EXPERENCIANDO A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PERIOPERATÓRIA BUSANELLO, Rozelaine Maria* PEREIRA, Gislaine Teresinha Schwantz** Este estudo resultou de experiência do uso da Sistematização da Assistência de Enfermagem Perioperatória - SAEP ao cliente submetido a procedimento cirúrgico eletivo no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Maria, desde 2002. Modelo este que tem como referencial o atendimento às necessidades humanas básicas e premissa básica a assistência de enfermagem integral, individualizada, continuada, documentada e avaliada. Nesta Instituição algumas ações vêm sendo retomadas e outras desenvolvidas visando a qualificação do serviço de enfermagem, onde o cliente é caracterizado como objeto central deste investimento. Entre elas está a visita ao cliente no período pré-operatório por enfermeira lotada na Sala de Recuperação Anestésica ou Centro Cirúrgico. Neste trabalho é abordada apenas a fase de visita pré-operatória de enfermagem. Por meio da referida visita ao cliente internado em diferentes unidades da Instituição, no dia que antecede à data da cirurgia, estabelece-se o vínculo entre enfermeiracliente, minimizando situações de sofrimento, na busca de um cuidado subjetivo, cuja essência se traduz na qualidade e humanização das ações. Inicialmente se fez um estudo para elaboração de um instrumento à visita no período préoperatório imediato, buscando identificar quais as dúvidas, angústias e/ou preocupações encontradas na maioria dos clientes e familiares. De posse destes dados foi elaborado um documento semi-estruturado com questões abertas e fechadas, sendo algumas referentes às orientações que são realizadas. Este documento inicia com dados de identificação do cliente como: nome completo, idade, procedência, número do SAME e cirurgia proposta. Na seqüência existe espaço para detalhamento dos valores de exames necessários a cirurgia, bem como doação de sangue. A seguir, encontra-se o item referente às preocupações, ansiedade e medo do cliente e familiares relacionados com o procedimento anestésico-cirúrgico. Posteriormente, organizadas em formato “check list”, questões de orientação sobre o perioperatório, em que constam orientações como: NPVO, tricotomia, higiene, transporte ao Centro Cirúrgico, recepção no Centro Cirúrgico, entre outras, referentes ao período pré-operatório imediato; no período trans-operatório constam às orientações sobre: equipamentos utilizados, tipos de anestesia, rotina com cliente pediátrico; já no pós-operatório imediato se orienta: o despertar da anestesia, equipamentos na Sala de Recuperação Anestésica, presença de drenos, sondas, ostomias, dor, sede, tempo de recuperação anestésica, condições para alta anestésica, internação em sala de recuperação; e no pós-operatório mediato orientações sobre a movimentação, dor, alimentação, entre outras. O enfermeiro encarregado da visita pré-operatória recebe a programação cirúrgica eletiva agendada na Unidade de Centro Cirúrgico para o dia seguinte, contendo nome do cliente, unidade de internação leito e, munido do programa supracitado, dirigi-se às Unidades, dando início à referida visita. Coletam-se os dados iniciais referentes à identificação e exames no prontuário do cliente e após identificá-lo ocorre a apresentação do profissional e objetivo da visita, estabelecendo-se o vínculo enfermeira-cliente. Constata-se que quando esta assistência ocorre em enfermaria, gera uma interação e participação singular, pois neste momento se encontram no local, clientes que estão vivenciando diferentes fases do período perioperatório, como pré-operatório imediato, pós-operatório imediato e mediato, o que possibilita que os questionamentos apresentados por alguns gerem indagações em outros e as informações podem ser repassadas neste no universo apresentado integralmente, diminuindo o tempo da atuação profissional, produzindo amplitude e abrangência neste processo. Deste modo podemos afirmar a influência qualitativa que o grupo exerce. Atualmente o instrumento elaborado sofreu pequenas modificações buscando atualizá-lo, bem como foi elaborado material didático - álbum seriado contendo fotos das Unidades de Centro Cirúrgico e Sala de Recuperação Anestésica, equipe de enfermagem e anestesistas que atendem a demanda das referidas Unidades, dos procedimentos anestésicos e equipamentos para tal. Muitos são os sentimentos vivenciados por pacientes que deverão ser submetidos a procedimentos cirúrgicos. Estes sentimentos possuem características positivas, quando estão relacionados com a solução de agravos, ou negativas ao se manifestar como angústia, ansiedade, impotência ou medo, quer seja da invalidez, da morte ou mesmo do desconhecido. Neste sentido, é importante ressaltar que o cliente espera que a relação profissional de saúde-cliente seja capaz de gerar um acolhimento, que permita uma atuação sobre o seu sofrimento, o seu problema. Espera que o conjunto das ações de saúde ao qual se dispõe submeter lhe traga benefícios, consiga alterar o seu quadro problemático, sendo estas ações efetivas e que o satisfaçam (MEHRY, 1997). Esta experiência tem mostrado efetividade ao possibilitar que a interação prévia permita a visualização global do cliente, identificando necessidades e reportando-as aos cuidadores, produzindo uma assistência satisfatória, para o cliente e para os profissionais. Apresenta-se igualmente valiosa ao proporcionar a identificação de deficiências presentes como: auditiva, de linguagem, motora, desvinculando-as do procedimento anestésicocirúrgico aos quais foi submetido. Este fazer demonstra a necessidade de implementação de um processo de ações sistemático, que produza resolutividade e qualidade assistencial, re-desenhando o papel da enfermeira, gerando visibilidade no seu atuar, em andamento nesta Instituição de ensino.Pode-se afirmar que por meio destas iniciativas a enfermagem se encontra traçando um caminho onde o diferencial está presente no distanciamento daquele atuar em um processo rigidamente estruturado e previsível, cuja singularidade se apresentava como cumpridora de rituais. Hoje em dia trabalhar a complexidade existente na individualidade, tanto do sujeito produtor da ação como no objeto da ação, têm sido a meta proposta na universalidade deste caminhar. Igualmente, têm-se pautado por um profissional distanciado do formato burocrático e tecnicista, valorizando uma participação mais efetiva junto ao cliente, usando o seu principal recurso tecnológico, o cognitivo, para produzir ações educativas, singulares ou não, para a promoção, recuperação e reabilitação da saúde. A enfermagem, firmando-se como ciência e arte, tem procurado estabelecer um distanciamento da estruturação cujo objeto central é a patologia, voltando seu enfoque ao indivíduo e seu comportamento frente à doença, buscando promover seu bem-estar, preparando-o para vivenciar seu processo saúde-doença e inserindo-o no cuidado, e deste modo desenvolver uma re-significação e legitimação profissional. Palavras-chave: Instrumento e inovação tecnológica no trabalho da enfermagem. ___________________ * Enfermeira Técnica-administrativa do Centro Cirúrgico do Hospital Universitário de Santa Maria, Mestre em Enfermagem pela Fundação Universidade Federal de Rio Grande. E-mail do relator: [email protected]. **Enfermeira Técnica-administrativa do Centro Cirúrgico do Hospital Universitário de Santa Maria. REFERÊNCIAS BIANCHI, E. R. F.; LEITE, R. C. B. O; Modelos de assistência de enfermagem perioperatória. In: BIANCHI, E. R. F.; LEITE, R. C. B. O.; (Org). Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação. São Paulo: Manole, 2007 (Série Enfermagem). MERHY, E. E.; CAMPOS, G.W.S.; CECILIO, L. C. O.(org.). Inventando a mudança na saúde. 2.ed. São Paulo: HUCITEC, 1997. MOURA, M. L. P. A.Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação pósanestésica. São Paulo: Senac,1994. WALDOW, V. R.; LOPES, M. J. M.;MEYER, D. E. 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