SESSÃO SOLENE DA CÂMARA MUNICIPAL
DE LISBOA
PALAVRAS DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL,
TENENTE-CORONEL
SALVAÇÃO BARRETO, SAUDANDO O
PRESIDENTE CAFÉ FILHO, EM 23 DS
ABRIL DS 1955.
PR 25C61
Como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
tenho a maior honra e a mais viva satisfação em receber,
nestes Paços do Conselho, o Chefe da grande Nação brasileira, nossa irmã pelo sangue, pela tradição e pela história, e em dirigir a V. Ex.a, em nome do povo da capital,
os mais calorosos e sinceros cumprimentos de boas-vindas.
E' V. Ex.a, Senhor Presidente, recebido aqui, não
apenas pela administração responsável do Município de
Lisboa, mas também pelos representantes de todas as
atividades particulares. Será, porventura, esta a única
ocasião, durante a sua estada em Portugal, em que V. Ex.a
deixa de estar assistido pelo elemento oficial e se encontra
diretamente junto do povo deste país. E digo deste país,
porque neste momento a cidade de Lisboa, como autarquia primaz, representa todas as autarquias nacionais.
Parece-me dispensável, em face do justificado e espontâneo entusiasmo com que a cidade acolheu o seu tão
ilustre hóspede, acentuar com palavras vãs o significado
transcendente deste ato e a importância excepcional desta
solenidade. De resto, V. Ex.a, Senhor Presidente da República brasileira, está nesta casa como em casa própria,
dado que, para todos os brasileiros, Lisboa é terra brasileira, como o Rio de Janeiro, para nós outros, portugueses,
foi, é e será sempre, estou certo disso, terra portuguesa, e
da melhor. E as águas que beijam os cais das nossas duas
cidades não poderão nunca ser um obstáculo ou uma separação, antes se têm mostrado um motivo constante de
aproximação e de amizade.
Desejo recordar, neste momento de alegria plena, de
satisfação entusiástica para todos nós, que há 455 anos,
do Tejo e muito próximo do local onde V, Ex.a ontem
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desembarcou, largaram as naus de Pedro Álvares Cabral
para que se escrevesse uma das mais belas páginas da
nossa História, tão cheia de belas páginas, aquela de que
surgiu para os mais altos e mais nobres ideais uma Pátria
moça, orgulho do mundo moderno, por nós criada, ao calor
do nosso amor e do nosso heroísmo, com extremos de carinho, mas a que o gênio próprio soube depois dar uma feição individualizada e inconfundível. Vive nos brasileiros
de hoje a sensibilidade portuguesa de outrora, tão forte
agora como no passado histórico comum. Foi disso exemplo para nós inesquecível a vossa reação vibrante em face
da agressão ao território de Goa, dando-nos, com uma
solidariedade pronta e vibrante, a certeza absoluta de que
é o mesmo ainda o sangue que gira nas nossas veias.
Representante egrégio dessa Nação admirável, que
é o nosso mais belo motivo de conforto e de esperança,
como ramo querido da árvore multissecular que nos
abriga, V. Ex.a não é para nós um hóspede e muito menos
um estrangeiro. E', por assim dizer, um lisboeta da Outra
Banda do Atlântico, que veio de passeio ao Terreiro do
Paço e entrou, por direito familiar, nesta casa que é de
todos os lisboetas, quer o sejam pelo nascimento ou pelo
coração. E nós só temos de agradecer a honra insigne
com que nos distinguiu e a inesquecível prova de estima
que a Lisboa outorgou, ao subir as escadarias da sua
Câmara Municipal.
E oxalá este gesto de V. Ex.a seja o prelúdio da mais
íntima fraternidade de relações entre Lisboa e as grandes
cidades do Brasil, cuja convivência tanto apetecemos e
desejamos.
Senhor Presidente: Muito e muito obrigado, em
nome de todos os lisboetas!
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