Painéis de São Vicente de Fora, Visão Poética Esta curta-metragem foi realizada a convite da Fundação de Serralves, Porto, no âmbito das comemorações dos 20 anos da Fundação e dos 10 anos do Museu de Arte Contemporânea. Com o filme Painéis de São Vicente de Fora, Visão Poética, uma curta-metragem de 16 minutos, encomenda da Fundação de Serralves, que mostrou na secção paralela Horizontes do Festival de Veneza, Manoel de Oliveira faz uma reflexão sobre esta enigmática obra do século XV exposta no Museu Nacional de Arte Antiga. "A duração não é importante nos filmes. O importante é o argumento. Já cheguei a fazer filmes com mais de quatro horas, como Le Soulier de Satin. Nesta curta-metragem, que não é um documentário, dei importância à interpretação dos Painéis, encontrando inspiração na actual crise mundial e na crescente desumanização em que vivemos" declarou Manoel de Oliveira. Para Manoel de Oliveira, que foi apresentado por Marco Müller, o director do certame e aplaudido durante mais de dez minutos antes da projecção, "o grande mistério destes Painéis reside em não se saber ao certo quem são as personagens nele representadas, porque, se algumas são reconhecíveis, muitas outras não o são". A curta-metragem que Manoel de Oliveira dedica aos Painéis de São Vicente de Fora foi filmada no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Manoel de Oliveira constrói um quadro vivo, reunindo os actores que representam as figuras retratadas nos Painéis, na sala do Museu onde estes se encontram expostos. São Vicente, interpretado por Ricardo Trepa, e o infante D. Henrique, por Diogo Dória, "partilham de um mesmo desejo de justiça, fraternidade e paz entre os povos, fora de questões relacionadas com raça e religião". No final do filme, uma antiquíssima dança é interpretada pelos Pauliteiros de Miranda do Douro, um conhecido grupo de dança tradicional daquela região Nordeste de Portugal. Segundo Manoel de Oliveira, "os Painéis de São Vicente foram desde sempre reconhecidos como a mais importante representação da sociedade portuguesa da época, quando os navegadores portugueses viajavam pelos oceanos dos cinco continentes, desbravando o planeta e dando a conhecer novos lugares e povos". Num pequeno texto por si escrito sobre este filme, Manoel de Oliveira afirma: “Com os painéis de S. Vicente não se filmou um documentário. Filmou-se sim uma ficção onde se dá uma nova interpretação à configuração dos painéis, entre as mais existentes, inspirada pela crise actual e pela crescente desumanização que se espalha pela Europa e pelo Mundo. Enfim, trata-se de um apelo à paz, e ao regresso à tranquilidade mundial, após os Descobrimentos, que só começaram depois de pintado o políptico, deixando um conhecimento do universo, onde a Casa ou o habitat de todos nós humanos era ainda uma incógnita.”