TÍTULO: Artesanato: alternativas de trabalho e cidadania para a comunidade do Conjunto Tancredo Neves. AUTORES: Lenine Rodrigues Pinto, Edson Vicente da Silva,Márcio Henrique Nogueira da Silva, Rosiane de Sousa Mariano e-mail: [email protected] , [email protected] , [email protected] INSTITUIÇÃO: Universidade Federal do Ceará - UFC ÁREA TEMÁTICA: Trabalho As oficinas de artesanato fizeram parte das atividades desenvolvidas pela UNISOL/UFC, dentro do Projeto de Educação Ambiental Integrada em uma Favela e contou com a participação de alunos e professores dos cursos de Geografia, Letras e Economia Doméstica. O local escolhido para a realização deste trabalho foi a favela do Gato Morto, localizada no Conjunto Tancredo Neves na periferia da Fortaleza, pois ali já havia um trabalho junto com a comunidade e a Universidade Federal do Ceará, através do projeto Parque Vivo. A facilidade do contato e o conhecimento prévio da realidade existente na área em questão, foram fatores que possibilitaram a efetivação do novo projeto. Um outro fator de relevante importância para a construção deste projeto deve-se ao fato da comunidade estar localizada junto a um estuário, no caso a planície de inundação do rio Cocó, constituindo-se portanto em um ambiente de risco, pois durante o período chuvoso as suas águas se elevam inundando as casas e provocando sérios danos à comunidade. Isto lhe confere algumas características distintas de outras áreas periféricas da cidade, também pobres e desprovidas de equipamentos urbanos que assegurem um suporte eficiente para suas demandas, o que possibilitou trabalhar a temática ambiental de forma direta, tendo como objeto de estudo a configuração espacial do bairro, principalmente a ocupação da área da favela. Neste projeto teve-se como objetivos gerais despertar na população, o sentimento de cidadania, com seus direitos e deveres, estimular a conscientização ecológica, mas também proporcionar alternativas de obtenção de renda, pois uma das características sociais identificadas na comunidade é que a população local em sua quase totalidade possui uma renda bastante reduzida, estando no limiar da pobreza. Grande parte das pessoas não possui nenhuma atividade econômica, sendo induzidas a participar de ações muitas vezes ilícitas. A partir disso idealizou-se a concretização da Oficina de Artesanato, que foi aberta à participação de todos, principalmente dos jovens, incluindo as crianças pertencentes ao Abrigo de Menores do Conjunto Tancredo Neves. Na elaboração da oficina de artesanato ficou estabelecido como seus objetivos norteadores a capacitação dos alunos para confecção de adornos pessoais, tais como: brincos, pulseiras e brinquedos; assim como, despertar a criatividade para a confecção de peças originais; propiciar-lhes uma fonte de renda viável e de baixo custo e o exercício da sua cidadania. Este tipo de oficina funciona como uma espécie de catalisador de idéias, pois não possui uma regra e nem uma única forma de realizar as atividades. Neste sentido é muito bom para trabalhos que visam estimular o lado artístico que, muitas vezes, não exercitamos em nosso dia-a-dia. Ao se trabalhar com artesanato é possível obter ganhos, sejam adicionais, para aqueles que já possuem um outro tipo de trabalho, ou efetivos, para os que vão torna-lo uma fonte de renda. Por outro lado existe também o fato do artesanato ser um tipo de trabalho mais livre que os outros, tidos como formais, na medida em que as pessoas podem exercer o ofício em sua própria casa, e a qualquer hora, comercializando-o posteriormente nas feiras de artesanato ou diretamente nas lojas especializadas. Um outro aspecto é o de ser uma atividade que propicia um relaxamento, tanto do ponto de vista mental quanto físico, estimulando a concentração, a memória e a coordenação motora, sendo, portanto indicado para participantes de todas as idades. Esta última característica do artesanato, talvez seja a mais interessante e por isso mesmo foi bastante explorada quando da realização desta de oficina, pois além de exercitar as habilidades manuais, proporcionou uma maior integração entre as pessoas, assim como, a cooperação, a criatividade e até uma certa serenidade espiritual. Quanto aos participantes foram atingidos dois públicos alvos diferenciados, o primeiro correspondeu aos meninos que se encontravam albergados numa espécie de abrigo de menores. Este estabelecimento funciona no próprio bairro Tancredo Neves e acolhe jovens que estão enfrentando problemas ligados à violência doméstica, sendo acompanhados por Assistentes Sociais, permanecendo na casa até que a situação se normalize. Este fato propiciou que fosse desenvolvida neste local boa parte da oficina, o equivalente a vinte quatro horas/aula, pois estávamos trabalhando com um grupo que possuía uma realidade especifica, com dificuldades de ordem emocional, cultural, social e financeira. O outro grupo que foi trabalhado correspondeu aos jovens e demais moradores do conjunto, destacando-se os alunos de escolas públicas ali existentes. Esta outra parte da oficina foi ministrada no centro comunitário, que leva o nome do conjunto, e eqüivaleu há doze horas/aula. Na efetivação da oficina optou-se por uma metodologia bastante prática, com base numa abordagem direta e tendo referencia em Paulo Freire1, compreendendo que o aprendizado é algo dinâmico e construído coletivamente, respeitando os saberes individuais. Neste sentido a referida oficina foi ministrada primeiramente ensinando-se as técnicas que seriam utilizadas, e a devida identificação e manuseio dos materiais utilizados, como por exemplo: papel reciclado, cola, fio de nylon, miçangas, bambu, arame, canutilho, búzios e palha da costa, alem das ferramentas de trabalho: tesouras e alicates de corte e de bico. Todo este material foi disponibilizado pela UNISOL/UFC . As informações eram repassadas para todos os alunos e posteriormente os que mais se destacavam em suas habilidades recebiam um treinamento intensivo, passando em seguida a atuar como monitores, ensinando os menos habilidosos. Destaca-se aqui a participação dos adolescentes do abrigo, pois alguns demostraram rápido progresso em seu aprendizado e criatividade, o que os capacitou para acompanharem algumas turmas ao longo da oficina na condição de monitores. A oficina, assim como todo o projeto, teve um excelente aproveitamento, tanto que podemos citar como alguns de seus resultados obtidos, a possibilidade efetiva que se criou de uma opção de trabalho rentável e de baixo custo, mas também como elemento congregador das crianças e adolescente do Conjunto Trancredo Neves, adquirindo assim um maior respeito entre si, disciplinando suas ações e aprendendo a trabalhar de forma cooperativista. A opção de obter-se uma fonte de renda e assumir uma atividade produtiva, contribui também para que os jovens adquiram um novo estimulo na continuação ou retorno a educação formal nas escolas públicas do bairro. Para se ter uma idéia melhor do resultado positivo da oficina foi realizado ao final do projeto, conjuntamente com a festa de encerramento, uma feirinha de artesanato com os objetos confeccionados pelos participantes da oficina, tendo sua renda revestida ao Abrigo dos Menores para compra de material destinado a reposição das peças que foram vendidas. 1 Paulo Freire entende que a construção dos saberes ocorre em ambas as partes e são forjadas a partir do lugar onde se vive e que isso deve ser levado em conta (FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, 1996). O despertar do interesse de outros jovens e adultos em participar de futuras oficinas gerou a possibilidade de, através da Pró-Reitoria de Extensão da UFC e da equipe do projeto, continuar ministrando oficinas artesanais. Pretende-se inserir o ensino de novas técnicas de artesanato e ampliar as ações aos assentamentos residenciais para onde a população da favela do Gato Morto foi deslocada. A arte e a ciência podem e devem estar integradas na busca de novas formas de intervenção junto à comunidade, propiciando um caminhar entre o conhecimento lógico/formal e a intuição advinda da sensibilidade com que se percebe as expressões humanas. Apreender a realidade não é um exercício meramente técnico ou racional, estende-se também a dimensão do subjetivo, do que é sentido e que escapa as mensurações cientificas tradicionais. Saber equilibrar esses dois momentos é o grande desafio e esta oficina foi um exemplo possível de sua efetivação através de um projeto de extensão.