UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR
Artes e Letras
O Diário de Notícias e o Diário de Notícias da
Madeira:
Análise do agendamento de ambos os jornais
Cláudia Sofia Camacho Henriques
Dissertação para obtenção do grau de Mestre em
Jornalismo
Orientadora: Prof. Doutora Anabela Gradim
Covilhã, Outubro de 2010
Universidade da Beira Interior
Departamento de Artes e Letras
O Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira
Análise do processo de agendamento de ambos os jornais
Tese de Mestrado
Jornalismo
Trabalho efectuado sob a orientação da
Professora Doutora Anabela Gradim
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi apenas possível graças ao enorme auxílio que me foi prestado
por várias pessoas e entidades, a quem não quero deixar de prestar o meu
reconhecimento.
À Professora Anabela Gradim apraz-me agradecer o excelente apoio e
orientação manifestada ao longo da dissertação.
À Universidade da Beira Interior, esta magnífica instituição que me acolheu
estes anos que cá passei.
Aos meus pais, em especial à minha mãe que foi o meu suporte estes anos todos
e que me apoiou incondicionalmente nesta etapa.
Ao meu namorado pelo apoio, compreensão e paciência.
Aos meus irmãos e amigos pelo apoio e amizade que fizeram com que esta etapa
fosse mais agradável.
O meu sincero agradecimento a todas estas pessoas que contribuíram para a
concretização desta dissertação, estimulando-me intelectual e emocionalmente.
Na vida não vale tanto o que temos
Nem tanto importa o que somos
Vale o que realizamos
Com aquilo que possuímos
E, acima de tudo importa
O que fazemos de nós.
Francisco Cândido Xavier
LISTA DE SIGLAS
DN- Diário de Notícias
DNM- Diário de Notícias da Madeira
R.A.M.- Região Autónoma da Madeira
ÍNDICE DE TABELAS
Quadro I- Categorias Temáticas do DN
Quadro II- Categorias Temáticas no DN da Madeira
Quadro III- Categorias Temáticas do DN
Quadro IV- Categorias Temáticas no DN da Madeira
ÍNDICE
ABSTRACT ........................................................................................................................... 8
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................10
CAPÍTULO I - HIPÓTESES E METODOLOGIA .............................................................14
1.1. Objectivos e hipóteses de investigação ......................................................................................... 14
1.2. Constituição e descrição do corpus de análise............................................................................... 14
1.3. Categorização dos dados ............................................................................................................... 15
1.4. Tratamento dos dados .................................................................................................................. 16
CAPÍTULO II - BREVE HISTÓRIA DOS “DIÁRIOS DE NOTÍCIAS” ...........................18
2.1. Diário de Notícias .......................................................................................................................... 18
2.2. Diário de Notícias da Madeira ....................................................................................................... 22
CAPÍTULO III - INFORMAÇÃO NOTICIOSA .................................................................29
3.1. A Importância da Imprensa Escrita na vida dos portugueses ......................................................... 29
3.2. A Informação dada pelos diferentes jornais .................................................................................. 33
CAPÍTULO IV - OS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS ..................................................................37
4.1. Alinhamento de cada um dos jornais ............................................................................................ 37
4.2. Organização e estrutura das notícias ............................................................................................. 40
4.3. Análise da constituição e conteúdo das notícias ........................................................................... 42
4.4. Agenda-setting dos diferentes jornais ........................................................................................... 43
CAPÍTULO V - ESTUDO EMPÍRICO E ANÁLISE DOS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS.......46
5.1. Resultados e análise dos dados empíricos ..................................................................................... 46
CONCLUSÃO .......................................................................................................................55
ANEXOS .............................................................................................................................. 58
ANEXO I- CAPAS DOS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS DE OUTUBRO DE 2009 .................59
ANEXO II- CAPAS DOS DIÁRIOS DE NOTÍCIAS DE JANEIRO DE 2010 ...................73
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................87
Abstract
Este trabalho pretende contribuir para o estudo da imprensa em Portugal, e
pretende fazê-lo abordando os processos de agendamento do Diário de
Notícias e Diário de Notícias da Madeira.
Para a concretização deste estudo optou-se por analisar comparativamente
os dois jornais diários em dois meses escolhidos de forma aleatória e
pretendeu-se avaliar até que ponto o Diário de Notícias e o Diário de
Notícias da Madeira dariam a mesma informação, ou verificar se antes as
suas agendas seriam marcadas pela diferença e diversidade.
Em ambos os jornais encontraram-se marcas de proximidade com os
respectivos leitores, que constituindo grupos „sociologicamente‟ muito
distintos, determinam naturalmente agendas fortemente diferenciadas nas
duas publicações analisadas.
Palavras-chave: Imprensa, Jornais, Diário de Notícias, Diário de Notícias
da Madeira, agenda-setting
8
ABSTRACT
This work aims to study the press in Portugal, as it approaches the
scheduling of the Diario de Noticias and Diario de Noticias da Madeira.
The object of this study was to analyze comparatively the two newspapers
in two months, and intended to evaluate to what extent the Diario de
Noticias and Diario de Noticias da Madeira would share the same agenda,
or, on the contrary, would give their readers different information. The
research found out marks of the proximity of both newspapers agenda with
their readers, which accounts for the difference and diversity of both
agendas.
Keywords: press, newspapers, Diário de Notícias, Diário de Notícias da
Madeira, agenda-setting
9
INTRODUÇÃO
A presente dissertação pretende analisar os valores-notícia que orientam o
processo da agenda-setting1 no Diário de Notícias e no Diário de Notícias da Madeira.
Este case study pareceu-me especialmente interessante porque se ocupa do
estudo e análise do funcionamento do processo de agendamento de ambos os Diários de
Notícias – jornais que por terem o mesmo nome, teoricamente teriam o mesmo nível de
rigor e qualidade jornalística. O estudo parte do princípio que se o processo de
agendamento num jornal e os valores notícia que o norteiam fosse totalmente
„objectivo‟, a agenda de ambos os diários de notícias deveria ser significativamente
semelhante.
Com este estudo, espera-se obter uma compreensão do conceito de
agendamento, assim como as características, semelhanças e diferenças existentes na
agenda dos jornais analisados.
Como hipóteses para o presente trabalho são formuladas as seguintes:
Existem diferenças no processo de agendamento de ambos os Diários de
Notícias, e ao longo deste trabalho serão analisadas as respectivas diferenças e
semelhanças entre os Diários. Essas diferenças verificam-se pela necessidade de o jornal
se adaptar aos seus públicos, e seriam menores se o processo de agendamento fosse
determinado por valores-notícia „objectivos‟.
Notar-se-á que existe uma certa tendência para privilegiar a notícia política, em
ambos os jornais. Tal facto deve-se à proximidade que faz com que a notícia local ou
nacional seja mais ou menos importante, mediante os leitores a que se destina.
1
Agenda-setting é o vocábulo utilizado para designar o estudo do poder de agenda dos meios de
comunicação, ou seja, a capacidade que estes possuem para evidenciar jornalisticamente um determinado
assunto. Investigam a importância dos media como mediadores entre o indivíduo e uma realidade da qual
este se encontra distante
10
Para tal, o trabalho foi iniciado com uma pesquisa, recolha e compilação de
todas as informações necessárias para a realização e uma melhor compreensão dos
objectivos desta dissertação.
Seguidamente foi iniciada a fase de selecção e apuramento da metodologia a
qual, para Fortin2 “operacionaliza o estudo, precisando o tipo de estudo, as definições
operacionais das variáveis, o meio onde se desenrola o estudo e a população.”
Ainda segundo a mesma autora a definição da metodologia também consiste em
precisar como será feita a integração da questão em estudo num plano trabalho, o qual
estabelecerá o conjunto de actividades que irão conduzir à realização da investigação.
Para a selecção do corpus empírico, ou seja, dos materiais a analisar,
escolheram-se dois meses distintos, Outubro de 2009 e Janeiro de 2010, tendo sido
feitas recolhas e posterior análise de todos os jornais produzidos por ambas as
publicações no período em análise.
Todos os meios que fazem com que a notícia chegue ao público são jornalismo.
Na base deste processo estão a elaboração, a periodicidade e a persistência.
Rui Barbosa3 considera que “a imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação
acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe
ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam,
mede o que lhe cerceiam, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça”.
Segundo Jefferson o carácter de um jornal é muitas vezes medido pela
resistência que oferece às pressões políticas e económicas.
Quanto mais independentes e livres são os veículos de informação, mais crescem
na confiança do público, que sabe distinguir entre a controvérsia da tendenciosidade.
O estudo dos efeitos dos meios de comunicação tem importância para a
sociedade, uma vez que permite compreender como estes meios trabalham na formação
da opinião pública.
2
FORTIN, Marie Fabienne (1999), O processo de investigação, da concepção à realização, Loures,
Lusociência – Edições Técnicas e Científicas Lda. p. 108
3
BARBOSA, Rui. (1990), A imprensa e o dever da verdade. São Paulo: Com-Arte; Editora da
Universidade de São Paulo, 80 p.
11
É inegável a influência dos meios de comunicação no quotidiano das pessoas. As
conversas interpessoais entre as pessoas são sugeridas pelos jornais, televisão, rádio e
internet, propiciando aos receptores a hierarquização dos assuntos que devem ser
pensados e falados.
Consequentemente, a realidade social passa a ser representada por um cenário
montado a partir dos meios de comunicação de massa.
A corrente de investigação que estuda sobre o quê e como os assuntos devem ser
“pensados” é a hipótese do agenda-setting. Neste trabalho procuro mostrar como a
escolha dessa agenda depende mais do público a que o jornal se destina, do que do
universo do objectivamente noticiável que efectivamente o rodeia.
No capítulo I, falarei dos objectivos e hipóteses de investigação na presente
dissertação, e porque escolhi para objecto de análise dois jornais de imprensa diária: o
Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira. Explicarei a constituição e
descrição do corpus de análise e de toda a fase metodológica que foi indispensável para
este estudo.
No capítulo II, abordou-se a história de ambos os Diários de Notícias, os seus
fundadores e o progresso que estes jornais têm vindo a ter, bem como todo um conjunto
de instrumentos teóricos que são necessários para o tema que me predispus a
desenvolver nesta dissertação.
No capítulo III, debrucei-me sobre a importância da imprensa escrita na vida dos
portugueses e da informação dada pelos Diários de Notícias, jornais que apesar de terem
o mesmo nome, têm diferentes processos de agendamento. Em ambos os jornais
encontraram-se marcas de proximidade com os respectivos leitores, que constituindo
grupos „sociologicamente‟ muito distintos, determinam naturalmente agendas
fortemente diferenciadas nas duas publicações analisadas.
O capítulo IV, relata o alinhamento de cada um dos jornais, sendo que para isso
falarei dos valores-notícia de cada um dos Diários de Notícias. Para isso incluí a
estrutura das notícias dos diferentes jornais e o agenda-setting dos mesmos.
Por último, no que toca ao estudo de caso, apresentarei os resultados e análise
dos dados empíricos, as categorias temáticas dominantes em ambos os Diário nos meses
12
de Outubro de 2009 e Janeiro 2010, e analisarei quais as personagens mais referenciadas
nessas notícias.
13
CAPÍTULO I - Hipóteses e Metodologia
1.1. Objectivos e hipóteses de investigação
Neste estudo foram analisados os alinhamentos dos dois Diários de Notícias,
com a finalidade de verificar se existiam diferenças entre estes dois tipos de jornais,
nomeadamente no que concerne aos seguintes aspectos:
- Páginas dedicadas a cada categoria temática;
- Critérios de noticiabilidade;
- Peso relativo dos conteúdos de interesse do público;
- Tendência dominante nas notícias transmitidas (positivas/negativas);
- Construção da notícia (simples ou complexa);
- Personagens que mais aparecem como centro das notícias;
- Notícia de abertura (manchete) em cada um dos jornais.
1.2. Constituição e descrição do corpus de análise
A análise feita do Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira incidiu
sobre os meses de Outubro de 2009 e Janeiro de 2010, o que fez com que o total de cada
jornal impresso analisado fosse de 62 (31 jornais em cada mês); ou seja, de 124 para a
totalidade da amostra.
Sendo que o Diário de Notícias tem em média sessenta páginas, que podem
variar consoante o dia da semana foram analisadas 1860 páginas, as quais juntamente
com o Diário de Notícias da Madeira perfazem um total de 3720 páginas. Em média
cada jornal tem entre sete a doze notícias por página, por isso, pode-se fazer uma
estimativa de que foram analisadas pelo menos cerca de 1240 notícias em ambos os
jornais.
14
1.3. Categorização dos dados
Para estudar as diferenças e semelhanças entre a agenda dos dois Diários de
Notícias, foram estabelecidas algumas variáveis de análise, que depois de relacionadas,
permitiram verificar essas características ao nível do conteúdo de cada um dos jornais.
1.3.1. Categorias Temáticas
Esta variável permitiu a classificação temática dos jornais impressos.
Geralmente o jornal é dividido em secções mediante o tema sobre o qual se ocupam.
A integração das notícias nas respectivas categorias foi efectuada sempre que
apresentavam as seguintes características:
Política - Todos os assuntos relacionados com o Estado, Governo, Governo
Regional, medidas governamentais, assuntos parlamentares, etc. Todas as actividades
que os políticos portugueses desenvolveram dentro e fora do país.
Economia – Assuntos que dizem respeito à indústria, comércio, serviços e
qualquer acção que tenha influência na estrutura económica.
Cultura – Categoria que engloba todas as notícias versando sobre arte, cinema,
exposições, música, literatura etc.
Desporto – Inclui todas as notícias sobre modalidades e competições
desportivas, clubes, jogos, conferências de imprensa com jogadores, eleições para os
clubes, etc.
Casos do dia - Notícias relativas a indivíduos em situações adversas e
incontroláveis que criam uma deslocação radical dos processos rotineiros da vida diária.
Fait-divers e casos de polícia são o género de notícias que podem ser incluídas em
„Casos do dia‟.
15
Internacional - Nesta categoria incluem-se os acontecimentos protagonizados
por estrangeiros, ou seja, que ocorrem fora do território nacional, sejam eles de índole
política, desportiva, económica ou cultural.
Sociedade – Assuntos do dia-a-dia da sociedade civil. Esta categoria inclui
subcategorias tais como: Educação, Saúde, Ciência, Religião, Justiça, Ambiente e
Segurança.
1.3.2. Notícia de abertura (manchete)
A primeira página de cada jornal constitui uma súmula dos temas mais
importantes de que este trata, pelo que a sua análise é relevante. No cruzamento desta
variável com as categorias temáticas foi possível identificar quais as notícias que mais
aparecem como manchete.
1.3.4. Personagens da notícia
Com a variável personagem da notícia pretende-se saber quais as pessoas que
mais se destacam em cada categoria temática. Serão criadas subcategorias para as
personagens: políticos, artistas, desportistas/dirigentes, religiosos, cidadão comum.
1.4. Tratamento dos dados
Através da análise detalhada dos conteúdos de cada um dos jornais em estudo
pretende-se compreender as características específicas dos mesmos e o modo como o
seu âmbito geográfico e o público a que se destinam determinam diferentes valorizações
- diferentes agendas - dos factos noticiosos que ocorreram na vida pública durante o
período analisado.
16
Após a categorização e análise dos dados recolhidos, torna-se perceptível como
ambos os jornais se procuram adaptar ao seu público e ao seu auditório, moldando a
realidade que noticiam às expectativas e interesses desse mesmo público.
17
CAPÍTULO II - Breve História dos “Diários de Notícias”
2.1. Diário de Notícias
Antes da queda da Monarquia, em 1910, nasceram grandes clássicos do
jornalismo escrito português, como é o caso do Diário de Notícias, que foi fundado no
dia 29 de Dezembro de 1864 por Eduardo Coelho, um jornalista conhecido que na altura
redigia o noticiário da Revolução de Setembro, e Tomás Quintino Antunes, proprietário
da Tipografia Universal.
“Tendo-se familiarizado com os trabalhos jornalísticos, na assídua colaboração com as
folhas periódicas (...), Eduardo Coelho foi quem, em Portugal, primeiro e mais perspicazmente
do que qualquer outro, previu o largo futuro de uma empresa de índole inteiramente nova entre
nós, como seria a de um jornal noticioso, genuinamente imparcial e independente, cujo preço
estivesse ao alcance de todas as bolsas e cujo programa e cujos processos se assemelhassem aos
de alguns periódicos estrangeiros de sua particular predilecção”4.
O Diário de Notícias, como o próprio nome indica foi criado com o desígnio de
relatar a vida nacional e os acontecimentos de maior importância de todos os países,
podendo ser considerado um jornal diário de informação generalista e interesse
universal.
Em 1864, quando a maior parte dos jornais faziam questão de mostrar a sua veia
de combate político, o Diário de Notícias apostou na sobriedade informativa, rigor e
imparcialidade.
Eça de Queirós foi um importante colaborador nos primeiros anos do Diário, o
que fez impulsionar bastante o jornal. Assim como o pai de Fernando Pessoa, Joaquim
de Seabra Pessoa, que foi também um crítico musical do jornal.
É importante realçar também que, durante o Verão Quente de 1975, José
Saramago foi director ajunto do Diário de Notícias.
4
CUNHA, Alfredo (1891), “Eduardo Coelho, a sua vida e a sua obra. Alguns factos para a história do
jornalismo português”, Lisboa, Tipografia Universal, p.53.
18
Por todas estas razões, desde há muito o Diário de Notícias é considerado um
dos jornais de referência em Portugal, tendo actualmente uma tiragem média de 34 mil
exemplares.
O Diário de Notícias anuncia-se como “uma compilação cuidadosa de todas as
notícias do dia, de todos os países e de todas as especialidades, ou seja, um noticiário universal.
Em estilo fácil e com a maior concisão, informa o leitor de todas as ocorrências interessantes,
assim de Portugal como das demais nações, reproduzindo à última hora, todas as novidades
políticas, científicas, artísticas, literárias comerciais, industriais, agrícolas, criminais e
estatísticas. Não discute políticas, nem sustenta polémica. Regista com a possível verdade todos
os acontecimentos, deixando ao leitor, quaisquer que sejam os seus princípios e opiniões,
comentá-los como melhor lhes parece. Escrito em linguagem decente e urbana, as suas colunas
são absolutamente vedadas à exposição dos actos da vida particular dos cidadãos, às injúrias e
às alusões desonestas. É pois um jornal de todos e para todos, para os pobres e ricos, de ambos
os sexos e de todas as condições, classes e partidos”. 5
Uma das características que caracterizam o DN é a imparcialidade que este
jornal tem vindo a ter ao longo da sua existência. Por ser acessível a todos, o seu
conteúdo é de interesse geral, sendo compreensível por todos, e acessível a todas as
classes sociais.
Aquando da primeira edição do jornal, em 1864, o modelo adoptado pelos
fundadores foi o que já era habitual em Inglaterra, França, Bélgica e Espanha, e que
permitia, através de anúncios pagos, explorar todos os tipos de publicidade, assim se
criando um novo mercado.
Até ao aparecimento do DN, a publicidade em jornais era escassa. Uma vez mais
o jornal veio alterar este panorama e fez com que a publicidade entrasse nos hábitos
diários da sociedade. Chegou a ser criado um espaço próprio para a publicidade no
Diário de Notícias, o que fez com que este alcançasse a tabela de preços mais barata dos
jornais da Europa.
Foi numa manhã fria de 1864 que ao som de “compre aqui o seu Diário de
Notícias” surgiu uma nova profissão em Portugal, a de ardina ou vendedor de jornais.
Esta profissão foi evoluindo com o passar dos tempos, todavia foi graças ao DN que se
5
CUNHA, Alfredo (1914), “O Diário de Notícias. A Sua Fundação e os Seus Fundadores”.
19
fundou a associação de socorros mútuos e escolares dos vendedores de jornais. Esta
pequena associação foi subsidiada por aquele mesmo jornal.
O Diário de Notícias introduziu também em Portugal dois novos géneros
jornalísticos: o editorial e a reportagem. O seu primeiro editorial surgiu em 1868 (quatro
anos após a fundação) na rubrica “Assunto do Dia”. As primeiras reportagens feitas
serviram para cobrir acontecimentos como incêndios em Lisboa ou Porto, assim como
acidentes quotidianos.
Foi, também, graças a este jornal que se desenvolveram as artes gráficas em
Portugal com o uso da máquina rotativa Marinoni6, apesar de mais tarde esta ter sido
substituída por uma maior, a Augsburg7
O Diário de Notícias fomentou várias acções de beneficência em instituições de
apoio, dirigidas aos mais pobres, crianças abandonadas e doentes, estudantes com
dificuldades económicas, hospitais e creches.
É de realçar ainda o facto de este jornal ter apoiado as vítimas do terramoto de
Benavente em 1909. Os donativos resultantes da campanha conduzida pelo jornal foram
encaminhados para a construção de um bairro com o nome Diário de Notícias, e o
rendimento obtido com as rendas serviam para apoiar o sustento das crianças da vila.
Qualquer calamidade pôde contar com o apoio incondicional deste jornal, quer
esta fosse nacional, quer fosse internacional, como aliás aconteceu no terramoto de
Agadir, que arrasou aquela povoação marroquina. Neste acontecimento, também o
jornal fez uma subscrição a favor das vítimas.
O Diário de Notícias teve desde sempre um grande impacto a nível nacional e
assumiu acções culturais relevantes tais como comemorações de acontecimentos
históricos caídos no esquecimento da sociedade.
Evidencia-se nesta ordem o poeta Camões, “exortado nas colunas do jornal em 10
de Junho de 1865. Mais tarde, em 1880 o DN distribuiu uma edição de “Os Lusíadas”,
6
Hippolyte Marinoni inventou a rotativa máquina em 1866, que revolucionou o processo de impressão ao
imprimir 10.000 exemplares/hora e necessitando apenas de três operários.
7
A máquina de impressão Augsburg imprimia tiragens de 12000, 24000, 48000 exemplares/hora
20
gratuitamente aos seus leitores assim como uma homenagem ao grande poeta; assim como foi
distribuído um exemplar a cada escola primária do então, Reino de Portugal”. 8
A pessoa que mais cooperou com a realização das celebrações do tricentenário
de Camões, 1880, assim como com o Congresso das Associações Portuguesas foi
Eduardo Coelho, então director do Diário de Notícias.
Pode dizer-se que desde a sua fundação, todas as datas históricas nacionais e
internacionais de maior importância foram registadas pelo DN.
Outro aspecto relevante acerca da acção deste jornal foi o seu contributo para a
expansão da instrução popular, pois o jornal desde sempre soube incutir o gosto pela
leitura na população.
Após seis anos de existência, o DN contava com cerca de 1500 artigos: história
nacional e universal, geografia, cronologia, artigos biográficos e bibliográficos,
economia, social, história sagrada, higiene popular, artigos de química, física e
medicina, entre muitos outros.
Contudo, foi no ano de 1931 que o Diário de Notícias atingiu o seu auge ao
iniciar uma campanha contra o analfabetismo. A esta campanha aderiram não só poetas,
professores, e jornalistas, mas também associações, faculdades, o bispo do Porto e
outras figuras conhecidas.
Com tudo isto, também o governo na altura criou cursos nocturnos de modo a
instruir os analfabetos. Houve uma adesão enorme ao longo do país, assim como um
entusiasmo ainda maior por parte dos destinatários de tais acções.
Este aspecto, o da difusão da instrução popular, foi sempre uma grande
preocupação partilhada pelo DN.
8
PACHECO, Óscar, “Pequena história de um grande Jornal: I Congresso do Diário de Notícias"
21
Todos os grandes acontecimentos nacionais e internacionais passados nos
últimos séculos ficaram registados e muitas vezes detalhadamente referidos nas colunas
do Diário de Notícias.
Nas páginas do Diário de Notícias estão arquivadas entrevistas com algumas das
mais notáveis figuras da história mundial como por exemplo os papas Bento XV e Pio
XI, chefes de estado como Afonso XIII, rei de Espanha, príncipe Alberto do Mónaco,
assim como outras figuras de enorme influência.
O Diário de Notícias promoveu também vários congressos, entre eles os da
Imprensa Latina, dos quais o primeiro foi realizado em Lyon, França, e o segundo em
Lisboa.
Este jornal diferenciou-se aquando da sua primeira publicação dos restantes
jornais portugueses pois os seus conteúdos noticiosos eram diferentes, o seu estilo era
claro, conciso e simples, o seu aspecto, mais precisamente a paginação, foi remetido a
quatro colunas e não a duas ou uma o que naquela altura era habitual, a sua dimensão
era já específica de “jornal” e não de livros ou panfletos como era costume nos outros
jornais, entre muitas outras características que contribuíram para o destacar no âmbito
das publicações nacionais.
Através da sua extensa história, o DN provou ser, ao longo dos anos, um jornal
independente e interclassista, que é lido tanto pelas elites como pelas pessoas ditas
comuns e classes populares, por homens e mulheres, jovens e idosos, devido à sua
grande variedade de conteúdos.
Sendo as características mestres do Diário de Notícias a imparcialidade, a
sobriedade e o rigor jornalístico, foram estas qualidades que fizeram com que este jornal
se tornasse uma voz activa e eficaz junto da população e representasse a mesma.
2.2. Diário de Notícias da Madeira
“Dia sem Diário não é dia”. São muitas as pessoas que concordam com este dito
pois a história do Diário de Notícias da Madeira acompanha de perto a história recente
22
de Portugal: o matutino noticiou revoluções, acompanhou a queda da Monarquia, a
Implantação da República, atravessou a ditadura, passou por crises, nomeadamente
durante a II Guerra Mundial, noticiou o 25 de Abril, e informou os portugueses ao longo
dos anos sobre o quotidiano do seu povo, do seu país e dos outros.
O Diário de Notícias da Madeira é uma instituição com peso social e político
relevante na sociedade madeirense.
É um jornal diário que foi pela primeira vez publicado no dia 11 de Outubro de
1876 na cidade do Funchal, ilha da Madeira, tendo como impulsionador o cónego
Alfredo César de Oliveira, «homem de uma cultura exímia, energético parlamentar
tomou as directrizes de um projecto que ainda hoje se mantém actual e a par das
evoluções técnicas do sector, prestigiado e afirmativo, com uma grande vontade de
modernização».
A escrita objectiva é uma das características do DN da Madeira. Este jornal
relatou ao longo dos anos histórias simples, outras complexas, mas sempre procurando
informar com elevados padrões que qualidade, em tudo comparáveis aos padrões que
norteiam o seu homónimo continental Diário de Notícias. De resto ambos os jornais
pertencem ao mesmo grupo económico, a Controlinveste, que é ainda proprietária, entre
outros, dos jornais Açoriano Oriental, Jornal do Fundão, Jornal de Notícias, O Jogo,
Ocasião, e da TSF e Sport TV.
Ao longo do tempo a imagem do Diário de Notícias da Madeira mudou,
adaptou-se às novas exigências dos leitores, bem como às inovações tecnológicas que
foram surgindo: Abandonou a impressão mecânica optando pelo “offset”9, alterou o seu
formato e passou a ser impresso a cores. Soube acompanhar as novas tecnologias e
criou novos produtos temáticos. No fundo, perseguiu a sua missão inicial de informar e
formar.
9
A impressão offset é um processo cuja essência consiste em repulsão entre água e gordura. O nome
offset (fora do lugar) vem do facto da impressão ser indirecta, ou seja, a tinta passa por um cilindro
intermediário, antes de atingir a superfície. Este método tornou-se principal na impressão de grandes
tiragens
23
O Diário de Notícias da Madeira é o maior jornal diário regional português, com
grande expansão entre as comunidades de emigrantes na África do Sul, Venezuela,
Brasil e Estados Unidos.
“A imprensa regional desempenha um papel altamente relevante, não só no âmbito
territorial a que naturalmente mais diz respeito, mas também na informação e contributo para a
manutenção de laços de autêntica familiaridade entre as gentes locais e as comunidades de
emigrantes dispersas pelas partes mais longínquas do mundo. Muitas vezes, ela é, com efeito, o
único veículo de publicitação das aspirações a que a imprensa de expansão nacional dificilmente
é sensível; e constitui, por outro lado, um autêntico veículo de difusão, junto daqueles que se
encontram fora do País, daquilo que se passa com os que não os quiseram ou não puderam
acompanhar. Além disso, tem, por regra, sabido desempenhar uma função cultural a que
nenhum órgão de comunicação social pode manter-se alheio.”10.
Este excerto retirado do Estatuto da Imprensa Regional mostra a dificuldade que se
apresenta a quem pretende decifrar o universo da imprensa regional portuguesa.
Ao domingo, o Diário de Notícias da Madeira tem um suplemento muito
interessante, a Revista Diário. Destaca-se também outro suplemento, Fim-de-semana,
publicado à sexta-feira.
É de salientar que este jornal tem site na internet com quase todos os conteúdos
disponíveis para os seus leitores.
O Diário de Notícias da Madeira já ultrapassou os 130 anos de existência. Estes
anos de vida exprimem um grupo de homens de boa vontade, de ideias abertas e de
grande dedicação que, em ocasiões diferentes, e muitas vezes perante cenários de difícil
contorno, deram o seu melhor, empenhando-se na defesa de um jornal que tem marcado
e sido referência da informação na Madeira.
A fundação deste matutino foi considerada inicialmente como uma aventura,
visto que os promotores do jornal se depararam com uma população maioritariamente
iletrada. No entanto pouco a pouco a publicação deste jornal começou a ganhar espaço
no combate diário da época.
10
Preâmbulo do Estatuto da Imprensa Regional (Decreto-Lei nº 106/88, de 31 de Março.
24
Assim, no arquipélago da Madeira, o Diário de Notícias conseguiu por fim,
afirmar-se diante de uma população que ansiava por mais e que sabia que a evolução e o
progresso só chegariam com mais conhecimentos e instrução.
No dia 8 de Fevereiro de 1882, seis anos após a primeira edição do DN da
Madeira, Alexandre Fernandes Camacho Júnior, que era proprietário do Diário da
Manhã, suspendeu o mesmo e adquiriu o Diário de Notícias, levando para este último o
estilo do primeiro.
O Diário de Notícias da Madeira voltou a mudar de proprietário dois anos depois
sendo, que o novo proprietário viria a ser Tristão Câmara. Em 1886, o habitual
cabeçalho-gótico11do DN funchalense foi substituído por outro estilo.
Nos finais do ano 1896, o Diário de Notícias da Madeira teve a sua sede no
centro do Funchal concentrando lá a sua redacção, administração e tipografia.
Em 1906, um período que foi difícil na vida política e pública madeirense, este
jornal não apresentava no seu cabeçalho o nome do director, apenas o nome do editor,
que nessa altura era um tipógrafo conhecido, António André Martins.
Na data em que se assinalava a implantação da República, no dia 5 de Outubro
de 1910, este matutino madeirense pertencia a João Martins, que era não só proprietário
como também editor.
Contudo no ano seguinte, 1911, o DN passa a incluir um novo secretário da
redacção e editor, Francisco da Conceição Rodrigues. Este jornalista, mais tarde, veio a
ocupar a direcção do Diário de Notícias da Madeira, e tornou-se num assumido e activo
defensor dos valores democráticos.
Nesse mesmo ano, a rede telefónica foi instalada no Funchal, e o matutino
madeirense foi um dos primeiros assinantes desta nova linha de progresso. Em 1916 foilhe atribuído o telefone número 32.
11
Os Tipos Góticos são caracterizados pelo seu aspecto condensado e angular, onde a ausência de curvas
é quase uma constante, e pelas curtas ascendentes e descendentes
25
Em Março de 1926, a comissão executiva da Câmara Municipal do Funchal
homenageou o Diário de Notícias dando esse mesmo nome a uma das ruas mais
movimentadas do Funchal.
A rua “Diário de Notícias” durou até finais de 1935, visto que foi nessa altura,
na época do Estado Novo, que o presidente da Câmara Municipal do Funchal, Fernão de
Ornelas, anulou essa denominação, passando a rua a chamar-se “Rua da Alfândega”.
Ainda no ano de 1926, o Diário de Notícias da Madeira assinalou meio século de vida.
O já acima referido Francisco da Conceição Rodrigues dirigiu o jornal até 1927.
Nessa altura foi a vez de Feliciano Soares assumir a direcção e ocupá-la até 1931.
Na semana em que surgiu a Revolução da Madeira (4 de Abril até 3 de Maio de
1931)12 um jovem advogado, Alberto de Araújo, substituiu Feliciano Soares e começou
a desempenhar a função de director do Diário de Notícias da Madeira, função essa que
manteve até Maio de 1974.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o matutino passou por dificuldades diversas
que o grupo “Blandy Brother‟s” soube colmatar com sucesso. Assim, nos anos 50, o DN
madeirense dispunha já de uma série de publicações atraentes e versáteis, a sua imagem
gráfica havia sido renovada e a actividade publicitária por parte de firmas, marcas ou
produtos de qualidade subiu progressivamente.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, o Diário de Notícias espelhou todas as
mutações na vida dos portugueses em geral, e dos madeirenses em particular. Salientese o facto de que depois da revolução do 25 de Abril de 1974, na ilha da Madeira se
mantiveram dois diários locais: o Diário de Notícias, da família Blandy, e o Jornal da
Madeira, pertencente à igreja, que mais tarde sofreu influências por parte do governo
regional.
Em Maio de 1974, Armindo Abreu sucedeu a Alberto de Araújo na direcção do
matutino madeirense, todavia permaneceu na direcção deste jornal somente um mês,
12
A crise económica e o desemprego que afectava a Madeira deu lugar à Revolta da Madeira ou Revolta
das Ilhas, que foi um movimento militar contra o governo da Ditadura Nacional ocorrido na ilha da
Madeira
26
tendo sido substituído pelo sociólogo José Manuel Paquete de Oliveira, combatente
assumido pela liberdade e os valores e direitos humanos.
Outras figuras passaram na direcção do DN, foi o caso de Sílvio Leonel Ferreira
da Silva, que assumiu a direcção em Janeiro de 1981 e manteve-a até Janeiro de 1989.
Considerado o maior diário de expansão regionalista do país, o DNM visa servir
sempre os seus leitores e anunciantes, e tem vindo a alargar a sua equipa de trabalho.
Em Janeiro de 1989 Jorge Figueira da Silva substituiu o jornalista Sílvio Silva e
assumiu a direcção do matutino.
Este novo director soube ganhar o equilíbrio e manter a capacidade de informar
e formar o público madeirense.
Em 1993, o Diário de Notícias da Madeira passou por uma remodelação, a
estrutura da página foi totalmente mudada, incluindo uma nova imagem corporativa, e
uma página a cores.
O Diário de Notícias da Madeira e o Diário de Notícias, apesar de terem como
elo de ligação o nome, e actualmente o mesmo proprietário, nasceram em tempos e
locais diferentes.
O matutino madeirense juntou-se a um dos mais importantes grupos da imprensa
em Portugal: o Grupo Lusomundo. Nesta junção este diário estabeleceu uma ligação à
empresa proprietária do Diário de Notícias de Lisboa e do Jornal de Notícias do Porto.
Este jornal tem vindo a ter como característica tiragens bastante expressivas e a
cor passou a ser dominante no grafismo a partir de 1993. A
revista
do
diário
ao
domingo é um marco assinalável, e constituiu como que uma dinamização dos
departamentos de venda e de marketing, que completaram uma esfera que hoje agita o
panorama regional.
No ano de 1997, um jornalista madeirense, Paulo Neves, assumiu a direcção do
DN madeirense. Este novo director agitou e rejuvenesceu o respectivo jornal, dado que
criou novas secções, enriqueceu temas de foro regional, fez sondagens ao seu público, e
mediante as respostas desse mesmo público definiu prioridades para a publicação.
27
Verificou-se igualmente, sob o seu consulado, uma actualização técnica e uma
aposta contínua nas novas tecnologias da informação.
Este jornal madeirense é um projecto que integra várias componentes. Líder e
afirmativo, rege-se pelas mesmas razões que o fizeram mover há quase 134 anos, ou
seja, pelos interesses das pessoas. O Diário de Notícias da Madeira retrata o dia-a-dia do
seu público e mantém-no informado desde o dia 11 de Outubro de 1876.
28
CAPÍTULO III - Informação Noticiosa
3.1. A Importância da Imprensa Escrita na vida dos portugueses
É do conhecimento geral que a imprensa foi criada por Guttenberg no século
XV, contudo foi na Suméria e Mesopotâmia no século XVIII a.C. que foram criadas as
primeiras reproduções escritas.
A partir da invenção de Guttenberg, a imprensa escrita espalhou-se por toda a
Europa e teve uma notória evolução até aos dias de hoje, adquirindo um grande poder
de influência.
O aparecimento da imprensa portuguesa teve início aquando das Guerras da
Restauração.
“A impressão gerou uma nova actividade económica digna de ser levada em
consideração, quer no que respeita à produção de matérias-primas como o papel, quer no que se
refere ao comércio do principal dos seus produtos, o livro e, mais tarde, da imprensa
periódica”13.
O jornalismo e a impressão são dois termos que sempre andaram “de mãos
dadas”. As chamadas “Gazetas da Restauração” que surgiram no mês de Novembro de
1641 foram consideradas o primeiro periódico português relatavam as notícias daquela
altura.
“Com o final da Guerra do Trinta Anos, as nações começaram a consciencializar-se das
lutas em favor da hegemonia política da Europa e dos seus sucessos, para daí estabelecerem
comparações. Diminuíam assim a distância geográfica e identificavam-se com estes sucessos.
Assim, a imprensa periódica portuguesa tornou-se um veículo capaz de transmitir as notícias da
história dos povos”14.
13
Quintero, Alejandro Pizarroso, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p. 30
Imprensa em Portugal até ao século XVII. In Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consultado
em 2010-01-06]. URL: http://www.infopedia.pt/$imprensa-em-portugal-ate-ao-seculo-xvii
14
29
A Gazeta15 tornou-se, portanto, o principal órgão informativo daquela época
contendo notícias vindas do estrangeiro e do país de forma a informar a quem se
encontrava fora os rumos da administração pública e da corte. A Gazeta incluía uma
secção denominada “Novas de Fora do Reino”, que hoje em dia poderia corresponder ao
Internacional
António Sousa de Macedo foi considerado o primeiro jornalista português, esta
denominação deveu-se ao seu estilo conciso e à sua vasta cultura. Fundou o “Mercúrio
Português” que foi publicado pela primeira vez em Janeiro de 1663, uma época em que
era necessário incutir alguma réstia de esperança aos portugueses. António de Macedo
tentou aproximar a imprensa portuguesa da imprensa europeia.
Este periódico manteve maioritariamente as mesmas características da Gazeta,
contudo pretendia na altura fazer pressão face a Espanha, de modo a que esta deixasse
de atacar Portugal. Tinha por isso, um cariz político mais marcado.
“A Regeneração apaziguou os ânimos exaltados da agitada vida política portuguesa
que, a partir de então, funcionou como um sistema liberal, (…) Portugal iniciou, além disso, a
era da modernização, (…) a entrada em funcionamento do telégrafo melhorou o correio diário e
acelerou a difusão e a rapidez das informações”. 16
Houve então uma nova fase da imprensa em Portugal que contou com a
colaboração dos mais prestigiados jornais portugueses, nomeadamente o Diário de
Notícias.
Aos poucos a imprensa foi-se estendendo por todo o país o que fez com que
houvesse um aumento de cultura das populações rurais. O aparecimento do Diário de
Notícias marcou não apenas a história da comunicação em Portugal mas também o
início da sua industrialização.
“Numa concepção actualizada de economia de mercado, o aumento da tiragem, com
despesas mais ou menos idênticas, preço de custo mais baixo, acessível a um público alargado,
15
A Gazeta de Lisboa foi o primeiro periódico português publicado em Lisboa, em 1641 durante o
reinado de D. João IV In Wikipedia
16
QUINTERO, Pizarroso Alejandro, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p.360
30
mais anúncios e mais caros, maior tiragem, menos opinião e mais informação, fez deste
periódico um sucesso”.17
A partir de 1864, Portugal contava com uma imprensa “ consideravelmente
imbuída pela notícia em oposição à anterior hegemonia da imprensa de opinião”. 18
O Diário de Notícias serviu de exemplo como um dos novos jornais que
surgiram no último quartel do século XIX e que marcaram positivamente esse mesmo
século. Inicialmente, e porque havia limitações de cariz real, a liberdade da imprensa
iniciou-se contra a censura religiosa e estatual, ou seja, lutava pela liberdade de
expressão.
“Historicamente, a afirmação do jornalismo na Europa, designadamente em França,
19
Holanda e Inglaterra fez-se através do cruzamento dos universos da cultura e da política” .
A política esteve sempre entrelaçada com a imprensa e segundo João Figueira,
“as páginas dos jornais eram o lugar onde a competição pela apropriação da legitimidade dos
discursos tinha lugar e em que o jornalista - às vezes o único redactor – não se limitava a
transmitir as palavras que escutava nos debates parlamentares ou nas discussões travadas no
interior dos salões, clubes políticos ou gabinetes de leitura: acompanhava o texto de
comentários seus, interpretando e colorindo os acontecimentos de que dava conta” 20.
A imprensa acompanha desde sempre a história, é como que um veículo de
informação que aproxima o público no espaço e no tempo. A partir de 1869 muitos
intelectuais portugueses deixaram-se contagiar pelo movimento republicano.
“No início da Regeneração, os diferentes sectores profissionais da sociedade portuguesa
decidiram fundar órgãos jornalísticos próprios. Deste modo, os metalúrgicos possuíam O Eco
Metalúrgico (Lisboa, 1850); os tipógrafos, A Tribuna (Lisboa, 1853); os sapateiros, O Jornal da
Associação dos Sapateiros e Artes que trabalham em Cabedal (Lisboa, 1853); os professores, O
Jornal da Associação dos Professores (Lisboa, 1850); os tecelões, A Associação Fraternal dos
21
fabricantes de tecidos e Artes Correlativas (Lisboa, 1858) ”.
17
ALVES, dos Santos José Augusto, “O Poder da Comunicação”, Media & Sociedade, 2005, p.164
Idem
19
Tengarrinha, José, “História da Imprensa Periódica Portuguesa, Editorial Caminho, Lisboa, 1989, p.116
20
Figueira, João, “Os Jornais como actores políticos”, Minerva Coimbra, 2007, p.28
21
Quintero, Alejandro Pizarroso, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p. 362
18
31
Juntamente com a imprensa operária, apareceu também a imprensa anarquista
que era caracterizada pela sua violência, o anarquismo, por isso, não teve uma dimensão
como o do operariado e os seus jornais. A imprensa anarquista tinha um público mais
restrito e tinham como jornais: O Revoltado (Lisboa, 1887); A Revolução Social (Porto,
1887) e Os Bárbaros (Coimbra, 1894).
Os movimentos republicanos e anarquistas agitaram a estabilidade do regime
monárquico constitucional e para combater este facto, os governantes suspenderam
vários jornais limitando, assim, a liberdade de imprensa que se fazia sentir na altura.
Devido à proclamação da República no dia 5 de Outubro de 1910, nasceram
inúmeros jornais políticos, exemplos desses mesmos jornais foram “A República” e “O
Intransigente”, todavia no período em que Salazar foi nomeado Presidente do Conselho
de Ministros, a imprensa não foi de todo beneficiada e foi “convidada” a se remeter ao
silêncio.
A função da imprensa na altura de Salazar era somente comunicar as acções e
actos oficiais.
Em 1975 foi criada uma nova lei da imprensa que protegia a liberdade da mesma
e anulava a censura.
Na transição para a democracia, o Estado português nacionalizou os principais
grupos económicos do país onde estavam incluídos a imprensa e a rádio.
“O Estado nacionalizou o Diário de Notícias, O Século, o Diário Popular, o Jornal de
Notícias, o Jornal do Comércio e A Capital. A rádio também foi nacionalizada (…) Logo
desapareceram os jornais da Acção Nacional Popular, o partido único do regime salazarista,
como o Diário da Manhã, A Época e A Voz. Mantiveram-se independentes o Diário de Lisboa,
A República, O Primeiro de Janeiro, o Comércio do Porto, o Diário de Coimbra e o semanário
Expresso. (…) Durante 1975 travaram-se duras batalhas pela independência da informação nas
redacções de todos os jornais, (…) em especial nos jornais mais influentes como o Diário de
Notícias (…)22
22
Quintero, Alejandro Pizarroso, “História da Imprensa”, Planeta Editora, 1994, p. 369.
32
Historicamente, Portugal é um país de “imprensa regional” visto que são
publicados por todo o país pequenos jornais ligados aos interesses primordiais de cada
público mediante a zona em que se encontram.
“Ao fazer-se a história da imprensa portuguesa das últimas décadas, não se pode
ignorar a expansão invulgar da imprensa desportiva”23.
O nosso país tem vários jornais desportivos diários tais como, “A Bola”,
“Record” e “O Jogo”, em que os dois primeiros atingem tiragens diárias superiores aos
100 mil exemplares.
De realçar também na imprensa especializada o grupo da “imprensa económica”
em que incluem jornais como “O Semanário económico”, «Jornal de Negócios» e “O
Diário Económico”.
3.2. A Informação dada pelos diferentes jornais
A actividade fulcral do jornalista centra-se em interpretar permanentemente a
realidade, analisá-la, estudá-la e seleccionar de entre todas as informações possíveis
aquelas que considera de maior interesse para o seu público.
O jornalista converte-se num filtro pois é ele que decide sobre o que é que o
público deve conhecer e falar.
Na interpretação desta realidade estão integrados vários níveis que juntos
formam a notícia: nível contextual, nível textual, nível estilístico e nível formal 24.
O nível contextual engloba todo o conjunto de juízos e decisões profissionais
que têm como objectivo a identificação, comparação e evolução hierárquica das
23
Idem, p.388
24
VIZUETE, José Ignacio; MARCET, José Maria, “La Información: Redacción y Estructuras”
33
notícias. É feita uma selecção nas notícias para se decidir quais as que são mais
oportunas e de mais interesse para o público.
O nível textual implica que depois de seleccionado o conteúdo da notícia seja,
então, feito todo um processo de elaboração da mesma, ou seja, constituição de título,
lead25 e corpo noticioso.
A nível estilístico, o jornalista terá que adoptar determinados códigos para que a
notícia seja redigida correctamente.
O nível estritamente formal diz respeito à unificação da informação e conclusão
da notícia. O jornal decide se a informação a ser editada vai ocupar uma coluna, ou duas
na página do jornal; se esta terá referência na primeira página ou não. Todo este
processo é realizado tendo em conta o código ético e deontológico dos jornalistas.
O jornalista, no exercício da sua profissão, goza dos seguintes direitos que dizem
respeito à liberdade de expressão e de orientação; liberdade de acesso às fontes de
informação; garantia de sigilo profissional; garantia da independência e participação na
orientação do respectivo órgão de informação.
Existe todo um conjunto de normas que servem para regular a actividade jornalística
para que seja elaborado um trabalho correcto e coerente. Como deveres o jornalista terá
que respeitar o código deontológico dos jornalistas; exercer a actividade com respeito
pela ética profissional, informando com rigor e isenção; respeitar a orientação e os
objectivos definidos no estatuto editorial do órgão onde exerçam a sua actividade
profissional; não formular acusações sem provas e respeitar a presunção de inocência;
não identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes contra a liberdade e
autodeterminação sexual; nem menores objectos de medidas tutelares sancionatórias;
não tratar discriminatoriamente pessoas em função da cor, raça, religião, nacionalidade
ou sexo; não recolher declarações ou imagens que atinjam a dignidade das pessoas;
respeitar a privacidade; não falsificar ou encenar situações, abusando da boa-fé do
público e não recolher imagens ou sons por meios não autorizados.
25
Lead corresponde ao primeiro parágrafo da notícia
34
A redacção de um jornal é a alma da imprensa. É neste lugar que ocorre todo o
processo que tem início no interesse do jornalista em noticiar algo, até ao momento em
que esse mesmo interesse e informação são passados para o papel e se transformam
numa notícia relevante para o público.
É na redacção que é feita a hierarquização, evolução e selecção de dados,
notícias e textos que posteriormente serão do conhecimento do público.
Há notícias que são previsíveis, no entanto, outras são imprevisíveis e alteram
espontaneamente o alinhamento de um jornal.
Grandes partes das informações que chegam ao jornal são dadas por fontes. O
trabalho do redactor consiste, no fundo, em ordenar todo o caudal informativo que
diariamente se abate sobre a redacção e que pode ser muito extenso e requerer fases de
selecção. A linguagem é o veículo por excelência da comunicação, e imprescindível no
caso da imprensa escrita, assumindo, no jornalismo em geral, um carácter pragmático
que torna mais eficaz a sua compreensão.
A linguagem escrita é o vínculo que une o jornalismo ao público. “Escrever é
pensar”26, como tal, do pensamento à escrita existem partes essenciais que é necessário
ter em conta na elaboração de um relato informativo.
Em primeiro lugar, a fase inicial deste processo consiste em encontrar assuntos
e/ou temas que possam fornecer detalhes novos e de interesse para os leitores, e
investigar esses mesmos temas.
Em segundo lugar, o jornalista necessita de, após concluir a recolha de
informação sobre um determinado assunto e de a ter na sua posse, ordenar essas
mesmas informações e seleccioná-las do mais importante para o menos importante.
Por último, o jornalista usa todos os seus recursos linguísticos de modo a
conseguir uma notícia correctamente redigida. O objectivo principal é que a notícia
capte imediatamente a atenção do leitor e lhe transmita de modo eficiente e económico a
informação pretendida.
26
Vivaldi, Martin Gonçalo, 1990, p.248
35
Tanto o Diário de Notícias como o Diário de Notícias da Madeira têm um
cuidado especial nesta fase de produção, procurando sempre redigir notícias atraentes e
concisas.
Por vezes, a linguagem jornalística é confundida com uma linguagem literária, o
que é errado, dado que a linguagem literária tem como base fundamental a beleza
estilística, enquanto a linguagem jornalística deve dominar as normas gramaticais e
linguísticas, fazer um uso correcto da linguagem e conhecer e aplicar formas concretas
para a difusão das notícias. Formas essas que derivam da diversidade de se dirigir a
públicos diferentes, quer a nível cultural, quer a nível geográfico.
No caso do Diário de Notícias da Madeira torna-se óbvio que é relevante para o
público madeirense o facto de o jornal relatar acontecimentos locais. Algo que não
acontece no Diário de Notícias em relação a notícias da Madeira, exceptuando alguns
casos políticos da Região Autónoma e o temporal que devastou a ilha no mês de
Fevereiro de 2010.
Isto porque o interesse do público por determinado acontecimento, e um valor
notícia fundamental, é o factor da proximidade. Quanto mais perto está a notícia em
relação ao público de determinado órgão de comunicação, mais importante esta se torna
para o jornal.
Naturalmente, a agenda dos jornais que analisamos reflecte esta premissa. A
informação dada pelo Diário de Notícias e Diário de Notícias da Madeira organiza-se
principalmente em duas secções: “Casos do Dia” e “Política”. Estas duas secções são
aquelas que, em meu entender, trazem o jornal para mais perto do seu público, fazendo
valer de pleno direito o valor notícia da proximidade.
36
CAPÍTULO IV - Os Diários de Notícias
4.1. Alinhamento de cada um dos jornais
Tanto o Diário de Notícias, como o Diário de Notícias da Madeira subdividem
as suas notícias em três esferas principais: a das notícias gerais, a das notícias de sector,
e a das notícias especializadas.
No primeiro género, fazem-se notícias sobre o que acontece no país, podendo
especificar-se algo que aconteça nalguma cidade; no segundo, o que acontece num
hospital ou numa repartição; e o terceiro género abrange uma vasta área de cobertura
específica como política, governo, economia, desporto, ciência, educação, etc.
A notícia subordina-se a diferentes critérios e é seleccionada e construída tendo
em atenção diferentes valores notícia. Entre eles é considerado o que é relevante,
oportuno, credível, correcto e interessante para o público em geral.
O vocabulário é usado segundo a técnica de readability27 que elege a denotação
como significação e a conotação como emoção. As palavras patentes numa notícia
seguem uma hierarquia, primeiro devido à sua capacidade denotativa e segundo quanto
à sua implicação conotativa.
“Recursos visuais como cor, caracteres, ilustrações, destaques, etc., têm na diagramação
um conceito próprio e são utilizados para dar à página maior ou menor expressão, peso gráfico e
beleza”.28
Por diagramação entenda-se de que se trata dos elementos gráficos de uma
notícia com a estética. É como que uma ligação entre a técnica do jornal e a forma como
este se apresenta.
Os valores-notícia são um elemento básico da cultura jornalística, servem de
“óculos” para ver o mundo e para o construir, são como que um código ideológico. A
27
“Readability, ou legibilidade é definida como a facilidade de leitura, sobretudo porque resulta de um
estilo de escrita. Uma extensa investigação tem demonstrado que o texto de fácil leitura melhora a
compreensão, retenção, velocidade, leitura e persistência”.
28
Bahia, Juarez, “As Técnicas do Jornalismo”, 1990, p. 117
37
definição de noticiabilidade de um acontecimento ou de um assunto implica um esboço
de compreensão contemporânea do significado dos acontecimentos como regras do
comportamento humano e institucional. O leque de valores-notícia é vasto pois a tela
tem imensas cores. Existem os valores-notícia de selecção, que dizem respeito aos
critérios que os jornalistas utilizam na selecção dos acontecimentos, isto é, na decisão
de escolher um determinado acontecimento face a outro. Os valores-notícia de selecção
estão divididos em dois subgrupos: os critérios substantivos, que dizem respeito à
avaliação directa do acontecimento em termos da sua importância ou interesse como
notícia, e os critérios contextuais, que dizem respeito ao contexto de produção da
notícia.
Os valores-notícia de construção são qualidades da sua construção como notícia
e funcionam como uma linha orientadora para a apresentação do material, sugerindo o
que deve ser realçado e/ou omitido.
De realçar nos valores-notícia de selecção, um dos dois subgrupos: os critérios
substantivos, e neste grupo estão incluídos a morte, que é um valor-notícia importante
pois é fundamental para a comunidade interpretativa e é apresentado diariamente nas
páginas dos jornais. Além disso é certa para todos, o que quer dizer que todos nós
seremos notícia pelo menos uma vez. Outro valor notícia é a notoriedade, pois quanto
mais um determinado acontecimento se torna importante para a comunidade mais
depressa este é transformada em notícia.
Outro valor-notícia que é necessário notar é a proximidade, sobretudo em termos
geográficos mas também em termos culturais. Aliás como se pode comprovar em ambos
os Diários de Notícias, um acidente de viação com duas vítimas mortais na baixa de
Lisboa irá ser notícia no DN, contudo não sairá na publicação do DN da Madeira.
Um valor-notícia que ambos os jornais têm também que ter em conta é a
relevância. Este valor-notícia responde à preocupação de informar o público dos
acontecimentos importantes, dado que tem impacto na vida das pessoas determinando a
forma como a noticiabilidade tem a ver com a capacidade de incidência do
acontecimento sobre essas mesmas pessoas.
38
Outro conceito fundamental no jornalismo é a novidade, e esta também se insere
nos valores-notícia de selecção.
O factor tempo é um valor-notícia que assume diferentes formas na medida em
que um acontecimento já transformado em notícia pode servir para introduzir outra
notícia nova.
Outro valor-notícia fundamental para a comunidade jornalística e que os jornais
têm que ter em conta é a notabilidade, isto é, a qualidade de ser visível. Este item está
sobretudo virado para a cobertura de acontecimentos.
Importante na cultura jornalística é também o valor notícia que privilegia o
inesperado, aquilo que surpreende as expectativas da comunidade jornalística.
Quanto aos valores notícia de selecção e o último dos subgrupos: os critérios
contextuais dizem respeito ao contexto do processo da produção das notícias. O
primeiro valor-notícia de selecção neste subgrupo de critérios contextuais é a
disponibilidade, isto é a facilidade com que é possível fazer a cobertura do
acontecimento.
Outro critério é o equilíbrio, ou seja, o jornalista tem que racionalizar o assunto
da notícia, se esta traz algo de novo para os leitores.
Um último valor-notícia deste subgrupo de critérios contextuais é o dia noticioso
pois cada dia jornalístico é um novo dia de modo que dias em que há muitas notícias e
outros em que nem tanto. O jornal tem que contar com o inesperado por parte da agenda
política, por exemplo, algo que estava planeado para determinado dia e por infortúnio
não se deu determinado acontecimento.
Os valores-notícia de construção inserem-se na selecção dos elementos dentro
do acontecimento aptos de serem incluídos na elaboração da notícia.
Um dos valores-notícia de construção é a simplificação visto que “menos é
mais”, os jornais têm o dever de redigir uma notícia clara para que seja fácil para os
leitores a sua compreensão.
39
Outro valor-notícia de construção é a amplificação pois quanto mais amplificado
é o acontecimento, mais possibilidades tem a notícia de ser notada.
Assim como a amplificação, a relevância é outro valor-notícia a ter em conta
pois a notícia para ser notada tem que ter lógica e ser coerente.
Por último, a consonância, ou seja, a notícia deve ser interpretada num contexto
conhecido para corresponder às expectativas do leitor. É feito um enquadramento na
notícia de forma a situar o leitor.
Outro facto a ter em conta é que os contactos constantes entre as fontes e os
jornalistas podem influenciar a percepção do jornalista quanto ao valor-notícia dos
acontecimentos e assuntos.
4.2. Organização e estrutura das notícias
Hoje em dia, a teoria sobre o jornalismo tende a relativizar o papel do jornalista
como mero mediador e observador. Na verdade, o jornalista é também ele, um ser social
enquanto profissional, utilizador de técnicas, a quem se pede que se faça constantemente
escolhas e que construa um discurso acerca do quotidiano. Mais do que um mero
mediador, pode-se considerar o jornalista como alguém que tem um papel privilegiado
na formação daquilo que se decide designar por opinião pública.
Segundo Delforce, “o papel do jornalista é, em última instância, o de dar sentido e não
apenas de disponibilizar informação”29. Seguindo este raciocínio, o autor defende que se a
actividade de informar resulta de uma deontologia profissional, dar sentido implica uma
responsabilidade social, e isso faz com que o jornalista seja não só um mediador mas
também um actor social.
Como qualquer informação jornalística, a notícia deve reunir interesse,
importância, veracidade e actualidade.
A estes requisitos essenciais que formam uma notícia, acrescentam-se outros
como interpretação, explicação e investigação.
29
Bernard, DELFORCE, “La responsabilité sociale dês journalistes: donner du sens”, p.32
40
O jornal é hoje em dia universal e multidimensional pois relata os factos locais,
nacionais, internacionais, assim como abrange a ciência, saúde, educação, desporto e
economia.
Em qualquer publicação a grande notícia é sempre a manchete do jornal, pois
trata-se da novidade, da cacha e do destaque, enquanto que as pequenas notícias dão
corpo ao resto das páginas do jornal.
Não é só o valor da notícia como produto da apuração e como informação útil
que é tida em conta na selecção do editor. São tidos em conta aspectos como
veracidade, legalidade, peso social, interesse particular, relevância, interesse e
credibilidade, todos eles pesando na publicação de uma notícia.
“Redigir notícias não é só uma técnica, é também uma arte. Na redacção a arte influi
como suporte do estilo, e a técnica como base para aquisição, vulgarização e compreensão”. 30
Na parte principal que é o lead, que diz respeito ao primeiro parágrafo da
notícia, a redacção tem que se preocupar com o que diz de uma forma o mais directa
possível, de maneira a captar a atenção do leitor.
O resto da notícia será mais valorizado e apreciado pelo leitor se o jornalista
levar em conta a hierarquia de importância e actualidade dos pormenores da mesma.
O título, também, faz parte da técnica de redacção, mas é cada vez mais
considerado uma arte. Por ser a primeira linha de uma notícia, o título tem que atrair a
atenção dos leitores e ao mesmo tempo ser informativo, dando uma ideia geral dos
factos noticiados.
Assim, “o título anuncia o facto, resume a notícia e embeleza a página numa
conjugação de técnica e arte que os jornais procuram aprimorar utilizando recursos gráficos”. 31
Segundo Manuel Vigil Vasquez, “é difícil redigir bem um título, como é difícil
defini-lo. Um título é como a definição de uma notícia. Porém, não menos difícil é vestir
tipograficamente esse título, em harmonia com a sua categoria e a sua expressão conceitual. Um
título feliz pode ser inutilizado por uma tipografia má; e com o título, a notícia”.
30
31
Bahia, Juarez, “As Técnicas do Jornalismo”, 1990, p.44
Idem, p. 47
41
Quando o redactor produz um título inteligente, informativo, completo e claro de
modo a transparecer uma compreensão imediata do que comunica, atrai de imediato a
atenção do leitor.
4.3. Análise da constituição e conteúdo das notícias
As notícias de ambos os Diários de Notícias podem ser classificadas quanto ao
seu conteúdo como previstas, imprevistas e mistas.
“As previstas são aquelas que nos permitem um conhecimento antecipado, anunciado
com antecedência. Elas ocupam o maior espaço de agendas ou pautas nos veículos. As
imprevistas são as de carácter inesperado, como crimes, acidentes, incêndios, etc. As mistas são
notícias que reúnem, numa só informação, o previsto e o imprevisto”. 32
As notícias publicadas tanto no Diário de Notícias como no Diário de Notícias
da Madeira requerem tratamento e elaboração por parte do jornalista. Quanto mais
elaborada é a notícia, melhor é o seu conteúdo.
São necessários inúmeros elementos, entre eles constata-se a correcção, a
apuração, a pesquisa, a concisão, a interpretação, a comparação e a selecção. As notícias
relatadas pelo jornal são o reflexo destes critérios e valores.
Escrever bem é apenas um dos elementos necessários ao exercício da profissão
de jornalista, pois este tem igualmente que saber apurar a notícia, ou seja, tem que ter a
certeza do que diz, tem de saber investigá-lo, e tem de ter fontes a comprovar aquilo que
escreve.
“As seis perguntas de Kipling fornecem a base para uma adequada apuração
jornalística: What (o que aconteceu); Why (porque aconteceu); When (quando aconteceu);
Where (onde aconteceu); How (como aconteceu) e Who (quem se envolveu no que aconteceu).
Nas respostas a estes itens está o lead, e depois a própria notícia”.33
32
33
Bahia, Juarez, “As Técnicas do Jornalismo”, 1990, p.38
Idem, p. 40
42
4.4. Agenda-setting dos diferentes jornais
Os meios de comunicação têm um papel decisivo para a alteração da nossa
geografia de referência e para modo como vemos o mundo.
O estudo dos efeitos dos meios de comunicação é extremamente importante para
a sociedade, uma vez que permite compreender como estes meios trabalham na
formação da opinião pública. É inegável a influência dos meios de comunicação no
quotidiano das pessoas.
Apesar de ambas as publicações se tratarem de jornais portugueses, o modo
como procedem ao agendamento de notícias é diferente devido à geografia que os une
aos seus diferentes públicos.
“Os historiadores do século XX ensinaram-nos que o espaço e o tempo não eram
oferendas da natureza mas o resultado de laboriosas géneses – os homens organizam o seu
espaço e constroem o seu passado”.34
Devido à multiplicidade de notícias, o público tornou-se mais selectivo, pois
escolhe as mensagens mediante o interesse que as mesmas têm para si numa dada
circunstância.
As conversas interpessoais entre as pessoas são sugeridas pelos jornais,
televisão, rádio e internet, propiciando aos receptores a hierarquização dos assuntos que
devem ser pensados e falados. Por outro lado, a comunicação local e regional adequa-se
aos valores da cidade, praticando um jornalismo de proximidade.
A imprensa regional que abarca o DN da Madeira liga vários contextos
comunicacionais.
O espaço e o tempo são elementos fulcrais da percepção, funcionando também
como uma espécie de coordenadas “que determinam os processos sociais da comunicação” 35.
34
R. Debray, “La statue descelleé par ses socles mêmes”. In Cahiers de Médiologie – Anciens nations,
nouveaux réseaux, nº 3, Gallimard, Paris, 1997, p.18
43
A imprensa regional, caso do Diário de Notícias da Madeira, diversifica a
comunicação mantendo um compromisso com a região e o próprio projecto editorial.
O que é a imprensa regional e a imprensa nacional? O que a diferencia uma da
outra?
Para o ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas, João Mesquita, é mais cómodo
diferenciar imprensa nacional de imprensa regional, todavia “boa parte dos meios de
comunicação social cuja sede é em Lisboa ou Porto – aqueles a que normalmente atribuímos o
qualitativo de imprensa nacional – nem por isso deixam de ter um carácter eminentemente
regional. Basta ver a que região se reporta a maioria dos textos neles publicados, para
rapidamente se constatar que é aquela em que está instalada a sede do respectivo órgão de
informação”.36
Assim, e nesta linha de pensamento, “o que parece distinguir a imprensa regional da
nacional tem a ver com as suas formas de organização empresarial e a sua estratégia claramente
vocacionada para uma abordagem dos temas tanto mais generalistas quanto generalista se
pretende que seja o seu público num território mais ou menos vasto”. 37
A imprensa regional privilegia a difusão da região e/ou cidade na qual está
situada a sua sede editorial.
“A vocação, a intencionalidade, os conteúdos e a percepção sobre o leitor são
determinados pelo contexto local ou regional, sendo também as relações com as
instituições e organismos locais e regionais mais directas, de carácter permanente e num
grau maior de intensidade comparativamente aos órgãos que se encontram,
administrativa e politicamente a um nível hierárquico superior”.38
Esta definição tem como vantagem a imposição da geografia face à necessidade
dos conteúdos.
Uma das razões que fazem com que o processo de agendamento no Diário de
Notícias e no Diário de Notícias da Madeira sejam em algumas categorias de Desporto,
35
Romano, Vicente, “El Tiempo y El Espacio en la Comunicación – La razón pervertida, Hondarriba,
Argitaletxe Hiru, 1998, p.16
36
Mesquita, João. “Uma Questão nacional” in Despertar nº 7696, Coimbra, 9 de Abril de 1997
37
Camponez, Carlos, “Jornalismo de Proximidade”, 2002, p.108
38
Ibidem, p.110
44
Política e Casos do Dia diferentes é o facto de haver estratégias empresariais e
editoriais distintas, que têm como objectivo conseguirem a fidelização de diferentes
públicos, daí os jornais redigirem notícias relevantes mediante o público alvo que
querem atingir.
Os acontecimentos que nos são mais próximos são melhor compreendidos por
nós. É a proximidade que permite ao jornalismo contextualizar e determinar os valoresnotícia e a partir desta selecção, organizar os restantes elementos valorativos, tais como
a actualidade, a relevância, a novidade, etc.
Segundo Lorenzo Gomis, “uma notícia capaz de gerar repercussão é aquela que gera
informações e comentários ao longo de vários dias nos diários e nos restantes meios de
comunicação”. 39
Ainda segundo o mesmo autor, “a notícia é por essência qualquer coisa capaz de
fazer com que falemos dela”.40 A corrente que estuda sobre o quê e como os assuntos
devem ser pensados é a hipótese do agenda-setting. Além disso, estuda o poder de
agendamento dos meios de comunicação, ou seja, a capacidade que estes possuem para
evidenciar um determinado assunto nas preocupações e interesses do público.
O jornalista é também um ser social enquanto profissional, e não só é mediador
entre a realidade e o público, como escreve e decide sobre aquilo que os leitores devem
pensar e opinar. A realidade social é representada por um cenário montado a partir dos
meios de comunicação de massa.
39
Lorenzo, Gomis, “Teoria del Periodismo – Como se forma el presente”, Barcelona, Buenos Aires,
México, Paidós, col. Paidós Comunicación, 44, 1997
40
OP. Cit., p. 92
45
CAPÍTULO V - Estudo Empírico e Análise dos Diários de Notícias
5.1. Resultados e análise dos dados empíricos
A análise de ambos os Diários de Notícias permitiu responder às questões
colocadas ao longo da revisão teórica, e que eram apurar se existem diferenças no
processo de agendamento de ambos os Diários de Notícias e analisar essas mesmas
diferenças e semelhanças entre os jornais. Essas diferenças, concluí, verificam-se pela
necessidade de o jornal se adaptar aos seus públicos, e seriam menores se o processo de
agendamento fosse determinado por valores-notícia „objectivos‟.
Notar-se-á que existe uma certa tendência para privilegiar a notícia política, em
ambos os jornais. Tal facto deve-se à proximidade que faz com que a notícia local ou
nacional seja mais ou menos importante, mediante os leitores a que se destina.
Seguidamente, apresentarei os resultados obtidos durante o estudo empírico
destinado a comparar as agendas dos dois jornais, através da análise dos temas e
notícias por eles publicadas, apresentando posteriormente uma análise desses mesmos
dados.
5.1.1. Categorias temáticas dominantes nos Diários de Notícias no mês de Outubro de
2009
Os jornais são uma fonte de informação de grande relevância para os
portugueses, e assim o são ambos os Diários de Notícias, revestindo-se como tal os seus
conteúdos revestem-se de grande importância. A análise da publicação a partir das
categorias temáticas permite saber quais os assuntos a que se dá um maior destaque em
cada um dos jornais, ou seja, neste caso, quantas páginas são dedicadas a cada categoria
temática e qual a categoria em que se integra a manchete de cada um dos jornais.
46
Quadro I- Categorias Temáticas do DN
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Categorias Temáticas
POLÍTICA
ECONOMIA
CULTURA
DESPORTO
CASOS DO DIA
INTERNACIONAL
SOCIEDADE
MÊS OUTUBRO 2009
Primeira Página
14
------3
---3
10
Corpo
308
164
279
264
63
178
351
O tema dominante no mês de Outubro no Diário de Notícias foi “Sociedade”
visto que este tema foi relatado em 351 páginas. A categoria Sociedade abarca
diferentes temas, como foi referido inicialmente na fase metodológica. Neste mês foram
relatadas notícias que diziam respeito à educação, à área da saúde e da ciência, e
algumas notícias sobre justiça.
Seguidamente a categoria “Política” teve 308 páginas dedicadas a notícias
relacionadas com o Estado, governo e medidas governamentais.
O tema menos abordado neste mês foi a categoria “Casos do Dia”, pois foram
apenas 63 as notícias que preencheram esta secção.
Na primeira página do Diário de Notícias surgiram catorze manchetes que se
inserem na categoria de Política tal como é possível ver em anexo. Foram primeira
página membros do Governo e/ou membros do partido que o representa, o que
demonstra preocupação por parte dos jornais em dar a conhecer as principais decisões e
medidas que afectam o país.
Sociedade foi a segunda categoria temática com mais notícias de abertura no
mês de Outubro por parte do DN. Foram sobretudo assuntos de interesse público que
foram manchete.
As categorias de “Economia”, “Cultura” e “Casos do Dia” não foram uma única
vez mencionadas na primeira página do Diário de Notícias.
47
Quadro II- Categorias Temáticas no DN da Madeira
DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA
Categorias Temáticas
POLÍTICA
ECONOMIA
CULTURA
DESPORTO
CASOS DO DIA
INTERNACIONAL
SOCIEDADE
MÊS OUTUBRO 2009
Primeira Página
9
------8
6
---7
Corpo
229
126
103
307
90
63
118
O tema dominante no mês de Outubro do Diário de Notícias da Madeira foi o
“Desporto”, tendo sido dedicadas 307 páginas a este tema. Estas peças jornalísticas
foram essencialmente constituídas por notícias locais, sobre desportistas e dirigentes
regionais. Maioritariamente, tais notícias foram acerca de futebol, embora notícias sobre
basquetebol tenham merecido também algumas referências.
Seguidamente a categoria a ter maior espaço e representatividade nas páginas do
Diário de Notícias da Madeira foi a de “Política”, que esta ocupou cerca de 229 páginas.
As notícias relatadas foram basicamente sobre o Governo Regional e sobre acções e
actividades de políticos regionais.
O tema menos abordado no Diário de Notícias da Madeira foi a categoria
“Internacional”, dado que ocupou apenas 63 páginas, confirmando assim o carácter
eminentemente regional e local desta publicação.
Na primeira página do Diário de Notícias da Madeira apareceram nove notícias
sobre o tema “Política”. Basicamente estas notícias foram sempre de teor regional,
relatando eventos regionais, políticos regionais e o presidente do governo regional.
Curiosamente, são muito escassas as notícias de política a nível nacional neste jornal.
As categorias “Economia”, “Cultura” e “Internacional” não tiveram quaisquer
notícias com destaque suficiente a ponto de serem noticiadas como manchete na
primeira página.
48
5.1.2. Categorias temáticas dominantes nos Diários de Notícias no mês de Janeiro de
2010
Quadro III- Categorias Temáticas do DN
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Categorias Temáticas
POLÍTICA
ECONOMIA
CULTURA
DESPORTO
CASOS DO DIA
INTERNACIONAL
SOCIEDADE
MÊS JANEIRO 2010
Primeira Página
12
---1
1
---6
8
Corpo
188
158
218
238
27
190
355
O tema dominante no mês de Janeiro no Diário de Notícias foi o tema
“Sociedade” visto que foram dedicadas 355 páginas do jornal a esta categoria.
Nestas páginas que contabilizamos sob a categoria de sociedade estão inseridos
diferentes temas tais como notícias que dizem respeito à área de saúde, segurança,
tecnologia e religião, assim como ambiente e justiça.
O segundo tema dominante no mês em epígrafe foi a categoria de “Desporto”
que ocupou um total de 238 páginas. Nestas páginas dedicaram-se notícias acerca de
desportistas, dirigentes e clubes.
A categoria temática menos abordada no mês de Janeiro no Diário de Notícias
foi a que diz respeito a “Casos do Dia” dado que apenas teve uma referência de 27
páginas.
Na primeira página do Diário de Notícias surgiram doze notícias sobre
“Política”, que dizem respeito ao Governo e a medidas parlamentares, assim como ao
primeiro-ministro, José Sócrates.
Em segundo lugar apareceram oito notícias sobre a categoria “Sociedade”. As
categorias “Economia” e “Casos do Dia” não tiveram qualquer importância, daí que não
tiveram nenhuma referência na primeira página neste mês.
49
Quadro IV- Categorias Temáticas no DN da Madeira
DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA
Categorias Temáticas
POLÍTICA
ECONOMIA
CULTURA
DESPORTO
CASOS DO DIA
INTERNACIONAL
SOCIEDADE
MÊS JANEIRO 2010
Primeira Página
13
------6
3
1
8
Corpo
165
122
106
368
80
81
146
A categoria temática dominante no Diário de Notícias da Madeira no mês de
Janeiro foi “Desporto” visto que este tema ocupou 368 páginas. Esta categoria engloba
notícias nas quais estão incluídos desportistas e dirigentes de clubes regionais, algumas
notícias da selecção nacional e ainda alguns jogadores da respectiva selecção.
Seguidamente a categoria que se destaca é a da “Política” pois ocupa 165
páginas. Curiosamente, das notícias relatadas nesta categoria destacam-se notícias que
envolvem o Governo Regional, o presidente do governo regional e medidas tomadas
pelo governo regional face a situações adversas de pessoas civis.
Em último destaque encontra-se a categoria temática que diz respeito a “Casos
do Dia” que ocupou 80 páginas, estas sobre situações incontroláveis que quebraram a
rotina de cidadãos madeirenses comuns.
Na primeira página são noticiadas treze notícias que se inserem na categoria de
“Política”, que relatam uma vez mais o governo regional e notícias regionais, seguido
da categoria “Sociedade”, que ocupa oito notícias.
A categoria que diz respeito à “Cultura” não teve qualquer referência como
primeira página e o tema “Internacional” fez apenas uma primeira página.
50
5.1.3. Diferenças e Semelhanças na agenda do Diário de Notícias e Diário de Notícias
da Madeira
No mês de Outubro e Janeiro tanto o Diário de Notícias como o Diário de
Notícias da Madeira dedicaram a primeira página do seu jornal à categoria temática de
“Política”. Assuntos parlamentares e políticos foram predominantemente a manchete do
Diário de Notícias, enquanto que o Diário de Notícias da Madeira abordou assuntos
políticos regionais: política em ambos os casos, mas com notícias devidamente
adaptadas ao público a que se destinam.
Já no mês de Outubro, o Diário de Notícias dedicou mais páginas do seu jornal
ao tema “Sociedade”, abordando assuntos maioritariamente na área da educação e casos
de justiça; enquanto que o Diário de Notícias da Madeira optou por dedicar grande parte
do seu processo de agendamento à categoria temática de “Desporto”, este tema
incidindo sobre assuntos de desporto regional e nomeadamente desportistas e dirigentes,
também, locais. Na sua maioria foram assuntos sobre futebol que monopolizaram as
notícias; todavia, houve ainda notícias acerca de basquetebol e ténis, mas mais uma vez
notícias locais.
Em segundo lugar a categoria que mais ocupou páginas nos jornais foi o tema de
“Política” e nesta situação ambos coincidiram pois tanto o DN como o DN da Madeira
tiveram esta categoria como sendo a segunda que mais páginas ocupou.
Em terceiro lugar, o Diário de Notícias teve a secção de “Desporto” a ocupar
264 páginas no mês de Outubro, enquanto que o Diário de Notícias da Madeira teve o
tema de “Economia”, que ocupou cerca de 126 páginas.
A categoria menos abordada pelo DN no mês de Outubro incidiu sobre os
“Casos do Dia”. No caso do DN da Madeira, este teve o tema “Internacional” como
sendo o menos abordado no mês em estudo.
Nos dias 8 e 21 de Outubro nas páginas 12 e 11 que correspondem à categoria
de “Política”, o Diário de Notícias faz referência à Madeira no que concerne a assuntos
políticos regionais.
51
No mês de Janeiro o Diário de Notícias teve como categoria temática dominante
a “Sociedade”, esta que abordou maioritariamente assuntos na área da educação,
ambiente e casos de justiça. Por sua vez, o Diário de Notícias da Madeira teve como
assunto dominante, uma vez mais o “Desporto” que ocupou cerca de 368 páginas.
O Diário de Notícias abordou em segundo lugar no mês de Janeiro o tema de
“Desporto” com cerca de 238 páginas enquanto o Diário de Notícias da Madeira
abordou a “Política” com cerca de 165 páginas.
A categoria “Cultura” foi a terceira a ser abordada pelo Diário de Notícias visto
que ocupou 218 páginas do jornal. Por parte do Diário de Notícias da Madeira a terceira
categoria a ser mencionada foi “Sociedade”, tendo esta ocupado 146 páginas.
Tanto o DN como o DN da Madeira tiveram como a categoria menos dominante
a que diz respeito aos “Casos do Dia”.
No dia 14 de Janeiro ambos os jornais abordaram a calamidade ocorrida no
Haiti.
No dia 5 de Janeiro, o Diário de Notícias da Madeira inclui na primeira página
uma notícia sobre a lei de finanças regionais referindo na notícia o nome Lisboa e
governo.
No dia 16 de Janeiro, o Diário de Notícias da Madeira publicou na primeira
página uma notícia que se integra na categoria de “Política” e que refere o primeiroministro, José Sócrates face a face com o presidente do governo regional, Alberto João
Jardim tendo como notícia, uma vez mais, a lei de finanças regionais.
As notícias publicadas tanto no Diário de Notícias como no Diário de Notícias
da Madeira requerem tratamento e elaboração por parte do jornalista. São necessários
inúmeros elementos, entre eles constata-se a correcção, a apuração, a pesquisa, a
concisão, a interpretação, a comparação e a selecção. As notícias relatadas pelo jornal
são o reflexo destes critérios e valores.
52
5.1.4. Personagens mais referenciadas nas notícias
As notícias têm, regra geral, declarações de determinadas pessoas relacionadas
com o tema em questão, sobre o qual estão informadas ou que nele estão implicadas.
Em cada notícia é identificada a personagem central, ou seja, a pessoa sobre a
qual o assunto se desenrola, ou quem se pronuncia sobre ele.
Estas personagens foram classificadas em diferentes categorias: políticos, que
correspondem a todas as pessoas relacionadas com o mundo da política; cidadão
comum; empresários, que correspondem aos proprietários de empresas, pessoas ligadas
a negócios; intelectuais (investigadores, escritores, economistas); desportistas
(praticantes, treinadores e dirigentes); forças militares (forças de autoridade e segurança
pública); religiosos, médicos e artistas (actores, cantores, músicos, etc.).
As personagens que mais vezes aparecem nos meses de Outubro de 2009 e de
Janeiro de 2010 no Diário de Notícias são médicos, religiosos, forças militares,
intelectuais e empresários, que perfazendo um total de 706 páginas ocupadas pelos
mesmos.
No caso do Diário de Notícias da Madeira as personagens que mais aparecem
nos meses de Outubro de 2009 e Janeiro de 2010 são jogadores de futebol, dirigentes e
treinadores de equipas de futebol assim como outros desportistas. Estes ocuparam um
total de 675 páginas de notícias sobre “Desporto”.
A primeira página pode ser considerada a notícia mais relevante do dia para a
equipa que coordena a redacção. Quanto à primeira página ambos os jornais surgiram
com figuras políticas como principais intervenientes.
Foram sobretudo assuntos de interesse público que serviram, habitualmente, de
primeira página, não existindo grandes diferenças nas escolhas entre os dois jornais
quanto à sua categoria que incidiu sobre a “Política”, como acima foi referido, mas
significativas diferenças relativamente ao âmbito geográfico e alcance de tais notícias.
53
Contudo houve uma grande diferença não na categoria mas quanto ao seu
conteúdo, aliás como se pode verificar em anexo, ou seja, enquanto que o Diário de
Notícias optou por notícias de foro nacional em que abordava medidas governamentais
e/ou relatavam assuntos do governo, o Diário de Notícias da Madeira optou por notícias
regionais. Este jornal faz questão de manifestar o seu orgulho pela região e como tal
participa na construção de um discurso que põe os leitores a par dos assuntos regionais.
O Diário de Notícias da Madeira no seu papel de um narrador habitual de
acontecimentos assume esse papel de relevo e organiza um discurso do quotidiano
madeirense desempenhando por isso, uma função importante na reprodução desse
orgulho regional, mas também na informação prestada aos moradores da região.
A informação regional mostra ser de valiosa importância não só porque informa
os leitores mas porque assim permite promover maior adesão à identidade regional.
54
CONCLUSÃO
Utilizou-se a metodologia da análise de conteúdo do discurso dos dois Diários
de Notícias, numa perspectiva quantitativa e qualitativa, por se achar de que este seria o
melhor método para alcançar os resultados desejados.
Com este trabalho pretendi contribuir para o estudo da imprensa em Portugal, e
para isso fiz uma análise dos processos de agendamento do Diário de Notícias e Diário
de Notícias da Madeira.
Para a concretização deste estudo optou-se por analisar comparativamente os
dois jornais diários em dois meses escolhidos de forma aleatória e pretendeu-se avaliar
até que ponto o Diário de Notícias e o Diário de Notícias da Madeira dariam a mesma
informação, ou verificar se antes as suas agendas seriam marcadas pela diferença e
diversidade.
Em ambos os jornais encontraram-se marcas de proximidade com os respectivos
leitores. Como os leitores de ambos os jornais são públicos muito distintos – no
primeiro caso portugueses do continente, especialmente da região sul e de Lisboa
(tradicionalmente o DN tem pouca penetração no Norte do País); e no segundo
exclusivamente cidadãos da Região Autónoma da Madeira – a agenda das duas
publicações analisadas acaba naturalmente por resultar muito distinta.
Deste modo, pude observar grandes diferenças não na categoria (ambos
privilegiam a política) mas quanto ao seu conteúdo, pois enquanto o Diário de Notícias
optou por notícias de foro nacional em que abordava medidas governamentais e/ou
relatavam assuntos do governo, o Diário de Notícias da Madeira optou por notícias
regionais. Este jornal faz questão de manifestar o seu orgulho pela região e como tal
participa na construção de um discurso que põe os leitores a par dos assuntos regionais.
O Diário de Notícias da Madeira no seu papel de um narrador habitual de
acontecimentos assume esse papel de relevo e organiza um discurso do quotidiano
madeirense, desempenhando, por isso, uma função importante na reprodução desse
orgulho regional, mas também na informação prestada aos moradores da região.
55
A informação regional mostra ser de valiosa importância não só porque informa
os leitores mas porque assim permite promover maior adesão à identidade regional.
Os meios de comunicação têm um papel decisivo para a alteração da nossa geografia de
referência e para o modo como vemos o mundo.
Apesar de ambas as publicações se tratarem de jornais portugueses, o modo
como procedem ao agendamento de notícias é diferente por causa da geografia que os
une aos seus diferentes públicos.
Devido à multiplicidade de notícias, o público tornou-se mais selectivo, pois
escolhe as mensagens mediante o interesse que as mesmas têm para si numa dada
circunstância.
As conversas interpessoais entre as pessoas são sugeridas pelos jornais,
televisão, rádio e internet, propiciando aos receptores a hierarquização dos assuntos que
devem ser pensados e falados. Por outro lado, a comunicação local e regional adequa-se
aos valores da cidade, praticando um jornalismo de proximidade.
A imprensa regional, que abarca o DN da Madeira, liga vários contextos
comunicacionais. A imprensa regional, caso do Diário de Notícias da Madeira,
diversifica a comunicação mantendo um compromisso com a região onde se insere e
com o próprio projecto editorial.
O que é a imprensa regional e a imprensa nacional? O que a diferencia uma da
outra?
Para o ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas, João Mesquita, é mais cómodo
diferenciar imprensa nacional de imprensa regional, todavia “boa parte dos meios de
comunicação social cuja sede é em Lisboa ou Porto – aqueles a que normalmente atribuímos o
qualitativo de imprensa nacional – nem por isso deixam de ter um carácter eminentemente
regional. Basta ver a que região se reporta a maioria dos textos neles publicados, para
rapidamente se constatar que é aquela em que está instalada a sede do respectivo órgão de
informação”.41
41
Mesquita, João. “Uma Questão nacional” in Despertar nº 7696, Coimbra, 9 de Abril de 1997
56
Assim, e nesta linha de pensamento, “o que parece distinguir a imprensa regional da
nacional tem a ver com as suas formas de organização empresarial e a sua estratégia claramente
vocacionada para uma abordagem dos temas tanto mais generalistas quanto generalista se
pretende que seja o seu público num território mais ou menos vasto”. 42
A imprensa regional privilegia a difusão da região e/ou cidade na qual está
situada a sua sede editorial.
Esta definição tem como vantagem a imposição da geografia face à necessidade
dos conteúdos.
Uma das razões que fazem com que o processo de agendamento no Diário de
Notícias e no Diário de Notícias da Madeira sejam, em algumas categorias como
Desporto, Política e Casos do Dia, diferentes, é o facto de haver estratégias
empresariais e editoriais distintas, que têm como objectivo conseguir a fidelização de
diferentes públicos -- daí os jornais redigirem notícias relevantes para o público alvo
que querem atingir.
Os acontecimentos que nos são mais próximos são melhor compreendidos por
nós. É a proximidade que permite ao jornalismo contextualizar e determinar os valoresnotícia e a partir desta selecção, organizar os restantes elementos valorativos, tais como
a actualidade, a relevância, a novidade, etc.
O jornalista é também um ser social enquanto profissional, e não só é mediador
entre a realidade e o público, como escreve e decide sobre aquilo que os leitores devem
pensar e opinar. A realidade social é representada por um cenário montado a partir dos
meios de comunicação de massa.
Da análise dos conteúdos e do processo de agendamento do Diário de Notícias e
Diário de Notícias da Madeira concluo que ambos os jornais privilegiam, na relação
com o seu público ideal, o valor da proximidade, e que isso determina diferenças na
agenda de ambos os jornais – não tanto diferenças na categoria das notícias produzidas
(ambos têm predilecção por Política e Desporto), mas nos agentes e actores dessas
notícias, «personagens» que tendem a relacionar-se com o público de cada um dos
jornais.
42
Camponez, Carlos, “Jornalismo de Proximidade”, 2002, p.108
57
ANEXOS
58
Anexo I- Capas dos Diários de Notícias de Outubro de 2009
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
Anexo II- Capas dos Diários de Notícias de Janeiro de 2010
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
86
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