ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental I - 019 RESPOSTAS DO REATOR ANAERÓBIO HORIZONTAL DE LEITO FIXO (RAHLF) NOS ENSAIOS HIDRODINÂMICOS COM DIFERENTES TRAÇADORES Ivana Ribeiro de Nardi(1) Engenheira Química formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) / Universidade de São Paulo (USP). Doutoranda em Hidráulica e Saneamento pela EESC/USP. Marcelo Zaiat Engenheiro Químico formado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Mestre em Engenharia Química pela UFSCar, Doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) / Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador do Laboratório de Processos Anaeróbios, EESC/USP. Eugenio Foresti Engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) / Universidade de São Paulo (USP), Mestre e Doutor em Hidráulica e Saneamento pela EESC/USP, Professor Titular do Departamento de Hidráulica e Saneamento da EESC/USP. Endereço(1): Departamento de Hidráulica e Saneamento / Escola de Engenharia de São Carlos / Universidade de São Paulo - Av. Dr. Carlos Botelho, 1465 - CEP: 13560-250 - São Carlos - SP. RESUMO Estudos detalhados sobre os mecanismos hidráulicos em reatores biológicos utilizados no tratamento de águas residuárias permitem detectar problemas associados a falhas de projeto e operacionais além de permitir a obtenção de modelos que representem o escoamento. Utilizando-se Reator Anaeróbio Horizontal de Leito Fixo (RAHLF) de bancada, preenchido com esferas de cerâmica porosa (5 cm de diâmetro), foram realizados testes de estímulo e resposta com os traçadores: azul de bromofenol, dextrana azul, eosina Y, mordante violeta, rodamina WT e verde de bromocresol, recomendados pela literatura como sendo os mais adequados traçadores em estudos hidrodinâmicos de bioreatores, especialmente em sistemas de tratamento de águas residuárias, com o objetivo de se verificar o efeito das características do traçador nas curvas de distribuição de tempo de residência (DTR). Observou-se que as características do traçador têm influência decisiva nas curvas DTR, sendo que o grau de mistura aparente observado nas respostas do todos os traçadores, com exceção da dextrana azul, foi atribuído à difusão do traçador nos poros do recheio do reator. O teste com dextrana azul forneceu resultado mais preciso, podendo-se afirmar que o RAHLF comporta-se como reator de escoamento predominantemente tubular. PALAVRAS -CHAVE: Reator Anaeróbio Horizontal de Leito Fixo, Hidrodinâmica, 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 127 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental I - 019 Distribuição de Tempo de Residência, Estudos com Traçadores. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 128 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental I - 019 INTRODUÇÃO O desenvolvimento crescente da biotecnologia anaeróbia de tratamento de águas residuárias, com imobilização de microrganismos, em processos contínuos, proporcionou o surgimento de novas concepções de reatores, como os de leito fluidificado/expandido, o de manta de lodo com fluxo ascendente (UASB) e os de leito fixo. A imobilização da biomassa em suporte fixo é uma estratégia efetiva para a operação contínua de biorreatores, por reter a biomassa em meios físicos simples, propiciando elevada eficiência de conversão de substrato em produto. Segundo Zaiat (6), o desenvolvimento de novas configurações de reatores para tratamento anaeróbio de efluentes líquidos passa, necessariamente, pelo melhor aproveitamento do volume útil reacional, visando diminuição do volume total, e aumento no desempenho, na estabilidade e na facilidade de operação. A grande maioria dos reatores contendo lodo anaeróbio imobilizado tem sido desenvolvida baseada em critérios empíricos. A predominância destes sobre critérios racionais é conseqüência da variedade e complexidade dos processos interativos que ocorrem nestes reatores. Por esses motivos, o estudo de fenômenos fundamentais pode ser muito difícil. Entretanto, fenômenos tais como transferência de massa nas fases líquida e sólida, cinética intrínseca e hidrodinâmica do reator devem ser estudados, visando estabelecer parâmetros para a simulação, aumento de escala e, principalmente, otimização de reatores anaeróbios contendo biomassa imobilizada. Uma nova configuração de reator anaeróbio de leito fixo, o Reator Anaeróbio Horizontal de Leito Fixo (RAHLF), foi proposta por Zaiat et al. (5), visando sua otimização por critérios racionais. Estudos dos fenômenos de transferência de massa e de cinética bioquímica foram extensivamente pesquisados (7), posteriormente à caracterização hidrodinâmica preliminar realizada por Cabral (1). A eficiência e o desempenho de reatores estão relacionados com as características de escoamento nos mesmos. Estudos detalhados sobre os mecanismos hidráulicos em reatores biológicos permitem: detectar problemas associados a falhas operacionais, de projeto e de aumento de escala; desenvolver modelações matemáticas para caracterizar o escoamento; comparar diferentes configurações de reatores ou, no caso de imobilização de biomassa, diferentes matrizes de imobilização. Assim, torna-se indispensável o conhecimento das características do escoamento nos reatores, que se constitui no passo inicial para o estabelecimento de critérios racionais de projeto e operação dessas unidades. Estudos hidrodinâmicos podem ser realizados através de testes de estímulo e resposta, utilizando-se traçadores. Esses testes permitem obter informações sobre a distribuição de tempo de residência (DTR) do fluido, ferramenta utilizada na avaliação do escoamento em reatores. A aplicação da técnica de estímulo e resposta em processos biológicos, especialmente em reatores com biomassa fixa, merece cuidados especiais, pois experimentos em laboratório têm mostrado que resultados errôneos são obtidos devido à natureza do material traçador. Segundo Jimenez et al. (2), é necessário testar diferentes substâncias antes de se realizar estudos hidrodinâmicos confiáveis, pois a escolha do traçador adequado depende de características do 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 129 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental I - 019 sistema. Fatores ambientais como pH do meio, presença de biomassa e de fase gasosa são importantes na seleção do traçador. Em geral, reatores de leito fixo são preenchidos com partículas permeáveis. Quando suportes porosos são utilizados, a permeação do material traçador no recheio pode dificultar a interpretação de ensaios de estímulo e resposta. Desse modo, a avaliação prévia das condições experimentais, para a realização dos ensaios de estímulo e resposta, faz-se necessária a fim de se evitarem avaliações irreais sobre o escoamento. Este trabalho apresenta resultados de estudos hidrodinâmicos em Reator Anaeróbio Horizontal de Leito Fixo (RAHLF) que compreende a escolha do melhor traçador, levando-se em consideração as condições experimentais. INSTALAÇÃO E PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS Os ensaios foram realizados em RAHLF de bancada, apresentado na Figura 1 (adaptada de (5)). O reator foi construído em vidro boro-silicato com 99,8 cm de comprimento e 5,04 cm de diâmetro, com relação comprimento por diâmetro (l/d) de aproximadamente 20 e 1991 mL de volume total. O reator foi operado dentro de uma câmara de controle de temperatura, a 30 + 1 oC, para prevenir a ocorrência de correntes convectivas, causadas por variações na temperatura ambiente. Figura 1: Esquema de Reator Anaeróbio Horizontal de Leito Fixo (RAHLF) em escala de bancada. (1) Reservatório de afluente, (2) Bomba peristáltica Watson-Marlow, (3) Amostradores, (4) Medidor de produção de gás. Como material de recheio do reator, foram utilizadas esferas de cerâmica porosa com diâmetro aproximado de 5 mm e 21% de porosidade, obtendo-se porosidade do leito de cerca de 40%, resultando no volume líquido de 704,64 mL. Os ensaios foram realizados utilizando água destilada que foi armazenada em reservatório. O reator foi alimentado por bomba peristáltica da marca Watson-Marlow. O procedimento utilizado foi o mesmo para todos os ensaios, fazendo-se uso da técnica de estímulo e resposta. Procedeu-se à alimentação prévia do reator, antes da injeção do traçador, até que o sistema entrasse em regime. A solução de traçador, com densidade igual à da fase líquida, foi injetada na forma de pulso na entrada do reator. Foram tomadas precauções para assegurar que a injeção do traçador fosse a mais próxima possível de um sinal de entrada, na forma de pulso ideal: o volume de traçador 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 130 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental I - 019 (2,0 mL) foi pequeno em relação ao volume de líquido total no reator e sua injeção foi realizada em curto espaço de tempo (aproximadamente três segundos). As concentrações de injeção dos traçadores com suas respectivas massas moleculares estão apresentadas na Tabela 1. Tabela 1: Concentrações de injeção dos traçadores. Traçador Massa molecular cT (g/mol) (mg/10,0 mL) 1,3 Azul de bromofenol 669,97 49,70 Dextrana azul2 2x10 6 17,31 Eosina Y 691,90 21,50 3 Mordante violeta 364,30 19,96 Rodamina WT 2.000 0,346 1 Verde de bromocresol 698,05 13,00 1 dissolve em água, se NaOH for adicionado. 2 pequenas quantidades devem ser utilizadas a fim de evitar polimerização do traçador no sistema. 3 altera a cor, mas mantém estabilidade para ser detectado na faixa do ultravioleta. O efluente foi coletado em intervalos de tempos regulares a cada dez minutos, a partir da injeção do traçador, procedendo-se à determinação da concentração de traçador no efluente. As medidas de concentração dos traçadores: azul de bromofenol, dextrana azul, eosina Y, mordante violeta e verde de bromocresol foram realizadas através de análise espectrofotométrica, que relaciona a absorbância da solução com sua concentração. O equipamento utilizado foi um espectrofotômetro da marca Hach modelo DR/4000. A partir da geração do espectro de absorbância, na faixa de 190 a 1100 nm, foram encontrados os comprimentos de onda (?) de máxima absorção para cada traçador, apresentados na Tabela 2. Tabela 2: Comprimentos de onda de máxima absorção dos traçadores usados. Traçador ? (nm) Azul de bromofenol 310 Dextrana azul* 650 Eosina Y 516 Mordante violeta 220 Verde de bromocresol 616 * Análise em espectrofotômetro Bausch & Lomb modelo 601 (cubeta de leitura de 100,00 mm de caminho ótico). Foram preparadas soluções de concentrações conhecidas, a partir das soluções-mãe e medidas as absorbâncias nos comprimentos de onda de absorção máxima, contra branco de água destilada. Foram construídos os gráficos de concentração versus absorbância, verificando a ocorrência de faixa de linearidade das respostas. Foram, então, obtidas as equações das retas para a calibração do equipamento. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 131 I - 019 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental A concentração de rodamina WT no efluente foi medida através de análise fluorimétrica em fluorímetro da marca Turner modelo 111. Nesse caso, a determinação da concentração da substância é relacionada com a fluorescência. A análise dos dados foi realizada a partir da metodologia proposta por Levenspiel (4). As curvas experimentais de concentração (c) por tempo (t), para tempo de residência esperado de aproximadamente duas horas, foram normalizadas (área sob a curva igual a 1), obtendo-se as curvas de distribuição de idade de saída adimensional (E ? ) em função do tempo adimensional (?). A partir das curvas normalizadas, foram obtidas as variâncias adimensionais (? 2? ), utilizadas no ajuste dos modelos teóricos aos dados. A seqüência de cálculos para obtenção das curvas normalizadas é apresentada na Tabela 3 (adaptada de (1)). Foram ajustados os modelos matemáticos, uniparamétricos, de dispersão de pequena intensidade (Pe p), dispersão de grande intensidade considerando recipiente aberto (Peg) e tanques em série (N) às curvas normalizadas (E? versus ?), a partir do cálculo de ? 2? , conforme apresentado na Tabela 4. Tabela 3: Procedimento para obtenção das curvas normalizadas E ? por ? Parâmetro Ei S tm ? E? ?2 ? 2? Definição ci / S ? ci .? ti ? ti.Ei.? ti ti /tm tm .Ei ? ti2.Ei.? ti ? 2/tm sendo: ci = concentração de traçador no tempo i ? ti = intervalo de tempo Ei = distribuição de idade de saída S = área sob a curva de concentração em função do tempo tm = tempo de residência médio obtido a partir das curvas experimentais ? = tempo de residência médio adimensional ? 2 = variância dos pontos experimentais ? 2? = variância adimensional Tabela 4: Modelos matemáticos utilizados no ajuste às curvas experimentais. Modelo teórico Dispersão de pequena intensidade Parâmetro Pe p = 2/? 2? E? ? 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Equação ? -Pe p ?1 - ? ?2 1 exp? 4 4 ? / Pe p ?? ? ? ?? 132 I - 019 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Dispersão de grande intensidade (aberto) ? 2? ? Tanques em série 2 8 ? Pe g Pe g 2 N = 1/? 2 E? ? ? ? ? ?? ? 1? ? 2 exp?? 4?? / Pe g ?? 4? / Peg 1 N?N? ? E? ? ?? N-1 ?N - 1?! e -N ? Foram calculados os coeficientes de correlação (r), com a finalidade de avaliar o ajuste dos modelos matemáticos aos dados experimentais. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos resultados das análises das amostras do efluente do reator, foram obtidas curvas de concentração (c) dos vários traçadores em função do tempo (t), para tempo de residência esperado de aproximadamente duas horas. A Figura 2 apresenta curvas c versus t experimentais. Figura 2: Curvas de concentração na saída do reator, em função do tempo, obtidas experimentalmente com os traçadores: (a) Azul de bromofenol; (b) Dextrana azul; (c) Eosina Y; (d) Mordante violeta; (e)Rodamina WT; (f) Verde de bromocresol. 7 25 6 20 C (mg/l) 5 C (mg/l) 4 15 3 10 2 5 1 0 0 0 100 200 300 400 500 600 0 100 150 200 250 300 t (min) (a) (b) 10 8 8 6 C (mg/l) C (mg/l) 50 t (min) 6 4 4 2 2 0 0 0 200 400 600 800 1000 0 100 200 300 t (min) t (min) (c) (d) 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 400 500 133 I - 019 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2,0 150 1,5 C (mg/l) C (? g/l) 200 100 1,0 50 0,5 0 0,0 0 100 200 300 400 500 0 200 400 600 800 1000 t (min) t (min) (e) (f) Na Figura 2, com exceção da curva de concentração experimental obtida utilizando a dextrana azul, as curvas obtidas com os demais traçadores apresentam longas caudas. O fenômeno da cauda se refere ao decaimento lento do sinal do traçador na saída do reator. A Tabela 5 apresenta os tempos de residência utilizados nos experimentos (tr), os tempos de passagem do pico (tp),os tempos de residência (tm) obtidos através da curva DTR, as velocidades superficiais (vs) aplicadas nos ensaios e os valores obtidos dos parâmetros dos modelos utilizados. Tabela 5: Valores dos parâmetros de ajuste dos modelos de dispersão de pequena intensidade (Pe p ), dispersão de grande intensidade (Pe g) e tanques em série (N), às curvas experimentais, utilizando os traçadores azul de bromofenol, dextrana azul, eosina Y, mordante violeta, rodamina WT e verde de bromocresol. Traçador Azul de bromofenol Dextrana azul Eosina Y Mordante violeta Rodamina WT Verde de bromocresol tr (h) 1,96 2,09 2,09 1,99 2,08 2,03 tp (h) 2,16 2,33 2,50 2,33 2,50 2,16 tm (h) 2,76 2,42 3,53 2,98 3,16 4,58 vs (cm/s) 0,014 0,013 0,013 0,014 0,014 0,014 Pe p 12 54 6 20 20 4 Peg* 16 58 9 23 23 7 N 6 27 3 10 10 2 * Ajuste do modelo considerando -se recipiente aberto. A Tabela 6 mostra os coeficientes de correlação (r) dos modelos ajustados aos pontos experimentais. Tabela 6: Coeficientes de correlação para os ajustes dos modelos de dispersão de pequena intensidade, dispersão de grande intensidade e tanques em série, aos pontos experimentais, utilizando os traçadores: azul de bromofenol, dextrana azul, eosina Y, mordante violeta, rodamina WT e verde de bromocresol. Traçador r Dispersão de Dispersão de grande Tanques pequena intensidade intensidade* em série Azul de bromofenol 0,739 0,804 0,816 Dextrana azul 0,952 0,960 0,976 Eosina Y 0,614 0,707 0,698 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 134 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Mordante violeta Rodamina WT Verde de bromocresol 0,814 0,819 0,417 0,853 0,855 0,420 I - 019 0,889 0,897 0,645 * Ajuste do modelo considerando -se recipiente aberto. A partir dos valores apresentados na Tabela 5, verificam-se que os valores dos tempos de passagem do pico (t p) são praticamente iguais aos tempos de residência hidráulico aplicado no ensaio (tr), indicando que a ocorrência de zonas mortas não é significante. Entretanto, observam-se diferenças significativas entre o tempo de residência médio obtido através da curva DTR (tm) e o tempo de residência hidráulico utilizado no ensaio (tr), para todos os traçadores testados. Os valores de tm foram maiores que os esperados (t r), sendo que a dextrana azul apresentou valores mais próximos. Essas diferenças se devem à difusão do traçador no material de recheio do reator. No caso dos traçadores azul de bromofenol, eosina Y, mordante violeta, rodamina WT e verde de bromocresol, em cujos experimentos o atraso foi considerável, a difusão efetiva destes traçadores nos poros da cerâmica foi, certamente, fator decisivo no deslocamento que ocorreu no tm com relação a tr devido ao prolongamento em forma de cauda. A dextrana azul também se difundiu nos poros da cerâmica porém a difusividade efetiva é muito menor. Essa afirmativa baseia-se no fato deste traçador apresentar massa molecular muito superior, em comparação com os demais traçadores testados. Jimenez et al. (3) relatam que, em recheios porosos, o líquido contido nos poros do recheio atua como volume estagnado. Antes da adição do traçador, os poros são ocup ados somente pelo líquido. À medida que o sinal do traçador, na forma de pulso, passa pelo reator, surge um gradiente de concentração entre o escoamento e o líquido contido nos poros do recheio. Passado o sinal, a concentração de traçador no escoamento diminui, tornando-se menor que a concentração de traçador nos poros. Então, o gradiente de concentração é invertido, ocorrendo a difusão do traçador no sentido dos poros para o escoamento. Esse fenômeno é detectado pelo decaimento lento da concentração de traçador com o tempo, na curva resposta. As curvas de DTR experimentais e os modelos matemáticos ajustados para os diversos traçadores são mostrados nas Figuras 3a 8. Figura 3: Curva de DTR obtida experimentalmente utilizando azul de bromofenol como traçador e modelos teóricos ajustados. 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 135 I - 019 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Pontos experimentais Modelo de dispersão pequena intensidade Modelo de dispersão grande intensidade - aberto Modelo de tanques em série 2,5 2,0 1,5 E? 1,0 0,5 0,0 0 1 2 3 4 ? 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 136 I - 019 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 4: Curva de DTR obtida experimentalmente utilizando dextrana azul como traçador e modelos teóricos ajustados. Pontos experimentais Modelo de dispersão pequena intensidade Modelo de dispersão grande intensidade - aberto Modelo de tanques em série 2,5 2,0 1,5 E? 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 ? Figura 5: Curva de DTR obtida experimentalmente utilizando eosina Y como traçador e modelos teóricos ajustados. Pontos experimentais Modelo de dispersão pequena intensidade Modelo de dispersão grande intensidade - aberto Modelo de tanques em série 3,0 2,5 2,0 E? 1,5 1,0 0,5 0,0 0 1 2 3 4 ? 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 137 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental I - 019 138 I - 019 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 6: Curva de DTR obtida experimentalmente utilizando mordante violeta como traçador e modelos teóricos ajustados. Pontos experimentais Modelo de dispersão pequena intensidade Modelo de dispersão grande intensidade - aberto Modelo de tanques em série 2,5 2,0 1,5 E? 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 ? Figura 7: Curva de DTR obtida experimentalmente utilizando rodamina WT como traçador e modelos teóricos ajustados. Pontos experimentais Modelo de dispersão pequena intensidade Modelo de dispersão grande intensidade - aberto Modelo de tanques em série 2,5 2,0 1,5 E? 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 ? 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 139 I - 019 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 8: Curva de DTR obtida experimentalmente utilizando verde de bromocresol como traçador e modelos teóricos ajustados. Pontos experimentais Modelo de dispersão pequena intensidade Modelo de dispersão grande intensidade - aberto Modelo de tanques em série 2,5 2,0 1,5 E? 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 ? O fenômeno de difusão efetiva do traçador nos poros do recheio do reator pode distorcer a forma da curva DTR fornecendo informações errôneas sobre características de mistura do fluido no reator e, em conseqüência, dificultando conclusões sobre os modelos de escoamento. A difusão do traçador nos poros do recheio foram as causas do aparecimento dos prolongamentos em forma de caudas observados nas curvas obtidas. A dextrana azul não apresentou tal efeito, provavelmente, devido à sua elevada massa molecular (2x106 g/mol). Desvios da curva DTR ideal interferem no espalhamento dos tempos de residência dos elementos de fluido em relação ao valor médio, podendo afetar os modelos teóricos utilizados para caracterizar o escoamento no reator, comprometendo a exatidão na determinação do comportamento hidrodinâmico descrito por modelos matemáticos. Isto é observado pelos baixos valores dos parâmetros Pe p, Pe g e N, obtidos nos ensaios com os demais traçadores quando comparados aos valores obtidos utilizando-se a dextrana azul. Essas diferenças são devidas, principalmente, ao efeito de difusão dos traçadores nos poros do recheio do reator. Além disso, a dispersão longitudinal no meio líquido dos traçadores eosina Y e verde de bromocresol foi observada visualmente. Esse efeito pode ter contribuído para a obtenção dos mais baixos valores dos parâmetros dos modelos ajustados. Assim, compostos com massas moleculares semelhantes podem apresentar comportamentos distintos em testes de estímulo e resposta. O ensaio realizado utilizando a dextrana azul como traçador apresentou os melhores ajustes dos modelos teóricos aos dados experimentais, com elevado grau de correlação. Baseado nos ensaios, a dextrana azul, foi considerada como o traçador mais adequado para utilização em 19o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 140 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental I - 019 ensaios hidrodinâmicos em reatores heterogêneos, mostrando o comportamento pistonado do escoamento no RAHLF. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Cabral, A.K.A. 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