JORNAL DO BRASIL Rio de Janeiro — Terça-feira, 3 de janeiro de 1984 Oficiais PM escoltaram Recife — Em companhia de dois oficiais — o Capitão-PM Euresto Souza de Araújo e o Tenente-Coronel-PM Reginaldo Freitas (que era, na época, chefe do gabinete do Vice'Governador Gustavo Krause), o ex-Major José Ferreira dos Anjos fugiu calmamente do Quartel da Cavalaria Dias Cardoso, da Polícia Militar de Pernambuco, à I h da madrugada do dia 22 de novembro. Condenado a 31 anos de prisão. como implicado no assassínio do Procurador Pedro Jorge de Melo e Silva, ele se dirigiu, em companhia dos dois amigos. para a casa de força, nos fundos do quartel. pulou o muro de menos de dois metros e atingiu a Rua José Veloso. Do lado de fora, esperava-o o carro usado na fuga: um automóvel de cor escura, marca e placas desconhecidas. Estas são as principais informaçõeS sobre a fuga do ex`Major que constam do relatório do IPM instaurado pela Polícia Militar, no dia 22 de novembro, e cujo conteúdo foi divulgado ontem pelo Juiz Auditor Manoel Alves da Rocha. Implicados O IPM tem 287 páginas, mas o relatório conclusivo — mostrado à imprensa — só tem nove páginas. Aponta como envolvidos na fuga o Tenente-Coronel Freitas, o Capitão 4uresto, o radialista Gino Cézar. da Rádio Clube de Pernambuco e o assessor jurídico da PM, Alexandre Advíncula. Levanta suspeitas também quanto ao Coronel reformado Geraldo Pereira de Lima, ex-chefe da Casa Militar do ex-Governador Moura Cavalcânti. Depois de ouvir 38 pessoas. a maioria militares, o Tenente'Coronel Waldeci Lopes da Silva. encarregado do IPM, diz no relatório que o Quartel onde estava Ferreira não dispunha de condições suficientes para guardar um preso. Embora não tenha se referido aos policiais de plantão no dia da fuga — eram 16, e sete ficaram presos até as vésperas do Natal. depois de apontados como negligentes pelo auto em flagrante feito após a fuga — èle afirma que era total a liberdade de Ferreira na prisão: deslocava-se livremente por todo o prédio, recebia .visitas a qualquer hora do dia ou da noite, telefonava quando queria e os oficiais do dia não eram sequer orientados sobre como tomar medidas restritivas em relação a ele. Depois de recebido pelo Juiz Auditor. o IPM foi ontem ,ffiesmo entregue, através de despacho, ao Promotor Hilton ,,Yitalino de Melo. Ele tem 15 dias para denunciar ou não os indiciados. Caso resolva denunciar alguém. a Justiça Militar constituirá processo e ouvirá todos os envolvidos e as testemunhas, precisando de cerca de 90 dias para concluir o trabalho. No final, o caso será julgado pelo Conselho Especial de Justiça Militar composto de quatro oficiais escolhidos por sorteio e do Juiz Auditor. a . 3 7 9511 fuga do ex-Maj9 Carros de luxo k o O relatório mostra que desde a manhã do dia 21 (um dia „antes da fuga) o ex-Major acompanhou os passos do Governador para saber, com antecipação, qual seria a decisão de Roberto Magalhães sobre o ofício do Juiz Federal Petrúcio Ferreira. mandando expulsá-lo da PM. Para isso, utilizou todas as armas possíveis, como os amigos indiciados no inquérito — dois deles com acesso ao Palácio, como Reginaldo Freitas e Advincula. Advincula foi quem deu a Ferreira, às 23h3Omin, a notícia da confirmação da expulsão (ele participara da reunião na qual o Governador decidiu tomar esta atitude). Nesse período, estiveram no Quartel não só os indiciados como também o fornecedor de cana Laerte Pedrosa, o advogado Mircio Ferreira. a mulher do Major. Fátima Ferreira, e os seus dois filhos. Durante o dia e no início da noite desfilaram pelo quartel. transportando esses convidados, automóveis de luxo: Voyage. Landau. Belina e Opala. Com o apoio de quem foi vêlo, Ferreira telefonou para o Chefe do Estado-Maior da PM, Coronel Severino Ramos. e para o Comandante do Quartel, Tenente-Coronel Osvaldo Melo. O primeiro, seeundo o relató_rio, nada lhe informou, mas o segundo confirmou a expulsão. Carta f1T- "Sou um cidadão comum. e o pior, querem me marginalis• tar. Aos meus inimigos comunistas, anistiados e esquecidos, rezem para que eu, de fato, não me marginalize. Se isso acontecer. provavelmente voltarei ao Brasil, esquecido também da anistia. disposto a tudo, usando de toda a minha experiência e de meu adestramento contra esses revanchistas, que querem me incriminar de qualquer maneira". Este é uni trecho da carta do ex-Major José Ferreira dos Anjos enviada ao repórter Edilson Torres, da Rádio Clube, divulgada na manhã de ontem no programa Bandeira Dois. daquela emissora. A carta foi colocada no correio da cidade paraguaia de Mafiana, dia 19 de dezembro. Em outro trecho. o ex-policial diz: "Se a descrença nas autoridades do meu País se concretizar. não sei se aqui. a distância. longe dos meus parentes e dos meus amigos, e da minha terra, permanecerei sereno - . Ferreira escreveu também ao Governador Roberto Magalhães, inocentando seus exçompanheiros da PM pela sua fuga. O ex-Major deu teor político à correspondência: "A 1.;) nistia é ampla e irrestrita ou simplesmente é unilateral?" — ! R.-.Àndaga em outro trecho, no qual diz que a sociedade brasileira tem memória curta: No mesmo dia em que escreveu ao radialista, Ferreira escreveu ao Governador Roberto Magalhães, que recebeu a carta dia 27 de dezembro. Somente hoje Magalhães decidirá se divulga o seu conteúdo. Ferreira Ex-major fugiu com escolta de 2 oficiais PM Foi na companhia de dois oficiais da PM o Capitão Euresto Souza de Araújo Tenente-Coronel Reginaldo Freitas — que ex-Major José Ferreira dos Anjos, condenado a 31 anos de prisão como mandante do assassínio do Procurador Pedro Jorge de Melo e Silva, fugiu do Quartel de Cavalaria Cardoso Gomes, no Recife, onde estava preso, dia 22 de novembro. A informação consta do relatório do 1PM instaurado pela Polícia Militar, cujo conteúdo foi divulgado pelo Juiz-Auditor Manoel Al‘es da Rocha. Da cidade paraguaia de Manava. o ex-Major Ferreira enviou carta ao radialista Edilson Torres, na qual ameaça: "Se a descrença nas autoridades do meu país se concretizar, não sei se permanecerei sereno." (Página 7.