STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 1 Autora: Adriele Carla Pereira Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. É professora da Educação Infantil no Instituto Educacional Acalanto, em Belo Horizonte. O olhar da gestão sobre os alunos com necessidades especiais na escola inclusiva Resumo gestão sobre os alunos com necessidades edu- O presente artigo visa refletir sobre os múltiplos olhares que o coordenador pedagógico deve ter para atender os alunos com necessidades educacionais especiais, pois questões sobre a inclusão são o grande desafio para o desenvolvimento do aluno que apresenta dificuldades de aprendizagem em uma escola particular da Educação Infantil, procurando analisar a utilização de recursos para a construção do processo de aprendizagem. chamou a minha atenção no que diz respeito aos cacionais especiais dentro da escola inclusiva direitos humanos, principalmente educacionais. Para isso, no âmbito escolar, deve-se organizar e desenvolver juntamente com o corpo docente práticas de ensino voltadas para todos os alunos, tendo como objetivo e responsabilidade atender às necessidades dos educandos. O retorno será uma educação de qualidade. A educação é reconhecida mundialmente co- A tarefa da escola, bem como da gestão, con- mo o primeiro investimento de socialização de siste não em se adaptar à diferença apenas, mas um indivíduo, é uma necessidade humana pri- principalmente em lutar para vencê-las. Dessa mordial, que torna a pessoa valorizada em seus forma, a inclusão significa que não é o aluno que princípios morais e intelectuais. Os anos iniciais tem que se moldar ou se adaptar à escola, mas a do ensino fundamental baseiam-se em uma edu- escola, consciente de sua função, deve se colo- cação focada nas questões éticas e morais, além car à disposição do aluno. de instigar a curiosidade, o espírito crítico, a autonomia e a criatividade. Diante dessas colocações, o estudo de caso analisado mostra os desafios enfrentados pela Este artigo pretende ser um espaço para a di- coordenação para desenvolver práticas inclusi- vulgação da reflexão resultante das observações vas com Paulo¹, um aluno de 5 anos de idade, do Estágio de Supervisão Escolar. O olhar da que ainda não possui um diagnóstico fechado por médicos e especialistas. O principal desafio é desenvolver uma pedagogia que lhe assegure uma educação a partir de currículos adaptados, modificações organizacionais, estratégias de ensino, recursos e parcerias com outros especia- Página - 117 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral O olhar da gestão sobre os alunos com necessidades... Diante desse quadro, pode-se perceber as dificuldades do aluno para acompanhar o conteúdo escolar em relação ao ritmo dos colegas da mesma faixa etária. Apresenta quadros de falta de atenção e concentração, medo, insegurança, raciocínio lento, tem potencial, mas tem dificuldade em trabalhá-lo e desenvolvê-lo. Nessa perspectiva, há uma reflexão sobre a questão da responsabilidade e conscientização da gestão para uma atenção especial a esse aluno. Vygotsky (1996) destaca a importância de uma atenção especial à educação dos alunos com necessidades especiais sobre as conseqüências em seu desenvolvimento, pois fornece a base teórica para melhor compreensão da prática educacional. Vygotsky afirma que, se ocorre um dano seja físico seja cognitivo, outros sistemas sensórios devem ser estimulados. Nessa visão, durante o estágio curricular, pude perceber que a situação da educação de Paulo não se limita ao aspecto didático-pedagógico. O aluno é incluído no espaço escolar através da interação sócio-afetiva. O educando deve sentir-se acolhido e perceber que a diversidade não se constitui um obstáculo e sim um estímulo para a formação de consciência de todos os envolvidos no processo sócio-educacional. Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento estão estreitamente relacionados, sendo que as crianças se inter-relacionam, internalizando o conhecimento advindo de um processo de construção. A grande novidade na teoria de Vygotsky no campo da aprendizagem está no conceito de ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal. É necessário que o educador crie com seus alunos com necessidades especiais Zona de Desenvolvimento Proximal, ou seja, atividades que o aluno consegue fazer sozinho e outras que ele é capaz de fazer com a ajuda dos outros. Segundo Vygotsky, saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que educador precisa ter. Crianças com necessidades especiais desenvolvem mais devagar do que os alunos ditos “normais”, daí a necessidade de se trabalhar em sua Zona de Desenvolvimento Proximal. “Elas necessitam de muito mais ajuda, de maiores interações, de mais ensino, de mais tempo”. O professor deverá fazer junto com o aluno o que ele não consegue fazer sozinho. Isso exige uma atenção muito grande por parte do professor, que deverá se preocupar em estabelecer sempre um espaço de comunicação com o aluno, caminhando junto com ele até que possa alcançar um desempenho independente. Nessas perspectivas de Vygotsky, cabe ao coordenador e ao professor estarem atentos às peculiaridades do aluno com necessidades educacionais, sobretudo saberem que o aluno com necessidades especiais não representa uma doença, mas uma deficiência da experiência social. Deverá existir também um investimento individual do professor: planejamento diário, preparação do ambiente de sala de aula, avaliação processual através de relatórios, busca constante na sua formação como educador. Página - 118 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS listas, como psicólogo e fonoaudiólogo. Paulo apresenta dificuldades na aprendizagem. Cabe ressaltar que, revisitando a bibliografia, encontramos algumas definições que apontam para a origem do sintoma, ligado à aprendizagem. Assim temos: Dificuldade - origem cognitiva; Distúrbio - origem neurológica ou genética; Problema origem emocional. Adriele Carla Pereira O olhar da gestão sobre os alunos com necessidades... “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Portanto, os subsídios sobre a inclusão para a ação pedagógica no cotidiano escolar têm causado um certo impacto no meio escolar e, com isso, surgem muitas dúvidas quanto às ações pedagógicas inclusivas. Para finalizar, compartilho o pensamento de Emília Ferreiro: “A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa...” Adriele Carla Pereira Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno. Referência: VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Página - 119 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 2 Autora: Alairce Aguiar de Lacerda Graduanda do curso de Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais da PUC Minas. Alfabetização de alunos nas séries finais do ensino fundamental Resumo O objetivo central deste artigo é analisar as dificuldades de aprendizagem na aquisição da leitura e da escrita apresentadas por uma turma da 6ª série do Ensino Fundamental de uma escola da rede estadual da Região Metropolitana de Belo Horizonte e sugerir possíveis intervenções para saná-las. O caso estudado teve como principal objetivo analisar uma turma da 6ª série do Ensino Fun- Os professores são, em sua totalidade, graduados e passam por um processo seletivo para ingressar na escola. O material didático é fornecido gratuitamente a todos os alunos, porém notei que o tratamento dispensado ao material pelos alunos aproxima-se do vandalismo. Pareceu-me que esse comportamento se dava pelo fato de os alunos não dominarem a leitura. damental de uma escola da rede estadual, locali- A infra-estrutura da escola atende perfeita- zada na periferia Belo Horizonte, que apresenta mente às necessidades básicas para que sejam dificuldades de aprendizagem na prática da leitu- ministradas as aulas, bem como oferece bem- ra e da escrita e, em seguida, sugerir algumas estar aos alunos e aos professores. intervenções para alfabetizar esses alunos. Os alunos que apresentam melhor desempeDurante aproximadamente trinta dias acom- nho têm, em sua maioria, o apoio dos pais, inclu- panhando a turma, pude observar que cerca de sive a presença deles na escola. Em contraparti- 80% dos alunos apresentam um déficit de apren- da, os que apresentam mais dificuldades são dizagem: não sabem ler nem escrever correta- também os que não recebem esse apoio e incen- mente. tivo. Diante desse contexto, o que fazer para A turma apresenta grande discrepância de idade, variando entre 11 e 18 anos, sendo grande parte deles repetente ou fruto da evasão escolar. ajudar a turma? O processo de aprendizagem é complexo e precisa de uma sintonia entre professor, escola e família. Assim, partilhando as obrigações, o processo de alfabetização se torna prazeroso e eficiente não só nas séries iniciais, mas também nas séries finais. Página - 120 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Alfabetização de alunos nas séries finais do ensino... Cabe à Coordenação Pedagógica da escola, juntamente com os professores, desenvolver um projeto para alfabetizar os alunos, pois, se os alunos não sabem ler, não é possível trabalhar de forma producente os conteúdos curriculares. É preciso agir rápido para que os mesmos não desistam novamente, inchando ainda mais o grupo dos evadidos da escola. Ao professor, cabe respeitar a individualidade dos alunos, reconhecendo que todo aluno é capaz de aprender, desde que se respeite o tempo de cada um e se trabalhe de forma específica as suas necessidades. À escola, cabe oferecer infra-estrutura adequada para acolher os alunos e oportunizar o desenvolvimento de suas potencialidades, oferecendo aparato instrumental e instrucional ao professor, para poder desenvolver seu trabalho da forma mais efetiva. Como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, nenhuma criança ou adolescente pode ser privada do direito à educação. Nenhuma necessidade especial pode privar a criança do contato humano nem afastá-la do contato com os colegas no universo escolar. No entanto, as escolas devem estar preparadas para receber bem os alunos e implantar uma educação de qualidade a toda e qualquer criança, independente de sua necessidade. Concluo, portanto, que o processo de alfabetização é possível em todos os níveis e séries. O que se deve fazer é implantar um projeto eficiente de educação em sistema de parceria, envolvendo pais, professores e escolas, sem a preocupação de transferência de responsabilidades e atribuição de “culpa” entre as partes, como é costumeiro. Referência: BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Brasília: Senado Federal, 2003. 216 p. À família, compete participar efetivamente do processo educacional, seja no acompanhamento diário ao filho em casa, seja em visitas freqüentes à escola numa periodicidade que propicie uma parceria entre pais, professores e escola. Página - 121 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Os problemas que se apresentam na alfabetização estão, em sua maioria, relacionados a um mau desenvolvimento nas séries iniciais; seja por déficit na aprendizagem, seja por falta de incentivo ou por desinteresse. A educação, como um todo, deve ser entendida como um processo de transformação, lento e gradativo, que se dá desde o nascimento. Alairce Aguiar de Lacerda STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 3 Autora: Ana Carolina Alves Pereira Endereço eletrônico: [email protected] Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. É professora do Sistema de Ensino Recriar. Distúrbio Emocional Resumo senvolve mais suas atividades diárias com satis- Problemas emocionais e comportamentais podem estar associados ao baixo rendimento escolar dos alunos. Os distúrbios comportamentais representam uma forte condição de risco para o desenvolvimento da aprendizagem e o trabalho educacional com crianças com déficit de aprendizagem deve considerar aspectos ligados também a esse tipo de comportamento. Com o objetivo de analisar o tema, o presente artigo relatará um estudo de caso que conceitua esse distúrbio emocional e comportamental. para o baixo desempenho escolar. fação e entusiasmo, causando, assim, um risco Segundo Grunspun (1985), crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam modos de enfrentamento inadequados frente às situações cotidianas e às relações interpessoais, predominando condutas que sugerem baixa capacidade de auto-regulação, hostilidade e resistência às normas. Muitas vezes, elas são descritas como desobedientes, irritáveis, impacientes, agita- Para muitas pessoas, problemas ligados ao das, inseguras, briguentas e destrutivas. emocional, ao comportamental e ao psicológico existem, mas elas não reconhecem tais distúr- No contexto familiar, variáveis relaciona- bios como algo que precisa ser tratado e que das às características pessoais dos pais, ao pró- necessita de acompanhamento médico. prio funcionamento da família, à estrutura e à organização do ambiente doméstico aparecem Em sala de aula, muitas crianças são alvo de associadas ao rendimento escolar. desconfortos emocionais que têm sérios efeitos e uma grande repercussão na sua vida, sendo No contexto social mais amplo, encontram-se prejudiciais tanto no desempenho escolar, como condições como a depreciação da criança por no relacionamento com professores, colegas e a outras pessoas; rejeição e agressão; inadequa- própria família. A criança praticamente não de- ção da professora; greve escolar e mudança de professora, classe ou escola durante o ano letivo. Esses fatores vão influenciar tanto a aprendizagem quanto o comportamento da criança em geral, podendo alguns deles aparecer desde a gestação e acompanhá-la por toda a sua vida. (WILKINSON, 2001). Página - 122 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral De modo geral, os problemas de aprendizagem têm sido freqüentemente encontrados em associação com diferentes situações que envolvem tanto as características pessoais da criança com dificuldades quanto as condições de seu ambiente familiar e do ambiente mais amplo. Considerando essas questões, o presente artigo tem por objetivo relatar características comportamentais de Tatiane¹, 8 anos, aluna da 1ª série do ensino fundamental, em uma escola particular de Belo Horizonte. Apresenta baixo rendimento escolar, com base na avaliação de pais e professores. A aluna faz acompanhamento pedagógico e psicológico na escola. Tatiane é um caso que está sendo estudado, devido à incidência de problemas emocionais e comportamentais. A aluna chega à escola com comportamentos notados por todos, pois se apresenta agitada, impaciente, desobediente e briguenta. Semanalmente, há encontros da turma com a psicóloga que orienta a família e, em outro turno, com os pais de Tatiane. Ana Carolina Alves Pereira Por isso, são importantes estudos que utilizem instrumentos semelhantes, aplicados tanto a pais quanto a professores, na investigação das associações entre comportamento e aprendizagem, buscando minimizar a influência das diferentes expectativas e dos possíveis resultados da análise feita. Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. Referências: GRUNSPUN, H. Distúrbios neuróticos da criança. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu, 1985. WILKINSON, Greg. Guia da Saúde Familiar: Stress. Revista ISTOÉ, Rio de Janeiro, Edição especial, p. 1-90, 2001. No processo de alfabetização, a aluna desconcentra os demais colegas da turma, necessitando sempre da presença da diretora na sala de aula, só assim ela consegue se concentrar e se adequar ao ambiente. Em relação à escrita, Tatiane está alfabetizada, mas necessita da intervenção da professora para possíveis interpretações. Ela freqüenta aulas de reforço. Segundo a psicóloga da escola, Tatiane está em teste, mas há como hipótese um distúrbio comportamental. Portanto, a presença da família é peça fundamental diante desses comportamentos. Página - 123 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Distúrbio Emocional STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 4 Autora: Ana Paula de Carvalho Endereço eletrônico: [email protected] Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Conflito familiar: um desafio para a escola Resumo os obstáculos como se fossem desafios. Nos O presente artigo apresenta o relato da coordenação pedagógica de uma escola estadual situada na região Leste de Belo Horizonte. A referida instituição atende a um público de classe média-baixa e, dentro de sua filosofia educacional, procura promover uma educação de qualidade para todos seus educandos. O relato se refere ao estudo de caso de uma aluna que apresenta alterações de comportamento que, com o passar do tempo, passam a comprometer o seu rendimento escolar. pela sua capacidade de se relacionar com os conselhos de classes, a aluna é sempre elogiada colegas de classe e funcionários. A mãe sempre acompanha e comparece na escola para reuniões e eventos festivos. Em agosto de 2007, a aluna retorna das férias se comunicando com pouca freqüência com os colegas e professores. Monique não mais brincava, sorria ou até mesmo conversava com as pessoas. Após conversas entre os professores e a Monique¹ tem 12 anos e cursa a 6ª série do Coordenação do turno, os mesmos suspeitaram Ensino Fundamental. Está na escola desde a 5ª de conflito familiar que pudesse estar afetando o série e sempre se apresentou motivada em todas emocional da aluna ou algum problema de saúde as atividades propostas. Nunca foi reprovada ainda não repassado para a escola. nem perdeu média, sempre foi destaque em sala de aula pelo seu excelente desempenho escolar. A aluna foi chamada para uma conversa junto A aluna pertence a uma família de classe baixa e à coordenação, porém não relatou nada de a- reside em um bairro da periferia próximo da es- normal, apenas um pouco de desânimo. A mãe cola, porém sua realidade de vida não representa de Monique foi convocada várias vezes pela es- para ela motivo de dificuldades ou limitações, cola para uma reunião com a coordenação, po- pelo contrário enfrenta rém a mesma não comparecia sob alegação de doença. Após algum tempo, a mãe comparece à escola relatando que está com problema de saúde, e que o resultado dos exames sairá dentro de uma semana. Relata também que o ambiente familiar Página - 124 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Conflito familiar: um desafio para a escola se encontra normal. Os dias passam e a aluna educacional, volta a sorrir e a se comunicar com permanece em seu quadro de silêncio. Nesse os colegas, mesmo com pouca freqüência. período, a aluna perde sua primeira média e a situação se apresenta de forma mais agravante. O que se percebe, a partir deste relato, é que a escola se encontra desafiada pelas exigências Passa-se mais um mês e novamente a mãe é da atualidade, tendo que apresentar constantes chamada na escola para uma nova reunião e, intervenções, a partir de uma Pedagogia mais após alguns instantes de conversa, a mesma, em inovadora, pois, para que aconteça uma educa- um desabafo, relata toda a situação de conflitos ção de qualidade, é necessário desenvolver a- vivenciada em casa com o marido, sempre com ções na escola voltadas para a pluralidade e a brigas na frente da aluna. Imediatamente, a mãe complexidade, decorrentes da interdependência é aconselhada a denunciar o esposo e encami- existente entre a escola, a família e o contexto no nhar a filha para acompanhamento psicológico. qual todos estão inseridos. A aluna vem apresentando dificuldade de aprendizagem, devido aos conflitos relatados pela mãe. A escola acompanha sistematicamente o desenvolvimento da aluna, promovendo ações entre o corpo docente, e realiza reuniões periódicas com a mãe, aconselhando-a a se separar do marido, em face das agressões físicas que se tornam cada dia mais graves. A mãe se compromete com a educação da filha, dizendo que tomará coragem para se separar, mas três meses Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. Referência: PERRENOUD, Phillippe. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. se passaram e a mãe ainda não apresentou sinais de mudança ou atitude. A escola, então, denuncia a mãe para o Conselho Tutelar. Monique é, inicialmente, acompanhada de perto pelo órgão responsável pelo amparo ao menor e a mãe, finalmente, denuncia o marido que, logo em seguida, foi preso. Monique continua freqüentando a escola e, após cinco meses de intenso acompanhamento pelo corpo docente e discente, a aluna começa a apresentar melhoras em seu desenvolvimento Página - 125 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Ana Paula de Carvalho STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 5 Autora: Ana Paula Soares Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Os olhos que perceberam outros olhos Resumo Imagine só a criança, em fase escolar, que apresenta uma dessas doenças, sem óculos ou Este artigo relata a história de uma criança que perdeu uma das vistas devido à negligência e desinformação dos pais, o que poderia ser evitado quando há ações como providenciar óculos sem custo para a criança, tratar ou encaminhar para serviços especializados. sem assistência adequada! É sabido que os problemas relacionados aos olhos acarretam prejuízo ao aprendizado e à socialização. Na escola, a criança que apresenta um desses sintomas só enxergará a lição se estiver bem próxima do quadro, conseqüentemente ela terá um baixo Miguilim olhou. Nem podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo. E lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. desempenho escolar. Este artigo fará o relato do estudo de caso re- (Guimarães Rosa) alizado com a aluna Larissa1, que freqüenta uma De acordo com o Manual de Orientação ao escola pública, inclusiva, localizada na região Professor de uma campanha realizada pelo go- norte de Belo Horizonte. Hoje aos onze anos de verno federal no ano de 1996, 85% do contato do idade, ela cursa o 3º ano do 2º ciclo. A sua histó- homem com o mundo dá-se pela visão. A maioria ria iniciou aos seis anos de idade, quando seus das crianças em idade escolar nunca passou por professores observaram uma mancha esbranqui- um exame oftalmológico. E estima-se que 10% çada em um dos seus olhos. No primeiro mo- dessas crianças necessitam de óculos e, ainda, mento, a direção da escola solicitou a presença aproximadamente 20% delas apresentam doen- da família para averiguar se eles já tinham co- ças visuais como: erro de refração, conjuntive, nhecimento das observações feitas por eles. A estrabismo, seqüela de acidente ocular, malfor- princípio, as respostas às solicitações foram ne- mação congênita entre outras. gativas. Então foram necessários outros encaminhamentos. Após vários encaminhamentos, a mãe procurou a escola e a sua explicação não tranqüilizou os professores porque a situação da aluna demonstrava claramente o contrário. Página - 126 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Ana Paula Soares No decorrer dos meses, houve um agravamento do problema no olho direto da criança e foram necessários novos encaminhamentos à família com o objetivo de exigir a apresentação dos exames feitos, como a mãe havia relatado. Assim, foi possível constatar que os pais não estavam tendo os cuidados adequados com a doença da aluna, uma vez que os professores acreditavam tratar-se de glaucoma, devido aos sintomas. presentava perda de visão no olho esquerdo. A direção da escola conseguiu consultas no Hospital Hilton Rocha e assim, pouco a pouco, foi dando oportunidades de atendimento com mais freqüência a ela. Acredita-se que a família, nesse momento, já está mais esclarecida e se dedica ao máximo para que a Larissa faça o tratamento, porém os esforços da escola não puderam amenizar o sofrimento da aluna, que perdeu a visão do olho direito. Mas o que é glaucoma? É uma doença nos olhos que pode se manifestar na infância, é considerada uma doença devastadora e pode causar cegueira irreversível. A realização do diagnóstico precoce da doença é de suma importância, pois é sabido que tanto o prognóstico cirúrgico quanto com o visual são alentadores quando é realizado o tratamento pronto e adequado. Fica para nós, contudo, uma lição. É importante informar aos pais sobre quaisquer mudanças no corpo das crianças, pois tais alterações podem causar uma deficiência ou uma doença grave. A direção solicitou, novamente, a presença da família para esclarecimento das suspeitas dos professores. Foram muitos encaminhamentos e várias convocações até que a família apareceu, novamente, na escola. Então a direção orientouos para futuras ações que a família deveria assumir. Após o esclarecimento à família, houve o encaminhamento da aluna à sala de recursos da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) para ser avaliada por especialistas. Ela teve que ser encaminhada a outros setores, como hospitais e clínicas especializadas. Como a família achava dificuldade em tudo, algumas vezes a direção da escola a levava. Foi através do convencimento que a família participou do tratamento. Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. Referências: ALVES, Ruiz Milton; JOSÉ-KARA, Newton. Manual de Orientação ao Professor - Olho no olho. Campanha Nacional de Reabilitação visual / Ministério Público Federal, Brasília: MEC, 1996. ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim: corpo de baile. 14 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. SILVA, Pedro Jorge de Melo (org). O acesso de alunos com deficiências ás escolas e classes comuns da Rede Regular. Ministério Público Federal, Brasília: MEC, 2004. Depois de dois anos de muita cobrança por parte da escola e resistência da família, foram conseguidos óculos para a aluna, pois ela já a- Página - 227 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Os olhos que perceberam outros olhos STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 6 Autora: Carolina Oliveira Gomes Campos Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Baixa auto-estima? Valorize-se! Resumo sobre nossas limitações e potencialidades. Ela A baixa auto-estima é um problema sério e, sem dúvida, um dos maiores problemas educacionais. A baixa auto-estima consegue inibir a relação com o mundo e impede, muitas vezes, de se conseguir prazer e satisfação com as experiências de vida. capacidades para solucionar as dificuldades que consiste em confiar nas próprias habilidades e surgem na vida. Significa considerar-se como alguém com direito a se expressar, se valorizar e defender seus interesses e necessidades, em pensar que você é uma pessoa com valor, res- Este artigo baseia-se no estudo de caso do peitável e com direito a ser feliz. aluno Pietro , 14 anos, estudante da 8ª série do A baixa auto-estima, por sua vez, é um pro- ensino fundamental de uma escola particular de blema sério e, sem dúvida, um dos maiores pro- Belo Horizonte. Segundo relato da coordenadora blemas educacionais. O aluno com baixa auto- da escola, o aluno tem sempre a sensação de estima não aprende, não evolui. Pessoas com incapacidade e de falta de aceitação, apresenta essa síndrome são infelizes, incapazes de consi- complexo com o físico, tem pensamentos do tipo: derar a si mesmas como membros aceitáveis no "não valho nada", "faço tudo mal ou não tão bem grupo, como criaturas significativas. como deveria", "não gosto de mim mesmo...". Está sempre insatisfeito com suas relações, suas A baixa auto-estima inibe a relação com mun- atividades não o deixam feliz, acha que tem pou- do e impede muitas vezes de se obter prazer e cas habilidades ou pouca capacidade intelectual satisfação com as experiências de vida. e seu lazer também não o satisfaz. Segundo Magalhães (2004), O relato indica características de baixa autoestima. A auto-estima refere-se ao valor que atribuímos a nós mesmos, ao conceito que temos As pessoas com baixa auto-estima rotulam-se negativamente (“Como sou burra, faço tudo errado"). Mas nós não somos um objeto e, como tal, não nos podemos rotular. Um rótulo é sempre uma generalização exagerada, que não tem significado porque a vida é um processo contínuo de mudança, com mudanças psicológicas constantes. Estes pensamentos negativos não determinam o nosso valor, nem os nossos atos ou pensamentos. Se eles nos fazem sentir mal, o melhor é “varrê-los” da cabeça. Nós sentimos o que pensamos! Página - 128 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Os pais de Pietro foram chamados pela coordenadora da escola para uma possível autorização e encaminhamento à psicóloga da escola. Mas não foi possível, por os pais acharem que o filho não tem motivo para ter a auto-estima baixa. Eles acham que o filho tem tudo o que precisa e quer em casa e que tudo que lhe foi cobrado em troca é que fosse sempre um bom aluno. Carolina Oliveira Gomes Campos Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno. Referência: MAGALHÃES. Fernando Lima. A auto-estima. Revista Educação, set. 2004, p. 25 a 30. Acreditamos que o aluno se tornaria um adulto equilibrado e feliz se os pais dissessem mais vezes ao filho o quanto ele é amado, se evitassem colocá-lo como modelo de perfeição, se o elogiassem sempre que ele merecer com palavras que, na hora certa, validam e dão todo o apoio de que ele precisa. Os pais não podem simplesmente ignorar que as crianças possam ter problema. O fundamental é o bem-estar da criança, lembrando que não se deve ter resistência ao tratamento em benefício da saúde do aluno. Página - 129 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Baixa auto-estima? Valorize-se! STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 7 Autora: Clélia da Costa Pereira Aguiar Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. A indisciplina e a agressividade dos alunos nas séries finais do Ensino Fundamental Resumo Este artigo relata um estudo sobre a indisciplina e a agressividade de alunos das séries finais do Ensino Fundamental, realizado numa escola da rede pública estadual da Região Metropolitana de Belo Horizonte, expondo soluções encontradas pela coordenadora pedagógica juntamente com os professores e os alunos, através da observação e de diálogo investigativo. A educação é um processo de grandes transformações, acompanhado de inúmeros desafios que surgem decorrentes das mudanças sociais, Nesse contexto, foi realizada, no primeiro semestre de 2008, uma análise da indisciplina e da agressividade numa escola pública estadual da periferia de Belo Horizonte. Nessa escola, constatou-se que as mais freqüentes queixas são a agressividade e a indisciplina escolar, consideradas empecilhos para o processo de ensino e aprendizagem, com especial destaque para duas turmas, uma de 6ª e outra de 7ª série. Os dados foram coletados a partir de observação e conversa com professores, alunos e coordenadora pedagógica. econômicas e políticas que refletem no contexto A maioria dos alunos dessas turmas não res- educacional, de forma a exigir dos educadores peita os professores nem se interessa em apren- práticas educativas inovadoras. Entre tantos, a der os conteúdos ensinados. Eles são dispersos, indisciplina e a agressividade presentes no ambi- não têm limites e, na maioria das situações, os ente escolar merecem ser analisadas e discuti- professores não apresentam condições para das com urgência, devido ao seu crescimento controlar a disciplina, o que torna evidente a per- constante no cotidiano escolar. Vale ressaltar da de autoridade do professor em sala de aula. que o ato de educar é extremamente desafiador, complexo, e envolve aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos e culturais. Silva (2003), ao definir indisciplina escolar, afirma que todas as vezes que um aluno desrespeita as regras da instituição é considerado indisciplinado. Ainda para esse autor, a agressividade é considerada também uma forma de indisciplina, a mais preocupante na atualidade. Página - 130 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral A indisciplina e a agressividade dos alunos nas séries... O motivo considerado mais relevante foi a defasagem idade/série. A fim de confirmar essa hipótese, a coordenadora pedagógica sugeriu o diálogo mais investigativo com os alunos e uma visita às famílias, por considerar que a familia é o primeiro e mais importante espaço no qual cada indivíduo se insere como ser social e aprende valores morais e sociais. A educação familiar é um fator bastante importante na formação da personalidade do indivíduo, desenvolvendo seu senso crítico, ético e de cidadania, o que se reflete diretamente no contexto escolar. Segundo Gokhale (1980, p. 33), a organização familiar não é: [...] somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o centro da vida social... A educação bem sucedida da criança na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for adulto... A família tem sido, é e será a influência mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas. Vale lembrar que, apesar de não encontrarem apoio na direção da escola, os professores encontram apoio na coordenação pedagógica e procuram trabalhar em equipe. Vale ressaltar que muitos não se sentem motivados frente a mais essa dificuldade, pois sempre que procuram a direção não encontram o apoio necessário para a solução de problemas, o que contradiz o verdadeiro papel da escola. Como afirma Libâneo (1998), a pedagogia necessita configurar seus temas diante das novas realidades do trabalho produtivo, dos avanços tecnológicos, das mudanças de paradigmas do conhecimento, das mudanças de entendimento e das transformações sócio-politicas e culturais, levando o pedagogo e os professores a inovar suas atitudes e acompanhar as demandas da sociedade. Vasconcelos (2000) deixa claro que “são tantas as mudanças, são tantos os desafios colocados para os professores, que é preciso um espaço onde possam estar refletindo juntos, estudando, analisando a própria prática, trocando experiências, avaliando o trabalho, etc.” O autor argumenta ainda que: “enquanto cada um fica na sua posição, não encontraremos alternativas. Ao contrário, o que vislumbramos é o compromisso de cada setor com suas responsabilidades, dentro de uma visão de totalidade, articulando com os demais, cobrando, exigindo, inclusive, que cada parte assuma suas respectivas responsabilidades.” Com a confirmação da hipótese, foi decidido juntamamente com alunos e professores que seria montada uma nova turma com todos os alunos que se encontravam em defasagem idade/série e que seria realizado um trabalho diferenciado com os mesmos para promover a Aceleração de Estudos, de acordo com a legislação vigente. Página - 131 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Visto que todo ato exercido pelo ser humano tem um motivo, percebe-se que a coordenadora procura, juntamente com os professores, buscar soluções coerentes para os problemas encontrados. A coordenadora, primeiramente, se reúne com os professores, a fim de identificar os motivos da indisciplina e da agressividade. Foram apontados alguns motivos já observados pelos professores, como, por exemplo, a falta de apoio familiar, a situação econômica precária, a defasagem idade/série e a falta de interesse, entre outros. Clélia da Costa Pereira Aguiar A indisciplina e a agressividade dos alunos nas séries... “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS A LDB 9.394/96, no seu art. 24, prevê a Aceleração de Estudos, recurso pedagógico no contexto da verificação do rendimento escolar. O inciso V prevê a possibilidade de acelerar os estudos para os alunos que se encontrem em atraso escolar associado com a defasagem idade/ano de escolaridade. No entanto, surgia uma nova dificuldade, colocar para a direção da escola as soluções encontradas. Com o apoio encontrado na vicedireção, as propostas foram apresentadas. A direção, no entanto, apresentou o projeto “Acelerar para Vencer”, que tem como base legal a Resolução nº 1.033, de 17 de janeiro de 2008, apoiada no art. 24 da LDB, a ser oferecido pela Secretaria de Estado de Educação, para implantação nas escolas da Rede Estadual de Ensino Fundamental, com o objetivo de reduzir as taxas de distorção idade/ano de escolaridade, o que veio ao encontro das necessidades atuais das turmas objeto deste estudo. O Projeto “Acelerar para Vencer” iniciou-se em abril de 2008. Todos os alunos que apresentavam, pelo menos, dois anos de distorção idade/ano de escolaridade foram remanejados para essa turma,. Vale ressaltar que outros alunos que já haviam parado de estudar procuraram a escola interessados no projeto. Clélia da Costa Pereira Aguiar rendimento e que a turma do projeto demonstra maior interesse nas aulas e nas atividades propostas, refletindo em uma disciplina favorável à aquisição do conhecimento. Como vimos, os desafios são enormes, porém, se não acreditarmos que há uma possibilidade e nos omitirmos diante do problema, não conseguiremos contribuir para uma educação favorável à construção de cidadãos críticos capazes de viver em sociedade. Referência: GOKHALE, S. D. A Família Desaparecerá? Revista Debates Sociais, n. 30, ano XVI. Rio de Janeiro, CBSSIS, 1980. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos - Para quê? São Paulo: Cortez, 1998. SILVA, N. P. Ética, Indisciplina & Violência nas Escolas. São Paulo: Edição própria. 2003. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina e Escola: Adequação e Transgressão - Uma tensão necessária. Brasília: Revista da AEC n. 103, abril/junho 1997. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Os desafios da indisciplina em sala de aula e na escola. Série Idéias, n. 28, São Paulo: FDE, 1997. p. 227-252. As soluções encontradas foram colocadas em prática e o projeto está sendo executado. Percebe-se que as turmas anteriores melhoraram o Página - 132 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 8 Autora: Daniela Bruna Lopes de Souza Endereço eletrônico: [email protected] Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Dificuldades de aprendizagem: causas e conseqüências no contexto educacional Resumo Este artigo discute aspectos gerais relacionados ao processo educacional de uma criança que, segundo a escola, tem Dificuldades de Aprendizagem. Procura refletir as concepções relacionadas ao tema e estabelece um contraponto entre dificuldades de aprendizagem e falta de novas alternativas, ou seja, problemas de ensino. O interesse em discutir o tema decorre da necessidade de iniciativas que visem à construção de novas metodologias que evitem o fracasso educacional. O processo educacional, especialmente nas séries iniciais do ensino fundamental, passa hoje A Escola Passaredo¹, da rede municipal de ensino, localizada na periferia de Belo Horizonte, se mostra como Espaço Aberto para “receber” as crianças com DA. Todavia, não oferece condições satisfatórias para o trabalho com essas dificuldades, levando-se em consideração que tais condições exigem tempo, etapas didáticas e situações apropriadas para o “acolhimento” dessas especificidades. A escola, no entanto, prefere, na maioria das vezes, esperar que a criança possa se adequar à forma tradicional de ensino, sem que haja alguma informação específica ao professor acerca dessas dificuldades. por um desencontro de ações, uma crise de A aluna Júlia², atualmente com 7 anos de ida- comprometimento com as Dificuldades de A- de, matriculada na segunda série do Ensino Fun- prendizagem (DA) que se apresentam em alguns damental, possui DA e um conjunto de condutas alunos. Essa falta de comprometimento acontece desviantes em relação aos demais colegas, sen- tanto por parte da escola como por parte de mui- do uma criança normal em alguns aspectos, mas tos pais ou responsáveis, o que resulta em duas atípica em outros. Quanto aos comportamentos situações: de um lado, o professor que, por ve- específicos, os mais freqüentes englobam a falta zes, não recebeu uma formação específica para de limites, desordens de atenção, problemas trabalhar com esse tipo de aluno e se vê em uma perceptivos e dificuldades na memorização. A situação de conflito e, de outro, o próprio aluno escola recebeu essa criança sem proporcionar as que se sente fracassado e excluído. devidas mudanças, contribuindo, então, para o seu insucesso escolar, com o agravamento de um quadro de insatisfação e ansiedade que começa a existir, à medida que sua aprendizagem tem se mostrado visivelmente defasada em relação à aprendizagem das demais crianças de sua sala de aula. Página - 133 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Dificuldades de aprendizagem: causas e conseqüências... O papel do professor no processo de aprendizagem é indiscutivelmente decisivo. Suas atitudes, concepções e intervenções serão fatores determinantes no sucesso ou fracasso escolar de seus alunos. Cabem ao professor duas tarefas básicas diante das DA: o diagnóstico (ou detecção) seguido de intervenção adequada. Bossa (2000, p. 12) ressalta que “as causas dos problemas de aprendizagem escolar requerem uma intervenção especializada, para isso é essencial que o psicopedagogo estabeleça com o professor uma relação de troca”. Notas de rodapé: 1. O nome da escola é fictício, para preservar sua identidade. 2. Júlia é o nome fictício da aluna objeto deste trabalho. Referências: BOSSA, Nádia A. Dificuldades de Aprendizagem: O que são? Como tratá-las? Porto Alegre: Ed. Artmed, 2000. 119 p. STRICK, Lisa; SMITH, Corine. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z: Um guia completo para pais e educadores. Tradução de Dayse Batista. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2001. cap. 1, p. 13-60. Faz-se necessária a construção de práticas pedagógicas que levem em conta as necessidades das crianças, assim como suas possibilidades de aprendizagem, criando condições e dando-lhe autonomia suficiente para que não só aprendam umas com as outras, mas também com os próprios erros, sem medos ou preconceitos. Sabemos que é um processo complexo em que estão presentes inúmeras variáveis: aluno, professor, concepção e organização curricular, metodologias, estratégias, recursos. A aprendizagem do aluno, no entanto, não depende somente dele, mas também do grau em que a ajuda do professor esteja ajustada ao nível que o aluno apresenta em cada tarefa de aprendizagem. Se o ajuste entre professor e aprendizagem do aluno for apropriado, o aluno aprenderá e apresentará progressos, qualquer que seja o seu nível. Página - 134 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Smith e Strick (2001, p. 86) revelam que estudos mostram que adolescentes com DA não apenas estão mais propensos a abandonar os estudos, mas também apresentam maior risco para abuso de substâncias químicas, atividade criminosa e até mesmo suicídio. Daniela Bruna Lopes de Souza STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 9 Autora: Danielle Cássia da Rocha Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Criança Hiperativa? Resumo Este artigo tem por finalidade apresentar um estudo de caso de uma escola particular da Cidade de Contagem (MG), onde há uma criança considerada hiperativa pela professora e pela coordenadora, sem diagnóstico médico que confirme o quadro. Destacase a importância do conhecimento da doença hiperatividade e do trabalho que deve ser realizado em conjunto: família, escola e médico. É muito comum ouvirmos queixas, trazidas Em uma escola particular de Contagem, temos um caso que se assemelha a essas queixas apresentadas por alguns profissionais. Há um aluno da 5ª série com as seguintes características: é bagunceiro, distraído, problemático, irresponsável, mal-educado. A lista de rótulos da criança é enorme. Os pais, no entanto, consideram normais esses comportamentos por se tratar de uma criança em desenvolvimento, em fase de crescimento. por pais e profissionais que lidam com a infância, Existe uma preocupação por parte dos pro- de que algumas crianças são “impulsivas”, “agi- fessores e da escola a respeito, pois os pais a- tadas”, “agressivas” ou “vivem no mundo da lua”. firmam já tê-lo levado ao médico por reclama- Dificilmente, no entanto, essas pessoas conside- ções de outras escolas. O médico diz não poder ram que as causas dessas constatações apres- dar o diagnóstico de criança hiperativa, por não sadas podem estar ligadas ao fato de que essas dispor de informações suficientes e consistentes crianças podem estar encontrando verdadeiros para isso. O aluno, no entanto, continua tendo problemas para se fixarem em uma única ativi- dificuldade em prestar atenção em qualquer tare- dade na escola ou mesmo em atividades corri- fa que precise de concentração, demonstra im- queiras, como assistir a um desenho animado ou pulsividade, baixo rendimento escolar, alterações brincar com um amigo. bruscas de humor. A coordenadora aconselhou os pais a procurar outros médicos ou um psicopedagogo, para poderem ajudar no desenvolvimento educacional da criança, mas os pais não querem acreditar que a criança tenha realmente um problema, sendo desnecessária alguma avaliação médica. Página - 135 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Ao questionar a coordenadora sobre o que pensa da avaliação médica que os pais da criança relataram, ela considera que os pais do aluno, ao levá-lo ao médico, talvez não deram as informações suficientes que pudessem contribuir para sua avaliação. O diagnóstico clínico deve ser feito com base no histórico da criança, envolvendo necessariamente a coleta de dados com os pais, com a criança e com a escola. E pelo que se sabe isso não ocorreu. Não contando com o apoio dos pais como gostaria, a coordenadora decidiu agir por conta própria, reuniu-se com uma professora que mostrara interesse e juntas decidiram estudar sobre o que é hiperatividade e, com fundamentos sobre o tema, realizar tarefas que pudessem contribuir para a educação da criança sem interferir na educação dos outros colegas. Ela confessa que está sendo um pouco difícil, pois, além de não ter apoio dos pais, não tem apoio da escola, e o trabalho está sendo somente dela e da professora, sem muito êxito. Talvez a escola pudesse promover uma palestra sobre hiperatividade, tendo a presença dos profissionais e dos pais. Muitas vezes, a falta de informação ou de atenção na avaliação de pais e profissionais faz com que muitas crianças que experimentam problemas de desatenção e impulsividade sejam consideradas hiperativas, o que não corresponde à realidade. E palestras e informativos podem evitar conceitos equivocados e juízos precipitados. Um exemplo é Pedro¹, aluno da 5ª série, que não foi diagnosticado pelo médico como hiperativo, mas pela coordenadora e pela professora é assim considerado, sendo que, na verdade, não ainda não se sabe qual o verdadeiro problema da criança. Danielle Cássia da Rocha Por isso, é indispensável que professores e coordenadores tenham pelo menos uma noção básica sobre hiperatividade, sobre a manifestação dos sintomas e as conseqüências em sala de aula, para saber diferenciar incapacidade de obediência e criança sem limites. Para isso, todos os recursos disponíveis devem ser utilizados, até que o professor descubra o estilo de aprendizagem da criança. Segundo Andrade (2000), a hiperatividade só fica evidente no período escolar, quando é preciso aumentar o nível de concentração para aprender. Diz ele: "O diagnóstico clínico deve ser feito com base no histórico da criança. Observação de pais e professores é fundamental." (p. 64). Para esclarecer a escola e interessados, apresentamos, segundo Goldstein (2000), uma série de critérios que são tidos como oficiais no diagnóstico de Hiperatividade ou Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e adultos em todo o mundo: “As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas, logo na infância, com dois grupos de sintomas, de acordo com a área de predominância: 1- TDAH – Tipo desatento: a pessoa apresenta, pelo menos, seis das seguintes características: não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado; dificuldade em manter a atenção; parece não ouvir; dificuldade em seguir instruções; dificuldade na organização; evita / não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado; freqüentemente perde os objetos necessários para uma atividade; distrai-se com facilidade; esquecimento nas atividades diárias. 2- TDAH – Tipo hiperativo / impulsivo: a pessoa apresenta, pelo menos, seis das seguintes características: Inquietação, mexendo as mãos e os pés ou não parando quieto na cadeira; dificuldade em permanecer sentada; corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente; dificuldade em engajar-se numa atividade silenciosamente; fala excessivamente; responde às perguntas antes de serem formuladas; age como se fosse movido a motor; dificuldade em esperar sua vez; interrompe e se intromete.”. Página - 136 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Criança Hiperativa? Criança Hiperativa? “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Esses critérios, se bem observados, evitam que muitas crianças que não têm clareza de seus limites sejam tidas como hiperativas ou que o contrário também ocorra. Caso haja uma criança hiperativa na escola, os profissionais necessitam saber identificar como se sentem e como pensam as crianças com hiperatividade. Muitas vezes, as crianças hiperativas precisam de reforço de conteúdo em determinadas disciplinas. Isso acontece porque elas já apresentam lacunas no aprendizado no momento do diagnóstico, em função do TDAH. Outras vezes, é necessário um acompanhamento psicopedagógico centrado na forma do aprendizado, como, por exemplo, nos aspectos ligados à organização e ao planejamento do tempo e de atividades. Danielle Cássia da Rocha Notas de rodapé: 1.Nome fictício, para preservar a identidade o aluno. Referências: ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola. São Paulo, n. 132, p. 30-32, maio 2000. GOLDSTEIN, San. Compreensão, Avaliação e Atuação: Uma visão geral sobre o TDAH. www.hiperatividade.com.br (2000). Escolas e professores que enfrentam o desafio de terem crianças com hiperatividade ou que apresentem indícios dela precisam, em suas atividades profissionais, se adaptar às suas peculiaridades, modificando a estrutura da sala de aula e de suas lições, de modo que o ambiente possa ficar mais tranqüilo. Sempre que possível, pais e profissionais devem trabalhar juntos, de modo responsável, para definir, observar, avaliar e controlar a hiperatividade na infância. A definição da hiperatividade pelo senso comum deve servir de diretriz para ajudar a compreender a incapacidade do aluno para atender às demandas do mundo no qual está inserido. Página - 137 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 10 Autora: Ecleide Assis de Souza Endereço eletrônico: [email protected] Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. A realidade sobre a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola comum Resumo O presente artigo relata um estudo de caso realizado em uma instituição pública “inclusiva” sobre as dificuldades que um aluno do 1º Ciclo do Ensino Fundamental com Paralisia Cerebral (PC) enfrenta devido ao despreparo do professor. De acordo com informações coletadas na escola, o aluno ainda não tem uma participação ativa nas aulas devido às seqüelas da PC, que teve aos seis meses de idade, por falta de oxigenação cerebral. O aluno com PC tem como característica a falta de controle completo dos músculos de seu corpo, o que o leva a dificuldades motoras e de incoordenação, que podem afetar desde o seu desenvolvimento físico até sua aprendizagem. O termo Paralisia Cerebral ou, mais corretamente, a Encefalopatia Crônica da Infância designa, segundo Sanvito (1997), uma série de distúrbios não progressivos do movimento de postura, resultantes de lesões cerebrais ocasionadas durantes os últimos meses de gravidez, durante o parto, após o nascimento ou até os três anos de idade. Uma criança com PC pode apresentar alterações que variam desde leve incoordenação dos movimentos ou uma maneira diferente para na- dar até a inabilidade de segurar um objeto, falar ou deglutir. O desenvolvimento cognitivo pode ser inteiramente “normal”, mas sempre existirá uma lesão motora. O desenvolvimento do cérebro tem início após a concepção e continua após o nascimento. Quando ocorre qualquer fator agressivo ao tecido cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas mais atingidas terão a função prejudicada e, dependendo da importância da agressão, certas alterações serão permanentes caracterizando uma lesão, como é o caso do aluno apresentado. Nesse sentido, é importante esclarecermos que nem sempre a PC implica danos para as funções intelectuais, muito embora a comunicação quase sempre esteja comprometida. É certo que muitas pessoas com PC podem apresentar um desenvolvimento intelectual segmentado, devido à falta de interação com o meio ambiente e/ou danos causados pela lesão cerebral. Em relação ao aluno com PC que está inserido no espaço educacional, é importante que tanto o corpo técnico administrativo da escola como o professor na sala de aula busque com a família informações que os auxiliem no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Página - 138 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral A realidade sobre a inclusão de alunos com necessidades... Segundo Aranha (2007), para que os professores possam desenvolver estratégias que facilitem a aprendizagem do aluno com Necessidades Educacionais Especiais na sala de aula, devem se tornar professores pesquisadores, buscando conhecer cada aluno, tanto no que se refere às suas características pessoais (a família os auxiliará nessa tarefa) como, especialmente, ao seu processo de aprender, antes e durante todo o processo de ensinar. O professor pesquisador pode criar estratégias para auxiliar a construção de conhecimentos dos alunos com PC que, devido às suas limitações, muitas vezes terão um nível de desenvolvimento real. De acordo com Godoi (1998), todas as pessoas que atendem aos alunos com PC desempenham um papel importante para o seu desenvolvimento integral, assim, deve ser viabilizado um trabalho em equipe entre as famílias e os profissionais, buscando, assim, a realização pessoal e social dos alunos, transformando-os em cidadãos ativos e críticos. Sabemos que a inclusão do aluno com PC em sala não está totalmente garantida, pois, para Figueiredo (2002), a inclusão vai além da simples inserção do aluno na escola, implica a escola ter outra lógica, de modo que não seja possível pensar na possibilidade de ver algum aluno fora dela. Significa quebrar paradigma, ver a educação como bem social, compreender a deficiência e enfrentar as dificuldades que surgirem na prática educacional. Percebe-se que o aluno não está totalmente incluído por não ter sua coordenação motora preservada e grande dificuldade na fala, daí, a necessidade de utilizar alguns recursos da Tecnologia Assistiva (TA), para que o aluno consiga desenvolver suas habilidades e, assim, participar ativamente das atividades propostas na sala de aula. Para Carmo (1991), deficiência motora é a perda de capacidade afetando, diretamente, a postura e/ou o movimento, em conseqüência de uma lesão, congênita ou adquirida, nas estruturas reguladoras e aftosas do movimento do Sistema Nervoso. Para Galvão e Damasceno (2003), Tecnologia Assistiva (TA) é toda e qualquer ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia à pessoa com NEE. Segundo Reis (2004), a utilização da TA na educação é uma maneira de ajudar os alunos a se interagirem com o desenvolvimento pedagógico. É muito importante que o educador saiba selecionar os recursos em sala de aula. É preciso deixar claro que os recursos da TA na escola servem apenas como uma ponte entre o sujeito e as tarefas que ele necessita realizar. O objetivo desses recursos não é fazer com que os alunos com Limitações Motoras se tornem um indivíduo “normal”, nem mesmo que ele se adapte às metodologias do ensino, é sim auxiliar com instrumentos que possam ajudar em suas ações para que ele possa realizar suas tarefas com o máximo de independência possível. Página - 139 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Partindo desse pressuposto, para viabilizar de fato a inclusão desse aluno com PC na sala de aula, será necessária a identificação de alguns recursos materiais e atividades que auxiliarão o professor a intervir no processo de desenvolvimento do aluno, favorecendo e facilitando a sua participação nas atividades realizadas em sala de aula. Ecleide Assis de Souza A realidade sobre a inclusão de alunos com necessidades... “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Verifica-se a importância de que os profissionais da área de Educação tenham conhecimento sobre os recursos da TA, assim terão capacidade de buscar novas maneiras de avaliar o desempenho e até mesmo, de certa forma, facilitar o processo de aprendizagem dos alunos com Limitações Motoras. A utilização dos recursos da TA em alunos com NEE proporciona aos profissionais condições de estarem realizando com os eles atividades que antes não tinham como ser feitas, esta realidade é de grande importância para o professor. Portanto, cabe ao professor estar sempre atento à necessidade individual de cada aluno e buscar promover o desempenho e a inclusão de seu aluno. Em matéria publicada sobre a inclusão na Revista Nova Escola, Cavalcante (2005) assegura que a inclusão cresce a cada ano e, com ela, o desafio de garantir uma educação de qualidade para todos. Na escola inclusiva, os alunos aprendem a conviver com a diferença e se tornam cidadãos solidários, sendo fundamental a participação do professor para que isto se torne realidade. Ecleide Assis de Souza Referências: ARANHA, Maria Salete Fábio. Adaptações curriculares de pequeno e de grande porte. Disponível<www.mec.gov.br>. Acesso em: 20 maio. 2007. CARMO, Apolônio Abadio. Deficiência Física. A sociedade brasileira cria, “recupera” e discrimina. Brasília: Secretaria dos Desportos. 2. ed. 1991, p. 21-26. CAVALCANTE, Meire. A escola que é de todas as crianças. Revista Nova Escola. ed. 182. Editora Abril, maio 2005. DAMASCENO, Luciana Lopes e GALVÃO FILHO, Teófilo Alves. As novas Tecnologias como Tecnologia Assistiva: Usando os recursos de Acessibilidade na Educação Especial. In: Revista Presença Pedagógica. Belo Horizonte, ed. Dimensão, v. 9, n. 54, p. 40-47, novembro / dezembro 2003. FIGUEIREDO, Rita Vieira de. Políticas de Inclusão: escolagestão da aprendizagem na diversidade. In: Simpósios e Mesas Redondas do XI Endipe.5, 2002.Goiânia.(et al). Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002. p. 67. GODOI, Ana Maria de. Trabalho escolar com crianças portadoras de paralisia cerebral. IN: SOUZA, Ângela Maria Costa de; FERRARETTO, Ivan. Paralisia Cerebral: aspectos práticos. São Paulo: Memnon. 1998. p. 351-355. MILLER, G, CLARK. Paralisias Cerebrais: causas, conseqüências e conduta. São Paulo: Manole, 2002, p. 409. REIS, Nivânia Maria de Melo. Tecnologia Assistiva: Recursos facilitadores no processo de aprendizagem de alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Belo Horizonte: Puc Minas Virtual, 2004 (mimeo). SANVITO, W. L. Síndromes neurológicas. São Paulo: Ed. Premier, 2000, p. 28-35. De um modo geral, a inclusão desse aluno representa uma grande dificuldade, pois predomina o desconhecimento sobre a possível inte gridade das suas capacidades cognitivas e motoras, por falta de conhecimento por parte do professor. É de suma importância acreditar nas possibilidades de que o aluno com PC é capaz de aprender a ler, escrever e participar, ativamente, das atividades escolares. Página - 140 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 11 Autora: Elaina Maria Mendes de Castro Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Alunos com Déficit de atenção: como lidar com essa questão em sala de aula Resumo dados referentes ao número de matrículas na No cotidiano escolar, com o movimento de inclusão, o aluno com déficit de atenção requer procedimentos específicos. Este artigo trata de um estudo de caso que aborda a temática: Como lidar com alunos com déficit de atenção em sala de aula de uma escola estadual? vos, considerando que tínhamos 43.923 alunos Educação Inclusiva são ainda mais representatimatriculados em Escolas Regulares em 1998, número que passou a 195.370 em 2004 (MEC/INEP). Esses dados nos conduzem a algumas reflexões: Como lidar com alunos com déficit de atenção em sala de aula? O movimento pela inclusão, presente em nos- Este artigo baseia-se num estudo de caso so cotidiano tanto pela mídia como por organiza- realizado numa escola estadual da região de ções sociais ou por políticas públicas, tem conso- Contagem e vem ao encontro da necessidade de lidado um novo paradigma educacional no Brasil discutir e buscar meios para lidar com alunos que – a construção de uma escola aberta e acolhedo- apresentam déficit de atenção em sala de aula. ra das diferenças. No último conselho de classe de 2007, os pro- Esse paradigma tem levado à busca de uma fessores e a coordenação sentiram necessidade necessária transformação da escola e de alterna- de intervir de forma eficaz em alguns alunos que tivas pedagógicas com o objetivo de promover apresentavam dificuldades de aprendizagem, uma educação para todos nas escolas regulares. hiperatividade e déficit de atenção. De acordo com dados do Censo escolar: 1998 O caso aqui relatado é de um aluno do ensino a 2004 (MEC/INEP), a evolução das matrículas médio que tem diagnóstico de déficit de atenção. na Educação Especial, tanto em Escolas Especi- Buscamos apoio nos relatórios individuais anteri- ais como em Escolas Regulares, passou de ores e nas atas do conselho de classe para o 337.326, em 1998, para 566.753, em 2004. Os levantamento de dados do aluno com DA. Seus dados informam que o aluno tem 17 anos, está na 7ª série do ensino fundamental, é muito distraído, inquieto e agitado, mas é bem disciplinado (respeita bastante as normas da escola). Tem Página - 141 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Alunos com Déficit de atenção: como lidar com essa... Hoje, ao abordar temas que envolvem necessidades educacionais especiais, o foco das atenções não são as dificuldades específicas dos educandos, mas o que os educadores podem fazer para dar respostas às suas necessidades específicas, respeitando a diversidade de cada indivíduo. É acreditando nas potencialidades dos educandos que, atualmente, a escola oferece ao aluno que apresenta déficit de atenção o “Projeto Acelerar para Vencer”. O projeto “Acelerando para vencer” foi criado pela Fundação Ayrton Senna para ser aplicado no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha, porém não estava compatível com a vivência dos alunos da região e foi implantado nos meios urbanos. O projeto foi implantado no início deste ano e contamos com a participação direta dos professores, dos pais e da coordenação. O primeiro momento é dedicado ao planejamento, à solicitação de recursos ao Estado. Houve, portanto, designação para professores que trabalhariam exclusivamente no projeto, mudança de horário (entrada e saída), enturmação com no máximo 25 alunos, reuniões com pais para viabilização do projeto, pois este é uma parceria entre escola e família, determinação do projeto em apenas um turno (noite) e pesquisas bibliográficas para orientação. Pensar no ato de incluir esse aluno com DA com outras crianças que apresentam necessidades especiais requer revisão desta prática, pois se entende que, ao conviver com todos, os benefícios são mais satisfatórios, além do mais, no horário noturno, os alunos já estão cansados. Outro ponto relevante é um estudo bibliográfico mais profundo. Um segundo momento é dedicado à execução do projeto. O aluno com DA, com a autorização dos pais, foi transferido para o noturno e os professores apresentam uma postura diferente no processo de inclusão. De acordo com os PCN-Adaptações Especiais, é preciso adequar os currículos para atender às necessidades dos alunos e flexibilizar o processo de ensinoaprendizagem. No entanto, temos evidências de que esse processo é gradual e encontra muitas dificuldades, principalmente pela falta de preparo dos professores, mas, de modo geral, estes se mostram dispostos a enfrentar o desafio de incluir o aluno com DA. Alguns procedimentos podem ser realizados, como: • Avaliação adequada; • Envolvimento da família, principalmente dos pais; • Encaminhamento e acompanhamento com outros especialistas; • Conteúdo que seja de sua vivência e de pequenos textos; • Conteúdo que explore memorização e repetição; • Estabelecimento de limites e regras. Isso deve ser devagar, nada punitivo; • Atenção ao posicionamento do aluno na sala, preferencialmente sentado à sua frente; • Redução das atividades e das avaliações com tempo determinado; • Variação de ambientes; • Monitoramento constante do progresso do aluno, registro e, sempre que possível, seu compartilhamento com o aluno; • Possibilidade de realização de autoavaliação. Página - 142 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS dificuldades no raciocínio lógico-matemático e nas interpretações de textos. O seu comportamento nas relações interpessoais, na maioria das vezes, é tranqüilo, embora alguns dias esteja mal-humorado. Sua família é parcialmente participativa, os pais são mais velhos e semialfabetizados. Seu perfil socioeconômico é de classe pobre e verificamos também que, atualmente, o aluno não tem qualquer tipo de acompanhamento especializado. Elaina Maria Mendes de Castro Alunos com Déficit de atenção: como lidar com essa... Elaina Maria Mendes de Castro “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Os resultados obtidos até o presente momento foram satisfatórios. Apesar de ser muito recente, os professores relatam que já observaram um melhor desempenho e envolvimento do aluno. É preciso que se deixe de encarar o déficit de atenção como sendo apenas uma condição limitadora. É preciso estimular e trabalhar o aluno, desenvolvendo suas competências e habilidades, a fim de possibilitar sua integração no mundo em que vive, não de forma complacente, mas sim como um direito. Página - 143 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 12 Autora: Elba Beatriz da Silva Alves Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais Resumo Este artigo trata da questão da participação da família no acompanhamento do desenvolvimento escolar dos filhos. Embora, nos dias atuais, se procure transferir para a escola a responsabilidade pela educação das crianças, não há como prescindir de um envolvimento permanente das famílias, principalmente quando a criança apresenta sinais de desvios e transtornos. Durante a realização do meu estágio curricular de supervisão escolar em uma escola da rede particular em Belo Horizonte, tive a oportunidade de acompanhar as dificuldades enfrentadas por uma professora da 3ª série do Ensino Fundamental com um aluno desde o início do ano letivo. O aluno tem dez anos de idade e freqüenta a escola desde o 2º período da Educação Infantil. Por inúmeras vezes, presenciei a professora A escola do século XXI tem passado por adentrar a sala da Coordenadora Pedagógica grandes transformações e um dos principais as- para se queixar do aluno. Em outras ocasiões, pectos que vem se alterando com maior intensi- era o próprio aluno que lá aparecia, encaminhado dade diz respeito às responsabilidades que lhe pela professora, para fazer os deveres de casa são atribuídas. Hoje em dia, é mais do que nor- que ora não tinham sido feitos ora estavam in- mal a presença das mulheres no mercado de completos, ou para diálogos com a Coordenado- trabalho, dividindo com os maridos e companhei- ra e, posteriormente, com a diretora. Enquanto ros, em condições de igualdade, as despesas da isso, o restante da turma seguia para as aulas casa. Dessa forma, a criança é inserida cada vez especializadas, como Informática, Artes, Educa- mais cedo no ambiente escolar e essa inserção ção Física, ou mesmo para o recreio. precoce tem obrigado as escolas a ampliar os seus deveres para além dos educacionais. Além dos deveres de casa, que quase sempre não eram feitos, a professora relatou que, dentro de sala, o aluno se comportava de modo estranho. Às vezes, dormia durante as aulas; outras vezes, chegava, nem abria a mochila para retirar os materiais e permanecia sempre calado, por várias vezes provocava os colegas de forma Página - 144 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais algumas ocasiões, o aluno demonstrava grande interesse pelo tema abordado na aula, sendo participativo e apresentando excelentes resultados nas avaliações. Desde o primeiro momento em que a professora percebeu algo de errado com seu aluno e o explicitou para a coordenadora, os responsáveis foram convocados a comparecer na escola, a fim de buscar elementos que pudessem ajudar a compreender a situação e detectar o que havia de errado. Mas, infelizmente, os pais não compareciam, sob a alegação de trabalharem o dia todo. As alternativas que vinham sendo adotadas pela professora junto com a Coordenadora Pedagógica não estavam surtindo efeito, mas, mesmo assim, não houve qualquer modificação, já que não conseguiam conversar com os pais pessoalmente. Os únicos contatos ocorreram através de bilhetes na agenda escolar do aluno ou em raros telefonemas da Coordenadora para a mãe. A escola adota o sistema de dividir o ano letivo em três etapas. Ao chegar ao final da segunda etapa, a mãe assustou-se com as notas no boletim do filho, porque o mesmo corria um sério risco de ser reprovado direto, sem direito a fazer recuperação. Nesse momento, ela resolveu marcar um horário de atendimento com a professora e a coordenadora, quando, enfim, tomou ciência da situação problemática de seu filho dentro da sala de aula. A mãe disse não compreender o porquê das constantes alterações de comportamento de seu filho, que considerava inteligente e até mesmo com um desenvolvimento adiantado para a sua idade. A sugestão da coordenadora foi que ela buscasse um apoio especializado para o filho para avaliação e aconselhamento. Após vários testes e exames, o aluno foi diagnosticado como portador de Transtorno Bipolar. Segundo o doutor Valentim Gentil Filho, tratase de: Algumas alterações funcionais do cérebro que possui áreas fundamentais para o processamento de emoções, motivação e recompensas. Na verdade, trata-se de um transtorno de humor que oscila entre o pólo da euforia, da mania ou da hipomania, do qual faz parte esse comportamento excitado e desorganizado, e o pólo da depressão, retomando a pessoa depois o equilíbrio sem grandes prejuízos comportamentais nem na integração das emoções e dos pensamentos. Se não distinguirmos a criança apenas rebelde e desafiadora da que tem um temperamento desfavorável, hostil e irritado porque é portadora de transtorno de humor bipolar e quisermos educá-la com severidade exagerada, ela reagirá negativamente. Esse transtorno requer tratamento adequado. Posteriormente ao diagnóstico, a mãe contratou uma professora particular para que o aluno não fosse reprovado na escola, o que acabou surtindo o efeito esperado. O aluno conseguiu ser aprovado, apesar de ter sido retido em recuperação na disciplina de matemática. Segundo a coordenadora, no entanto, parece que a família não deu muita importância à deficiência de seu filho, ignorando a indicação de tratamento e acompanhamento especializado. Ao que tudo indica, os pais continuam “sem tempo” para o filho e transferindo para a escola a responsabilidade de, além de educá-lo, cuidar para que o mesmo não traga para casa problemas que eles não estão dispostos a resolver. Página - 145 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS agressiva e gratuita. Segundo a professora, em Elba Beatriz da Silva Alves Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais Elba Beatriz da Silva Alves “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Referência: GENTIL FILHO, Valentim. Conhecendo o inimigo. Disponível em: <http://drauziovarella.ig .com.br/entrevistas/Valentim_bipolar.asp> Página - 146 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 13 Autora: Eliete Batalha de Assis Rezende Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas, Professora da educação infantil e dos anos iniciais há 18 anos e pesquisadora na área de alfabetização de Deficientes Mentais. O olhar do pedagogo e as dificuldades do cotidiano escolar Resumo Nos problemas enfrentados no cotidiano escolar, o olhar diferenciado do pedagogo pode fazer a diferença na vida de um aluno. Neste artigo, relato um estudo de caso, no qual a ação da diretora, como pedagoga, foi o grande “remédio” para as dificuldades enfrentadas por um aluno da 7ª Série do Ensino Fundamental. A diretora soube olhar além dos olhos, conseguindo identificar e buscar meios para sua solução. Para a produção deste artigo, foi feito o relato do caso pela diretora e o estudo dos documentos existentes na escola acerca do aluno. O objetivo deste texto é uma reflexão sobre a importância do olhar diferenciado do pedagogo no cotidiano escolar. O estudo de caso ao qual vou me referir ocorreu em uma escola da rede particular, na região central de Belo Horizonte, à qual vou dar o nome fictício de Escola Crescer e ao aluno, de Phillip. A escola atende da Educação Infantil ao Ensino Médio. Phillip encontra-se hoje na 7ª série do Ensino Fundamental. No ano passado, chamou a atenção devido a uma ansiedade excessiva. O aluno interpelou a diretora apresentando um medo, um nervosismo sem explicação por determinada disciplina. A diretora procurou o professor em questão, que alegou que Phillip era distraído e disperso. A Nem sempre, fatos ocorridos na escola remetem apenas à indisciplina ou à falta de limites dos alunos. A experiência dos alunos se constrói tanto no âmbito escolar quanto no seu meio social. E, muitas vezes, o segundo influencia de maneira marcante no rendimento da vida escolar. O coordenador pedagógico e o diretor devem estar sempre alertas para que, diante de algum problema, possam identificar se a causa é interna ou externa ao âmbito escolar. diretora não se contentou com a alegação e convocou a mãe do aluno para uma reunião, pois já era de seu conhecimento o caso do pai, que estava sob tratamento médico devido à dependência química. A mãe apresentou, então, um primeiro diagnóstico de Síndrome do Pânico em processo de angústia. Phillip foi avaliado e diagnosticado como portador de Transtorno Bipolar, começou o tratamento com psiquiatra e ausentou-se da escola por um período. Comparecia à escola apenas para falar com a diretora, as provas esperavam por momentos em que ele pudesse realizá-las. Página - 147 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral O olhar do pedagogo e as dificuldades do cotidiano escolar A diretora pedia aos professores tolerância e compreensão para que pudesse resolver o caso. Conversava com o aluno, aplicava-lhe as provas separadamente, quando e como ele se propunha a realizá-las. Phillip retornou à escola, mas seu comportamento era preocupante, fazia de tudo para ser visto como um mau aluno, furava pneu do carro do professor, brigava com freqüência com os colegas e sempre tinha mudança de humor. Ao observar os relatos sobre o tratamento do pai, em uma conversa com a mãe, a diretora sugeriu se não seria o caso de levar Phillip ao mesmo médico do pai, que era acompanhado pelo Dr. Belizário, psiquiatra muito reconhecido na área de atendimento psicológico e psiquiátrico. Ao ser levado ao Dr. Belizário, submeteu-se a exames que constataram que ele estava com tratamento totalmente contrário ao seu problema. Devido aos problemas enfrentados em casa, o aluno estava em uma profunda depressão, que nem sempre se apresenta apenas como apatia, tristeza ou angústia. Phillip faz uso de medicamento controlado, Ritalina, alguns momentos antes de realizar as provas, e faz todas as provas separado da turma, sempre acompanhado pela diretora ou por alguém responsável da escola. A atuação do pedagogo na figura da diretora foi de extrema importância na vida escolar e familiar de Phillip. Se fossem aceitos os argumentos de que o aluno era disperso, distraído e sem interesse, como julgavam alguns professores, o caso poderia ser bem mais sério. Concluo que, por mais insignificante que pareça, todas as dificuldades de qualquer aluno devem ser olhadas sob todos os ângulos possíveis. Por mais que o aluno se apresente sem limites, ou sem interesse, não devem ser desconsideradas as hipóteses de dificuldades oriundas de fora do contexto escolar. Ninguém quer se autodestruir só para chamar atenção. É muito importante o olhar diferenciado de um pedagogo, que vai analisar e buscar soluções para incluir novamente o aluno. Para o bom profissional, esse olhar faz a diferença, deve-se averiguar o que é evidente, levantar dúvidas sobre o que é certo e romper com o senso comum. É ver além do que seus olhos estão lhe mostrando. De acordo com Danielski (1998), a depressão na adolescência pode chegar até ao suicídio, pois o jovem não consegue lidar com os sentimentos que o acometem. A partir de então, Phillip começou o tratamento com o Dr. Belizário, dando os primeiros sinais de melhora. Hoje, ciente de seu problema, ele próprio busca soluções para os mesmos, porém ainda necessita de atenção constante. Página - 148 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Às vezes vinha à escola, mas recusava-se a entrar. Durante dois longos meses, os dias letivos de Phillip transcorriam dessa maneira. Eliete Batalha de Assis Rezende O olhar do pedagogo e as dificuldades do cotidiano escolar Eliete Batalha de Assis Rezende “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Referências: DANIELSKI, Vanderlei. Depressão e suicídio na adolescência: por que os jovens pensam em se matar. São Paulo: Ave Maria, 1998, 39 p. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, 146 p. NÉRICI, Imídio Giuseppe. Introdução à supervisão escolar. São Paulo: Editora Atlas, 1981, p. 67-77. Página - 149 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 14 Autora: Elivânia Ferreira de Morais Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas e auxiliar de supervisão escolar do Instituto Educacional Mundo Encantado. A indisciplina: suas implicações no processo de ensino aprendizagem Resumo Neste artigo, procuro mostrar, através do estudo de caso de um aluno, algumas das principais causas da indisciplina presentes na sala de aula. Também questiono as punições que, muitas vezes, são aplicadas a esse aluno tido como indisciplinado, levantando reflexões sobre a importância do diálogo entre os professores e seus alunos, e sobre a possibilidade de criar, por meio desse mesmo diálogo, aulas mais interessantes e dinâmicas, o melhor antídoto para a indisciplina. Através deste artigo, pretende-se fornecer subsídio que facilite um melhor entendimento do tema, a partir do levantamento de questões que possam contribuir para uma reflexão sobre a indisciplina e suas implicações na prática pedagógica. A indisciplina escolar, geralmente, está ligada ao baixo rendimento escolar dos alunos. O insucesso pode levá-los a investir pouco nas tarefas escolares e a se desinteressarem pela escola, desencadeando, eventualmente, emoções nega- Este artigo foi escrito a partir do estudo de ca- tivas, traduzidas em comportamentos inadequa- so e da observação de um aluno com problemas dos. O jovem não se desenvolve normalmente e de indisciplina e aprendizagem, de uma escola manifesta na escola ou fora dela comportamen- estadual localizada próximo à Vila Sumaré, em tos inadequados, que são, muitas vezes, julga- Belo Horizonte. Seu objetivo é discutir o motivo dos como sendo comportamentos indisciplina- que leva um aluno a ser indisciplinado. dos. A escolha do tema surgiu da necessidade de Rodolfo, o aluno objeto deste estudo, encon- tentar buscar soluções para o problema da indis- tra-se no 1º ano do Ensino Médio. Segundo rela- ciplina escolar, tendo como objetivo principal um to da coordenadora pedagógica da escola, ele só aluno. foi aprovado para o Ensino Médio porque os professores votaram no conselho de classe. Acontece que ele não sabe ler nem escrever para poder ser considerado alfabetizado; mal assina seu nome, não sabe fazer contas, exceto adições e subtrações primárias com as quais convive em seu dia-a-dia de consumidor, desconhece regras Página - 150 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral A indisciplina: Suas implicações no processo de... Esse “aluno problemático” pode ser punido seguidas vezes, pode ser advertido e suspenso até os máximos limites permitidos e tolerados e pode, ainda, tranqüilamente, ver “sua nota avermelhar-se como em um passe de mágica”, e tudo isso sem nem ao menos mostrar a menor das preocupações. Esse aluno dificilmente se intimida com ameaças e punições. Na verdade, ele nem compreende direito porque está sendo punido e, na verdade, “o chato” é o professor e não ele, o problema está na escola e não nele e, finalmente, tudo o que ele quer é que parem de atormentá-lo obrigando-o a “estudar” só porque ele está em um lugar chamado escola. [...] parece-me que a “suspensão” está fora de época, não educa, apenas transfere o problema, aguardando de modo behaviorista que a penalidade corrija o “infrator”. Isso, de fato, não ocorre, porque a correlação de forças é outra em nossa sociedade. Pergunta-se, ainda: o castigo é para o aluno ou para sua família? Outra questão: não deveria a escola responsabilizarse pela reeducação desse educando? No entanto, como costuma ser, a pergunta clássica refere-se aos casos extremos, quando o aluno pratica atos incompatíveis com a conduta, ferindo relacionamento, perturbando o bom andamento da escola e desrespeitando seus colegas e educadores. Nesses casos, torna-se necessário que a escola use seus meios de educação, tais como: orientação educacional, psicólogo, entrevista com setores encarregados da convivência escolar, chamada dos pais à escola para entrevista, usando os tempos destinados às aulas para que se proceda à reeducação. Essa questão, porém, continuará a ser uma tarefa da escola e da família. Quando faz pirraça, uma criança pode ser engraçada; quando, todavia, a partir de quatro anos começa a chutar pessoas, convém perguntar: quem precisa de tratamento, a criança ou a família dela? O mesmo ocorre em relação à sala de aula: quem precisa mudar, o aluno ou o professor? (p. 63-64). A esse aluno, a quem a escola se sente incapaz de atender e até mesmo compreender, resta apenas esperar que, novamente, o conselho escolar o aprove para a série seguinte sem saber o conteúdo. É diante dessas questões que, muitas vezes, a escola decide mais facilmente que é melhor pouco ou nada fazer, enquanto se espera pacientemente que o “aluno problemático” chegue ao final da escolarização obrigatória, ou que desista antes por força dos incômodos que a escola lhe causa. A questão é: quem deve mudar, o aluno ou o professor? É claro que há muitos alunos dentro da sala de aula que são capazes de causar um verdadeiro caos, como é o caso do Rodolfo, mas não se pode esquecer que os tempos são outros. Além disso, com o grande fluxo de informação que existe nos dias de hoje, os alunos se tornam naturalmente mais inquietos: eles querem informação rápida e interessante, eles exigem movimento e isso é tudo o que a escola não lhes dá. Se a escola não está equipada para satisfazer às necessidades imediatas dos alunos, cabe a cada professor prover os meios para que suas aulas se tornem mais interessantes, atraentes, e cativem a atenção dos alunos. Muitos dos problemas de indisciplina residem na incapacidade que alguns professores têm de Página - 151 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS sociais e códigos éticos e morais mais sofisticados dos que aqueles com os quais convive e, ao que tudo indica, não pretende continuar seus estudos. Acredita que tudo aquilo que a escola tem a lhe oferecer é inútil para a vida, encontrase “defasado nos estudos” em relação aos seus colegas de mesma idade e, também por isso, se vê como “um aluno diferente” no ambiente escolar, um estranho no ninho, e, por fim, não tem nenhuma idéia clara de como será sua vida no futuro. Elivânia Ferreira de Morais Elivânia Ferreira de Morais A indisciplina: Suas implicações no processo de... “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS tornar suas aulas atraentes. E por que isso acon- estar em dois caminhos possíveis. Primeiramen- tece? Porque os professores não conhecem as te, contra-atacamos a indisciplina com “agressi- necessidades de seus alunos, não têm a mínima vidade” e essa indisciplina se tornará mais forte, idéia dos gostos e interesses daquelas pessoas ou então agimos como educadores e buscamos, que estão ali sentadas para ouvi-lo. junto com os alunos, uma solução para o pro- Talvez a solução do problema seja, então, ca- blema através do diálogo e da compreensão tivar a atenção desse aluno e evitar as atitudes mútua, e a indisciplina, aos poucos, se transfor- de indisciplina. Para isso, o professor precisa mará em uma nova realidade escolar, em que a dialogar com esse aluno. Um professor que sabe indisciplina dos alunos será redirecionada para dialogar e, sobretudo, tem sensibilidade para uma sala de aula mais participativa, em que a ouvir seus alunos, tem condições de conseguir construção do conhecimento possa ser comparti- resultados extremamente positivos. lhada por todos, com suas limitações e dificulda- Segundo Sampaio (1997), Para que a indisciplina não brote quase por geração espontânea, é útil que o professor tenha bem presente a importância dos aspectos relacionais com os seus alunos. Se o professor continuar a valorizar apenas a sua função de instrução (transmitir conhecimentos), é mais provável que os conflitos disciplinares apareçam. Para evitar tal situação, a tônica da ação da escola deverá centrar-se na prevenção da indisciplina e não na forma de controlá-la. Em resumo, em nível da nossa lente média, a escola deve começar por reorganizar-se e por desenvolver competentemente o trabalho pedagógico, para de fato prevenir a indisciplina. Muitas iniciativas atuais vão no sentido oposto: quando a escola multiplica faltas disciplinares e conselhos de turma para propor a aplicação de suspensões, não está a resolver o problema do aluno, está provisoriamente a resolver o problema do professor. (p. 7). des. Referências: SAMPAIO, Daniel. Indisciplina: Um signo geracional. Disponível em: <http://www.iie.minedu. pt/inovbasic/biblioteca/ccoge06/caderno6.pdf> Acesso em: 28 out. 2005. WERNECK, Hamilton. Pulso forte e coração que ama: A indisciplina tem jeito. Ed. DP&A. Rio de Janeiro. 2005. Para resolver o problema da indisciplina, só depende de nós, professores, e a solução poderá Página - 152 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 15 Autora: Fabiana Chaves Gomes Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Inclusão em uma escola pública regular: desafios e possibilidades Resumo à educação, à igualdade de oportunidades e de O presente artigo tem por objetivo relatar um estudo de caso de inclusão em uma escola da rede municipal de ensino, os desafios encontrados e o que está sendo realizado a fim de oferecer um ensino de qualidade para alunos com deficiência mental. de que ofereça propostas educacionais que con- participação, e assegurar um ensino de qualidasiderem as necessidades educacionais dos alunos. Welton tem Síndrome de Williams, também conhecida como síndrome Williams-Beuren, uma Welton¹ tem onze anos, bate nos colegas, não permanece sentado por muito tempo, tem dificuldades de obedecer às regras, não consegue permanecer na sala de aula por muito tempo, tem síndrome de Willians e comprometimento mental. Esta é uma situação que as instituições desordem genética que, talvez, por ser rara, freqüentemente não é diagnosticada. Sua transmissão não é genética. Atingindo ambos os sexos, na maioria casos infantis (primeiro ano de vida), as crianças têm dificuldade de se alimentar, ficam irritadas facilmente e choram muito. de ensino vêm enfrentando. Mas as escolas es- A Síndrome de Williams é uma doença carac- tão preparadas para incluir esses alunos? Os terizada por “face de gnomo ou fadinha”, nariz professores estão capacitados? O que pode ser pequeno e empinado, cabelos encaracolados, feito para que o aluno possa ser efetivamente lábios cheios, dentes pequenos e sorriso fre- incluído? qüente. Essas crianças normalmente têm pro- Este é o desafio de uma escola pública da rede municipal de ensino, após receber este aluno: tornar-se realmente inclusiva, garantindo o direito blemas de coordenação motora e equilíbrio, apresentando um atraso psicomotor. Seu comportamento é sociável e comunicativo, embora utilizem expressões faciais, contatos visuais e gestos em sua comunicação. Página - 153 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral Inclusão em uma escola pública regular: desafios e... Segundo Guijarro (2005): Muitos alunos e alunas experimentam dificuldades de aprendizagem e de participação, como conseqüência de um enfoque educativo homogeneizador no qual se dão as mesmas respostas às necessidades e situações muito diversas. Os alunos também costumam agrupar-se por critérios de semelhança, pensando que dessa forma aprendem melhor, porém diversos estudos têm mostrado que a heterogeneidade nos agrupamentos dos alunos é um fator que influi no êxito da aprendizagem. (p. 10) A fim de promover agrupamentos mais heterogêneos, levando em conta a singularidade do aluno, e oferecer uma educação de qualidade e êxito em sua aprendizagem, como afirma Guijarro, a escola propôs as seguintes intervenções: realizar atividades diferenciadas, como trabalho com nomes, treino com letra cursiva, a fim de trabalhar a alfabetização, oferecer ao aluno o mesmo material oferecido aos demais para trabalhar com projetos, tirar o aluno da sala nos momentos em que ele demonstra maior agitação e retornar quando estiver mais calmo. Atualmente, o aluno não tem uma pessoa para atendê-lo individualmente, o que tem dificultado um pouco o processo. porém a escola ainda não oferece um suporte adequado para atender às necessidades desses alunos. Os professores ainda não se sentem preparados e/ou acham complicado em uma sala com quarenta alunos dar um atendimento mais individualizado ao aluno em especial, visto que os demais também necessitam de seu auxílio. Para que Welton possa desenvolver suas habilidades, é necessário um trabalho individualizado, com objetivos específicos, levando em consideração o que esse aluno deve aprender. É preciso realizar um trabalho com ele em sala de apoio e propor atividades de alfabetização de forma mais lúdica, estimular o raciocínio lógico, a abstração, trabalhar atividades mais concretas, pois esses aspectos são relevantes e precisam ser trabalhados na deficiência mental. Percebe-se que a inclusão ainda é um grande desafio para as instituições de ensino, e que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que realmente ocorra inclusão de qualidade para esses alunos, mas fica evidente que está acontecendo um movimento das escolas na busca de dar resposta às necessidades específicas do aluno. Estudos recentes têm comprovado que os alunos com deficiência se desenvolvem melhor no contexto da escola regular, pelas diversas oportunidades de socialização e desenvolvimento, Página - 154 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS A educação do século XXI está pautada na perspectiva da educação inclusiva, uma educação comprometida com o respeito à diversidade, efetivado no valor às diferenças e comprometida com uma educação de qualidade. Não basta simplesmente receber o aluno, é preciso garantir condições para o desenvolvimento de suas habilidades. Fabiana Chaves Gomes Inclusão em uma escola pública regular: desafios e... Fabiana Chaves Gomes “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno. Referências: BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Especial. Construindo escolas inclusivas. SEESP/MEC. Secretaria de Educação Especial Brasília. 2005. 132 p. BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas. SEESP/MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006. 96 p. (Série: Saberes e práticas da inclusão). GUIJARRO, Maria Rosa Blanco. Inclusão: um desafio para os sistemas educacionais. In: Ensaios pedagógicos. Construindo escolas inclusivas, MEC/SEEBP, 2005. Página - 155 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 16 Autora: Fabiana de Carvalho Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. A importância da estrutura familiar na vida escolar do aluno Resumo A falta da estrutura familiar pode, muitas vezes, interferir no desenvolvimento escolar do aluno, levando ao baixo desempenho, à desmotivação e à indisciplina. É importante que a criança tenha em casa pais presentes e que acompanhem sua vida escolar. Em uma escola pública de Belo Horizonte, que trabalha com alunos de ensino fundamental e médio, através do acompanhamento de um muita dificuldade de concentração, mesmo não apresentando problemas de disciplina. Em 2007, como ela apresentava maus resultados, foi escolhida para participar do Projeto Tempo Integral, que tem como objetivo aumentar o aprendizado dos alunos por meio da ampliação do tempo diário de permanência na escola, com prioridade para o atendimento de crianças em áreas de vulnerabilidade social, para melhorar seu desempenho. estudo de caso da escola que conta a trajetória A família foi chamada para autorizar a partici- de Ana1, aluna que hoje está na 5ª série/9, anti- pação da aluna no projeto e Ana começou a par- ga 4ª série do Ensino Fundamental, obtive o se- ticipar no 2º semestre de 2007. guinte relato. Mesmo no projeto, a aluna não estava apreAna entrou na escola em 2004, na 1ª série, sentando bons resultados, não conseguia acom- com sete anos, mas começou a ser observada a panhar os colegas e não se enturmava com a partir de 2007, quando se percebeu que iria repe- maioria, ficava sempre perto de poucas pessoas, tir a 4ª série. e sempre triste, não brincava muito e não per- No final de 2007, quando foi reprovada, os guntava quando tinha dúvidas. motivos apontados foram a dificuldade de leitura, Então a coordenadora da escola chamou a de escrita e de interpretação, falta de atenção e professora de Ana para conversar, mas a professora levantou os mesmos problemas já identificados, falta de atenção e dificuldade de acompanhar a turma. A professora mostrou o caderno de Ana, e sua letra era ilegível. A coordenadora Página - 156 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral A importância da estrutura familiar na vida... então decidiu chamar a aluna para uma conversa, e verificou que nem mesmo a aluna conseguia ler seu caderno, e apresentava muito desinteresse e tristeza, embora não contasse o que estava acontecendo. casa, com a participação e a ajuda dos pais, mas, para que isso aconteça, a criança deve estar inserida em um ambiente de carinho e amor, em um ambiente agradável de viver, em um ambiente familiar. No final do ano, como a aluna não demonstrou melhoras, foi reprovada, repetindo novamente a 4ª série, já com 11 anos. É fundamental a interação dos pais com a escola, pois é na escola que se manifestam novas descobertas sobre a criança que ali está se socializando e interagindo no meio. No início de 2008, Ana continuou no projeto, e seu desenvolvimento começou a ser avaliado desde o início. Ainda no início do ano, a coordenadora foi questionada pelo padrasto de Ana sobre o desenvolvimento dela pelo projeto, e qual era o objetivo, já que a aluna continuava com a dificuldade e não conseguia sequer fazer os deveres de casa, e ameaçou tirá-la do projeto. A coordenadora decidiu chamar a mãe da aluna para uma conversa juntamente com a coordenadora do projeto. Na conversa com a mãe, foi relatado que ela acabara de ganhar seu 3º filho, com o padrasto de Ana, e que as outras duas filhas eram de pais diferentes, e que no momento era o padrasto que estava assumindo o papel de pai de Ana, acompanhando-a, principalmente, nas atividades da escola. Além do ciúme de Ana pelo irmão mais novo, que tinha toda a atenção da família, ela sofria com a autoridade do padrasto que, muitas vezes, a agredia e com as atividades de casa, que eram impostas pela mãe, e tudo isso influenciava no seu desempenho na escola. Segundo Mascellani (1980), toda pessoa tem condições para educar outra pessoa; grupos têm possibilidades de educar outros grupos e sociedades têm possibilidades de educar sociedade. É importante e profundamente essencial a participação dos pais no desenvolvimento escolar dos seus filhos, pois também têm muito a contribuir para o seu desenvolvimento. O papel da família no desenvolvimento escolar da criança é fundamental, para que a criança não seja rotulada somente ao pensamento do professor. "Um homem assume suas idéias, tornam-se explícitas através de seus atos e palavras, mas não as impõe, embora lute por elas" (COSTA, 1983). Através deste caso, podemos perceber que a estrutura familiar atrapalha o desenvolvimento do aluno, principalmente das crianças que estão começando sua vida escolar agora, pois o que se aprende na escola deve ter uma continuidade em Página - 157 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Fabiana de Carvalho A importância da estrutura familiar na vida... Fabiana de Carvalho “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. Referências: COSTA, Marisa. Refletindo sobre o papel do professor. In: Revista Educação, n. 7, 1983 Dunisinos, n. 3, maio 1995. MASCELLANI, Mário. Quem educa o educador. In: Revista Educação e Sociedade, ano II, n. 7, set. 1980. Página - 158 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral STUDOS DE CASOS “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST ARTIGO 17 Autora: Fernanda Fernandes Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Depressão infantil Resumo garra-se à mãe, grita, chora e, às vezes, chega a A incidência de depressão infantil tem aumentado consideravelmente. As crianças ficam deprimidas tão freqüente e tão profundamente quanto o adulto. A relação entre depressão infantil e rendimento escolar tem sido investigada por alguns autores. Os resultados desses estudos sugerem que a depressão na criança pode prejudicar seu rendimento na escola. Crianças com história de depressão apresentam um desempenho escolar abaixo do esperado. falta de concentração e, em algumas situações, deitar no chão. Quando fica na escola, apresenta chega a ser agressiva com colegas e professores. O relato indica características de um quadro de depressão infantil. A depressão seria a perda de um objeto amado, que conduziria a sentimentos de culpa e melancolia, sofrimento de carência afetiva, podendo ser decorrente de separação. O presente artigo baseia-se no estudo de ca- Uma criança deprimida apresenta humor irritável, so da aluna Paula , de oito anos de idade, estu- queda do rendimento escolar, baixo autoconcei- dante do terceiro ano do primeiro ciclo do ensino to, isolamento social, sentimento de rejeição, fundamental de uma escola pública do município pouca energia para fazer atividades, distúrbios de Betim. de atenção e concentração, agressividade, medo inexplicado, transtornos alimentares, enurese De acordo com relato da supervisora e de noturna e outros sintomas. professores da escola, Paula estuda na escola há três anos e esse novo comportamento apare- Segundo Baptista (1999), de um modo geral, ceu no final de 2007. A aluna tem se isolado, uma criança deprimida pode apresentar sérios chora muito sem motivo aparente, sente muito comprometimentos nas suas relações sociais e medo de que a família a deixe na escola. Na familiares, bem como no desenvolvimento cognitivo, escolar e emocional. A criança apresenta uma tendência para interpretar os acontecimentos diários de forma negativa e distorcida da realidade, manifestando um estilo próprio de pensamentos, caracterizado por uma visão pessimista do futuro, selecionando os eventos negativos de sua vida. Página - 159 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral A família de Paula foi chamada pela supervisora da escola para uma conversa. Os pais relataram que estavam se separando e a mãe também apresentava sintomas de depressão. A escola encaminhou a aluna para tratamento psicológico. A família concordou com o encaminhamento. Os pais têm grande parcela de contribuição no aparecimento da depressão na criança. Muitas vezes, os pais também estão deprimidos e, através do modelo e da aprendizagem, essa criança passa a conhecer as formas pessimistas do pensar de seus pais. Os pais precisam ensinar o otimismo à criança e não o pessimismo. As crianças estão sempre atentas às atitudes e maneiras como seus pais explicam os acontecimentos. Se os pais explicam de forma negativa, é essa a maneira como a criança vai aprender a ver o mundo. Algumas vezes, os pais passam algumas mensagens para seus filhos, que quase sempre não são notadas ou percebidas, mas que ficarão guardadas pela criança. Fernanda Fernandes Notas de rodapé: 1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. Referência: BAPTISTA, M. N. Depressão e suporte familiar: perspectivas de adolescentes e suas mães. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas (SP), 1999. A escola acredita na recuperação da aluna, desde que a família se comprometa com o seu tratamento. De acordo com relato da mãe, é necessário um tratamento para a família, para que haja uma harmonia favorecendo o bem-estar da criança. Contatos freqüentes com os pais serão necessários para o progresso da criança. Destaque-se, ainda, que é importante ouvir a criança, se colocar no lugar dela, vendo a situação sob a sua ótica, e levá-la a reconhecer outras possibilidades de se ver uma situação. Página - 160 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral “O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS Depressão infantil...