PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Medicina Veterinária
Curso de Medicina Veterinária em Betim
Jaqueline Rodrigues Santos
Maria Cristina de Andrade
CONTAMINAÇÃO DE RUAS E QUINTAIS DOS MUNICÍPIOS DE SÃO
JOAQUIM DE BICAS E IGARAPÉ, MINAS GERAIS POR ESTÁGIOS
EVOLUTIVOS DE PARASITOS DE CÃES.
Betim
2013
Jaqueline Rodrigues Santos
Maria Cristina de Andrade
CONTAMINAÇÃO DE RUAS E QUINTAIS DOS MUNICÍPIOS DE SÃO
JOAQUIM DE BICAS E IGARAPÉ, MINAS GERAIS POR ESTÁGIOS
EVOLUTIVOS DE PARASITOS DE CÃES.
Monografia apresentada ao Curso de Medicina
Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Medicina
Veterinária.
Orientador: Vitor Márcio Ribeiro
Colaborador: Walter dos Santos Lima
Betim
2013
Jaqueline Rodrigues Santos
Maria Cristina de Andrade
CONTAMINAÇÃO DE RUAS E QUINTAIS DOS MUNICÍPIOS DE SÃO
JOAQUIM DE BICAS E IGARAPÉ, MINAS GERAIS POR ESTÁGIOS
EVOLUTIVOS DE PARASITOS DE CÃES.
Monografia apresentada ao Curso de Medicina
Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Medicina
Veterinária.
____________________________________________
Vitor Márcio Ribeiro – PUC Minas
____________________________________________
Walter dos Santos Lima – UFMG
____________________________________________
Maria Coeli Gomes Reis Lage – PUC Minas
Betim, 17 de junho de 2013.
Dedicamos este trabalho especialmente aos integrantes do Programa de Extensão “Chicão”,
que eles sigam buscando o melhor para os nossos cãezinhos.
RESUMO
Com o objetivo de verificar a contaminação de ruas e quintais por ovos de helmintos e
oocistos de protozoários em fezes de cães de alguns bairros das cidades de Igarapé e São
Joaquim de Bicas, foram coletadas 217 amostras fecais no período de julho de 2012 a abril de
2013, sendo 168 dispersas no ambiente e 49 nos quintais das casas. Desse total, 132 amostras
eram fezes frescas e 85 ressecadas. As amostras foram analisadas através do Método de
Willis e apresentaram os seguintes resultados: 133 estavam contaminadas com pelo menos um
gênero de helminto; 93 tinham monoinfecções e nelas foram encontrados ovos de
Ancylostoma spp. em 82%, Toxocara spp. em 15%, e Trichuri spp. em 3%. Infecções por
dois, três ou quatro gêneros de helmintos foram observadas em 40 amostras, com associações
entre Ancylostoma spp. e Toxocara spp. 32,5%, Ancylostoma spp. e Dipyllidium spp. 25%,
Ancylostoma spp. e Trichuris spp. 22,5%, Ancylostoma spp., Toxocara spp. e Trichuris spp.
5%; Ancylostoma spp., Dipyllidium spp. e Trichuris spp. 2,5%; Ancylostoma sp., Toxocara
spp. e Dipyllidium spp. 2,5 % e
Ancylostoma spp., Toxocara spp., Dipyllidium spp. e
Trichuris spp. 2,5%. Infecções mistas com protozoários intestinais também foram encontradas
em cães com ovos de Ancylostoma spp. e oocistos de Isospora spp. em 2,5%; Ancylostoma
spp., Trichuris spp. e Isospora spp. em 2,5% e Ancylostoma spp., Dipyllidium spp., Trichuris
spp. e Isospora spp. em 2,5%. Fezes frescas foram mais contaminadas, com 74% de
resultados positivos, enquanto as ressecadas apresentaram 41% de positividade, assim como
as recolhidas das ruas, com 70% em relação às recolhidas nos quintais, com 59%.
Palavras-chave: Helmintos. Cães. Zoonoses. Toxocara spp. Ancylostoma spp.
ABSTRACT
Aiming to investigate the contamination in the streets and backyards of homes by helminth
eggs and oocysts of protozoa in feces of dogs in some neighborhoods of the cities of São
Joaquim de Bicas and Igarapé, 217 fecal samples were collected from July 2012 to April
2013, 168 being released in the streets and 49 in the backyards of homes. Of this total, 132
were fresh fecal samples and 85 were dried. The samples were analyzed by the method of
Willis and showed the following results: 133 were contaminated with at least one kind of
helminth; 93 samples had monoinfections and in these samples were found eggs of
Ancylostoma spp. 82%, Toxocara spp. in 15%, and Trichuris spp. in 3%. Infections with two,
three or four kinds of helminths were observed in 40 samples, with associations with one
another Ancylostoma spp. and Toxocara spp. 32,5%, Ancylostoma spp. and Dipyllidium spp.
25%, Ancylostoma spp. and Trichuris spp. 22,5%, Ancylostoma spp., Toxocara spp. and
Trichuris spp. 5%; Ancylostoma spp., Dipyllidium spp. and Trichuris spp. 2,5%; Ancylostoma
spp., Toxocara spp. and Dipyllidium spp. 2,5% and
Ancylostoma spp., Toxocara spp.,
Dipyllidium spp. and Trichuris spp. 2,5%. Mixed infections with intestinal protozoa were
also found in some dogs with eggs of Ancylostoma spp. and oocysts of Isospora spp. in 2,5%;
Ancylostoma spp. and Trichuris spp. and Isospora spp. in 2,5% and Ancylostoma spp.,
Dipyllidium spp., Trichuris spp. and Isospora spp. in 2,5%. Fresh feces were the most
contaminated, with 74% of positive results, while the dried ones showed 41% of positivity, as
well as collected from the streets, with 70% in relation to the collected in the backyards, with
59% of positive infection results.
Keywords: Helminths. Dogs. Zoonosis. Toxocara spp. Ancylostoma spp.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Mapa indicando a localização das cidades de Igarapé e São Joaquim de
Bicas......................................................................................................................................... 22
FIGURA 2 - Ovos de Ancylostoma spp. encontrados nas amostras de fezes de cães coletadas
em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de julho de
2012 à abril de 2013................................................................................................................. 27
FIGURA 3 - Ovos de Toxocara spp. encontrados nas amostras de fezes de cães coletadas em
ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de julho de
2012 à abril de 2013................................................................................................................. 27
FIGURA 4 - Ovos de Dipylidium caninum encontrados nas amostras de fezes de cães
coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de
julho de 2012 à abril de 2013................................................................................................... 29
FIGURA 5 - Ovos de Trichuris vulpis encontrados nas amostras de fezes de cães coletadas
em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de julho de
2012 à abril de 2013................................................................................................................. 29
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Ovos de helmintos (infecções isoladas e mistas) encontrados em 217 amostras
de fezes de cães coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e
Igaraé no período de julho de julho de 2012 à abril de 2013.................................................. 24
TABELA 2 - Presença de ovos de helmintos em amostras de fezes frescas e ressecadas
coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de
julho de 2012 à abril de 2013.................................................................................................. 25
TABELA 3 - Amostras positivas e negativas para ovos de helmintos, coletadas em ruas nos
municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de julho de 2012 à abril de 2013
em relação a amostra total....................................................................................................... 25
TABELA 4 - Amostras positivas e negativas para ovos de helmintos, coletadas em quintais
nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de julho de 2012 à abril de
2013 em relação a amostra total.............................................................................................. 25
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LMC
Larva migrans cutânea
LMO
Larva migrans ocular
LMV
Larva migrans visceral
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................... 12
2.1 Fezes e contaminação ambiental ............................................................................. 12
2.2 Helmintos de maior prevalência .............................................................................. 15
2.3 Toxocara spp. ............................................................................................................. 16
2.3.1 Larva Migrans Visceral (LMV) ............................................................................. 17
2.4 Ancylostoma spp. ....................................................................................................... 18
2.4.1 Larva Migrans Cutânea (LMC) ............................................................................. 19
3 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 21
3.1 População................................................................................................................... 21
3.2 Amostragem .............................................................................................................. 21
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................ 23
5 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 30
REFERÊNCIA ................................................................................................................ 31
ANEXOS ......................................................................................................................... 35
9
1 INTRODUÇÃO
As doenças parasitárias ocupam importante espaço entre as zoonoses em todo o
mundo e são grande ameaça para o equilíbrio sócio-econômico, principalmente em países em
desenvolvimento. (OTRANTO; EBERHARD, 2011).
Os
helmintos
constituem
parasitos
pertencentes
aos
filos
Platyhelmintes,
Nemathelminthes, Acanthocephala e Annelida, alguns parasitam o sistema digestivo de cães e
gatos. Entre elas pode-se destacar as helmintoses e protozooses dos canídeos (BOWMAN,
2006; LABRUNA, 2006).
Portanto,
o
acompanhamento
das
verminoses
em
animais
de
estimação,
principalmente em cães, tem alta importância não somente pela saúde do animal, mas também
pelo fato de que algumas contaminam o homem. Entre elas, destacam-se a larva migrans
visceral e larva migrans cutânea, causadas por larvas de Toxocara spp. e Ancylostoma spp.,
quando atingem os órgãos e pele do homem, respectivamente (LIMA; CAMARGO;
GUIMARÃES, 1984. FARIAS; CHRISTOVÃO; STOBBE, 1995).
A ideia de que a toxocaríase fosse rara e benigna, capaz de regredir espontaneamente,
já foi pensada, no entanto, foi verificado tratar-se de doença importante, que necessita de
controle efetivo. Uma forma de promover esse controle consiste na realização de exames de
fezes nos animais, buscando encontrar ovos para confirmação das contaminações e adequado
tratamento. Áreas urbanas e suburbanas, com elevadas densidades de cães, são reservatórios
de longo prazo para infecções por Toxocara spp. para os humanos. Ovos de Ancylostoma spp.
são menos resistentes à fatores ambientais, considerados um problema temporário se
comparados aos ovos de Toxocara spp. (BARRIGA, 1988; BOWMAN, 2006; GAWOR apud
PAPINI, 2012).
O conhecimento mais acurado sobre a epidemiologia e a profilaxia desses parasitos,
suas incidências e prevalências, são fundamentais para a adoção de medidas profiláticas
adequadas para a proteção humana (OGASSAWARA apud SANTOS; CASTRO, 2006).
O médico veterinário exerce papel fundamental como difusor de medidas de
tratamento e profilaxia das parasitoses nos cães, pois possui conhecimento específico e tem
contato direto com proprietários de animais de estimação (GRANT; OLSEN apud
SANTARÉM; GIUFFRIDA; ZANIN, 2004; LABRUNA, 2006).
O crescente número de animais de companhia em áreas urbanas, principalmente cães,
e o maior contato deles com o homem, em diferentes classes sociais, aumenta a probabilidade
da ocorrência de zoonoses. Variáveis sociais, econômicas e ambientais influenciam a
10
prevalência e incidência das parasitoses intestinais comuns aos cães e humanos (AGUDELO,
1990; SANTOS; CASTRO, 2006).
A presença de cães e gatos soltos pelas ruas aumenta a contaminação ambiental com
as fezes desses animais. Para estimar o risco zoonótico e promover adequado tratamento, com
estratégias de prevenção e controle, o exame direto do solo buscando ovos é ideal, no entanto,
é trabalhoso e são necessárias grandes quantidades de amostras de solo para que o exame seja
preciso. Assim, o exame de fezes tem maior viabilidade, por sua simplicidade e baixo custo,
sendo que a avaliação da prevalência de ovos de helmintos nas fezes caninas pode ser útil
para complementar estudos que avaliem o risco de contaminação ambiental (KATAGIRI;
SEQUEIRA, 2007; PAPINI, 2012).
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo determinar o nível de contaminação
por ovos de helmintos e oocistos de protozoários em fezes de cães dispersas em ruas e
quintais dos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé, Minas Gerais, no período de
julho de 2012 a abril de 2013.
11
2 REVISÃO DE LITERATURA
Os cães desempenham o papel de hospedeiro definitivo para algumas espécies de
helmintos que podem causar enfermidades importantes para o homem. O aumento no número
de cães domiciliados, peridomiciliados e errantes, de modo geral em todo o Brasil, associado
ao fácil acesso destes animais a locais de lazer, aumenta o risco da infecção humana,
especialmente para as crianças (SCAINI, 2003).
Segundo Capuano e Rocha (2005) cães vadios constituem importante problema na
maioria dos países, principalmente naqueles em desenvolvimento, pela variedade de agentes
presentes nestes animais que são comuns aos seres humanos. Estudos com possibilidade de
demonstrar a necessidade de ações de saúde voltadas para o controle da contaminação
ambiental com ovos de parasitos nocivos à saúde pública são importantes nesse contexto.
Dado ao estreito convívio dos cães com o homem torna-se fundamental o controle
adequado das suas endoparasitoses, com o objetivo de diminuir a contaminação do meio
ambiente com ovos ou larvas, minimizando a expansão da infecção canina, e os riscos de
infecção humana (ROBERTSON apud LABRUNA, 2006).
2.1 Fezes e contaminação ambiental
As zoonoses causadas por helmintos intestinais de cães são importantes dentro da
saúde pública em todo o mundo. A contaminação do solo de áreas urbanas e rurais, como
parques e praças, por fezes, representa a principal via de transmissão desses agentes aos seres
humanos, especialmente crianças, por serem locais onde os animais eliminam as fezes
contendo ovos dos parasitos (SCHANTZ apud SANTARÉM; GIUFFRIDA; ZANIN, 2004;
CAPUANO; ROCHA, 2005).
A presença de ovos e larvas de helmintos associados à contaminação ambiental por
fezes de cães varia conforme a população de animais existentes em cada região, a prevalência
da infecção e condições climáticas favoráveis, necessárias para que ovos e larvas permaneçam
infectantes. Baixa umidade, calor, escoamento pela chuva e atividade ovicida de alguns
fungos ambientais podem prejudicar o desenvolvimento da larva e sua estabilidade. Segundo
Daryani citado por Papini (2012), elevado número de cães vadios contribui para a
contaminação do meio ambiente com ovos de helmintos, como, por exemplo, Toxocara canis.
Embil (1988), examinando 181 amostras fecais, encontrou 12,7% com ovos de Toxocara spp.
Neste mesmo estudo, foi identificado que a ocorrência da infecção em crianças era maior em
12
área rural, onde ter um cão representou fator de risco. Porém há divergências quanto à essa
localização. O autor discute que esse achado poderia ser atribuído a maior população de cães
no campo e a falta de controle sobre seus hábitos de defecação. Jarosz (2010) mostra que
inadequados padrões de higiene e falta de consciência sobre as infecções zoonóticas
transmitidas por animais de estimação, também influenciam nesse fator (EMBIL, 1988;
PAPINI, 2012).
Em relação à contaminação do solo, em alguns estudos, houve maior contaminação em
áreas urbanas, o que foi atribuído a maior concentração dos animais em áreas altamente
urbanizadas. Porém, a maioria dos ovos recuperados nessas áreas correspondia ao T. cati,
reconhecido através das características morfológicas dos ovos encontrados, considerado
menos infeccioso para os humanos (SMITH e NOORDIN apud JAROSZ, 2010).
O exame de fezes de cães em áreas urbanas, assim como nas rurais, pode fornecer
dados úteis sobre o risco de ocorrência ambiental por helmintos (PAPINI, 2012).
Áreas não pavimentadas são mais favoráveis a contaminação por Ancylostoma spp.,
pois as fezes se misturam ao solo, além de fornecerem condições para o desenvolvimento das
larvas, principalmente se o solo for arenoso, de textura porosa e bem drenado, sendo a higiene
dificultada nesse tipo de solo (BOWMAN, 2006).
Em diferentes localidades no Brasil foram registradas elevadas taxas de contaminação
ambiental por ovos e larvas de Ancylostoma spp. em locais públicos e de recreação infantil
como pesquisado por Araújo e outros (1999), Santarém, Giuffrida e Zanin (2004) e Moro e
outros (2008).
Ramírez-Barrios, citado por Katagiri e Sequeira (2007), ressalta que infecções
parasitárias acometem cães de todas as idades, mas usualmente são mais prevalentes em
filhotes. Isso se deve principalmente ao fato de que muitos parasitos utilizam vias de
transmissão que expõem especificamente recém-nascidos ou neonatos e também porque os
cães jovens não respondem imunologicamente de forma eficaz. Araújo (2006) demonstrou
maior suscetibilidade à infecção por helmintos intestinais na faixa etária de zero a um ano de
idade.
No caso do Ancylostoma spp., como os animais permanecem susceptíveis às infecções
ao longo de toda a vida, tanto para as larvas presentes no ambiente como para as retidas em
seus tecidos, que podem alcançar periodicamente o intestino e evoluírem para formas adultas,
pode-se dizer que toda a população de cães contribui de forma contínua para a contaminação
ambiental (KALKOFEN apud KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007; LABRUNA, 2006).
13
No ambiente são necessários de dois a oito dias para que os ovos de ancilostomídeos
se desenvolvam até a fase de larva infectante de terceiro estádio (L3), assim como
temperaturas entre 23 e 30°C, e substrato moderadamente úmido e bem arejado. As larvas de
ancilostomídeos não se desenvolvem satisfatoriamente em solos pesados, com água
acumulada, ou expostos à luz solar direta e dessecação, sendo que ovos e larvas de
Ancylostoma spp. não sobrevivem ao congelamento (BOWMAN, 2006).
Para Capuano e Rocha (2005), a prevalência de contaminação ambiental pode ser
menor em locais onde os habitantes tenham melhor nível socioeconômico e cultural, pois isso
facilita a assistência veterinária e tratamentos anti-helmínticos rotineiros nos animais.
Numerosos estudos realizados em várias partes do mundo indicam que ovos de
Toxocara spp. podem ser encontrados nos solos em todas as latitudes geográficas, em países
ricos e pobres, já que a maioria dos cães e gatos são infectados com o nematoide no início de
suas vidas. A posse de animais de estimação pode aumentar a probabilidade de infecção
humana, assim como a presença de cães vadios nos locais frequentados pelo homem, como
praças e playgrounds, no caso de crianças (ARAÚJO, 2000; JAROSZ, 2010).
Em Dipyllidium spp., os cisticercoides, provenientes das cápsulas ovígeras eliminadas
no ambiente, desenvolvem-se em pulgas (Ctenocephalides spp.) e piolhos mastigadores
(Trichodectes canis), e o cão, como também os humanos, podem infectar-se quando ingerem
esses insetos contendo o cisticercoide, que necessita de duas a três semanas para se
desenvolver em um cestódeo adulto e liberar proglotes. Assim, como o potencial de
transmissão entre os cães é em função da presença de pulgas e piolhos mastigadores, é
também necessário o seu controle (BOWMAN, 2006; KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007).
Quanto a Trichuris spp., os ovos infectantes são muito resistentes, segundo Freitas,
citado por Labruna (2006), há relatos de sobrevivência destes ovos por até seis anos. Dentro
do ovo, a larva de primeiro estádio infectante se desenvolve em aproximadamente um mês,
mas só eclode quando ingerida por um hospedeiro adequado, no caso o cão ou o gato.
Animais que convivem em ambientes contaminados tendem a se reinfectar, mesmo após
tratamento. As infecções em cães na sua maioria são assintomáticas, porém, infecções
intensas podem provocar episódios de diarréia alternados com períodos de fezes normais. A
higiene do ambiente é muito importante assim como o tratamento anti-helmíntico (MUNDIN,
2004; BOWMAN, 2006).
Apesar da existência de espécies com alta especificidade para o cão, T. vulpis, e para o
homem, T. trichiura, Sakano, Hamamoto e Kobayashi (1980), e Dunn (2002), citados por
14
Capuano e Rocha (2006), assinalaram casos de infecção entérica e LMV humanas,
provocadas pela espécie T. vulpis.
Isospora spp. é um protozoário patogênico que pode ser transmitido dos animais
domésticos para o homem, através da água e alimentos contaminados com os oocistos, a
forma infectante do parasita. A infecção nos animais produz diarreia abundante e aquosa e
pode persistir por várias semanas. Já a infecção no homem pode causar desconforto e diarreia
crônica (BOWMAN, 2006; CAPUANO; ROCHA; 2006).
2.2 Helmintos de maior prevalência
Os principais helmintos de interesse médico veterinário podem ser divididos em dois
Filos – o Filo Nemathelmintes, que compreende os nematódeos, e o Filo Platyhelminthes,
formado pelos cestódeos e trematódeos (RIBEIRO, 2004).
Nos trabalhos estudados, os parasitos de maior incidência foram Ancylostoma spp. e
Toxocara spp., seguido por Dipylidium caninum e Trichuris vulpis. Táparo e outros (2006),
ao pesquisar 401 amostras fecais, verificaram que houve positividade para Ancylostoma spp.
em 53,1% das amostras; Toxocara spp. em 0,7%; T. vulpis em 3,7%; e D. caninum em 2,5%.
Araújo (2006) encontrou em amostras fecais de 256 cães, 18,67% positivos para Ancylostoma
spp. 9,4% para Toxocara spp., 0,68% para D. caninum e 0,41% para T. vulpis. Também
Cortês, Paim e Alencar Filho (1998), encontraram em 9150 cães pesquisados, 59,83%
positivos para ovos de Ancylostoma spp. e 11,7% para Toxocara spp. Chieffi e Müller (1976)
verificaram em 135 cães, 48,88% positivos para T. canis, sendo que destes, 92,68% eram
filhotes de zero a três meses e 58,82% de três a seis meses.
Várias pesquisas foram realizadas no Brasil e no mundo com o intuito de diagnosticar
contaminação do solo por helmintos com potencial zoonótico. Dentre os vários helmintos
encontrados destacaram-se A. caninum e T. canis, por serem os mais frequentes e encontrados
tanto nas fezes dos cães, como em areias ou terras examinadas. No Brasil, Chieffi e Müller
(1976) pesquisaram ovos de Toxocara spp. no solo de localidades públicas em Londrina,
Paraná, encontrando ovos do nematoide em 60% das amostras, além de outros helmintos
como Trichuris spp. e ancilostomídeos. Costa-Cruz, Nunes e Buso (1994) pesquisaram
também ovos de Toxocara spp. em praças públicas da cidade de Uberlândia, Minas Gerais,
obtendo o resultado de 23,07% de amostras contaminadas. Araújo e outros (1999) observaram
a contaminação de praças públicas no Campo Grande, Mato Grosso do Sul, por ovos de
Toxocara spp. e Ancylostoma spp. encontrando uma contaminação de 10,8% e 56,8%
15
respectivamente. Já Araújo, Rodrigues e Cury (2008) pesquisaram helmintos em caixas de
areia de creches em Uberlândia, Minas Gerais, e encontraram 61% de positividade para larvas
de helmintos e 50% para ovos. Esses helmintos intestinais de cães, prevalentes em todo o
mundo, possuem potencial zoonótico, e ocorrem com mais frequência em países de clima
subtropical e tropical (SANTARÉM; GIUFFRIDA; ZANIN, 2004; ARAÚJO, 2006).
Essa ampla distribuição geográfica pode ter sua explicação no fato de que esses
nematódeos parasitos possuem grande resistência nos estádios de vida livre às diferentes
condições ambientais. Provas obtidas de incubação de ovos e posterior alimentação dos
animais indicam que os ovos de Toxocara spp. no solo se mantêm infectantes aos animais e
por conseguinte ao homem (BORG; WOODRUFF, 1973; KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007).
2.3 Toxocara spp.
A identificação inicial do parasito conhecido como T. canis é atribuída a Werner, em
1782, e sua diferenciação de Toxascaris leonina ocorreu em 1907, por Lieper, ambos citados
po Woddruff (1970). Os vermes adultos de Toxocara spp. medem de 3 a 5 polegadas (7,5 a
12,5 cm.) e vivem no intestino delgado (ID) de cães e gatos. Dubin, Segal e Martindale
(1975), reportaram incidência dessa infecção em cães e gatos variando de 0 a 100%,
dependendo de alguns fatores, como idade do animal e o nível de sua imunidade.
A identificação específica desses nematódeos é pré-requisito para o seu estudo.
Técnicas moleculares têm proporcionado abordagens alternativas para a identificação das
diferentes espécies, e recentemente, Okulewicz (2012), mostrou que T. canis de gatos da
Malásia representam uma espécie distinta, sendo nomeada T. malaysiensis, sendo
geneticamente mais semelhante ao T. cati.
Fulleborn, 1921, citado por Barriga (1988), tentou produzir a infecção por T. canis em
cães neonatos e adultos administrando ovos embrionados, via oral. Recuperou parasitos do
intestino dos filhotes 13 dias após a infecção, mas em cães adultos encontrou apenas larvas no
fígado, pulmões e rins.
A transmissão do Toxocara spp. pode ocorrer nos cães e gatos por quatro vias – oral,
transplacentária, lactogênica e através de hospedeiros paratênicos. Os ovos de T. canis são
eliminados junto às fezes, sendo as fêmeas muito fecundas, com vida útil de cerca de quatro
meses, produzindo mais de 100.000 ovos por dia. Os animais se infectam pela ingestão dos
ovos contendo larvas infectantes, L3. No ID a larva eclode, penetra na parede intestinal e
alcança a circulação sanguínea. Atinge o sistema porta hepático e migra então para os
16
pulmões, sendo expectorada e deglutida. No ID evolui para forma adulta. Os ovos alcançam
o ambiente junto às fezes do animal infectado (WOODRUFF, 1970; RIBEIRO, 2004;
PAPINI, 2012).
No ID, os vermes adultos alimentam-se de produtos pré-digeridos e as larvas de
serosidades (CURY apud RIBEIRO, 2004).
Os ovos são muito resistentes à agentes químicos e fatores climáticos, sobrevivem até
-25°C, são suscetíveis à temperatura de 40°C e dessecação. Em condições apropriadas de
temperatura, umidade, oxigênio e sombra, os ovos se desenvolvem ao estádio infectante em
10 a 14 dias, e podem permanecer infectantes por anos, sobretudo em solos arenosos e
argilosos que sejam mal drenados (BOWMAN, 2006; PAPINI , 2012).
O primeiro relato da presença de larvas de T. canis em outros hospedeiros que não os
cães, foi feito por Ransom e Foster (1920) citados por Barriga (1988), que obtiveram larvas
nos pulmões de um rato que havia sido alimentado com ovos embrionados.
O homem é um hospedeiro paratênico do parasito, e pode se infectar com ovos
contendo L3, presentes no solo e fezes de animais infectados. A migração das larvas de T.
canis em humanos pode resultar em três síndromes principais: larva migrans visceral,
toxocaríase assintomática e larva migrans ocular – LMO (JAROSZ, 2010; PAPINI, 2012).
A forma assintomática é descrita em pacientes soropositivos para Toxocara spp., sem
eosinofilia marcante ao exame e com sintomas genéricos como dor abdominal (JAROSZ,
2010).
Existem muitos parasitos nematóides que podem ser encontrados na órbita do olho, ou
dentro do olho propriamente. Embora a maioria das infecções por nematóides no olho sejam
raras, algumas são mais frequentes que outras. Com efeito, a LMO, provocada pelas larvas de
T. canis, é provavelmente a infecção do olho humano por nematóide mais comum, com
ocorrência maior em crianças, com idade média de diagnóstico de 7,5 anos de idade
(PERUCA; LANGONI; LUCHEIS, 2009; OTRANTO; EBERHARD, 2011).
2.3.1 Larva migrans visceral (LMV)
A LMV resulta da permanência dentro do corpo humano da larva de T. canis e T. cati,
além de outros nematódeos. Quando o homem ingere ovos infecciosos de T. canis e T. cati, as
larvas eclodem dos ovos no ID, penetram na sua parede, e migram então para diversos sítios
através da corrente sanguínea. A larva do T. canis afeta órgãos tanto em cães quanto em
homens, podendo produzir granulomas no fígado, pulmões, cérebro e olhos, acarretando
17
hepatomegalia, anorexia, febre e sintomas pulmonares (WOODRUFF, 1970; DUBIN;
SEGAL; MARTINDALE, 1975; AGUDELO, 1990; JAROSZ, 2010).
A infecção humana pode ocorrer por ingestão de ovos nas fezes, no solo, ou em outros
materiais contaminados. A doença afeta principalmente crianças, geralmente menores de
quatro anos de idade. Exceto por eosinofilia persistente, os sinais são variáveis e muitas vezes
o diagnóstico é confuso, pois a severidade dos sintomas pode variar da forma assintomática
até fatal. Muitos autores observaram que a incidência de LMV deve ser muito maior do que a
relatada. No Brasil, ensaios sorológicos realizados em vários municípios demonstraram
prevalência de 3 a 39% de infecção humana (BORG; WOODRUFF, 1973; DUBIN; SEGAL;
MARTINDALE, 1975; CAPUANO; ROCHA, 2005; OTRANTO; EBERHARD, 2011).
Embil (1988) verificou que os níveis de anticorpos para T. canis em humanos
indicaram soropositividade frequente em crianças no Canadá. Para aquelas que ficam grande
parte do tempo ao ar livre, o risco de ingestão de ovos infectados é claramente aumentado.
Considerando a importância potencial do reconhecimento adequado de ocorrência de LMV
em crianças e a presença de condições ambientais favoráveis à sua propagação, um
diagnóstico cuidadoso e controlado é indicado (DUBIN; SEGAL; MARTINDALE, 1975).
2.4 Ancylostoma spp.
O A. caninum tem sido encontrado em cães com maior frequência em diversos países
do mundo, sendo o parasito mais difundido, é mais patogênico, causando anemia hemorrágica
aguda ou crônica acompanhada de diarreia, podendo conter sangue e muco. Enquanto o A.
brasiliense é menos comum, e menos patogênico, devido a sua menor voracidade na
hematofagia
(BOWMAN, 2006; LABRUNA, 2006; KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007;
PERUCA; LANGONI; LUCHEIS, 2009).
Os adultos desse gênero vivem fixados à mucosa intestinal e os ovos são postos na luz
do ID, sendo eliminados para o meio exterior com as fezes. As fêmeas ovipõem diariamente
milhares de ovos não embrionados, que em condições favoráveis, como sombra, solos bem
drenados, calor e umidade, evoluem em 24 a 48 horas para larva de primeiro estádio (L1). As
larvas eclodem e evoluem no meio externo para larva de terceiro estádio (L3), infectante
(RIBEIRO, 2004; BOWMAN, 2006; MORO, 2008).
Cães e gatos se infectam pelas vias oral, mais frequente, percutânea, transplacentária e
lactogênica. Os ovos são eliminados nas fezes cerca de duas semanas após a ingestão das
larvas, e um mês após a penetração pela pele. Algumas larvas ficam com desenvolvimento
18
inibido, e posteriormente são reativadas. Não se sabe muito bem em resposta à quais
estímulos as larvas são reativadas e quando isso ocorre migram tanto para o ID, como para a
glândula mamária, por onde são eliminadas via leite. Os ovos e larvas podem ser destruídos
pelo congelamento (RIBEIRO, 2004; BOWMAN, 2006).
Animais jovens são mais frequentemente acometidos, sendo que o número de
ancilostomídeos responsáveis pela infecção depende da exposição às larvas infectantes, o que
por sua vez depende da contaminação do ambiente e condições favoráveis a sobrevivência das
larvas. A resistência do hospedeiro tem haver com sua capacidade de limitar o número de
ancilostomídeos maduros no ID, o que é influenciado pela idade, pré-munição e imunidade
adquirida, e com a capacidade de compensar a perda sanguínea causada pela infecção, que é
influenciada pela capacidade hematopoiética, estado nutricional e presença ou ausência de
fatores de estresse (BOWMAN, 2006; KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007).
2.4.1 Larva migrans cutânea (LMC)
Segundo vários autores, a LMC acomete pessoas em todo mundo, sem distinção de
raça, sexo ou idade, no entanto, crianças entre dois a cinco anos são mais acometidas por
estarem em maior contato com caixas de areia, centros de recreação, parques infantis de
escolas e praias contaminados por ovos e larvas de Ancylostoma spp. Para Ambroise-Thomas
citado por Katagiri e Sequeira (2000) as zoonoses parasitárias caninas tem sido motivo de
preocupação com relação às imunodeficiências humanas de modo geral, e em especial a
Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) (LIMA; CAMARGO; GUIMARÃES, 1984.
COSTA-CRUZ; NUNES; BUSO, 1994; FARIAS; CHRISTOVÃO; STOBBE, 1995;
SCAINI, 2003; MORO, 2008; PERUCA; LANGONI; LUCHEIS, 2009).
A LMC, também chamada dermatite serpiginosa, é uma erupção linear, causada pela
migração da L3, entre a derme e epiderme, podendo causar lesões eritematosas e intensamente
pruriginosas. É causada mais comumente pelo A. brasiliense, porém, há casos esporádicos
com A. caninum, além de outros nematódeos (BOWMAN, 2006; MORO, 2008; PERUCA;
LANGONI; LUCHEIS, 2009).
Segundo Santarém, Giuffrida e Zanin (2004), depois de constatados de quatro a sete
casos de LMC por mês no período de dois anos no município de Taciba, em São Paulo, foi
recomendado o isolamento do parque público para troca de areia ou pavimentação das caixas
e a instalação de telas ao redor do parque para dificultar o acesso de cães e gatos. Para Araújo
e outros (2000) a simples troca da areia de áreas de recreação de praças públicas é insuficiente
19
para controlar a contaminação por ovos de helmintos de cães e gatos. Uma das soluções
encontradas pelo autor foi cobrir as caixas de areia com lonas durante a noite e fazer a
pesquisa de ovos e larvas de helmintos na areia sempre que esta for trocada. Esta medida é
recomendada dada a possibilidade de contaminação da areia com fezes de cães e gatos nos
depósitos de construção.
No Brasil, a LMV e LMC são subdiagnosticadas, uma vez que não há dados
disponíveis de prevalência e incidência, existindo fatores ambientais, climáticos,
socioeconômicos e culturais que proporcionam a ocorrência dessas enfermidades no país
(PERUCA; LANGONI; LUCHEIS, 2009).
20
3 MATERIAL E MÉTODOS
A área de trabalho escolhida, foi determinada através do local de atuação do Programa
de Extensão “Saúde Animal como promoção de saúde humana em coletividades – ações de
controle de doenças em cães com ênfase em Leishmaniose Visceral Canina”, apelidado como
Projeto Chicão, do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, localizada no município de Betim (PUC MINAS BETIM), Minas Gerais, do
qual o presente trabalho faz parte. Desta forma, foi seguido o trajeto de bairros e ruas
participantes do projeto, dos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé (FIGURA 1). Os
bairros envolvidos em São Joaquim de Bicas foram Belo Vale, Boa Vista, Condomínio
Fazendinha São Miguel, Guarani, Marília, São José, e Maracanã; e em Igarapé, os bairros
Aparecida, Campo Belo e Nova Esperança. A infraestrutura dos bairros visitados,
concernentes à rede de esgoto e pavimentaçao das ruas é incompleta, mas a iluminação é
adequada. O acesso de automóvel às residências é, em geral, possível, com exceção em dias
de chuva, pela falta de pavimentação das ruas.
Esse projeto está aprovado pelo CEUA conforme ofício (ANEXO2).
3.1 População
A população residente nos locais selecionados consiste, em sua maioria, de famílias
em situações de vulnerabilidade social. O número de pessoas por casa principalmente
composto por crianças.
3.2 Amostragem
Foram examinadas 217 amostras de fezes de cães, frescas ou ressecadas, sendo 167
das ruas e 50 de quintais das casas. As coletas foram aleatórias e mensais, porém, seguiram o
trajeto de visitação domiciliar, para coleta de sangue e vacinação dos animais nos domicílios
envolvidos no Programa Chicão.
21
Figura 1 - Mapa indicando a localização das cidades de Igarapé e
São Joaquim de Bicas.
B
Fonte: Adaptado de
www.googlemaps.com.br
As
amostras
foram
coletadas
manualmente,
utilizando
luvas
descartáveis,
acondicionadas individualmente em sacos plásticos, identificadas pelo endereço da casa,
quando coletadas nos quintais das residências, e, pelo endereço em frente ao local da coleta,
quando coletadas nas ruas, colocadas em caixa de isopor refrigerada com bolsas de gelo e
transportadas até o Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da PUC Minas
Betim, onde foram processadas.
Foi registrada a forma como são criados os cães dos bairros através de fichas
individuais obtidas em visitas domiciliares na região (ANEXO 3).
O processamento das amostras foi realizado pelo método de flutuação, utilizando
solução saturada de cloreto de sódio, Método de Willis (ANEXO 4). Foram feitas análises
macroscópicas, descrevendo o aspecto, a coloração e o odor das fezes para posterior
comparação com as análises microscópicas. A análise microscópica foi realizada através do
exame do conteúdo flutuante colocado em lâminas de vidro. Foram examinadas duas lâminas
por amostra para emissão do resultado negativo.
Todas as amostras examinadas foram observadas ao microscópio óptico com objetivas
de 10x e 40x. Por se tratar de método qualitativo, os resultados estão expressos em presença
ou ausência dos ovos do parasito.
22
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 217 amostras de fezes examinadas, 39% (84/217) foram negativas e
61%
(133/217) positivas para ovos de helmintos. Em 43% (93/217) das amostras constatou-se
apenas um gênero de parasito, constituindo as infecções simples, sendo 35% Ancylostoma
spp., 6,5% Toxocara spp., e 1,5% Trichuris spp. Enquanto em 18,5% (40/217) constatou-se
infecções mistas por dois, três ou quatro gêneros de helmintos, sendo 6% associações entre
Ancylostoma spp. e Toxocara spp., 4,5% entre Ancylostoma spp. e Dipylidium spp., 4% entre
Ancylostoma spp. e Trichuris spp., 0,5% entre Ancylostoma spp. e Isosopora spp., 1% entre
Ancylostoma spp., Toxocara. spp. e Trichuris spp., 0,5% entre Ancylostoma spp. Dipylidium
spp. e Trichuris spp., 0,5% entre Ancylostoma spp., Toxocara. spp. e Dipylidium spp..
caninum, 0,5% entre Ancylostoma spp., T. vulpis e Isospora spp., 0,5% entre Ancylostoma
spp., Dipylidium spp., Trichuris spp. e Isospora spp. e
0,5% entre Ancylostoma spp.,
Toxocara. spp., Dipylidium spp. e Trichuris spp. (TABELA 1).
Tabela 1 - Ovos de helmintos (infecções isoladas e mistas) encontrados em 217 amostras
de fezes de cães coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e
Igarapé no período de julho de 2012 à abril de 2013.
Helmintos
Exames
positivos
76
Ancylostoma spp.
14
Toxocara spp.
3
Trichuris spp.
13
Ancylostoma spp. + Toxacara spp.
10
Ancylostoma spp. + Dipylidium spp.
9
Ancylostoma spp. + Trichuris spp.
1
Ancylostoma spp. + Isospora spp.
1
Ancylostoma spp. + Toxocara spp. + Dipylidium spp.
2
Ancylostoma spp. + Toxocara spp. + Trichuris spp.
1
Ancylostoma spp. + Trichuris spp. + Isospora spp.
Ancylostoma spp. + Dipylidium spp. + Trichuris spp. 1
Ancylostoma spp. + Dipylidium spp.+ Toxocara. spp. 1
+ Trichuris spp
Ancylostoma spp. + Toxocara spp. + Trichuris spp + 1
Isospora spp.
133
Total de amostras positivas
84
Total de amostras negativas
217
Total de amostras
Prevalencia%
35 %
6,5 %
1,5 %
6,0 %
4,5 %
4,0 %
0,5 %
1,0 %
0,5 %
0,5 %
0,5 %
0,5 %
0,5 %
61,0 %
39,0 %
100,0 %
23
As amostras de fezes frescas apresentaram maior contaminação com ovos de
helmintos quando comparadas às ressecadas (TABELA 2). Nas amostras coletadas nas ruas,
comparadas com as coletadas nos quintais dos domicílios houve também diferença quanto aos
resultados, como mostram as Tabelas 3 e 4.
Tabela 2: Presença de ovos de helmintos em amostras de fezes frescas e ressecadas
coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no
período de julho de 2012 à abril de 2013.
Aspecto
das Fezes
Frescas
Ressecadas
Positivas para
ovos de
helmintos
98
35
%
74%
41%
Negativas para
ovos de
helmintos
34
50
%
Total
26%
59%
132
85
% da
amostra
total
100%
100%
p< 0,05
Tabela 3: Amostras positivas e negativas para ovos de helmintos, coletadas em ruas
nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de julho de 2012 à
abril de 2013 em relação a amostra total.
Cidade
Igarapé
São Joaquim de Bicas
Positivas
39
65
%
65%
60%
Negativas
21
43
%
35%
40%
Total
60
108
%
100%
100%
p> 0,05
Tabela 4: Amostras positivas e negativas para ovos de helmintos, coletadas em
quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de julho de
2012 à abril de 2013 em relação a amostra total.
Cidade
Positivas
%
Negativas
%
Total
%
Igarapé
8
80%
2
20%
10
100%
São Joaquim de Bicas
21
54%
18
46%
39
100%
p> 0,05
Os resultados obtidos demostraram a elevada prevalência de infecção por Ancylostoma
spp.(Figura 2) e Toxocara spp. (Figura 3) em cães nos municípios de São Joaquim de Bicas e
Igarapé, com 35% e 6,5% respectivamente. O maior percentual de ovos de Ancylostoma spp.
24
foi também verificado por Moro e outros (2008), que encontraram em amostras fecais de cães
nos municípios de Itaqui e Uruguaiana, 44,45% de ovos de Ancylostoma spp. O encontro de
ovos de Toxocara spp. no presente estudo foi maior que o verificado por Moro e outros
(2008) que não encontraram ovos desse parasito.
Os resultados obtidos são inferiores aos registrados por Scaini e outros (2003), para o
Balneário Cassino, Rio Grande do Sul, que encontraram 71,3% das amostras fecais
contaminadas por Ancylostoma spp. No presente trabalho a contaminação em fezes frescas foi
maior que em fezes ressecadas. Segundo Ash e Orihel, citados por Katagiri e Sequeira (2007),
amostras velhas ou precariamente preservadas são causas comuns de erros diagnósticos, o que
pode justificar a maior positividade no trabalho de Sacini (2003), no qual só foram utilizadas
fezes frescas, ovos de Toxocara spp. foram encontrados em 9,3% das amostras, este resultado
se assemelha ao encontrado no presente trabalho.
Araújo (2006), pesquisando helmintoses intestinais em cães na microrregião de
Viçosa, encontrou o resultados que se assemelham aos encontrados nos municípios de São
Joaquim de Bicas e Igarapé em relação a contaminação por Ancylostoma spp. e Toxocara spp.
sendo os mais difundidos, 18,5% para Ancylostoma spp., 9,4% para Toxocara spp., 0,68%
para Dipylidium spp., 0,41% para Trichuris spp., 4,77% para Ancylostoma spp. e Toxocara
spp., 0,55% para Ancylostoma spp. e Trichuris spp., 0,27% para Ancylostoma spp. e
Dipylidium spp, 0,14% para Toxocara spp. e Dipylidium spp. e 0,14% para Toxocara spp. e
Trichuris spp. No presente trabalho não foram encontradas as associações entre os parasitos
Toxocara spp. e Dipylidium spp, e Toxocara spp. e Trichuris spp.
Tanto no trabalho de Scaini e outros (2003), quanto Araújo (2006) e Moro e outros
(2008), foi utilizado somente o método de Willis para processamento das amostras,
semelhante ao usado neste trabalho.
No estudo de Araújo e outros (1999), onde foi pesquisada a contaminação de praças
públicas em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, foi encontrado 56,8% de positividade para
Ancylostoma spp. e 10,8% para Toxocara spp., resultado maior que o encontrado neste
trabalho. Neste caso as amostras foram processadas no mesmo dia da coleta, pelas técnicas de
flutuação em solução saturada de açúcar e sedimentação simples, o que pode ter corroborado
para a visualização de um número maior de ovos de helmintos,uma vez que métodos de
sedimentação são mais eficazes em relação aos de flutuação, mesmo para ovos de
nematódeos, e principalmente para ovos mais pesados (ARAÚJO, 2006).
25
Figura 2 – Ovos de Ancylostoma spp. encontrados nas amostras de fezes de cães
coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no
período de julho de 2012 à abril de 2013.
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 3 – Ovos de Toxocara spp. encontrados em nas amostras de fezes de cães
coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no
período de julho de 2012 à abril de 2013.
Fonte: Dados da pesquisa
Segundo Rey, citado por Moro e outros (2008), Toxocara spp. é encontrado
parasitando cães jovens, mais comumente. Contudo, com a metodologia utilizada nesta
26
pesquisa não foi possível apurar dados como idade dos animais, podendo ser uma justificativa
para a baixa incidência de Toxocara spp. quando comparados à outros trabalhos.
Os resultados obtidos para Dipylidium spp. (Figura 4), podem estar abaixo do real,
uma vez que o método utilizado não é ideal para ovos pesados como o deste parasito, além do
que, proglotes são mais comumente encontradas nas fezes do que ovos (ARAÚJO, 2006).
Em Halifax, Canadá, foram pesquisadas fezes de 474 cães vadios para ovos de
Toxocara spp., encontrando a presença dos mesmos em 26,6% dos animais, sendo que a
prevalência foi notavelmente maior em filhotes (56,1%) que em adultos (11,9%) sugerindo
que os filhotes desempenham papel de maior importância na transmissão de Toxocara spp.
para os seres humanos, o que pode ser explicado pela existência de transmissão
transplacentária e transmamária da infecção, e desenvolvimento de imunidade nos cães
adultos ao estádio adulto do helminto (CHIEFFI; MÜLLER, 1976; EMBIL 1988;
BOWMAN, 2006).
Foram construídas tabelas de contingência e as frequências foram comparadas pelo
teste qui-quadrado ao nível de probabilidade de 0,05. Nos resultados demonstrados nas
Tabelas 3 e 4, que comparam a contaminação entre amostras coletadas nas ruas e nos quintais
dos domicílios, não houve diferença significativa, o que pode ser explicado pelo fato de que a
grande maioria da população canina domiciliada das regiões estudadas tem livre acesso à rua,
não realizam exames coproparasitológicos, e quando são vermifugados, pode não ser de
forma adequada (SAMPAIO, 2010).
O percentual de Trichuris spp. (Figura 5) encontrado esteve abaixo do encontrado por
Labruna (2006), que estudou somente cães que tinham proprietários, no entanto, achados de
necropsia, geralmente de cães errantes, mostraram frequências superiores como diz Freitas
citado por Labruna (2006).
A população de risco é constituída por crianças em idade escolar, que tem maior
contato com animais parasitados e com solo contaminado pelas fezes dos mesmo, o que
condiz com a população residente no local estudado (ARAUJO; RODRIGUES, 2008).
A contaminação do solo é um fator estudado pela maioria do autores, e de grande
importância já que consite em um reservatório a longo prazo de infecção por Toxocara spp. e
Ancylostoma spp. Além do que a convivência direta com cães não é indispensável para
adquirir a infecção, basta o contato com solo contaminado com fezes de cães parasitados.
Claramente a contaminação do solo com ovos de helmintos é comum e generalizada, como
encontrada nos trabalhos de Chieffi e Müller (1976) e Costa-cruz, Paim e Alencar Filho
(1994), assim como em Santarém, Giuffrida e Zanin (2004) e Capuano e Rocha (2005). No
27
entanto, é um trabalho intensivo, onde uma ampla amostragem deve ser examinada para
determinar com precisão a presença de ovos de helmintos (KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007.
PAPINI, 2012)
Figura 4 – Cápsulas ovígeras de Dipylidium spp. encontradas nas amostras de fezes
de cães coletadas em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e
Igarapé no período de julho de 2012 à abril de 2013.
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 5 – Ovos de Trichuris spp. encontrados nas amostras de fezes de cães coletadas
em ruas e quintais nos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé no período de
julho de 2012 à abril de 2013.
Fonte: Dados da pesquisa
A pesquisa da soroprevalência para anticorpos para Toxocara spp. e Ancylostoma spp.
foi feita por vários autores, e é também uma ferramenta importante para diagnóstico de
28
incidência da contaminação por estes parasitos em determinados locais. Agudelo e outros
(1990) encontraram 47,50% de sorologias positivas em humanos, indicando como fatores que
possam explicar a alta prevalência da infecção, a pobreza, más condições de saúde, exposição
contínua ao agente, higiene pessoal precária e cães vadios andando livremente. Gillespie
citado por Jarosz (2010), encontrou anticorpos para Toxocara spp. em 3-7% de humanos
adultos e em 15-23% das crianças, enquanto Magnaval, também citado por Jarosz (2010),
encontrou soroprevalência de 92,8% entre indivíduos com idades superiores a 15 anos. Junior
e outros (2003) verificaram a soropositividade para antígenos de T. canis em crianças de
classes sociais diferentes em Brasília, e encontraram 21,8% de positivos entre crianças de
baixo nível sócioeconômico, e apenas 3% em crianças pertencentes a estrato de nível
socioeconômico diferenciado. O que eleva ainda mais o conceito de problema de saúde
pública das zoonoses parasitárias caninas.
Exames sorológicos não foram realizados, porém, são também outra ferramenta
importante para que haja diagnóstico e controle das helmintoses intestinais que são zoonoses.
Oocistos de Isospora spp. (Figura 6) também foram encontrados. Conforme Hendrix
(2006) o oocisto constitui o estádio diagnóstico observado em flutuação fecal de fezes frescas,
sendo assim o número de amostras positivas para o protozoário pode estar subestimado pela
presença de amostras ressecadas. Porém, Blazius e outros (2005), encontraram 6,3% de
contaminação de Isospora spp. em Itapema, Santa Catarina, utilizando o método de
sedimentação espontânea.
As diferenças encontradas nestes estudos podem ter ocorrido devido às diversas
metodologias empregadas ou mesmo podem refletir as diferenças entre os números de cães
vadios entre as localidades.
Figura 6 – Oocistos de Isospora spp. encontrados na pesquisa.
Fonte: Dados da pesquisa
29
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados obtidos por este estudo, pode-se concluir que a infecção
helmíntica intestinal de cães presentes nos bairros estudados nas cidades de São Joaquim de
Bicas e Igarapé é alta, aumentando assim os riscos de contaminação humana e canina por
agentes zoonóticos como Ancylostoma spp. e Toxocara spp., parasitos mais prevalentes no
presente estudo. A principal via de infecção tanto para o homem como para os animais ocorre
principalmente pela contaminação ambiental, e os cães desempenham um importante papel
como fonte dessa contaminação.
O exame de fezes é indispensável para que se possa realizar o tratamento correto,
evitando assim resistência dos parasitos aos anti-helmínticos, logo, o papel exercido pelo
médico veterinário ganha maior importância quanto a conscientização da população em
relação às verminoses transmitidas pelos animais de companhia, o seu tratamento, e
principalmente sua profilaxia.
É necessária a incorporação de serviços de saúde pública que minimizem a
contaminação ambiental com ovos de parasitos que afetam os seres humanos, assim como a
ampliação dos serviços de controle de zoonoses para que haja vermifugação dos cães e gatos
nas comunidades.
30
REFERÊNCIAS
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33
35
1
ANEXO 1 – ARTIGO
2
3
Presença de ovos de helmintos em fezes de cães, recolhidas em ruas e quintais, dos
4
municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé, Minas Gerais, no período de julho de
5
2012 a abril de 2013.
6
Streets and in backyards, in the cities of
7
São Joaquim de Bicas and Igarapé, Minas Gerais, from july 2012 to april 2013.
8
9
Jaqueline Rodrigues Santos¹; Maria Cristina de Andrade¹; Vitor Márcio Ribeiro²
10
11
¹ Graduando do Curso de Medicina Veterinária da PUC Minas Betim
12
² Professor do Departamento de Medicina Veterinária da PUC Minas, Rua do Rosário 1.081,
13
Bairro Angola, CEP 32.630-000, Betim, Minas Gerais, Brasil, [email protected].
14
15
RESUMO: Com o objetivo de verificar a contaminação por ovos de helmintos em fezes de
16
cães de alguns bairros das cidades de Igarapé e São Joaquim de Bicas, foram coletadas 217
17
amostras fecais no período de julho de 2012 a abril de 2013, sendo 168 dispersas no ambiente
18
e 49 nos quintais das casas. Desse total, 132 amostras eram fezes frescas e 85 ressecadas. As
19
amostras foram analisadas através do Método de Willis e apresentaram os seguintes
20
resultados: 133 estavam infectadas com pelo menos um gênero de helminto; 93 tinham
21
monoinfecções e nelas foram encontrados ovos de Ancylostoma spp. em 82%, Toxocara spp.
22
em 15%, e Trichuris vulpis em 3%. Infecções mistas por dois, três ou quatro gêneros de
23
helmintos foram observadas em 40 amostras, com associações entre Ancylostoma spp. e
24
Toxocara spp. 32,5%, Ancylostoma spp. e D. caninum 25%, Ancylostoma spp. e T. vulpis
25
22,5%, Ancylostoma spp., Toxocara spp. e T. vulpis 5%; Ancylostoma spp., D. caninum e T.
26
vulpis 2,5%; Ancylostoma sp., Toxocara spp. e D. caninum 2,5 % e Ancylostoma spp.,
27
Toxocara spp., D. caninum e T. vulpis 2,5%. Infecções mistas com protozoários intestinais
28
também foram encontradas em alguns cães com ovos de Ancylostoma spp. e oocistos de
29
Isospora spp. em 2,5%; Ancylostoma spp., T. vulpis e Isospora em 2,5% e Ancylostoma spp.,
30
D. caninum, T. vulpis e Isospora em 2,5%. Fezes frescas foram mais infectadas, com 74% de
31
resultados positivos, enquanto as ressecadas apresentaram 41% de positividade, assim como
32
as recolhidas das ruas, com 70% em relação às recolhidas nos quintais, com 59%.
33
34
Palavras-chave: Helmintos. Cães. Zoonose. Toxocara spp. Ancylostoma spp.
36
35
ABSTRACT: Aiming to investigate the contamination by helminth eggs in feces of dogs in
36
some neighborhoods of the cities of São Joaquim de Bicas and Igarapé, 217 fecal samples
37
were collected from July 2012 to April 2013, 168 being released in the streets and 49 in the
38
backyards of homes. Of this total, 132 were fresh fecal samples and 85 were dried. The
39
samples were analyzed by the method of Willis and showed the following results: 133 were
40
infected with at least one kind of helminth; 93 samples had monoinfections and in these
41
samples were found eggs of Ancylostoma spp. 82%, Toxocara spp. in 15%, and Trichuris
42
vulpis in 3%. Mixed infections with two, three or four kinds of helminths were observed in 40
43
samples, with associations with one another Ancylostoma spp. and Toxocara spp. 32,5%,
44
Ancylostoma spp. and D. caninum 25%, Ancylostoma spp. and T. vulpis 22,5%, Ancylostoma
45
spp., Toxocara spp. and T. vulpis 5%; Ancylostoma spp., D. caninum and T. vulpis 2,5%;
46
Ancylostoma spp., Toxocara spp. and D. caninum 2,5% and Ancylostoma spp., Toxocara
47
spp., D. caninum and T. vulpis 2,5%. Mixed infections with intestinal protozoa were also
48
found in some dogs with eggs of Ancylostoma spp. and oocysts of Isospora spp. in 2,5%;
49
Ancylostoma spp. and T.vulpis and Isospora spp. in 2,5% and Ancylostoma spp., D. caninum,
50
T. vulpis and Isospora spp. in 2,5%. Fresh feces were the most infected, with 74% of positive
51
results, while the dried ones showed 41% of positivity, as well as collected from the streets,
52
with 70% in relation to the collected in the backyards, with 59% of positive infection results.
53
54
Keywords: Helminths. Dogs. Zoonosis. Toxocara spp. Ancylostoma spp.
55
56
INTRODUÇÃO
57
O acompanhamento das verminoses em animais de estimação, principalmente em
58
cães, tem grande importância não somente pela saúde do animal, mas também pelo fato de
59
que algumas contaminam o homem, sendo caracterizadas como zoonoses. Entre elas,
60
destacam-se a larva migrans visceral e larva migrans cutânea, causadas por larvas de
61
Toxocara spp. e Ancylostoma spp., quando atingem os órgãos e pele do homem,
62
respectivamente (FARIAS; CHRISTOVÃO; STOBBE, 1995).
63
O conhecimento mais acurado sobre a epidemiologia e a profilaxia desses parasitos,
64
suas incidências e prevalências, são fundamentais para a adoção de medidas profiláticas
65
adequadas para a proteção humana (OGASSAWARA apud SANTOS; CASTRO, 2006).
66
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo determinar o nível de
67
contaminação por ovos de helmintos em fezes de cães dispersas em ruas e quintais dos
37
68
municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé, Minas Gerais, no período de julho de 2012 a
69
abril de 2013.
70
71
REVISÃO DE LITERATURA
72
73
Os cães desempenham o papel de hospedeiro definitivo para algumas espécies de
74
helmintos que podem causar enfermidades importantes para o homem. O crescente número de
75
cães domiciliados, peridomiciliados e errantes, em todo o Brasil, associado ao fácil acesso
76
destes animais a locais de lazer, aumenta o risco da infecção humana, especialmente para as
77
crianças (SCAINI, 2003).
78
Portanto, a contaminação do solo por fezes, de áreas urbanas e rurais, como parques e
79
praças, representa a principal via de transmissão desses agentes aos seres humanos
80
(SCHANTZ apud SANTARÉM; GIUFFRIDA; ZANIN, 2004; CAPUANO; ROCHA, 2005).
81
Essa contaminação ambiental por fezes de cães varia conforme a população de animais
82
existentes em cada região, a prevalência da infecção e condições climáticas favoráveis,
83
necessárias para que ovos e larvas permaneçam infectantes.
84
No caso de Ancylostoma spp., áreas não pavimentadas são mais favoráveis a
85
contaminação pelo parasito, pois as fezes se misturam ao solo, além de fornecerem condições
86
para o desenvolvimento das larvas, principalmente se o solo for arenoso, de textura porosa e
87
bem drenado. Em diferentes localidades no Brasil foram registradas elevadas taxas de
88
contaminação ambiental por ovos e larvas de Ancylostoma spp. em locais públicos e de
89
recreação infantil como pesquisado por Araújo e outros (1999), Santarém, Giuffrida e Zanin
90
(2004) e Moro e outros (2008) (BOWMAN, 2006).
91
92
Ramírez-Barrios, citado por Katagiri e Sequeira (2007), fala que infecções parasitárias
acometem cães de todas as idades, mas usualmente são mais prevalentes em filhotes.
93
Para Ancylostoma spp., como os animais permanecem susceptíveis às infecções ao
94
longo de toda a vida, pode-se dizer que toda a população de cães contribui de forma contínua
95
para a contaminação ambiental. (KALKOFEN apud KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007;
96
LABRUNA, 2006).
97
No ambiente são necessários de dois a oito dias para que os ovos de ancilostomídeos
98
se desenvolvam até a fase de larva infectante de terceiro estágio, assim como temperaturas
99
entre 23 e 30°C, e substrato moderadamente úmido e bem arejado (BOWMAN, 2006).
38
100
Para Capuano e Rocha (2005), a prevalência de contaminação ambiental pode ser
101
menor em locais onde os habitantes tenham melhor nível socioeconômico e cultural, pois isso
102
facilita a assistência veterinária e tratamentos anti-helmínticos rotineiros nos animais.
103
Numerosos estudos realizados em várias partes do mundo indicam que os ovos de
104
Toxocara spp. podem ser encontrados nos solos em todas as latitudes geográficas, em países
105
ricos e pobres, já que a maioria dos cães e gatos são infectados com o nematoide no início de
106
suas vidas (JAROSZ, 2010).
107
Em Dipylidium spp., os cisticercoides, provenientes das cápsulas ovígeras eliminadas
108
no ambiente, desenvolvem-se em pulgas (Ctenocephalides spp.) e piolhos mastigadores
109
(Trichodectes canis), e o cão, como também as crianças, podem infectar-se quando ingerem
110
esses insetos contendo o cisticercoide. Assim, como o potencial de transmissão entre os cães
111
é em função da presença de pulgas e piolhos mastigadores, é também necessário o seu
112
controle (BOWMAN, 2006; KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007).
113
Quanto a Trichuris spp., os ovos infectantes são muito resistentes, segundo Freitas,
114
citado por Labruna (2006), há relatos de sobrevivência destes ovos por até seis anos. Dentro
115
do ovo, a larva de primeiro estágio infectante se desenvolve em aproximadamente um mês,
116
mas só eclode quando ingerida por um hospedeiro adequado, no caso o cão ou o gato.
117
Animais que convivem em ambientes contaminados tendem a se reinfectar, mesmo após
118
tratamento. A higiene do ambiente é muito importante assim como o tratamento anti-
119
helmíntico (MUNDIN, 2004; BOWMAN, 2006).
120
Isospora spp. é um protozoário patogênico que pode ser transmitido dos animais
121
domésticos para o homem, através da água e alimentos contaminados com os oocistos, a
122
forma infectante do parasita. A infecção nos animais produz diarreia abundante e aquosa e
123
pode persistir por várias semanas, já a infecção no homem causa desconforto e diarreia
124
crônica (BOWMAN, 2006; CAPUANO; ROCHA; 2006).
125
Várias pesquisas foram realizadas no Brasil e no mundo com o intuito de diagnosticar
126
contaminação do solo por helmintos com potencial zoonótico. Dentre os vários helmintos
127
encontrados destacaram-se A. caninum e T. canis, por serem os mais frequentes e encontrados
128
tanto nas fezes dos cães, como em areias ou terras examinadas. No Brasil, Araújo e outros
129
(1999) observaram acontaminação de praças públicas no Campo Grande, Mato Grosso do Sul,
130
por ovos de Toxocara spp. e Ancylostoma spp. encontrando uma contaminação de 10,8% e
131
56,8% respectivamente. Já Araújo, Rodrigues e Cury (2008) pesquisaram helmintos em
132
caixas de areia de creches em Uberlândia, Minas Gerais, e encontraram 61% de positividade
39
133
para larvas de helmintos e 50% para ovos (SANTARÉM; GIUFFRIDA; ZANIN, 2004;
134
ARAÚJO, 2006).
135
136
Toxocara spp.
137
138
Dubin, Segal e Martindale (1975), reportaram incidência de infecção por Toxocara
139
spp. em cães e gatos variando de 0 a 100%, dependendo de alguns fatores, como idade do
140
animal e o nível de sua imunidade (WODDRUFF, 1970).
141
A transmissão do Toxocara spp. pode ocorrer nos cães e gatos por quatro vias – oral,
142
transplacentária, lactogênica e através de hospedeiros paratênicos. Os ovos de T. canis são
143
eliminados junto às fezes, sendo as fêmeas muito fecundas, com vida útil de cerca de quatro
144
meses, produzindo mais de 100.000 ovos por dia. Os animais se infectam pela ingestão dos
145
ovos contendo larvas infectantes, L3. (WOODRUFF, 1970; RIBEIRO, 2004; PAPINI, 2012).
146
Os ovos são muito resistentes à agentes químicos e fatores climáticos, sobrevivem até
147
-25°C, são suscetíveis à temperatura de 40°C e dessecação. (BOWMAN, 2006; PAPIN, 2012)
148
O homem é um hospedeiro paratênico do parasito, e pode se infectar com ovos
149
contendo L3, presentes no solo e fezes de animais infectados. A migração das larvas de T.
150
canis em humanos pode resultar em três síndromes principais: larva migrans visceral,
151
toxocaríase assintomática, descrita em pacientes soropositivos para Toxocara spp., e larva
152
migrans ocular – LMO, que é provavelmente a infecção do olho humano por nematóide mais
153
comum (JAROSZ, 2010; OTRANTO; EBERHARD, 2011; PAPINI, 2012).
154
155
Larva migrans visceral (LMV)
156
157
A LMV resulta da permanência dentro do corpo humano da larva de T. canis e T. cati.
158
Quando o homem ingere ovos infecciosos de T. canis e T. cati, as larvas eclodem dos ovos no
159
ID, penetram na sua parede, e migram então para diversos sítios através da corrente
160
sanguínea. Já a larva do T. canis afeta órgãos tanto em cães quanto em homens, podendo
161
produzir granulomas no fígado, pulmões, cérebro e olhos, acarretando hepatomegalia,
162
anorexia, febre e sintomas
163
MARTINDALE, 1975; AGUDELO, 1990; JAROSZ, 2010).
pulmonares
(WOODRUFF, 1970;
DUBIN;
SEGAL;
164
A infecção humana pode ocorrer por ingestão de ovos nas fezes, no solo, ou em outros
165
materiais contaminados. A doença afeta principalmente crianças, geralmente menores de
166
quatro anos de idade. Exceto por eosinofilia persistente, os sinais são variáveis e muitas vezes
40
167
o diagnóstico é confuso. No Brasil, ensaios sorológicos realizados em vários municípios
168
demonstraram prevalência de 3 a 39% de infecção humana (BORG; WOODRUFF, 1973;
169
DUBIN; SEGAL; MARTINDALE, 1975; CAPUANO;
170
EBERHARD, 2011).
ROCHA, 2005; OTRANTO;
171
172
Ancylostoma spp.
173
174
O A. caninum tem sido encontrado em cães com maior frequência em diversos países
175
do mundo, sendo o parasito mais difundido, é mais patogênico, causando anemia hemorrágica
176
aguda ou crônica acompanhada de diarreia contendo sangue e muco. Enquanto A. brasiliense
177
é menos comum e menos patogênico, devido a sua menor voracidade na hematofagia
178
(BOWMAN, 2006; LABRUNA, 2006; KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007; PERUCA;
179
LANGONI; LUCHEIS, 2009).
180
Cães e gatos se infectam pelas vias oral, mais frequente, percutânea, transplacentária e
181
lactogênica. Os ovos são eliminados nas fezes cerca de duas semanas após a ingestão das
182
larvas, e um mês após a penetração pela pele. Algumas larvas ficam com desenvolvimento
183
inibido, e posteriormente são reativadas. Quando isso ocorre migram tanto para o ID, quanto
184
para a glândula mamária, por onde são eliminadas via leite (RIBEIRO, 2004; BOWMAN,
185
2006).
186
Animais jovens são mais frequentemente acometidos, sendo que o número de
187
ancilostomídeos responsáveis pela infecção depende da exposição às larvas infectantes, que
188
por sua vez depende da contaminação do ambiente. A resistência do hospedeiro tem haver
189
com sua capacidade de limitar o número de ancilostomídeos maduros no ID, o que é
190
influenciado pela idade, pré-munição e imunidade adquirida, e com a capacidade de
191
compensar a perda sanguínea causada pela infecção, que é influenciada pela capacidade
192
hematopoiética, estado nutricional e presença ou ausência de fatores de estresse (BOWMAN,
193
2006; KATAGIRI; SEQUEIRA, 2007).
194
195
Larva migrans cutânea (LMC)
196
197
A LMC, também chamada dermatite serpiginosa, é uma erupção linear, causada pela
198
migração da L3, entre a derme e epiderme, podendo causar lesões eritematosas e intensamente
199
pruriginosas. É causada mais comumente pelo A. brasiliense, porém, há casos esporádicos
41
200
com A. caninum, além de outros nematódeos (BOWMAN, 2006; MORO, 2008; PERUCA;
201
LANGONI; LUCHEIS, 2009).
202
Segundo vários autores, a LMC acomete pessoas em todo mundo, sem distinção de
203
raça, sexo ou idade, no entanto, crianças entre dois a cinco anos são mais acometidas por
204
estarem em maior contato com caixas de areia, centros de recreação, parques infantis de
205
escolas e praias contaminados por ovos e larvas de Ancylostoma spp. (COSTA-CRUZ;
206
NUNES; BUSO, 1994; FARIAS; CHRISTOVÃO; STOBBE, 1995; SCAINI, 2003; MORO,
207
2008; PERUCA; LANGONI; LUCHEIS, 2009).
208
209
MATERIAL E MÉTODOS
210
211
Foram pesquisadas 217 amostras de fezes coletadas nos municípios de São Joaquim de
212
Bicas e Igarapé, as quais foram processadas através do Método de Willis para visualização em
213
microscópio óptico dos ovos de helmintos contaminantes existentes na devida amostra.
214
A área de trabalho escolhida, foi determinada através do local de atuação do Programa
215
de Extensão “Saúde Animal como promoção de saúde humana em coletividades – ações de
216
controle de doenças em cães com ênfase em Leishmaniose Visceral Canina”, apelidado como
217
Projeto Chicão, do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de
218
Minas Gerais, localizada no município de Betim (PUC MINAS BETIM), Minas Gerais, do
219
qual o presente trabalho faz parte. Desta forma, foi seguido o trajeto de bairros e ruas
220
participantes do projeto, dos municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé. A infraestrutura
221
dos bairros visitados, concernentes à rede de esgoto e pavimentaçao das ruas é incompleta,
222
mas a iluminação é adequada. O acesso de automóvel às residências é, em geral, possível,
223
com exceção em dias de chuva, pela falta de pavimentação das ruas.
224
As amostras consistiram de fezes de cães, frescas ou ressecadas. As coletas foram
225
mensais e aleatórias, porém, seguiram o trajeto para visitação domiciliar e coleta de sangue e
226
vacinação dos domicílios envolvidos no Programa Chicão. Foram coletadas 217 amostras de
227
fezes, sendo 167 das ruas e 50 de quintais das casas.
228
229
O processamento das amostras foi realizado pelo método de flutuação, utilizando
solução saturada de cloreto de sódio, Método de Willis (ANEXO 4).
230
231
232
RESULTADOS E DISCUSSÃO
42
233
Das 217 amostras de fezes examinadas, 39% (84/217) foram negativas e
61%
234
(133/217) positivas para ovos de helmintos. Em 43% (93/217) das amostras constatou-se
235
apenas um gênero de parasito, constituindo as infecções simples, sendo 35% Ancylostoma
236
spp., 6,5% Toxocara spp., e 1,5% Trichuris spp. Enquanto em 18,5% (40/217) constatou-se
237
infecções mistas por dois, três ou quatro gêneros de helmintos, sendo 6% associações entre
238
Ancylostoma spp. e Toxocara spp., 4,5% entre Ancylostoma spp. e Dipylidium spp., 4% entre
239
Ancylostoma spp. e Trichuris spp., 0,5% entre Ancylostoma spp. e Isosopora spp., 1% entre
240
Ancylostoma spp., Toxocara. spp. e Trichuris spp., 0,5% entre Ancylostoma spp. Dipylidium
241
spp. e Trichuris spp., 0,5% entre Ancylostoma spp., Toxocara. spp. e Dipylidium spp., 0,5%
242
entre Ancylostoma spp., Trichuris spp. e Isospora, 0,5% entre Ancylostoma spp., Dipylidium
243
spp., Trichuris spp. e Isospora spp. e
244
Dipylidium spp. e Trichuris spp. (TAB.1)
0,5% entre Ancylostoma spp., Toxocara. spp.,
245
246
247
248
Tabela 1 - Ovos de helmintos (infecções isoladas e mistas) – Betim - julho de 2012 à abril
de de 2013
Helmintos
Exames
positivos
76
Ancylostoma spp.
14
Toxocara spp.
3
Trichuris spp.
13
Ancylostoma spp. + Toxacara spp.
10
Ancylostoma spp. + Dipylidium spp.
9
Ancylostoma spp. + Trichuris spp.
1
Ancylostoma spp. + Isospora spp.
1
Ancylostoma spp. + Toxocara spp. + Dipylidium spp.
2
Ancylostoma spp. + Toxocara spp. + Trichuris spp.
1
Ancylostoma spp. + Trichuris spp. + Isospora spp.
Ancylostoma spp. + Dipylidium spp. + Trichuris spp. 1
Ancylostoma spp. + Dipylidium spp.+ Toxocara. spp. 1
+ Trichuris spp
Ancylostoma spp. + Toxocara spp. + Trichuris spp + 1
Isospora spp.
133
Total de amostras positivas
84
Total de amostras negativas
217
Total de amostras
Prevalencia%
35,0 %
6,5 %
1,5 %
6,0 %
4,5 %
4,0 %
0,5 %
1,0 %
0,5 %
0,5 %
0,5 %
0,5 %
0,5 %
61,0 %
39,0 %
100,0 %
249
250
251
Houve maior prevalência de infecção por ovos de helmintos em fezes frescas, quando
252
comparadas às ressecadas, onde o percentual de positividade foi maior em fezes frescas, e o
253
percentual de negatividade foi maior em fezes ressecadas (TAB. 2). Naquelas amostras
43
254
coletadas nas ruas, relacionadas às coletadas nos quintais dos domicílios houve pequena
255
diferença quanto aos resultados, como mostram as Tabelas 3 e 4.
Tabela 2: Análise da positividade para ovos de helmintos entre amostras com aspecto
fresco ou ressecado.
256
Aspecto
das Fezes
Frescas
Ressecadas
257
Positivas para
ovos de
helmintos
98
35
%
74%
41%
Negativas para
ovos de
helmintos
34
50
%
Total
26%
59%
132
85
% da
amostra
total
100%
100%
p< 0,05
Fonte: Dados da pesquisa
258
259
260
261
Tabela 3: Amostras positivas e negativas para ovos de helmintos, coletadas em ruas de
São Joaquim de Bicas e Igarapé.
Cidade
Igarapé
São Joaquim de Bicas
262
Positivas
39
65
%
65%
60%
Negativas
21
43
%
35%
40%
Total
60
108
%
100%
100%
p> 0,05
Fonte: Dados da pesquisa
263
264
265
266
267
268
269
270
Tabela 4: Amostras positivas e negativas para ovos de helmintos, coletadas em quintais
de domicílios de São Joaquim de Bicas e Igarapé.
Cidade
Positivas
%
Negativas
%
Total
%
Igarapé
8
80%
2
20%
10
100%
São Joaquim de Bicas
21
54%
18
46%
39
100%
p> 0,05
Fonte: Dados da pesquisa
271
272
Os resultados obtidos demostram a elevada prevalência de infecção por Ancylostoma
273
spp. e Toxocara spp. em cães de alguns municípios de São Joaquim de Bicas e Igarapé, com
274
35% e 6,5% respectivamente.
44
275
Os resultados obtidos são inferiores aos registrados por Scaini e outros (2003), para o
276
Balneário Cassino, Rio Grande do Sul, que encontraram 71,3% das amostras fecais
277
contaminadas por Ancylostoma spp. No presente trabalho a contaminação em fezes frescas foi
278
maior que em fezes ressecadas. Segundo Ash e Orihel, citados por Katagiri e Sequeira (2007),
279
amostras velhas ou precariamente preservadas são causas comuns de erros diagnósticos, o que
280
pode justificar a maior positividade no trabalho de Sacini (2003), no qual só foram utilizadas
281
fezes frescas, ovos de Toxocara spp. foram encontrados em 9,3% das amostras, este resultado
282
se assemelha ao encontrado no presente trabalho.
283
Araújo (2006), pesquisando helmintoses intestinais em cães na microrregião de
284
Viçosa, encontrou o resultados que se assemelham aos encontrados nos municípios de São
285
Joaquim de Bicas e Igarapé com Ancylostoma spp. e Toxocara spp. sendo os mais difundidos,
286
18,5% para Ancylostoma spp., 9,4% para Toxocara spp., 0,68% para Dipylidium spp., 0,41%
287
para Trichuris spp., 4,77% para Ancylostoma spp. e Toxocara spp., 0,55% para Ancylostoma
288
spp. e Trichuris spp., 0,27% para Ancylostoma spp. e Dipylidium spp., 0,14% para Toxocara
289
spp. e Dipylidium spp. e 0,14% para Toxocara spp. e Trichuris spp. No presente trabalho não
290
foram encontradas as associações entre os parasitos Toxocara spp. e Dipylidium spp., e
291
Toxocara spp. e Trichuris spp.
292
Tanto no trabalho de Scaini e outros (2003), quanto de Araújo (2006) foi utilizado
293
somente o método de Willis para processamento das amostras, semelhante ao usado neste
294
trabalho.
295
No estudo de Araújo e outros (1999), onde foi pesquisada a contaminação de praças
296
públicas em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, foi encontrado 56,8% de positividade para
297
Ancylostoma spp. e 10,8% para Toxocara spp., resultado maior que o encontrado neste
298
trabalho. Neste caso as amostras foram processadas no mesmo dia da coleta, pelas técnicas de
299
flutuação em solução saturada de açúcar e sedimentação simples, o que pode ter corroborado
300
para a visualização de um número maior de ovos de helmintos,uma vez que métodos de
301
sedimentação são mais criteriosos em relação aos de flutuação, mesmo para ovos de
302
nematódeos (ARAÚJO, 2006).
303
Segundo Rey, citado por Moro e outros (2008), Toxocara spp. é encontrado
304
parasitando cães jovens, mais comumente. Contudo, com a metodologia utilizada nesta
305
pesquisa não foi possível apurar dados como idade dos animais, podendo ser uma justificativa
306
para a baixa incidência de Toxocara spp. quando comparados à outros trabalhos.
307
O percentual de Trichuris spp. encontrado esteve abaixo do encontrado por Labruna
308
(2006), que estudou somente cães que possuiam proprietários, no entanto, achados de
45
309
necropsia, geralmente de cães errantes, mostraram frequências superiores como diz Freitas
310
citado por Labruna (2006).
311
Os resultados obtidos para Dipylidium spp., podem estar abaixo do real, uma vez que o
312
método utilizado não é ideal para ovos pesados como o deste parasito, além do que, proglotes
313
são mais comumente encontradas nas fezes do que ovos (ARAÚJO, 2006).
314
Foram construídas tabelas de contingência e as frequências foram comparadas pelo
315
teste qui-quadrado ao nível de probabilidade de 0,05. Nos resultados demonstrados nas
316
Tabelas 3 e 4, que comparam a contaminação entre amostras coletadas nas ruas e nos quintais
317
dos domicílios, não houve diferença significativa, o que pode ser explicado pelo fato de que a
318
grande maioria da população canina domiciliada das regiões estudadas tem livre acesso à rua,
319
não realizam exames coproparasitológicos, e quando são vermifugados, pode não ser de
320
forma adequada (SAMPAIO, 2010).
321
A pesquisa da soroprevalência para anticorpos para Toxocara spp. e Ancylostoma spp.
322
foi feita por vários autores, e é também uma ferramenta importante para diagnóstico de
323
incidência da contaminação por estes parasitos em determinados locais. Junior e outros (2003)
324
verificaram a soropositividade para antígenos de Toxocara canis em crianças de classes
325
sociais diferentes em Brasília, e encontrou 21,8% de positivos entre crianças de baixo nível
326
sócioeconômico, e apenas 3% em crianças pertencentes a estrato de nível socioeconômico
327
diferenciado. O que eleva ainda mais o conceito de problema de saúde pública das zoonoses
328
parasitárias caninas.
329
Oocistos de Isospora spp. (Figura 6) foram encontrados. Conforme Hendrix (2006) o
330
oocisto constitui o estádio diagnóstico observado em flutuação fecal de fezes frescas, sendo
331
assim o número de amostras positivas para o protozoário pode estar subestimado pela
332
presença de amostras ressecadas. Porém, Blazius e outros (2005), encontraram 6,3% de
333
contaminação de Isospora spp. em Itapema, Santa Catarina, utilizando o método de
334
sedimentação espontânea.
335
As diferenças encontradas nestes estudos podem ter ocorrido devido às diversas
336
metodologias empregadas ou mesmo podem refletir as diferenças entre os números de cães
337
vadios entre as localidades.
338
339
CONSIDERAÇÕES FINAIS
340
341
Com base nos resultados obtidos por este estudo, pode-se concluir que a infecção
342
helmíntica intestinal de cães presentes nos bairros estudados nas cidades de São Joaquim de
46
343
Bicas e Igarapé é alta, aumentando assim os riscos de contaminação humana e canina por
344
agentes zoonóticos como Ancylostoma spp. e Toxocara spp., parasitos mais prevalentes no
345
presente estudo. A principal via de infecção tanto para o homem como para os animais ocorre
346
principalmente pela contaminação ambiental.
347
O exame de fezes é indispensável para que se possa realizar o tratamento correto,
348
evitando assim resistência dos parasitos aos anti-helmínticos, logo, o papel exercido pelo
349
médico veterinário ganha maior importância quanto a conscientização da população em
350
relação às verminoses transmitidas pelos animais de companhia, o seu tratamento, e
351
principalmente sua profilaxia.
352
É necessária a incorporação de serviços de saúde pública que minimizem a
353
contaminação ambiental com ovos de parasitos que afetam os seres humanos, assim como a
354
ampliação dos serviços de controle de zoonoses para que haja vermifugação dos cães e gatos
355
nas comunidades.
356
357
358
359
360
361
362
363
364
365
366
367
368
369
370
371
372
373
374
375
376
377
378
379
380
381
382
383
384
385
386
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223-226, 2005.
47
387
388
389
390
391
392
393
394
395
396
397
398
399
400
401
402
403
404
405
406
407
408
409
410
411
412
413
414
415
416
417
418
419
420
421
422
423
424
425
426
427
428
429
430
431
432
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435
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48
437
438
439
440
441
442
443
444
445
446
447
448
449
450
451
452
453
454
455
456
457
458
459
460
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1970.
50
ANEXO 2 – DOCUMENTAÇÃO CEUA
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Comissão de Ética no Uso de Animais – CEUA PUC Minas
Av. Dom José Gaspar, 500 – Prédio 3, sala 228 – Telefone: 3319-4517. Coração
Eucarístico Belo Horizonte -MG -CEP 30535-901 -e-mail: [email protected]
PARECER DA CEUA PUC MINAS
Projetos protocolos 0075-2011 e 0034-2012
Título do Projeto: Saúde animal como promoção de saúde humana em coletividades –
ações de controle de doenças em cães com ênfase em Leishmaniose Visceral Canina.
Responsável: Vitor Márcio Ribeiro
Origem do Projeto: Extensão Universitária
Curso de Medicina Veterinária – Unidade Betim
Parecer da CEUA PUC MINAS:
Este projeto é o mesmo projeto julgado em 2011 (protocolo 0075/2011) e que recebera
a condição de PENDENTE com diligências a serem respondidas à CEUA. Ele retornou em
julho de 2012 e foi encaminhado ao parecerista do primeiro julgamento. Neste intervalo o
pesquisador protocolou novo projeto com o mesmo nome, as diferenças entre eles foram
discutidas.
PARECER DO PROJETO 0075/2011-REPROVADO. As diligências apresentadas ao
projeto 0075/2011 não foram respondidas, ou seja, a condição de tratamento dos animais
positivos por Leishmaniose identificados no município.
PARECER DO PROJETO 034/12 -APROVADO com os condicionantes; deve o
pesquisador retirar do protocolo da pesquisa a informação de que o projeto anterior
(0075/2011) estava aprovado, notificar os animais positivos aos proprietários e aos órgãos
públicos responsáveis, Secretaria
Municipal de Saúde de São Joaquim de Bicas e Igarapé, considerando as
responsabilidades dos pesquisadores com a comunidade.
Observação: Os pesquisadores deverão responder as questões levantadas pela CEUA
PUC MINAS em prazo máximo de 60 dias a partir da expedição deste parecer.
Data da Reunião: 09 de novembro de 2012
Assinatura do (a) Presidente: COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS .
51
ANEXO 3
52
ANEXO 4 – DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE WILLIS
Método de Willis (Flutuação)
Indicação: caninos, felinos, bovinos, eqüinos e suínos.
Material:
- Fezes para análise
- Balança
- Bastão de vidro
- Copo descartável de 200 ml
-Lâmina
- Despertador
- Lamínula
- Solução saturada de NaCl
- Microscópio
- Frasco de boca larga de 30 ml de
- Proveta de 50 ml
capacidade
- Gaze
Procedimento:
Em um copo descartável, pesar 2 gramas de fezes e triturar com aproximadamente 10
ml de solução saturada. Após, adicionar mais 30 ml de solução saturada e coar as fezes
trituradas em outro copo descartável utilizando a gaze. Colocar a solução coada em um frasco
de boca larga e encher até a borda. Colocar a lâmina sobre a boca do frasco e deixar em
repouso por 15 minutos. Após o repouso, retirar a lâmina, tomar cuidado para a gota não cair
e cobrir com lamínula. Examinar no microscópio nas objetivas de 10X e 40X.
Download

CONTAMINAÇÃO DE RUAS E QUINTAIS DOS