BANDAS ESCOLARES LORENZET, Simone – Secretaria Municipal de Educação de Chapecó – SC [email protected] TOZZO, Astrit Maria Savaris – Secretaria Municipal de Educação de Chapecó – SC [email protected] Eixo Temático: Cultura, Currículo e Saberes. Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo Este artigo relata o respeito à atividade musical como fator importante para o desenvolvimento social e cultural do ser humano, especialmente das crianças e adolescentes, pois possibilita o desenvolvimento e fortalecimento do raciocínio lógico-matemático, do senso estético, da percepção sonora e espacial, além da coordenação motora e capacidade inventiva. Com base nessas considerações, a Secretaria Municipal de Educação de ChapecóSC planejou e executou o projeto Bandas Escolares, o qual tem o objetivo de promover a aproximação entre os alunos e o ambiente escolar, percebendo-o como espaço de lazer e interação com os colegas e professores. O propósito é também resgatar valores culturais, respeito, amor à Pátria, ética, formação moral, entre outros. Além disso, pretende-se realizar a inclusão social no seu verdadeiro sentido, respeitando-se as diferenças e necessidades de cada aluno, bastando, para isso, que ele esteja matriculado, frequente regularmente as aulas comprometa-se com os ensaios e apresentações. Para a execução do projeto, no ano de 2008, 5 Escolas Básicas Municipais – EBMs - receberam instrumentos musicais, uniformes e orientação de dois instrutores (um professor de Educação Física e uma musicista) devidamente habilitados. Os ensaios são ministrados no contra turno das aulas, e cada escola é responsável pela manutenção dos instrumentos e dos uniformes doados pela Secretaria de Educação. Cada banda é formada por um corpo coreográfico de balizas e porta-bandeiras, um grupo musical composto por liras e um grupo de percussão. Além de oferecer oportunidade de permanência do aluno em ambiente escolar, fortalecendo, também, a parceria família-alunoescola, o projeto ajuda na construção do caráter cívico. Atualmente, as bandas envolvem um total de 560 alunos que se apresentam em diversos eventos, recebendo apoio e incentivo para a continuação do trabalho. Palavras chave: Crianças. Adolescentes. Bandas escolares. Inclusão. Cidadania. 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ - SC Com aproximadamente 180.000 habitantes, o município de Chapecó está localizado na América do Sul, Brasil, Estado de Santa Catarina, na região Oeste, a 630 km de Florianópolis, 4894 capital do Estado e possui uma área de 625,60km2. Fundada oficialmente em 25 de agosto de 1917, a cidade é pólo agroindustrial do Sul do Brasil e centro econômico, político e cultural do Oeste do Estado. A colonização é predominantemente italiana, entre outras etnias como alemã e polonesa. Até 1838, o Oeste catarinense era habitado apenas por índios. Foi quando tropeiros paulistas e imigrantes italianos e alemães vindos do Rio Grande do Sul começaram a cruzar a região, rumo a São Paulo, para comercializar gado. A partir das paradas de tropeiros e com a vinda das companhias colonizadoras, iniciou-se o processo de migração de outros Estados, principalmente do Rio Grande do Sul, o que justifica a preservação dos costumes gaúchos em vários CTGs (Centros de Tradições Gaúchas). O rápido e constante crescimento das agroindústrias ampliou o mercado de trabalho e transformou-se na base da economia da cidade, juntamente com a agricultura. Mais tarde, o setor metal-mecânico surgiu como alternativa de desenvolvimento e vem se especializando na produção de equipamentos para frigoríficos. Tem prestígio internacional por ser grande exportadora de produtos alimentícios industrializados de natureza animal, ocupando lugar de destaque na economia catarinense. É também considerada a Capital Latino-Americana de Produção de Aves e Centro Brasileiro de Pesquisas Agropecuárias, o que facilita ser a cidade um local apropriado para a realização de grandes eventos de cunho nacional e internacional. Localizada em meio a um entroncamento de rodovias federais e estaduais, com acesso fácil aos países do Mercosul, Chapecó é um ponto estratégico para negócios transfronteiras no Sul do Brasil. Evidentemente, entre as metas prioritárias para a continuação do desenvolvimento do município está a educação de qualidade. Por isso, o investimento nesse setor não tem precedentes na história da cidade. 2 PROJETO BANDAS ESCOLARES 2.1 INTRODUÇÃO A receptividade à música é um fenômeno corporal que exerce grande influência na sociedade, atuando como instrumento de transformação individual e social. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais Artes - Fundamental (1998, p.78), o ritmo de pulsação excitante e envolvente da música é um dos elementos formadores de vários grupos que se 4895 distinguem pelas roupas que vestem, pelo comportamento que os identificam e pelos estilos musicais de sua preferência. Além disso, sabe-se que a atividade musical possibilita o desenvolvimento e fortalecimento do raciocínio lógico-matemático, do senso estético, da percepção sonora e espacial, assim como a coordenação motora e capacidade inventiva, especialmente entre as crianças e adolescentes. A música, através de suas especificidades, tem a capacidade de interagir com outras linguagens e outras culturas. Comunica-se com a matemática com a literatura, com as ciências sociais e humanas, com a arquitetura, com todas as formas de expressão artística e com as novas tecnologias. A interdisciplinaridade da música permite vários trabalhos didáticopedagógicos. Sua dimensão intercultural é, sem dúvida, fator de comunicação, de ligação entre os povos e mensagem universal, uma vez que, através dela, é possível estabelecer um código comum, perceptível em todos os países. O poder da música é conhecido desde muito cedo. A magia apoderou-se dela desde os primórdios da humanidade. Através dos tempos, com a sua ajuda, tanto se podia (e se pode) ninar uma criança como se estimulavam os homens das tribos para o feroz combate; tanto se intensificava a nostalgia do amor como se ofertava aos deuses um sacrifício. A música acompanha a vida do homem em todas as suas fases, expressando dor, alegria, saudosismo, entre outros sentimentos. Com base nessas considerações, a Secretaria Municipal de Educação de Chapecó-SC planejou e executou o projeto Bandas Escolares, visando a ampliar o universo cultural das crianças e adolescentes por meio da musicalidade, buscando a revitalização das bandas como uma prática contemporânea, sem abrir mão de algumas tradições. O objetivo é, também, promover a aproximação entre os alunos e o ambiente escolar, utilizando-o como espaço de lazer e interação com os colegas e professores, além de propor o resgate dos valores culturais, respeito, amor à Pátria, ética, formação moral, entre outros, promovendo a inclusão social no seu verdadeiro sentido, respeitando-se as diferenças e necessidades de cada aluno, bastando, para isso, que ele esteja matriculado e frequentando regularmente as aulas. 3 BREVE HISTÓRICO DAS BANDAS E FANFARRAS 4896 Segundo os historiadores, desde a Antiguidade Clássica, o conceito de Banda Marcial já tinha sido popularizado pelos romanos, com provável influência dos gregos que valorizavam a disciplina física na formação militar, assim como a sensibilidade artística, especialmente voltada para a música. Como havia a especialização de funções dentro das organizações militares, reservavase um lugar para os músicos que, de regra, estavam à frente das paradas militares. Assim, a finalidade desses desfiles obrigou a uma seleção de instrumentos musicais com base em sua portabilidade, facilidade de manejo e potência sonora. O período militar brasileiro, ao incentivar esses eventos, causou uma falsa impressão no país que associa, comumente, as apresentações das bandas ou fanfarras à ditadura. Assim, os desfiles cívicos perderam parte da popularidade que tinham há algumas décadas. Durante o Estado Novo (1937-1945), o governo Getúlio Vargas preocupou-se em estimular o sentimento patriótico nas escolas e agremiações civis. O que mais se destacou nessa prática, na área musical, foi o trabalho do maestro Heitor Villa-Lobos - compositor, professor e maior representante da corrente nacionalista na música brasileira - dos Orfeões (coral amador). Esse tipo de canto, cujo repertório era baseado em canções que valorizavam a cultura nacional e enalteciam os valores patrióticos, introduziu o ensino obrigatório da música nas escolas. (PCN Artes, 1998, P.24). Com o fim do Estado Novo e do movimento orfeônico, houve uma lacuna preenchida, aos poucos, pelas Bandas, Fanfarras e agremiações musicais, existentes desde o Império, que passaram a encabeçar os desfiles cívicos, geralmente no dia da Independência do Brasil, 07 de setembro. 3.1 DIFERENCIANDO BANDAS E FANFARRAS O modelo americano das marching bands influciou as modernas bandas marciais e musicais. Já as fanfarras mantiveram características técnicas mais simples, uma vez que os recursos instrumentais eram mais limitados. Vale mencionar que as pequenas bandas das quais se originaram os grupos que executam o frevo em Pernambuco eram, muitas vezes, chamadas de Fanfarras. Com o tempo, convencionou-se que as fanfarras são grupos compostos exclusivamente por instrumentos de percussão e sopros de metal. As bandas, no entanto, têm também instrumentos de sopro de madeira. 4897 Quantos aos instrumentos presentes nas Fanfarras e Bandas relacionam-se os seguintes: • instrumentos de sopro de metal lisos, que caracterizam a fanfarra simples: Corneta em Fá e Si bemol, Clarim em Mi bemol, Cornetão em Fá e Mi bemol; • instrumentos de sopro de metal dotados de válvulas, que caracterizam a fanfarra com pisto: Bombardino em Si bemol, Fá e Mi bemol, Baixo Tuba ou Sousafone nas mesmas tonalidades e eventualmente Trompete em Si bemol; • instrumentos de percussão: Bombo Fuzileiro, Surdo gigante (90cm), Mor (60cm) e Médio (30cm), Atabaque ou Timbale, pares de Pratos de 14 ou 16 polegadas, Caixa Clara ou Tarol (rasa e aguda) e Caixa de Guerra (profunda e grave) e eventualmente Lira diatônica (metalofones com afinação); • instrumentos de sopro de Madeira: Flauta Transversal, Flautim ou Picollo (flauta extremamente aguda), Clarineta, Requinta (Clarineta reduzida) e Saxofone. Além dos instrumentos, saliente-se que as Fanfarras e Bandas Marciais possuem uma série de elementos "alegóricos", os quais servem também como parâmetros para julgamento em concursos. • Pelotão cívico: grupo de alunos portando a bandeira nacional, estadual, municipal e a da escola, ladeado por Guardas de Honra. Não faz evoluções. • Estandarte: aluno que leva a identificação (estandarte com o nome) da corporação musical que se apresenta, juntamente com sua Guarda de Honra. Assim como o Pelotão Cívico, esse grupo não faz evoluções e nem coreografias. • Porta cartel: alunos que portam a identificação da categoria da corporação musical e que podem fazer evoluções ou coreografias por serem destaques da fanfarra. • Pelotão ou Corpo Coreográfico: formado geralmente por alunas que fazem coreografias durante a execução das peças musicais executadas pela Fanfarra ou Banda. • Baliza: alunos ou alunas que realizam evoluções, malabarismo e coreografias livres ou coordenadas à frente da banda ou fanfarra. • Mor: condutor do grupo musical no desfile, que desempenha às vezes as funções de diretor musical, ensaiador e regente. Além da condução musical propriamente dita, o Mor tem sob sua responsabilidade a manutenção da ordem única e a coordenação das coreografias. 4898 • Comissão de frente: grupo de função e número de componentes variável, encarregado de encorpar e sofisticar as evoluções e coreografias no desfile. 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Todos sabem que a educação é a formação básica do cidadão. A partir dessa premissa, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram elaborados para que haja respeito às diversidades regionais, culturais e políticas existentes no Brasil e criar condições para que os alunos tenham acesso ao conjunto de conhecimentos organizados e reconhecidos como indispensáveis ao exercício da cidadania. Pertence a esse conjunto de conhecimentos a noção de arte e música. Segundo o PCN-Arte/Ensino fundamental e a LDB 9394/96, art.26, parágrafo 2°, o ensino das artes visa à formação básica do cidadão. Claro está que a música é uma das linguagens artísticas incluídas nesse parâmetro e, sendo assim, ela exerce a sua contribuição para a formação básica do ser humano, cidadão e a educação formal do indivíduo. Assim sendo, a música na escola não pode ser simplesmente ornamental para animar as festas, mas deve ser concebida e praticada á luz da vivência das dimensões estéticas, sonoras, visuais, plásticas e gestuais, a fim desenvolver a consciência critica dos valores humanos e encontrar meios de levar os alunos a atuarem como cidadãos. (BRESCIA, 2003, P.85) A implantação das bandas escolares deve ir ao encontro da necessidade de que elas devem ser algo significativo para o aluno. “Afinal toda prática musical, seja ela o canto coral, a banda de música, o grupo instrumental, é muito bem vinda, desde que tenha sentido para o aluno e que o envolva afetiva e cognitivamente.” (BENEDETTI E KERR, 2008, P.42) Nos últimos anos, surgiu um manifesto pela implantação da Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, que altera a Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na Educação Básica, a qual foi aprovada no senado pelas comissões de Educação, cultura e desportos, constituição justiça e cidadania, como projeto de lei. Assim, o ensino da música não será mais constituinte e sim obrigatório no currículo escolar, concedendo-se o prazo de três anos para as escolas se adaptarem ao novo processo. 4899 Segundo Sobreira, “a justificativa para o veto comprova que o ensino de música e a Educação Musical no Brasil são vistos por nossos governantes sobre uma ótica estreita e desfigurada de seus reais propósitos.” (SOBREIRA, 2008, P.46) Cabe a ressalva de que a Educação Musical que se quer nas escolas não deve ser desvalorizada em relação às outras disciplinas. A idéia é assegurar um ensino de qualidade, garantindo o acesso e permanência dos alunos na escola, a fim de torná-los cidadãos críticos e conscientes do seu papel na sociedade, capazes de transformar o seu meio social, proporcionando a oportunidade de inclusão social por meio do acesso a informações culturais que orientem a aprendizagem artístico-musical. Assim, corrobora-se com Bréscia, para quem "a música é tida como um dos melhores meios de expressão e socialização do ser humano". Ainda segundo a autora, "em suma, a educação do individuo estará definitivamente incompleta se a música não constitui uma parte dela" (BRECIA, 2003, P.94) 5.DESENVOLVIMENTO DO PROJETO A idéia do projeto surgiu com a necessidade de trazer a música não como um método apenas cultural, mas também como uma proposta pedagógica, estimulando a permanência do aluno na escola, uma vez que, para participar das Bandas Escolares, é preciso que o aluno freqüente as aulas regularmente, tenha disciplina e comprometa-se com os ensaios e apresentações. Além disso, é necessário o consentimento dos pais ou responsáveis, o que propicia a aproximação também da família em relação ao ambiente escolar. Levando em consideração os aspectos mencionados, evidentemente aliados a outros fatores positivos, entre os quais o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos processos de alfabetização, de socialização, das capacidades e das percepções e o resgate na construção do caráter cívico, o projeto foi prontamente aceito pela Secretaria Municipal de Educação de Chapecó-SC. Ressalte-se que a proposta em questão pretende afirmar a importância da música na cultura e no desenvolvimento do cidadão, permitindo que talentos regionais sejam valorizados e reconhecidos, oferecendo a oportunidade para que novos talentos se evidenciem, proporcionando maior interação da comunidade com a cultura regional. O resgate familiar também é um dos pontos fundamentais do projeto, aproximando pais, professores e alunos, pois a presença nos ensaios, reuniões e apresentações das bandas é, sem dúvida, fato 4900 significativo que merece ser relevado. Também entre os objetivos do projeto está a certeza de assegurar ensino de qualidade, garantindo o acesso e permanência dos alunos na escola. Outro ponto a considerar é a disciplina que se faz presente no ambiente de ensaio e concentração. Nota-se, também, o fator solidariedade entre os componentes das bandas, favorecendo o interrelacionamento pessoal e o convívio social, fornecendo noções de valores cívicos e morais, preparando os educandos para se tornarem cidadãos críticos, merecedores dos seus direitos e respeitadores dos seus deveres, conscientes do seu papel na sociedade e capazes de transformar o seu meio social. Para a execução do projeto, no ano de 2008, cinco Escolas Básicas Municipais, – EBMs, a saber - Rui Barbosa, Severiano Rolin de Moura, André Marafon, Jardim do Lago e Vila Real- - receberam instrumentos musicais, uniformes e orientação de profissionais devidamente habilitados. Os uniformes e os instrumentos, evidentemente, não têm custo para aos alunos. A Secretaria Municipal de Educação é responsável pela aquisição e reposição de todo o material necessário para o bom andamento do projeto. Cada escola, onde há banda, tem a autonomia e a responsabilidade pelo cuidado e manutenção dos uniformes e dos instrumentos. Os profissionais envolvidos são bacharéis em Educação Física, os quais organizam e acompanham o corpo coreográfico das balizas, uma psicopedagoga, que interpreta e apresenta problemas multidisciplinares relacionados às bandas, uma musicista responsável por ministrar as aulas de lira e percussão e estagiários, os quais ajudam na organização das demais tarefas. Os ensaios são ministrados no contra turno das aulas, normalmente duas vezes por semana. Quando se aproxima alguma apresentação, os ensaios se intensificam, ocupando, por vezes, também o horário noturno. Os profissionais responsáveis fazem o horário de acordo com sua disponibilidade, pois atendem às cinco bandas, as quais são formadas, cada uma, por um corpo coreográfico de balizas e porta-bandeiras, um grupo musical composto por liras e um grupo de percussão. Atualmente, as bandas envolvem um total de 560 alunos, que se apresentam em diversos eventos, recebendo apoio e incentivo da comunidade e da Secretaria Municipal de Educação para a continuação do trabalho. Vale lembrar que a educação musical, assim como as atividades desenvolvidas com as bandas não se fazem presentes no currículo escolar. 4901 As apresentações consistem em eventos sócio-culturais em vários locais da cidade. Nesse momento, os alunos mostram todo o aprendizado conquistado nos ensaios, levando a música a todo e qualquer ouvinte, gerando, assim, apreciadores da música instrumental. O trabalho com o projeto das bandas é voltado para a educação musical, visando ao estudo e à reflexão do ensino da música, de forma eclética, viabilizando a inclusão social dos diferentes alunos. Ao se observar o trabalho desenvolvido, várias questões podem ser discutidas e aprofundadas, entre as quais, a relação professor e aluno, a inclusão socioeconômica dos alunos ante a profissionalização musical e instrumental e a maneira, além da socialização dos integrantes das bandas. Dentre as atividades desenvolvidas nessa proposta, estão as aulas de linguagem musical, em que os alunos ganham noções de ritmo e história da música. Nesse aspecto, percebe-se que os ensaios não se limitam ao aprendizado, mas a outros elementos que estão presentes na música, como cultura e reflexão. Os professores aplicam uma forma de ensinar em que há oportunidade de analisar e refletir sobre a música ensaiada, vivenciando-a música e fazendo com que os educandos busquem maneiras de se comportar musicalmente. Assim, os alunos ficam bem mais à vontade, ampliando seu universo musical, viabilizando diferentes performances, explorando as habilidades dos alunos para diversificação da profissionalização. Também não se considera perda tempo interromper o ensaio por alguns instantes, antes de se executar uma determinada música e contar a sua história ou o que ela representa. É comum o professor cobrar mais estudo individual de quem tem dificuldade, principalmente quanto à questão de divisão musical e afinação, nas quais a maioria dos alunos apresenta dificuldade, especialmente os iniciantes. Para a organização do trabalho, segue-se uma ordem de passos no ensaio: distribuição de partituras, divisão por naipes ou grau de dificuldade que alguns apresentam em algumas músicas. Observa-se que a forma tradicional se faz necessária, pois se garante mais ordem durante os ensaios. O repertório das bandas, selecionado pelos professores, envolve formas e estilos variados, que vão desde o clássico até a MPB, visando a uma melhor profissionalização musical e, ao mesmo tempo, preparando os alunos para tocarem e se familiarizarem com diversos estilos. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 4902 Por muito tempo, não só em Chapecó – SC, a instituição Banda de Música foi considerada tradicionalmente como “coisa de velho”. Uma das conquistas do projeto foi ter colocado em evidência essa instituição, fazendo surgir um significativo número de jovens musicistas mostrando uma imagem construtiva e renovada. Não só ministrar música nas escolas, o projeto é um grande trabalho de inclusão, um vínculo a ser criado entre pais, alunos e escola, tendo o regate da importância do cumprimento com os deveres cívicos e a amplitude da palavra cidadão. Tem também a finalidade de descobrir e apoiar grandes talentos musicais que poderão dar continuidade a esse trabalho agora iniciado, fazendo com que cada vez mais um número maior de crianças tenha a mesma oportunidade que lhes foi dada. Nesse sentido considera-se que as bandas têm dado sua contribuição na formação básica do cidadão, mesmo sendo uma atividade extracurricular. Salienta-se a preocupação das coordenações e da Secretaria da Educação em manter suas bandas em atividade para que os jovens das comunidades em que elas estão presentes tenham a possibilidade de enriquecer suas formações e possam perceber que são capazes. Isso faz com que eles tenham motivos para se orgulhar. Percebe-se nos componentes a vontade de aprender, de fazer música, de fazer parte do grupo e mostrar o trabalho desenvolvido. Cumpre ressaltar que, entre os objetivos deste projeto, está inclusão social dos alunos que delas participam. É fato que a música tem poder de humanização e que a sociedade tem passado por várias transformações de caráter social, em que a violência e a criminalidade vêm arrebatando jovens de todas as camadas da população, especialmente as mais carentes. Nesse sentido, os ensaios e o empenho para as apresentações têm realizado um papel relevante para a inserção social e econômica. Alguns alunos, sabendo de sua potencialidade, da importância e do encantamento do trabalho que desenvolvem, adquiriram senso crítico quanto à valorização das bandas e do próprio talento e responsabilidade que eles sabem que estão desenvolvendo, o que os motiva para a continuidade bem sucedida do trabalho. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação nacionais:Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998. Fundamental. Parâmetros curriculares BRASIL.Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional (9394/96). Diário Oficial da União, Brasília, 1996. 4903 BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei do Senado 330/2006. Altera a Lei n° 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica. Brasília, 2006. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Leis Ordinárias de 2008. Lei nº 11.769/2008. Altera a Lei n° 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino de música na educação básica. Brasília, 2008. BEYER, Esther (Org). Idéias em Educação Musical. Porto Alegre: Mediação, 1999. BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno - Educação Musical: Bases psicológicas e ação preventiva. Campinas: Átomo, 2003, Edições PNA. FERREIRA, Kleide. Pesquisa em Música e Educação. São Paulo: Loiola, 1991. HENTSCHKE, Liane (Org.); Oliveira, Alda. Educação musical em países de Línguas neolatinas. Porto alegre: Universidade/ UFRGS. 2000. http://literatura.moderna.com.br – Acesso em 24 de junho de 2009. http://www.fcmc.pi.gov.br- Acesso em 24 de junho de 2009. LOUREIRO, Alicia Maria Almeida. O ensino de Música na Escola Fundamental. Campinas: Papirus, 2003. MATEIRO, Teresa da Assunção Novo. Educação Musical nas Escolas Brasileiras: Retrospectiva Histórica e Tendências Pedagógicas Atuais. Arte Online – Periódico de Artes, Florianópolis: UESC – Março/Agosto 2000 SOUZA, Jusamara; HENTSCHKE, Liane; OLIVEIRA, Alda de; BEN, Luciana Del; MATEIRO, Teresa. O que faz a música na Escola? Concepções e vivências de professores do ensino fundamental. SÉRIE ESTUDOS: n.1. Nov.1995. Porto Alegre: Núcleo de Estudos Avançados do Programa de Pós Graduação em Música- Mestrado e Doutorado. Porto Alegre, 1995. PENNA, Maura; ALVES, Erinaldo. Emoção/expressão versus linguagem/conhecimento: os impasses da fundamentação dos PCN-Arte. Cadernos de textos. Publicação do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPB, João Pessoa, n.15, p 51-74, nov.97. SOBREIRA, Silvia. Reflexões sobre a obrigatoriedade da música nas escolas públicas. Porto Alegre: Revista da Abem nº 20, set.2008. SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Trad. de Alda Oliveira e Cristino Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003. SOUZA, Jusamara (Org). Música, Cotidiano e Educação. Porto Alegre: UFRGS, 2000. 4904 GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. IN: Ensaio: avaliação das políticas públicas na Educação. Rio de Janeiro, v.14, n.50, p.27-38, jan./mar. 2006. HENTSCHKE, Liane. A formação profissional do educador musical: poucos espaços e múltiplas demandas. IN: Anais do X Encontro Anual da ABEM. Uberlândia: ABEM, 2001, p.67-74. OLIVEIRA, Alda. Múltiplos espaços e novas demandas profissionais na educação musical: competências necessárias para desenvolver transações musicais significativas. IN:Anais da ABEM – X Encontro Anual. Uberlândia, 2001,p19-40. HENTSCHKE, L; DEL BEN, L.(org.).Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p.62-76.