A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE DESENVOLVIMENTO
CARLA PADREL DE OLIVEIRA ([email protected]), SUSANA S. MÂNTUA
UNIVERSIDADE ABERTA | PORTUGAL
4ª CONFERÊNCIA FORGES - A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NOS PAÍSES DE LÍNGUA
PORTUGUESA: DESAFIOS, ESTRATÉGIAS, QUALIDADE E AVALIAÇÃO
Angola, Novembro 2014
A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE DESENVOLVIMENTO
RESUMO
No competitivo e acelerado mundo de hoje, composto por uma paleta de geografias físicas e sociais
muito fragmentadas e desiguais, a educação e a formação das populações são e serão sempre o
veículo mais eficaz de transformação social.
Apesar de no século XXI ainda continuarem a existir e a coexistir mundos e realidades socio
educativas muito desiguais, a educação tem sido, e continua a ser, a melhor forma de consolidar a
democracia e potenciar a cidadania, a coesão social e a solidariedade.
Fala-se, insistentemente, de uma grave crise de valores, complexa e com uma dimensão global, da
mesma forma que se fala da crise financeira, e que se tem traduzido no aumento dos índices de
insegurança, desagregação institucional e desconfiança
Nas universidades as crises (financeira e de valores) também se fazem sentir. Mas porque as
universidades são e serão sempre espaços privilegiados para pensar, educar, investigar, ensinar,
contestar, elas continuam a criar e a produzir conhecimento, a formar estudantes, a criar novas
oportunidades para aprender e investigar. As universidades, cientes dos problemas socio
económicos que assolam a(s) sociedade(s), continuam a procurar formar cidadãos atentos às
realidades envolventes, com vista à construção de um mundo mais integrador e sustentado.
A sociedade aposta e continuará a apostar no Ensino Superior, porque o ensino superior, em
Portugal e no mundo, é e continuará a ser um agente de Desenvolvimento e de Responsabilidade
Social, através da prática da docência, da investigação, de programas de extensão universitária e
de gestão, ou seja, de um conjunto de processos onde estão plasmados os princípios e os valores,
gerais e específicos, que orientam e constituem as bases da responsabilidade social (universitária).
Os países de Língua Portuguesa encontram-se perante o grande desafio de consolidarem e
promoverem a construção de novas acessibilidades, através de redes colaborativas e a construção de
novas proximidades académicas.
A importância do Ensino Superior para o Desenvolvimento dos Países e Regiões depende,
essencialmente, da vontade e do desejo de ensinar e aprender, valores universais e intemporais, que
se mantêm vivos e atuais, independentemente das “crises” que têm agitado e continuarão a agitar a
Humanidade.
PALAVRAS CHAVE: Ensino Superior e Desenvolvimento, Ensino a Distância, Desafios do Ensino
Superior
2
1. INTRODUÇÃO
A Universidade, enquanto instituição de ensino superior existe, na Europa, há mais de 8 séculos,
portanto, há cerca de 800 anos que a academia reflete e discute sobre a sua “Missão” na sociedade.
Nos anos 30, do século XX, Ortega y Gasset dizia que Universidade 1 era um espaço onde se
transmitia cultura, se formavam profissionais e investigadores e se fazia e produzia investigação
científica.
Atualmente, estamos perante um cenário socio político global que exige que a Academia faça mais
pelo mundo e pelas pessoas, porque a geografia demográfica, educacional e formativa mudou e
continuará em permanente mutação.
Assim, e apesar das Universidades continuarem a criar conhecimento e a formar cientistas e
“profissionais”, espera-se que evolua para uma cultura de ensino mais orientada para a diversidade,
para a solidariedade e para a autonomia, ou seja, uma universidade mais empenhada em dar resposta
às necessidades de desenvolvimento das populações e dos espaços que habitam. “ É neste contexto
que emerge com cada vez mais evidência a necessidade de promover e valorizar o contributo de
outras agências socializadoras como a escola, as redes de vizinhança e as agências comunitárias
de proximidade,…)2
Estamos perante um cenário de oportunidades e, também, de desafios, nomeadamente nível da
formação avançada e ao longo da vida, assim como de investigação científica orientada e sustentada
para o exercício da cidadania, consubstanciada na integração social, do desenvolvimento do capital
social e da proteção dos recursos naturais.
A Universidade de hoje tem de ser diferente da Universidade do tempo de Ortega y Gasset mais
aberta e flexível, solidária e inclusiva, responsável e sustentada e, naturalmente, de saber, cultura,
ciência, e Desenvolvimento pessoal e social.
Desenvolvimento continua a ser a palavra do momento, assentando, que nem uma luva à presente
assembleia que está reunida para falar e discutir sobre a expansão do Ensino Superior nos Países
de Língua Portuguesa: desafios, estratégias, qualidade e a avaliação.
No que respeita aos países e regiões de Língua Portuguesa, creio que se encontram perante o grande
desafio de promoverem e consolidarem a construção de novas acessibilidades, novas proximidades e
afinidades académicas, nomeadamente a nível da educação superior, através de parcerias e redes
colaborativas, suportadas pelas tecnologias de informação e comunicação.
1
Ortega y Gasset, Misión de la Universidad y Otros Ensayos Afines, 1930
CARMO, Hermano, 2014,A educação para a cidadania no século XXI, Lisboa, Escolar Editora, p. 50
2
3
2. ENSINO E EDUCAÇÃO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO
Em pleno século XXI, e apesar de continuarem a existir e coexistir realidades socio educativas muito
desiguais e distintas, a melhor forma de todos contribuirmos ativamente para o desenvolvimento
humano, ou seja para potenciar a coesão social e melhorar a qualidade de vida das populações, é
através da educação/ensino/formação e da partilha dos saberes e valores e ideais de solidariedade.
Cito, mais uma vez, Nelson Mandela, porque a frase diz tudo: a Educação é a arma mais
poderosa para mudar o mundo
Sobre esta matéria, a questão fundamental que se coloca é a forma como as universidades dos países
e regiões de Língua Portuguesa irão contribuir para construção de um espaço de ensino superior
coeso, social e economicamente sustentável, ou seja, de acordo com a Agenda de Desenvolvimento
pós 2015, que irá substituir os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, definidos em 2000.
No ano 2000, os países e regiões do mundo sintonizaram-se à volta dos ODM, mesmo quando estes
foram inúmeras vezes criticados por serem demasiado utópicos. Genericamente, os ODM visavam a
redução da pobreza e das desigualdades.
Quase 15 anos mais tarde, não se acabou com pobreza nem com as desigualdades mas, seria injusto
não reconhecer que





diminuiu o número de pessoas a viver em situação de extrema
aumentou o número de populações com acesso a água potável
há mais crianças a estudar
há menos mulheres a morrer no parto por causa evitáveis.
Registaram-se progressos significativos no tratamento da malária, do HIV/Sida
Em 2015, a agenda da ONU continua a abraçar causas que procuram diminuir/acabar com as
desigualdades, as discriminações, as inseguranças, a especulação financeira e de outros bens
fundamentais, a pobreza, entre outras. Tudo isto, mais uma vez, se pode resumir a uma só palavra
“DESENVOLVIMENTO”.
Assim, e porque estou certa de que a presente assembleia é composta por cidadãos do mundo e em
pleno exercício de uma cidadania global, a minha apresentação irá desenvolver-se em torno do papel
da Universidades e do ensino, também a distância, na promoção e desenvolvimento dos países e
regiões.
Apesar das Universidades serem espaços privilegiados de promoção de desenvolvimento, através do
ensino e da aprendizagem de saberes e atitudes, de valores democráticos e de cidadania, apesar das
redes de parceria/cooperação estarem em franca expansão, ainda não foi possível criar uma rede de
ensino superior capaz de garantir uma oferta pedagógica de diversificada, sustentada e de qualidade
adaptada aos vários países e regiões.
Durante o presente encontro, o quarto organizado pelo Fórum da Gestão do Ensino Superior nos
Países e regiões de Língua Portuguesa – FORGES – iremos certamente debater temas relacionados
com a expansão do Ensino Superior nos Países de Língua Portuguesa: desafios, estratégias,
qualidade e avaliação.
Aliás, o interesse e a mais-valia de um Fórum como este, é a possibilidade de juntar pessoas de
diferentes horizontes geográficos para discutirem e analisarem os processos e as práticas das
4
diferentes instituições na expansão do Ensino Superior e, naturalmente, perspetivar as suas
implicações no desenvolvimento local e regional.
Afinal temos em comum uma língua e parafraseando o professor Vítor Aguiar e Silva, “a
importância, o prestígio, a força e a difusão de uma língua dependem da dimensão
demográfica, do peso geoestratégico, do desenvolvimento económico e do dinamismo
cultural, científico e tecnológico dos países que a falam e escrevem”.
Dando continuidade a esta linha de pensamento, a universidade em geral e a Universidade Aberta
em particular, devido às suas características e à modalidade de ensino, o EaD, tem o dever e a
responsabilidade de valorizar a produção e transmissão de conhecimento e a expressão intercultural
da geografia dos países e regiões que se exprimem em língua portuguesa.
De acordo com as estatísticas, o português é a língua mais falada no eixo sul/sul.(hemisfério sul)3 e,
tal como afirmava o embaixador Eugénio Anacoreta Correia, no seu discurso na abertura do 7º
Congresso Internacional do Ensino de Português como Língua Estrangeira”, que teve lugar na
Cidade do México, no final do mês de outubro, é o quarto idioma materno mais falado em todo
o mundo: são mais de 260 milhões de pessoas que falam, escrevem, lêem, negoceiam, estudam,
investigam, escrevem, cantam, … em português.
Nunca é demais relembrar que o Português é língua oficial, de trabalho ou de documentação em
cerca de vinte organizações internacionais de âmbito universal ou regional, nomeadamente, o
MERCOSUL, a União Africana e a União Europeia.
O valor económico e estratégico da Língua Portuguesa, “um ativo intangível que beneficia de
economias de rede”4 e enquanto instrumento de comunicação internacional globalizante tem sido,
ao longo dos últimos anos, sobejamente discutido e já é mundialmente reconhecido como a nova
língua de poder e de negócios.5)
O Português, sendo, também, uma língua de conteúdos programáticos nos vários graus de ensino e
de ciência, é um veículo de Desenvolvimento económico, social, cultural e científico para todos os
países e regiões onde existam comunidades lusófonas.
3. CURRICULA & CONTEÚDOS ORIENTADOS PARA O CONHECIMENTO E O DESENVOLVIMENTO
A nossa vida quotidiana, como a das nossas instituições tem vindo a beneficiar da Globalização e da
explosão da sociedade de informação que, não só encurtou as distâncias como potenciou a
comunicação e a constituição de redes de todo o género. Há governos, escolas, universidades,
empresas, fábricas, pessoas e grupos de pessoas ligadas através de uma multitude de redes: sociais,
de trabalho, de investigação, etc….
No contexto universitário dos PLOP, já é prática comum, graças ao mundo digital, a difusão e
partilha de saberes teóricos e práticos. Paralela e gradualmente também se tem investido na
3
http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/dados-estatisticos/projecao-e-uso/portugues-a-lingua-mais-falada-nohemisferio-sul/lingua-mais-falada-no-HS
4
RETO, Luís, 2012, Potencial económico da Língua Portuguesa, Lisboa, Texto Editores.
5 Revista Monocle, Outubro de 2012
5
responsabilidade social universitária, através da difusão e partilha de princípios e valores éticos,
consubstanciados na docência, na investigação, nos processos de gestão e de extensão universitária.
Os princípios e valores universitários têm nome. Chamam-se
COMPROMISSO: é o que faz prevalecer a gratuitidade do saber e os valores fundamentais
EXCELÊNCIA: é expressão da qualidade que se manifesta na gestão e nas atribuições
universitárias, (fundamental nos procedimentos e no cumprimento dos objetivos)
INTERDEPENDÊNCIA E TRANSDISCIPLINARIDADE: que se manifesta na relação entre
a universidade e a sociedade.
A Universidade, tal como outros setores da sociedade tem sido, ao longo dos tempos, condicionada
e afetada pela conjuntura socio-política global, nacional e regional. Numa abordagem pragmática dos
problemas das sociedades contemporâneas, é urgente que as Universidades tenham uma visão
transdisciplinar e sustentada das necessidades educativas e formativas das populações, através do
cruzamento de vários sectores do mundo da educação.
Esta preocupação remete-nos, de novo, para o conceito de uma universidade socialmente
responsável, numa óptica de educação para o desenvolvimento, a partir de uma visão integrada e
integradora que estabelece pontes entre diferentes setores da academia, com o objetivo de
redesenhar uma oferta pedagógica aberta e flexível, bem como conteúdos programáticos adaptados
às necessidades formativas, com vista à transmissão de conhecimentos, práticas e valores de
cidadania.
Na competitiva, exigente, plural, desigual, discriminatória e acelerada sociedade atual, composta por
uma variada paleta de geografias físicas, sociais e políticas, é consensual o papel que o ensino e a
formação ao longo da vida têm tido na redução das desigualdades e na construção de novas
geografias de conhecimento. Ao longo dos tempos, as Universidades sempre foram espaços de
dialética, de saberes múltiplos e plurais, espaços de criação abertos ao mundo e defensores de ideais
e valores humanísticos como o respeito pelo outro e o rigor científico.
Em 2005, foi apresentada a Estratégia de Educação para o Desenvolvimento Sustentável da
CEE/ONU. Neste documento, destaca-se a importância da educação no Desenvolvimento
humano.
“A Educação, para além de constituir um direito humano fundamental, é igualmente um prérequisito para se atingir o desenvolvimento sustentável e um instrumento essencial à boa
governação, às tomadas de decisão informadas e à promoção da democracia.
Consequentemente, a Educação para o Desenvolvimento Sustentável pode contribuir para
que a nossa visão se torne realidade. Ela desenvolve e reforça a capacidade dos indivíduos,
dos grupos, das comunidades, das organizações e dos países para formar juízos de valor e
fazer escolhas no sentido do desenvolvimento sustentável. Pode ainda favorecer uma
mudança de mentalidades, permitindo tornar o mundo mais seguro, mais saudável e mais
próspero, melhorando assim a qualidade de vida. A EDS pode favorecer a reflexão crítica,
6
uma maior consciencialização e uma autonomia acrescida, permitindo a exploração de novos
horizontes e conceitos e o desenvolvimento de novos métodos e instrumentos”6
E foi nesse âmbito que a UNESCO definiu quatro grandes objetivos para a Década para Educação
para o Desenvolvimento Sustentável:
a) Promover e melhorar a qualidade da Educação;
b) Reorientar e rever os programas de ensino;
c) Reforçar a formação técnica e profissional;
d) Informar e sensibilizar o público em geral, bem como os média para o conceito de
Desenvolvimento Sustentável.
4. DESENVOLVENDO UM EAD PARA O DESENVOLVIMENTO
Em 2012, na conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, RIO+20, as
instituições de Ensino Superior reconheceram a sua cota de responsabilidade na procura conjunta, a
nível global, de um desenvolvimento sustentável, tendo-se comprometido a promover as seguintes
ações





Ensinar conceitos de desenvolvimento sustentável
Incentivar a investigação científica sobre questões de desenvolvimento sustentável
Reduzir o impacto ambiental nos campus
Apoiar os esforços de sustentabilidade regional e localmente
Comprometer-se em apresentar resultados e ações através da articulação entre as diferentes
estruturas internacionais, nomeadamente a UNESCO e a ONU.
O reconhecimento institucional do binómio Ensino e Desenvolvimento, quer a nível nacional quer
internacional, é sempre atual e particularmente importante, sobretudo no exercício de uma cidadania
universal (global), porque o ensino é um poderoso instrumento de inclusão social e
desenvolvimento.
A geografia das desigualdades, desde a exclusão social ao acesso ao conhecimento e à educação,
entre outras, agita as nossas mentes e as consciências e conduz-nos à mobilização individual e
coletiva.
Temos de reconhecer que o mundo que temos hoje ainda não é o mundo que gostávamos, apesar
do forte crescimento da economia ter aberto o mundo da educação e da formação ao longo da vida
a um numero crescente de cidadãos. Mas não é suficiente, uma vez que ainda se verificam grandes
6
http://www.unescoportugal.mne.pt/pt/temas/um-planeta-um-oceano/educacao-para-o-
desenvolvimento-sustentavel.html
7
disparidades e desigualdades, quer a nível local quer regional quer global, nomeadamente ao acesso à
educação (superior) e contínua.
A educação sem fronteiras ou educação transnacional, em cujo desenvolvimento o EAD surge
como o instrumento metodológico que melhor potencia a sua eficácia através da utilização das várias
tecnologias disponíveis é, inequivocamente, um efeito da crescente integração das economias e da
globalização dos mercados.
As universidades de ensino a distância, onde se inclui a UAb, são operadores privilegiados da
educação sem fronteiras, possuindo a capacidade de “transpor” ofertas qualificadas de formação
universitária, suscetíveis de responder a procuras de educação superior em países ou em regiões em
que os operadores públicos e privados não estão em posição de responder à procura interna total.
Assim, e à semelhança do processo de Bolonha, é fundamental que a comunidade dos Países de
Língua Portuguesa, adote o princípio e a prática da unificação dos graus académicos, que sendo
inquestionavelmente relevantes por facilitarem a leitura, a correspondência e a circulação de
diplomados, não podem fazer esquecer que a internacionalização é um processo mais amplo.
A cooperação privilegiada com universidades de Países de Língua Portuguesa tem permitido celebrar
acordos/parceria e convénios, em áreas específicas e de interesse comum, que possibilitam a
constituição e a organização conjunta de atividades docentes e programas oficiais de estudos, com
valência transnacional.
O intercâmbio e a mobilidade de investigadores, de docentes, estudantes e de pessoal não docente, a
criação de grupos de investigação, a assessoria e a colaboração em matéria de metodologias e
tecnologias da informação e comunicação (aplicadas ao ensino a distância), a edição de publicações,
o acesso e a partilha de recursos e arquivos documentais e digitais, a organização de encontros
científicos internacionais são áreas de cooperação que têm merecido especial atenção na última
década.
Hoje, mais do que nunca, a expansão do Ensino Superior nos Países de Língua Portuguesa é uma
realidade. Assim, importa que, durante este encontro, continuemos a dialogar com vista à
implementação mais alargada de políticas concertadas de educação para o desenvolvimento, em
alternativa a ações isoladas e com impacto local, como as que temos praticado. Há que pensar a nível
global e agir a nível local.
Esta conferência (é) poderá ser um espaço de diálogo sobre a forma como as instituições de Ensino
Superior podem e devem contribuir para o Desenvolvimento dos países e regiões, de forma
colaborativa, concertada e sustentada.
Se tivermos como base a democracia, numa perspetiva de sustentabilidade sociopolítica e de
promoção de educação para todos, construímos uma sociedade de Cidadãos instruídos que por seu
lado são também mais participativos e ativos
Podemos e devemos perguntar-nos qual o valor e a contribuição dos curricula e dos conteúdos
produzidos em língua portuguesa para a economia do Conhecimento e Desenvolvimento no espaço
de Ensino Superior dos Países de Língua Portuguesa?
Nesse contexto, e porque o Painel onde estou inserida versa sobre “A importância do Ensino
Superior para o desenvolvimento dos Países e Regiões”, permito-me citar do reitor da UAb, o
8
Professor Paulo Dias que, de acordo com o Plano Estratégico da Universidade Aberta, assumia
perante a academia o
“(…)compromisso para a construção da universidade virtual na Sociedade Digital
que se formaliza em quatro dimensões nucleares e de igual importância para a
consolidação e antecipação dos novos cenários das aprendizagens em rede. Uma
primeira para com a Universidade e o seu papel em matérias de criatividade, inovação
e qualidade na educação e formação; a segunda orientada para a comunidade e o
diálogo no qual se constrói a identidade e a cultura da organização virtual; uma
terceira na cooperação e desenvolvimento, fator decisivo para a interação com a
sociedade e a excelência na investigação nos contextos nacional e internacional; a
última traduz‐se na aposta na língua e cultura portuguesas, cujo capital económico se
reveste da mais alta importância para o desenvolvimento da UAb.
5. UAB | EAD EM PROL DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
As instituições de ensino superior, sejam elas presenciais ou a distância/virtuais, têm, como já
referimos anteriormente, uma função social importante: são agentes facilitadores do processo de
socialização do conhecimento dos que as frequentam e junto da sociedade em que se inserem.
O ensino superior atual, além de espaço de conhecimento e ciência é, também, motor de
desenvolvimento económico e social.
Desde 1988, ano da sua fundação, que a Universidade Aberta se revê neste modelo de universidade
detentora, criadora e promotora de conhecimento, de cultura e de valores humanitários, tendo desde
cedo assumido como uma das suas missões a valorização do ensino superior em língua portuguesa,
para além das fronteiras nacionais, com especial destaque para Angola, Cabo Verde, Moçambique e
Timor Leste.
Sendo a educação/formação a distância uma modalidade de ensino que permite que o
estudante/aprendente não esteja fisicamente presente num ambiente formal de ensinoaprendizagem, tem sido apontada por especialistas internacionais como a alternativa mais viável e
eficiente para promover a qualificação e capacitação de recursos humanos, particularmente em
lugares remotos.
A educação aberta e a distância surge, cada vez mais, no contexto das sociedades contemporâneas,
como uma modalidade de educação adequada e desejável para responder às novas necessidades
educacionais decorrentes das mudanças económicas e sociais que, como sabemos, ocorrem em
ritmo acelerado, sendo sobretudo visíveis os avanço das tecnologias de informação e comunicação,
mas que também podem conduzir a desequilíbrios, alguns mesmo estruturais, no campo da
educação.
Num quadro de mudanças múltiplas, a educação a distância já não pode ser apenas considerada
como meio de ultrapassar problemas ou mesmo fracassos educacionais, em regiões remotas do
globo. Hoje, o EaD é um elemento regular dos sistemas educativos assumindo uma crescente
9
importância, sobretudo na educação de populações adultas, incluindo, naturalmente quer o ensino
superior quer a formação contínua e ao longo da vida.
Presente em qualquer lugar do mundo, a UAb, universidade pública portuguesa de ensino a distância
(EaD) e eLearning, é um espaço pluridisciplinar de conhecimento, de ensino/formação, de
investigação, de cultura, de diálogo e debate, ou seja de comunicação livre e responsável. Enquanto
lugar de múltiplas aprendizagens, não exclui, porém, outras aprendizagens informais, que se situam
quer no domínio dos afetos quer dos valores e dos princípios humanitários. Há pouco mais de um
quarto de século, que o projeto Universidade Aberta tem vindo a crescer e a evoluir, a par da
(r)evolução tecnológica. Adquirimos a experiência e o conhecimento da utilização dos média, para
concretizar a nossa missão de levar o ensino superior até onde outras universidades ainda não
conseguem chegar.
Desenvolvimento e inovação são as palavras-chave que elevaram a UAb ao estatuto de instituição de
referência no domínio do EaD de nível superior e na vanguarda de atividade de cooperação e
parceria com os Países de Língua Oficial Portuguesa (PLOP). Desde há mais de uma década que um
número crescente de cidadãos naturais e residentes nos PLOP procura a UAb para realizar a sua
formação académica superior.
Desde 2008, os três ciclos de estudos (licenciatura, mestrado e doutoramento) são lecionados
unicamente em regime de eLearning, com recurso às mais avançadas tecnologias digitais, integradas
num Modelo Pedagógico Virtual inédito no País e desenvolvido por esta instituição.
Não podemos deixar de referir que a mais-valia do ensino a distância, a par da evolução tecnológica,
continua a ser, como acontece em qualquer proposta educacional, a qualidade dos conteúdos e o
modelo pedagógico adotado.
A UAb pratica a gestão da qualidade através da implementação de procedimentos de monitorização
e avaliação da qualidade do Ensino a Distância e eLearning quer aos serviços quer à gestão. A aposta
na qualidade é transversal a toda a instituição, abrangendo todos os setores de atividade e políticas
de modo integrado.
Neste âmbito um programa de estudos (unidades curriculares/curso) em EaD requer especial
atenção a nível da




disponibilização de conteúdos atuais e atualizados e introdução de novas abordagens que
possam conduzir a reflexões e troca de ideias;
existência de um corpo docente preocupado com a compreensão dos estudantes, estejam
eles em um espaço público ou no espaço virtual; c
preparação do corpo docente (para além da investigação na área científica promova
investigação que possa favorecer os processos de aprendizagem).
existência de uma equipa de apoio que cuida dos aspetos tecnológicos; da elaboração dos
materiais nas suas várias formas, (scripto e mediatizado)
A interação e o trabalho em rede de todos os participantes no processo de ensino aprendizagem a
distância, contribuem para a qualidade do ensino e da oferta pedagógica.
Presencial ou a distância, misto ou totalmente online, o que realmente importa é que todas as formas
de ensino sejam relevantes e úteis: que ofereçam conteúdos adequados e adaptados ao
10
Desenvolvimento dos Países e Regiões porque as geografias são tão variadas e multiculturais que
o que é válido numa zona pode não ser relevante noutra.
É nossa convicção que as instituições de ensino superior devem assumir a responsabilidade pela
qualidade dos serviços que prestam, devem apresentar regularmente o resultado das suas práticas, da
sua investigação e das suas atividades de docência, de forma a tornar mais transparente numa óptica
de procura constante de soluções para melhorar a qualidade da educação/formação superior, num
contexto socioeconómico, tecnológico e cultural em permanente transformação.
E, apesar de haver consenso relativamente aos benefícios da expansão das redes de conhecimento e
da utilização sistemática das tecnologias e das ferramentas digitais na educação, temos consciência de
que elas, por si só, não resolvem os problemas de acesso ao saber em larga escala, sendo
fundamental o desenvolvimento de práticas pedagógicas menos individualistas e mais colaborativas,
ou seja uma mudança de paradigma, que se plasma num modelo educativo onde a construção do
conhecimento acontece de forma crítica, criativa e contextualizada, utilizando os media para
suprimir a distância física e promover a comunicação educativa.
Esta mudança, quer conceptual quer operativa do ensino a distância universitário, ocorre numa
altura em que as universidades tradicionais estão, igualmente, em profunda mudança,
particularmente na Europa, sendo natural que haja uma interação entre ambos os sistemas –
presencial e a distância.
Ao longo dos anos, e no exercício da minha atividade profissional, tive oportunidade de constatar a
importância que as universidades de ensino a distância têm no desenvolvimento das sociedades,
enquanto “instrumentos” potenciadores de conhecimento e DESENVOLVIMENTO.
O diálogo amplo e construtivo que a UAb estabeleceu com os seus parceiros sobre as novas
tendências, políticas e/ou práticas educativas em EaD tem sido muito enriquecedor, permitindo à
comunidade académica a partilha de experiências e preocupações, mas também de ideias e projetos
inovadores e sustentados, com vista ao desenvolvimento dos países e regiões que ainda têm défice a
nível educacional. Evoluímos e trabalhámos para o desenvolvimento de projetos temáticos, não
determinados exclusivamente por uma base geográfica, mas orientados para atividades específicas,
apostando no conhecimento como vantagem competitiva sustentada, geradora de retornos
acrescidos e continuados.
A aposta da Universidade Aberta numa estratégica de mudança da geração de ensino a distância
mais orientada para a virtualização, tem-se revelado essencial na cooperação transnacional com
outras instituições de ensino superior dos Países de Expressão Portuguesa. Se por um lado é
inquestionável a necessidade de um ensino superior local, por outro não pode ser ignorado o
conteúdo e forma desse mesmo ensino superior, não fazendo sentido, atualmente, pensar que um
país pode oferecer todas as formas de conhecimento de que necessita para o seu desenvolvimento.
É fundamental promover a diversidade das formas de Ensino Superior e a diversidade só enriquece
o espaço educacional num país. Por diversidade entenda-se não só a existência de universidades e de
formas mais profissionalizantes de ensino como também de diversas metodologias de ensino, desde
a educação presencial até diferentes formas de ensino a distância, sobretudo ensino a distância
estendido a regiões do país onde simplesmente não há meios e recursos para a curto prazo se
estabelecerem universidades. Desta forma é possível estender o acesso ao ensino, através de
métodos que hoje já se constituem como formas comuns de comunicação.
11
6. CONCLUSÕES
Em jeito de conclusão não posso deixar de mais uma vez salientar que o ensino superior é um
elemento fundamental para o crescimento e desenvolvimento de sociedades baseadas no
conhecimento.
Enquanto membro da academia, acredito e defendo o valor e o papel desempenhado pelas
universidades/ensino superior num mundo em permanente convulsão política, social, tecnológica e
científica.
As universidades são espaços privilegiados para o estabelecimento e expansão do conceito de redes
de cooperação académica e científica, para discutir ações de cooperação multilateral em áreas
relacionadas com o Desenvolvimento dos Países e regiões.
Porque o mais importante são as pessoas e o coletivo em que estão inseridas, a rede de ensino
superior dos países de língua portuguesa deverá apostar num ensino mais aberto, inclusivo e
inovador.
Porque a Educação para o Desenvolvimento é um processo assente na interacção e participação
ativa de todos os cidadãos, independentemente do país ou da região, do género ou do grupo
socioeconómico, os países e as regiões devem promover, sem descanso, valores e atitudes de
cidadania global responsável como a justiça, a equidade social, a solidariedade, a participação, a
responsabilidade, a cooperação,… a lista é longa.
Assim, e para concluir, as academias devem associar-se e orientar os seus recursos humanos,
materiais e tecnológicos de forma concertada para um espaço de ensino superior orientado para o
Desenvolvimento.
Esse espaço de ensino superior (em Língua Portuguesa), independentemente da geografia física e/ou
humana onde se insere, deverá assentar em parceiros unidos por redes de confiança mais abertas e
transparentes. Há que redesenhar/adaptar o ensino superior tal como o conhecemos agora, de
forma a torná-lo mais competitivo, atrativo, diversificado, consoante os vários contextos e
paradigmas educativos.
Termino com uma nota final de esperança e com uma citação.
A comunidade dos Países de Língua Portuguesa atenta às potencialidades do EaD na construção de
sociedades mais solidárias e desenvolvidas, tem tomado decisões a nível das suas políticas educativas
não formais que, a curto prazo, irão provocar mudanças nas atitudes e nas práticas educativas para o
Desenvolvimento.
O desejado DESENVOLVIMENTO dos países e das regiões, passa pela educação e pela formação
das pessoas, o que quer dizer que nós, enquanto profissionais de ensino, temos uma quota-parte de
responsabilidade, porque
"O amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais
importante degrau para se chegar ao conhecimento.“
(Erasmo)
12
BIBLIOGRAFIA
CARMO, Hermano, 2014,A educação para a cidadania no século XXI, Lisboa, Escolar Editora,
http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/dados-estatisticos/projecao-e-uso/portugues-a-lingua-maisfalada-no-hemisferio-sul/lingua-mais-falada-no-HS
http://www.unescoportugal.mne.pt/pt/temas/um-planeta-um-oceano/educacao-para-odesenvolvimento-sustentavel.html
ORTEGA y Gasset, Misión de la Universidad y Otros Ensayos Afines, 1930
RETO, Luís, 2012, Potencial económico da Língua Portuguesa, Lisboa, Texto Editores.
Revista Monocle, Outubro de 2012
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