Modelagem estatística da ocorrência de granizo no município de São Joaquim/SC Daniel Lima Miquelluti1 Vitor Augusto Ozaki2 David José Miquelluti3 1 Introdução São Joaquim é como uma das principais cidades brasileiras produtoras de maçã, sendo responsável por 19,8% da produção nacional. Entretanto sua excelência em produção é ameaçada anualmente devido à ocorrência de granizo. Este fenômeno afeta a qualidade dos frutos, causa a redução de produção na área atingida, podendo ainda provocar danos à estrutura e às gemas da árvore, o que leva a interrupção de produção por até duas safras. Considerando a importância da pomicultura e os prejuízos causados pelo granizo, faz-se necessário um estudo do comportamento deste fenômeno climático na região e o seu impacto na cultura e em sua cadeia de produção. No presente trabalho, ainda com dados preliminares, foi analisado o ajuste das distribuições de Poisson e binomial negativa a uma série de precipitações de granizo no período de 1993 a 2011 no município de São Joaquim, SC. 2 Material e Métodos Os dados mensais de precipitação de granizo no período de 1993 a 2011, registrados na estação meteorológica de São Joaquim, SC, situada a 28° 17' 38" de latitude Sul e a 49° 55' 54" de longitude Oeste, a 1353 metros de altitude, foram obtidos junto a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI). Segundo a classificação climática de Köppen o clima da região é do tipo Cfb, mesotérmico úmido, com precipitações abundantes e verão brando. As frequências mensais foram agrupadas em trimestres, considerando Janeiro/Fevereiro/Março (1º trimestre), Abril/Maio/Junho (2º trimestre), Julho/Agosto/Setembro (3º trimestre) e Outubro/Novembro/Dezembro (4º trimestre). Primeiramente foi efetuada uma análise exploratória da série e, a seguir, foram avaliados os ajustes das distribuições de Poisson e Binomial Negativa. 1 LCE – ESALQ/USP. e-mail: [email protected] LES – ESALQ/USP 3 DSRN – CAV/UDESC 2 1 Os parâmetros lambda para a distribuição Poisson e r (forma) e p (probabilidade de sucesso em cada ensaio de Bernoulli) para a distribuição binomial negativa foram estimados pelo método da máxima verossimilhança. A significância do ajuste foi testada a 5% utilizando-se o teste de Kolmogorov-Smirnov. Todas as estatísticas e testes foram realizados utilizando-se o software R (R Fundation for Statistical Computing, 2012). 3 Resultados e discussões As estatísticas descritivas da ocorrência de granizo referentes aos quatro trimestres podem ser visualizadas na Tabela 1. Observa-se que a distribuição da precipitação de granizo é bastante heterogênea entre os trimestres e possui alta dispersão, conforme se depreende ao se analisar os dados da média e desvio padrão. Apresenta maior incidência no quarto trimestre (predominantemente na primavera) e a menor incidência no segundo trimestre (predominância do outono). Estes resultados concordam com aqueles observados por Berlato et al. (2000) no estado do Rio Grande do Sul, mas discordam daqueles encontrados por Cardoso et al. (2004) em Pelotas, RS, que observaram maior incidência de granizo nos meses de julho, agosto e setembro. Este comportamento, em parte pode ser explicado, em se tratando de um estudo preliminar, pela pequena quantidade de anos avaliados, bem como pelas diferenças na distribuição espacial do fenômeno. Tabela 1 – Estatísticas descritivas das precipitações trimestrais de granizo em São Joaquim – SC – 1993-2011. Trimestres I II III IV Mínimo 0 0 0 0 Máximo 14 4 7 13 Média 2,68 0,74 2,47 5,42 Desvio padrão 3,50 1,19 2,38 3,85 Assimetria 1,87 1,41 0,54 0,87 Curtose 3,20 0,83 -1,16 -0,65 Total 51 14 47 103 Os valores estimados dos parâmetros lambda da distribuição de Poisson e r e p da distribuição binomial, utilizando-se o método da máxima verossimilhança, são apresentados na Tabela 2. Os maiores valores de lambda e de r foram observados no quarto trimestre e de p no segundo trimestre, enquanto os menores valores dos mesmos parâmetros foram verificados no segundo e no primeiro trimestre, respectivamente. 2 Tabela 2 - Parâmetros das distribuições binomial negativa e de Poisson estimados pelo método da máxima verossimilhança para a precipitação trimestral de granizo em São Joaquim, SC. Poisson Binomial Negativa Trimestre λ p r I II III IV 2,6842 0,7368 2,4737 5,4210 0,2556 0,4480 0,3947 0,4016 0,9214 0,5980 1,6130 3,6376 Em todos os trimestres, ambas as distribuições, proporcionaram bons ajustes às frequências observadas de ocorrência do fenômeno, conforme verificado pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, a 5% de significância (Tabela 3). Tabela 3 – Valores da estatística D do teste de Kolmogorov-Smirnov referentes ao ajuste das distribuições binomial negativa e de Poisson nos quatro trimestres avaliados. Poisson Binomial Negativa Trimestre D p-valor D p-valor I 0,2105 0,7937 0,0526 1,0000 II 0,1053 0,9999 0,1053 0,5262 III 0,2105 0,7937 0,1053 0,9999 IV 0,3158 0,2997 0,3684 0,1516 Embora as duas distribuições tenham se ajustado às frequências observadas de incidência de granizo, de acordo com o apontado pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, verifica-se através de uma inspeção visual da Figura 1 que o ajuste proporcionado pela distribuição Binomial Negativa parece aproximar-se melhor dos valores da distribuição empírica da incidência de granizo. Berlato et al. (2000) compararam os ajustes proporcionados pelas distribuições de Poisson e binomial negativa a dados de incidência de granizo obtidos em 37 estações meteorológicas num período de 53 anos no estado do Rio Grande do Sul e verificaram que, em média, 80% das estações tiveram seus dados sazonais ajustados pela distribuição de Poisson. 3 Figura 1 – Distribuições Empíricas e ajustadas (Poisson e Binomial Negativa) para a ocorrência de granizo por trimestre. F.D. Empírica e F.D. Binomial Negativa (Trim 2) 0.85 0.65 0.75 P(X<x) 0.7 0.5 0.3 P(X<x) 0.9 0.95 F.D. Empírica e F.D. Binomial Negativa (Trim 1) 0 2 4 6 8 10 12 14 0 1 2 3 4 Granizo F.D. Empírica e F.D. Binomial Negativa (Trim 3) F.D. Empírica e F.D. Binomial Negativa (Trim 4) 0.6 0.2 0.0 0.2 1 2 3 4 5 6 7 0 2 4 6 8 10 12 Granizo Granizo F.D. Empírica e F.D. Poisson (Trim 1) F.D. Empírica e F.D. Poisson (Trim 2) 0.7 0.5 P(X<x) 0.9 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 0 2 4 6 8 10 12 14 0 1 2 3 4 Granizo F.D. Empírica e F.D. Poisson (Trim 3) F.D. Empírica e F.D. Poisson (Trim 4) P(X<x) 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 Granizo 0 1 2 3 4 5 6 7 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 P(X<x) 0 P(X<x) 0.4 P(X<x) 0.6 0.4 P(X<x) 0.8 0.8 1.0 Granizo 0 Granizo 2 4 6 Granizo 4 8 10 12 4 Conclusões A maior incidência de granizo foi verificada no quarto trimestre, correspondendo predominantemente à primavera enquanto o período de menor incidência foi o segundo semestre, ou seja, no outono. Isto é confirmado pelos valores de lambda e r calculados para as distribuições Poisson e Binomial Negativa respectivamente. As funções de distribuição de probabilidades Poisson e Binomial Negativa proporcionaram bons ajustes à distribuição empírica, sendo que a distribuição Binomial Negativa parece fornecer valores mais próximos aos observados. 5 Referências [1] BERLATO, A. C.; MELO, R. W.; FONTANA, D. C. Risco de ocorrência de granizo no Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 8, n. 1, p. 121-132, 2000. [2] CARDOSO, N. K. R.; LIMA, F. U. F.; ASSIS, S. V. Análise da distribuição de Poisson para a ocorrência de granizo na região de Pelotas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1., 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004, p. 628-632. (CD-ROM). 5