0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Enfermagem Trabalho Acadêmico Importância das orientações no pré-natal: conhecendo a visão das puérperas Josiele Zorzolli Bretanha Ribeiro Pelotas, 2011 1 JOSIELE ZORZOLLI BRETANHA RIBEIRO IMPORTÂNCIA DAS ORIENTAÇÕES NO PRÉ-NATAL: CONHECENDO A VISÃO DAS PUÉRPERAS Trabalho acadêmico apresentado à Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção de título de Bacharel em Enfermagem. Orientadora: Enfª Ms Tatiane Machado da Silva Soares Co-Orientadora: Enfª Esp Sueine Valadão da Rosa Pelotas, 2011 2 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus pelas oportunidades que me foram dadas e por sempre estar ao meu lado, guiando-me para o caminho correto. Aos meus pais, João e Eloá, pelo amor e dedicação em todos os momentos de minha vida; sou grata por tudo, sou o que sou graças a vocês. Amo-os. Ao meu namorado, Maurício, obrigada por estar sempre ao meu lado dando força, carinho e incentivo; és muito importante em minha vida. A minha orientadora, Tatiane, que não faltou esforços e dedicação para me ajudar a estar aqui hoje; obrigada por tudo! As minhas amigas, Daiane, Daniela, Fernanda, Natália e Raquel, obrigada pela companhia, pela amizade e pelos momentos de descontrações. Adorei conhecer vocês. Aos meus colegas, obrigada pela troca de experiências, desejo a todos muito sucesso em seus caminhos. Aos professores e enfermeiros, obrigada pela sabedoria e experiências compartilhadas em minha trajetória acadêmica, levarei seus ensinamento para minha profissão. Por fim, agradeço a todos que participaram de minha jornada, que me apoiaram e incentivaram a alcançar esta conquista. 3 RESUMO RIBEIRO, Josiele Zorzolli Bretanha. Importância das orientações no pré-natal: conhecendo a visão das puérperas. 2011. 54f. Trabalho acadêmico – Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. O pré-natal prepara a mulher para gestação, parto e puerpério saudáveis; as orientações devem fazer parte dessa assistência. O presente estudo tem por objetivo principal conhecer, junto às puérperas, a importância das orientações recebidas no pré-natal para a vivência da gestação e do puerpério. Desenvolvido através da abordagem qualitativa, descritiva e exploratória, com dez puérperas que estavam internadas em uma unidade obstétrica de uma instituição hospitalar de ensino localizada em uma cidade da região sul do Rio Grande do Sul. A coleta de dados ocorreu nos meses de setembro e outubro de 2011, utilizou-se como instrumento a entrevista semi-estruturada, gravadas e transcritas a seguir. A análise dos dados resulta em três temas: Percepção das puérperas a respeito das orientações recebidas no pré-natal, Identificando as necessidades e carências do pré-natal e Importância do profissional no pré-natal. Os resultados obtidos nos trazem dúvidas se as mulheres foram mesmo orientadas durante seus pré-natais ou não se lembram das orientações que receberam; o que mostra uma falha de como as informações são transmitidas. Notaram-se necessidades e carências na assistência oferecidas a essas mulheres; assim como a ausência da enfermagem na atenção pré-natal das puérperas estudadas. Acredita-se na importância do profissional junto a essas gestantes, em especial o enfermeiro, a fim de orientá-las e ajudá-las a vivenciar uma gestação saudável. Palavras-chave: Pré-natal, Orientações, Puérperas. 4 Sumário 1 Introdução ............................................................................................................... 5 2 Objetivos ................................................................................................................. 8 2.1 Objetivo Geral ....................................................................................................... 8 2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................ 8 3 Revisão de Literatura ............................................................................................. 9 3.1 Gestação, Parto e Puerpério ................................................................................. 9 3.2 Pré-Natal ............................................................................................................ 14 3.2.1 Orientações no Pré-Natal ................................................................................. 16 3.2.2 Enfermagem no Pré-Natal ................................................................................ 20 4 Metodologia .......................................................................................................... 23 4.1 Caracterização da Pesquisa................................................................................ 23 4.2 Local da Pesquisa ............................................................................................... 24 4.3 Sujeitos da Pesquisa ........................................................................................... 24 4.4 Critérios para a seleção dos sujeitos................................................................... 24 4.5 Princípios Éticos .................................................................................................. 24 4.6 Procedimentos para a Coleta de Dados .............................................................. 25 4.7 Análise dos Dados .............................................................................................. 26 5 Apresentação, análise e discussão dos dados ................................................. 27 5.1 Apresentação das puérperas do estudo .............................................................. 27 5.2 Análise e discussão dos dados ........................................................................... 29 5.2.1 Percepção das puérperas a respeito das orientações recebidas no pré-natal . 29 5.2.2 Identificando as necessidades e carências do pré-natal .................................. 34 5.2.3 Importância do profissional no pré-natal .......................................................... 38 6 Considerações Finais .......................................................................................... 41 Referências .............................................................................................................. 43 Apêndices ................................................................................................................ 47 Anexos ..................................................................................................................... 52 5 1 Introdução A gestação, o parto e o puerpério representam uma experiência humana das mais significativas para todos que dela participam. São eventos sociais que integram a vivência reprodutiva de homens e mulheres, isto é, uma experiência especial no universo da mulher e de seu parceiro, envolvendo também suas famílias (BRASIL, 2001). São períodos de mudanças físicas e emocionais, que cada gestante vivencia de diferente forma. Essas transformações podem gerar medos, dúvidas, angústias, fantasias ou simplesmente a curiosidade de saber o que acontece no interior de seu corpo (BRASIL, 2000a). Sob essa ótica, a atenção pré-natal tem como seu principal objetivo o acolhimento dessa mulher desde o início da gravidez assegurando que, no fim da gestação, ocorra o nascimento de uma criança saudável e, assim, garanta o bemestar materno e neonatal. Para que essa atenção seja qualificada e humanizada deve-se incorporar condutas acolhedoras, não realizar intervenções desnecessárias e que haja fácil acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações que integrem todos os níveis da atenção: promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do recém nascido, desde o atendimento ambulatorial básico ao atendimento hospitalar para alto risco (BRASIL, 2006). Conforme Brasil (2006), o Ministério da Saúde prevê que uma atenção prénatal deve ser realizada captando a gestante precocemente, com a realização de, no mínimo, seis consultas de pré-natal, devem ser desenvolvidas atividades e procedimentos como a escuta ativa da mulher e de seus acompanhantes, atividades educativas em grupo ou individualmente, anamnese e exame clínico-obstétrico, exames laboratoriais, imunização, prevenção e tratamento de intercorrências na gestação, a classificação de risco gestacional e a garantia de vinculo e acesso a serviços de referência (BRASIL, 2006). 6 A identificação dos fatores de risco gestacional gera um controle ao longo de toda a gestação, levando ao diagnóstico precoce de complicações (SANTOS NETO et al., 2000). Assim, o acompanhamento pré-natal da gestante de baixo risco será diferente daquela de alto risco, seja em objetivos, conteúdos, número de consultas pré-natais e tipo de equipe que presta a assistência (BRASIL, 2000b). Segundo Brasil (2002) o pré-natal de baixo risco pode ser realizado inteiramente por enfermeiro, mas cabe também a ele orientar todas as gestantes e suas famílias, assim como oferecer atividades em grupos para elas. O enfermeiro deve estar sempre atento ao que a gestante lhe traz, seus medos e dúvidas; a atuação no pré-natal deve dar especial atenção aos órgãos dos sentidos como um dos instrumentos utilizados na prestação de um cuidado sensível, facilitador da aproximação entre o cuidador e o cliente (DUARTE e ANDRADE, 2006). De acordo com Rios e Vieira (2007), o período pré-natal é uma época de preparação física e psicológica para o parto e para a maternidade e, como tal, é um momento de intenso aprendizado e uma oportunidade para os profissionais da equipe de saúde desenvolverem a educação como dimensão do processo de cuidar. As atividades educativas oferecidas no pré-natal podem ser realizadas individualmente ou em grupos; as atividades em grupos têm suas vantagens: os membros estão acostumados com os encontros regulares e sentem-se a vontade uns com os outros, suas experiências são compartilhadas, o que pode ajudar na aquisição de novos comportamentos de saúde (LOWDERMILK, PERRY e BOBAK, 2002). No entanto, algumas mulheres preferem sanar suas dúvidas, desmistificar seus mitos e contar suas vivências de forma preservada, ou seja, apenas ela e o profissional. Assim, a educação em saúde deve existir tanto em grupo quanto individualmente. Todo profissional da saúde que se sente preparado para realizar o trabalho educativo deve participar; quanto mais variada for a aprendizagem e a troca de experiência, melhor será a vivência da mulher. Autores como Feliciano e Kovacs (2002), Caldeira, Oliveira e Rodrigues (2010) e Cruz et al. (2010), trazem que não são todas as gestantes que recebem orientações durante o pré-natal; e que, muitas vezes, orientações importantes não são dadas, como por exemplo, sobre sintomas da gestação, modificações e cuidados com o próprio corpo, prevenção de doenças, preparação para o parto, 7 cuidados com o recém nascido, aleitamento, puerpério, entre outras, sendo que o aleitamento materno é a orientação mais recebida entre as gestantes. Landerdahl et al. (2007) refere que mesmo a gestante admitindo vivências de gestações anteriores ela necessita de aprendizado e cuidado específico, uma que a gravidez é singular. A literatura nos mostra a importância que a atenção pré-natal tem no período gestacional e puerperal. Mostra também, que as orientações oferecidas nesse atendimento são fundamentais para a vivência saudável da gestante e de sua família nesse momento. Estes aspectos, associados à experiência que tive nas Unidades Básicas de Saúde e na Unidade Obstétrica, foram determinantes para minha escolha do tema, abordando a partir da opinião das puérperas. Acredito que a realização deste estudo é de suma importância, uma vez que proporcionará discussões a respeito da assistência prestada tanto por profissionais da área da saúde quanto por acadêmicos de enfermagem, no sentido de verificar se a mesma está sendo um espaço de aprendizagem para a gestante e sua família e, desta forma, contribuir para a melhoria da assistência pré-natal oferecida. Com base no exposto, formulei a seguinte questão norteadora: Qual a importância das orientações no pré-natal para a vivência da gestação e puerpério saudáveis? 8 2 Objetivos 2.1 Objetivo Geral Conhecer, a partir das puérperas, a importância das orientações no pré-natal para a vivência da gestação e puerpério saudáveis. 2.2 Objetivos Específicos Investigar as orientações que as puérperas receberam durante o pré-natal. Saber quais orientações a puérpera julga ser necessário receber no prénatal. 9 3 Revisão de Literatura Esta revisão tem como propósito uma melhor compreensão da temática e, para tanto, será contextualizada a gestação, parto, puerpério e o pré-natal com abordagem nas orientações fornecidas, além da atuação da enfermagem nesse período. 3.1 Gestação, Parto e Puerpério A gestação, o parto e o puerpério constituem um forte potencial positivo e enriquecedor para todos que dela participam (BRASIL, 2001). São momentos em que a mulher vivencia uma gama de sentimentos (RIOS e VIEIRA, 2007). A gravidez representa biologicamente uma função primária do sistema reprodutor feminino e é considerada como um processo normal. Sua duração é variável, mas podemos dizer que da época da concepção até o nascimento dura, aproximadamente, 267 dias ou 38 semanas; se levarmos em conta a data da ultima menstruação, a gestação dura 280 dias ou 40 semanas (BARROS, 2009). A mulher, ao sentir os sinais e sintomas da gestação, procura um serviço se saúde para a sua confirmação e segundo Barros (2006, 2009), esses sinais e sintomas são evidenciados devido a alterações endocrinológicas, fisiológicas e anatômicas. Podem ser agrupados tradicionalmente em três grupos: de presunção, de probabilidade e de certeza (MONTENEGRO e REZENDE FILHO, 2008). Sintomas como a amenorréia, as náuseas, congestão mamária e polaciúria são considerados sinais de presunção; a amenorréia após 10 a 14 dias, o aumento do volume e alteração da consistência e da forma do útero e o aumento do volume abdominal são denominados de sinais de probabilidade (MONTENEGRO e REZENDE FILHO, 2008). 10 Os testes hormonais também constituem um parâmetro para o diagnóstico da gravidez e são realizados com base na gonadotrofina coriônica humana (hCG) produzida pelo corpo feminino. Esses testes são divididos em quatro tipos: biológicos, imunológicos, rádio-imunológicos (RIA) e enzimaimunológicos (ELISA) (MONTENEGRO e REZENDE FILHO, 2008). Mas apenas os sinais de certeza podem confirmar a gestação, são eles a ausculta dos batimentos fetais, pela percepção dos movimentos do feto pelo examinador, do Sinal de Puzor e através da ultrassonografia. (BARROS 2006, 2009). O diagnóstico da gravidez, segundo Brasil (2006), deve ser analisado através de um fluxograma baseado na história da mulher, do exame físico e pelos testes laboratoriais. A mulher, ao chegar a um serviço de saúde referindo atraso ou irregularidade menstrual, náuseas, aumento do volume abdominal, ou outra queixa, precisa ser avaliada por um profissional quanto ao seu ciclo menstrual, a data da última menstruação e atividade sexual. Se for atraso menstrual em mulheres maiores de 10 anos com atividade sexual, deve-se solicitar teste imunológico de gravidez (BRASIL, 2006). Se resultado do teste der negativo deve-se repetir o teste imunológico de gravidez após 15 dias; se novamente o resultado for negativo e persistir a amenorréia, a mulher deve ser encaminhada para avaliação clínico-ginecológica. Mas se o resultado for positivo, a gestação é confirmada. Com isso, através da consulta médica ou de enfermagem, deve iniciar o acompanhamento da gestante (BRASIL, 2006). Após a confirmação da gravidez, a gestante e sua família podem experimentar diferentes reações diante da novidade, podendo ser positivas (alegria, euforia, felicidade) ou negativas (tristeza, medo, desespero) (BARROS, 2006). Essas reações influenciam no seu dia-a-dia; por isto, é preciso reconhecer essas mudanças para vivê-las de forma ativa e saudável, com harmonia e prazer (BRASIL, 2008). A equipe de saúde deve buscar compreender esses múltiplos significados da gestação para aquela mulher e sua família, pois de acordo com Brasil (2000a), o contexto é que vai determinar o desenvolvimento da gestação, assim como a relação que a mulher e a família estabelecerão com a criança a partir das primeiras horas após o nascimento, interferindo também, no processo de amamentação e 11 cuidados com a criança e com a mulher. Um contexto favorável fortalece os vínculos familiares, assim como condições básicas para o desenvolvimento saudável do ser humano (BRASIL, 2000a). Para Brasil (2006), ao longo da gestação, algumas mudanças emocionais podem ser percebidas de acordo com o período gestacional em que a mulher está. No primeiro trimestre a mulher pode apresentar sentimento de ambivalência (querer e não querer a gravidez), medo de abortar, oscilações do humor levando a um aumento da irritabilidade, desejos e aversões por determinados alimentos. No segundo trimestre pode ocorrer introspecção e passividade por parte da gestante, alteração no desejo e no desempenho sexual, alteração da estrutura corporal que, para uma gestante adolescente, tem uma repercussão ainda mais intensa. E no terceiro trimestre as ansiedades intensificam-se com a proximidade do parto, manifestam-se mais os temores do parto (medo da dor e da morte) e aumentam as queixas físicas (BRASIL, 2006). Além das mudanças emocionais, o organismo materno sofre uma série de adaptações fisiológicas, atribuídas aos hormônios da gravidez e à pressão mecânica decorrente do aumento do útero e de outros tecidos. Essas modificações podem ser locais, principalmente no útero e nas mamas, ou gerais, no sistema cardiovascular, renal, respiratório, entre outros, assim como a postura e a deambulação (BARROS, 2006; MONTENEGRO e REZENDE FILHO, 2008). Brasil (2000b) afirma que “a gestação é um fenômeno fisiológico e, por isso mesmo, sua evolução se dá na maior parte dos casos sem intercorrências”. Mas, algumas gestantes que, por terem características específicas ou por sofrerem algum agravo, possuem maiores probabilidades de evoluir de forma desfavorável, tanto o feto como a mãe. Essa parcela constitui o grupo chamado de "gestantes de alto risco" (BRASIL, 2000b). Essas gestantes estabelecem necessidades de cuidados distintos, que vão desde o mínimo, para aquelas de baixo risco ou baixa probabilidade de apresentar esse dano, até o máximo, necessário para aquelas com alta probabilidade de sofrer danos à saúde (BRASIL, 2000b). As necessidades de saúde do grupo de baixo risco são resolvidas, de maneira geral, com procedimentos simples no nível primário de assistência. As do grupo de alto risco, geralmente requerem técnicas mais especializadas. Assim, o controle pré-natal da gestante de baixo risco será diferente daquela de alto risco, 12 seja em objetivos, conteúdos, número de consultas pré-natais e tipo de equipe que presta a assistência (BRASIL, 2000b). Além dos cuidados realizados no pré-natal, deve-se ter atenção na escolha da via de parto, pois depende das condições clínicas e obstétricas maternas e fetais (BARROS, 2009). O objetivo principal é o de se obter ao fim da gestação, um recémnascido saudável, com plena potencialidade para o desenvolvimento biológico e psico-social futuro; e também uma mulher/mãe com saúde e não traumatizada pelo processo de nascimento que acabou de experimentar (BRASIL, 2001). Para algumas gestantes, o parto é um momento bastante temido, pois ele pode ser associado com a morte e com outras complicações. As mulheres, dessa maneira, necessitam de um preparo, em que sejam considerados os procedimentos técnicos, os aspectos emocionais e culturais (SHIMIZU e LIMA, 2009). É consenso que o parto normal é o vaginal, sendo mais seguro para a mulher e a criança. Mas o tipo de parto apresenta uma série de implicações em termos de necessidade e indicação, riscos e benefícios, dependendo de cada situação, tempo de realização, complicações e repercussões futuras. A cesárea é um procedimento cirúrgico e que quando bem indicado, tem papel como redutor da morbidade e mortalidade perinatal e materna (BRASIL, 2001). Assim como a gravidez, o parto causa modificações no organismo da mulher. O período em que as modificações locais e sistêmicas retornam à situação do estado pré-gravídico é chamado de puerpério, cujo inicio se dá uma a duas horas após a saída da placenta e não tem previsão para o término, pois enquanto a mulher amamentar estará sofrendo modificações da gestação, o que faz seu ciclo menstrual não retornar completamente ao normal (BRASIL, 2001). O período puerperal, segundo Montenegro e Rezende Filho (2008), pode ser dividido didaticamente em três etapas, o imediato corresponde do 1º ao 10° dia após o parto, o tardio do 10° ao 45° dia, e o remoto além do 45° dia. Durante este momento, o corpo da mulher passa novamente por alterações anatômicas e fisiológicas, mas, como em todos os outros, deve ser vista como um ser integral, não excluindo seu componente psíquico. Alterações do humor, com labilidade emocional, são comuns no puerpério; entretanto, o estado psicológico da mulher deve ser observado, para que quadros de profunda apatia ou sintomas de psicose puerperal sejam identificados precocemente (BRASIL, 2001). 13 Após o parto, a puérpera pode apresentar ligeiro aumento da temperatura axilar, ocorrendo ainda calafrios; tem seu padrão respiratório restabelecido e a volta das vísceras abdominais à sua situação original, além da descompressão do estômago, o que promove um melhor esvaziamento gástrico. Os esforços desprendidos no período expulsivo agravam as condições de hemorróidas já existentes e traumas podem ocorrer à uretra ocasionando desconforto à micção e até mesmo retenção urinária. O útero atinge a cicatriz umbilical após o parto e posteriormente regride em torno de um centímetro ao dia, embora de forma irregular. Inicialmente surgem os Ióquios sangüíneos (até o 5°dia), em volume variável, semelhante a uma menstruação (BRASIL, 2001). A atenção nesse momento é fundamental para a saúde materna e neonatal, visto que, boa parte das situações de morbimortalidade da mulher e de seu filho acontece nas primeiras semanas após o parto (BRASIL, 2006). Assim, a revisão puerperal tem o objetivo de avaliar o estado de saúde da mulher e do recém nascido; orientar e apoiar a família para a amamentação; cuidados básicos com o recém nascido, planejamento familiar; avaliar interação da mãe com o recém nascido; identificando situações de risco ou intercorrências e intervindo (BRASIL, 2006). No puerpério imediato, o profissional de saúde deve estar atento às necessidades tanto físicas, como psíquicas da mulher; ela deve ser tratada com respeito e atenção (BRASIL, 2000a). Nos momentos iniciais após o parto, a relação mãe-filho não está ainda bem elaborada; portanto, não se deve concentrar todas as atenções apenas à criança (BRASIL, 2006). Ainda no hospital, deve-se estimular a deambulação o mais precoce possível, assim como a higienização. Em relação às mamas, deve ser orientada a utilização de sutiã por proporcionar melhor conforto à mulher. Podem ocorrer deformidades nos mamilos, ou presença de fissuras, ocasionadas por pega inadequada ao peito, podem ocorrer mastites e abscessos, que necessitam de atenção especial, não sendo motivos para se desencorajar o aleitamento exclusivo (BRASIL, 2000a). O colostro já está presente no momento do parto. A descida do leite, no entanto, ocorre entre o 1° e 3° dia pós-parto, embora a colocação da criança ao peito deva ser feita logo após o nascimento para que ocorra liberação de prolactina e ocitocina, com conseqüente produção e liberação do leite (BRASIL, 2000a). 14 Brasil (2000a) diz que, após a alta hospitalar, a mulher deve procurar atendimento em uma unidade de saúde para realizar a revisão puerperal precoce, de 7 a 10 dias após o parto. Deve-se ouvir suas queixas, realizar um exame físico adequado e orientá-la, após o atendimento precoce, deve-se orientar a puérpera para retornar a revisão tardia, entre o 30° e o 42° dia pós-parto. O mesmo autor refere que, nesta ocasião, podem-se liberar os exercícios físicos, além de oportunizar às puérperas completarem seus esquemas de vacinação e realizarem o exame preventivo para câncer cervical (BRASIL, 2000a). É fundamental que haja uma discussão com o casal sobre o retorno às atividades sexuais, assim como o planejamento familiar. A escolha do método contraceptivo deve ser sempre personalizada, pois deve ser considerado o tempo pós-parto, o padrão da amamentação, o retorno ou não da menstruação, os possíveis efeitos dos anticoncepcionais hormonais sobre a lactação e o lactente (BRASIL, 2000a). Para Serruya, Cecatti e Lago (2004), a assistência à mulher na gestação só deve ser considerada como concluída após a consulta puerperal. O seguimento clínico após a gestação é imperativo por diferentes razões, como o estabelecimento de condutas para garantir o adequado intervalo interpartal, que protege a mulher e melhora os resultados perinatais, com a orientação para a introdução de método contraceptivo, assim como avaliação que permita detectar importantes alterações como a anemia e os estados depressivos. 3.2 Pré-Natal Até década de 1980 o atendimento à mulher pelo sistema de saúde era limitado, quase que exclusivamente, ao período gravídico-puerperal e, mesmo assim, de forma deficiente (BRASIL, 1984) Em 1983 surgiu o PAISM, Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, anunciando uma nova e diferenciada abordagem da saúde da mulher. Porém, o Ministério da Saúde divulgou oficialmente o programa em 1984, através do documento preparado pela referida comissão: “Assistência Integral à Saúde da Mulher: bases de ação programática”. Dessa forma, a atenção à mulher deveria ser integral, clínico-ginecológica e educativa, voltada ao aperfeiçoamento do controle pré-natal, do parto e puerpério (OSIS, 2008). 15 Após a implantação do PAISM, ouve estimulo ao desenvolvimento de várias atividades de cunho informativo/educativo nas unidades de saúde, levando a promoção do autoconhecimento e da autoestima das mulheres, em que se incluíram oficinas e outros tipos de abordagens grupais com enfoque participativo (MOURA e RODRIGUES, 2003). Em 2000, através da Portaria nº 569 de 1/6/2000, foi criado e implantado o Programa Nacional de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PNHPN), que tem como objetivo o desenvolvimento de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde de gestantes e recém nascidos, promovendo a ampliação do acesso a estas ações, o incremento da qualidade e da capacidade instalada da assistência obstétrica e neonatal, bem como sua organização e regulação no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2000c). O programa se baseia no direito de cidadania, ou seja, direito ao acesso, por parte das gestantes e dos recém nascidos, à assistência à saúde nos períodos prénatal, parto, puerpério e neonatal, tanto na gestação de baixo como de alto risco, através da adequada organização dos serviços de saúde, assegurando que a assistência seja de forma integral e com investimentos e custeios necessários, gerando assim, a redução das altas taxas de mobi-mortalidade materna, peri e neonatal no país (SANTOS NETO et al., 2008). A redução da mortalidade materna e neonatal no Brasil é ainda um desafio para os serviços de saúde e a sociedade como um todo. As altas taxas encontradas se configuram como uma violação dos direitos humanos de mulheres e crianças e um grave problema de saúde pública, atingindo desigualmente as regiões brasileiras com maior prevalência entre mulheres e crianças das classes sociais com menor ingresso e acesso aos bens sociais (BRASIL, 2007a). Brasil (2008) afirma que a maioria das mulheres tem uma gravidez e parto normal, sem problemas de saúde. Mas o acompanhamento pré-natal também é importante, porque permite prevenir, identificar e tratar problemas de saúde que possam acontecer no período da gestação. Porém, cerca de 10% a 20% das mulheres têm complicações na gravidez e precisam ser cuidadas de forma mais constante, para que mãe e bebê fiquem saudáveis (BRASIL, 2008). Conforme o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento, para que se possa realizar um adequado acompanhamento pré-natal, deve-se desenvolver modalidades assistenciais, como a realização da primeira consulta de 16 pré-natal até o 4° mês de gestação, garantir a realização de, no mínimo, 06 (seis) consultas de acompanhamento pré-natal, sendo, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro trimestre da gestação; realização de 01 (uma) consulta no puerpério, até 42 dias após o nascimento, realização exames laboratoriais, a aplicação de vacina antitetânica, realização de atividades educativas e classificação de risco gestacional, além de, garantir às gestantes classificadas como de risco, atendimento ou acesso à unidade de referência para atendimento ambulatorial e/ou hospitalar à gestação de alto risco (BRASIL, 2000c). Brasil (2006) acrescenta que, para a gestante receber um pré-natal de qualidade, deve ser realizado uma escuta ativa da mulher e de seus (suas) acompanhantes, assim como o esclarecimento de dúvidas e informações sobre o que vai ser feito durante a consulta e as condutas a serem adotadas. De acordo com o mesmo autor, é imprescindível que sejam realizadas atividades educativas em grupo ou individualmente, com uma linguagem clara e compreensível, proporcionando respostas às indagações da mulher ou da família e as informações necessárias; estimular a gestante a realizar parto normal e resgatar o parto como ato fisiológico, realizar anamnese e exame clínico-obstétrico da gestante; fazer a avaliação do estado nutricional da gestante e monitoramento por meio do SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional); realizar prevenção ou diagnóstico precoce do câncer de colo uterino e de mama; realizar o tratamento das intercorrências da gestação; registrar em prontuário e cartão da gestante, inclusive registro de intercorrências/urgências que requeiram avaliação hospitalar em situações que não necessitem de internação (BRASIL, 2006). Trevisan et al. (2002) diz que, não se pode garatir a qualidade de um prénatal apenas analisando isoladamente o número de consultas realizadas; deve-se incluir o inicio dessas consultas e o que foi realizado, como exames de rotina e as orientações fornecidas. 3.2.1 Orientações no Pré-natal O primeiro passo a ser dado na tentativa de desenvolver e estimular o processo de mudanças de hábitos e transformação no modo de viver é através da educação em saúde (BRASIL, 2000a). Na gestação não é diferente, através da troca 17 de experiências e conhecimentos entre o profissional e a gestante é que promovemos a compreensão do processo gestacional (BRASIL, 2006). A realização de ações educativas no decorrer de todas as etapas do ciclo grávido-puerperal é muito importante, mas é no pré-natal que a mulher deverá ser melhor orientada para que possa viver o parto de forma positiva, ter menos riscos de complicações no puerpério e mais sucesso na amamentação (RIOS e VIEIRA 2007). As orientações já devem iniciar no momento em que for diagnosticada a gravidez; a gestante já deverá receber as orientações necessárias referentes ao acompanhamento pré-natal, sendo a seqüência das consultas médica e de enfermagem, visitas domiciliares e reuniões educativas. Deverá ser fornecido o seu cartão de gestante preenchido com sua identificação e orientá-la sobre o mesmo, também orientar sobre o calendário de vacinas, solicitação de exames e a participação nas atividades. (BRASIL, 2000a; 2005) Trevisan et al. (2002) confirma a importância da realização de atividades educativas durante o acompanhamento pré-natal. Ainda assim, mais que a metade dos números de entrevistadas em seu estudo negou ter recebido informações de caráter educativo durante a gravidez. Além disto, menos ainda confirmaram ter participado de atividades do tipo “grupos de gestantes” durante o pré-natal. Para Feliciano e Kovacs (2003), embora a dimensão educativa se constitua em uma parte essencial das práticas de saúde há pouca valorização dessas atividades na atenção pré-natal. Durante as consultas de pré-natal, as informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. É necessário que o setor saúde esteja aberto para as mudanças sociais e cumpra de maneira mais ampla o seu papel de educador e promotor da saúde (BRASIL, 2006). Os profissionais de saúde, em especial o enfermeiro, devem assumir postura de educadores que compartilham saberes, buscando devolver à mulher sua autoconfiança para viver a gestação, o parto e o puerpério. Por este motivo, Rios e Vieira (2007) afirmam que o período pré-natal é uma época de preparação física e psicológica para o parto e para a maternidade e, como tal, é um momento de intenso aprendizado e uma oportunidade para os profissionais da equipe de saúde desenvolver a educação como dimensão do processo de cuidar. 18 Moura e Rodrigues (2003) asseguram que as atividades de comunicação/informação em saúde dirigidas às gestantes são realizadas no transcorrer das consultas de enfermagem podendo ser individual ou em grupo. Existem diferentes formas de realizar um trabalho educativo em grupo, pode ser através de discussões, dramatizações ou dinâmicas; qualquer que facilite a fala e a troca de experiências entre os componentes do grupo, onde o profissional de saúde atua como um facilitador (BRASIL, 2006). Para Moura e Rodrigues (2003, p. 116): É necessário introduzir a prática dessas atividades (individual e grupal), de maneira a sobrepor as consultas, com a proposta de reversão do modelo tradicional biomédico (voltado à doença) para o modelo atual, que tem como foco a promoção da saúde e que, portanto, traz a democratização do saber em saúde e a avaliação de impacto sobre a qualidade de vida das pessoas como principal meta. Mesmo que as gestantes sejam o foco principal, não se pode deixar de atuar o processo de aprendizagem, também, entre companheiros e familiares (BRASIL, 2005). Entende-se que para a gravidez transcorrer de modo satisfatório são necessários cuidados da própria gestante, do companheiro (quando houver) e de sua família (DUARTE E ANDRADE, 2006). Para Feliciano e Kovacs (2003), em geral, o processo educativo é restrito ao fornecimento pelo médico, durante a consulta, de informações sobre alguns aspectos relacionados com a gravidez, o parto e os cuidados com o bebê. Como a consulta médica é o único momento interativo direto das mulheres com os profissionais, a dimensão educacional fica diluída no conjunto de práticas voltadas para a detecção e o controle de fatores de risco biológicos, tais como, a anamnese dirigida, o exame físico e a solicitação de exames para seguimento da gestação (FELICIANO e KOVACS, 2003). Os mesmos autores em seu estudo titulado “As necessidades comunicacionais das práticas educativas na prevenção da transmissão materno-fetal do HIV“ observaram a busca por parte dos profissionais em favorecer a compreensão do conteúdo transmitido, mas não foi feita a tentativa de introduzir no trabalho uma dinâmica de "conversa", incorporando a participação das mulheres (FELICIANO e KOVACS, 2003). Moura e Rodrigues (2003) concluem a respeito do desenvolvimento de atividades de comunicação/informação em saúde na assistência ao pré-natal, que merecem ser priorizadas, planejadas e desenvolvidas com vistas a gerar mudanças 19 de comportamentos, pela adoção de práticas sistemáticas e participativas por todos os profissionais. Segundo Brasil (2000a), alguns aspectos podem ser abordados na educação em saúde como, por exemplo, a importância do pré-natal, sexualidade, orientações de higiene e alimentação, o desenvolvimento da gestação, as modificações corporais e emocionais que ocorrem com a gestante, os sinais e sintomas do parto, a importância do planejamento familiar, informações acerca dos benefícios legais a que a gestante tem direito, o impacto e agravos das condições de trabalho sobre a gestação, parto e puerpério, a importância da participação do pai durante a gestação, importância do vínculo pai-filho para o desenvolvimento saudável da criança; aleitamento materno, importância das consultas puerperais, cuidados com o recém nascido, importância do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança, e das medidas preventivas (vacinação, higiene e saneamento do meio ambiente) (BRASIL, 2000a). Moura e Rodrigues (2003) acrescentam também a importância de orientar as gestantes sobre uso de medicamentos, combate ao tabagismo, realização de atividades físicas, uso de vestuário adequado e da importância do contato com o bebê ainda no útero. No entanto, Oliveira e Simões (2007) dizem que não se deve estar atento apenas às questões ginecológicas e obstétricas, mas também aos aspectos psicológicos com o objetivo de ajudar e orientar as gestantes na resolução de conflitos e problemas que podem, em graus variados, influenciar na evolução gestacional. Concordo com Rios e Vieira (2007) que expõem que está havendo uma falha nas ações educativas durante o pré-natal, pois parece paradoxal que a mulher, ao passar por uma gestação sem complicação e freqüentando o pré-natal, chegue ao último mês demonstrando falta de conhecimento sobre alterações advindas da gravidez e despreparo para vivenciar o parto. Os mesmos autores também afirmam que a carência de informações, ou informações inadequadas sobre o parto, o medo do desconhecido, bem como os cuidados a serem prestados ao recém nascido nos primeiros dias são os fatores mais comuns de tensão da gestante, que influenciam negativamente durante todo o processo. Neste sentido, devem ser valorizados as emoções, os sentimentos e as 20 histórias relatadas pela mulher e seu parceiro de forma a individualizar e a contextualizar a assistência pré-natal (RIOS E VIEIRA, 2007). 3.2.2 Enfermagem no Pré-Natal A enfermagem tem se tornado uma profissão empenhada num despertar social para além das práticas curativas e consolida sua relevância na colaboração para a reversão de indicadores de saúde caóticos. Muitas são as dimensões com as quais o enfermeiro está comprometido, pois no cuidado ele previne, protege, trata, recupera, promove e produz saúde (DUARTE, 2006). Após a implantação do PAISM, houve um estímulo à participação dos enfermeiros nas ações de saúde da mulher, especialmente na assistência pré-natal. De acordo com a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem – Decreto n.º 94.406/87 e o Ministério da Saúde, o pré-natal de baixo risco pode ser inteiramente acompanhado pela enfermeira (RIOS E VIEIRA, 2007). Tal decreto regulamenta a Lei nº 7.498/86 que diz caber ao enfermeiro a realização da consulta de Enfermagem e prescrição da assistência de Enfermagem; prescrição de medicamentos previamente estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde, prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puérpera e ao recém nascido, participação nos programas e nas atividades de assistência integral à saúde individual e de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários e de alto risco (BRASIL, 1987). De acordo com Brasil (2000a), cabe ao enfermeiro orientar as mulheres e suas famílias sobre a importância do pré-natal, amamentação, vacinação, preparo para o parto, entre outros; realizar consulta de pré-natal de gestação de baixo risco; solicitar exames de rotina e orientar tratamento conforme protocolo do serviço; encaminhar gestantes identificadas como de risco para o médico; realizar atividades com grupos de gestantes, grupos de sala de espera; fornecer o cartão da gestante devidamente atualizado a cada consulta e realizar coleta de exame citopatológico. O enfermeiro elabora o plano de assistência de enfermagem na consulta de enfermagem pré-natal e, de acordo com as necessidades identificadas e priorizadas, estabelece as intervenções, orientações e encaminhamentos a outros serviços, promovendo a interdisciplinaridade das ações, principalmente com a odontologia, medicina, nutrição e psicologia (DUARTE e ANDRADE, 2006). 21 Para Duarte e Andrade (2006), a intervenção de enfermagem inicia-se muitas vezes quando a mulher procura o serviço de saúde com medos, dúvidas, angústias, fantasias ou simplesmente curiosidade de saber se está grávida. Na consulta de enfermagem, devem ser valorizadas as queixas referidas, ou seja, a escuta à gestante, visto que possibilita a criação de ambiente de apoio por parte do profissional e de confiança pela mulher. Conforme Shimizu e Lima (2009) a consulta de enfermagem é um instrumento de suma importância, pois sua finalidade é garantir a extensão da cobertura e melhoria da qualidade pré-natal, principalmente através da introdução das ações preventivas e promocionais às gestantes. Além disso, tal procedimento é visto como um espaço de acolhimento, onde se possibilita o diálogo, com livre expressão de dúvidas, de sentimentos, e de experiências, estreitando o vínculo entre a enfermeira e a gestante. As atividades em grupo são uma das metodologias utilizadas pelo enfermeiro que atua com o intuito de estimular a inserção das gestantes no prénatal, uma vez que este espaço de discussão permite a continuidade da consulta de enfermagem (DUARTE e ANDRADE, 2006). Rios e Vieira (2007) afirmam que “conhecer as necessidades de aprendizagem das gestantes no período do pré-natal é considerar a importância da cliente na determinação de seu autocuidado”. Sendo assim, no pré-natal o enfermeiro deve ficar atento para interpretar a percepção que a gestante tem com relação a sua experiência da maternidade no contexto mais amplo (ambiente, família, mudanças físicas, psicológicas e sociais) por ser essa uma experiência única. O profissional não deve impor seus conhecimentos e desconsiderar a realidade do cliente; se isso acontecer, as orientações dadas poderão não ser adotadas por incompatibilidade com essa realidade (RIOS e VIEIRA, 2007). Oliveira e Simões (2007) destacam a importância da assistência de enfermagem no pré-natal com qualidade, na medida em que se constitui em um momento de educação em saúde num amplo espectro, como o de orientar e promover a conscientização das gestantes sobre as possíveis implicações de hábitos não recomendáveis na gestação. Este, deve ser aproveitado para implementação de programas educativos, como discussões em grupo, dramatizações de situações cotidianas, relato de experiências, entre outros, com o 22 fim maior de promover a saúde das gestantes por meio da educação e aconselhamento. A comunicação dialógica representa um pilar na relação enfemeira-gestante, principalmente para favorecer à gestante compreensão desse complexo processo, empoderando-a para enfrentá-lo com mais tranqüilidade. Pois as orientações recebidas pelas gestantes permitem ampliar o conhecimento não apenas do processo gestacional, mas também do parto, que é um momento bastante temido. A consulta de enfermagem contribui para que a gestante enfrente esta etapa da vida com mais tranqüilidade, pois lhe permite compreender e expressar os diversos sentimentos vivenciados (SHIMIZU e LIMA, 2009). 23 4 Metodologia Esta etapa compreende a trajetória percorrida para a realização da pesquisa. Foi abordado a caracterização, local e sujeitos da pesquisa, os critérios de seleção dos sujeitos, assim como os princípios éticos observados e os procedimentos que foram utilizados para a coleta e a análise dos dados. 4.1 Caracterização da Pesquisa A presente pesquisa teve abordagem qualitativa, descritiva e exploratória. Segundo Minayo (2010), pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, ou seja, se ocupa com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Para a mesma autora, esse tipo de pesquisa é como um trabalho artesanal que não prescinde de criatividade, mas que se fundamenta em conceitos, proposições, métodos e técnicas, construídos num ritmo próprio e particular (MINAYO, 2010). Gil (2007) traz que a pesquisa exploratória tem como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta e intuições, proporcionando maior familiaridade com o problema, com vistas de torná-lo mais explicito ou a construir hipóteses. O mesmo autor refere que a pesquisa descritiva se objetiva em descrever características de determinada população ou fenômeno ou, então, estabelecer relações entre variáveis (GIL, 2007). 24 4.2 Local da Pesquisa A pesquisa foi desenvolvida na unidade obstétrica de uma instituição hospitalar de ensino, localizado em uma cidade da região sul do Rio Grande do Sul. 4.3 Sujeitos da Pesquisa Diante do objetivo proposto e com a finalidade de responder a questão pesquisa, os sujeitos foram as puérperas que estavam internadas na unidade obstétrica no período da coleta de dados, ou seja, de setembro a outubro de 2011. Foram abordados dez sujeitos. As participantes da pesquisa foram identificadas com nomes próprios fictícios, escolhido por elas. 4.4 Critérios para Seleção dos Sujeitos Para seleção dos sujeitos foram utilizados os seguintes critérios: Ser puérpera no período de 24 a 48 horas pós parto; Estar internada na instituição onde será realizado o estudo; Ter realizado pré-natal. Ser maior de 18 anos. Aceitar participar da pesquisa. Concordar com o uso de gravador durante a entrevista. Permitir a divulgação e apresentação dos resultados obtidos, em publicações e meios científicos. 4.5 Princípios Éticos Para a realização da pesquisa foram respeitadas as diretrizes e normas para pesquisas envolvendo seres humanos definidas pela Resolução nº. 196/961 do 1 Resolução n° 196/96 Esta Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. 25 Conselho Nacional de Saúde. Assim como, o Capitulo III2 que trata das responsabilidades e deveres (Artigos 89, 90 e 91) e proibições (artigos 94 e 98) para o ensino, a pesquisa e a produção técnico-científica do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem brasileiros de 2007. Em atenção às normas da pesquisa, envolvendo os seres humanos, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas para avaliação. Além disso, foi apresentado e entregue aos sujeitos do estudo, o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, que foi assinado pelos participantes, uma cópia ficou para a pesquisadora e outra com o sujeito. Além de garantir o anonimato das entrevistadas, elas terão acesso as informações coletadas, e o direito de desistir a qualquer momento da pesquisa, sem prejuízo pessoal. Os dados da pesquisa serão guardados pela autora por cinco anos, sendo arquivados em CD e incinerados após esse período. 4.6 Procedimento para a Coleta de Dados Primeiramente, através de uma carta, foi solicitada a autorização da instituição hospitalar para a realização deste estudo (APÊNDICE A), após seu consentimento o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (APÊNDICE B). Posteriormente a apreciação do CEP (ANEXO A), os sujeitos, ou seja, as puérperas foram convidadas a participar da pesquisa. Após a autorização dos sujeitos, mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊDICE C) foi procedida a coleta de dados, utilizando-se para tal uma entrevista semi estruturada (APÊDICE D), e gravada por meio de instrumento eletrônico. 2 Cap. III (dos deveres): art. 89 Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos, segundo a especificidade da investigação; art. 90 Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo a vida e a integridade da pessoa; art. 91 Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos autorais no processo de pesquisa. Cap. III (das proibições): art. 94 Realizar ou participar de pesquisa ou atividade de ensino, em que o direito inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo de risco ou dano aos envolvidos; art. 98 Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do estudo, sem sua autorização. 26 A entrevista semi-estruturada é entendida por Minayo (2010), como um instrumento em que o entrevistado tem a oportunidade de discorrer sobre o tema sem se prender à indagação formulada. O roteiro da entrevista foi elaborado de modo que contemple os objetivos propostos neste estudo e as falas foram transcritas para que se garanta a fidedignidade dos dados. 4.7 Análise dos Dados Os dados coletados nessa pesquisa, foram analisados com base no método de análise de conteúdo que, segundo Minayo (2007) pode ser empregado para realizar a classificação dos dados, ou seja, permite agrupar idéias, palavras, expressões ou elementos em torno de conceitos, constituindo as categorias e subcategorias. Dentre as formas de análise de conteúdo, optar-se-á por utilizar a análise temática de Minayo (2007), a qual consiste em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados e interpretação. Primeiramente, os dados coletados foram transcritos na íntegra. Após, foi realizadas leituras exaustivas, com a finalidade de tomar contato com as informações colhidas, de modo a detalhar seu conteúdo. A seguir, os dados transcritos foram organizados, através da visualização individual de cada entrevista, destacando-se os aspectos considerados relevantes. Foi realizado o mapeamento das falas das entrevistas, assinalando os principais pontos de cada fala, facilitando a visualização do material como um todo. No final, foi assinalado, no material, tudo considerado significativo, ou seja, palavras, frases, parágrafos. Novas leituras foram realizadas, buscando compreender o significado manifesto e/ou oculto das observações e informações relatadas, encaminhando as novas reflexões, para agrupar os dados e estabelecer as categorias. 27 5 Apresentação, análise e discussão dos dados A seguir serão apresentados os sujeitos que participaram deste estudo e, posteriormente, a discussão dos resultados obtidos através da transcrição, leitura e interpretação dos dados coletados a partir das entrevistas realizadas. O objetivo principal é conhecer, a partir das puérperas, a importância das orientações no prénatal para a vivência da gestação e puerpério de modo saudável. 5.1 Apresentação das puérperas do estudo Importa traçar o perfil das entrevistadas com o intuito de auxiliar na contextualização dos dados coletados na pesquisa, visando a uma melhor compreensão dos mesmos. Daiane: 24 anos, casada, possui o ensino médio completo, reside em Pelotas, primigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 9 semanas, realizou 10 consultas no Ambulatório da Faculdade de Medicina e não participou de Grupo de Gestante. Raquel: 25 anos, solteira, possui o ensino fundamental completo, convive com companheiro, reside no Capão do Leão, multigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 6 semanas, realizou 7 consultas no Posto Central do Capão do Leão e não participou de Grupo de Gestante. Fabiana: 30 anos, solteira, possui o ensino médio completo, convive com companheiro, reside no Capão do Leão, primigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 8 semanas, realizou 9 consultas no Hospital Escola - UFPel e não participou de Grupo de Gestante. 28 Ingrid: 20 anos, solteira, possui até a 7ª série do ensino fundamental, convive com companheiro, reside em Pelotas, multigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 13 semanas, realizou 7 consultas no Unidade Básica de Saúde do Areal Fundos e não participou de Grupo de Gestante. Cintia: 34 anos, casada, possui o ensino médio completo, reside em Pelotas, multigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 12 semanas, realizou 12 consultas na Cardio Med e não participou de Grupo de Gestante. Tatiane: 31 anos, casada, possui até o 1º ano do Ensino Médio, reside em Pelotas, primigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 12 semanas, realizou 10 consultas no Hospital Escola - UFPel e não participou de Grupo de Gestante. Karen: 22 anos, solteira, possui até a 5ª série do ensino fundamental, convive com companheiro, reside em Pelotas, multigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 17 semanas, realizou 7 consultas na Unidade Básica de Saúde Fraget e não participou de Grupo de Gestante. Patricia: 33 anos, solteira, possui o ensino médio completo, reside em Pelotas, primigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 15 semanas, realizou 10 consultas no Hospital Escola - UFPel e não participou de Grupo de Gestante. Carla: 25 anos, solteira, possui até a 5ª série do ensino fundamental, convive com companheiro, reside em Pelotas, multigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 13 semanas, realizou 12 consultas no Hospital Escola - UFPel e não participou de Grupo de Gestante. Ketia: 37 anos, casada, possui até 7ª série do ensino fundamental, reside no Capão do Leão, multigesta, nunca teve aborto. Iniciou seu pré-natal com 9 semanas, realizou 9 consultas no Hospital Escola - UFPel e não participou de Grupo de Gestante. Como observado, fizeram parte deste estudo dez puérperas, com idades entre 20 (vinte) a 37 (trinta e sete) anos; sete residem no município onde foi realizado o estudo e três, em outro município. Em relação ao grau de instrução, quatro mulheres tinham o ensino médio completo, uma, o ensino médio incompleto, uma, o ensino fundamental completo e quatro, o ensino fundamental incompleto. Quanto ao número de gestações, seis eram multigestas, sendo cinco com duas 29 gestações e uma com três gestações, e quatro eram primigestas. Nenhuma delas teve algum aborto. Em relação ao estado civil, seis eram solteiras e, destas, cinco possuíam uma relação de união estável com seus companheiros, e quatro eram casadas. Todas iniciaram seu pré-natal no primeiro trimestre de gestação em instituições de saúde, em clínicas particulares, hospitais ou ambulatórios universitários e unidades básicas de saúde. Além disso, as entrevistadas realizaram de 7 a 12 consultas, como é preconizado pelo Ministério da Saúde, que também orienta que a primeira consulta deve ser realizada até 120 dias de gestação e que o número de consultas deve ser de, no mínimo, seis (BRASIL, 2006). 5.2 Análise e discussão dos dados A partir dos depoimentos dos sujeitos e da análise obtida foi possível delinear o estudo em três temáticas, que são apresentadas a seguir: 1. Percepção das puérperas a respeito das orientações recebidas no pré-natal; 2. Identificando as necessidades e carências do pré-natal; 3. Importância do profissional no pré-natal. 5.2.1 Percepção das puérperas a respeito das orientações recebidas no prénatal Esta temática emergiu a partir das respostas dadas ao questionamento feito a cada uma das puérperas sobre se haviam recebido orientações durante o seu prénatal, quais foram e qual a importância destas para a vivência da gestação e puerpério. A maior parte das puérperas respondeu de forma afirmativa, algumas de modo bastante enfático, que havia recebido orientações durante o seu pré-natal. Apenas uma puérpera respondeu com incerteza. Recebi mês a mês, semana a semana. (Cintia) Com certeza. (Raquel) Não sei... Acho que sim. (Carla) 30 Carla, Tatiane e Karen, ao serem indagadas a respeito dos tipos de orientações que haviam recebido no pré-natal, apenas mencionaram os procedimentos realizados pelos profissionais. Só consulta normal... Me examinava, media e pesava. (Carla) Tudo... Como estava o bebê, se estava bem; levava os exames, olhava, falava se estava bom. Só isso. (Tatiane) Normal. A doutora receitava remédio. (Karen) Na primeira fala observa-se que a entrevistada considerou que seu pré-natal se restringia apenas a consultas “normais”, em que era realizado apenas seu exame físico, ou seja, ela era examinada, medida e pesada. Na segunda fala, a puérpera considera o pré-natal completo apenas o fato ser informada sobre como o bebê estava e se os resultados de exames estavam bons. Na última resposta, nota-se que a entrevistada identifica a prescrição de medicamentos como uma orientação. Com isso, acredita-se que suas consultas eram basicamente ligadas a condutas de rotina, principalmente médicas, tendo em vista o que foi mencionado pelas entrevistadas acerca da prescrição de medicamentos, da solicitação de exames e a da realização de exame físico. Oba e Tavares (1997, apud OBA e TAVARES, 2000) mencionam que as consultas de pré-natal se tornam um atendimento mais ritualístico do que preventivo ou resolutivo, onde as mulheres não têm tempo nem espaço para fala e/ou questionamentos. É importante salientar às gestantes a necessidade da realização destes procedimentos relatados por elas, mas que o pré-natal é um espaço de aprendizagem, onde podem tirar dúvidas e relatar seus medos. Duarte e Andrade (2008) afirmam que a assistência pré-natal deve incluir as ações de educação em saúde na rotina da assistência integral, não se restringindo apenas às ações clínico-obstétricas. Ainda referente à mesma pergunta, uma das puérperas não foi contundente em sua resposta; disse que havia recebido orientações, mas não é possível identificá-las. Vejamos na fala a seguir: Sobre tudo, sobre as consultas, o que tinha que fazer, quando tinha que fazer tudo; tudo eles me explicavam. (Ketia) 31 Não se pode ter a certeza se estas mulheres não foram orientadas durante seu pré-natal ou se não lembram. Sandre-Pereira et al. (2000) explica que o fato das mulheres não se lembrarem de terem recebido orientações deve-se a uma falha na forma de como são realizadas as atividades educativas, não resultando uma boa fixação do conteúdo. Acredita-se que essa falha ocorra quando o profissional não torna a gestante participante, mas apenas uma ouvinte. A meu ver, a mulher deve expressar seus saberes, mitos e anseios e o profissional deve ajudá-la a criar novos conhecimentos e não apenas ditar mudanças em suas vidas. Concorda-se com São Paulo (2001) e Alves e Aerts (2011) ao dizerem que a educação em saúde, na prática, tem sido realizada apenas como divulgação, transmissão de conhecimentos e informações de forma fragmentada e que, muitas vezes, fica distante da realidade, tornando-se de difícil entendimento para as pessoas que as recebem, tanto pela diferença de linguagem, como de concepção de mundo. Tal fato foi evidenciado nas falas de Patrícia, Raquel, Cíntia e Ingrid, pelas quais observa-se que as orientações recebidas foram apenas ditadas, ou seja, foi informado o que fazer ou não fazer. Recebi mais orientações médicas... O que comer, o que não comer, o peso, controle da glicose. (Patrícia) No caso, as injeções que eu tenho que tomar por causa do meu tipo sanguíneo quando o bebê nascesse... Se eu tiver muito inchada e sentir estrelinhas na cabeça, tontura é a pressão alta, e o pé inchado também pode ser perigoso. (Raquel) No início, foi em função do peso; ela me orientava o que podia comer o que não podia. Essa parte eu fui bem orientada. Da função da pressão alta, diabetes gestacional, tudo, mais ou menos isso. O normal que ela tinha que me dizer, ela me disse. (Cintia) Acho que tudo que tinha que saber, eles orientaram... Sobre gestação, cuidado com o bebê... E eu já tenho um também. (Ingrid) Os temas abordados no pré-natal destas mulheres, sobre alimentação, intercorrências na gestação e cuidados com o bebê, são de fundamental importância, mas acredita-se que deveriam ter sido fornecidas outras orientações além destas, bem como instruções para hábitos de vida saudáveis, planejamento familiar, preparo para o parto e a amamentação, a importância da consulta pósparto, entre outras. 32 Para Hoga e Reberte (2007), a gestante deve ser acolhida e ter a oportunidade de compartilhar sua história e suas percepções. Desta forma, passa a se sentir fortalecida, conseguindo construir conhecimentos relativos às suas condições e, assim, contribuir para uma vivência tranquila e saudável da gestação, do parto e da maternidade. Pensa-se que um pré-natal de qualidade prepara bem a gestante, levando-a a reconhecer as mudanças que ocorrem em seu corpo e as intercorrências que pode vir a sofrer, como também a prepara para realizar os cuidados necessários que deve ter para vivenciar a gestação de forma tranquila. Acredita-se ser de grande valor saber a importância que essas orientações tiveram para a vivência da gestação e do puerpério destas mulheres. Pois, para saber com certeza o quanto essa assistência as auxiliou, é necessário saber o que pensam e opinam sobre o assunto. No entanto, ao serem questionadas, suas respostas foram vagas e deixaram dúvidas em relação a que ponto essas orientações foram válidas em suas vidas. Isto pode ser observado em algumas falas: Sim, fiz exames, tudo certinho. (Ingrid) Bastante. Tudo é válido. (Cintia) Ah, com certeza né? É pouco, mas ajuda a gente. (Raquel) Na primeira fala identifica-se o que já foi mencionado anteriormente, sobre o equivoco da puérpera ao considerar a solicitação e a realização de exames como uma orientação. Com isso, nota-se que esta mulher não teve a oportunidade de conhecer um pré-natal rico em orientações, não sabendo, portanto, reconhecer seus benefícios. Na fala de Cintia podemos observar uso do termo “bastante” para expressar que foi bem orientada durante o pré-natal e que as orientações recebidas foram válidas, ou seja, auxiliaram-na em sua vivência. Raquel relata que, mesmo que o profissional lhe ofereça poucas orientações, isto já auxilia, pois a aquisição de novos conhecimentos beneficia a gestação. Segundo Melo et al. (2007), o período gestacional é o melhor momento para o profissional atuar de forma preventiva, já que se sabe que os pais ficam mais motivados a obterem informações e realizarem cuidados de saúde. Com isso, pode- 33 se notar o papel importante na atenção pré-natal que tem o profissional, que deve empenhar-se cada vez mais em realizar um cuidado de qualidade. O estudo de Coimbra et al. (2003) mostra que mulheres mais jovens e primigestas podem buscar o pré-natal com maior freqüência devido à sua menor experiência. Tal fato foi evidenciado nas falas abaixo, em que as puérperas relatam seu despreparo para realizar os cuidados com seu primeiro filho: É, porque primeiro filho nasceu sem eu saber nada. (Daiane) Estou aprendendo com ele. (Patrícia) Patrícia, em sua fala, diz que está aprendendo sozinha a realizar os cuidados com o bebê e Daiane diz não “saber nada” por ser seu primeiro filho. Fica claro que as dificuldades enfrentadas por estas mulheres, agora no puerpério, é resultado de um pré-natal sem orientações. O pré-natal é a oportunidade que a mulher tem de participar de atividades educativas, ou seja, de preparar-se para realizar os cuidados com o bebê, amamentá-lo e vivenciar um período puerperal mais tranqüilo, durante o qual colocará em prática todos os conhecimentos adquiridos. Conforme Coimbra et al. (2003), ao contrário das primigestas, as mães multíparas, que têm maior experiência, sentem-se mais seguras durante a gravidez e dão menor importância ao pré-natal, mostrando que a alta paridade aparece como fator de risco de inadequação do uso do pré-natal. Assim como dito pelos autores, algumas puérperas relatam que o fato de já possuírem um ou mais filhos é um fator que facilita a vivência de uma nova gestação: É que eu já tenho um, então pra mim não tem tanta importância. (Karen) Por não ser o primeiro filho, me ajudou. (Carla) Por já ter um filho, já se tem um pouco mais de experiência e prática. (Ketia) Nota-se que essas mulheres consideram-se com o conhecimento necessário para a espera da próxima gestação, crendo não necessitarem de cuidados como as primigestas e não reconhecendo que cada gestação pode ser vivenciada de forma diferente e seus conhecimentos prévios acrescidos aos novos, o que enriquecem ainda mais sua vivência. 34 A maioria dos profissionais de saúde afirma que um paciente bem informado é um grande aliado ao sucesso do tratamento. Isto não difere no pré-natal. Acreditase que uma gestante que recebe atenção e orientações adequadas durante todo o período gestacional e que participa ativamente de todas as discussões propostas pelo programa, é capaz de vivenciar tanto uma gestação quanto um puerpério de maneira mais saudável e tranqüila. Portanto, considera-se que quanto melhor as orientações passadas às gestantes no pré-natal maior será a adesão destas ao acompanhamento. 5.2.2 Identificando as necessidades e carências do pré-natal Este tema surgiu no decorrer das entrevistas, pois, através das respostas das puérperas, pode-se notar algumas necessidades e carências que as mesmas tiveram durante seu pré-natal. Será iniciado relatando as orientações que as puérperas gostariam de ter recebido durante o pré-natal: Assim, no caso... Dizer se a gente vai ganhar normal ou cesárea, porque a gente vem achando que é cesárea e é normal, ou muita gente não pode ganhar de normal e sei lá, judiam muito... Fiquei com medo, até... O que eu não fiquei na outra, eu fiquei nessa. (Raquel) Para o momento do parto, o que é uma contração, eu não sabia bem o que era uma contração, como acontecia. (Patrícia) Fica marcante em suas falas o sentimento de medo durante o parto; o medo do desconhecido, de não saber que tipo de parto teriam, vaginal ou cesárea, o medo de sentirem dor por não saberem o que é uma contração e como acontece e, como relatou a primeira, medo de ser “judiada” pelos profissionais. Lopes et al. (2005) assegura que todas as expectativas e ansiedades que acompanharam a gestante ao longo de meses, tomam uma dimensão real no momento do parto. Pelas colocações das puérperas, percebe-se a necessidade que tiveram de receber orientações, durante o seu pré-natal, sobre momento do parto, de serem orientadas quanto às possíveis condutas que sofreriam e de serem questionadas quanto aos seus anseios. 35 Acredita-se que uma forma de amenizar esses medos relatados seja, mais uma vez, a orientação, visto que uma gestante bem informada tende a vivenciar uma gestação de forma mais tranquila. As questões do medo e da dor devem ser trabalhadas durante o pré-natal, isto porque, considerando-as como um fator sócio-cultural, elas são exaltadas na nossa cultura, gerando temores no universo feminino, fazendo com que o parto normal tenha conotação de experiência traumática. A partir desta visão, acredita-se que a enfermagem deve desempenhar um papel importante na mudança de tais conceitos e, sendo assim, estes profissionais devem compreender e trabalhar referidos temas dentro dos pré-natais (CAMARA, MEDEIROS e BARBOSA, 2000). A gestante deve ser informada sobre os sinais do parto, deve estar preparada para saber o que é uma contração, como acontece, qual intervalo de tempo entre uma e outra. Igualmente, deve ser orientada quanto aos meios de conforto, para que possa ficar mais tranquila (BRASIL, 2007b). Durante o pré-natal, estas orientações, assim como outras, devem ser fornecidas do inicio até o fim da gestação, pois as gestantes devem ser acompanhadas em todo seu período gestacional. Mas é no final da gestação que elas sentem mais necessidade de acompanhamento, pois, devido a aproximação da chegada de seu bebê, o medo e as preocupações se intensificam. Nota-se isso na fala de Patrícia, que expressa sua necessidade de ser mais acompanhada no final de sua gestação: Acho que no final eles deveriam acompanhar mais. (Patrícia) Na colocação abaixo observa-se outra necessidade de maiores informações, mas que tange ao despreparo para a amamentação: Uma dessas parte foi amamentação. (Daiane) Daiane é primigesta e já havia relatado o fato de ser seu primeiro filho e ter nascido sem ela “saber nada”. Amamentar é um ato importantíssimo tanto para o bebê como para a mãe, visto que os benefícios são para ambos a curto e longo prazo. As vantagens para a mãe, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) (2007), é que o aleitamento materno facilita uma involução uterina mais precoce e está associado a uma menor probabilidade de ter cancro da 36 mama. Ademais, permite à mãe sentir o prazer único de amamentar. Além disso, o leite materno constitui o método mais barato e seguro de alimentar os bebês e, na maioria das situações, protege as mães de uma nova gravidez. A respeito dos bebês, o mesmo autor afirma que o aleitamento materno previne infecções gastrintestinais, respiratórias e urinárias, tem um efeito protetor sobre as alergias, nomeadamente as específicas para as proteínas do leite de vaca e também faz com que os bebês tenham uma melhor adaptação a outros alimentos. A longo prazo, também é referida sua importância na prevenção da diabetes e de linfomas (UNICEF, 2007). O processo de amamentação sempre é enfrentado com dificuldade pelas mulheres; o desconhecimento por parte delas e de seus familiares acabam por dificultar esse processo (TEIXEIRA et al., 2006). Com fundamento nos fatos apresentados acima, acredita-se da importância do aleitamento materno e da dificuldade de vivenciar este momento por parte das puérperas. Desta forma, é importantíssimo que o profissional enfatize durante todo o pré-natal o grande valor de amamentar, além de fornecer auxílio nas técnicas e cuidados para uma amamentação adequada. Para que ocorra educação para a promoção, proteção e apoio da amamentação Montrone, Fabbro e Bernasconi (2009) afirmam que devem ser considerados alguns aspectos como a motivação, o apoio familiar, a orientação pré e pós-natal, os direitos relativos à amamentação, os conhecimentos, as atitudes e as habilidades sobre a prática de amamentar. Os mesmos autores dizem que é necessário proporcionar espaços de reflexões e trocas que auxiliem as mulheres a conhecerem as vantagens da prática de amamentar e, também, para superarem as dificuldades e/ou problemas que possam surgir no processo de aleitar. Desta forma, a puérpera poderá usufruir do direito de amamentar tornando esta prática um momento de prazer para ela e seu bebê (MONTRONE, FABBRO e BERNASCONI, 2009). Pela fala a seguir, pode-se observar que as informações quanto aos cuidados com o recém nascido também foram pouco abordadas durante o pré-natal: Acho que deveria ter fornecido mais. Como lidar com o bebê. Mas isso é porque eu não fui no grupo de gestante... Porque é outra coisa diferente do médico. (Tatiane) 37 Percebe-se na fala de Tatiane a falta de informação a respeito dos cuidados que deve ter com seu bebê, o que denota a relevância da participação do profissional junto a ela durante o seu pré-natal para esclarecer suas dúvidas. Para que a mãe esteja preparada para cuidar de seu bebê, ela deve aprender práticas apropriadas a respeito das necessidades psicológicas e fisiológicas do recém nascido e é o pré-natal que irá ajudá-la a adquirir esses conhecimentos (SHIMIZU e LIMA, 2009). Para Catafesta et al. (2009): Se a mulher for preparada durante o pré-natal, receber informações e orientações pertinentes à gestação, parto e puerpério, enfrentará estes períodos com maior segurança, harmonia e prazer, pois a falta de informação pode gerar preocupações desnecessárias e expectativas frustradas. Concorda-se com a fala dos autores citados acima. As mulheres têm que chegar ao puerpério preparadas para cuidarem de seu filho da forma mais segura e tranquila possível. Este momento é considerado difícil pela maioria das mães, mas elas têm o direito de serem informadas quanto aos cuidados que deve assumir em tal momento, a fim de que possam realizar com prazer esta tarefa. Além disso, Tatiane também expõe seu desejo de ter participado de um grupo de gestantes e essa foi outra carência notada, pois nenhuma entrevistada teve participação em algum grupo voltado para este período. A puérpera reconhece a importância de participar de um grupo de gestantes, uma vez que se trata de um atendimento diferente das consultas médicas. No estudo de Sartori e Van Der Sand (2004) intitulado “Grupo de gestantes: espaço de conhecimentos, de trocas e de vínculos entre os participantes”, seus sujeitos falam da oportunidade de participar do grupo de gestantes, dizendo que o mesmo vem a enriquecer e complementar a assistência pré-natal individual, não significando que se baste por si, mas evidenciando seu valor como prática, relatando que vem a somar na atenção à mulher e ao seu companheiro e ressaltando a importância da integralidade da assistência. Os mesmos autores crêem que esses grupos sejam uma maneira de minimizar ansiedades, fantasias e temores, pois através de um jogo de iguais dá-se a formação de um espaço com grande poder terapêutico para aqueles que participam. Isto ocorre devido à possibilidade que as pessoas têm de interagir em 38 grupo e, assim, elaborarem seus sentimentos em relação ao momento que estão vivendo (SARTORI e VAN DER SAND, 2004). Nestes encontros, as gestantes podem trocar informações, comparar sentimentos e perceber medos e sonhos comuns. Elas, ao terem a oportunidade de conversar umas com outras, ficam mais à vontade para falar das mudanças no corpo, da sexualidade, das ansiedades em relação à gravidez, ao parto e ao nascimento do bebê (BRASIL, 2007b). Além disso, há também a possibilidade de gerar conhecimentos, expressos nos saberes de cada um, o que permite a mobilização destas informações, conduzindo a uma melhor compreensão do momento vivido pelo grupo, o que facilita a integração dos conhecimentos compartilhados (SARTORI e VAN DER SAND, 2004). Com fundamento no pesquisado sobre o tema e visto que estes grupos só tendem a beneficiar as gestantes, pensa-se que os profissionais têm o dever de incentivar a criação de grupos de gestantes, bem como a participação das gestantes, oportunizando-lhes, assim, esta enriquecedora vivência. 5.2.3 Importância do profissional no pré-natal Este tema trata do papel do profissional e sua importância na atenção prénatal. Ao serem questionadas com relação ao profissional que havia realizado seu pré-natal, todas responderam que havia sido um médico, médico especialista ou acadêmico de medicina que as acompanhou. A fala das mulheres enfatiza a alta rotatividade dos profissionais durante o período em que realizaram o pré-natal; o que, para elas, foi um ponto negativo. Vejamos: Cada consulta era com um médico... Era bom, eu só não gostei que cada dia era um diferente; quando ia falar uma coisa, era outro. (Daiane) Foi médico, só que aqui, como eu vou te dizer... Nunca era o mesmo; cada consulta era um diferente. Tu te acostuma com um, né? Uns conversam mais, outros menos. (Fabiana) As orientações só foram muito repetitivas, porque era muito estudante e cada estudante que me atendia falava a mesma coisa que outro já tinha falado... Repetiam muito coisas que eu já sabia e não falavam o que eu precisava. (Patricia) 39 Landerdahl et al. (2007) em seu estudo intitulado “A percepção de mulheres sobre atenção pré-natal em uma unidade básica de saúde” mostra que a troca de profissionais nas consultas pode interferir na qualidade da atenção no pré-natal, pois quando as gestantes não são assistidas pelo mesmo profissional em todas as consultas, são repetidas muitas informações. Oba e Tavares (2000) e Gonçalves et al. (2008) corroboram com a idéia do autor acima quando dizem que o cuidado prestado pelos mesmos profissionais proporciona a segurança desejada e necessária para as gestantes no transcorrer da gravidez. Isto mostra a necessidade que a mulher tem de ser acompanhada por apenas um profissional em todo seu pré-natal, uma vez que traz para a gestante mais segurança. Ela criará um vinculo com o profissional, tendo a liberdade de dividir seus medos e anseios, o que facilitará o desenrolar das consultas. Além disso, o pré-natal fica mais rico em informações e menos repetitivo. Outro fato a destacar foi que nenhuma entrevistada mencionou a participação da enfermagem em seu pré-natal. O mesmo observa-se no estudo de Camara, Medeiros e Barbosa (2000), em que a atenção pré-natal realizada nas instituições de rede privada estudadas se restringia apenas a consultas médicas. Desconsiderando as instituições em que atuam apenas profissionais da medicina, não se sabe se o enfermeiro não tem participação no pré-natal ou não é reconhecido pelo usuário. Assim também foi destacado por Gomes e Oliveira (2005) em um estudo que realizaram com enfermeiros, no qual estes profissionais afirmam que a população, em algumas situações, confunde o enfermeiro com o médico. Um exemplo dado foi a consulta de enfermagem em que o enfermeiro passou a ter a representação de um médico. Para Rios e Vieira (2007), o desconhecimento da consulta de enfermagem, além de configurar um problema de organização interna do serviço, trata-se de um aspecto histórico de representação social. A população ainda não reconhece o enfermeiro ou a enfermeira como um profissional que tem competência para se responsabilizar em acompanhar a gestante. E ainda mencionam que “a visão medicalizada assistencial, na perspectiva da atenção médica exclusiva, reforça um modelo assistencial centrado nas queixas físicas” (RIOS e VIEIRA, 2007). 40 Devido ao não reconhecimento do enfermeiro por parte da população, entre outras dificuldades, acredita-se que a enfermagem deve estar presente e atuante no pré-natal, a fim de fazer-se reconhecida por sua competência. A consulta de enfermagem é distinta da consulta médica, pois o diagnóstico desta é decorrente de sinais e sintomas, o que determina uma patologia, sendo inerente ao profissional médico. Uma consulta não substitui a outra, tendo que se considerar a importância e a necessidade de atuação do médico e do enfermeiro no acompanhamento das gestantes (MOURA, HOLANDA JR & RODRIGUES, 2003). A equipe de Enfermagem, devido a sua alta capacidade educacional, é vista como veiculadora de transformações e tem como objetivo usá-la para a melhoria da qualidade de vida das pessoas (CAMARA, MEDEIROS e BARBOSA, 2000). A Lei do Exercício Profissional de Enfermagem regulamenta a participação inteiramente do enfermeiro no pré-natal de baixo risco e sua atuação em atividades de educação para todas as gestantes (BRASIL, 1987). Desta forma, nota-se a importância que possui a participação do enfermeiro junto à mulher em seu período gestacional. É no pré-natal que ele precisa estar presente de forma atuante, usando esse potencial para auxiliar a vivência saudável destas mulheres. No estudo de Silva, Silva e Lopes (2010), observou-se que nos pré-natais acompanhados por dois profissionais, médico e enfermeiro, houve, na sua grande maioria, um repasse maior de informações acerca das orientações no pré-natal, quando comparado com o acompanhamento feito somente pelo médico. Falcone et al. (2005) alegam que um atendimento pré-natal realizado por uma equipe multiprofissional, que conjuga esforços e conhecimentos de diferentes profissionais, revelou-se uma excelente oportunidade para prevenir, detectar e tratar intercorrências. Assim como afirmado pelos autores acima sobre a importância de um atendimento multidisciplinar para a gestante, acredita-se que não só deve haver atendimento do enfermeiro e do médico, mas também de profissionais da nutrição, psicologia, odontologia, entre outros, pois, quanto mais rico de informações for o pré-natal, mais saudável será a gestação da mulher. 41 6 Considerações Finais A gestação, o parto e o puerpério são períodos de mudanças físicas e emocionais que podem gerar medos, dúvidas, angústias. Sendo assim, o pré-natal é uma assistência que vem acolher, escutar e orientar a gestante de modo que a preparem para vivenciar a gestação, parto e puerpério de forma saudável e tranquila. Através desta pesquisa, procurou-se identificar a importância que o prénatal, mais especificamente as orientações presentes nesta assistência, tem para a puérpera. Neste estudo foi possível observar a percepção das puérperas em relação às orientações recebidas em seu pré-natal. Em maioria, elas afirmam ter recebido orientações, o que nos faz acreditar, num primeiro momento, que os profissionais estão realizando esta prática, mas ao indagar quais foram as orientações recebidas respondem de forma vaga ou não se lembram das mesmas, o que nos faz questionar como será que está sendo realizada esta prática de orientar? Constataram-se algumas carências presentes no pré-natal destas puérperas, como a necessidade de ser acompanhada em todas as etapas da gestação, do inicio ao fim, a falha na orientação sobre o momento do parto, cuidados com o recém nascido, amamentação, entre outras. Outra observação constatada foi que nenhuma entrevistada participou de algum grupo de gestantes. Sabe-se dos benefícios que trazem esses grupos para a vivência do período gestacional-puerperal, tanto para a mulher como para sua família, acredita-se na necessidade de ser proporcionada esta terapêutica para todas as gestantes. 42 Um aspecto importante também observado foi que nenhuma puérpera mencionou a participação do enfermeiro em sua assistência pré-natal. Não se sabe se este profissional não está mesmo presente neste espaço ou não é reconhecido. A enfermagem é vista como prática de cuidar; e cuidar também é orientar, educar para a saúde. Sendo assim, acredita-se na importância do enfermeiro presente na atenção pré-natal, orientando e educando as gestante e suas famílias para a saúde. Mesmo que a amostra tenha sido pequena, acredita-se que sejam significativos os resultados obtidos, pois reflexões e discussões a respeito da importância de oferecer um cuidado integral às gestantes. Além disso, possibilita aos enfermeiros repensar em suas práticas na assistência à gestante, o que lhe é assegurado por lei. Os profissionais da área da saúde não podem tornar-se omissos com relação ao atendimento no pré-natal, é necessário que estimulem a participação ativa das gestantes para que ocorram trocas de saberes entre eles. Uma gestante bem orientada torna-se uma aliada para o sucesso do pré-natal consequentemente para a vivência de uma gestação e puerpério saudáveis. e 43 Referências ALVES, G. G.; AERTS, D. As práticas educativas em saúde e a Estratégia Saúde da Família. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.16, n.1, Jan. 2011. BARROS, S.M.O. Enfermagem no ciclo gravídico-puerperal. Série enfermagem. Barueri, SP: Manole, 2006. BARROS, S.M.O. Enfermagem obstétrica e ginecológica: guia para a prática assistencial. 2.ed. São Paulo : Roca; 2009. BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº. 196/96. Sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília. 1996. 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S ª. autorização para desenvolver meu trabalho de conclusão de curso que tem por objetivo: “Conhecer a partir das puérperas, a importância das orientações no pré-natal para a vivência da gestação e puerpério saudáveis” e dessa forma contribuir para a melhoria da assistência pré-natal oferecida à gestante, desde que autorizado pelo comitê de Ética. A aplicação do instrumento de pesquisa será direcionada a puérperas internadas na unidade obstétrica e será realizada durante a disciplina de Estágio Curricular II, no segundo semestre de 2011. Saliento que obedecerei aos preceitos éticos preservando os sujeitos envolvidos e a instituição, bem como observarei as demais disposições da Resolução 196/1996 do CNS e o código de Ética dos profissionais de Enfermagem. Na certeza de contarmos com o vosso apoio, deste já agradecemos e colocamo-nos a seu inteiro dispor para eventuais esclarecimentos. Atenciosamente, ______________________________ Josiele Zorzolli Bretanha Ribeiro Contato: Fone: (53) 3229 3597 e-mail: [email protected] _______________________________ Enfª Ms Tatiane Machado da S. Soares Contato: Fone: (53)91731278 e-mail: [email protected] Ciente. De acordo _____________________________________ 49 APÊNDICE B – Carta de encaminhamento do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE ENFERMAGEM Pelotas,_____de________________de 2011. Ao comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas Ilustríssimos membros Do Comitê de Ética em pesquisa Ao cumprimentá-los cordialmente, através do presente, solicitamos a vossa apreciação e autorização do projeto de pesquisa intitulado: “IMPORTÂNCIA DAS ORIENTAÇÕES NO PRÉ-NATAL: CONHECENDO A VISÃO DAS PUÉRPERAS”. A pesquisa tem por objetivo conhecer a partir das puérperas, a importância das orientações no pré-natal para a vivência da gestação e puerpério saudáveis e dessa forma contribuir para a melhoria da assistência pré-natal oferecida à gestante. Informamos que os dados coletados serão utilizados para a produção cientifica que resultará em meu trabalho de conclusão de curso, junto à Faculdade de Enfermagem da UFPel, sobre orientação da Enfª Ms Tatiane Machado da Silva Soares e co-orientação da Enfª Esp Sueine Valadão da Rosa. Assumimos, desde já, o compromisso ético de resguardar todos os sujeitos envolvidos no trabalho, bem como a instituição, em consonância com o Código de Ética dos profissionais de Enfermagem, especialmente o Capítulo III, artigos 89, 90, 91, 94, 98, e a Resolução 196/96 do Ministério da Saúde a qual trata de pesquisas envolvendo seres humanos. Certas de seu apoio, desde já agradecemos a oportunidade, bem como colocamo-nos à disposição para eventuais esclarecimentos. Atenciosamente, ______________________________ Josiele Zorzolli Bretanha Ribeiro Contato: Fone: (53) 3229 3597 e-mail: [email protected] _______________________________ Enfª Ms Tatiane Machado da S. Soares Contato: Fone: (53)91731278 e-mail: [email protected] 50 APÊNDICE C – Carta Convite e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Pesquisa: Importância das orientações no pré-natal: conhecendo a visão das puérperas Autores: Orientadora: Enfª Ms Tatiane Machado da Silva Soares E-mail: [email protected] Telefone: (53) 32711334 Co-Orientadora: Enfª Esp Sueine Valadão da Rosa E-mail: [email protected] Telefone: (53) 33214454 Orientanda: Josiele Zorzolli Bretanha Ribeiro E-mail: [email protected] Telefone: (53) 32293597 e 91450372 Pelotas, _____ de ___________________2011 Pretendemos desenvolver uma pesquisa com o objetivo de Conhecer a partir das puérperas, a importância das orientações no pré-natal para a vivência da gestação e puerpério saudáveis. Para isto gostaríamos de convidá-la a participar desta pesquisa, relatando sua experiência e emitindo sua opinião a respeito das questões solicitadas, através de entrevista semi-estruturada e gravada. Estas informações serão compiladas juntamente com a de outros participantes e os resultados obtidos colocados à disposição dos mesmos. A coleta de dados não acarretará em riscos, pois não prevê procedimentos invasivos, ou de ordem moral considerando a entrevista onde as perguntas poderão ser respondidas na totalidade ou em partes. Esta coleta será realizada pela acadêmica Josiele Zorzolli Bretanha Ribeiro, sob orientação da Enfª Ms Tatiane Machado da Silva Soares e co-orientação Enfª Esp Sueine Valadão da Rosa, no segundo semestre do corrente ano. Pelo presente consentimento informado, declaro que fui esclarecido (a), de forma clara e detalhada, livre de qualquer forma de constrangimento e coerção, dos objetivos, da justificativa e benefícios do presente projeto de pesquisa. Da mesma forma, ceder à autora as da pesquisa o direito de expressar as informações contidas na mesma, para divulgação dos resultados em trabalhos científicos. Fui igualmente informado: -Da garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento referente à pesquisa; -Da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, deixar de participar do estudo, sem que isto me traga prejuízo algum; -Da segurança de que não serei identificado e que se manterá o caráter confidencial das informações. Eu _______________________________________________, aceito participar da pesquisa. ___________________________ Participante da pesquisa ___________________________ Pesquisadora 51 APÊNDICE D- Instrumento de Pesquisa UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE ENFERMAGEM Dados pessoais Nome fictício: Sua idade: Sua escolaridade: Seu estado Civil: Em que município reside: Dados Obstétricos Quantas gestações: Nº de filhos vivos: Já teve aborto: Dados do Pré-Natal Onde realizou: Quando iniciou: Quantas consultas: Participou de algum grupo de gestantes: Perguntas norteadoras Você recebeu orientações durante seu pré-natal? Quais foram as orientações que você recebeu? Essas orientações ajudaram você a vivenciar a gestação e agora o período puerperal? Quais orientações, na sua opinião, deveriam ter sido fornecidas durante o pré-natal? Que profissional lhe forneceu orientações durante o pré-natal? 52 ANEXOS 53