes, religiosos, cidadão comum. 1.4. Tratamento dos dados Através da análise detalhada dos conteúdos de cada um dos jornais em estudo pretende-se compreender as características específicas dos mesmos e o modo como o seu âmbito geográfico e o público a que se destinam determinam diferentes valorizações - diferentes agendas - dos factos noticiosos que ocorreram na vida pública durante o período analisado. 16 Após a categorização e análise dos dados recolhidos, torna-se perceptível como ambos os jornais se procuram adaptar ao seu público e ao seu auditório, moldando a realidade que noticiam às expectativas e interesses desse mesmo público. 17 CAPÍTULO II - Breve História dos “Diários de Notícias” 2.1. Diário de Notícias Antes da queda da Monarquia, em 1910, nasceram grandes clássicos do jornalismo escrito português, como é o caso do Diário de Notícias, que foi fundado no dia 29 de Dezembro de 1864 por Eduardo Coelho, um jornalista conhecido que na altura redigia o noticiário da Revolução de Setembro, e Tomás Quintino Antunes, proprietário da Tipografia Universal. “Tendo-se familiarizado com os trabalhos jornalísticos, na assídua colaboração com as folhas periódicas (...), Eduardo Coelho foi quem, em Portugal, primeiro e mais perspicazmente do que qualquer outro, previu o largo futuro de uma empresa de índole inteiramente nova entre nós, como seria a de um jornal noticioso, genuinamente imparcial e independente, cujo preço estivesse ao alcance de todas as bolsas e cujo programa e cujos processos se assemelhassem aos de alguns periódicos estrangeiros de sua particular predilecção”4. O Diário de Notícias, como o próprio nome indica foi criado com o desígnio de relatar a vida nacional e os acontecimentos de maior importância de todos os países, podendo ser considerado um jornal diário de informação generalista e interesse universal. Em 1864, quando a maior parte dos jornais faziam questão de mostrar a sua veia de combate político, o Diário de Notícias apostou na sobriedade informativa, rigor e imparcialidade. Eça de Queirós foi um importante colaborador nos primeiros anos do Diário, o que fez impulsionar bastante o jornal. Assim como o pai de Fernando Pessoa, Joaquim de Seabra Pessoa, que foi também um crítico musical do jornal. É importante realçar também que, durante o Verão Quente de 1975, José Saramago foi director ajunto do Diário de Notícias. 4 CUNHA, Alfredo (1891), “Eduardo Coelho, a sua vida e a sua obra. Alguns factos para a história do jornalismo português”, Lisboa, Tipografia Universal, p.53. 18 Por todas estas razões, desde há muito o Diário de Notícias é considerado um dos jornais de referência em Portugal, tendo actualmente uma tiragem média de 34 mil exemplares. O Diário de Notícias anuncia-se como “uma compilação cuidadosa de todas as notícias do dia, de todos os países e de todas as especialidades, ou seja, um noticiário universal. Em estilo fácil e com a maior concisão, informa o leitor de todas as ocorrências interessantes, assim de Portugal como das demais nações, reproduzindo à última hora, todas as novidades políticas, científicas, artísticas, literárias comerciais, industriais, agrícolas, criminais e estatísticas. Não discute políticas, nem sustenta polémica. Regista com a possível verdade todos os acontecimentos, deixando ao leitor, quaisquer que sejam os seus princípios e opiniões, comentá-los como melhor lhes parece. Escrito em linguagem decente e urbana, as suas colunas são absolutamente vedadas à exposição dos actos da vida particular dos cidadãos, às injúrias e às alusões desonestas. É pois um jornal de todos e para todos, para os pobres e ricos, de ambos os sexos e de todas as condições, classes e partidos”. 5 Uma das características que caracterizam o DN é a imparcialidade que este jornal tem vindo a ter ao longo da sua existência. Por ser acessível a todos, o seu conteúdo é de interesse geral, sendo compreensível por todos, e acessível a todas as classes sociais. Aquando da primeira edição do jornal, em 1864, o modelo adoptado pelos fundadores foi o que já era habitual em Inglaterra, França, Bélgica e Espanha, e que permitia, através de anúncios pagos, explorar todos os tipos de publicidade, assim se criando um novo mercado. Até ao aparecimento do DN, a publicidade em jornais era escassa. Uma vez mais o jornal veio alterar este panorama e fez com que a publicidade entrasse nos hábitos diários da sociedade. Chegou a ser criado um espaço próprio para a publicidade no Diário de Notícias, o que fez com que este alcançasse a tabela de preços mais barata dos jornais da Europa. Foi numa manhã fria de 1864 que ao som de “compre aqui o seu Diário de Notícias” surgiu uma nova profissão em Portugal, a de ardina ou vendedor de jornais. Esta profissão foi evoluindo com o passar dos tempos, todavia foi graças ao DN que se 5 CUNHA, Alfredo (1914), “O Diário de Notícias. A Sua Fundação e os Seus Fundadores”. 19 fundou a associação de socorros mútuos e escolares dos vendedores de jornais. Esta pequena associação foi subsidiada por aquele mesmo jornal. O Diário de Notícias introduziu também em Portugal dois novos géneros jornalísticos: o editorial e a reportagem. O seu primeiro editorial surgiu em 1868 (quatro anos após a fundação) na rubrica “Assunto do Dia”. As primeiras reportagens feitas serviram para cobrir acontecimentos como incêndios em Lisboa ou Porto, assim como acidentes quotidianos. Foi, também, graças a este jornal que se desenvolveram as artes gráficas em Portugal com o uso da máquina rotativa Marinoni6, apesar de mais tarde esta ter sido substituída por uma maior, a Augsburg7 O Diário de Notícias fomentou várias acções de beneficência em instituições de apoio, dirigidas aos mais pobres, crianças abandonadas e doentes, estudantes com dificuldades económicas, hospitais e creches. É de realçar ainda o facto de este jornal ter apoiado as vítimas do terramoto de Benavente em 1909. Os donativos resultantes da campanha conduzida pelo jornal foram encaminhados para a construção de um bairro com o nome Diário de Notícias, e o rendimento obtido com as rendas serviam para apoiar o sustento das crianças da vila. Qualquer calamidade pôde contar com o apoio incondicional deste jornal, quer esta fosse nacional, quer fosse internacional, como aliás aconteceu no terramoto de Agadir, que arrasou aquela povoação marroquina. Neste acontecimento, também o jornal fez uma subscrição a favor das vítimas. O Diário de Notícias teve desde sempre um grande impacto a nível nacional e assumiu acções culturais relevantes tais como comemorações de acontecimentos históricos caídos no esquecimento da sociedade. Evidencia-se nesta ordem o poeta Camões, “exortado nas colunas do jornal em 10 de Junho de 1865. Mais tarde, em 1880 o DN distribuiu uma edição de “Os Lusíadas”, 6 Hippolyte Marinoni inventou a rotativa máquina em 1866, que revolucionou o processo de impressão ao imprimir 10.000 exemplares/hora e necessitando apenas de três operários. 7 A máquina de impressão Augsburg imprimia tiragens de 12000, 24000, 48000 exemplares/hora 20 gratuitamente aos seus leitores assim como uma homenagem ao grande poeta; assim como foi distribuído um exemplar a cada escola primária do então, Reino de Portugal”. 8 A pessoa que mais cooperou com a realização das celebrações do tricentenário de Camões, 1880, assim como com o Congresso das Associações Portuguesas foi Eduardo Coelho, então director do Diário de Notícias. Pode dizer-se que desde a sua fundação, todas as datas históricas nacionais e internacionais de maior importância foram registadas pelo DN. Outro aspecto relevante acerca da acção deste jornal foi o seu contributo para a expansão da instrução popular, pois o jornal desde sempre soube incutir o gosto pela leitura na população. Após seis anos de existência, o DN contava com cerca de 1500 artigos: história nacional e universal, geografia, cronologia, artigos biográficos e bibliográficos, economia, social, história sagrada, higiene popular, artigos de química, física e medicina, entre muitos outros. Contudo, foi no ano de 1931 que o Diário de Notícias atingiu o seu auge ao iniciar uma campanha contra o analfabetismo. A esta campanha aderiram não só poetas, professores, e jornalistas, mas também associações, faculdades, o bispo do Porto e outras figuras conhecidas. Com tudo isto, também o governo na altura criou cursos nocturnos de modo a instruir os analfabetos. Houve uma adesão enorme ao longo do país, assim como um entusiasmo ainda maior por parte dos destinatários de tais acções. Este aspecto, o da difusão da instrução popular, foi sempre uma grande preocupação partilhada pelo DN. 8 PACHECO, Óscar, “Pequena história de um grande Jornal: I Congresso do Diário de Notícias" 21 Todos os grandes acontecimentos nacionais e internacionais passados nos últimos séculos ficaram registados e muitas vezes detalhadamente referidos nas colunas do Diário de Notícias. Nas páginas do Diário de Notícias estão arquivadas entrevistas com algumas das mais notáveis figuras da história mundial como por exemplo os papas Bento XV e Pio XI, chefes de estado como Afonso XIII, rei de Espanha, príncipe Alberto do Mónaco, assim como outras figuras de enorme influência. O Diário de Notícias promoveu também vários congressos, entre eles os da Imprensa Latina, dos quais o primeiro foi realizado em Lyon, França, e o segundo em Lisboa. Este jornal diferenciou-se aquando da sua primeira publicação dos restantes jornais portugueses pois os seus conteúdos noticiosos eram diferentes, o seu estilo era claro, conciso e simples, o seu aspecto, mais precisamente a paginação, foi remetido a quatro colunas e não a duas ou uma o que naquela altura era habitual, a sua dimensão era já específica de “jornal” e não de livros ou panfletos como era costume nos outros jornais, entre muitas outras características que contribuíram para o destacar no âmbito das publicações nacionais. Através da sua extensa história, o DN provou ser, ao longo dos anos, um jornal independente e interclassista, que é lido tanto pelas elites como pelas pessoas ditas comuns e classes populares, por homens e mulheres, jovens e idosos, devido à sua grande variedade de conteúdos. Sendo as características mestres do Diário de Notícias a imparcialidade, a sobriedade e o rigor jornalístico, foram estas qualidades que fizeram com que este jornal se tornasse uma voz activa e eficaz junto da população e representasse a mesma. 2.2. Diário de Notícias da Madeira “Dia sem Diário não é dia”. São muitas as pessoas que concordam com este dito pois a história do Diário de Notícias da Madeira acompanha de perto a história recente 22 de Portugal: o matutino noticiou revoluções, acompanhou a queda da Monarquia, a Implantação da República, atravessou a ditadura, passou por crises, nomeadamente durante a II Guerra Mundial, noticiou o 25 de Abril, e informou os portugueses ao longo dos anos sobre o quotidiano do seu povo, do seu país e dos outros. O Diário de Notícias da Madeira é uma instituição com peso social e político relevante na sociedade madeirense. É um jornal diário que foi pela primeira vez publicado no dia 11 de Outubro de 1876 na cidade do Funchal, ilha da Madeira, tendo como impulsionador o cónego Alfredo César de Oliveira, «homem de uma cultura exímia, energético parlamentar tomou as directrizes de um projecto que ainda hoje se mantém actual e a par das evoluções técnicas do sector, prestigiado e afirmativo, com uma grande vontade de modernização». A escrita objectiva é uma das características do DN da Madeira. Este jornal relatou ao longo dos anos histórias simples, outras complexas, mas sempre procurando informar com elevados padrões que qualidade, em tudo comparáveis aos padrões que norteiam o seu homónimo continental Diário de Notícias. De resto ambos os jornais pertencem ao mesmo grupo económico, a Controlinveste, que é ainda proprietária, entre outros, dos jornais Açoriano Oriental, Jornal do Fundão, Jornal de Notícias, O Jogo, Ocasião, e da TSF e Sport TV. Ao longo do tempo a imagem do Diário de Notícias da Madeira mudou, adaptou-se às novas exigências dos leitores, bem como às inovações tecnológicas que foram surgindo: Abandonou a impressão mecânica optando pelo “offset”9, alterou o seu formato e passou a ser impresso a cores. Soube acompanhar as novas tecnologias e criou novos produtos temáticos. No fundo, perseguiu a sua missão inicial de informar e formar. 9 A impressão offset é um processo cuja essência consiste em repulsão entre água e gordura. O nome offset (fora do lugar) vem do facto da impressão ser indirecta, ou seja, a tinta passa por um cilindro intermediário, antes de atingir a superfície. Este método tornou-se principal na impressão de grandes tiragens 23 O Diário de Notícias da Madeira é o maior jornal diário regional português, com grande expansão entre as comunidades de emigrantes na África do Sul, Venezuela, Brasil e Estados Unidos. “A imprensa regional desempenha um papel altamente relevante, não só no âmbito territorial a que naturalmente mais diz respeito, mas também na informação e contributo para a manutenção de laços de autêntica familiaridade entre as gentes locais e as comunidades de emigrantes dispersas pelas partes mais longínquas do mundo. Muitas vezes, ela é, com efeito, o único veículo de publicitação das aspirações a que a imprensa de expansão nacional dificilmente é sensível; e constitui, por outro lado, um autêntico veículo de difusão, junto daqueles que se encontram fora do País, daquilo que se passa com os que não os quiseram ou não puderam acompanhar. Além disso, tem, por regra, sabido desempenhar uma função cultural a que nenhum órgão de comunicação social pode manter-se alheio.”10. Este excerto retirado do Estatuto da Imprensa Regional mostra a dificuldade que se apresenta a quem pretende decifrar o universo da imprensa regional portuguesa. Ao domingo, o Diário de Notícias da Madeira tem um suplemento muito interessante, a Revista Diário. Destaca-se também outro suplemento, Fim-de-semana, publicado à sexta-feira. É de salientar que este jornal tem site na internet com quase todos os conteúdos disponíveis para os seus leitores. O Diário de Notícias da Madeira já ultrapassou os 130 anos de existência. Estes anos de vida exprimem um grupo de homens de boa vontade, de ideias abertas e de grande dedicação que, em ocasiões diferentes, e muitas vezes perante cenários de difícil contorno, deram o seu melhor, empenhando-se na defesa de um jornal que tem marcado e sido referência da informação na Madeira. A fundação deste matutino foi considerada inicialmente como uma aventura, visto que os promotores do jornal se depararam com uma população maioritariamente iletrada. No entanto pouco a pouco a publicação deste jornal começou a ganhar espaço no combate diário da época. 10 Preâmbulo do Estatuto da Imprensa Regional (Decreto-Lei nº 106/88, de 31 de Março. 24 Assim, no arquipélago da Madeira, o Diário de Notícias conseguiu por fim, afirmar-se diante de uma população que ansiava por mais e que sabia que a evolução e o progresso só chegariam com mais conhecimentos e instrução. No dia 8 de Fevereiro de 1882, seis anos após a primeira edição do DN da Madeira, Alexandre Fernandes Camacho Júnior, que era proprietário do Diário da Manhã, suspendeu o mesmo e adquiriu o Diário de Notícias, levando para este último o estilo do primeiro. O Diário de Notícias da Madeira voltou a mudar de proprietário dois anos depois sendo, que o novo proprietário viria a ser Tristão Câmara. Em 1886, o habitual cabeçalho-gótico11do DN funchalense foi substituído por outro estilo. Nos finais do ano 1896, o Diário de Notícias da Madeira teve a sua sede no centro do Funchal concentrando lá a sua redacção, administração e tipografia. Em 1906, um período que foi difícil na vida política e pública madeirense, este jornal não apresentava no seu cabeçalho o nome do director, apenas o nome do editor, que nessa altura era um tipógrafo conhecido, António André Martins. Na data em que se assinalava a implantação da República, no dia 5 de Outubro de 1910, este matutino madeirense pertencia a João Martins, que era não só proprietário como também editor. Contudo no ano seguinte, 1911, o DN passa a incluir um novo secretário da redacção e editor, Francisco da Conceição Rodrigues. Este jornalista, mais tarde, veio a ocupar a direcção do Diário de Notícias da Madeira, e tornou-se num assumido e activo defensor dos valores democráticos. Nesse mesmo ano, a rede telefónica foi instalada no Funchal, e o matutino madeirense foi um dos primeiros assinantes desta nova linha de progresso. Em 1916 foilhe atribuído o telefone número 32. 11 Os Tipos Góticos são caracterizados pelo seu aspecto condensado e angular, onde a ausência de curvas é quase uma constante, e pelas curtas ascendentes e descendentes 25 Em Março de 1926, a comissão executiva da Câmara Municipal do Funchal homenageou o Diário de Notícias dando esse mesmo nome a uma das ruas mais movimentadas do Funchal. A rua “Diário de Notícias” durou até finais de 1935, visto que foi nessa altura, na época do Estado Novo, que o presidente da Câmara Municipal do Funchal, Fernão de Ornelas, anulou essa denominação, passando a rua a chamar-se “Rua da Alfândega”. Ainda no ano de 1926, o Diário de Notícias da Madeira assinalou meio século de vida. O já acima referido Francisco da Conceição Rodrigues dirigiu o jornal até 1927. Nessa altura foi a vez de Feliciano Soares assumir a direcção e ocupá-la até 1931. Na semana em que surgiu a Revolução da Madeira (4 de Abril até 3 de Maio de 1931)12 um jovem advogado, Alberto de Araújo, substituiu Feliciano Soares e começou a desempenhar a função de director do Diário de Notícias da Madeira, função essa que manteve até Maio de 1974. Durante a Segunda Guerra Mundial, o matutino passou por dificuldades diversas que o grupo “Blandy Brother‟s” soube colmatar com sucesso. Assim, nos anos 50, o DN madeirense dispunha já de uma série de publicações atraentes e versáteis, a sua imagem gráfica havia sido renovada e a actividade publicitária por parte de firmas, marcas ou produtos de qualidade subiu progressivamente. Após a revolução do 25 de Abril de 1974, o Diário de Notícias espelhou todas as mutações na vida dos portugueses em geral, e dos madeirenses em particular. Salientese o facto de que depois da revolução do 25 de Abril de 1974, na ilha da Madeira se mantiveram dois diários locais: o Diário de Notícias, da família Blandy, e o Jornal da Madeira, pertencente à igreja, que mais tarde sofreu influências por parte do governo regional. Em Maio de 1974, Armindo Abreu sucedeu a Alberto de Araújo na direcção do matutino madeirense, todavia permaneceu na direcção deste jornal somente um mês, 12 A crise económica e o desemprego que afectava a Madeira deu lugar à Revolta da Madeira ou Revolta das Ilhas, que foi um movimento militar contra o governo da Ditadura Nacional ocorrido na ilha da Madeira 26 tendo sido substituído pelo sociólogo José Manuel Paquete de Oliveira, combatente assumido pela liberdade e os valores e direitos humanos. Outras figuras passaram na direcção do DN, foi o caso de Sílvio Leonel Ferreira da Silva, que assumiu a direcção em Janeiro de 1981 e manteve-a até Janeiro de 1989. Considerado o maior diário de expansão regionalista do país, o DNM visa servir sempre os seus leitores e anunciantes, e tem vindo a alargar a sua equipa de trabalho. Em Janeiro de 1989 Jorge Figueira da Silva substituiu o jornalista Sílvio Silva e assumiu a direcção do matutino. Este novo director soube ganhar o equilíbrio e manter a capacidade de informar e formar o público madeirense. Em 1993, o Diário de Notícias da Madeira passou por uma remodelação, a estrutura da página foi totalmente mudada, incluindo uma nova imagem corporativa, e uma página a cores. O Diário de Notícias da Madeira e o Diário de Notícias, apesar de terem como elo de ligação o nome, e actualmente o mesmo proprietário, nasceram em tempos e locais diferentes. O matutino madeirense juntou-se a um dos mais importantes grupos da imprensa em Portugal: o Grupo Lusomundo. Nesta junção este diário estabeleceu uma ligação à empresa proprietária do Diário de Notícias de Lisboa e do Jornal de Notícias do Porto. Este jornal tem vindo a ter como característica tiragens bastante expressivas e a cor passou a ser dominante no grafismo a partir de 1993. A revista do diário ao domingo é um marco assinalável, e constituiu como que uma dinamização dos departamentos de venda e de marketing, que completaram uma esfera que hoje agita o panorama regional. No ano de 1997, um jornalista madeirense, Paulo Neves, assumiu a direcção do DN madeirense. Este novo director agitou e rejuvenesceu o respectivo jornal, dado que criou novas secções, enriqueceu temas de foro regional, fez sondagens ao seu público, e mediante as respostas desse mesmo público definiu prioridades para a publicação. 27 Verificou-se igualmente, sob o seu consulado, uma actualização técnica e uma aposta contínua nas novas tecnologias da informação. Este jornal madeirense é um projecto que integra várias componentes. Líder e afirmativo, rege-se pelas mesmas razões que o fizeram mover há quase 134 anos, ou seja, pelos interesses das pessoas. O Diário de Notícias da Madeira retrata o dia-a-dia do seu público e mantém-no informado desde o dia 11 de Outubro de 1876. 28 CAPÍTULO III - Informação Noticiosa 3.1. A Importância da Imprensa Escrita na vida dos portugueses É do conhecimento geral que a imprensa foi criada por Guttenberg no século XV, contudo foi na Suméria e Mesopotâmia no século XVIII a.C. que foram criadas as primeiras reproduções escritas. A partir da invenção de Guttenberg, a imprensa escrita espalhou-se por toda a Europa e teve uma notória evolução até aos dias de hoje, adquirindo um grande poder de influência. O aparecimento da imprensa portuguesa teve início aquando das Guerras da Restauração. “A impressão gerou uma nova actividade económica digna de ser levada em consideração, quer no que respeita à produção de matérias-primas como o papel, quer no que se refere ao comércio do principal dos seus produtos, o livro e, mais tarde, da imprensa periódica”13. O jornalismo e a impressão são dois termos que sempre andaram “de mãos dadas”. As chamadas “Gazetas da Restauração” que surgiram no mês de Novembro de 1641 foram consideradas o primeiro periódico português relatavam as notícias daquela altura. “Com o final da Guerra do Trinta Anos, as nações começaram a consciencializar-se das lutas em favor da hegemonia política da Europa e dos seus sucessos, para daí estabelecerem comparações. Diminuíam assim a distância geográfica e identificavam-se com estes sucessos. Assim, a imprensa periódica portuguesa tornou-se um veículo capaz de transmitir as notícias da história dos povos”14. 13 Quintero, Alejandro Pizarroso, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p. 30 Imprensa em Portugal até ao século XVII. In Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consultado em 2010-01-06]. URL: http://www.infopedia.pt/$imprensa-em-portugal-ate-ao-seculo-xvii 14 29 A Gazeta15 tornou-se, portanto, o principal órgão informativo daquela época contendo notícias vindas do estrangeiro e do país de forma a informar a quem se encontrava fora os rumos da administração pública e da corte. A Gazeta incluía uma secção denominada “Novas de Fora do Reino”, que hoje em dia poderia corresponder ao Internacional António Sousa de Macedo foi considerado o primeiro jornalista português, esta denominação deveu-se ao seu estilo conciso e à sua vasta cultura. Fundou o “Mercúrio Português” que foi publicado pela primeira vez em Janeiro de 1663, uma época em que era necessário incutir alguma réstia de esperança aos portugueses. António de Macedo tentou aproximar a imprensa portuguesa da imprensa europeia. Este periódico manteve maioritariamente as mesmas características da Gazeta, contudo pretendia na altura fazer pressão face a Espanha, de modo a que esta deixasse de atacar Portugal. Tinha por isso, um cariz político mais marcado. “A Regeneração apaziguou os ânimos exaltados da agitada vida política portuguesa que, a partir de então, funcionou como um sistema liberal, (…) Portugal iniciou, além disso, a era da modernização, (…) a entrada em funcionamento do telégrafo melhorou o correio diário e acelerou a difusão e a rapidez das informações”. 16 Houve então uma nova fase da imprensa em Portugal que contou com a colaboração dos mais prestigiados jornais portugueses, nomeadamente o Diário de Notícias. Aos poucos a imprensa foi-se estendendo por todo o país o que fez com que houvesse um aumento de cultura das populações rurais. O aparecimento do Diário de Notícias marcou não apenas a história da comunicação em Portugal mas também o início da sua industrialização. “Numa concepção actualizada de economia de mercado, o aumento da tiragem, com despesas mais ou menos idênticas, preço de custo mais baixo, acessível a um público alargado, 15 A Gazeta de Lisboa foi o primeiro periódico português publicado em Lisboa, em 1641 durante o reinado de D. João IV In Wikipedia 16 QUINTERO, Pizarroso Alejandro, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p.360 30 mais anúncios e mais caros, maior tiragem, menos opinião e mais informação, fez deste periódico um sucesso”.17 A partir de 1864, Portugal contava com uma imprensa “ consideravelmente imbuída pela notícia em oposição à anterior hegemonia da imprensa de opinião”. 18 O Diário de Notícias serviu de exemplo como um dos novos jornais que surgiram no último quartel do século XIX e que marcaram positivamente esse mesmo século. Inicialmente, e porque havia limitações de cariz real, a liberdade da imprensa iniciou-se contra a censura religiosa e estatual, ou seja, lutava pela liberdade de expressão. “Historicamente, a afirmação do jornalismo na Europa, designadamente em França, 19 Holanda e Inglaterra fez-se através do cruzamento dos universos da cultura e da política” . A política esteve sempre entrelaçada com a imprensa e segundo João Figueira, “as páginas dos jornais eram o lugar onde a competição pela apropriação da legitimidade dos discursos tinha lugar e em que o jornalista - às vezes o único redactor – não se limitava a transmitir as palavras que escutava nos debates parlamentares ou nas discussões travadas no interior dos salões, clubes políticos ou gabinetes de leitura: acompanhava o texto de comentários seus, interpretando e colorindo os acontecimentos de que dava conta” 20. A imprensa acompanha desde sempre a história, é como que um veículo de informação que aproxima o público no espaço e no tempo. A partir de 1869 muitos intelectuais portugueses deixaram-se contagiar pelo movimento republicano. “No início da Regeneração, os diferentes sectores profissionais da sociedade portuguesa decidiram fundar órgãos jornalísticos próprios. Deste modo, os metalúrgicos possuíam O Eco Metalúrgico (Lisboa, 1850); os tipógrafos, A Tribuna (Lisboa, 1853); os sapateiros, O Jornal da Associação dos Sapateiros e Artes que trabalham em Cabedal (Lisboa, 1853); os professores, O Jornal da Associação dos Professores (Lisboa, 1850); os tecelões, A Associação Fraternal dos 21 fabricantes de tecidos e Artes Correlativas (Lisboa, 1858) ”. 17 ALVES, dos Santos José Augusto, “O Poder da Comunicação”, Media & Sociedade, 2005, p.164 Idem 19 Tengarrinha, José, “História da Imprensa Periódica Portuguesa, Editorial Caminho, Lisboa, 1989, p.116 20 Figueira, João, “Os Jornais como actores políticos”, Minerva Coimbra, 2007, p.28 21 Quintero, Alejandro Pizarroso, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p. 362 18 31 Juntamente com a imprensa operária, apareceu também a imprensa anarquista que era caracterizada pela sua violência, o anarquismo, por isso, não teve uma dimensão como o do operariado e os seus jornais. A imprensa anarquista tinha um público mais restrito e tinham como jornais: O Revoltado (Lisboa, 1887); A Revolução Social (Porto, 1887) e Os Bárbaros (Coimbra, 1894). Os movimentos republicanos e anarquistas agitaram a estabilidade do regime monárquico constitucional e para combater este facto, os governantes suspenderam vários jornais limitando, assim, a liberdade de imprensa que se fazia sentir na altura. Devido à proclamação da República no dia 5 de Outubro de 1910, nasceram inúmeros jornais políticos, exemplos desses mesmos jornais foram “A República” e “O Intransigente”, todavia no período em que Salazar foi nomeado Presidente do Conselho de Ministros, a imprensa não foi de todo beneficiada e foi “convidada” a se remeter ao silêncio. A função da imprensa na altura de Salazar era somente comunicar as acções e actos oficiais. Em 1975 foi criada uma nova lei da imprensa que protegia a liberdade da mesma e anulava a censura. Na transição para a democracia, o Estado português nacionalizou os principais grupos económicos do país onde estavam incluídos a imprensa e a rádio. “O Estado nacionalizou o Diário de Notícias, O Século, o Diário Popular, o Jornal de Notícias, o Jornal do Comércio e A Capital. A rádio também foi nacionalizada (…) Logo desapareceram os jornais da Acção Nacional Popular, o partido único do regime salazarista, como o Diário da Manhã, A Época e A Voz. Mantiveram-se independentes o Diário de Lisboa, A República, O Primeiro de Janeiro, o Comércio do Porto, o Diário de Coimbra e o semanário Expresso. (…) Durante 1975 travaram-se duras batalhas pela independência da informação nas redacções de todos os jornais, (…) em especial nos jornais mais influentes como o Diário de Notícias (…)22 22 Quintero, Alejandro Pizarroso, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p. 369. 32 Historicamente, Portugal é um país de “imprensa regional” visto que são publicados por todo o país pequenos jornais ligados aos interesses primordiais de cada público mediante a zona em que se encontram. “Ao fazer-se a história da imprensa portuguesa das últimas décadas, não se pode ignorar a expansão invulgar da imprensa desportiva”23. O nosso país tem vários jornais desportivos diários tais como, “A Bola”, “Record” e “O Jogo”, em que os dois primeiros atingem tiragens diárias superiores aos 100 mil exemplares. De realçar também na imprensa especializada o grupo da “imprensa económica” em que incluem jornais como “O Semanário económico”, «Jornal de Negócios» e “O Diário Económico”. 3.2. A Informação dada pelos diferentes jornais A actividade fulcral do jornalista centra-se em interpretar permanentemente a realidade, analisá-la, estudá-la e seleccionar de entre todas as informações possíveis aquelas que considera de maior interesse para o seu público. O jornalista converte-se num filtro pois é ele que decide sobre o que é que o público deve conhecer e falar. Na interpretação desta realidade estão integrados vários níveis que juntos formam a notícia: nível contextual, nível textual, nível estilístico e nível formal 24. O nível contextual engloba todo o conjunto de juízos e decisões profissionais que têm como objectivo a identificação, comparação e evolução hierárquica das 23 Idem, p.388 24 VIZUETE, José Ignacio; MARCET, José Maria, “La Información: Redacción y Estructuras” 33 notícias. É feita uma selecção nas notícias para se decidir quais as que são mais oportunas e de mais interesse para o público. O nível textual implica que depois de seleccionado o conteúdo da notícia seja, então, feito todo um processo de elaboração da mesma, ou seja, constituição de título, lead25 e corpo noticioso. A nível estilístico, o jornalista terá que adoptar determinados códigos para que a notícia seja redigida correctamente. O nível estritamente formal diz respeito à unificação da informação e conclusão da notícia. O jornal decide se a informação a ser editada vai ocupar uma coluna, ou duas na página do jornal; se esta terá referência na primeira página ou não. Todo este processo é realizado tendo em conta o código ético e deontológico dos jornalistas. O jornalista, no exercício da sua profissão, goza dos seguintes direitos que dizem respeito à liberdade de expressão e de orientação; liberdade de acesso às fontes de informação; garantia de sigilo profissional; garantia da independência e participação na orientação do respectivo órgão de informação. Existe todo um conjunto de normas que servem para regular a actividade jornalística para que seja elaborado um trabalho correcto e coerente. Como deveres o jornalista terá que respeitar o código deontológico dos jornalistas; exercer a actividade com respeito pela ética profissional, informando com rigor e isenção; respeitar a orientação e os objectivos definidos no estatuto editorial do órgão onde exerçam a sua actividade profissional; não formular acusações sem provas e respeitar a presunção de inocência; não identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual; nem menores objectos de medidas tutelares sancionatórias; não tratar discriminatoriamente pessoas em função da cor, raça, religião, nacionalidade ou sexo; não recolher declarações ou imagens que atinjam a dignidade das pessoas; respeitar a privacidade; não falsificar ou encenar situações, abusando da boa-fé do público e não recolher imagens ou sons por meios não autorizados. 25 Lead corresponde ao primeiro parágrafo da notícia 34 A redacção de um jornal é a alma da imprensa. É neste lugar que ocorre todo o processo que tem início no interesse do jornalista em noticiar algo, até ao momento em que esse mesmo interesse e informação são passados para o papel e se transformam numa notícia relevante para o público. É na redacção que é feita a hierarquização, evolução e selecção de dados, notícias e textos que posteriormente serão do conhecimento do público. Há notícias que são previsíveis, no entanto, outras são imprevisíveis e alteram espontaneamente o alinhamento de um jornal. Grandes partes das informações que chegam ao jornal são dadas por fontes. O trabalho do redactor consiste, no fundo, em ordenar todo o caudal informativo que diariamente se abate sobre a redacção e que pode ser muito extenso e requerer fases de selecção. A linguagem é o veículo por excelência da comunicação, e imprescindível no caso da imprensa escrita, assumindo, no jornalismo em geral, um carácter pragmático que torna mais eficaz a sua compreensão. A linguagem escrita é o vínculo que une o jornalismo ao público. “Escrever é pensar”26, como tal, do pensamento à escrita existem partes essenciais que é necessário ter em conta na elaboração de um relato informativo. Em primeiro lugar, a fase inicial deste processo consiste em encontrar assuntos e/ou temas que possam fornecer detalhes novos e de interesse para os leitores, e investigar esses mesmos temas. Em segundo lugar, o jornalista necessita de, após concluir a recolha de informação sobre um determinado assunto e de a ter na sua posse, ordenar essas mesmas informações e seleccioná-las do mais importante para o menos importante. Por último, o jornalista usa todos os seus recursos linguísticos de modo a conseguir uma notícia correctamente redigida. O objectivo principal é que a notícia capte imediatamente a atenção do leitor e lhe transmita de modo eficiente e económico a informação pretendida. 26 Vivaldi, Martin Gonçalo, 1990, p.248 35 Tanto o Diário de Notícias como o Diário de Notícias da Madeira têm um cuidado especial nesta fase de produção, procurando sempre redigir notícias atraentes e concisas. Por vezes, a linguagem jornalística é confundida com uma linguagem literária, o que é errado, dado que a linguagem literária tem como base fundamental a beleza estilística, enquanto a linguagem jornalística deve dominar as normas gramaticais e linguísticas, fazer um uso correcto da linguagem e conhecer e aplicar formas concretas para a difusão das notícias. Formas essas que derivam da diversidade de se dirigir a públicos diferentes, quer a nível cultural, quer a nível geográfico. No caso do Diário de Notícias da Madeira torna-se óbvio que é relevante para o público madeirense o facto de o jornal relatar acontecimentos locais. Algo que não acontece no Diário de Notícias em relação a notícias da Madeira, exceptuando alguns casos políticos da Região Autónoma e o temporal que devastou a ilha no mês de Fevereiro de 2010. Isto porque o interesse do público por determinado acontecimento, e um valor notícia fundamental, é o factor da proximidade. Quanto mais perto está a notícia em relação ao público de determinado órgão de comunicação, mais importante esta se torna para o jornal. Naturalmente, a agenda dos jornais que analisamos reflecte esta premissa. A informação dada pelo Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira organiza-se principalmente em duas secções: “Casos do Dia” e “Política”. Estas duas secções são aquelas que, em meu entender, trazem o jornal para mais perto do seu público, fazendo valer de pleno direito o valor notícia da proximidade. 36 CAPÍTULO IV - Os Diários de Notícias 4.1. Alinhamento de cada um dos jornais Tanto o Diário de Notícias, como o Diário de Notícias da Madeira subdividem as suas notícias em três esferas principais: a das notícias gerais, a das notícias de sector, e a das notícias especializadas. No primeiro género, fazem-se notícias sobre o que acontece no país, podendo especificar-se algo que aconteça nalguma cidade; no segundo, o que acontece num hospital ou numa repartição; e o terceiro género abrange uma vasta área de cobertura específica como política, governo, economia, desporto, ciência, educação, etc. A notícia subordina-se a diferentes critérios e é seleccionada e construída tendo em atenção diferentes valores notícia. Entre eles é considerado o que é relevante, oportuno, credível, correcto e interessante para o público em geral. O vocabulário é usado segundo a técnica de readability27 que elege a denotação como significação e a conotação como emoção. As palavras patentes numa notícia seguem uma hierarquia, primeiro devido à sua capacidade denotativa e segundo quanto à sua implicação conotativa. “Recursos visuais como cor, caracteres, ilustrações, destaques, etc., têm na diagramação um conceito próprio e são utilizados para dar à página maior ou menor expressão, peso gráfico e beleza”.28 Por diagramação entenda-se de que se trata dos elementos gráficos de uma notícia com a estética. É como que uma ligação entre a técnica do jornal e a forma como este se apresenta. Os valores-notícia são um elemento básico da cultura jornalística, servem de “óculos” para ver o mundo e para o construir, são como que um código ideológico. A 27 “Readability, ou legibilidade é definida como a facilidade de leitura, sobretudo porque resulta de um estilo de escrita. Uma extensa investigação tem demonstrado que o texto de fácil leitura melhora a compreensão, retenção, velocidade, leitura e persistência”. 28 Bahia, Juarez, “As Técnicas do Jornalismo”, 1990, p. 117 37 definição de noticiabilidade de um acontecimento ou de um assunto implica um esboço de compreensão contemporânea do significado dos acontecimentos como regras do comportamento humano e institucional. O leque de valores-notícia é vasto pois a tela tem imensas cores. Existem os valores-notícia de selecção, que dizem respeito aos critérios que os jornalistas utilizam na selecção dos acontecimentos, isto é, na decisão de escolher um determinado acontecimento face a outro. Os valores-notícia de selecção estão divididos em dois subgrupos: os critérios substantivos, que dizem respeito à avaliação directa do acontecimento em termos da sua importância ou interesse como notícia, e os critérios contextuais, que dizem respeito ao contexto de produção da notícia. Os valores-notícia de construção são qualidades da sua construção como notícia e funcionam como uma linha orientadora para a apresentação do material, sugerindo o que deve ser realçado e/ou omitido. De realçar nos valores-notícia de selecção, um dos dois subgrupos: os critérios substantivos, e neste grupo estão incluídos a morte, que é um valor-notícia importante pois é fundamental para a comunidade interpretativa e é apresentado diariamente nas páginas dos jornais. Além disso é certa para todos, o que quer dizer que todos nós seremos notícia pelo menos uma vez. Outro valor notícia é a notoriedade, pois quanto mais um determinado acontecimento se torna importante para a comunidade mais depressa este é transformada em notícia. Outro valor-notícia que é necessário notar é a proximidade, sobretudo em termos geográficos mas também em termos culturais. Aliás como se pode comprovar em ambos os Diários de Notícias, um acidente de viação com duas vítimas mortais na baixa de Lisboa irá ser notícia no DN, contudo não sairá na publicação do DN da Madeira. Um valor-notícia que ambos os jornais têm também que ter em conta é a relevância. Este valor-notícia responde à preocupação de informar o público dos acontecimentos importantes, dado que tem impacto na vida das pessoas determinando a forma como a noticiabilidade tem a ver com a capacidade de incidência do acontecimento sobre essas mesmas pessoas. 38 Outro conceito fundamental no jornalismo é a novidade, e esta também se insere nos valores-notícia de selecção. O factor tempo é um valor-notícia que assume diferentes formas na medida em que um acontecimento já transformado em notícia pode servir para introduzir outra notícia nova. Outro valor-notícia fundamental para a comunidade jornalística e que os jornais têm que ter em conta é a notabilidade, isto é, a qualidade de ser visível. Este item está sobretudo virado para a cobertura de acontecimentos. Importante na cultura jornalística é também o valor notícia que privilegia o inesperado, aquilo que surpreende as expectativas da comunidade jornalística. Quanto aos valores notícia de selecção e o último dos subgrupos: os critérios contextuais dizem respeito ao contexto do processo da produção das notícias. O primeiro valor-notícia de selecção neste subgrupo de critérios contextuais é a disponibilidade, isto é a facilidade com que é possível fazer a cobertura do acontecimento. Outro critério é o equilíbrio, ou seja, o jornalista tem que racionalizar o assunto da notícia, se esta traz algo de novo para os leitores. Um último valor-notícia deste subgrupo de critérios contextuais é o dia noticioso pois cada dia jornalístico é um novo dia de modo que dias em que há muitas notícias e outros em que nem tanto. O jornal tem que contar com o inesperado por parte da agenda política, por exemplo, algo que estava planeado para determinado dia e por infortúnio não se deu determinado acontecimento. Os valores-notícia de construção inserem-se na selecção dos elementos dentro do acontecimento aptos de serem incluídos na elaboração da notícia. Um dos valores-notícia de construção é a simplificação visto que “menos é mais”, os jornais têm o dever de redigir uma notícia clara para que seja fácil para os leitores a sua compreensão. 39 Outro valor-notícia de construção é a amplificação pois quanto mais amplificado é o acontecimento, mais possibilidades tem a notícia de ser notada. Assim como a amplificação, a relevância é outro valor-notícia a ter em conta pois a notícia para ser notada tem que ter lógica e ser coerente. Por último, a consonância, ou seja, a notícia deve ser interpretada num contexto conhecido para corresponder às expectativas do leitor. É feito um enquadramento na notícia de forma a situar o leitor. Outro facto a ter em conta é que os contactos constantes entre as fontes e os jornalistas podem influenciar a percepção do jornalista quanto ao valor-notícia dos acontecimentos e assuntos. 4.2. Organização e estrutura das notícias Hoje em dia, a teoria sobre o jornalismo tende a relativizar o papel do jornalista como mero mediador e observador. Na verdade, o jornalista é também ele, um ser social enquanto profissional, utilizador de técnicas, a quem se pede que se faça constantemente escolhas e que construa um discurso acerca do quotidiano. Mais do que um mero mediador, pode-se considerar o jornalista como alguém que tem um papel privilegiado na formação daquilo que se decide designar por opinião pública. Segundo Delforce, “o papel do jornalista é, em última instância, o de dar sentido e não apenas de disponibilizar informação”29. Seguindo este raciocínio, o autor defende que se a actividade de informar resulta de uma deontologia profissional, dar sentido implica uma responsabilidade social, e isso faz com que o jornalista seja não só um mediador mas também um actor social. Como qualquer informação jornalística, a notícia deve reunir interesse, importância, veracidade e actualidade. A estes requisitos essenciais que formam uma notícia, acrescentam-se outros como interpretação, explicação e investigação. 29 Bernard, DELFORCE, “La responsabilité sociale dês journalistes: donner du sens”, p.32 40 O jornal é hoje em dia universal e multidimensional pois relata os factos locais, nacionais, internacionais, assim como abrange a ciência, saúde, educação, desporto e economia. Em qualquer publicação a grande notícia é sempre a manchete do jornal, pois trata-se da novidade, da cacha e do destaque, enquanto que as pequenas notícias dão corpo ao resto das páginas do jornal. Não é só o valor da notícia como produto da apuração e como informação útil que é tida em conta na selecção do editor. São tidos em conta aspectos como veracidade, legalidade, peso social, interesse particular, relevância, interesse e credibilidade, todos eles pesando na publicação de uma notícia. “Redigir notícias não é só uma técnica, é também uma arte. Na redacção a arte influi como suporte do estilo, e a técnica como base para aquisição, vulgarização e compreensão”. 30 Na parte principal que é o lead, que diz respeito ao primeiro parágrafo da notícia, a redacção tem que se preocupar com o que diz de uma forma o mais directa possível, de maneira a captar a atenção do leitor. O resto da notícia será mais valorizado e apreciado pelo leitor se o jornalista levar em conta a hierarquia de importância e actualidade dos pormenores da mesma. O título, também, faz parte da técnica de redacção, mas é cada vez mais considerado uma arte. Por ser a primeira linha de uma notícia, o título tem que atrair a atenção dos leitores e ao mesmo tempo ser informativo, dando uma ideia geral dos factos noticiados. Assim, “o título anuncia o facto, resume a notícia e embeleza a página numa conjugação de técnica e arte que os jornais procuram aprimorar utilizando recursos gráficos”. 31 Segundo Manuel Vigil Vasquez, “é difícil redigir bem um título, como é difícil defini-lo. Um título é como a definição de uma notícia. Porém, não menos difícil é vestir tipograficamente esse título, em harmonia com a sua categoria e a sua expressão conceitual. Um título feliz pode ser inutilizado por uma tipografia má; e com o título, a notícia”. 30 31 Bahia, Juarez, “As Técnicas do Jornalismo”, 1990, p.44 Idem, p. 47 41 Quando o redactor produz um título inteligente, informativo, completo e claro de modo a transparecer uma compreensão imediata do que comunica, atrai de imediato a atenção do leitor. 4.3. Análise da constituição e conteúdo das notícias As notícias de ambos os Diários de Notícias podem ser classificadas quanto ao seu conteúdo como previstas, imprevistas e mistas. “As previstas são aquelas que nos permitem um conhecimento antecipado, anunciado com antecedência. Elas ocupam o maior espaço de agendas ou pautas nos veículos. As imprevistas são as de carácter inesperado, como crimes, acidentes, incêndios, etc. As mistas são notícias que reúnem, numa só informação, o previsto e o imprevisto”. 32 As notícias publicadas tanto no Diário de Notícias como no Diário de Notícias da Madeira requerem tratamento e elaboração por parte do jornalista. Quanto mais elaborada é a notícia, melhor é o seu conteúdo. São necessários inúmeros elementos, entre eles constata-se a correcção, a apuração, a pesquisa, a concisão, a interpretação, a comparação e a selecção. As notícias relatadas pelo jornal são o reflexo destes critérios e valores. Escrever bem é apenas um dos elementos necessários ao exercício da profissão de jornalista, pois este tem igualmente que saber apurar a notícia, ou seja, tem que ter a certeza do que diz, tem de saber investigá-lo, e tem de ter fontes a comprovar aquilo que escreve. “As seis perguntas de Kipling fornecem a base para uma adequada apuração jornalística: What (o que aconteceu); Why (porque aconteceu); When (quando aconteceu); Where (onde aconteceu); How (como aconteceu) e Who (quem se envolveu no que aconteceu). Nas respostas a estes itens está o lead, e depois a própria notícia”.33 32 33 Bahia, Juarez, “As Técnicas do Jornalismo”, 1990, p.38 Idem, p. 40 42 4.4. Agenda-setting dos diferentes jornais Os meios de comunicação têm um papel decisivo para a alteração da nossa geografia de referência e para modo como vemos o mundo. O estudo dos efeitos dos meios de comunicação é extremamente importante para a sociedade, uma vez que permite compreender como estes meios trabalham na formação da opinião pública. É inegável a influência dos meios de comunicação no quotidiano das pessoas. Apesar de ambas as publicações se tratarem de jornais portugueses, o modo como procedem ao agendamento de notícias é diferente devido à geografia que os une aos seus diferentes públicos. “Os historiadores do século XX ensinaram-nos que o espaço e o tempo não eram oferendas da natureza mas o resultado de laboriosas géneses – os homens organizam o seu espaço e constroem o seu passado”.34 Devido à multiplicidade de notícias, o público tornou-se mais selectivo, pois escolhe as mensagens mediante o interesse que as mesmas têm para si numa dada circunstância. As conversas interpessoais entre as pessoas são sugeridas pelos jornais, televisão, rádio e internet, propiciando aos receptores a hierarquização dos assuntos que devem ser pensados e falados. Por outro lado, a comunicação local e regional adequa-se aos valores da cidade, praticando um jornalismo de proximidade. A imprensa regional que abarca o DN da Madeira liga vários contextos comunicacionais. O espaço e o tempo são elementos fulcrais da percepção, funcionando também como uma espécie de coordenadas “que determinam os processos sociais da comunicação” 35. 34 R. Debray, “La statue descelleé par ses socles mêmes”. In Cahiers de Médiologie – Anciens nations, nouveaux réseaux, nº 3, Gallimard, Paris, 1997, p.18 43 A imprensa regional, caso do Diário de Notícias da Madeira, diversifica a comunicação mantendo um compromisso com a região e o próprio projecto editorial. O que é a imprensa regional e a imprensa nacional? O que a diferencia uma da outra? Para o ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas, João Mesquita, é mais cómodo diferenciar imprensa nacional de imprensa regional, todavia “boa parte dos meios de comunicação social cuja sede é em Lisboa ou Porto – aqueles a que normalmente atribuímos o qualitativo de imprensa nacional – nem por isso deixam de ter um carácter eminentemente regional. Basta ver a que região se reporta a maioria dos textos neles publicados, para rapidamente se constatar que é aquela em que está instalada a sede do respectivo órgão de informação”.36 Assim, e nesta linha de pensamento, “o que parece distinguir a imprensa regional da nacional tem a ver com as suas formas de organização empresarial e a sua estratégia claramente vocacionada para uma abordagem dos temas tanto mais generalistas quanto generalista se pretende que seja o seu público num território mais ou menos vasto”. 37 A imprensa regional privilegia a difusão da região e/ou cidade na qual está situada a sua sede editorial. “A vocação, a intencionalidade, os conteúdos e a percepção sobre o leitor são determinados pelo contexto local ou regional, sendo também as relações com as instituições e organismos locais e regionais mais directas, de carácter permanente e num grau maior de intensidade comparativamente aos órgãos que se encontram, administrativa e politicamente a um nível hierárquico superior”.38 Esta definição tem como vantagem a imposição da geografia face à necessidade dos conteúdos. Uma das razões que fazem com que o processo de agendamento no Diário de Notícias e no Diário de Notícias da Madeira sejam em algumas categorias de Desporto, 35 Romano, Vicente, “El Tiempo y El Espacio en la Comunicación – La razón pervertida, Hondarriba, Argitaletxe Hiru, 1998, p.16 36 Mesquita, João. “Uma Questão nacional” in Despertar nº 7696, Coimbra, 9 de Abril de 1997 37 Camponez, Carlos, “Jornalismo de Proximidade”, 2002, p.108 38 Ibidem, p.110 44 Política e Casos do Dia diferentes é o facto de haver estratégias empresariais e editoriais distintas, que têm como objectivo conseguirem a fidelização de diferentes públicos, daí os jornais redigirem notícias relevantes mediante o público alvo que querem atingir. Os acontecimentos que nos são mais próximos são melhor compreendidos por nós. É a proximidade que permite ao jornalismo contextualizar e determinar os valoresnotícia e a partir desta selecção, organizar os restantes elementos valorativos, tais como a actualidade, a relevância, a novidade, etc. Segundo Lorenzo Gomis, “uma notícia capaz de gerar repercussão é aquela que gera informações e comentários ao longo de vários dias nos diários e nos restantes meios de comunicação”. 39 Ainda segundo o mesmo autor, “a notícia é por essência qualquer coisa capaz de fazer com que falemos dela”.40 A corrente que estuda sobre o quê e como os assuntos devem ser pensados é a hipótese do agenda-setting. Além disso, estuda o poder de agendamento dos meios de comunicação, ou seja, a capacidade que estes possuem para evidenciar um determinado assunto nas preocupações e interesses do público. O jornalista é também um ser social enquanto profissional, e não só é mediador entre a realidade e o público, como escreve e decide sobre aquilo que os leitores devem pensar e opinar. A realidade social é representada por um cenário montado a partir dos meios de comunicação de massa. 39 Lorenzo, Gomis, “Teoria del Periodismo – Como se forma el presente”, Barcelona, Buenos Aires, México, Paidós, col. Paidós Comunicación, 44, 1997 40 OP. Cit., p. 92 45 CAPÍTULO V - Estudo Empírico e Análise dos Diários de Notícias 5.1. Resultados e análise dos dados empíricos A análise de ambos os Diários de Notícias permitiu responder às questões colocadas ao longo da revisão teórica, e que eram apurar se existem diferenças no processo de agendamento de ambos os Diários de Notícias e analisar essas mesmas diferenças e semelhanças entre os jornais. Essas diferenças, concluí, verificam-se pela necessidade de o jornal se adaptar aos seus públicos, e seriam menores se o processo de agendamento fosse determinado por valores-notícia „objectivos‟. Notar-se-á que existe uma certa tendência para privilegiar a notícia política, em ambos os jornais. Tal facto deve-se à proximidade que faz com que a notícia local ou nacional seja mais ou menos importante, mediante os leitores a que se destina. Seguidamente, apresentarei os resultados obtidos durante o estudo empírico destinado a comparar as agendas dos dois jornais, através da análise dos temas e notícias por eles publicadas, apresentando posteriormente uma análise desses mesmos dados. 5.1.1. Categorias temáticas dominantes nos Diários de Notícias no mês de Outubro de 2009 Os jornais são uma fonte de informação de grande relevância para os portugueses, e assim o são ambos os Diários de Notícias, revestindo-se como tal os seus conteúdos revestem-se de grande importância. A análise da publicação a partir das categorias temáticas permite saber quais os assuntos a que se dá um maior destaque em cada um dos jornais, ou seja, neste caso, quantas páginas são dedicadas a cada categoria temática e qual a categoria em que se integra a manchete de cada um dos jornais. 46 Quadro I- Categorias Temáticas do DN DIÁRIO DE NOTÍCIAS Categorias Temáticas POLÍTICA ECONOMIA CULTURA DESPORTO CASOS DO DIA INTERNACIONAL SOCIEDADE MÊS OUTUBRO 2009 Primeira Página 14 ------3 ---3 10 Corpo 308 164 279 264 63 178 351 O tema dominante no mês de Outubro no Diário de Notícias foi “Sociedade” visto que este tema foi relatado em 351 páginas. A categoria Sociedade abarca diferentes temas, como foi referido inicialmente na fase metodológica. Neste mês foram relatadas notícias que diziam respeito à educação, à área da saúde e da ciência, e algumas notícias sobre justiça. Seguidamente a categoria “Política” teve 308 páginas dedicadas a notícias relacionadas com o Estado, governo e medidas governamentais. O tema menos abordado neste mês foi a categoria “Casos do Dia”, pois foram apenas 63 as notícias que preencheram esta secção. Na primeira página do Diário de Notícias surgiram catorze manchetes que se inserem na categoria de Política tal como é possível ver em anexo. Foram primeira página membros do Governo e/ou membros do partido que o representa, o que demonstra preocupação por parte dos jornais em dar a conhecer as principais decisões e medidas que afectam o país. Sociedade foi a segunda categoria temática com mais notícias de abertura no mês de Outubro por parte do DN. Foram sobretudo assuntos de interesse público que foram manchete. As categorias de “Economia”, “Cultura” e “Casos do Dia” não foram uma única vez mencionadas na primeira página do Diário de Notícias. 47 Quadro II- Categorias Temáticas no DN da Madeira DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA Categorias Temáticas POLÍTICA ECONOMIA CULTURA DESPORTO CASOS DO DIA INTERNACIONAL SOCIEDADE MÊS OUTUBRO 2009 Primeira Página 9 ------8 6 ---7 Corpo 229 126 103 307 90 63 118 O tema dominante no mês de Outubro do Diário de Notícias da Madeira foi o “Desporto”, tendo sido dedicadas 307 páginas a este tema. Estas peças jornalísticas foram essencialmente constituídas por notícias locais, sobre desportistas e dirigentes regionais. Maioritariamente, tais notícias foram acerca de futebol, embora notícias sobre basquetebol tenham merecido também algumas referências. Seguidamente a categoria a ter maior espaço e representatividade nas páginas do Diário de Notícias da Madeira foi a de “Política”, que esta ocupou cerca de 229 páginas. As notícias relatadas foram basicamente sobre o Governo Regional e sobre acções e actividades de políticos regionais. O tema menos abordado no Diário de Notícias da Madeira foi a categoria “Internacional”, dado que ocupou apenas 63 páginas, confirmando assim o carácter eminentemente regional e local desta publicação. Na primeira página do Diário de Notícias da Madeira apareceram nove notícias sobre o tema “Política”. Basicamente estas notícias foram sempre de teor regional, relatando eventos regionais, políticos regionais e o presidente do governo regional. Curiosamente, são muito escassas as notícias de política a nível nacional neste jornal. As categorias “Economia”, “Cultura” e “Internacional” não tiveram quaisquer notícias com destaque suficiente a ponto de serem noticiadas como manchete na primeira página. 48 5.1.2. Categorias temáticas dominantes nos Diários de Notícias no mês de Janeiro de 2010 Quadro III- Categorias Temáticas do DN DIÁRIO DE NOTÍCIAS Categorias Temáticas POLÍTICA ECONOMIA CULTURA DESPORTO CASOS DO DIA INTERNACIONAL SOCIEDADE MÊS JANEIRO 2010 Primeira Página 12 ---1 1 ---6 8 Corpo 188 158 218 238 27 190 355 O tema dominante no mês de Janeiro no Diário de Notícias foi o tema “Sociedade” visto que foram dedicadas 355 páginas do jornal a esta categoria. Nestas páginas que contabilizamos sob a categoria de sociedade estão inseridos diferentes temas tais como notícias que dizem respeito à área de saúde, segurança, tecnologia e religião, assim como ambiente e justiça. O segundo tema dominante no mês em epígrafe foi a categoria de “Desporto” que ocupou um total de 238 páginas. Nestas páginas dedicaram-se notícias acerca de desportistas, dirigentes e clubes. A categoria temática menos abordada no mês de Janeiro no Diário de Notícias foi a que diz respeito a “Casos do Dia” dado que apenas teve uma referência de 27 páginas. Na primeira página do Diário de Notícias surgiram doze notícias sobre “Política”, que dizem respeito ao Governo e a medidas parlamentares, assim como ao primeiro-ministro, José Sócrates. Em segundo lugar apareceram oito notícias sobre a categoria “Sociedade”. As categorias “Economia” e “Casos do Dia” não tiveram qualquer importância, daí que não tiveram nenhuma referência na primeira página neste mês. 49 Quadro IV- Categorias Temáticas no DN da Madeira DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA Categorias Temáticas POLÍTICA ECONOMIA CULTURA DESPORTO CASOS DO DIA INTERNACIONAL SOCIEDADE MÊS JANEIRO 2010 Primeira Página 13 ------6 3 1 8 Corpo 165 122 106 368 80 81 146 A categoria temática dominante no Diário de Notícias da Madeira no mês de Janeiro foi “Desporto” visto que este tema ocupou 368 páginas. Esta categoria engloba notícias nas quais estão incluídos desportistas e dirigentes de clubes regionais, algumas notícias da selecção nacional e ainda alguns jogadores da respectiva selecção. Seguidamente a categoria que se destaca é a da “Política” pois ocupa 165 páginas. Curiosamente, das notícias relatadas nesta categoria destacam-se notícias que envolvem o Governo Regional, o presidente do governo regional e medidas tomadas pelo governo regional face a situações adversas de pessoas civis. Em último destaque encontra-se a categoria temática que diz respeito a “Casos do Dia” que ocupou 80 páginas, estas sobre situações incontroláveis que quebraram a rotina de cidadãos madeirenses comuns. Na primeira página são noticiadas treze notícias que se inserem na categoria de “Política”, que relatam uma vez mais o governo regional e notícias regionais, seguido da categoria “Sociedade”, que ocupa oito notícias. A categoria que diz respeito à “Cultura” não teve qualquer referência como primeira página e o tema “Internacional” fez apenas uma primeira página. 50 5.1.3. Diferenças e Semelhanças na agenda do Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira No mês de Outubro e Janeiro tanto o Diário de Notícias como o Diário de Notícias da Madeira dedicaram a primeira página do seu jornal à categoria temática de “Política”. Assuntos parlamentares e políticos foram predominantemente a manchete do Diário de Notícias, enquanto que o Diário de Notícias da Madeira abordou assuntos políticos regionais: política em ambos os casos, mas com notícias devidamente adaptadas ao público a que se destinam. Já no mês de Outubro, o Diário de Notícias dedicou mais páginas do seu jornal ao tema “Sociedade”, abordando assuntos maioritariamente na área da educação e casos de justiça; enquanto que o Diário de Notícias da Madeira optou por dedicar grande parte do seu processo de agendamento à categoria temática de “Desporto”, este tema incidindo sobre assuntos de desporto regional e nomeadamente desportistas e dirigentes, também, locais. Na sua maioria foram assuntos sobre futebol que monopolizaram as notícias; todavia, houve ainda notícias acerca de basquetebol e ténis, mas mais uma vez notícias locais. Em segundo lugar a categoria que mais ocupou páginas nos jornais foi o tema de “Política” e nesta situação ambos coincidiram pois tanto o DN como o DN da Madeira tiveram esta categoria como sendo a segunda que mais páginas ocupou. Em terceiro lugar, o Diário de Notícias teve a secção de “Desporto” a ocupar 264 páginas no mês de Outubro, enquanto que o Diário de Notícias da Madeira teve o tema de “Economia”, que ocupou cerca de 126 páginas. A categoria menos abordada pelo DN no mês de Outubro incidiu sobre os “Casos do Dia”. No caso do DN da Madeira, este teve o tema “Internacional” como sendo o menos abordado no mês em estudo. Nos dias 8 e 21 de Outubro nas páginas 12 e 11 que correspondem à categoria de “Política”, o Diário de Notícias faz referência à Madeira no que concerne a assuntos políticos regionais. 51 No mês de Janeiro o Diário de Notícias teve como categoria temática dominante a “Sociedade”, esta que abordou maioritariamente assuntos na área da educação, ambiente e casos de justiça. Por sua vez, o Diário de Notícias da Madeira teve como assunto dominante, uma vez mais o “Desporto” que ocupou cerca de 368 páginas. O Diário de Notícias abordou em segundo lugar no mês de Janeiro o tema de “Desporto” com cerca de 238 páginas enquanto o Diário de Notícias da Madeira abordou a “Política” com cerca de 165 páginas. A categoria “Cultura” foi a terceira a ser abordada pelo Diário de Notícias visto que ocupou 218 páginas do jornal. Por parte do Diário de Notícias da Madeira a terceira categoria a ser mencionada foi “Sociedade”, tendo esta ocupado 146 páginas. Tanto o DN como o DN da Madeira tiveram como a categoria menos dominante a que diz respeito aos “Casos do Dia”. No dia 14 de Janeiro ambos os jornais abordaram a calamidade ocorrida no Haiti. No dia 5 de Janeiro, o Diário de Notícias da Madeira inclui na primeira página uma notícia sobre a lei de finanças regionais referindo na notícia o nome Lisboa e governo. No dia 16 de Janeiro, o Diário de Notícias da Madeira publicou na primeira página uma notícia que se integra na categoria de “Política” e que refere o primeiroministro, José Sócrates face a face com o presidente do governo regional, Alberto João Jardim tendo como notícia, uma vez mais, a lei de finanças regionais. As notícias publicadas tanto no Diário de Notícias como no Diário de Notícias da Madeira requerem tratamento e elaboração por parte do jornalista. São necessários inúmeros elementos, entre eles constata-se a correcção, a apuração, a pesquisa, a concisão, a interpretação, a comparação e a selecção. As notícias relatadas pelo jornal são o reflexo destes critérios e valores. 52 5.1.4. Personagens mais referenciadas nas notícias As notícias têm, regra geral, declarações de determinadas pessoas relacionadas com o tema em questão, sobre o qual estão informadas ou que nele estão implicadas. Em cada notícia é identificada a personagem central, ou seja, a pessoa sobre a qual o assunto se desenrola, ou quem se pronuncia sobre ele. Estas personagens foram classificadas em diferentes categorias: políticos, que correspondem a todas as pessoas relacionadas com o mundo da política; cidadão comum; empresários, que correspondem aos proprietários de empresas, pessoas ligadas a negócios; intelectuais (investigadores, escritores, economistas); desportistas (praticantes, treinadores e dirigentes); forças militares (forças de autoridade e segurança pública); religiosos, médicos e artistas (actores, cantores, músicos, etc.). As personagens que mais vezes aparecem nos meses de Outubro de 2009 e de Janeiro de 2010 no Diário de Notícias são médicos, religiosos, forças militares, intelectuais e empresários, que perfazendo um total de 706 páginas ocupadas pelos mesmos. No caso do Diário de Notícias da Madeira as personagens que mais aparecem nos meses de Outubro de 2009 e Janeiro de 2010 são jogadores de futebol, dirigentes e treinadores de equipas de futebol assim como outros desportistas. Estes ocuparam um total de 675 páginas de notícias sobre “Desporto”. A primeira página pode ser considerada a notícia mais relevante do dia para a equipa que coordena a redacção. Quanto à primeira página ambos os jornais surgiram com figuras políticas como principais intervenientes. Foram sobretudo assuntos de interesse público que serviram, habitualmente, de primeira página, não existindo grandes diferenças nas escolhas entre os dois jornais quanto à sua categoria que incidiu sobre a “Política”, como acima foi referido, mas significativas diferenças relativamente ao âmbito geográfico e alcance de tais notícias. 53 Contudo houve uma grande diferença não na categoria mas quanto ao seu conteúdo, aliás como se pode verificar em anexo, ou seja, enquanto que o Diário de Notícias optou por notícias de foro nacional em que abordava medidas governamentais e/ou relatavam assuntos do governo, o Diário de Notícias da Madeira optou por notícias regionais. Este jornal faz questão de manifestar o seu orgulho pela região e como tal participa na construção de um discurso que põe os leitores a par dos assuntos regionais. O Diário de Notícias da Madeira no seu papel de um narrador habitual de acontecimentos assume esse papel de relevo e organiza um discurso do quotidiano madeirense desempenhando por isso, uma função importante na reprodução desse orgulho regional, mas também na informação prestada aos moradores da região. A informação regional mostra ser de valiosa importância não só porque informa os leitores mas porque assim permite promover maior adesão à identidade regional. 54 CONCLUSÃO Utilizou-se a metodologia da análise de conteúdo do discurso dos dois Diários de Notícias, numa perspectiva quantitativa e qualitativa, por se achar de que este seria o melhor método para alcançar os resultados desejados. Com este trabalho pretendi contribuir para o estudo da imprensa em Portugal, e para isso fiz uma análise dos processos de agendamento do Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira. Para a concretização deste estudo optou-se por analisar comparativamente os dois jornais diários em dois meses escolhidos de forma aleatória e pretendeu-se avaliar até que ponto o Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira dariam a mesma informação, ou verificar se antes as suas agendas seriam marcadas pela diferença e diversidade. Em ambos os jornais encontraram-se marcas de proximidade com os respectivos leitores. Como os leitores de ambos os jornais são públicos muito distintos – no primeiro caso portugueses do continente, especialmente da região sul e de Lisboa (tradicionalmente o DN tem pouca penetração no Norte do País); e no segundo exclusivamente cidadãos da Região Autónoma da Madeira – a agenda das duas publicações analisadas acaba naturalmente por resultar muito distinta. Deste modo, pude observar grandes diferenças não na categoria (ambos privilegiam a política) mas quanto ao seu conteúdo, pois enquanto o Diário de Notícias optou por notícias de foro nacional em que abordava medidas governamentais e/ou relatavam assuntos do governo, o Diário de Notícias da Madeira optou por notícias regionais. Este jornal faz questão de manifestar o seu orgulho pela região e como tal participa na construção de um discurso que põe os leitores a par dos assuntos regionais. O Diário de Notícias da Madeira no seu papel de um narrador habitual de acontecimentos assume esse papel de relevo e organiza um discurso do quotidiano madeirense, desempenhando, por isso, uma função importante na reprodução desse orgulho regional, mas também na informação prestada aos moradores da região. 55 A informação regional mostra ser de valiosa importância não só porque informa os leitores mas porque assim permite promover maior adesão à identidade regional. Os meios de comunicação têm um papel decisivo para a alteração da nossa geografia de referência e para o modo como vemos o mundo. Apesar de ambas as publicações se tratarem de jornais portugueses, o modo como procedem ao agendamento de notícias é diferente por causa da geografia que os une aos seus diferentes públicos. Devido à multiplicidade de notícias, o público tornou-se mais selectivo, pois escolhe as mensagens mediante o interesse que as mesmas têm para si numa dada circunstância. As conversas interpessoais entre as pessoas são sugeridas pelos jornais, televisão, rádio e internet, propiciando aos receptores a hierarquização dos assuntos que devem ser pensados e falados. Por outro lado, a comunicação local e regional adequa-se aos valores da cidade, praticando um jornalismo de proximidade. A imprensa regional, que abarca o DN da Madeira, liga vários contextos comunicacionais. A imprensa regional, caso do Diário de Notícias da Madeira, diversifica a comunicação mantendo um compromisso com a região onde se insere e com o próprio projecto editorial. O que é a imprensa regional e a imprensa nacional? O que a diferencia uma da outra? Para o ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas, João Mesquita, é mais cómodo diferenciar imprensa nacional de imprensa regional, todavia “boa parte dos meios de comunicação social cuja sede é em Lisboa ou Porto – aqueles a que normalmente atribuímos o qualitativo de imprensa nacional – nem por isso deixam de ter um carácter eminentemente regional. Basta ver a que região se reporta a maioria dos textos neles publicados, para rapidamente se constatar que é aquela em que está instalada a sede do respectivo órgão de informação”.41 41 Mesquita, João. “Uma Questão nacional” in Despertar nº 7696, Coimbra, 9 de Abril de 1997 56 Assim, e nesta linha de pensamento, “o que parece distinguir a imprensa regional da nacional tem a ver com as suas formas de organização empresarial e a sua estratégia claramente vocacionada para uma abordagem dos temas tanto mais generalistas quanto generalista se pretende que seja o seu público num território mais ou menos vasto”. 42 A imprensa regional privilegia a difusão da região e/ou cidade na qual está situada a sua sede editorial. Esta definição tem como vantagem a imposição da geografia face à necessidade dos conteúdos. Uma das razões que fazem com que o processo de agendamento no Diário de Notícias e no Diário de Notícias da Madeira sejam, em algumas categorias como Desporto, Política e Casos do Dia, diferentes, é o facto de haver estratégias empresariais e editoriais distintas, que têm como objectivo conseguir a fidelização de diferentes públicos -- daí os jornais redigirem notícias relevantes para o público alvo que querem atingir. Os acontecimentos que nos são mais próximos são melhor compreendidos por nós. É a proximidade que permite ao jornalismo contextualizar e determinar os valoresnotícia e a partir desta selecção, organizar os restantes elementos valorativos, tais como a actualidade, a relevância, a novidade, etc. O jornalista é também um ser social enquanto profissional, e não só é mediador entre a realidade e o público, como escreve e decide sobre aquilo que os leitores devem pensar e opinar. A realidade social é representada por um cenário montado a partir dos meios de comunicação de massa. Da análise dos conteúdos e do processo de agendamento do Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira concluo que ambos os jornais privilegiam, na relação com o seu público ideal, o valor da proximidade, e que isso determina diferenças na agenda de ambos os jornais – não tanto diferenças na categoria das notícias produzidas (ambos têm predilecção por Política e Desporto), mas nos agentes e actores dessas notícias, «personagens» que tendem a relacionar-se com o público de cada um dos jornais. 42 Camponez, Carlos, “Jornalismo de Proximidade”, 2002, p.108 57 ANEXOS 58 Anexo I- Capas dos Diários de Notícias de Outubro de 2009 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 Anexo II- Capas dos Diários de Notícias de Janeiro de 2010 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 BIBLIOGRAFIA ALVES, dos Santos José Augusto, “O Poder da Comunicação, Media & Sociedade”, 2005 AMADO, Luiz Cervo; BERVIAN, Pedro Alcino, 2ª Edição, Editora Magraw- Hill do Brasil “Metodologia Cientifica” BAHIA, Juarez, “Jornal, História e Técnica - As Técnicas do Jornalismo”, 4ª edição, Editora Ática S.A., 1990 CUNHA, Alfredo da, “O Diário de Notícias: A sua fundação e os seus fundadores: alguns factos para a história do jornalismo português, edição comemorativa do cincoentenário do Diário de Notícias, Lisboa, 1914 CUNHA, Alfredo, “Eduardo Coelho, a sua vida e a sua obra. 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