Pesquisa MANOEL DOBAL Por [email protected] oficinadasorigens.blogspot.com Porto Alegre, maio de 2013. 1 Sumário Apresentação ......................................................................... 3 A – Manoel Dobal: origens, família, relações sociais e atividades ................................................................................ 5 B – Família Dobal: a genealogia ........................................... 25 I – Manoel Dobal ............................................................ 26 II – Damásia Dobal ......................................................... 40 III – Micaela Maurícia Dobal ........................................... 41 IV – Maria Bárbara Dobal ............................................... 43 V – Cláudio Dobal .......................................................... 44 VI – José Maria Dobal .................................................... 46 VII – Maria Manoela Dobal ............................................. 47 VIII – Pedro Braz Dobal ................................................. 48 IX – Eleutéria Dobal ....................................................... 50 C – Origens da Família Fontella ............................................ 54 Finalmente... ........................................................................... 56 2 MANOEL DOBAL O fio de Ariadne que guia o investigador no labirinto documental é aquilo que distingue um indivíduo do outro em todas as sociedades conhecidas: o nome. Carlo Ginzburg Apresentação No final dos anos 1980, o historiador italiano Carlo Ginzburg trouxe à tona uma metodologia de análise que enfatizava o nome como uma espécie de bússola, o qual cumpria um duplo papel: o de guiar o pesquisador pelo universo documental dos arquivos e o de organizar a narrativa.1 Longe de adentrarmos nas especificidades do método científico, servimo-nos de Ginzburg para organizarmos a narrativa, estabelecendo um fio condutor a partir do nome de Manoel Dobal. Nesse sentido, o nome Manoel Dobal ajudou-nos a compor uma espécie de malha fina, na qual as linhas partiram e convergiram, criando um tecido social, mesmo que fragmentário, onde ele se inseriu e se relacionou. É importante ressaltar que toda a busca girou em torno à sua figura. A cada tipologia documental vasculhada e encontrada, pretendia-se localizar o 1 GINZBURG, Carlo. O Nome e o Como: troca desigual e mercado historiográfico. In: GINZBURG, C. A Micro-História e Outros Ensaios. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p. 169-178. 3 próprio ou alguém a ele relacionado, pois, apesar de as fontes se espalharem por diversas instituições – que, além de cumprirem papéis de prova bastante específicos em sua origem – cada uma revelou e legitimou um aspecto de sua vida. Portanto, a partir da complexidade de dados coletados, lançamos um olhar no personagem específico e buscamos circunscrevê-lo em seu contexto histórico-social, proporcionado informações sobre ele e seu entorno. É disso que se trata a pesquisa ora exposta. Através do levantamento cuidadoso e criterioso de documentos, pretendemos apresentar a figura de Manoel Dobal como ponto central, trazendo à tona seus relacionamentos. Para tal, através do nome foi-nos possível descobrir uma série de elementos que a ele se ligou, cuja organização de todo esse conjunto compõe-se de três partes: A) Na primeira parte, apresentamos as origens, a família, as relações sociais e as atividades de Manoel Dobal. B) Como levantamos vasto material, organizamos também a genealogia dos Dobal, partindo do casal patriarca e chegando aos netos, na segunda parte da apresentação. C) Na última parte, trazemos a origem da família Fontella, originária da esposa de Manoel Dobal, Maria Bibiana. Ao longo de todo o trabalho, as fontes documentais estão devidamente citadas em notas de rodapé, possibilitando o resgate do documento em seu local original de guarda. Permeando a narrativa, inserimos imagens dos documentos, que a ilustram. É válido ressaltar que os registros das igrejas de Itaqui e São Borja encontram-se no Arquivo da Diocese de Uruguaiana, cujas citações serão feitas com a sigla ADU, seguida pelo tipo de registro, o nome da igreja e do local, número do livro e a folha. 4 A – Manoel Dobal: origens, família, relações sociais e atividades A notícia “ponto de partida” das buscas foi a de que nosso personagem nascera, vivera e falecera na então vila de Itaqui, município fronteiriço do Brasil com a Argentina, onde se casara e deixara descendência. Com o avançar das pesquisas, baseadas nos livros de registros de batismos, casamentos e óbitos da Igreja Católica de Itaqui e São Borja; nos livros dos Tabelionatos e em processos de inventário e criminal destas mesmas cidades, existentes no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS), desvendamos vasta relação social e familiar, afora outros curiosos aspectos. A primeira questão importante que destacamos é a grafia do sobrenome Dobal, pois, apesar de ter sido a mais usual encontrada, os registros apontam muitas corruptelas, a depender desde a origem do ouvinte, como da época do documento. São elas: Dobal ou Doval Dubal ou Duval Do Ball Do Bal Do Valle.2 Tudo leva a crer que, de fato, o sobrenome original fosse mesmo Del Valle3, o qual foi sensivelmente alterado ao longo dos anos, devido à pronúncia e o entendimento daqueles que o escreviam – geralmente padres de origem lusa. 2 Teve, ainda, a grafia “Doubala” que apareceu apenas em um registro. Encontramos na cidade de Corrientes (Argentina) pessoas com o sobrenome Del Valle, localidade de onde – possivelmente – originou-se a família Dobal. Infelizmente, o casamento dos ancestrais de Manoel Dobal não foi encontrado, o qual procuramos apesar do indício de ilegitimidade dos filhos. 3 5 Assim é que os registros mais antigos, da década de 1850, iniciam com a designação do sobrenome Do Ball (Do Bal), Do Valle, transformando-o após em Duval, Doval, Dubal e Dobal. Tal modificação da grafia do apelido, como dissemos, deu-se de forma gradual e acabou, podemos assim dizer, se perpetuando como FRONTEIRA: MOVIMENTO E ESTRATÉGIA Dobal, já que os integrantes da família passaram a assinar deste modo e assim serem reconhecidos na comunidade em que viviam. O segundo ponto diz respeito à naturalidade e filiação de Manoel Dobal. Com efeito, nos assentos da Igreja Católica de Itaqui, nas referências que encontramos sobre a família Dobal, os padres pouco indicavam acerca do local de origem dos nubentes ou dos pais das crianças batizadas, só o fazendo, geralmente, quando vindos de outro local. Afora este aspecto, Manoel Dobal e familiares sempre que declinadas suas naturalidades, eram tidos como naturais “daqui” ou “desta paróquia”, a sinalizar que estariam há muito ali estabelecidos ou que realmente ali nasceram. O diálogo constante com a história oferecenos instrumentos que nos permitem compreender aspectos contextuais que embasam trajetórias e ampliam o poder de análise. Trata-se de delinear uma espécie de “cenário”, onde as pessoas viveram e se relacionaram. É sabida a fragilidade da tênue fronteira entre os impérios português e espanhol que caracterizou o processo histórico de avanço, ocupação e conquista do sul da América Meridional. Na medida em que os lusobrasileiros avançavam em direção a oeste, no território hoje conhecido por RS, os espanhóis também se preocupavam em cuidar de espaços que pertenciam aos seus limites. É o caso de todas as fronteiras gaúchas, marcadas por sua posição singular e estratégica no contexto colonial do século XVIII. Segundo o antropólogo Ruben George Oliven: “A posição estratégica do Rio Grande do Sul faz com que ele seja visto como uma área limítrofe que estaria nas margens do Brasil e que poderia tanto fazer parte dele como de outros países dependendo do resultado das forças históricas em jogo”. 6 Após a falência do Tratado de Madrid (1750), no qual se previa a permuta da Colônia de Sacramento com a região das Missões, a ideia era, finalmente, que o domínio espanhol sobrepujasse na região platina e que os portugueses dominassem o território a oeste da região que já haviam começado a ocupar, desde Viamão a Rio Pardo. Após curto período bélico, devido à exigência portuguesa de trasladar os índios que habitavam as Missões, as cláusulas do Tratado de Madrid foram anuladas com a assinatura do Tratado de El Pardo (1761). Porém, os ânimos entre espanhóis e portugueses se acalmaram apenas em 1777 com o Tratado de Santo Ildefonso, com a criação dos campos neutrais (faixa de terra sem jurisdição de nenhum dos Impérios) e com a entrega da Colônia de Sacramento à Espanha. A região das Missões seguiu sob domínio espanhol até 1801, ano em que, após curta disputa entre ambos os Impérios, assinaram o Tratado de Badajoz. A região de Itaqui pertenceu ao quadrante das Missões e foi há muito povoado pelos índios, e, “desde o tempo dos jesuítas até a conquista de 1801, era um patrimônio do povo, ou redução da cruz, situado à margem direita do Uruguai e, portanto, das Missões Ocidentais”.4 Com a fundação da cidade de Corrientes, capital da Província argentina de mesmo nome, em 1588 pelos conquistadores espanhóis e gente oriunda do Paraguai, estabelecia-se um baluarte às margens do Rio Paraná. O avanço espanhol na América Meridional combatia os indígenas, que, aos poucos, foram sendo subjugados e reunidos nas missões jesuíticas. O grupo indígena principal era o guarani. Por volta de 1630 esses índios foram o pivô na criação das reduções jesuíticas às margens do Rio Uruguai, distantes cerca de 300 km da cidade de Corrientes. Uma dessas missões ou reduções jesuíticas foi La Cruz (ou Santa Cruz), fundada em 1657 na margem direita do Rio Uruguai.5 A fim de abastecer essa redução, do outro lado do rio mantinha-se a Estância La Cruz, entre os Rios Ibicuí e Butuí, onde havia a produção pastoril, da erva mate e de mel. Com os avanços e recuos históricos que marcaram os meados do século XVIII, a partir do Tratado de Santo Ildefonso (1777) até 1801, o território à esquerda do Rio Uruguai foi administrado pelo Império Espanhol, mas sem a presença jesuíta (expulsos em 1759). 4 SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus antigos domínios. Porto Alegre: ERUS, 1979, p. 382. 5 Atualmente, território argentino, cujo município é La Cruz. 7 Corrientes Itaqui 8 Foi apenas em 1801, com a assinatura do Tratado de Badajoz que os Impérios espanhol e português começaram a definir suas fronteiras e – o que nos interessa – a região das Missões passou a ser, definitivamente, território luso. A partir de 1802, o poder colonial começou a conceder sesmarias na região, como forma de manter a posse e o domínio. Segundo Silveira, em 1821 o então município de Itaqui já contava quarenta e duas estâncias, “existindo no local da atual cidade três ou quatro miseráveis ranchos”.6 Nesse contexto fronteiriço, destacamos Itaqui, dentre as localidades caracterizadas pelo surgimento a partir de aglomerações militares. Na barra do arroio Cambaí, em defesa do estratégico ponto de acesso entre os territórios luso e hispânico – acesso secular, utilizado pelos índios e jesuítas no transporte de produtos oriundos da Estância da Cruz – estabeleceram-se o Capitão Fabiano Pires de Almeida, soldados e algumas famílias, no local denominado Rincão da Cruz. Com o tempo, o desenvolvimento de Itaqui deu-se através do comércio. A proximidade da sede de Itaqui com as cidades argentinas – e mesmo da Banda Oriental (Uruguai) – fez com que todas estivessem interligadas pelas vias fluviais de comércio, o que favoreceu o desenvolvimento de um ativo processo de trocas na região de itens de origem primária como a erva-mate e os couros, proveniente dos “vaccuns”, associando ao contra-fluxo de manufaturados que viriam do Prata, portos de Buenos Aires e 7 Montevidéu, para compor os mercados locais. Em 1858, quando o viajante médico alemão Robert Avé-Lallemant visita Itaqui, surpreende-se e não deixa de compará-la a São Borja: 6 SILVEIRA, José H. V. da. Op. cit., p. 383. RODRIGUES, Márcio Adriano de Lima. As origens do comércio na região de fronteira oeste: a realidade dos mercados fronteiriços no século XIX. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH, São Paulo, julho 2011, p. 7. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300710906_ARQUIVO_artigofinalizado.p df> 7 9 [...] estive visitando Itaqui. O lugarejo é a penar do tamanho de São Borja, e tem cerca de 2000 habitantes. Enquanto esta missão jesuítica, embora de algum modo pareça conservar-se, acha-se em certa decadência ou, pelo menos, está estacionária desde alguns anos; Itaqui, de fundação moderna, cresce a olhos vistos e é animada por várias atividades. Antes de tudo tem um comércio realmente ativo. Pelo menos cinquenta lojas, grandes e pequenas, existem no lugar e aparece que em todas se ganha dinheiro. Quase todos os produtos europeus lá se encontram e se vendem a enormes preços. Um dos principais produtos de exportação é o mate. Administrativamente, Itaqui foi subsidiária de São Borja, onde se localizava o Comandante Geral das Missões. Em 1837, uma Lei Provincial eleva Itaqui a distrito e, em 1858, fica desanexado de São Borja e passa a ser município. O mesmo ocorreu com os registros eclesiásticos: antes da criação da freguesia (paróquia) de São Patrício de Itaqui, todos os eventos religiosos dependiam dos padres de São Borja. Como observamos nesse breve panorama histórico, o Rio Uruguai também pode ser tomado como um personagem. O Rio Uruguai, fronteira natural que separa a Argentina e o Brasil. Na parte superior da imagem, situa-se Alvear. (Fonte: http://argentina.postecode.com/ciudad.php?provincia=Corrientes&ciudad=Alvear) 10 Itaqui separa-se da cidade de Alvear, na Argentina, apenas pelo Rio, como exibido na imagem. FREGUESIA SÃO PATRÍCIO DE ITAQUI Portanto, nesse contexto é que muitos povoadores da região ocuparam as áreas do município de São Patrício de Itaqui, enquanto que, de outro lado, muitos argentinos – em destaque, os correntinos, oriundos da cidade de Corrientes e/ou Província de Corrientes – atravessaram a fronteira em busca também de novas terras e oportunidades. O número de pessoas vindas da Província de Corrientes para Itaqui e São Borja foi bem considerável, como se verifica dos registros eclesiásticos e nos nomes típicos. Em 1856, o pároco de Itaqui João Coriolano de Sousa Passos chegou a ser suspenso “devido a denúncias que devem ter girado em torno de batismos de estrangeiros, isto é, de argentinos”.8 Justamente nesse cenário, com toda a bagagem histórica, cultural, social e econômica, a família Dobal fixou-se. Portanto, na região de Itaqui, provavlemente com o propósito de ascender economicamente, aproveitaram-se da terra farta e das oportunidades latentes. A Lei Provincial de 1837 criou a paróquia de Itaqui, mas foi apenas em 1848 que se obteve a aprovação canônica, com a nomeação do primeiro vigário. Conforme nos informa Rubert (1998) : “A 6/1/1849 esteve em Itaqui em visita canônica o Pe. Fidêncio José Ortiz da Silva, que achou a povoação insignificante, com um pequeno templo feito com esmolas dos fiéis, carente de alfaias. A população da freguesia era de 2.500 almas.” No que tange à documentação que restou, os registros – infelizmente – não acompanham a antiguidade da criação da freguesia, pois os primeiros assentos de batismos datam de 1859, os de matrimônio, 1866 e os de óbito, 1877! A informação recebida pela Sra. Leonir, responsável pela gestão do acervo da Diocese de Uruguaiana (na qual Itaqui se circunscreve) foi a de que “se tem notícia que os registros teriam sido anotados em pedaços de papéis e recolhidos em pastas; porém, houve um padre que se desfez das pastas por conterem papéis velhos”. À mercê da falta de zelo, informação e consciência convive nossa memória social. 8 RUBERT, Arlindo. História da Igreja no Rio Grande do Sul: época imperial (1822-1889). Vol. II. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 109. Na legislação canônica da época, era necessário obter-se licença especial para batizar quem não residia em sua freguesia, especialmente, tratando-se de região de fronteira, que envolvia gente de outra nação. 11 Casou-se Manoel Dobal, em meados de 1845, com Maria Bibiana Fontella em Itaqui, onde nasceram os filhos do casal e, em princípio, foram ali batizados. Embora tenhamos procurado insistentemente nos registros eclesiásticos de São Borja, freguesia responsável pelo território de Itaqui na época, não encontramos o registro do casamento e nem os respectivos assentos de batismos. Do mesmo modo, buscamos na paróquia de Itaqui, apesar dos problemas de guarda dos registros (ver quadro sobre a Freguesia São Patrício de Itaqui na página anterior). Lista dos herdeiros, irmãos de Maria Manoela Dobal: Manoel Dobal; Pedro Dobal; José Maria Dobal; Maria Dobal; Micaela Dobal, já falecida e representada por seus sete filhos; e Eleutéria Dobal, também falecida e representada por três filhos. Note-se que em vez de “Eleutéria” consta “Eleuterio”, porém, é certo ser uma mulher, pois os filhos são “Siqueira”: Eleutéria Dobal fora casada com Manoel dos Santos de Siqueira. 12 Diante dessa realidade, a alternativa foi expandir as buscas na região, tendo em vista o sobrenome Dobal e sondando documentos que nos levasse ao nosso nome: Manoel Dobal. Assim, partimos em direção a outras tipologias documentais e o caminho novamente se abriu, quando encontramos o processo de inventário de Maria Manoela Dobal9, autuado em 1879 em Itaqui, tendo como inventariante Manoel Dobal. A riqueza desse processo advém do fato dela ter falecido sem filhos, deixando os bens para os irmãos: Manoel, Pedro, José Maria, Maria, Micaela e Eleutéria. Agora, conhecíamos os irmãos de Manoel Dobal, favorecendo-nos na montagem de seu núcleo familiar, suas relações e as prováveis “teias sociais”, onde se inseria. Nesse leque de novas possibilidades, a grande novidade, sem dúvida, foi descobrir que Manoel Dobal era filho de Pedro Francisco Dobal (que também apareceu como Pedro Dobal) e de Maria Manoela de Candia. Esse casal patriarca era oriundo da Província de Corrientes, Argentina, tendo vindo para o Brasil e estabelecendo-se na região de Itaqui no início do século XIX, pelos motivos que mencionamos, devido ao momento histórico. É muito provável que Pedro Dobal e Maria Manoela não tenham sido casados, pois somente conseguimos localizar o assento de batismo da filha Damásia, em 1816 em São Borja, tida como filha natural de Maria Manoela Candia, natural de Corrientes, e filha de José Candia e Margarida de Pojo, também correntinos. Localizamos, ainda, o filho Pedro, em 1831, filho de Manoela Candia, viúva. 9 ARUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (APERS). Inventário Postmortem de Maria Manoela Dobal, Itaqui, n.º 17, ano 1879. 13 Registro de batismo de Damásia. Abaixo, a transcrição paleográfica do registro, conforme as Normas Técnicas para Transcrição de Manuscritos, dentre as quais não se alteram a grafia e a apresentação do documento. Do mesmo modo, na abreviatura desdobrada – palavra “Vigario” – as letras acrescentadas foram sublinhadas; sublinhada também foi a assinatura que consta. Aos vinte e quatro dias do mes de Agosto do anno de mil oitoSentos e desasete Baptizou Damazia se Damazia filha natural de Maria Manoela Candia e de Paj incognito e natural da Ci branca dade de Correntes e neta materna de Joze Candia e de Margarida do Pojo naturaes de Correntes e forão Padrinhos Tenente Joze de Oliveira e Damazia Luiza e para Constar fis este termo que asignei O Vigario Antonio Coelho Leal – 14 Registro de batismo de Pedro. Abaixo, a transcrição paleográfica. Aos des de Abril de mil oitocentos e trinta Pedro e hum nesta Matriz de São Borja baptizou branco o innocente Pedro filho de Manoela Candia viuva de idade nasceo a tres de Fevereiro deste forão padrinhos Ma noel dos Santos de Siqueira e sua mulher Ele uteria Dobal todos desta de que fis este assen to que assignei o Paroco Antonio Pompeo Pais 15 A partir do cruzamento de informações dos livros da Igreja Católica (Itaqui e São Borja) com os documentos judiciais, chegamos aos seguintes filhos do casal-patriarca: Pedro Francisco Dobal (também Dubal, Doval, Dobal, Do Ball, Do Bal, Do Valle) ou somente Pedro Dobal viveu com Maria Manoela Candia, tendo ela nascido em Corrientes, Argentina, por volta de 1790/1800. Estabeleceram-se em Itaqui e de sua união encontramos nove filhos10: I. Manoel Dobal nascido cerca de 1816 em Itaqui, onde faleceu a 25 de junho de 1886. Ali se casou com Maria Bibiana Fontella. II. Damásia Dobal batizada11 a 24 de agosto de 1817 em São Borja, dada como filha natural de Maria Manoela Candia. Ao que parece, faleceu ainda criança, por seu nome não constar no inventário da irmã Maria Manoela e nada mais ser localizado a seu respeito. III. Micaela Maurícia Dobal (também Micaela do Valle ou Duvale), nascida por volta de 1818 em Itaqui e já falecida em 1870, quando o marido foi inventariado pela segunda esposa dele. Casou-se com José Cornélio Valençuela, nascido em Corrientes, Argentina. Este casal foi dado como “índio” no batismo da filha Maria (1836)12. IV. Maria Bárbara Dobal possivelmente nascida em Itaqui e batizada em São Borja, onde em 1859 foi madrinha de batismo do sobrinho Manoel Dobal. A 25 de julho de 1844, em São Borja, casou-se13 com Manoel Andres Cormel, natural de Corrientes, Argentina, viúvo de Gregória Chaves. 10 Na parte seguinte (B) do presente Relatório, apresentamos mais esmiuçadamente os dados genealógicos da família. 11 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 3, fls. [rasurada]. 12 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 4, fls. 124. 13 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. III (1820-1845), fls. 22. 16 V. Cláudio Dobal14 (também Cláudio Marques do Valle ou Cláudio Martins) nasceu em São Borja, onde se casou em primeiras núpcias15 a 12 de março de 1842 com Carolina Maria Soares, filha natural de Helena Maria Jardim. Casou-se em segundas núpcias16 a 07 de agosto de 1854 em São Borja com Maria Felicidade do Nascimento, filha de Joaquim Maria do Nascimento e Hilária Fernandes. VI. José Maria Dobal (também José do Ball) que casou em Itaqui com Justa Rufina Gonçalves. VII. Maria Manoela Dobal nascida em 1828 em Itaqui, onde faleceu17 a 28 de julho de 1878. Maria Manoela casou-se a primeira vez com Victorino Amarillo e a segunda, com Estanislau Rios, o qual, no inventário da esposa, encontrava-se foragido pela morte de Benedito Belmonte. VIII. Pedro Braz Dobal (também Pedro do Valle), talvez residente na estância das Laranjeiras em Itaqui, mas dito como nascido em São Borja, onde se casou18 a 09 de junho de 1854 com Margarida José Pinto, filha de Romualdo José Pinto. IX. Eleutéria Dobal já falecida em 1878, sendo representada por três filhos no inventário da irmã, Maria Manoela Dobal. Com a nominata dos irmãos de Manoel, assim como a descoberta de que ele casara com uma Fontella, conseguimos ampliar as pesquisas e tentar remontar a vida dos Dobal. 14 Ainda que seu nome ou de descendentes não tenha constado no inventário da irmã Maria Manoela, Cláudio era outro filho de Pedro Dobal e Maria Manoela, conforme a filiação declarada em seu casamento. A sua ausência como herdeiro da irmã sugere que algumas questões familiares dificilmente serão desvendadas com “registros oficiais”, tais como os desafetos... 15 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. III (1820-1845), fls. 83. Neste registro o nome de Cláudio Dobal consta como Cláudio Martins, enquanto seus pais Pedro Martins do Valle e Maria Manuela Candia. 16 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 3 (1847-1855), fls. 84v. 17 ADU. Registro de Óbitos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 6. 18 ADU. Registros de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 3 (1847-1855), fls. 84. 17 Ao longo dos seus setenta anos, Manoel Dobal viveu em Itaqui, pelo que pudemos constatar. Ao coletar informações que nos possibilitassem conhecer esse nosso personagem principal, começamos pelo documento que encerrou sua existência física: o óbito. Meses após o falecimento, sua esposa – D. Maria Bibiana Dobal – deu entrada ao inventário dos bens de seu casal, autuado em 12 de março de 1887.19 Assinatura de Maria Bibiana Dobal, como inventariante do marido. Praticamente um terço de seu patrimônio foi usado para pagar dívidas a dois credores, Benito Pianta (que alugou os carros que conduziram o corpo ao Cemitério Municipal – o fúnebre e de acompanhamento) e Paulo Ruffoni, comerciante, que vendia suprimentos de gêneros ao falecido. A dívida com Ruffoni era maior, 470$930 réis, tendo sido justificada judicialmente. Na justificativa, o credor apresentou duas testemunhas que disseram ser Manoel Dobal “freguez e tomava o necessario para o gasto de sua casa, da casa de negocio do justificante [Ruffoni], tanto que usavão de huma caderneta”. Infelizmente, os itens da caderneta não foram anexados ou trasladados, sendo apenas mostrada às testemunhas, o francês Pedro Bindé e o italiano Benito Pianta, que confirmaram a origem e conteúdo. 19 APERS. Inventário Post-mortem de Manoel Dobal. Itaqui, n. 398, 1887. 18 No que diz respeito aos bens e respectivas avaliações, elencaram-se: MÓVEIS 1 mesa regular 1 cadeira de balanço 4 cadeiras de pau 3 baús usados 1 lâmpada de querosene 1 par de arreios velhos, completos, com estribos de prata e um relho 1 par de esporas de prata 1 faca com cabo e bainha de prata 1 cabide de madeira 1 armário 1 cama de casal 1 cama pequena 1 carretinha para meia carga 1 lavatório velho e ordinário 2 castiçais de metal 1 dúzia de pratos de louça ordinária 2 pratos travessos de louça ordinária 2 chaleiras de ferro AVALIAÇÃO 6$000 4$000 4$000 6$000 2$000 60$000 30$000 20$000 $600 10$000 20$000 8$000 30$000 $000 $800 1$600 1$000 2$000 SEMOVENTES 50 reses de criar 50$000 IMÓVEL Uma casa de meia-água com todas as dependências e benfeitorias, com 40 palmos de frente e 30 palmos de fundos, terreno que se divide a Oeste com Ana da Lapa, ao Sul, com terrenos de Paulo Ruffoni e Vitorino Camargo, a Leste, com o Beco de São Patrício20 e pelo Norte, com terrenos de Dona Antônia Lopes Loureiro 800$000 A única dívida em que Manoel Dobal era credor, a quitação pelo devedor Balbino Marques da Silva, seu genro, deu-se por um acordo entre todos: 20 Atualmente, o Beco de São Patrício denomina-se Travessa Antônia Loureiro, antiga residente do local, como bem vemos nas confrontações. 19 Balbino devia o valor de 200$000 réis provenientes “de uns touros”. No entanto, Balbino tivera gastos com seu sogro através de: medicamentos (130$100 réis); caixão, coveiro, direitos pagos à Câmara e por um par de botinas para o falecido (124$000 réis); catacumba (100$000 réis). Apesar da soma ser de 354$100 réis, ou seja, do sogro dever-lhe mais do ele lhe devia, Balbino Marques da Silva levou em conta apenas os 200$000 réis, tendo ambas as partes se desobrigado de qualquer pagamento mútuo. Finalmente, a inventariante também declarou que Manoel Dobal possuía uma apólice da dívida da República do Paraguai, sendo que, a Manoel, caberia a metade do que se liquidasse, e que estava em poder do Dr. Itaqui. Enfim, com um montante total de bens do inventário no valor de 1:508$000 réis, 520$930 réis foram usados para pagar as dívidas e 87$070 réis, as custas; sobraram 900$000 réis, que foram repartidos entre a mulher e os filhos, ou seja, D. Maria Bibiana recebeu 450$000 réis e cada filho herdeiro, 50$000 réis de legítima paterna. A partir dos dados expostos, analisando de perto os bens, é possível dizer que não se tratava de uma família abastada, assim como tampouco poderia ser considerada paupérrima, pois, apesar dos poucos bens móveis, possuíam uma meia-água na Vila de Itaqui e criavam 50 reses. Nesse sentido, ao assinar o termo de tutela de seus netos – filhos do Coronel Antônio Fernandes Lima – em 1878, Manoel Dobal se declarou como criador e proprietário, o que demandaria uma boa propriedade e certo número de animais.21 21 APERS. Inventário Post-mortem de Antônio Fernandes Lima. Itaqui, n. 234, 1875. 20 Em 26 de janeiro de 1878, Manoel Dobal, domiciliado no primeiro distrito da Vila de Itaqui, de profissão criador, se responsabilizou pela administração da legítima paterna dos netos, domiciliados no mesmo distrito. 21 Dentre os registros lavrados no Tabelionato de Itaqui descobrimos que se realizou uma transação22 na casa de Manoel: “no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e setenta e dois, aos vinte e trez dias do mez de Julho do dito anno nesta Villa de Itaqui e casas da residencia do Dr. Digo Outorgante Manoel Doubal”. Ou seja, Manoel e esposa residiam na própria cidade de Itaqui (e não em um de seus distritos), tendo vendido ao contraparente Silvestre da Silva Gularte, pelo preço de 450$000 réis, e tendo como testemunhas Paulo Ruffoni e Gregorio Dobal: “uma chácara cita nos suburbios desta Villa, na rua da lagoa, edificada em terrenos que divide pelo Leste com a referida rua da lagoa, pelo Oeste com a ruá, digo com terrenos de Lemente Elisalde, pelo Sul com terrenos de Martins Malmaceda, e pelo Norte com terrenos de Jacinto Ferrer; com um pequeno rancho em mau estado, e alguns pés de arvores frutaes”. Já, em 21 de setembro de 1875, na vila de Itaqui, Manoel do Bal e sua mulher Dona Maria Bibiana Dobal, venderam à Dona Generosa de Camargo Nunes, criadora, uma parte de campo cita no 1º distrito, próximo à vila, recebida por herança de sua finada sogra e mãe Maria da Trindade Fontella, “a qual parte de campo bem como o estabelecimento que ali possuem e mais bemfeitorias, fazem venda à compradora”, pelo valor de 1:000$000 (um conto de réis)23. Observar de perto as ações de um mesmo indivíduo é fato interessante que, ao mesmo tempo, passa a gerar diversos questionamentos. Como não podemos responder a tudo, selecionamos, ainda, alguns outros fatos que envolveram diretamente a figura de Manoel Dobal: 22 APERS. Transmissões e Notas do Tabelionato de Itaqui, 1º distrito, Lv. 4, fls. 51v-53. APERS. Transmissões e Notas do Tabelionato de Itaqui, 1º distrito, Lv. 4, fls. 186v-187v. Essa escritura foi particularmente importante para descobrirmos a origem de sua esposa Maria Bibiana. 23 22 1862 (15 de junho) – Manoel e esposa foram padrinhos da neta Adriana, filha de Maria Eulália Dobal e Antônio Fernandes Lima. Nesse mesmo dia, apadrinharam também o menino Joaquim, filho natural de Joaquim Cardoso e Madalena Cardoso.24 1863 (08 de março) – foi autuado em Itaqui o inventário dos sogros de Manoel, Bento Eugênio e Maria da Trindade, para o qual, Manoel e Maria Bibiana passaram procuração ao cunhado e irmão Felipe Plácido de Castro. 1872 (23 de julho) – Manoel e Maria Bibiana venderam a chácara nos subúrbios de Itaqui. 1873 (12 de março) – faleceu a filha Gaudência, casada com Ireno José Fontella. 1875 (27 de setembro) – Manoel e Maria Bibiana venderam o imóvel herdado da sogra e mãe. 1878 (26 de janeiro) – Manoel assinou termo de tutor dos netos, filhos do Coronel Antônio Fernandes de Lima com Maria Eulália Dobal. 1878 (28 de julho) – faleceu a irmã de Manoel, Maria Manoela Dobal. 1879 (07 de maio) – Manoel iniciou o processo de inventário de Maria Manoela Dobal, devido à ausência do marido dela. 1879 (02 de dezembro) – faleceu o filho Gregório Dobal. (1881, março) – já era falecida a filha Manoela Bibiana Dobal. 1882 (05 de fevereiro) – o filho Ramão Bruno Dobal foi acusado de assassinar o peão Atanásio, tendo sido absolvido por alegação de legítima defesa, em 27 de maio. (1881-1886) – a filha Maria Eulália faleceu nesse intervalo, antes de seu pai. Qual teria sido o impacto da perda de quatro de seus filhos? E no caso da acusação de Honório? Teria sido “natural” e “comum”, como costumamos dizer em relação ao passado? 24 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 108v 23 Os Dobal, como as pesquisas indicam, representam uma típica família missioneira, formada de um lado pelo pessoal de Província argentina e, de outro, pelos então luso-brasileiros que foram povoar as Missões, acabando por se relacionarem no tempo, no espaço e, como não poderia ser diferente, tornando-se uma só família. Os casamentos dos filhos de Manoel Dobal, como veremos na genealogia (item B deste relatório), representam exatamente a integração dos argentinos com as principais famílias de origem lusa colonizadoras da região, dentre eles: os Fernandes Lima; os Pinto; Marques da Silva e outros. 24 B – Família Dobal: a genealogia No presente item, apresentamos a descendência de Pedro Dobal e Maria Manoela Candia, sendo que demos especial atenção ao ramo de Manoel. Pedro Francisco Dobal ou somente Pedro Dobal viveu com Maria Manoela Candia, tendo ela nascido em Corrientes, Argentina, em meados de 1790/1800, e estabelecendo-se em Itaqui. Deste casamento encontramos nove filhos: I – Manoel Dobal II – Damásia Dobal III – Micaela Maurícia Dobal IV – Maria Bárbara Dobal V – Cláudio Dobal VI – José Maria Dobal VII – Maria Manoela Dobal VIII – Pedro Braz Dobal IX – Eleutéria Dobal 25 I MANOEL DOBAL Manoel Dobal nasceu por volta de 1816 em Itaqui, onde faleceu25 a 25 de junho de 1886. Ali se casou com Maria Bibiana Fontella, também nascida em Itaqui em 1829 e filha natural de Maria da Trindade Fontella. Registro de óbito de Manoel Dobal, falecido na idade de 70 anos, deixando esposa e os filhos (vivos): Maria Eulália Marques e Crescência Dobal dos Santos, casadas; Severo, Ramão, José e Honório. O sacerdote que registra não cita, mas sabemos que foi sepultado no Cemitério Municipal. Encontramos 10 filhos do casal: 25 ADU. Registro de Óbitos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 70. 26 1) Maria Eulália Dobal, nascida em 1845, Itaqui, onde em 1887 já era falecida. Casou em primeiras núpcias com o Coronel Antônio Fernandes Lima, batizado26 a 07 de junho de 1804 em Santa Maria/RS e falecido27 a 17 de agosto de 1875, em Itaqui; filho de Francisco Fernandes Lima e Isabel Francisca do Amor Divino. Assinatura de Maria Eulaulia Lina, como inventariante de seu primeiro marido. Maria Eulália casou em segundas núpcias28 aos 16 de junho de 1877 em Itaqui com Balbino Marques da Silva, natural de Bagé e também já viúvo de Elísia Alves dos Santos; filho de Cândido Marques da Silva e Ismélia Marques de Oliveira. Houve 7 filhos do 1º casamento de Maria Eulália: Adriana, Maria da Glória, Maria Isabel, Maria da Conceição, Pedro e Maria Estefânia Fernandes Lima. Do 2º casamento, nasceram: Ananísio, Evaristo e Lydio Marques, que seguem: 26 ARQUIVO DA DIOCESE DE CACHOEIRA DO SUL. Registro de Batismos da Igreja Na. Sra. da Conceição, Cachoeira do Sul, Lv. 2, fls. 114. 27 APERS. Inventário post-mortem de Antônio Fernandes Lima. Itaqui, n.º 234, 1875. Antônio Fernandes Lima foi próspero criador no município de Itaqui, deixando, ao falecer, considerável patrimônio avaliado em 232:283$070 réis, dentre eles: 16 escravos; 35 bois mansos; 9.000 reses de criar; 1.518 animais cavalares; 70 burros, oito mulas mansas; um campo denominado Lagoa, contendo duas léguas e 3/4 de campos mais ou menos, no 1º Distrito de Itaqui; uma casa de sobrado ou mirante com cozinha; galpão, com uma peça para hóspede, tudo coberto de telha e material; três mangueiras de pedra, cercado e potreiro de pedra e mais uma coxilha com um rancho de palha e uma mangueira de pedra no mesmo campo; um campo denominado Bom Retiro na margem direito do Ibicuí comprado de Elesbão Machado de Souza com 2,5 léguas de campo; um estabelecimento com benfeitorias, casa de material de telha, dois galpões de telha; um pequeno estabelecimento denominado Conceição, nos campos da Fazenda de São Miguel, com 32 quadras de campo, casa de palha com paredes de tijolos; uma casa de material na vila de Itaqui e mais um terreno, além de outros bens. 28 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 73v. 27 Registro de casamento de Maia Eulália Dobal e Balbino Marques 28 1-1 Adriana Fernandes Lima nasceu29 em primeiro de março de 1862 (batizada em 15/06/1862) em Itaqui, onde faleceu antes de seu pai, por não constar no inventário paterno. 1-2 Maria da Glória Fernandes Lima nasceu30 aos 15 de agosto de 1863 (batizada em 02/12/1863) em Itaqui. Casou-se em primeiras núpcias com José Ventura Hipólito e, em segundas31, aos 20 de janeiro de 1878 em Itaqui, com seu primo Narciso Fernandes Lima, ali nascido e filho do tenente-coronel Belisário Fernandes Lima e Marfisa Cândida Jardim. Desse casamento, nasceram 9 filhos. 1-3 Maria Isabel Fernandes Lima nasceu32 aos 07 de abril de 1865 (batizada em 27/11/1867) em Itaqui, onde faleceu33 a 31 de outubro de 1888. Ali se casou34 a 19 de junho de 1880 com o capitão Rodolpho José Lacroix, também nascido em Itaqui, em 1859, e falecido em 1902, filho do francês Marcelino Domingos Lacroix e Maria Cândida Barbosa. Nasceram 4 filhos deste casamento. 1-4 Maria da Conceição Fernandes Lima nasceu35 aos 06 de julho de 1866 (batizada em 07/10/1867) em Itaqui, onde se casou a 27 de agosto de 1885 com Manuel de Oliveira Bica, natural de Alegrete e filho do Capitão Manoel Ferreira Bicca e Maria Joaquina de Oliveira. 1-5 Pedro Fernandes Lima nasceu36 aos 15 de fevereiro de 1872 (batizado em 15/09/1872) em Itaqui. Em 1874, foi solicitada uma justificação de batismo, pois o registro de Pedro não fora localizado. Entretanto, a passar todos os registros, percebemos que, na realizada, o registro havia sido registrado, mas sob o 29 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 108. ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 181v. 31 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 79v. 32 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls. 48v. 33 APERS. Inventário Post-mortem de Maria Isabel Fernandes Lima, Itaqui, n. 413, 1888. 34 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 108. 35 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls. 44. 36 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls. 159v. O registro do batismo justificado consta no Lv. 3, fls. 39v. 30 29 nome de “Antônio” em vez de Pedro. Isso se confirma pela mesma filiação e os mesmos padrinhos. 1-6 Maria Estefânia Fernandes Lima nasceu37 aos 07 de janeiro de 1874 (batizada aos 31/07/1874) em Itaqui, onde se casou a 28 de junho de 1888 com o seu primo, o Capitão Firmino Fernandes Lima, ali nascido e filho do Tenente-Coronel Belisário Fernandes Lima e Marfisa Cândida Jardim. Tiveram 4 filhos. 1-7 Ananísio Marques da Silva, nascido em Itaqui. 1-8 Evaristo Marques da Silva, nascido em Itaqui. 1-9 Lydio Marques da Silva, nascido em Itaqui. 2) Manoela Bibiana Dobal nasceu em Itaqui, onde em 1881 já era falecida. Ali se casou38 aos 08 de fevereiro de 1866 com o Capitão Francisco Duarte da Costa Vidal, natural de Lisboa, Portugal, e faleceu39 aos 28 de março de 1881 em Itaqui, filho de Antônio Duarte da Costa Vidal e Baziliza Inácia de Jesus. Deixaram dois filhos: 2-1 Antônio Vidal, Tenente, nasceu40 aos 14 de outubro de 1867 (batizado aos 27/11/1867) em Itaqui. Morador em Uruguaiana. 2-2 Manuel Vidal, Alferes, nasceu em Itaqui. Morador em Uruguaiana. 37 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 3, fls. 28. ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 2. O mesmo registro encontra-se também no Lv. 4 de Casamentos de São Borja, fls. 89. 39 ADU. Registro de Óbitos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 23. 40 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls. 48v. 38 30 Registro de casamento de Manoela Bibiana e Francisco, sendo ele Comandante do Vapor Taquari em operações no Alto Uruguai e já viúvo de D. Alexandrina Batista Vidal. As ilustres testemunhas foram o Comendador da Ordem da Rosa Capitão de Fragata Vitório José Barbosa da Lomba e o Dr. Cavaleiro da Ordem da Rosa Pamphilo Manoel Freire de Carvalho. 31 3) Ramão Bruno Dobal nasceu em 1857, em Itaqui, e faleceu41 aos 07 de junho de 1896 em São Borja, cujo inventário foi autuado em São Borja. Assinatura de Ramão Bruno do Bal Casou-se42 a 11 de janeiro de 1886 em Itaqui com Carlota Aquino, nascida em 1856, Itaqui, filha de Elias Galvão de Aquino e Maurícia Marmor. Ramão não deixou filhos, sendo seus herdeiros os irmãos e sobrinhos. Registro de casamento de Ramão Bruno e Carlota. Note-se que uma das testemunhas do casamento foi Rodolfo José Lacroix, marido da sobrinha de Ramão, Maria Isabel Fernandes Lima. 41 42 APERS. Inventário Port-mortem de Ramão Bruno Dobal, São Borja, n. 1311, 1898. ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls. 23v. 32 Em 05 de fevereiro de 1882, Ramão Bruno Dobal matou o capataz Atanásio Chavaré no lugar denominado porto da Conceição, de propriedade de Balbino Marques da Silva.43 Ao ser denunciado, e após a conclusão do inquérito, em 06 de maio foi preso. No seu depoimento, Ramão Bruno, residente na Estância Bom Retiro (1º distrito de Itaqui e também de propriedade de Balbino), disse que, na hora do crime, encontrava-se na chácara do cunhado Balbino Marques e contou que: “achando-se trabalhando na chacara se seu cunhado Balbino, onde tinha plantações, em um domingo, dia 5 de fevereiro deste anno, sahiu elle interrogado para ir a estancia do mesmo seu cunhado, que fica a uma legôa mais ou menos da chacara; que em caminho encontrou uma ordenança do Delegado de Policia, com um bilhete para elle interrogado, pedindo que lhe mandara uns pecegos, pello que voltou com a mesma ordenança para a chacara.” A “ordenança” era trazida pelo Cabo Luís Hilário que, junto com Ramão, dirigiu-se à chácara. Lá chegando, o peão Atanásio encontrava-se “de faca em punho, devendo-se necessariamente ter tenções de charquear porque vio carne de uma rez dependurada”. Ao dizer o que vinha fazer, Ramão deparou-se com o peão negando que fossem retirados pêssegos, pois o patrão – Balbino Marques – não autorizara. Ramão explicou-se e disse que conversaria com o cunhado. Porém, o peão continuava negando e, conforme contaram as testemunhas, Atanásio, que estava charqueando, avançou com a faca contra Ramão que, em defesa, pegou a “pequena espada que costumava roçar caruru” e lhe deu na cabeça. Atanásio conseguiu retirar a espada de Ramão, que sacou o revólver e atirou. Em fuga, Atanásio correu em direção à sua casa, mas caiu em seguida, morto. 43 APERS. Processo Crime de Ramão Bruno Dobal, Itaqui, n. 2429, 1882. 33 Prova da defesa: o “inocente” bilhete. Abaixo, a transcrição paleográfica. Tuparahy 5 de Fevereiro de 1882. Amigo e Sr. Ramão Dobal. A Merçês, espera que o Sr. Tenha a bondade de mandar-lhe peçegos que cheguem para fazer marmelada; e se tivêr mais algumasfrutinhas!, que tambem não se esqueça da sua Madrinha!!!... Aceite nossas saudades, e mande Ao amigo Obrigado e Criado Israel Passos Mande dizêr ao Chametico, que venha a ntes, para tirar a madeira, e fazer-me o galpão No final do seu depoimento, Ramão diz que apenas se defendeu e que “achou vexame negar pecegos a pessoa de intimidade de Israel Passos”. Em 27 de maio de 1882 foi absolvido, por ter sido legítima defesa. 34 4) Severo Leonardo Dobal, nascido em Itaqui, onde em 1896 era residente. 5) Crescência Dobal nasceu em 1859 em Itaqui, onde se casou44 a 04 de julho de 1879 com o Capitão Rufino Rodrigues dos Santos, nascido em 1823 em Taquari e falecido 1888 em São Borja, filho do Capitão Manuel Joaquim dos Santos e Mariana Joaquina do Nascimento. Registro de casamento de Crescência e Rufino. 6) José Rodarte Dobal, nascido em Itaqui, residia no mesmo local em 1896. Assinatura de José Rodarte Dubal. 44 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 95. 35 7) Honório Dobal nasceu em 1872 em Itaqui, e residente em São Borja desde 1895, aproximadamente. Honório, em 1897, respondeu a um processo criminal por tentativa de homicídio, quando contava 25 anos, e tinha por profissão ser tropeiro ou também criador, conforme ele próprio declarou.45 Assinatura de Honorio Dubal. O fato ocorreu às 21 horas do dia 21 de maio no Hotel de Mendonça e Cia. em São Borja, situado na esquina da Praça XV de Novembro, onde se achavam vários cidadãos. Na ocasião, Honório foi preso em flagrante por ter disparado um tiro de pistola em Manoel Wenceslau Lobato que foi ferido no lado direito, nas costas. A origem de tudo se deu, conforme as palavras do acusado: “tendo uma cazinha de negocio em Itaquy, no tempo da revolução vendeo a diversos e entre estes ao Capitão Lobato, a quem não conhicia muito de perto, mais tão somente como companheiro e official das forças commandadas pelo General Lima; que Lobato não saldando a conta e passado mais ou menos um anno procurou cobrar e para esse fim derigiu-se a caza onde se achava Lobato que opoisse ao pagamento e ainda ameaçando com armas, das quaes entretanto não chegou a fazer uzo devido [...]; que cerca de trez annos depois achando-se ja aqui no municipio de São Borja mandou um bilhete a Lobato pedindo-lhe em bons termos o pagamento da divida ao que Lobato mandou responder vocalmente que pagaria com bordoada; que passados alguns dias estando já aqui na Cidade em caza do negociante Manoel Bravo, conversando com varios amigos viu chegar o referido Lobato que collocou-se na passagem do Balcão que dá entrada para dentro da loja e que elle réo lembrando-se das ameaças feitas por Lobato [...] sentio-se coagido”. Finalmente, estando no Hotel, viu o Lobato com outro homem e, esperando que este saísse, Honório se aproximou e disse em voz baixa 45 APERS. Processo Crime de Honório Dobal, São Borja, n. 1588, 1897. 36 ao Lobato qual resposta lhe dava sobre o bilhete. Lobato respondeu que não falaria ali, pois tinha muita gente ao que Honório disse: “mas que resposta é esta que a prezença de outros lhe impede de dar”. Lobato, então, disse que a resposta era uma bordoada, o que o fez, dando-lhe com o relho duas vezes na cabeça. Honório cambaleou e caiu. Ao tentar se levantar, viu que Lobato puxava uma arma e Honório se viu obrigado a se defender, sacando sua pistola e dando-lhe um tiro. Em 13 de julho de 1898 foi solto, sendo absolvido da acusação. 8) Gregório Dobal, nascido em Itaqui e falecido aos 02 de dezembro de 1879 em São Borja, com inventário autuado em São Borja.46 Casou-se47 a 20 de abril de 1873 em São Borja, com sua prima em segundo grau Ana Maria Zorilha, nascida48 em 02 de março de 1855 São Borja, filha de João Ascêncio Zorilha e Paulina Antônia da Silva. Registro de casamento de Gregório e Ana Maria. Na ocasião, ele era Alferes e os nubentes foram dispensados do impedimento de consanguinidade no segundo grau na linha lateral. Fato incomum, o registro de quatro testemunhas: Capitão Rufino Rodrigues dos Santos, Manoel Doval, D. Constância Rodrigues dos Santos e Maria Bibiana Doval, ou seja, os pais do noivo e a irmã e cunhado também do noivo. 46 APERS. Inventário Post-mortem de Gregório Dobal, São Borja, n. 437, 1880. ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 5, fls. [corroída]. 48 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 10, fls. 47v. Ela era neta paterna de Agostinho Zorilha (ou Surrilha) e de Maria da Trindade Fontella (sendo esta avó materna de Gregório). 47 37 Em 1896, os filhos de Gregório o representaram na herança do irmão Ramão: Paulino, com 23 anos, Conceição, 22 anos e Trindade, 19 anos, todos solteiros. 9) Gaudência Dobal nasceu em São Borja ou Itaqui e faleceu a 12 de março de 1873 em São Borja, onde foi autuado seu inventário.49 Em 1896, foi representada pelos filhos no inventário do irmão Ramão. Casouse com seu primo Irenio José Fontella, nascido em 1837 em São Borja, filho de José da Luz Cunha e Genoveva Manoela Fontella. Pais de 7 filhos: 9-1 João Manoel Fontella nasceu aos 10 de dezembro de 1863, (batizada em 19/08/1864) em São Borja. 9-2 Francisca Fontella nasceu em 1866 em São Borja. 9-3 Astrogildo Fontella nasceu50 em 17 de novembro de 1867 (batizado em 13/02/1868) em Itaqui. 9 -4 Madalena Fontella nasceu em 22 de julho de 1869 (batizada em 20/08/1871) em São Borja. 9-5 Rosalino Fontella, nascido em 1870. 9-6 Felipe Fontella, nascido em 1871. 9-7 Maria Conceição Fontella, nascida por volta de 1872-1873. 10) Alexandrino Dobal nasceu51 aos 19 de setembro de 1866 (batizado em 10/11/1866) em Itaqui. Seus padrinhos de batismo foram o CapitãoTenente Francisco Duarte da Costa Vidal e sua mulher Manuela Bibiana. Alexandrino não consta no inventário paterno, a indicar tenha falecido ainda pequeno. 49 APERS. Inventário Post-mortem de Gaudência Dubal, São Borja, n. 369, 1876. ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls. 52. 51 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls.13v. 50 38 Registro de batismo de Alexandrino, tendo como padrinhos o cunhado e a irmã. 39 II DAMÁSIA DOBAL Damásia Dobal batizada52 a 24 de agosto de 1817 em São Borja, dada como filha natural de Maria Manoela Candia. Ao que parece faleceu ainda criança, por seu nome não constar no inventário da irmã Maria Manoela. 52 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 2, fls. [rasurada]. 40 III MICAELA MAURÍCIA DOBAL Micaela Maurícia Dobal (também Micaela do Valle ou Duvale) nasceu por volta de 1818 em Itaqui e já falecida no ano de 1860, quando representada pelos filhos no inventário da irmã Maria Manoela. Casou-se com José Cornélio Valençuela (ou Valençoela), nascido em Corrientes, Argentina. Este casal foi dado como “índio” no batismo da filha Maria (1836). Pais de: 1) Bonifácio Valençuela, em 1870 já era casado. 2) Maria Josefa Valençuela, batizada53 em 1836 em São Borja; em 1867 já estava casada com Lino José Pinto, com descendência em Itaqui. Registro de batismo de Maria, no qual diz ser “filha natural de Cornelio Basinçoela e de Micaella do Valle, Indios”. 3) Auta Josefa Valençuela, em 1867 já estava casada com Barnabé Dias, com descendência em Itaqui. 4) Emílio ou Emígdio José Valençuela foi batizado54 aos 21 de outubro 10 de 1845 em São Borja, com 7 meses de idade. 53 54 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 4, fls. 124. ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 9, fls. 42v. 41 5) Lourença Valençuela, nascida em 1847, em Itaqui, onde faleceu55 a 22 de novembro de 1879 em consequência de “uma mordedura de aranha e hemorrhagia”, aos 32 anos, casada com Manuel José da Trindade Pinto, deixando os filhos: João, 12 anos; Antônio e Francisca, 8 anos; Maria, 6 anos; Geraldo, 2 anos e Xisto, de 4 meses de idade. 6) Felisberto José Valençuela foi batizado56 aos 09 de junho de 1851, com um ano de idade em São Borja, embora nascido em Corrientes, Argentina. Casou-se a 25 de fevereiro de 1876 em São Francisco de Assis com Dionísia Antônia Rodrigues, nascida em 1856 em Passo Fundo/RS, filha natural de Juvêncio Antônio Rodrigues e Clara Paes. 7) João Guilherme Valençuela (Valenzuela) nasceu aos 23 de outubro de 1851 em Itaqui e foi batizado57 aos 26 de dezembro do mesmo ano em São Borja. Casou-se58 a 29 de dezembro de 1873 em Itaqui com Ana Maria de Aquino, nascida em Itaqui, filha de Elias Galvão de Aquino e Maurícia Pinto. 8) Margarida Josefa Valençuela, em 1870 já era casada com Ezequiel Pucheta. 55 ADU. Registro de Óbitos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 15. ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 9, fls. 9v. 57 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 9, fls. 33v. 58 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 25v. 56 42 IV MARIA BÁRBARA DOBAL Maria Bárbara Dobal possivelmente nascida em Itaqui e batizada em São Borja, onde em 1859 foi madrinha de batismo do sobrinho Manoel Dobal, filho de seu irmão José Maria Dobal. A 25 de julho de 1844, em São Borja, casouse59 com Manoel Andres Cormel, natural de Corrientes, Argentina, viúvo de Gregória Chaves. Registro de casamento de Maria Bárbara e Manoel Andres. Uma das testemunhas, Victorino Amarillo, era cunhado de Maria Bárbara, casado com sua irmã Maria Manoela. 59 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. III (1820-1845), fls. 22. 43 V CLÁUDIO DOBAL Cláudio Dobal60 (também Cláudio Marques do Valle ou Cláudio Martins) nasceu em São Borja, onde se casou em primeiras núpcias61 a 12 de março de 1842 com Carolina Maria Soares (ou Carolina Maria de Jesus), filha natural de Helena Maria Jardim. Casou-se em segundas núpcias62 aos 07 de agosto de 1854 em São Borja com Maria Felicidade do Nascimento, filha de Joaquim Maria do Nascimento e Hilária Fernandes. Registro do primeiro casamento de Cláudio, com Carolina. Neste registro o nome de Cláudio Dobal consta como Cláudio Martins, enquanto seus pais Pedro Martins do Valle e Maria Manoela Candia. 60 Ainda que seu nome ou de descendentes não tenha constado no inventário da irmã Maria Manoela, Cláudio era outro filho de Pedro Dobal e Maria Manoela, conforme a filiação declarada em seu casamento. 61 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. III (1820-1845), fls. 83. 62 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 3 (1847-1855), fls. 85. 44 Registro do segundo casamento de Cláudio, com Maria Felicidade. Encontramos o batismo de duas filhas de Cláudio, uma de cada casamento: Maria, nascida63 em 09 de maio de 1846 (batizada em 13/05/1846) em São Borja e Maria Dobal, teria nascido em Porto Alegre (casada64 em 01 de julho de 1878 em Itaqui, com Luís Maia). 63 64 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 1846-1850, fls. 38v. ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 81. 45 VI JOSÉ MARIA DOBAL José Maria Dobal (também José do Ball) casou em Itaqui com Justa Rufina Gonçalves, onde batizaram ao menos dois filhos: Manuel Dobal, nascido65 em 31 de outubro de 1859 (batizado em 21/12/1859) em Itaqui, e Manuel Do Ball nascido aos 08 de agosto de 1865 (batizado em 04/02/1867) em Itaqui66. 65 66 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 29v. ADU. Registro de Batismos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 2, fls. 25. 46 VII MARIA MANOELA DOBAL Maria Manoela Dobal nasceu em 1828 em Itaqui, onde faleceu67 a 28 de julho de 1878, “natural desta Parochia, de edade de cincoenta annos, casada com Ladisláo Rios em segundas núpcias, não tendo deixado prole alguma, e sepultou-se no cemitério da Matriz no dia vinte e nove do mesmo mez. Não recebeu sacramento algum, por não haverem-me exigido”. Foi a partir do inventário de Maria Manoela, falecida sem filhos de ambos os casamentos, que pudemos desvendar o parentesco da família Dobal. Maria Manoela casou-se a primeira vez com Victorino Amarillo (falecido68 em 21 de julho de 1867) e, a segunda com, Estanislau Rios, que, por ocasião do inventário da esposa, achava-se foragido pela morte de Benedito Belmonte. Registro de óbito de Maria Manoela. 67 68 ADU. Registro de Óbitos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 6. APERS. Inventário Post-mortem de Victorino Amarillo, Itaqui, n. 152, 1867. 47 VIII PEDRO BRAZ DOBAL Pedro Braz Dobal (também Pedro do Valle), talvez residente na estância das Laranjeiras em Itaqui, teria nascido em São Borja, onde se casou69 a 09 de junho de 1854 com Margarida Josefa Pinto, filha de Romualdo José Pinto e Romana Torres Belmude.70 Pedro já era falecido em 1898, quando seus filhos venderam a propriedade que herdaram do pai a Balbino Marques da Silva. Registro de casamento de Pedro e Margarida. 69 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 3 (1847-1855), fls. 84. No inventário, seu nome aparece como Margarida de Aguiar Pinto, tendo falecido aos 10 de julho de 1893. (APERS. Inventário Post-mortem de Margarida de Aguiar Pinto, Itaqui, n. 31, 1893) 70 48 Documento tirado do inventário do Coronel Antônio Fernandes Lima. Pedro Dobal solicita à sobrinha – viúva do Coronel – que entregue ao portador da cobrança a quantia devida pelo falecido em função de arranchamento. O portador, que recebeu a quantia, era Lino José Pinto. 49 IX ELEUTÉRIA DOBAL Eleutéria Dobal, já falecida em 1878, casou-se com Manoel dos Santos de Siqueira. Por ocasião do inventário de sua irmã Maria Manoela, foi representada por seus três filhos: Pedro Siqueira, João Paulo Siqueira e Dolores Siqueira (viúva). Além desses filhos, descobrimos Jerônimo, nascido em 20 de julho de 1831 (batizado em 07/09/1831) em São Borja, filho de Manoel dos Santos e Elauteria Doubala. Seus padrinhos foram: Boaventura Soares da Silva, solteiro, e Manoela Candia, viúva. Registro de batismo de Jerônimo, que teve como padrinhos: Boaventura Soares da Silva, solteiro, e Manoela Candia, viúva. 50 C – Origens da família Fontella A família Fontella relaciona-se com a família Dobal com o casamento de Manoel Dobal e D. Maria Bibiana Fontella. Embora não tenhamos encontrado o casamento do casal mencionado, em razão da ausência dos livros de matrimônio da Igreja Católica no período, foi possível descobrir a filiação de D. Maria Bibiana quando o seu casal vendeu terras havidas por herança de sua sogra e mãe D. Maria da Trindade Fontella (ver nota 24). No entanto, mesmo sabendo o nome da mãe de D. Maria Bibiana, não logramos encontrar o registro de seu batismo ou de seus irmãos em Itaqui ou em São Borja, apesar de tudo indicar que nasceram naquele município. Novamente nos valemos de fontes alternativas, encontrando no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS) o inventário de Bento Eugênio da Fontoura e sua mulher Maria da Trindade Fontella71. Nesse processo consta que D. Maria da Trindade Fontella faleceu aos 25 de setembro de 1862, “pouco depois da meia noite”, com 50 anos mais ou menos, enquanto Bento Eugênio da Fontoura, seu marido, no mesmo dia, “às 5h manhã”, em Itaqui72. Para fins de partilha, os herdeiros foram divididos em dois grupos, o primeiro relativamente aos filhos das uniões anteriores de D. Maria da Trindade e, o segundo, dos filhos em comum com Bento Eugênio. Os filhos constantes das primeiras uniões de D. Maria da Trindade são: 71 APERS. Inventário Post-mortem de Bento Eugênio da Trindade e Maria da Trindade Fontella, Itaqui, n. 118, 1863. 72 No processo não consta a causa mortis, nem conseguimos encontrar os registros de óbito de ambos, tanto em Itaqui, como em São Borja, os quais poderiam elucidar a questão. Mas estranhamos que o casal tenha falecido no mesmo dia, com poucas horas de diferença. 51 A) João Ascêncio Zorillha73, 40 anos, falecido em 1859, casado que foi com D. Paula Antônia. Representando os filhos na herança: Honorina, 10 anos, Ana Maria, 9 anos, Clara, 8 anos e Joana, com 7 anos de idade. B) D. Maria Bibiana do Valle, 34 anos, casada com Manoel do Valle (sic). C) Felipe Plácido de Castro, com 32 anos, casado com Feliciana Fontella. Filhos com Bento Eugênio: D) D. Maria Manoela Fontella, com 28 anos, casada com Casemiro Palde, ausente da Província do Rio Grande do Sul. E) D. Maria Josefa Fontella, com 28 anos, casada com Manoel Nunes da Silva, e F) Engrácio Eugênio da Fonseca, com 26 anos, solteiro, inventariante. A partir daí, descobrimos os cinco irmãos de D. Maria Bibiana: o primeiro deles, João Ascêncio Zorilha ou Surilha, nascido em 1823 em Itaqui, foi filho natural de D. Maria da Trindade Fontella com o paraguaio Agostinho Surrilha/Zurillha; tendo nascido, na sequência, Maria Bibiana em 1829, cujo pai não conseguimos identificar; enquanto Felipe Plácido de Castro foi batizado74 a 21 de junho de 1831, com 11 meses, em São Borja, dado como filho natural de D. Maria da Trindade. Os outros três filhos de D. Maria da Trindade foram tidos com Bento Eugênio da Fonseca: Maria Josefa Marcelina Fontella ou da Fonseca, nascida em 1835 em São Borja (depois casada com Victorino Antônio de Camargo); Maria Manoela da Fonseca, nascida em 1835 em São Borja (depois casada 73 Ele era filho de Agostinho Surrilha, paraguaio, solteiro, com 58 ou 59 anos quando de seu testamento (1851). No testamento ele reconheceu o filho João Ascêncio. (APERS. Inventário Post-mortem de Agostinho Surrilha, São Borja, n. 10, 1851). 74 Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 4, fls. 95v. 52 com Casemiro Palde) e Engrácio Eugênio da Fonseca, nascido em 1837 em São Borja. Mais uma vez, ainda que inexistentes os registros eclesiásticos da época, localizamos o casamento de um neto de D. Maria da Trindade, Manoel Rufino de Camargo, auxiliando-nos a prosseguir com a pesquisa. Manoel foi filho de Victorino Antônio de Camargo e Maria Josefa Marcelina Fontella e casou-se75 em 15 de julho de 1876 em Itaqui com Maria José Gularte, sendo dispensados pela consaguinidade “no terceiro gráo attingente ao segundo”. Esse parentesco foi outro indício que nos conduziu a buscar as origens comuns: Maria José Gularte foi filha de Feliciano da Silva Gularte e de Francisca da Luz Fontella, sendo, por sua vez, Francisca da Luz Fontella filha de D. Genoveva Manoela Fontella. D. Genoveva Manoela foi outra “matriarca” dos Fontella, pois gerou oito filhos naturais que seguiram com o mesmo sobrenome76: A) Francisca da Luz Fontella, nascida em 1826 em Itaqui, casou-se com Feliciano da Silva Gularte; B) Rita Fontella, nascida em 1827 em Itaqui, casou-se com Porfírio Soares de Oliveira; C) Maria Leopoldina Fontella, nascida aos 29 de março de 1830 (batizada77 a 27/11/1830 na Estância de José Maria da Gama) em São Borja, casou-se com Manuel Trilha Belmonte; D) Ana Maria Fontella, nascida em 05 de abril de 1831 (batizada78 a 25/05/1831) em São Borja, casou-se com João Soares de Oliveira; E) Feliciana Fontella, nascida em 1834 em São Borja, casou-se com Felipe Plácido de Castro, acima citado; F) Francisco de Borja Fontella, nascido em 1836 em São Borja; 75 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Patrício, Itaqui, Lv. 1, fls. 56. APERS. Inventário post-mortem de Genoveva Manoella Fontella, São Borja, n. 368, 1876. 77 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 4, fls. 23. 78 ADU. Registro de Batismos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 4, fls. 36. 76 53 G) Irenio José Fontella, nascido em 1837 em São Borja, casou-se com Gaudência Dobal, anteriormente citados; H) Cândida Justa Fontella, nascida em 1840 em São Borja, onde se casou79 a 27 de outubro de 1864 com João Antônio Belmonte. Em virtude daquele casamento consanguíneo entre Manoel Rufino de Camargo e Maria José Gularte, é possível concluir que D. Maria da Trindade Fontella e D. Genoveva Manoela Fontella eram sobrinha e tia e/ou tia e sobrinha respectivamente80, a justificar os parentescos entre seus descendentes e o fato destes serem frequentemente padrinhos de batismo e testemunhas de casamentos uns dos outros. Com isso, podemos deduzir que ou D. Maria da Trindade ou D. Genoveva Manoela fosse filha de Domingos Fontella e/ou de Pedro Fontella, ambos radicados no início do século XIX em São Borja, dos quais conseguimos identificar a seguinte genealogia81: Pedro Fontella nasceu em meados de 1760/1770 possivelmente na Espanha ou Buenos Aires, onde se casou com Maria das Dores Álvares, com quem teve, no mínimo, quatro filhos: 1. Justa Rufina Fontella, nascida no bispado de Buenos Aires, Argentina. Casou-se com Domingos Fontella, nascido em 1782 em La Coruña, Galícia, Espanha e falecido a 03/10/1820 em Itaqui, assassinado “pelos índios insurgentes no Povo da Cruz”, aos 38 anos, tendo sido encomendado e sepultado na antiga Capela do Santiago no Passo da Cruz do lado Oriental82, filho de Inácio Fontella e Lourença Maria. Justa e Domingos foram pais de Maria da Trindade Fontella ou de Genoveva Manoela Fontella, 79 ADU. Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 4, fls. 86v. Apesar de não termos encontrado o casamento de Felipe Plácido de Castro e Gaudência Dobal, sabemos que casaram com seus primos Feliciana Fontella e Irenio José Fontella. 81 A indicação de ambas na sequência está em destaque, em vermelho. 82 ADU. Registro de Óbitos da Igreja São Francisco, São Borja, Lv. 1, fls. 18v. 80 54 além do capitão José Maria Fontella, este nascido em 1820 em São Borja. 2. Mariana Josefa Fontella, nascida no extinto Povo da Conceição ou em Buenos Aires, Argentina. Casou-se83 no mês de maio ou junho de 1818 em São Borja com o viúvo Jerônimo Caetano Taboada, nascido na Galícia, Espanha, filho de Caetano Goudan e Josefa Taboada. Encontramos apenas uma filha do casal: Francisca, nascida em 1819 em São Borja. 3. Maria Fontella, nascida no extinto Povo da Conceição, Argentina. Casou-se com José Larramandi, nascido em Santa Fé, Buenos Aires, Argentina, filho de João José de Larramandi e Francisca Solana Lemes. Encontramos duas filhas do casal, ambas em São Borja: Francisca, nascida em 1819, e Margarida, nascida em 1820. 4. Genoveva Manoela Fontella ou Maria da Trindade Fontella – as quais seriam, como mencionamos, tia/sobrinha e/ou sobrinha/tia uma da outra e, assim, uma delas provável filha de Pedro Fontella e Maria das Dores Álvares. 83 Registro de Casamentos da Igreja São Francisco, São Borja, LV. 1. O livro encontra-se em péssimo estado de conservação, de modo que não conseguimos extrair a data exata do casamento, nem a folha do livro. 55 Parece-me poético saber onde estava o meu sangue por estes velhos séculos; e, em meio aos acontecimentos que dia a dia vão urdindo a história humana, onde se situaram esses antepassados que não previam os seus descendentes, como nós não prevemos os nossos. Cecília Meireles Finalmente... É certo que o mapeamento realizado nos revelou apenas fragmentos, indícios, momentos precisos da vida de Manoel Dobal. A questão, no entanto é que, a nível histórico, não existem totalidades, pois a complexidade da vivência social incapacita qualquer tendência global. É certo, também, que pudemos conhecer o entorno de Manoel Dobal, algumas de suas relações sociais e acontecimentos que se ligaram diretamente a ele. A historiadora Sheila de Castro Faria chama a atenção para o fato de que a lógica das condutas em determinado conjunto social varia de acordo com a especificidade regional. Sendo assim, os arranjos e vivências familiares estariam intrinsicamente ligados às diversidades de atividades econômicas em uma mesma área.84 Ao resgatarmos a população da fronteira, reconhecemos que a estabilidade foi-se acentuando na medida em que os ânimos entre Portugal e Espanha se acalmaram. Com o tempo, o desenvolvimento de atividades agrícolas, além das pastoris, possibilitou o assentamento sistemático de contingente humano e a terra foi adquirindo substanciais valores que em uma área de fronteira móvel não se podia imaginar. 84 FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 49 e seguintes. 56 Itaqui consolidou-se, desde o início do século XIX como uma área atrativa a pessoas de diversas regiões. Tanto que, a meados do mesmo século, o comércio mereceu destaque e as mudanças no contexto social, além das evidentes trocas culturais, proporcionaram maior estabilidade das próprias famílias.85 A análise das estruturas familiares e sua proporcionalidade com a estabilidade pode ser vista através de alguns elementos, dentre os quais merecem destaque a ilegitimidade dos nascimentos e as alianças advindas através do casamento. Apesar de não ser o foco direto do trabalho, não pudemos deixar de observar o alto grau de ilegitimidade existente na região durante as primeiras décadas daquela centúria. Evidente que abordamos o tema empiricamente, observado apenas durante a coleta de dados, mas talvez possamos atribuir a gradativa mudança aos reflexos socioculturais de uma região que pouco a pouco se inseria nos moldes luso-brasileiros. Do mesmo modo, as alianças matrimoniais também sinalizariam lugares com atividades mais sedentarizadas. Observamos que na geração de Manoel Dobal os casamentos associaram-se a pessoas da mesma origem geográfica. Isso pode levantar a seguinte questão: será que, além da origem comum não estariam também motivados pela vizinhança (grupos de imigrantes que buscavam beneficiar-se mutuamente, mantendo certa coesão)? Já, na geração seguinte, os filhos e filhas de Manoel Dobal casaram-se, na maioria, com grandes proprietários da região e também militares.86 Apesar de não ser nosso objetivo adentrar em análises tão profundas, a temática é instigante e seria muito proveitosa tanto no nível familiar, como também para a compreensão de uma área que, até o momento, é pouco investigada, nesse sentido. 85 Estabilidade, no sentido de que não se trata mais de uma população de passagem, sem fixar-se àquele lugar. 86 Aliás, em uma área de fronteira, é inerente a presença militar. 57 Queremos, enfim, concluir nossa colaboração ao entendimento familiar retornando a essa figura emblemática, Manoel Dobal, elo tão importante de uma longa cadeia, aqui resgatado, e cujas lembranças foram sacudidas no tempo. Não poderia ele imaginar que prestes a completar 127 anos de falecimento sua memória seria tão genuinamente lembrada por seus descendentes. 58