STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 1
Autora:
Adriele Carla Pereira
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas. É professora da Educação Infantil no Instituto Educacional Acalanto, em Belo Horizonte.
O olhar da gestão sobre os alunos com necessidades especiais na
escola inclusiva
Resumo
gestão sobre os alunos com necessidades edu-
O presente artigo visa refletir sobre os múltiplos
olhares que o coordenador pedagógico deve ter para
atender os alunos com necessidades educacionais
especiais, pois questões sobre a inclusão são o
grande desafio para o desenvolvimento do aluno que
apresenta dificuldades de aprendizagem em uma
escola particular da Educação Infantil, procurando
analisar a utilização de recursos para a construção
do processo de aprendizagem.
chamou a minha atenção no que diz respeito aos
cacionais especiais dentro da escola inclusiva
direitos humanos, principalmente educacionais.
Para isso, no âmbito escolar, deve-se organizar e
desenvolver juntamente com o corpo docente
práticas de ensino voltadas para todos os alunos,
tendo como objetivo e responsabilidade atender
às necessidades dos educandos. O retorno será
uma educação de qualidade.
A educação é reconhecida mundialmente co-
A tarefa da escola, bem como da gestão, con-
mo o primeiro investimento de socialização de
siste não em se adaptar à diferença apenas, mas
um indivíduo, é uma necessidade humana pri-
principalmente em lutar para vencê-las. Dessa
mordial, que torna a pessoa valorizada em seus
forma, a inclusão significa que não é o aluno que
princípios morais e intelectuais. Os anos iniciais
tem que se moldar ou se adaptar à escola, mas a
do ensino fundamental baseiam-se em uma edu-
escola, consciente de sua função, deve se colo-
cação focada nas questões éticas e morais, além
car à disposição do aluno.
de instigar a curiosidade, o espírito crítico, a autonomia e a criatividade.
Diante dessas colocações, o estudo de caso
analisado mostra os desafios enfrentados pela
Este artigo pretende ser um espaço para a di-
coordenação para desenvolver práticas inclusi-
vulgação da reflexão resultante das observações
vas com Paulo¹, um aluno de 5 anos de idade,
do Estágio de Supervisão Escolar. O olhar da
que ainda não possui um diagnóstico fechado por
médicos e especialistas. O principal desafio é
desenvolver uma pedagogia que lhe assegure
uma educação a partir de currículos adaptados,
modificações
organizacionais,
estratégias
de
ensino, recursos e parcerias com outros especia-
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O olhar da gestão sobre os alunos com necessidades...
Diante desse quadro, pode-se perceber as dificuldades do aluno para acompanhar o conteúdo
escolar em relação ao ritmo dos colegas da
mesma faixa etária. Apresenta quadros de falta
de atenção e concentração, medo, insegurança,
raciocínio lento, tem potencial, mas tem dificuldade em trabalhá-lo e desenvolvê-lo.
Nessa perspectiva, há uma reflexão sobre a
questão da responsabilidade e conscientização
da gestão para uma atenção especial a esse
aluno. Vygotsky (1996) destaca a importância de
uma atenção especial à educação dos alunos
com necessidades especiais sobre as conseqüências em seu desenvolvimento, pois fornece
a base teórica para melhor compreensão da prática educacional. Vygotsky afirma que, se ocorre
um dano seja físico seja cognitivo, outros sistemas sensórios devem ser estimulados. Nessa
visão, durante o estágio curricular, pude perceber
que a situação da educação de Paulo não se
limita ao aspecto didático-pedagógico. O aluno é
incluído no espaço escolar através da interação
sócio-afetiva. O educando deve sentir-se acolhido e perceber que a diversidade não se constitui
um obstáculo e sim um estímulo para a formação
de consciência de todos os envolvidos no processo sócio-educacional.
Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento estão estreitamente relacionados, sendo
que as crianças se inter-relacionam, internalizando o conhecimento advindo de um processo de
construção. A grande novidade na teoria de Vygotsky no campo da aprendizagem está no conceito de ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal. É necessário que o educador crie com seus
alunos com necessidades especiais Zona de
Desenvolvimento Proximal, ou seja, atividades
que o aluno consegue fazer sozinho e outras que
ele é capaz de fazer com a ajuda dos outros.
Segundo Vygotsky, saber identificar essas duas
capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que educador precisa ter. Crianças com necessidades especiais desenvolvem mais devagar
do que os alunos ditos “normais”, daí a necessidade de se trabalhar em sua Zona de Desenvolvimento Proximal. “Elas necessitam de muito
mais ajuda, de maiores interações, de mais ensino, de mais tempo”. O professor deverá fazer
junto com o aluno o que ele não consegue fazer
sozinho. Isso exige uma atenção muito grande
por parte do professor, que deverá se preocupar
em estabelecer sempre um espaço de comunicação com o aluno, caminhando junto com ele até
que possa alcançar um desempenho independente.
Nessas perspectivas de Vygotsky, cabe ao
coordenador e ao professor estarem atentos às
peculiaridades do aluno com necessidades educacionais, sobretudo saberem que o aluno com
necessidades especiais não representa uma
doença, mas uma deficiência da experiência
social. Deverá existir também um investimento
individual do professor: planejamento diário, preparação do ambiente de sala de aula, avaliação
processual através de relatórios, busca constante
na sua formação como educador.
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
listas, como psicólogo e fonoaudiólogo. Paulo
apresenta dificuldades na aprendizagem. Cabe
ressaltar que, revisitando a bibliografia, encontramos algumas definições que apontam para a
origem do sintoma, ligado à aprendizagem. Assim temos: Dificuldade - origem cognitiva; Distúrbio - origem neurológica ou genética; Problema origem emocional.
Adriele Carla Pereira
O olhar da gestão sobre os alunos com necessidades...
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Portanto, os subsídios sobre a inclusão para a
ação pedagógica no cotidiano escolar têm causado um certo impacto no meio escolar e, com
isso, surgem muitas dúvidas quanto às ações
pedagógicas inclusivas.
Para finalizar, compartilho o pensamento de
Emília Ferreiro: “A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a qual, por trás da
mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos
ouvidos que escutam, há uma criança que pensa...”
Adriele Carla Pereira
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.
Referência:
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente.
São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 2
Autora:
Alairce Aguiar de Lacerda
Graduanda do curso de Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais da PUC Minas.
Alfabetização de alunos nas séries finais do ensino fundamental
Resumo
O objetivo central deste artigo é analisar as dificuldades de aprendizagem na aquisição da leitura e da
escrita apresentadas por uma turma da 6ª série do
Ensino Fundamental de uma escola da rede estadual da Região Metropolitana de Belo Horizonte e
sugerir possíveis intervenções para saná-las.
O caso estudado teve como principal objetivo
analisar uma turma da 6ª série do Ensino Fun-
Os professores são, em sua totalidade, graduados e passam por um processo seletivo para
ingressar na escola.
O material didático é fornecido gratuitamente
a todos os alunos, porém notei que o tratamento
dispensado ao material pelos alunos aproxima-se
do vandalismo. Pareceu-me que esse comportamento se dava pelo fato de os alunos não dominarem a leitura.
damental de uma escola da rede estadual, locali-
A infra-estrutura da escola atende perfeita-
zada na periferia Belo Horizonte, que apresenta
mente às necessidades básicas para que sejam
dificuldades de aprendizagem na prática da leitu-
ministradas as aulas, bem como oferece bem-
ra e da escrita e, em seguida, sugerir algumas
estar aos alunos e aos professores.
intervenções para alfabetizar esses alunos.
Os alunos que apresentam melhor desempeDurante aproximadamente trinta dias acom-
nho têm, em sua maioria, o apoio dos pais, inclu-
panhando a turma, pude observar que cerca de
sive a presença deles na escola. Em contraparti-
80% dos alunos apresentam um déficit de apren-
da, os que apresentam mais dificuldades são
dizagem: não sabem ler nem escrever correta-
também os que não recebem esse apoio e incen-
mente.
tivo. Diante desse contexto, o que fazer para
A turma apresenta grande discrepância de idade, variando entre 11 e 18 anos, sendo grande
parte deles repetente ou fruto da evasão escolar.
ajudar a turma?
O processo de aprendizagem é complexo e
precisa de uma sintonia entre professor, escola e
família. Assim, partilhando as obrigações, o processo de alfabetização se torna prazeroso e eficiente não só nas séries iniciais, mas também
nas séries finais.
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Alfabetização de alunos nas séries finais do ensino...
Cabe à Coordenação Pedagógica da escola,
juntamente com os professores, desenvolver um
projeto para alfabetizar os alunos, pois, se os
alunos não sabem ler, não é possível trabalhar
de forma producente os conteúdos curriculares.
É preciso agir rápido para que os mesmos não
desistam novamente, inchando ainda mais o
grupo dos evadidos da escola.
Ao professor, cabe respeitar a individualidade
dos alunos, reconhecendo que todo aluno é capaz de aprender, desde que se respeite o tempo
de cada um e se trabalhe de forma específica as
suas necessidades.
À escola, cabe oferecer infra-estrutura adequada para acolher os alunos e oportunizar o
desenvolvimento de suas potencialidades, oferecendo aparato instrumental e instrucional ao professor, para poder desenvolver seu trabalho da
forma mais efetiva.
Como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, nenhuma criança ou adolescente pode
ser privada do direito à educação. Nenhuma necessidade especial pode privar a criança do contato humano nem afastá-la do contato com os
colegas no universo escolar. No entanto, as escolas devem estar preparadas para receber bem
os alunos e implantar uma educação de qualidade a toda e qualquer criança, independente de
sua necessidade.
Concluo, portanto, que o processo de alfabetização é possível em todos os níveis e séries. O
que se deve fazer é implantar um projeto eficiente de educação em sistema de parceria, envolvendo pais, professores e escolas, sem a preocupação de transferência de responsabilidades e
atribuição de “culpa” entre as partes, como é
costumeiro.
Referência:
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990). Brasília: Senado Federal, 2003. 216 p.
À família, compete participar efetivamente do processo educacional, seja no acompanhamento diário ao filho em casa, seja em visitas
freqüentes à escola numa periodicidade que propicie uma parceria entre pais, professores e escola.
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Os problemas que se apresentam na alfabetização estão, em sua maioria, relacionados a um
mau desenvolvimento nas séries iniciais; seja por
déficit na aprendizagem, seja por falta de incentivo ou por desinteresse. A educação, como um
todo, deve ser entendida como um processo de
transformação, lento e gradativo, que se dá desde o nascimento.
Alairce Aguiar de Lacerda
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 3
Autora:
Ana Carolina Alves Pereira
Endereço eletrônico: [email protected]
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas. É professora do Sistema de Ensino Recriar.
Distúrbio Emocional
Resumo
senvolve mais suas atividades diárias com satis-
Problemas emocionais e comportamentais podem
estar associados ao baixo rendimento escolar dos
alunos. Os distúrbios comportamentais representam
uma forte condição de risco para o desenvolvimento
da aprendizagem e o trabalho educacional com
crianças com déficit de aprendizagem deve considerar aspectos ligados também a esse tipo de comportamento. Com o objetivo de analisar o tema, o presente artigo relatará um estudo de caso que conceitua esse distúrbio emocional e comportamental.
para o baixo desempenho escolar.
fação e entusiasmo, causando, assim, um risco
Segundo Grunspun (1985), crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam modos
de enfrentamento inadequados frente às situações cotidianas e às relações interpessoais, predominando condutas que sugerem baixa capacidade de auto-regulação, hostilidade e resistência
às normas. Muitas vezes, elas são descritas como desobedientes, irritáveis, impacientes, agita-
Para muitas pessoas, problemas ligados ao
das, inseguras, briguentas e destrutivas.
emocional, ao comportamental e ao psicológico
existem, mas elas não reconhecem tais distúr-
No contexto familiar, variáveis relaciona-
bios como algo que precisa ser tratado e que
das às características pessoais dos pais, ao pró-
necessita de acompanhamento médico.
prio funcionamento da família, à estrutura e à
organização do ambiente doméstico aparecem
Em sala de aula, muitas crianças são alvo de
associadas ao rendimento escolar.
desconfortos emocionais que têm sérios efeitos e
uma grande repercussão na sua vida, sendo
No contexto social mais amplo, encontram-se
prejudiciais tanto no desempenho escolar, como
condições como a depreciação da criança por
no relacionamento com professores, colegas e a
outras pessoas; rejeição e agressão; inadequa-
própria família. A criança praticamente não de-
ção da professora; greve escolar e mudança de
professora, classe ou escola durante o ano letivo.
Esses fatores vão influenciar tanto a aprendizagem quanto o comportamento da criança em
geral, podendo alguns deles aparecer desde a
gestação e acompanhá-la por toda a sua vida.
(WILKINSON, 2001).
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De modo geral, os problemas de aprendizagem têm sido freqüentemente encontrados em
associação com diferentes situações que envolvem tanto as características pessoais da criança
com dificuldades quanto as condições de seu
ambiente familiar e do ambiente mais amplo.
Considerando essas questões, o presente artigo tem por objetivo relatar características comportamentais de Tatiane¹, 8 anos, aluna da 1ª
série do ensino fundamental, em uma escola
particular de Belo Horizonte. Apresenta baixo
rendimento escolar, com base na avaliação de
pais e professores. A aluna faz acompanhamento
pedagógico e psicológico na escola. Tatiane é
um caso que está sendo estudado, devido à incidência de problemas emocionais e comportamentais.
A aluna chega à escola com comportamentos
notados por todos, pois se apresenta agitada,
impaciente, desobediente e briguenta. Semanalmente, há encontros da turma com a psicóloga
que orienta a família e, em outro turno, com os
pais de Tatiane.
Ana Carolina Alves Pereira
Por isso, são importantes estudos que utilizem instrumentos semelhantes, aplicados tanto a
pais quanto a professores, na investigação das
associações entre comportamento e aprendizagem, buscando minimizar a influência das diferentes expectativas e dos possíveis resultados da
análise feita.
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade da
aluna.
Referências:
GRUNSPUN, H. Distúrbios neuróticos da
criança. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu, 1985.
WILKINSON, Greg. Guia da Saúde Familiar:
Stress. Revista ISTOÉ, Rio de Janeiro, Edição
especial, p. 1-90, 2001.
No processo de alfabetização, a aluna desconcentra os demais colegas da turma, necessitando sempre da presença da diretora na sala de
aula, só assim ela consegue se concentrar e se
adequar ao ambiente.
Em relação à escrita, Tatiane está alfabetizada, mas necessita da intervenção da professora
para possíveis interpretações. Ela freqüenta aulas de reforço. Segundo a psicóloga da escola,
Tatiane está em teste, mas há como hipótese um
distúrbio comportamental. Portanto, a presença
da família é peça fundamental diante desses
comportamentos.
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Distúrbio Emocional
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 4
Autora:
Ana Paula de Carvalho
Endereço eletrônico: [email protected]
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Conflito familiar: um desafio para a escola
Resumo
os obstáculos como se fossem desafios. Nos
O presente artigo apresenta o relato da coordenação
pedagógica de uma escola estadual situada na região Leste de Belo Horizonte. A referida instituição
atende a um público de classe média-baixa e, dentro
de sua filosofia educacional, procura promover uma
educação de qualidade para todos seus educandos.
O relato se refere ao estudo de caso de uma aluna
que apresenta alterações de comportamento que,
com o passar do tempo, passam a comprometer o
seu rendimento escolar.
pela sua capacidade de se relacionar com os
conselhos de classes, a aluna é sempre elogiada
colegas de classe e funcionários. A mãe sempre
acompanha
e
comparece
na
escola
para
reuniões e eventos festivos.
Em agosto de 2007, a aluna retorna das férias
se comunicando com pouca freqüência com os
colegas e professores. Monique não mais brincava, sorria ou até mesmo conversava com as pessoas. Após conversas entre os professores e a
Monique¹ tem 12 anos e cursa a 6ª série do
Coordenação do turno, os mesmos suspeitaram
Ensino Fundamental. Está na escola desde a 5ª
de conflito familiar que pudesse estar afetando o
série e sempre se apresentou motivada em todas
emocional da aluna ou algum problema de saúde
as atividades propostas. Nunca foi reprovada
ainda não repassado para a escola.
nem perdeu média, sempre foi destaque em sala
de aula pelo seu excelente desempenho escolar.
A aluna foi chamada para uma conversa junto
A aluna pertence a uma família de classe baixa e
à coordenação, porém não relatou nada de a-
reside em um bairro da periferia próximo da es-
normal, apenas um pouco de desânimo. A mãe
cola, porém sua realidade de vida não representa
de Monique foi convocada várias vezes pela es-
para ela motivo de dificuldades ou limitações,
cola para uma reunião com a coordenação, po-
pelo contrário enfrenta
rém a mesma não comparecia sob alegação de
doença.
Após algum tempo, a mãe comparece à escola relatando que está com problema de saúde, e
que o resultado dos exames sairá dentro de uma
semana. Relata também que o ambiente familiar
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Conflito familiar: um desafio para a escola
se encontra normal. Os dias passam e a aluna
educacional, volta a sorrir e a se comunicar com
permanece em seu quadro de silêncio. Nesse
os colegas, mesmo com pouca freqüência.
período, a aluna perde sua primeira média e a
situação se apresenta de forma mais agravante.
O que se percebe, a partir deste relato, é que
a escola se encontra desafiada pelas exigências
Passa-se mais um mês e novamente a mãe é
da atualidade, tendo que apresentar constantes
chamada na escola para uma nova reunião e,
intervenções, a partir de uma Pedagogia mais
após alguns instantes de conversa, a mesma, em
inovadora, pois, para que aconteça uma educa-
um desabafo, relata toda a situação de conflitos
ção de qualidade, é necessário desenvolver a-
vivenciada em casa com o marido, sempre com
ções na escola voltadas para a pluralidade e a
brigas na frente da aluna. Imediatamente, a mãe
complexidade, decorrentes da interdependência
é aconselhada a denunciar o esposo e encami-
existente entre a escola, a família e o contexto no
nhar a filha para acompanhamento psicológico.
qual todos estão inseridos.
A aluna vem apresentando dificuldade de aprendizagem, devido aos conflitos relatados pela
mãe. A escola acompanha sistematicamente o
desenvolvimento da aluna, promovendo ações
entre o corpo docente, e realiza reuniões periódicas com a mãe, aconselhando-a a se separar do
marido, em face das agressões físicas que se
tornam cada dia mais graves. A mãe se compromete com a educação da filha, dizendo que tomará coragem para se separar, mas três meses
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade da
aluna.
Referência:
PERRENOUD, Phillippe. Ensinar: agir na
urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre:
Artmed Editora, 2001.
se passaram e a mãe ainda não apresentou sinais de mudança ou atitude.
A escola, então, denuncia a mãe para o Conselho Tutelar. Monique é, inicialmente, acompanhada de perto pelo órgão responsável pelo amparo ao menor e a mãe, finalmente, denuncia o
marido que, logo em seguida, foi preso.
Monique continua freqüentando a escola e,
após cinco meses de intenso acompanhamento
pelo corpo docente e discente, a aluna começa a
apresentar melhoras em seu desenvolvimento
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Ana Paula de Carvalho
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 5
Autora:
Ana Paula Soares
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Os olhos que perceberam outros olhos
Resumo
Imagine só a criança, em fase escolar, que
apresenta uma dessas doenças, sem óculos ou
Este artigo relata a história de uma criança que perdeu uma das vistas devido à negligência e desinformação dos pais, o que poderia ser evitado quando
há ações como providenciar óculos sem custo para
a criança, tratar ou encaminhar para serviços especializados.
sem assistência adequada! É sabido que os problemas relacionados aos olhos acarretam prejuízo ao aprendizado e à socialização. Na escola, a
criança que apresenta um desses sintomas só
enxergará a lição se estiver bem próxima do
quadro, conseqüentemente ela terá um baixo
Miguilim olhou. Nem podia acreditar! Tudo era uma
claridade, tudo novo. E lindo e diferente, as coisas, as
árvores, as caras das pessoas.
desempenho escolar.
Este artigo fará o relato do estudo de caso re-
(Guimarães Rosa)
alizado com a aluna Larissa1, que freqüenta uma
De acordo com o Manual de Orientação ao
escola pública, inclusiva, localizada na região
Professor de uma campanha realizada pelo go-
norte de Belo Horizonte. Hoje aos onze anos de
verno federal no ano de 1996, 85% do contato do
idade, ela cursa o 3º ano do 2º ciclo. A sua histó-
homem com o mundo dá-se pela visão. A maioria
ria iniciou aos seis anos de idade, quando seus
das crianças em idade escolar nunca passou por
professores observaram uma mancha esbranqui-
um exame oftalmológico. E estima-se que 10%
çada em um dos seus olhos. No primeiro mo-
dessas crianças necessitam de óculos e, ainda,
mento, a direção da escola solicitou a presença
aproximadamente 20% delas apresentam doen-
da família para averiguar se eles já tinham co-
ças visuais como: erro de refração, conjuntive,
nhecimento das observações feitas por eles. A
estrabismo, seqüela de acidente ocular, malfor-
princípio, as respostas às solicitações foram ne-
mação congênita entre outras.
gativas. Então foram necessários outros encaminhamentos.
Após vários encaminhamentos, a mãe procurou a escola e a sua explicação não tranqüilizou
os professores porque a situação da aluna demonstrava claramente o contrário.
Página - 126 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
Ana Paula Soares
No decorrer dos meses, houve um agravamento do problema no olho direto da criança e
foram necessários novos encaminhamentos à
família com o objetivo de exigir a apresentação
dos exames feitos, como a mãe havia relatado.
Assim, foi possível constatar que os pais não
estavam tendo os cuidados adequados com a
doença da aluna, uma vez que os professores
acreditavam tratar-se de glaucoma, devido aos
sintomas.
presentava perda de visão no olho esquerdo. A
direção da escola conseguiu consultas no Hospital Hilton Rocha e assim, pouco a pouco, foi dando oportunidades de atendimento com mais freqüência a ela. Acredita-se que a família, nesse
momento, já está mais esclarecida e se dedica
ao máximo para que a Larissa faça o tratamento,
porém os esforços da escola não puderam amenizar o sofrimento da aluna, que perdeu a visão
do olho direito.
Mas o que é glaucoma? É uma doença nos
olhos que pode se manifestar na infância, é considerada uma doença devastadora e pode causar
cegueira irreversível. A realização do diagnóstico
precoce da doença é de suma importância, pois
é sabido que tanto o prognóstico cirúrgico quanto
com o visual são alentadores quando é realizado
o tratamento pronto e adequado.
Fica para nós, contudo, uma lição. É importante informar aos pais sobre quaisquer mudanças no corpo das crianças, pois tais alterações
podem causar uma deficiência ou uma doença
grave.
A direção solicitou, novamente, a presença da
família para esclarecimento das suspeitas dos
professores. Foram muitos encaminhamentos e
várias convocações até que a família apareceu,
novamente, na escola. Então a direção orientouos para futuras ações que a família deveria assumir. Após o esclarecimento à família, houve o
encaminhamento da aluna à sala de recursos da
PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) para ser avaliada por especialistas. Ela teve que ser encaminhada a outros setores, como hospitais e clínicas
especializadas. Como a família achava dificuldade em tudo, algumas vezes a direção da escola a
levava. Foi através do convencimento que a família participou do tratamento.
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade da
aluna.
Referências:
ALVES, Ruiz Milton; JOSÉ-KARA, Newton. Manual de Orientação ao Professor - Olho no
olho. Campanha Nacional de Reabilitação visual /
Ministério Público Federal, Brasília: MEC, 1996.
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim:
corpo de baile. 14 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
SILVA, Pedro Jorge de Melo (org). O acesso de
alunos com deficiências ás escolas e classes
comuns da Rede Regular. Ministério Público
Federal, Brasília: MEC, 2004.
Depois de dois anos de muita cobrança por
parte da escola e resistência da família, foram
conseguidos óculos para a aluna, pois ela já a-
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Os olhos que perceberam outros olhos
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 6
Autora:
Carolina Oliveira Gomes Campos
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Baixa auto-estima? Valorize-se!
Resumo
sobre nossas limitações e potencialidades. Ela
A baixa auto-estima é um problema sério e, sem
dúvida, um dos maiores problemas educacionais. A
baixa auto-estima consegue inibir a relação com o
mundo e impede, muitas vezes, de se conseguir
prazer e satisfação com as experiências de vida.
capacidades para solucionar as dificuldades que
consiste em confiar nas próprias habilidades e
surgem na vida. Significa considerar-se como
alguém com direito a se expressar, se valorizar e
defender seus interesses e necessidades, em
pensar que você é uma pessoa com valor, res-
Este artigo baseia-se no estudo de caso do
peitável e com direito a ser feliz.
aluno Pietro , 14 anos, estudante da 8ª série do
A baixa auto-estima, por sua vez, é um pro-
ensino fundamental de uma escola particular de
blema sério e, sem dúvida, um dos maiores pro-
Belo Horizonte. Segundo relato da coordenadora
blemas educacionais. O aluno com baixa auto-
da escola, o aluno tem sempre a sensação de
estima não aprende, não evolui. Pessoas com
incapacidade e de falta de aceitação, apresenta
essa síndrome são infelizes, incapazes de consi-
complexo com o físico, tem pensamentos do tipo:
derar a si mesmas como membros aceitáveis no
"não valho nada", "faço tudo mal ou não tão bem
grupo, como criaturas significativas.
como deveria", "não gosto de mim mesmo...".
Está sempre insatisfeito com suas relações, suas
A baixa auto-estima inibe a relação com mun-
atividades não o deixam feliz, acha que tem pou-
do e impede muitas vezes de se obter prazer e
cas habilidades ou pouca capacidade intelectual
satisfação com as experiências de vida.
e seu lazer também não o satisfaz.
Segundo Magalhães (2004),
O relato indica características de baixa autoestima. A auto-estima refere-se ao valor que
atribuímos a nós mesmos, ao conceito que temos
As pessoas com baixa auto-estima rotulam-se
negativamente (“Como sou burra, faço tudo errado"). Mas nós não somos um objeto e, como
tal, não nos podemos rotular. Um rótulo é sempre uma generalização exagerada, que não tem
significado porque a vida é um processo contínuo de mudança, com mudanças psicológicas
constantes. Estes pensamentos negativos não
determinam o nosso valor, nem os nossos atos
ou pensamentos. Se eles nos fazem sentir mal,
o melhor é “varrê-los” da cabeça. Nós sentimos
o que pensamos!
Página - 128 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
Os pais de Pietro foram chamados pela coordenadora da escola para uma possível autorização e encaminhamento à psicóloga da escola.
Mas não foi possível, por os pais acharem que o
filho não tem motivo para ter a auto-estima baixa.
Eles acham que o filho tem tudo o que precisa e
quer em casa e que tudo que lhe foi cobrado em
troca é que fosse sempre um bom aluno.
Carolina Oliveira Gomes Campos
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.
Referência:
MAGALHÃES. Fernando Lima. A auto-estima.
Revista Educação, set. 2004, p. 25 a 30.
Acreditamos que o aluno se tornaria um
adulto equilibrado e feliz se os pais dissessem
mais vezes ao filho o quanto ele é amado, se
evitassem colocá-lo como modelo de perfeição,
se o elogiassem sempre que ele merecer com
palavras que, na hora certa, validam e dão todo o
apoio de que ele precisa.
Os pais não podem simplesmente ignorar
que as crianças possam ter problema. O fundamental é o bem-estar da criança, lembrando que
não se deve ter resistência ao tratamento em
benefício da saúde do aluno.
Página - 129 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Baixa auto-estima? Valorize-se!
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 7
Autora:
Clélia da Costa Pereira Aguiar
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
A indisciplina e a agressividade dos alunos nas séries finais do
Ensino Fundamental
Resumo
Este artigo relata um estudo sobre a indisciplina e a
agressividade de alunos das séries finais do Ensino
Fundamental, realizado numa escola da rede pública
estadual da Região Metropolitana de Belo Horizonte,
expondo soluções encontradas pela coordenadora
pedagógica juntamente com os professores e os
alunos, através da observação e de diálogo investigativo.
A educação é um processo de grandes transformações, acompanhado de inúmeros desafios
que surgem decorrentes das mudanças sociais,
Nesse contexto, foi realizada, no primeiro semestre de 2008, uma análise da indisciplina e da
agressividade numa escola pública estadual da
periferia de Belo Horizonte. Nessa escola, constatou-se que as mais freqüentes queixas são a
agressividade e a indisciplina escolar, consideradas empecilhos para o processo de ensino e
aprendizagem, com especial destaque para duas
turmas, uma de 6ª e outra de 7ª série. Os dados
foram coletados a partir de observação e conversa com professores, alunos e coordenadora pedagógica.
econômicas e políticas que refletem no contexto
A maioria dos alunos dessas turmas não res-
educacional, de forma a exigir dos educadores
peita os professores nem se interessa em apren-
práticas educativas inovadoras. Entre tantos, a
der os conteúdos ensinados. Eles são dispersos,
indisciplina e a agressividade presentes no ambi-
não têm limites e, na maioria das situações, os
ente escolar merecem ser analisadas e discuti-
professores não apresentam condições para
das com urgência, devido ao seu crescimento
controlar a disciplina, o que torna evidente a per-
constante no cotidiano escolar. Vale ressaltar
da de autoridade do professor em sala de aula.
que o ato de educar é extremamente desafiador,
complexo, e envolve aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos e culturais.
Silva (2003), ao definir indisciplina escolar, afirma que todas as vezes que um aluno desrespeita as regras da instituição é considerado indisciplinado. Ainda para esse autor, a agressividade é considerada também uma forma de indisciplina, a mais preocupante na atualidade.
Página - 130 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
A indisciplina e a agressividade dos alunos nas séries...
O motivo considerado mais relevante foi a defasagem idade/série. A fim de confirmar essa
hipótese, a coordenadora pedagógica sugeriu o
diálogo mais investigativo com os alunos e uma
visita às famílias, por considerar que a familia é o
primeiro e mais importante espaço no qual cada
indivíduo se insere como ser social e aprende
valores morais e sociais. A educação familiar é
um fator bastante importante na formação da
personalidade do indivíduo, desenvolvendo seu
senso crítico, ético e de cidadania, o que se reflete diretamente no contexto escolar.
Segundo Gokhale (1980, p. 33), a organização familiar não é:
[...] somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o centro da vida
social... A educação bem sucedida da criança
na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo
quando for adulto... A família tem sido, é e será
a influência mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do caráter das pessoas.
Vale lembrar que, apesar de não encontrarem
apoio na direção da escola, os professores encontram apoio na coordenação pedagógica e
procuram trabalhar em equipe. Vale ressaltar
que muitos não se sentem motivados frente a
mais essa dificuldade, pois sempre que procuram
a direção não encontram o apoio necessário para
a solução de problemas, o que contradiz o verdadeiro papel da escola.
Como afirma Libâneo (1998), a pedagogia
necessita configurar seus temas diante das novas realidades do trabalho produtivo, dos avanços tecnológicos, das mudanças de paradigmas
do conhecimento, das mudanças de entendimento e das transformações sócio-politicas e culturais, levando o pedagogo e os professores a
inovar suas atitudes e acompanhar as demandas
da sociedade. Vasconcelos (2000) deixa claro
que “são tantas as mudanças, são tantos os desafios colocados para os professores, que é preciso um espaço onde possam estar refletindo
juntos, estudando, analisando a própria prática,
trocando experiências, avaliando o trabalho, etc.”
O autor argumenta ainda que: “enquanto cada
um fica na sua posição, não encontraremos alternativas. Ao contrário, o que vislumbramos é o
compromisso de cada setor com suas responsabilidades, dentro de uma visão de totalidade,
articulando com os demais, cobrando, exigindo,
inclusive, que cada parte assuma suas respectivas responsabilidades.”
Com a confirmação da hipótese, foi decidido
juntamamente com alunos e professores que
seria montada uma nova turma com todos os
alunos que se encontravam em defasagem idade/série e que seria realizado um trabalho diferenciado com os mesmos para promover a Aceleração de Estudos, de acordo com a legislação
vigente.
Página - 131 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Visto que todo ato exercido pelo ser humano
tem um motivo, percebe-se que a coordenadora
procura, juntamente com os professores, buscar
soluções coerentes para os problemas encontrados. A coordenadora, primeiramente, se reúne
com os professores, a fim de identificar os motivos da indisciplina e da agressividade. Foram
apontados alguns motivos já observados pelos
professores, como, por exemplo, a falta de apoio
familiar, a situação econômica precária, a defasagem idade/série e a falta de interesse, entre
outros.
Clélia da Costa Pereira Aguiar
A indisciplina e a agressividade dos alunos nas séries...
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
A LDB 9.394/96, no seu art. 24, prevê a Aceleração de Estudos, recurso pedagógico no contexto da verificação do rendimento escolar. O
inciso V prevê a possibilidade de acelerar os
estudos para os alunos que se encontrem em
atraso escolar associado com a defasagem idade/ano de escolaridade.
No entanto, surgia uma nova dificuldade, colocar para a direção da escola as soluções encontradas. Com o apoio encontrado na vicedireção, as propostas foram apresentadas. A
direção, no entanto, apresentou o projeto “Acelerar para Vencer”, que tem como base legal a
Resolução nº 1.033, de 17 de janeiro de 2008,
apoiada no art. 24 da LDB, a ser oferecido pela
Secretaria de Estado de Educação, para implantação nas escolas da Rede Estadual de Ensino
Fundamental, com o objetivo de reduzir as taxas
de distorção idade/ano de escolaridade, o que
veio ao encontro das necessidades atuais das
turmas objeto deste estudo.
O Projeto “Acelerar para Vencer” iniciou-se
em abril de 2008. Todos os alunos que apresentavam, pelo menos, dois anos de distorção idade/ano de escolaridade foram remanejados para
essa turma,. Vale ressaltar que outros alunos que
já haviam parado de estudar procuraram a escola
interessados no projeto.
Clélia da Costa Pereira Aguiar
rendimento e que a turma do projeto demonstra maior interesse nas aulas e nas atividades
propostas, refletindo em uma disciplina favorável
à aquisição do conhecimento. Como vimos, os
desafios são enormes, porém, se não acreditarmos que há uma possibilidade e nos omitirmos
diante do problema, não conseguiremos contribuir para uma educação favorável à construção de
cidadãos críticos capazes de viver em sociedade.
Referência:
GOKHALE, S. D. A Família Desaparecerá? Revista Debates Sociais, n. 30, ano XVI. Rio de
Janeiro, CBSSIS, 1980.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos - Para quê? São Paulo: Cortez, 1998.
SILVA, N. P. Ética, Indisciplina & Violência nas
Escolas. São Paulo: Edição própria. 2003.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina
e Escola: Adequação e Transgressão - Uma
tensão necessária. Brasília: Revista da AEC n.
103, abril/junho 1997.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Os desafios da indisciplina em sala de aula e na escola.
Série Idéias, n. 28, São Paulo: FDE, 1997. p.
227-252.
As soluções encontradas foram colocadas em
prática e o projeto está sendo executado. Percebe-se que as turmas anteriores melhoraram o
Página - 132 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 8
Autora:
Daniela Bruna Lopes de Souza
Endereço eletrônico: [email protected]
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Dificuldades de aprendizagem: causas e conseqüências no contexto educacional
Resumo
Este artigo discute aspectos gerais relacionados ao
processo educacional de uma criança que, segundo
a escola, tem Dificuldades de Aprendizagem. Procura refletir as concepções relacionadas ao tema e
estabelece um contraponto entre dificuldades de
aprendizagem e falta de novas alternativas, ou seja,
problemas de ensino. O interesse em discutir o tema
decorre da necessidade de iniciativas que visem à
construção de novas metodologias que evitem o
fracasso educacional.
O processo educacional, especialmente nas
séries iniciais do ensino fundamental, passa hoje
A Escola Passaredo¹, da rede municipal de
ensino, localizada na periferia de Belo Horizonte,
se mostra como Espaço Aberto para “receber” as
crianças com DA. Todavia, não oferece condições satisfatórias para o trabalho com essas
dificuldades, levando-se em consideração que
tais condições exigem tempo, etapas didáticas e
situações apropriadas para o “acolhimento” dessas especificidades. A escola, no entanto, prefere, na maioria das vezes, esperar que a criança
possa se adequar à forma tradicional de ensino,
sem que haja alguma informação específica ao
professor acerca dessas dificuldades.
por um desencontro de ações, uma crise de
A aluna Júlia², atualmente com 7 anos de ida-
comprometimento com as Dificuldades de A-
de, matriculada na segunda série do Ensino Fun-
prendizagem (DA) que se apresentam em alguns
damental, possui DA e um conjunto de condutas
alunos. Essa falta de comprometimento acontece
desviantes em relação aos demais colegas, sen-
tanto por parte da escola como por parte de mui-
do uma criança normal em alguns aspectos, mas
tos pais ou responsáveis, o que resulta em duas
atípica em outros. Quanto aos comportamentos
situações: de um lado, o professor que, por ve-
específicos, os mais freqüentes englobam a falta
zes, não recebeu uma formação específica para
de limites, desordens de atenção, problemas
trabalhar com esse tipo de aluno e se vê em uma
perceptivos e dificuldades na memorização. A
situação de conflito e, de outro, o próprio aluno
escola recebeu essa criança sem proporcionar as
que se sente fracassado e excluído.
devidas mudanças, contribuindo, então, para o
seu insucesso escolar, com o agravamento de
um quadro de insatisfação e ansiedade que começa a existir, à medida que sua aprendizagem
tem se mostrado visivelmente defasada em relação à aprendizagem das demais crianças de sua
sala de aula.
Página - 133 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
Dificuldades de aprendizagem: causas e conseqüências...
O papel do professor no processo de aprendizagem é indiscutivelmente decisivo. Suas atitudes, concepções e intervenções serão fatores
determinantes no sucesso ou fracasso escolar de
seus alunos. Cabem ao professor duas tarefas
básicas diante das DA: o diagnóstico (ou detecção) seguido de intervenção adequada.
Bossa (2000, p. 12) ressalta que “as causas
dos problemas de aprendizagem escolar requerem uma intervenção especializada, para isso é
essencial que o psicopedagogo estabeleça com
o professor uma relação de troca”.
Notas de rodapé:
1. O nome da escola é fictício, para preservar
sua identidade.
2. Júlia é o nome fictício da aluna objeto deste
trabalho.
Referências:
BOSSA, Nádia A. Dificuldades de Aprendizagem: O que são? Como tratá-las? Porto Alegre:
Ed. Artmed, 2000. 119 p.
STRICK, Lisa; SMITH, Corine. Dificuldades de
Aprendizagem de A a Z: Um guia completo para
pais e educadores. Tradução de Dayse Batista.
Porto Alegre: Ed. Artmed, 2001. cap. 1, p. 13-60.
Faz-se necessária a construção de práticas
pedagógicas que levem em conta as necessidades das crianças, assim como suas possibilidades de aprendizagem, criando condições e dando-lhe autonomia suficiente para que não só
aprendam umas com as outras, mas também
com os próprios erros, sem medos ou preconceitos. Sabemos que é um processo complexo em
que estão presentes inúmeras variáveis: aluno,
professor, concepção e organização curricular,
metodologias, estratégias, recursos. A aprendizagem do aluno, no entanto, não depende somente dele, mas também do grau em que a ajuda do professor esteja ajustada ao nível que o
aluno apresenta em cada tarefa de aprendizagem. Se o ajuste entre professor e aprendizagem
do aluno for apropriado, o aluno aprenderá e
apresentará progressos, qualquer que seja o seu
nível.
Página - 134 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Smith e Strick (2001, p. 86) revelam que estudos mostram que adolescentes com DA não apenas estão mais propensos a abandonar os
estudos, mas também apresentam maior risco
para abuso de substâncias químicas, atividade
criminosa e até mesmo suicídio.
Daniela Bruna Lopes de Souza
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 9
Autora:
Danielle Cássia da Rocha
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Criança Hiperativa?
Resumo
Este artigo tem por finalidade apresentar um estudo
de caso de uma escola particular da Cidade de Contagem (MG), onde há uma criança considerada hiperativa pela professora e pela coordenadora, sem
diagnóstico médico que confirme o quadro. Destacase a importância do conhecimento da doença hiperatividade e do trabalho que deve ser realizado em
conjunto: família, escola e médico.
É muito comum ouvirmos queixas, trazidas
Em uma escola particular de Contagem, temos um caso que se assemelha a essas queixas
apresentadas por alguns profissionais. Há um
aluno da 5ª série com as seguintes características: é bagunceiro, distraído, problemático, irresponsável, mal-educado. A lista de rótulos da criança é enorme. Os pais, no entanto, consideram
normais esses comportamentos por se tratar de
uma criança em desenvolvimento, em fase de
crescimento.
por pais e profissionais que lidam com a infância,
Existe uma preocupação por parte dos pro-
de que algumas crianças são “impulsivas”, “agi-
fessores e da escola a respeito, pois os pais a-
tadas”, “agressivas” ou “vivem no mundo da lua”.
firmam já tê-lo levado ao médico por reclama-
Dificilmente, no entanto, essas pessoas conside-
ções de outras escolas. O médico diz não poder
ram que as causas dessas constatações apres-
dar o diagnóstico de criança hiperativa, por não
sadas podem estar ligadas ao fato de que essas
dispor de informações suficientes e consistentes
crianças podem estar encontrando verdadeiros
para isso. O aluno, no entanto, continua tendo
problemas para se fixarem em uma única ativi-
dificuldade em prestar atenção em qualquer tare-
dade na escola ou mesmo em atividades corri-
fa que precise de concentração, demonstra im-
queiras, como assistir a um desenho animado ou
pulsividade, baixo rendimento escolar, alterações
brincar com um amigo.
bruscas de humor. A coordenadora aconselhou
os pais a procurar outros médicos ou um psicopedagogo, para poderem ajudar no desenvolvimento educacional da criança, mas os pais não
querem acreditar que a criança tenha realmente
um problema, sendo desnecessária alguma avaliação médica.
Página - 135 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
Ao questionar a coordenadora sobre o que
pensa da avaliação médica que os pais da criança relataram, ela considera que os pais do aluno,
ao levá-lo ao médico, talvez não deram as informações suficientes que pudessem contribuir para
sua avaliação. O diagnóstico clínico deve ser
feito com base no histórico da criança, envolvendo necessariamente a coleta de dados com os
pais, com a criança e com a escola. E pelo que
se sabe isso não ocorreu.
Não contando com o apoio dos pais como
gostaria, a coordenadora decidiu agir por conta
própria, reuniu-se com uma professora que mostrara interesse e juntas decidiram estudar sobre o
que é hiperatividade e, com fundamentos sobre o
tema, realizar tarefas que pudessem contribuir
para a educação da criança sem interferir na
educação dos outros colegas. Ela confessa que
está sendo um pouco difícil, pois, além de não ter
apoio dos pais, não tem apoio da escola, e o
trabalho está sendo somente dela e da professora, sem muito êxito.
Talvez a escola pudesse promover uma palestra sobre hiperatividade, tendo a presença dos
profissionais e dos pais. Muitas vezes, a falta de
informação ou de atenção na avaliação de pais e
profissionais faz com que muitas crianças que
experimentam problemas de desatenção e impulsividade sejam consideradas hiperativas, o
que não corresponde à realidade. E palestras e
informativos podem evitar conceitos equivocados
e juízos precipitados. Um exemplo é Pedro¹, aluno da 5ª série, que não foi diagnosticado pelo
médico como hiperativo, mas pela coordenadora
e pela professora é assim considerado, sendo
que, na verdade, não ainda não se sabe qual o
verdadeiro problema da criança.
Danielle Cássia da Rocha
Por isso, é indispensável que professores e
coordenadores tenham pelo menos uma noção
básica sobre hiperatividade, sobre a manifestação dos sintomas e as conseqüências em sala de
aula, para saber diferenciar incapacidade de
obediência e criança sem limites. Para isso, todos os recursos disponíveis devem ser utilizados,
até que o professor descubra o estilo de aprendizagem da criança.
Segundo Andrade (2000), a hiperatividade só
fica evidente no período escolar, quando é preciso aumentar o nível de concentração para aprender. Diz ele: "O diagnóstico clínico deve ser
feito com base no histórico da criança. Observação de pais e professores é fundamental." (p.
64).
Para esclarecer a escola e interessados, apresentamos, segundo Goldstein (2000), uma
série de critérios que são tidos como oficiais no
diagnóstico de Hiperatividade ou Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em
crianças e adultos em todo o mundo:
“As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas, logo na infância,
com dois grupos de sintomas, de acordo com a
área de predominância: 1- TDAH – Tipo desatento: a pessoa apresenta, pelo menos, seis
das seguintes características: não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado; dificuldade em manter a atenção; parece não ouvir;
dificuldade em seguir instruções; dificuldade na
organização; evita / não gosta de tarefas que
exigem um esforço mental prolongado; freqüentemente perde os objetos necessários para uma
atividade; distrai-se com facilidade; esquecimento nas atividades diárias. 2- TDAH – Tipo
hiperativo / impulsivo: a pessoa apresenta,
pelo menos, seis das seguintes características:
Inquietação, mexendo as mãos e os pés ou não
parando quieto na cadeira; dificuldade em permanecer sentada; corre sem destino ou sobe
nas coisas excessivamente; dificuldade em engajar-se numa atividade silenciosamente; fala
excessivamente; responde às perguntas antes
de serem formuladas; age como se fosse movido a motor; dificuldade em esperar sua vez; interrompe e se intromete.”.
Página - 136 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Criança Hiperativa?
Criança Hiperativa?
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Esses critérios, se bem observados, evitam
que muitas crianças que não têm clareza de seus
limites sejam tidas como hiperativas ou que o
contrário também ocorra. Caso haja uma criança
hiperativa na escola, os profissionais necessitam
saber identificar como se sentem e como pensam
as crianças com hiperatividade. Muitas vezes, as
crianças hiperativas precisam de reforço de conteúdo em determinadas disciplinas. Isso acontece porque elas já apresentam lacunas no aprendizado no momento do diagnóstico, em função
do TDAH. Outras vezes, é necessário um acompanhamento psicopedagógico centrado na forma
do aprendizado, como, por exemplo, nos aspectos ligados à organização e ao planejamento do
tempo e de atividades.
Danielle Cássia da Rocha
Notas de rodapé:
1.Nome fictício, para preservar a identidade o
aluno.
Referências:
ANDRADE, Ênio Roberto de. Indisciplinado ou
hiperativo. Nova Escola. São Paulo, n. 132, p.
30-32, maio 2000.
GOLDSTEIN, San. Compreensão, Avaliação e
Atuação: Uma visão geral sobre o TDAH.
www.hiperatividade.com.br (2000).
Escolas e professores que enfrentam o desafio de terem crianças com hiperatividade ou que
apresentem indícios dela precisam, em suas
atividades profissionais, se adaptar às suas peculiaridades, modificando a estrutura da sala de
aula e de suas lições, de modo que o ambiente
possa ficar mais tranqüilo. Sempre que possível,
pais e profissionais devem trabalhar juntos, de
modo responsável, para definir, observar, avaliar
e controlar a hiperatividade na infância. A definição da hiperatividade pelo senso comum deve
servir de diretriz para ajudar a compreender a
incapacidade do aluno para atender às demandas do mundo no qual está inserido.
Página - 137 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 10
Autora:
Ecleide Assis de Souza
Endereço eletrônico: [email protected]
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
A realidade sobre a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola comum
Resumo
O presente artigo relata um estudo de caso realizado
em uma instituição pública “inclusiva” sobre as dificuldades que um aluno do 1º Ciclo do Ensino Fundamental com Paralisia Cerebral (PC) enfrenta devido ao despreparo do professor. De acordo com
informações coletadas na escola, o aluno ainda não
tem uma participação ativa nas aulas devido às
seqüelas da PC, que teve aos seis meses de idade,
por falta de oxigenação cerebral. O aluno com PC
tem como característica a falta de controle completo
dos músculos de seu corpo, o que o leva a dificuldades motoras e de incoordenação, que podem afetar
desde o seu desenvolvimento físico até sua aprendizagem.
O termo Paralisia Cerebral ou, mais corretamente, a Encefalopatia Crônica da Infância designa, segundo Sanvito (1997), uma série de
distúrbios não progressivos do movimento de
postura, resultantes de lesões cerebrais ocasionadas durantes os últimos meses de gravidez,
durante o parto, após o nascimento ou até os três
anos de idade.
Uma criança com PC pode apresentar alterações que variam desde leve incoordenação dos
movimentos ou uma maneira diferente para na-
dar até a inabilidade de segurar um objeto, falar
ou deglutir.
O desenvolvimento cognitivo pode ser inteiramente “normal”, mas sempre existirá uma lesão
motora.
O desenvolvimento do cérebro tem início após
a concepção e continua após o nascimento.
Quando ocorre qualquer fator agressivo ao tecido
cerebral antes, durante ou após o parto, as áreas
mais atingidas terão a função prejudicada e, dependendo da importância da agressão, certas
alterações serão permanentes caracterizando
uma lesão, como é o caso do aluno apresentado.
Nesse sentido, é importante esclarecermos
que nem sempre a PC implica danos para as
funções intelectuais, muito embora a comunicação quase sempre esteja comprometida. É certo
que muitas pessoas com PC podem apresentar
um desenvolvimento intelectual segmentado,
devido à falta de interação com o meio ambiente
e/ou danos causados pela lesão cerebral.
Em relação ao aluno com PC que está inserido no espaço educacional, é importante que tanto o corpo técnico administrativo da escola como
o professor na sala de aula busque com a família
informações que os auxiliem no desenvolvimento
do processo ensino-aprendizagem.
Página - 138 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
A realidade sobre a inclusão de alunos com necessidades...
Segundo Aranha (2007), para que os professores possam desenvolver estratégias que facilitem a aprendizagem do aluno com Necessidades
Educacionais Especiais na sala de aula, devem
se tornar professores pesquisadores, buscando
conhecer cada aluno, tanto no que se refere às
suas características pessoais (a família os auxiliará nessa tarefa) como, especialmente, ao seu
processo de aprender, antes e durante todo o
processo de ensinar. O professor pesquisador
pode criar estratégias para auxiliar a construção
de conhecimentos dos alunos com PC que, devido às suas limitações, muitas vezes terão um
nível de desenvolvimento real.
De acordo com Godoi (1998), todas as pessoas que atendem aos alunos com PC desempenham um papel importante para o seu desenvolvimento integral, assim, deve ser viabilizado
um trabalho em equipe entre as famílias e os
profissionais, buscando, assim, a realização pessoal e social dos alunos, transformando-os em
cidadãos ativos e críticos.
Sabemos que a inclusão do aluno com PC em
sala não está totalmente garantida, pois, para
Figueiredo (2002), a inclusão vai além da simples
inserção do aluno na escola, implica a escola ter
outra lógica, de modo que não seja possível pensar na possibilidade de ver algum aluno fora dela.
Significa quebrar paradigma, ver a educação
como bem social, compreender a deficiência e
enfrentar as dificuldades que surgirem na prática
educacional.
Percebe-se que o aluno não está totalmente
incluído por não ter sua coordenação motora
preservada e grande dificuldade na fala, daí, a
necessidade de utilizar alguns recursos da Tecnologia Assistiva (TA), para que o aluno consiga
desenvolver suas habilidades e, assim, participar
ativamente das atividades propostas na sala de
aula.
Para Carmo (1991), deficiência motora é a
perda de capacidade afetando, diretamente, a
postura e/ou o movimento, em conseqüência de
uma lesão, congênita ou adquirida, nas estruturas reguladoras e aftosas do movimento do Sistema Nervoso.
Para Galvão e Damasceno (2003), Tecnologia
Assistiva (TA) é toda e qualquer ferramenta ou
recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia à
pessoa com NEE.
Segundo Reis (2004), a utilização da TA na
educação é uma maneira de ajudar os alunos a
se interagirem com o desenvolvimento pedagógico. É muito importante que o educador saiba
selecionar os recursos em sala de aula. É preciso
deixar claro que os recursos da TA na escola
servem apenas como uma ponte entre o sujeito e
as tarefas que ele necessita realizar.
O objetivo desses recursos não é fazer com
que os alunos com Limitações Motoras se tornem
um indivíduo “normal”, nem mesmo que ele se
adapte às metodologias do ensino, é sim auxiliar
com instrumentos que possam ajudar em suas
ações para que ele possa realizar suas tarefas
com o máximo de independência possível.
Página - 139 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Partindo desse pressuposto, para viabilizar de
fato a inclusão desse aluno com PC na sala de
aula, será necessária a identificação de alguns
recursos materiais e atividades que auxiliarão o
professor a intervir no processo de desenvolvimento do aluno, favorecendo e facilitando a sua
participação nas atividades realizadas em sala de
aula.
Ecleide Assis de Souza
A realidade sobre a inclusão de alunos com necessidades...
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Verifica-se a importância de que os profissionais da área de Educação tenham conhecimento
sobre os recursos da TA, assim terão capacidade
de buscar novas maneiras de avaliar o desempenho e até mesmo, de certa forma, facilitar o
processo de aprendizagem dos alunos com Limitações Motoras.
A utilização dos recursos da TA em alunos
com NEE proporciona aos profissionais condições de estarem realizando com os eles atividades que antes não tinham como ser feitas, esta
realidade é de grande importância para o professor.
Portanto, cabe ao professor estar sempre atento à necessidade individual de cada aluno e
buscar promover o desempenho e a inclusão de
seu aluno.
Em matéria publicada sobre a inclusão na
Revista Nova Escola, Cavalcante (2005) assegura que a inclusão cresce a cada ano e, com ela, o
desafio de garantir uma educação de qualidade
para todos. Na escola inclusiva, os alunos aprendem a conviver com a diferença e se tornam
cidadãos solidários, sendo fundamental a participação do professor para que isto se torne realidade.
Ecleide Assis de Souza
Referências:
ARANHA, Maria Salete Fábio. Adaptações curriculares de
pequeno e de grande porte. Disponível<www.mec.gov.br>.
Acesso em: 20 maio. 2007.
CARMO, Apolônio Abadio. Deficiência Física. A sociedade
brasileira cria, “recupera” e discrimina. Brasília: Secretaria dos
Desportos. 2. ed. 1991, p. 21-26.
CAVALCANTE, Meire. A escola que é de todas as crianças.
Revista Nova Escola. ed. 182. Editora Abril, maio 2005.
DAMASCENO, Luciana Lopes e GALVÃO FILHO, Teófilo
Alves. As novas Tecnologias como Tecnologia Assistiva: Usando os recursos de Acessibilidade na Educação Especial. In:
Revista Presença Pedagógica. Belo Horizonte, ed. Dimensão, v. 9, n. 54, p. 40-47, novembro / dezembro 2003.
FIGUEIREDO, Rita Vieira de. Políticas de Inclusão: escolagestão da aprendizagem na diversidade. In: Simpósios e
Mesas Redondas do XI Endipe.5, 2002.Goiânia.(et al). Rio
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GODOI, Ana Maria de. Trabalho escolar com crianças portadoras de paralisia cerebral. IN: SOUZA, Ângela Maria Costa
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MILLER, G, CLARK. Paralisias Cerebrais: causas, conseqüências e conduta. São Paulo: Manole, 2002, p. 409.
REIS, Nivânia Maria de Melo. Tecnologia Assistiva: Recursos facilitadores no processo de aprendizagem de alunos com
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Minas Virtual, 2004 (mimeo).
SANVITO, W. L. Síndromes neurológicas. São Paulo: Ed.
Premier, 2000, p. 28-35.
De um modo geral, a inclusão desse aluno
representa uma grande dificuldade, pois predomina o desconhecimento sobre a possível inte
gridade das suas capacidades cognitivas e motoras, por falta de conhecimento por parte do professor. É de suma importância acreditar nas possibilidades de que o aluno com PC é capaz de
aprender a ler, escrever e participar, ativamente,
das atividades escolares.
Página - 140 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 11
Autora:
Elaina Maria Mendes de Castro
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Alunos com Déficit de atenção: como lidar com essa questão em
sala de aula
Resumo
dados referentes ao número de matrículas na
No cotidiano escolar, com o movimento de inclusão,
o aluno com déficit de atenção requer procedimentos
específicos. Este artigo trata de um estudo de caso
que aborda a temática: Como lidar com alunos com
déficit de atenção em sala de aula de uma escola
estadual?
vos, considerando que tínhamos 43.923 alunos
Educação Inclusiva são ainda mais representatimatriculados em Escolas Regulares em 1998,
número
que passou
a 195.370 em
2004
(MEC/INEP). Esses dados nos conduzem a algumas reflexões: Como lidar com alunos com
déficit de atenção em sala de aula?
O movimento pela inclusão, presente em nos-
Este artigo baseia-se num estudo de caso
so cotidiano tanto pela mídia como por organiza-
realizado numa escola estadual da região de
ções sociais ou por políticas públicas, tem conso-
Contagem e vem ao encontro da necessidade de
lidado um novo paradigma educacional no Brasil
discutir e buscar meios para lidar com alunos que
– a construção de uma escola aberta e acolhedo-
apresentam déficit de atenção em sala de aula.
ra das diferenças.
No último conselho de classe de 2007, os pro-
Esse paradigma tem levado à busca de uma
fessores e a coordenação sentiram necessidade
necessária transformação da escola e de alterna-
de intervir de forma eficaz em alguns alunos que
tivas pedagógicas com o objetivo de promover
apresentavam dificuldades de aprendizagem,
uma educação para todos nas escolas regulares.
hiperatividade e déficit de atenção.
De acordo com dados do Censo escolar: 1998
O caso aqui relatado é de um aluno do ensino
a 2004 (MEC/INEP), a evolução das matrículas
médio que tem diagnóstico de déficit de atenção.
na Educação Especial, tanto em Escolas Especi-
Buscamos apoio nos relatórios individuais anteri-
ais como em Escolas Regulares, passou de
ores e nas atas do conselho de classe para o
337.326, em 1998, para 566.753, em 2004. Os
levantamento de dados do aluno com DA. Seus
dados informam que o aluno tem 17 anos, está
na 7ª série do ensino fundamental, é muito distraído, inquieto e agitado, mas é bem disciplinado
(respeita bastante as normas da escola). Tem
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Alunos com Déficit de atenção: como lidar com essa...
Hoje, ao abordar temas que envolvem necessidades educacionais especiais, o foco das atenções não são as dificuldades específicas dos
educandos, mas o que os educadores podem
fazer para dar respostas às suas necessidades
específicas, respeitando a diversidade de cada
indivíduo. É acreditando nas potencialidades dos
educandos que, atualmente, a escola oferece ao
aluno que apresenta déficit de atenção o “Projeto
Acelerar para Vencer”.
O projeto “Acelerando para vencer” foi criado
pela Fundação Ayrton Senna para ser aplicado
no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha,
porém não estava compatível com a vivência dos
alunos da região e foi implantado nos meios urbanos.
O projeto foi implantado no início deste ano e
contamos com a participação direta dos professores, dos pais e da coordenação. O primeiro
momento é dedicado ao planejamento, à solicitação de recursos ao Estado. Houve, portanto,
designação para professores que trabalhariam
exclusivamente no projeto, mudança de horário
(entrada e saída), enturmação com no máximo
25 alunos, reuniões com pais para viabilização
do projeto, pois este é uma parceria entre escola
e família, determinação do projeto em apenas um
turno (noite) e pesquisas bibliográficas para orientação. Pensar no ato de incluir esse aluno com
DA com outras crianças que apresentam necessidades especiais requer revisão desta prática,
pois se entende que, ao conviver com todos, os
benefícios são mais satisfatórios, além do mais,
no horário noturno, os alunos já estão cansados.
Outro ponto relevante é um estudo bibliográfico
mais profundo.
Um segundo momento é dedicado à execução do projeto. O aluno com DA, com a autorização dos pais, foi transferido para o noturno e os
professores apresentam uma postura diferente
no processo de inclusão. De acordo com os
PCN-Adaptações Especiais, é preciso adequar
os currículos para atender às necessidades dos
alunos e flexibilizar o processo de ensinoaprendizagem. No entanto, temos evidências de
que esse processo é gradual e encontra muitas
dificuldades, principalmente pela falta de preparo
dos professores, mas, de modo geral, estes se
mostram dispostos a enfrentar o desafio de incluir o aluno com DA.
Alguns procedimentos podem ser realizados,
como:
• Avaliação adequada;
• Envolvimento da família, principalmente dos
pais;
• Encaminhamento e acompanhamento com
outros especialistas;
• Conteúdo que seja de sua vivência e de pequenos textos;
• Conteúdo que explore memorização e repetição;
• Estabelecimento de limites e regras. Isso deve ser devagar, nada punitivo;
• Atenção ao posicionamento do aluno na sala,
preferencialmente sentado à sua frente;
• Redução das atividades e das avaliações com
tempo determinado;
• Variação de ambientes;
• Monitoramento constante do progresso do aluno, registro e, sempre que possível, seu
compartilhamento com o aluno;
• Possibilidade de realização de autoavaliação.
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
dificuldades no raciocínio lógico-matemático e
nas interpretações de textos. O seu comportamento nas relações interpessoais, na maioria das
vezes, é tranqüilo, embora alguns dias esteja
mal-humorado. Sua família é parcialmente participativa, os pais são mais velhos e semialfabetizados. Seu perfil socioeconômico é de
classe pobre e verificamos também que, atualmente, o aluno não tem qualquer tipo de acompanhamento especializado.
Elaina Maria Mendes de Castro
Alunos com Déficit de atenção: como lidar com essa...
Elaina Maria Mendes de Castro
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Os resultados obtidos até o presente momento foram satisfatórios. Apesar de ser muito recente, os professores relatam que já observaram um
melhor desempenho e envolvimento do aluno.
É preciso que se deixe de encarar o déficit de
atenção como sendo apenas uma condição limitadora. É preciso estimular e trabalhar o aluno,
desenvolvendo suas competências e habilidades,
a fim de possibilitar sua integração no mundo em
que vive, não de forma complacente, mas sim
como um direito.
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STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 12
Autora:
Elba Beatriz da Silva Alves
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais
Resumo
Este artigo trata da questão da participação da família no acompanhamento do desenvolvimento escolar
dos filhos. Embora, nos dias atuais, se procure
transferir para a escola a responsabilidade pela
educação das crianças, não há como prescindir de
um envolvimento permanente das famílias, principalmente quando a criança apresenta sinais de
desvios e transtornos.
Durante a realização do meu estágio curricular de supervisão escolar em uma escola da rede
particular em Belo Horizonte, tive a oportunidade
de acompanhar as dificuldades enfrentadas por
uma professora da 3ª série do Ensino Fundamental com um aluno desde o início do ano letivo. O aluno tem dez anos de idade e freqüenta a
escola desde o 2º período da Educação Infantil.
Por inúmeras vezes, presenciei a professora
A escola do século XXI tem passado por
adentrar a sala da Coordenadora Pedagógica
grandes transformações e um dos principais as-
para se queixar do aluno. Em outras ocasiões,
pectos que vem se alterando com maior intensi-
era o próprio aluno que lá aparecia, encaminhado
dade diz respeito às responsabilidades que lhe
pela professora, para fazer os deveres de casa
são atribuídas. Hoje em dia, é mais do que nor-
que ora não tinham sido feitos ora estavam in-
mal a presença das mulheres no mercado de
completos, ou para diálogos com a Coordenado-
trabalho, dividindo com os maridos e companhei-
ra e, posteriormente, com a diretora. Enquanto
ros, em condições de igualdade, as despesas da
isso, o restante da turma seguia para as aulas
casa. Dessa forma, a criança é inserida cada vez
especializadas, como Informática, Artes, Educa-
mais cedo no ambiente escolar e essa inserção
ção Física, ou mesmo para o recreio.
precoce tem obrigado as escolas a ampliar os
seus deveres para além dos educacionais.
Além dos deveres de casa, que quase sempre
não eram feitos, a professora relatou que, dentro
de sala, o aluno se comportava de modo estranho. Às vezes, dormia durante as aulas; outras
vezes, chegava, nem abria a mochila para retirar
os materiais e permanecia sempre calado, por
várias vezes provocava os colegas de forma
Página - 144 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais
algumas ocasiões, o aluno demonstrava grande
interesse pelo tema abordado na aula, sendo
participativo e apresentando excelentes resultados nas avaliações.
Desde o primeiro momento em que a professora percebeu algo de errado com seu aluno e o
explicitou para a coordenadora, os responsáveis
foram convocados a comparecer na escola, a fim
de buscar elementos que pudessem ajudar a
compreender a situação e detectar o que havia
de errado. Mas, infelizmente, os pais não compareciam, sob a alegação de trabalharem o dia
todo.
As alternativas que vinham sendo adotadas
pela professora junto com a Coordenadora Pedagógica não estavam surtindo efeito, mas,
mesmo assim, não houve qualquer modificação,
já que não conseguiam conversar com os pais
pessoalmente. Os únicos contatos ocorreram
através de bilhetes na agenda escolar do aluno
ou em raros telefonemas da Coordenadora para
a mãe.
A escola adota o sistema de dividir o ano letivo em três etapas. Ao chegar ao final da segunda
etapa, a mãe assustou-se com as notas no boletim do filho, porque o mesmo corria um sério
risco de ser reprovado direto, sem direito a fazer
recuperação. Nesse momento, ela resolveu marcar um horário de atendimento com a professora
e a coordenadora, quando, enfim, tomou ciência
da situação problemática de seu filho dentro da
sala de aula.
A mãe disse não compreender o porquê das
constantes alterações de comportamento de seu
filho, que considerava inteligente e até mesmo
com um desenvolvimento adiantado para a sua
idade. A sugestão da coordenadora foi que ela
buscasse um apoio especializado para o filho
para avaliação e aconselhamento.
Após vários testes e exames, o aluno foi diagnosticado como portador de Transtorno Bipolar. Segundo o doutor Valentim Gentil Filho, tratase de:
Algumas alterações funcionais do cérebro que
possui áreas fundamentais para o processamento de emoções, motivação e recompensas.
Na verdade, trata-se de um transtorno de humor
que oscila entre o pólo da euforia, da mania ou
da hipomania, do qual faz parte esse comportamento excitado e desorganizado, e o pólo da
depressão, retomando a pessoa depois o equilíbrio sem grandes prejuízos comportamentais
nem na integração das emoções e dos pensamentos. Se não distinguirmos a criança apenas
rebelde e desafiadora da que tem um temperamento desfavorável, hostil e irritado porque é
portadora de transtorno de humor bipolar e quisermos educá-la com severidade exagerada,
ela reagirá negativamente. Esse transtorno requer tratamento adequado.
Posteriormente ao diagnóstico, a mãe contratou uma professora particular para que o aluno
não fosse reprovado na escola, o que acabou
surtindo o efeito esperado. O aluno conseguiu
ser aprovado, apesar de ter sido retido em recuperação na disciplina de matemática.
Segundo a coordenadora, no entanto, parece
que a família não deu muita importância à deficiência de seu filho, ignorando a indicação de tratamento e acompanhamento especializado.
Ao que tudo indica, os pais continuam “sem
tempo” para o filho e transferindo para a escola a
responsabilidade de, além de educá-lo, cuidar
para que o mesmo não traga para casa problemas que eles não estão dispostos a resolver.
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
agressiva e gratuita. Segundo a professora, em
Elba Beatriz da Silva Alves
Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais
Elba Beatriz da Silva Alves
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Referência:
GENTIL FILHO, Valentim. Conhecendo o inimigo. Disponível em: <http://drauziovarella.ig
.com.br/entrevistas/Valentim_bipolar.asp>
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STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 13
Autora:
Eliete Batalha de Assis Rezende
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas, Professora da educação infantil e dos anos iniciais há 18
anos e pesquisadora na área de alfabetização de Deficientes Mentais.
O olhar do pedagogo e as dificuldades do cotidiano escolar
Resumo
Nos problemas enfrentados no cotidiano escolar, o
olhar diferenciado do pedagogo pode fazer a diferença na vida de um aluno. Neste artigo, relato um
estudo de caso, no qual a ação da diretora, como
pedagoga, foi o grande “remédio” para as dificuldades enfrentadas por um aluno da 7ª Série do Ensino
Fundamental. A diretora soube olhar além dos olhos,
conseguindo identificar e buscar meios para sua
solução. Para a produção deste artigo, foi feito o
relato do caso pela diretora e o estudo dos documentos existentes na escola acerca do aluno. O
objetivo deste texto é uma reflexão sobre a importância do olhar diferenciado do pedagogo no cotidiano escolar.
O estudo de caso ao qual vou me referir ocorreu em uma escola da rede particular, na região
central de Belo Horizonte, à qual vou dar o nome
fictício de Escola Crescer e ao aluno, de Phillip. A
escola atende da Educação Infantil ao Ensino
Médio.
Phillip encontra-se hoje na 7ª série do Ensino
Fundamental. No ano passado, chamou a atenção devido a uma ansiedade excessiva. O aluno
interpelou a diretora apresentando um medo, um
nervosismo sem explicação por determinada
disciplina.
A diretora procurou o professor em questão,
que alegou que Phillip era distraído e disperso. A
Nem sempre, fatos ocorridos na escola remetem apenas à indisciplina ou à falta de limites dos
alunos. A experiência dos alunos se constrói
tanto no âmbito escolar quanto no seu meio social. E, muitas vezes, o segundo influencia de maneira marcante no rendimento da vida escolar.
O coordenador pedagógico e o diretor devem
estar sempre alertas para que, diante de algum
problema, possam identificar se a causa é interna
ou externa ao âmbito escolar.
diretora não se contentou com a alegação e convocou a mãe do aluno para uma reunião, pois já
era de seu conhecimento o caso do pai, que estava sob tratamento médico devido à dependência química. A mãe apresentou, então, um primeiro diagnóstico de Síndrome do Pânico em
processo de angústia.
Phillip foi avaliado e diagnosticado como portador de Transtorno Bipolar, começou o tratamento com psiquiatra e ausentou-se da escola
por um período. Comparecia à escola apenas
para falar com a diretora, as provas esperavam
por momentos em que ele pudesse realizá-las.
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O olhar do pedagogo e as dificuldades do cotidiano escolar
A diretora pedia aos professores tolerância e
compreensão para que pudesse resolver o caso.
Conversava com o aluno, aplicava-lhe as provas
separadamente, quando e como ele se propunha
a realizá-las.
Phillip retornou à escola, mas seu comportamento era preocupante, fazia de tudo para ser
visto como um mau aluno, furava pneu do carro
do professor, brigava com freqüência com os
colegas e sempre tinha mudança de humor.
Ao observar os relatos sobre o tratamento do
pai, em uma conversa com a mãe, a diretora
sugeriu se não seria o caso de levar Phillip ao
mesmo médico do pai, que era acompanhado
pelo Dr. Belizário, psiquiatra muito reconhecido
na área de atendimento psicológico e psiquiátrico.
Ao ser levado ao Dr. Belizário, submeteu-se a
exames que constataram que ele estava com
tratamento totalmente contrário ao seu problema.
Devido aos problemas enfrentados em casa, o
aluno estava em uma profunda depressão, que
nem sempre se apresenta apenas como apatia,
tristeza ou angústia.
Phillip faz uso de medicamento controlado, Ritalina, alguns momentos antes de realizar as
provas, e faz todas as provas separado da turma,
sempre acompanhado pela diretora ou por alguém responsável da escola.
A atuação do pedagogo na figura da diretora foi de extrema importância na vida escolar e
familiar de Phillip. Se fossem aceitos os argumentos de que o aluno era disperso, distraído e
sem interesse, como julgavam alguns professores, o caso poderia ser bem mais sério.
Concluo que, por mais insignificante que
pareça, todas as dificuldades de qualquer aluno
devem ser olhadas sob todos os ângulos possíveis. Por mais que o aluno se apresente sem
limites, ou sem interesse, não devem ser desconsideradas as hipóteses de dificuldades oriundas de fora do contexto escolar. Ninguém quer
se autodestruir só para chamar atenção. É muito
importante o olhar diferenciado de um pedagogo,
que vai analisar e buscar soluções para incluir
novamente o aluno.
Para o bom profissional, esse olhar faz a
diferença, deve-se averiguar o que é evidente,
levantar dúvidas sobre o que é certo e romper
com o senso comum. É ver além do que seus
olhos estão lhe mostrando.
De acordo com Danielski (1998), a depressão
na adolescência pode chegar até ao suicídio,
pois o jovem não consegue lidar com os sentimentos que o acometem.
A partir de então, Phillip começou o tratamento com o Dr. Belizário, dando os primeiros sinais
de melhora. Hoje, ciente de seu problema, ele
próprio busca soluções para os mesmos, porém
ainda necessita de atenção constante.
Página - 148 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Às vezes vinha à escola, mas recusava-se a
entrar. Durante dois longos meses, os dias letivos de Phillip transcorriam dessa maneira.
Eliete Batalha de Assis Rezende
O olhar do pedagogo e as dificuldades do cotidiano escolar
Eliete Batalha de Assis Rezende
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Referências:
DANIELSKI, Vanderlei. Depressão e suicídio na
adolescência: por que os jovens pensam em se
matar. São Paulo: Ave Maria, 1998, 39 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, 146 p.
NÉRICI, Imídio Giuseppe. Introdução à supervisão escolar. São Paulo: Editora Atlas, 1981, p.
67-77.
Página - 149 Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 1-223, jan./jun. 2008 - Semestral
STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 14
Autora:
Elivânia Ferreira de Morais
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas e auxiliar de supervisão escolar do Instituto
Educacional Mundo Encantado.
A indisciplina: suas implicações no processo de ensino aprendizagem
Resumo
Neste artigo, procuro mostrar, através do estudo de
caso de um aluno, algumas das principais causas da
indisciplina presentes na sala de aula. Também
questiono as punições que, muitas vezes, são aplicadas a esse aluno tido como indisciplinado, levantando reflexões sobre a importância do diálogo entre
os professores e seus alunos, e sobre a possibilidade de criar, por meio desse mesmo diálogo, aulas
mais interessantes e dinâmicas, o melhor antídoto
para a indisciplina.
Através deste artigo, pretende-se fornecer
subsídio que facilite um melhor entendimento do
tema, a partir do levantamento de questões que
possam contribuir para uma reflexão sobre a
indisciplina e suas implicações na prática pedagógica.
A indisciplina escolar, geralmente, está ligada
ao baixo rendimento escolar dos alunos. O insucesso pode levá-los a investir pouco nas tarefas
escolares e a se desinteressarem pela escola,
desencadeando, eventualmente, emoções nega-
Este artigo foi escrito a partir do estudo de ca-
tivas, traduzidas em comportamentos inadequa-
so e da observação de um aluno com problemas
dos. O jovem não se desenvolve normalmente e
de indisciplina e aprendizagem, de uma escola
manifesta na escola ou fora dela comportamen-
estadual localizada próximo à Vila Sumaré, em
tos inadequados, que são, muitas vezes, julga-
Belo Horizonte. Seu objetivo é discutir o motivo
dos como sendo comportamentos indisciplina-
que leva um aluno a ser indisciplinado.
dos.
A escolha do tema surgiu da necessidade de
Rodolfo, o aluno objeto deste estudo, encon-
tentar buscar soluções para o problema da indis-
tra-se no 1º ano do Ensino Médio. Segundo rela-
ciplina escolar, tendo como objetivo principal um
to da coordenadora pedagógica da escola, ele só
aluno.
foi aprovado para o Ensino Médio porque os professores votaram no conselho de classe. Acontece que ele não sabe ler nem escrever para poder
ser considerado alfabetizado; mal assina seu
nome, não sabe fazer contas, exceto adições e
subtrações primárias com as quais convive em
seu dia-a-dia de consumidor, desconhece regras
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A indisciplina: Suas implicações no processo de...
Esse “aluno problemático” pode ser punido
seguidas vezes, pode ser advertido e suspenso
até os máximos limites permitidos e tolerados e
pode, ainda, tranqüilamente, ver “sua nota avermelhar-se como em um passe de mágica”, e tudo
isso sem nem ao menos mostrar a menor das
preocupações. Esse aluno dificilmente se intimida com ameaças e punições. Na verdade, ele
nem compreende direito porque está sendo punido e, na verdade, “o chato” é o professor e não
ele, o problema está na escola e não nele e, finalmente, tudo o que ele quer é que parem de
atormentá-lo obrigando-o a “estudar” só porque
ele está em um lugar chamado escola.
[...] parece-me que a “suspensão” está fora de
época, não educa, apenas transfere o problema, aguardando de modo behaviorista que a
penalidade corrija o “infrator”. Isso, de fato, não
ocorre, porque a correlação de forças é outra
em nossa sociedade. Pergunta-se, ainda: o castigo é para o aluno ou para sua família? Outra
questão: não deveria a escola responsabilizarse pela reeducação desse educando? No entanto, como costuma ser, a pergunta clássica
refere-se aos casos extremos, quando o aluno
pratica atos incompatíveis com a conduta, ferindo relacionamento, perturbando o bom andamento da escola e desrespeitando seus colegas
e educadores. Nesses casos, torna-se necessário que a escola use seus meios de educação,
tais como: orientação educacional, psicólogo,
entrevista com setores encarregados da convivência escolar, chamada dos pais à escola para
entrevista, usando os tempos destinados às aulas para que se proceda à reeducação. Essa
questão, porém, continuará a ser uma tarefa da
escola e da família. Quando faz pirraça, uma
criança pode ser engraçada; quando, todavia, a
partir de quatro anos começa a chutar pessoas,
convém perguntar: quem precisa de tratamento,
a criança ou a família dela? O mesmo ocorre
em relação à sala de aula: quem precisa mudar,
o aluno ou o professor? (p. 63-64).
A esse aluno, a quem a escola se sente incapaz de atender e até mesmo compreender, resta
apenas esperar que, novamente, o conselho
escolar o aprove para a série seguinte sem saber
o conteúdo.
É diante dessas questões que, muitas vezes,
a escola decide mais facilmente que é melhor
pouco ou nada fazer, enquanto se espera pacientemente que o “aluno problemático” chegue ao
final da escolarização obrigatória, ou que desista
antes por força dos incômodos que a escola lhe
causa.
A questão é: quem deve mudar, o aluno ou o
professor? É claro que há muitos alunos dentro
da sala de aula que são capazes de causar um
verdadeiro caos, como é o caso do Rodolfo, mas
não se pode esquecer que os tempos são outros.
Além disso, com o grande fluxo de informação
que existe nos dias de hoje, os alunos se tornam
naturalmente mais inquietos: eles querem informação rápida e interessante, eles exigem movimento e isso é tudo o que a escola não lhes dá.
Se a escola não está equipada para satisfazer
às necessidades imediatas dos alunos, cabe a
cada professor prover os meios para que suas
aulas se tornem mais interessantes, atraentes, e
cativem a atenção dos alunos.
Muitos dos problemas de indisciplina residem
na incapacidade que alguns professores têm de
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
sociais e códigos éticos e morais mais sofisticados dos que aqueles com os quais convive e,
ao que tudo indica, não pretende continuar seus
estudos. Acredita que tudo aquilo que a escola
tem a lhe oferecer é inútil para a vida, encontrase “defasado nos estudos” em relação aos seus
colegas de mesma idade e, também por isso, se
vê como “um aluno diferente” no ambiente escolar, um estranho no ninho, e, por fim, não tem
nenhuma idéia clara de como será sua vida no
futuro.
Elivânia Ferreira de Morais
Elivânia Ferreira de Morais
A indisciplina: Suas implicações no processo de...
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
tornar suas aulas atraentes. E por que isso acon-
estar em dois caminhos possíveis. Primeiramen-
tece? Porque os professores não conhecem as
te, contra-atacamos a indisciplina com “agressi-
necessidades de seus alunos, não têm a mínima
vidade” e essa indisciplina se tornará mais forte,
idéia dos gostos e interesses daquelas pessoas
ou então agimos como educadores e buscamos,
que estão ali sentadas para ouvi-lo.
junto com os alunos, uma solução para o pro-
Talvez a solução do problema seja, então, ca-
blema através do diálogo e da compreensão
tivar a atenção desse aluno e evitar as atitudes
mútua, e a indisciplina, aos poucos, se transfor-
de indisciplina. Para isso, o professor precisa
mará em uma nova realidade escolar, em que a
dialogar com esse aluno. Um professor que sabe
indisciplina dos alunos será redirecionada para
dialogar e, sobretudo, tem sensibilidade para
uma sala de aula mais participativa, em que a
ouvir seus alunos, tem condições de conseguir
construção do conhecimento possa ser comparti-
resultados extremamente positivos.
lhada por todos, com suas limitações e dificulda-
Segundo Sampaio (1997),
Para que a indisciplina não brote quase por geração espontânea, é útil que o professor tenha
bem presente a importância dos aspectos relacionais com os seus alunos. Se o professor continuar a valorizar apenas a sua função de instrução (transmitir conhecimentos), é mais provável que os conflitos disciplinares apareçam.
Para evitar tal situação, a tônica da ação da escola deverá centrar-se na prevenção da indisciplina e não na forma de controlá-la. Em resumo,
em nível da nossa lente média, a escola deve
começar por reorganizar-se e por desenvolver
competentemente o trabalho pedagógico, para
de fato prevenir a indisciplina. Muitas iniciativas
atuais vão no sentido oposto: quando a escola
multiplica faltas disciplinares e conselhos de turma para propor a aplicação de suspensões, não
está a resolver o problema do aluno, está provisoriamente a resolver o problema do professor.
(p. 7).
des.
Referências:
SAMPAIO, Daniel. Indisciplina: Um signo geracional. Disponível em: <http://www.iie.minedu.
pt/inovbasic/biblioteca/ccoge06/caderno6.pdf>
Acesso em: 28 out. 2005.
WERNECK, Hamilton. Pulso forte e coração
que ama: A indisciplina tem jeito. Ed. DP&A. Rio
de Janeiro. 2005.
Para resolver o problema da indisciplina, só
depende de nós, professores, e a solução poderá
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STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 15
Autora:
Fabiana Chaves Gomes
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Inclusão em uma escola pública regular: desafios e possibilidades
Resumo
à educação, à igualdade de oportunidades e de
O presente artigo tem por objetivo relatar um estudo
de caso de inclusão em uma escola da rede municipal de ensino, os desafios encontrados e o que está
sendo realizado a fim de oferecer um ensino de
qualidade para alunos com deficiência mental.
de que ofereça propostas educacionais que con-
participação, e assegurar um ensino de qualidasiderem as necessidades educacionais dos alunos.
Welton tem Síndrome de Williams, também
conhecida como síndrome Williams-Beuren, uma
Welton¹ tem onze anos, bate nos colegas, não
permanece sentado por muito tempo, tem dificuldades de obedecer às regras, não consegue
permanecer na sala de aula por muito tempo,
tem síndrome de Willians e comprometimento
mental. Esta é uma situação que as instituições
desordem genética que, talvez, por ser rara, freqüentemente não é diagnosticada. Sua transmissão não é genética. Atingindo ambos os sexos,
na maioria casos infantis (primeiro ano de vida),
as crianças têm dificuldade de se alimentar, ficam irritadas facilmente e choram muito.
de ensino vêm enfrentando. Mas as escolas es-
A Síndrome de Williams é uma doença carac-
tão preparadas para incluir esses alunos? Os
terizada por “face de gnomo ou fadinha”, nariz
professores estão capacitados? O que pode ser
pequeno e empinado, cabelos encaracolados,
feito para que o aluno possa ser efetivamente
lábios cheios, dentes pequenos e sorriso fre-
incluído?
qüente. Essas crianças normalmente têm pro-
Este é o desafio de uma escola pública da rede municipal de ensino, após receber este aluno:
tornar-se realmente inclusiva, garantindo o direito
blemas de coordenação motora e equilíbrio, apresentando um atraso psicomotor. Seu comportamento é sociável e comunicativo, embora utilizem expressões faciais, contatos visuais e gestos em sua comunicação.
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Inclusão em uma escola pública regular: desafios e...
Segundo Guijarro (2005):
Muitos alunos e alunas experimentam dificuldades de aprendizagem e de participação, como
conseqüência de um enfoque educativo homogeneizador no qual se dão as mesmas respostas às necessidades e situações muito diversas.
Os alunos também costumam agrupar-se por
critérios de semelhança, pensando que dessa
forma aprendem melhor, porém diversos estudos têm mostrado que a heterogeneidade nos
agrupamentos dos alunos é um fator que influi
no êxito da aprendizagem. (p. 10)
A fim de promover agrupamentos mais heterogêneos, levando em conta a singularidade do
aluno, e oferecer uma educação de qualidade e
êxito em sua aprendizagem, como afirma Guijarro, a escola propôs as seguintes intervenções:
realizar atividades diferenciadas, como trabalho
com nomes, treino com letra cursiva, a fim de
trabalhar a alfabetização, oferecer ao aluno o
mesmo material oferecido aos demais para trabalhar com projetos, tirar o aluno da sala nos momentos em que ele demonstra maior agitação e
retornar quando estiver mais calmo. Atualmente,
o aluno não tem uma pessoa para atendê-lo individualmente, o que tem dificultado um pouco o
processo.
porém a escola ainda não oferece um suporte
adequado para atender às necessidades desses
alunos. Os professores ainda não se sentem
preparados e/ou acham complicado em uma sala
com quarenta alunos dar um atendimento mais
individualizado ao aluno em especial, visto que
os demais também necessitam de seu auxílio.
Para que Welton possa desenvolver suas habilidades, é necessário um trabalho individualizado, com objetivos específicos, levando em consideração o que esse aluno deve aprender. É preciso realizar um trabalho com ele em sala de
apoio e propor atividades de alfabetização de
forma mais lúdica, estimular o raciocínio lógico, a
abstração, trabalhar atividades mais concretas,
pois esses aspectos são relevantes e precisam
ser trabalhados na deficiência mental.
Percebe-se que a inclusão ainda é um grande
desafio para as instituições de ensino, e que
ainda há um longo caminho a ser percorrido para
que realmente ocorra inclusão de qualidade para
esses alunos, mas fica evidente que está acontecendo um movimento das escolas na busca de
dar resposta às necessidades específicas do
aluno.
Estudos recentes têm comprovado que os alunos com deficiência se desenvolvem melhor no
contexto da escola regular, pelas diversas oportunidades de socialização e desenvolvimento,
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
A educação do século XXI está pautada na
perspectiva da educação inclusiva, uma educação comprometida com o respeito à diversidade,
efetivado no valor às diferenças e comprometida
com uma educação de qualidade. Não basta
simplesmente receber o aluno, é preciso garantir
condições para o desenvolvimento de suas habilidades.
Fabiana Chaves Gomes
Inclusão em uma escola pública regular: desafios e...
Fabiana Chaves Gomes
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade do
aluno.
Referências:
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Especial. Construindo
escolas inclusivas. SEESP/MEC. Secretaria de
Educação Especial Brasília. 2005. 132 p.
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas. SEESP/MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006. 96 p. (Série: Saberes e práticas da inclusão).
GUIJARRO, Maria Rosa Blanco. Inclusão: um
desafio para os sistemas educacionais. In: Ensaios pedagógicos. Construindo escolas inclusivas, MEC/SEEBP, 2005.
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STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 16
Autora:
Fabiana de Carvalho
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
A importância da estrutura familiar na vida escolar do aluno
Resumo
A falta da estrutura familiar pode, muitas vezes,
interferir no desenvolvimento escolar do aluno, levando ao baixo desempenho, à desmotivação e à
indisciplina. É importante que a criança tenha em
casa pais presentes e que acompanhem sua vida
escolar.
Em uma escola pública de Belo Horizonte,
que trabalha com alunos de ensino fundamental
e médio, através do acompanhamento de um
muita dificuldade de concentração, mesmo não
apresentando problemas de disciplina.
Em 2007, como ela apresentava maus resultados, foi escolhida para participar do Projeto
Tempo Integral, que tem como objetivo aumentar
o aprendizado dos alunos por meio da ampliação
do tempo diário de permanência na escola, com
prioridade para o atendimento de crianças em
áreas de vulnerabilidade social, para melhorar
seu desempenho.
estudo de caso da escola que conta a trajetória
A família foi chamada para autorizar a partici-
de Ana1, aluna que hoje está na 5ª série/9, anti-
pação da aluna no projeto e Ana começou a par-
ga 4ª série do Ensino Fundamental, obtive o se-
ticipar no 2º semestre de 2007.
guinte relato.
Mesmo no projeto, a aluna não estava apreAna entrou na escola em 2004, na 1ª série,
sentando bons resultados, não conseguia acom-
com sete anos, mas começou a ser observada a
panhar os colegas e não se enturmava com a
partir de 2007, quando se percebeu que iria repe-
maioria, ficava sempre perto de poucas pessoas,
tir a 4ª série.
e sempre triste, não brincava muito e não per-
No final de 2007, quando foi reprovada, os
guntava quando tinha dúvidas.
motivos apontados foram a dificuldade de leitura,
Então a coordenadora da escola chamou a
de escrita e de interpretação, falta de atenção e
professora de Ana para conversar, mas a professora levantou os mesmos problemas já identificados, falta de atenção e dificuldade de acompanhar a turma. A professora mostrou o caderno de
Ana, e sua letra era ilegível. A coordenadora
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A importância da estrutura familiar na vida...
então decidiu chamar a aluna para uma conversa, e verificou que nem mesmo a aluna conseguia ler seu caderno, e apresentava muito desinteresse e tristeza, embora não contasse o que
estava acontecendo.
casa, com a participação e a ajuda dos pais,
mas, para que isso aconteça, a criança deve
estar inserida em um ambiente de carinho e amor, em um ambiente agradável de viver, em um
ambiente familiar.
No final do ano, como a aluna não demonstrou melhoras, foi reprovada, repetindo novamente a 4ª série, já com 11 anos.
É fundamental a interação dos pais com a escola, pois é na escola que se manifestam novas
descobertas sobre a criança que ali está se socializando e interagindo no meio.
No início de 2008, Ana continuou no projeto, e
seu desenvolvimento começou a ser avaliado
desde o início. Ainda no início do ano, a coordenadora foi questionada pelo padrasto de Ana
sobre o desenvolvimento dela pelo projeto, e qual
era o objetivo, já que a aluna continuava com a
dificuldade e não conseguia sequer fazer os deveres de casa, e ameaçou tirá-la do projeto. A
coordenadora decidiu chamar a mãe da aluna
para uma conversa juntamente com a coordenadora do projeto.
Na conversa com a mãe, foi relatado que ela
acabara de ganhar seu 3º filho, com o padrasto
de Ana, e que as outras duas filhas eram de pais
diferentes, e que no momento era o padrasto que
estava assumindo o papel de pai de Ana, acompanhando-a, principalmente, nas atividades da
escola. Além do ciúme de Ana pelo irmão mais
novo, que tinha toda a atenção da família, ela
sofria com a autoridade do padrasto que, muitas
vezes, a agredia e com as atividades de casa,
que eram impostas pela mãe, e tudo isso influenciava no seu desempenho na escola.
Segundo Mascellani (1980), toda pessoa tem
condições para educar outra pessoa; grupos têm
possibilidades de educar outros grupos e sociedades têm possibilidades de educar sociedade. É
importante e profundamente essencial a participação dos pais no desenvolvimento escolar dos
seus filhos, pois também têm muito a contribuir
para o seu desenvolvimento.
O papel da família no desenvolvimento escolar da criança é fundamental, para que a criança
não seja rotulada somente ao pensamento do
professor. "Um homem assume suas idéias, tornam-se explícitas através de seus atos e palavras, mas não as impõe, embora lute por elas"
(COSTA, 1983).
Através deste caso, podemos perceber que a
estrutura familiar atrapalha o desenvolvimento do
aluno, principalmente das crianças que estão
começando sua vida escolar agora, pois o que se
aprende na escola deve ter uma continuidade em
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Fabiana de Carvalho
A importância da estrutura familiar na vida...
Fabiana de Carvalho
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade da
aluna.
Referências:
COSTA, Marisa. Refletindo sobre o papel do
professor. In: Revista Educação, n. 7, 1983 Dunisinos, n. 3, maio 1995.
MASCELLANI, Mário. Quem educa o educador.
In: Revista Educação e Sociedade, ano II, n. 7,
set. 1980.
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STUDOS DE CASOS
“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE EST
ARTIGO 17
Autora:
Fernanda Fernandes
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais
Especiais pela PUC Minas.
Depressão infantil
Resumo
garra-se à mãe, grita, chora e, às vezes, chega a
A incidência de depressão infantil tem aumentado
consideravelmente. As crianças ficam deprimidas tão
freqüente e tão profundamente quanto o adulto. A
relação entre depressão infantil e rendimento escolar
tem sido investigada por alguns autores. Os resultados desses estudos sugerem que a depressão na
criança pode prejudicar seu rendimento na escola.
Crianças com história de depressão apresentam um
desempenho escolar abaixo do esperado.
falta de concentração e, em algumas situações,
deitar no chão. Quando fica na escola, apresenta
chega a ser agressiva com colegas e professores.
O relato indica características de um quadro
de depressão infantil. A depressão seria a perda
de um objeto amado, que conduziria a sentimentos de culpa e melancolia, sofrimento de carência
afetiva, podendo ser decorrente de separação.
O presente artigo baseia-se no estudo de ca-
Uma criança deprimida apresenta humor irritável,
so da aluna Paula , de oito anos de idade, estu-
queda do rendimento escolar, baixo autoconcei-
dante do terceiro ano do primeiro ciclo do ensino
to, isolamento social, sentimento de rejeição,
fundamental de uma escola pública do município
pouca energia para fazer atividades, distúrbios
de Betim.
de atenção e concentração, agressividade, medo
inexplicado, transtornos alimentares, enurese
De acordo com relato da supervisora e de
noturna e outros sintomas.
professores da escola, Paula estuda na escola
há três anos e esse novo comportamento apare-
Segundo Baptista (1999), de um modo geral,
ceu no final de 2007. A aluna tem se isolado,
uma criança deprimida pode apresentar sérios
chora muito sem motivo aparente, sente muito
comprometimentos nas suas relações sociais e
medo de que a família a deixe na escola. Na
familiares, bem como no desenvolvimento cognitivo, escolar e emocional. A criança apresenta
uma tendência para interpretar os acontecimentos diários de forma negativa e distorcida da realidade, manifestando um estilo próprio de pensamentos, caracterizado por uma visão pessimista do futuro, selecionando os eventos negativos
de sua vida.
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A família de Paula foi chamada pela supervisora da escola para uma conversa. Os pais relataram que estavam se separando e a mãe também apresentava sintomas de depressão. A escola encaminhou a aluna para tratamento psicológico. A família concordou com o encaminhamento.
Os pais têm grande parcela de contribuição
no aparecimento da depressão na criança. Muitas vezes, os pais também estão deprimidos e,
através do modelo e da aprendizagem, essa
criança passa a conhecer as formas pessimistas
do pensar de seus pais. Os pais precisam ensinar o otimismo à criança e não o pessimismo. As
crianças estão sempre atentas às atitudes e maneiras como seus pais explicam os acontecimentos. Se os pais explicam de forma negativa, é
essa a maneira como a criança vai aprender a
ver o mundo. Algumas vezes, os pais passam
algumas mensagens para seus filhos, que quase
sempre não são notadas ou percebidas, mas que
ficarão guardadas pela criança.
Fernanda Fernandes
Notas de rodapé:
1. Nome fictício, para preservar a identidade da
aluna.
Referência:
BAPTISTA, M. N. Depressão e suporte familiar:
perspectivas de adolescentes e suas mães. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, Campinas (SP), 1999.
A escola acredita na recuperação da aluna,
desde que a família se comprometa com o seu
tratamento. De acordo com relato da mãe, é necessário um tratamento para a família, para que
haja uma harmonia favorecendo o bem-estar da
criança. Contatos freqüentes com os pais serão
necessários para o progresso da criança.
Destaque-se, ainda, que é importante ouvir a
criança, se colocar no lugar dela, vendo a situação sob a sua ótica, e levá-la a reconhecer outras possibilidades de se ver uma situação.
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“O CASO É O SEGUINTE...” COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS
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