A nova temporada de seriados 20112012
Nos últimos anos, a televisão tem dado um banho no cinema.
Hollywood investe tanto dinheiro em cada filme que simplesmente não pode mais se
dar ao luxo de errar. As produções andam formuláicas, conservadoras, seguras. Qual
foi o último filme realmente original e surpreendente que saiu de Hollywood? Mesmo
quando o cineasta tenta fazer algo novo, ele é voto vencido contra cinquenta focus
groups que querem sempre os mesmos tipos de filmes.
Por outro lado, séries de televisão podem arriscar muito mais. Sempre há espaço para
pelo menos alguns episódios ousados e inovadores em cada temporada.
Os melhores episódios de Buffy e Supernatural são melhores do que praticamente
qualquer filme de horror recente. Quantos filme de ação e espionagem chegam aos pés
das primeiras temporadas de 24? Qual filme policial é melhor do que os bons episódios
de Lei & Ordem e CSI?
Na temporada passada, os grandes destaques foram Fringe e Game of Thrones.
No 1º episódio de Game of thrones, a rainha loira má joga uma criança do alto de uma torre. Depois
disso, ela fica má de verdade.
Se você ainda não viu Game of Thrones, pare tudo e assista. Muita gente não quis ver
por achar que era algo tipo Senhor dos Anéis para televisão, com duendes e anões,
fadas e elfos, mas prefiro descrever a série como um West Wing ambientado em um
mundo alternativo. Game of Thronesnão é sobre fantasia e aventura, mas sim uma
das melhores séries sobre política que já assisti.
Mais do mesmo
Sim, a televisão está mais inovadora e dinâmica que o cinema, mas ela também vive
de fórmulas. Algumas séries são geniais justamente por serem tão consistentemente
previsíveis: são aquele feijão-com-arroz sempre confiável, ao qual podemos voltar
repetidas vezes com confiança que, se não vai ser um manjar dos deuses, também não
vai ser ruim.
The Mentalist terminou a temporada anterior com Jane cometendo um assassinato em
público, sugerindo que a série poderia estar a beira de grandes e dramáticas
mudanças, mas tudo acabou sendo resolvido muito rápido já no primeiro episódio da
nova temporada. Custava termos mais alguns episódios de Jane preso, ou fugitivo, ou
simplesmente fora de sua zona de conforto? Mas tudo bem. The Mentalist logo voltou
ao seu feijão-com-arroz gostoso e habitual.
Big Bang Theory continua igual. Nunca me mata de rir, nunca é ruim. Mais e mais,
quem dá o show são as atrizes.
Amy e Bernadette, sozinhas, já valem The big bang theory.
Supernatural está em sua segunda temporada depois da saída do criador
e showrunner Eric Kripke. É sempre um momento delicado. Quando o criador sai e
passa a criatura adiante, das duas uma: ou o programa pula o tubarão (por perder sua
alma criadora) ou se renova significativamente (por trocar um criador cansado e sem
idéias por uma equipe dinâmica e empolgada). Por enquanto, não aconteceu nenhum
dos dois, mas confesso: sinto muita falta das primeiras duas temporadas, quando eram
apenas os dois irmãos dirigindo pelo meio-oeste americano, caçando um monstro por
semana, sem grandes dramas existenciais, sem grandes arcos narrativos. Enfim,
continua bom e poderia ser melhor — mas o que não poderia?
Dexter sofre do mesmo problema que Supernatural. É uma série foda, que já foi
significativamente melhor, e hoje parece travada. Teoricamente, Dexter deveria ser
mais sequencial ou, melhor, consequencial. Mas parece que a cada temporada eles
zeram tudo. As ações e escolhas dos personagens parecem não ter consequência.
Será que ninguém vai nunca desconfiar do Dexter? A série continua ótima mas,
progressivamente, a minha sensação é que thestakes are low, ou seja, não existe risco
real de Dexter ser pego, preso, descoberto. Quando não existe risco, não existe
emoção.
Altas mudanças
Two and a half men acabou, né? Sério. O seriado era o Charles Sheen. Sem ele, não
tem seriado. Os novos episódios com o Aston Kuchner estão patéticos. Vi os dois
primeiros e nunca mais. Vai com deus.
Charlie, Charlie, Charlie, que saudade de você...
CSI e Lei & Ordem SVU, dois excelentes seriados feijão-com-arroz, nunca ruins,
sempre confiáveis e consistentes, acabaram de sofrer grandes mudanças de elenco,
mas a qualidade dos novos episódios continua a mesma. Adorei Lawrence Fishburne
em CSI mas Ted Danson também está excelente. Já os novos atores de SVU, todos
relativamente desconhecidos, não fedem nem cheiram, tudo igual.
The Walking Dead continua tão bom (ou tão ruim) como sempre foi. Do ponto de vista
narrativo, a série é boa, mas ninguém ainda conseguiu me explicar qual é a graça de
zumbis.
Novidades promissoras
Prime suspect é a versão americana de um excelente seriado inglês. A premissa é
praticamente não-existente: uma detetive feminina enfrentando machismo no seu
departamento. Parece chato, mas o segredo está no story-telling. Os quatro episódios
até agora não foram geniais mas estão muito acima da média dos policiais da TV.
Histórias bem contadas, diálogos interessantes, personagens envolventes. Talvez
perca o gás logo, mas vale a pena assistir.
American horror story tem uma premissa simples também: família se muda para uma
casa mal-assombrada. A princípio, não me parece suficiente para manter um seriado a
longo prazo. Só nos primeiros dois episódios, já aconteceram coisas estranhas o
suficiente para qualquer um ter ido embora da tal casa. É claro que, se fizessem isso,
acabaria o seriado, mas é preciso que se explique de forma bem satisfatória porque os
personagens não fazem o que qualquer ser humano racional faria. Tirando esse
problema de suspensão de descrédito, o seriado está bizarro, imprevisível, estranho.
Dá vontade de continuar assistindo, de saber onde tudo vai dar. Essa comichão curiosa
é a base do sucesso de qualquer série.
Se não fosse bom, American horror story já valeria a pena só pela empregadinha-gostosa-fantasmasinistra.
Terra Nova tem uma premissa excelente e os primeiros episódios tem sido
interessantes, embora ainda não estejam ao nível da premissa. No futuro, o planeta
está sobrecarregado e superpoluído. A única saída para a humanidade é colonizar
outros planetas. Entretanto, na falta de novos planetas, a solução é mandar colonos
para o passado. 85 milhões de anos no passado. Uma viagem sem volta — a
tecnologia só permite retornar ao passado, nunca ir ao futuro. Então, basicamente,
temos uma colônia de humanos tentando sobreviver em uma Terra repleta de
dinossauros. Legal, né? Pois é, e está melhorando. Vale assistir.
A nova moda dos contos de fadas
Kristin Bauer simplesmente maravilhosa como a melhor Malévola que já vi.
Está rolando, na TV e no cinema, uma moda de contos de fadas. Só para o ano que
vem, temos dois filmes da Branca de Neve. Eu, que sempre fui um menino tarada que
morria de tesão pela Madrasta Má, estou louco pra ver Julia Roberts e Charlize Theron
no papel. Ainda mais legal, a Disney está produzindo um filme da Malévola, com
Angelina Jolie no papel da deliciosa vilã. Enfim, sonhos.
Enquanto isso, dois novíssimos seriados estão explorando esse universo.
Once upon a time se passa em uma cidadezinha no Maine habitada exclusivamente
por seres lendários que foram enfeitiçados, perderam suas memórias e vivem outras
vidas. Então, a Madrasta Má é a prefeita e a professorinha da escola é a Branca de
Neve; o Grilo Falante virou psicólogo e o Princípe Encantado está em coma, etc etc.
Por enquanto, estou achando fraco. O seriado parece levar a si mesmo, e aos
personagens dos contos de fadas, a sério demais. Entretanto, não confiem muito na
minha opinião: a série está fazendo tanto sucesso que já foi confirmada para uma
temporada completa. Eu confesso que, por enquanto, só estou assistindo por causa da
belíssima Lana Parilla como uma madrasta, quer dizer, prefeita má tão má que chega a
ser caricata mesmo enquanto personagem de contos de fadas. Ah, e a briga entre ela e
a Malevóla de Kristin Bauer, no segundo episódio, valeu a série.
Grimm me parece melhor enquanto série, mas comete o sério, quiçá mortal pecado, de
não ter nenhuma vilã linda. A premisa é simples: existem seres encantados e monstros
vivendo entre nós, que só podem ser vistos por membros da família dos Grimm. Sim,
os alemães que compilaram esses contos de fadas. A série acompanha as aventuras
de um policial de Seattle que, com a morte de uma tia, acabou de herdar essa
incômoda habilidade. Por enquanto, só teve dois episódios, mas foram bem
interessantes. Na verdade, é mais um seriado policial do que outra coisa. Vou ficar de
olho.
Lana Parilla, divina como a Madrastá/Prefeita Má de Once upon a time.
Novos e desempolgantes
Person of interest é o exato oposto de Prime Suspect: a premissa é sensacional mas
todos os episódios foram fracos, mornos, desinteressantes. Um programa espião do
governo consegue prever quais pessoas vão se envolver em atos de violência, seja
como agressores ou vítimas, e um ex-fuzileiro se aproxima para tentar prevenir os
acontecimentos. Mas, por enquanto, ainda não funcionou. Nem mesmo o excelente
Michael Anderson (o Ben Linus, de Lost) consegue salvar a série. Já desisti. Meu
tempo vale ouro.
Charlie’s Angels (As Panteras) é sexista, bobo, sem graça, desinteressante. Já foi
cancelado.
Se nem essas gatas salvaram As panteras, nada salvaria.
A Gifted Man é a história de um médico egocêntrico que fica bonzinho a pedido do
fantasma de sua falecida esposa. Chegou a aumentar os níveis de açúcar do meu
sangue. Fofinho demais. Só consegui assistir o piloto e olhe lá.
Wilfred é outro seriado de premissa interessante e má execução. Um homem vê o
cachorro da vizinha como se fosse uma pessoa que fala e interage com ele – apesar de
todos os outros o verem somente como um cachorro. Há tanta coisa boa que poderia
ser feita, mas o resultado foi muito decepcionante.
Wilfred. Sério. Não vale a pena.
Não perca
Fringe começou fraco e lento, uma cópia descarada e inferior de Arquivo X.
Entretanto, o seriado foi ganhando força de forma surpreendente. A terceira temporada,
com suas histórias de terras paralelas, foi simplesmente sensacional. Agora, na quarta,
enquanto exploramos as características da nova terra unificada sem Peter, as coisas
estão ficando ainda melhores. Mas é um seriado difícil de se pegar pelo meio. Se você
está interessado, comece pelos primeiro episódios.
A Olívia da Terra Paralela (Fauxlivia, à direita) é muito mais gostosa que a nossa.
Homeland foi a grande, enorme, deliciosa surpresa entre os novos seriados da
temporada. Um prisioneiro de guerra retorna do Iraque e uma analista da CIA está
convencida que ele é um agente duplo. Basicamente, é isso mas, como sempre, a
genialidade está na narrativa. Não sabemos realmente se o prisioneiro é um agente
duplo. A agente da CIA parece cada vez mais desequilibrada. A família do prisioneiro
não sabe o que fazer com ele. A mídia está em polvorosa. A história se torna
progressivamente mais complexa, multifacetada. Não temos certeza de nada. Não
existe nenhum vilão nem nenhum herói facilmente reconhecível. Tudo é possível.
Delícia.
A bela carioca Morena Baccarin, ex-Rainha Réptil Alienígena, interpreta a pobre esposa recémdesenviuvada.
Fonte: http://papodehomem.com.br/a-nova-temporada-de-seriados-2011-2012/
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A nova temporada de seriados 2011