AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA E APLICABILIDADE DE UM SISTEMA INTEGRADO DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E DE CHORUME Paulo Augusto Cunha Libânio PAULO AUGUSTO CUNHA LIBÂNIO AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA E APLICABILIDADE DE UM SISTEMA INTEGRADO DE TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E DE CHORUME Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre. Área de Concentração: Meio Ambiente Orientador: Prof. Carlos Augusto de Lemos Chernicharo Belo Horizonte Escola de Engenharia 2002 L694a 2002 Libânio, Paulo Augusto Cunha Avaliação da eficiência e aplicabilidade de um sistema integrado de tratamento de resíduos sólidos urbanos e de chorume. / Paulo Augusto Cunha Libânio. - 2002. 156f. : il. Orientador: Carlos Augusto de Lemos Chernicharo Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos. 1.Resíduos Sólidos Urbanos - Tratamento - Teses I.Chernicharo, Carlos Augusto de Lemos II.Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental III.Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos. IV. Título. CDU: 628.4 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Paulo e Suzana, pelo amor, apoio e confiança incondicionais. A minha avó Silvia e – in memoriam – aos avós Paulo, Adalberto e Dalzira, sempre presentes. A Flaviane, pelo amor e companheirismo. AGRADECIMENTOS Ao Professor Carlos Chernicharo, exemplo de dedicação e ética profissional, pela orientação deste trabalho, pela amizade e apoio dispensados em todos os momentos. Ao Professor Marcelo Libânio, responsável por ter me despertado o interesse pela engenharia sanitária e ambiental ainda quando estudante na graduação, a quem serei eternamente grato. À Professora Ilka Soares Cintra, sempre companheira nas divergências, ponto de equilíbrio e harmonia da equipe. Ao amigo Bruno, companheiro de trabalho e co-responsável pelo sucesso da pesquisa. Aos laboratoristas do PROSAB, técnicos e bolsistas, Lucy, Jussara, Carolina, Jacson, Lucilaine, Toninho e Prof. Emílio. Aos funcionários do DESA, Norma e Dona Francisca. Às catadoras e associadas da ASMARE, em especial à Taninha. Aos funcionários e técnicos da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (SMLU-BH), pelo apoio logístico em diversos momentos do trabalho. À CAPES, pela concessão da bolsa de estudo. À FINEP,CNPq e CAIXA, pelo financiamento e custeio do experimento. RESUMO Certamente, a redução do tempo médio de biodegradação dos resíduos sólidos orgânicos, postergando-se a fase de operação dos aterros, é o principal objetivo e vantagem da inoculação da digestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU), especialmente nos grandes conglomerados populacionais. Neste sentido, a recirculação do chorume apresenta-se como uma das perspectivas de tratamento mais promissoras, sendo amplamente estudada. Este processo consiste basicamente no incremento da concentração de microrganismos junto à fração orgânica biodegradável da massa de lixo aterrada. No Brasil, esta tecnologia tem sido bastante difundida e empregada em importantes centros urbanos: Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Caxias do Sul (RS). Entretanto, uma série de parâmetros físico-químicos devem ser observados para a manutenção das condições ótimas de digestão anaeróbia dos resíduos, assim como alguns critérios técnicos e sócio-econômicos de interesse. Desta forma, implementou-se um experimento, em laboratório, a fim de se investigar os aspectos mais relevantes da digestão anaeróbia dos RSU, necessários à elaboração de futuros estudos de viabilidade e análises de custo-benefício. Tal experimento consiste na análise comparativa entre duas diferentes linhas de operação, com 3 reatores anaeróbios de RSU cada: linha de tratamento convencional (Reatores R1, R2 e R3) e linha de tratamento integrado, com recirculação do chorume enriquecido com inóculo (Reatores R7, R8 e R9). Adicionalmente, foi instalado um reator UASB na linha de tratamento integrado, objetivandose a remoção da carga orgânica dos líquidos lixiviados dos reatores de RSU e a utilização do lodo biológico produzido para inoculação da digestão dos resíduos. Os reatores experimentais, apresentando um volume útil de 700 litros cada, foram completamente preenchidos com uma massa total de aproximadamente 3.000 kg de lixo urbano, durante um período de nove dias. Diariamente, obtinha-se uma amostra representativa a partir da carga de um caminhão resultante de um dia típico de coleta em área residencial. Assim, ao final desta etapa, observando-se critérios e metodologias pré-estabelecidas para a amostragem, preparação de amostras e análises laboratoriais, procedeu-se à caracterização físico-química do lixo urbano amostrado: composição gravimétrica, teor de umidade, sólidos voláteis, metais e outros. Finalmente, um conjunto de parâmetros concernentes às condições de bioestabilização dos resíduos sólidos orgânicos – disponibilidade de nutrientes, toxicidade – foram monitorados através da análise do lixiviado drenado dos reatores de RSU e do efluente do reator UASB: pH, alcalinidade, ácidos graxos voláteis, DBO, DQO, nitrogênio Kjeldahl, fósforo, cloreto, sulfeto, metais pesados. Ademais, foram determinadas a produção de biogás e as proporções de seus principais constituintes: metano e dióxido de carbono. A inoculação endógena promovida na linha de tratamento integrado, através da recirculação do chorume e retorno do lodo biológico produzido no reator UASB, parece ter favorecido a etapa inicial de fermentação e acidogênese: maiores concentrações dos principais ácidos graxos voláteis precursores da formação de metano tais como ácido acético, propiônico e butírico; teores iniciais de metano mais elevados. A inoculação endógena promoveu também a aceleração da atividade metanogênica nesta linha de tratamento, uma vez que se pode observar, simultâneamente, uma significativa redução do substrato orgânico solúvel (DQO filtrada, DBO, sólidos dissolvidos) e um rápido incremento na produção de biogás. ABSTRACT Reducing the average time of solid waste biodegradation and prolonging the operation of landfills is the primary goal and advantage of seeding the digestion of municipal solid waste (MSW), especially in highly populated municipal areas. Leachate recycling presents a promising and largely studied perspective in municipal solid waste treatment and final disposal. The process consists in the addition of a microorganism concentration to the biodegradable organic fraction that is contained within the landfill cells. In Brazil this technology has been largely employed in the important cities of Belo Horizonte (Minas Gerais), Recife (Pernambuco) and Caxias do Sul (Rio Grande do Sul). However, a number of chemical and physical parameters should be observed to promote optimum conditions for the anaerobic digestion of the solid waste, as well as certain social, economical and technical criteria. A pilot scale experiment was set up in laboratory conditions with the aim of investigating what are considered the most relevant aspects in anaerobic digestion of MSW, requirements for future elaboration of feasibility studies and cost benefit studies. The experiment consists in a comparative analysis between two different treatment lines, each with three anaerobic MSW digesters: conventional landfilling (Reactors R1, R2 and R3) and integrated treatment with seeded leachate recycling (Reactors R7, R8 and R9). A UASB reactor was placed in the integrated treatment line with the objective of removing the organic load in the leachate of the MSW digesters, with the biological sludge produced being used for the inoculation of the solid waste digestion. The experimental digesters, each with a volume of 700 litres, were completely filled in nine days, with a total mass of approximately 3000kg of municipal solid waste. Truckloads from a typical weekday collection route in a residential area were taken as a representative daily sample. Then a sample from each day was analysed in terms of composition, moisture content, volatile organic compounds, metals and others, observing all pre-established scientific criteria and methodology concerning solid waste sampling, preparation, and laboratory analysis. Finally, the following series of parameters concerning the environmental conditions of nutrient availability and toxicity for the anaerobic biodegradation of organic solid waste were monitored in the leachate generated by the solid waste digesters and the effluent from the UASB reactor: pH, alkalinity, volatile fatty acids, BOD, COD, Kjeldahl nitrogen, phosphorous, sulphide and metals. The biogas production and its principal gas constituents, methane, and carbon dioxide were also monitored. The endogenous inoculation promoted in integrated treatment, through leachate recycling and return of the excess biological sludge produced in the UASB reactor, has favoured the initial fermentation stage, with higher concentrations of the most important volatile acids precursors of methane such as acetic, propionic and butyric acids and higher initial methane concentration in the biogas. It also seems to have promoted the acceleration of the methanogenic phase since a significant reduction of soluble organic matter (filtered COD, BOD, dissolved solids) and a rapid increase in biogas production were simultaneously observed. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS 1. INTRODUÇÃO................................................................... ............................1 1.1. A Questão dos Resíduos Sólidos.............................................................1 1.2. Digestão Anaeróbia de Resíduos Sólidos Urbanos em Aterros.................................................................... ............................5 2. OBJETIVOS........................................................................ ............................6 3. REVISÃO DA LITERATURA.......................................... ............................7 3.1. Considerações sobre a Realidade dos Resíduos Sólidos........................................................................... ............................7 3.1.1. Alguns Aspectos sobre a Realidade no Brasil e no Mundo............................................................ ...........................7 3.1.2. Alguns Aspectos sobre a Realidade em Belo Horizonte............................................................. ..........................11 3.2. Possibilidades de Minimização da Geração de Resíduos Sólidos.......................................................... ..........................15 3.3. Tratamento e Disposição Final dos Resíduos Sólidos Urbanos........................................................... ..........................18 3.3.1. Incineração.......................................................... ..........................18 3.3.2. Compostagem................................................................................19 3.3.3. Reciclagem.......................................................... ..........................20 3.3.4. Aterros................................................................. ..........................20 3.4. Processos Anaeróbios............................................................................23 3.4.1. Fundamentos da digestão anaeróbia..............................................23 3.4.2. Digestão anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos aterrados................................................ ..........................25 3.5. Emissão de Gases...................................................................................30 3.6. Poluição por Lixiviado de Aterros.......................................................31 3.6.1. Fatores determinantes da vazão e das características físico-químicas do chorume........ ..........................31 3.6.2. Alternativas de tratamento do chorume.........................................33 3.7. Aprimoramento da Operação de Aterros................. ..........................39 3.7.1. Inoculação da digestão anaeróbia de RSU.......... ..........................40 3.7.1.1. Recirculação do chorume............................ ..........................40 3.7.1.2. Outras modalidades de inoculação da digestão de RSU......................................... ..........................44 3.7.2. Sistema integrado de tratamento de chorume e de resíduos sólidos urbanos...........................................................46 3.8. Definições Importantes............................................... ..........................50 3.8.1. Definição de “resíduos sólidos urbanos”.......................................50 3.8.2. Definição de “chorume”................................................................51 3.8.3. Definição de “inóculo”..................................................................53 4. MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................54 4.1. Plano de Amostragem dos Resíduos Sólidos Urbanos........................................................................ ..........................54 4.1.1. Definição do tipo de amostra.............................. ..........................55 4.1.2. Definição da forma de amostragem...............................................57 4.1.3. Definição dos critérios de classificação dos materiais constituintes do lixo urbano................ ..........................59 4.1.4. Definição do volume das amostras................................................61 4.1.5. Composição da equipe de trabalho................................................63 4.2. Amostragem dos Resíduos Sólidos Urbanos de Belo Horizonte no Aterro Sanitário Municipal........ ..........................64 4.3. Preenchimento dos Reatores Anaeróbios com os Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados..................... ..........................68 4.4. Preenchimento dos Reatores Anaeróbios com Chorume de Aterro Sanitário.................................... ..........................69 4.5. Preparação das Amostras de RSU para as Análises Laboratoriais............................................................... ..........................72 4.6. Caracterização Físico-Química dos Resíduos Sólidos Urbanos........................................................... ..........................74 4.6.1. Determinação da composição gravimétrica........ ..........................74 4.6.2. Determinação do teor de umidade.................................................74 4.6.3. Determinação do teor de metais.......................... ..........................75 4.6.4. Determinação dos teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio....................................... ..........................76 4.6.5. Determinação do teor de sólidos voláteis......................................76 4.7. Aparato Experimental................................................ .........................77 4.8. Operação do sistema................................................... .........................83 4.9. Monitoramento do sistema......................................... .........................85 4.9.1. Inferências analíticas........................................... .........................85 4.9.2. Metodologias modificadas.................................. .........................86 4.9.2.1. Demanda Bioquímica de Oxigênio............. .........................86 4.9.2.2. Alcalinidade e Ácidos Voláteis................... .........................87 4.9.2.3. Nitrogênio Kjeldahl..............................................................88 4.9.2.4. Fósforo........................................................ .........................88 4.9.2.5. Sulfeto......................................................... .........................89 4.9.3. Análises instrumentais..................................................................89 4.9.3.1. Ácidos Graxos Voláteis........................................................90 4.9.3.2. Metais Pesados............................................ .........................91 4.9.3.3. Biogás (Metano e Dióxido de Carbono)..... .........................93 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................ .........................95 5.1. Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados..............................................95 5.1.1. Determinação da Densidade Média dos Resíduos Confinados nos Reatores Anaeróbios . Experimentais...............................................................................95 5.1.2. Caracterização Física dos Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados........................................... .........................97 5.1.2.1. Composição gravimétrica.....................................................97 5.1.2.2. Teor de umidade..................................................................102 5.1.3. Caracterização Química dos Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados........................................... ........................104 5.1.3.1. Teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio ........................104 5.1.3.2. Teor de sólidos voláteis.......................................................105 5.1.3.3. Verificação da correlação entre o teor de carbono e de sólidos voláteis...................... ........................106 5.1.3.4. Teor de metais pesados............................... ........................108 5.2. Chorume Drenado nos Reatores de RSU..........................................111 5.2.1. Matéria Orgânica.........................................................................111 5.2.2. Sólidos................................................................. ........................116 5.2.3. Nutrientes............................................................ ........................118 5.2.4. Sistema Ácido/Base.....................................................................121 5.2.5. Toxicidade........................................................... ........................126 5.2.5.1. Cloreto.................................................................................126 5.2.5.2. Sulfeto......................................................... ........................126 5.2.5.3. Nitrogênio Amoniacal................................. ........................128 5.2.5.4. Metais..................................................................................130 5.3. Biogás Produzido na Digestão Anaeróbia dos Reatores de RSU.......................................................... ........................133 5.4. Avaliação da Produção de Sólidos no Sistema Integrado...................................................................... ........................136 6. CONCLUSÕES................................................................... ........................143 7. RECOMENDAÇÕES......................................................... ........................147 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................. ........................148 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1: Geração dos resíduos sólidos em diversos momentos da seqüência de transformação e utilização dos recursos naturais........................................... .......................2 Figura 3.1: Comparação entre as diferentes regiões do território nacional quanto à destinação final dos resíduos domiciliares (IBGE, 1991).................... .......................9 Figura 3.2: Comparação entre as alternativas empregadas na destinação final dos resíduos sólidos urbanos, no Brasil e nos Estados Unidos........................... .....................11 Figura 3.3: Destinação do lixo urbano coletado no município de Belo Horizonte (PBH, 2001)....................................................................................... .....................13 Figura 3.4: Possibilidades de minimização dos impactos ambientais devido à menor geração de resíduos sólidos e utilização de recursos naturais................. ......................15 Figura 3.5: Crescimento da reciclagem e compostagem nos Estados Unidos, . possibilitando a manutenção das quantidades de lixo urbano destinadas à . incineração ou aterramento. Dados obtidos em pesquisas realizadas entre 1960 e 1997 e projeções até 2005 (EPA, 1999).................................................. ......................17 Figura 3.6: Importância da técnica de aterramento no atual quadro de alternativas de tratamento e disposição final do lixo urbano.............................. ......................21 Figura 3.7: Destinação final dos resíduos sólidos industriais gerados pelas . empresas associadas à Abetre – Associação Brasileira de Empresas de . Tratamento, Recuperação e Disposição Final de Resíduos Especiais. Modificado de DIAS (2001)............................................................................... ......................22 Figura 3.8: Alternativas de tratamento dos líquidos lixiviados de aterros . sanitários por processos biológicos e físico-químicos, em unidades de tratamento próprias ou em estação de tratamento de esgoto sanitário................ ......................38 Figura 3.9: Sistema integrado de tratamento dos RSU e do lixiviado de aterro sanitário, proposto no presente estudo...................................................... ......................48 Figura 4.1: Procedimentos de amostragem e caracterização dos resíduos sólidos.................................................................................................................. ......................55 Figura 4.2: Avaliação comparativa da geração média de resíduos na regional centro e em Belo Horizonte. Modificado de MERCEDES (1997)..................... ......................58 Figuras 4.3: Avaliação das diferentes condições sócio-econômicas entre as regionais de limpeza pública do Barreiro e Sul. Modificado de MERCEDES . (1997).................................................................................................................. ......................58 Figura 4.4: Esquema diário de trabalho para amostragem, determinação da composição gravimétrica e preenchimento dos reatores..................................... ......................62 Figura 4.5: Identificação das regionais de limpeza pública de Belo Horizonte.. ......................64 Figura 4.6: Identificação dos distritos amostrados durante o preenchimento dos reatores.......................................................................................................... ......................64 Figura 4.7: Descarregamento do lixo urbano...................................................... ......................66 Figura 4.8: Volume inicial amostrado................................................................. ......................66 Figura 4.9: Quarteamento com pá mecânica....................................................... ......................66 Figura 4.10: Vista dos quartos vis a vis.............................................................. ......................66 Figura 4.11: Identificação dos tambores............................................................. ......................67 Figura 4.12: Equipe da UFMG e ASMARE...................................................... ......................67 Figura 4.13: Caminhão “carroceria” utilizado no transporte dos tambores metálicos.............................................................................................................. ......................67 Figura 4.14: Compactação manual dos resíduos................................................. ......................69 Figura 4.15: Frente de aterramento do lixo urbano na célula AC-05 (maio/2001)......................................................................................................... ......................69 Figura 4.16: Impermeabilização da área ainda não ocupada pela célula AC-05 (maio/2001)......................................................................................................... ......................69 Figura 4.17: Poço PLQ-5.................................................................................... ......................71 Figura 4.18: Coleta do chorume bombeado do poço PLQ-5.............................. ......................71 Figura 4.19: Transferência do chorume para bombonas..................................... ......................71 Figura 4.20: Transporte das bombonas plásticas de 50 litros em caminhão tipo “carroceria”......................................................................................................... ......................71 Figura 4.21: Vista do moinho de faca................................................................. ......................73 Figura 4.22: Amostras secas e trituradas em sacos plásticos hermeticamente vedados................................................................................................................ ......................73 Figura 4.23: Vista do moinho de bola................................................................. ......................73 Figura 4.24: Vista da peneira vibratória.............................................................. ......................73 Figura 4.25: Segregação manual dos diversos componentes do lixo pela equipe ASMARE................................................................................................ ......................74 Figura 4.26: Pesagem dos tambores ao chegarem ao galpão para triagem e segregação........................................................................................................... ......................74 Figura 4.27: Esquema de determinação do teor de umidade nas amostras de RSU..................................................................................................................... ......................75 Figura 4.28: Frascos plásticos contendo soluções diluídas e concentradas de amostras já digeridas e filtradas.......................................................................... ......................76 Figura 4.29: Detalhe do espectrofotômetro de absorção atômica....................... ......................76 Figura 4.30: Vista geral do aparato experimental utilizado na pesquisa............. ......................77 Figura 4.31: Esquema dos reatores experimentais de digestão dos resíduos sólidos urbanos.................................................................................................... ......................78 Figura 4.32: Dispositivos de amostragem do chorume drenado nos reatores de RSU..................................................................................................................... ......................79 Figura 4.33: Vista do topo dos reatores de RSU. Detalhe do sifão e do dispositivo de coleta do biogás. .......................................................................... ......................79 Figura 4.34: Sistema de coleta, amostragem e medição do biogás, e bombas peristálticas para recirculação do chorume. ....................................................... ......................79 Figura 4.35: Configuração geral do reator UASB. ............................................. ......................80 Figura 4.36: Dispositivo de entrada do reator UASB. ....................................... ......................80 Figura 4.37: Vista do compartimento de decantação do reator UASB, bomba de dosagem de solução tampão, e caixa de distribuição do chorume tratado..... ......................81 Figura 4.38: Detalhe da caixa de distribuição e mistura do chorume tratado em reator UASB. ................................................................................................ ......................81 Figura 4.39: Fluxograma das duas linhas operacionais do experimento contempladas neste estudo. ................................................................................ ......................82 Figura 4.40: Recipiente contendo o inóculo para análise de DBO. Aeração contínua do chorume por um soprador................................................................ ......................87 Figura 4.41: Destilador para análise do nitrogênio amoniacal e orgânico segundo método macro-Kjeldahl. ...................................................................... ......................88 Figura 4.42: Microdestilador de vidro idealizado por MORAES et al. (2001)... ......................90 Figura 4.43: Microdestilação dos ácidos graxos voláteis (MORAES et al., 2001). .................................................................................................................. ......................90 Figura 4.44: Ultra-som para separação das fases orgânica e inorgânica............. ......................91 Figura 4.45: Cromatógrafo para análise de ácidos graxos voláteis..................... ......................91 Figura 4.46: Comparação de resultados de ferro em chorume, pelos métodos de rotina e adição................................................................................................. ......................93 Figura 4.47: Sistema adaptado para amostragem e injeção do biogás no cromatógrafo. ..................................................................................................... ......................94 Figura 4.48: Seringas conectadas a dispositivo de três vias para amostragem do biogás. ........................................................................................................... ......................94 Figura 4.49: Cromatógrafo para determinação dos teores de metano e dióxido de carbono. ......................................................................................................... ......................94 Figura 5.1: Composição gravimétrica média do lixo urbano amostrado para preenchimento dos reatores anaeróbios (LIBÂNIO, 2002). ............................... ......................99 Figura 5.2: Composição gravimétrica média do lixo urbano do município de Belo Horizonte. Modificado de MERCEDES (1997)......................................... ......................99 Figura 5.3: Comparação dos resultados obtidos na caracterização do lixo . urbano em trabalhos preliminares e durante o preenchimento dos reatores experimentais...................................................................................................... ....................101 Figura 5.4: Dispersão dos pontos amostrais após ajuste inicial de modelo linear. .................................................................................................................. ....................107 Figura 5.5: Visualização da boa correlação entre as grandezas após tratamento estatístico. ........................................................................................................... ....................107 Figura 5.6: Determinação do fator de correlação para estimativa do teor de carbono a partir da determinação dos sólidos voláteis........................................ ....................108 Figura 5.7: Avaliação da interferência da granulometria na determinação das concentrações médias dos diversos metais em amostras de resíduos sólidos . urbanos (N = 10 amostras). ............................................................................... ....................110 Figura 5.8: Evolução temporal da DBO nas duas linhas de operação................ ....................112 Figura 5.9: Evolução temporal da DQO filtrada nas duas linhas de operação.... ....................112 Figura 5.10: Evolução temporal da DQO total nas duas linhas de operação...... ....................112 Figura 5.11: Variação da razão DQO filtrada/DQO total nas duas linhas de operação. ............................................................................................................ ....................113 Figura 5.12: Variação da razão DBO/DQO total nas duas linhas de operação.. ....................113 Figura 5.13: Avaliação da eficiência de remoção de DQO no reator UASB, considerando-se a hidrólise total da fração particulada...................................... ....................115 Figura 5.14: Evolução temporal da concentração de sólidos suspensos e dissolvidos voláteis na linha de tratamento convencional dos RSU (linha 1).... ....................116 Figura 5.15: Evolução temporal da concentração de sólidos suspensos e dissolvidos voláteis na linha de tratamento integrado dos RSU (linha 3)........... ....................116 Figura 5.16: Variação da razão SSV/STV nas duas linhas de operação............. ....................117 Figura 5.17: Evolução temporal da concentração de nitrogênio orgânico nas duas linhas de operação....................................................................................... ....................118 Figura 5.18: Evolução temporal das concentrações de nutrientes, NTK e fósforo, no afluente e efluente do reator UASB.................................................. ....................119 Figura 5.19: Evolução temporal das concentrações de ácidos graxos voláteis, alcalinidade total e pH nas duas linhas de operação........................................... ....................121 Figura 5.20: Evolução das concentrações de ácidos graxos voláteis, alcalinidade total e pH no efluente do reator UASB........................................... ....................122 Figura 5.21: Variação das concentrações de alcalinidade bicarbonato e de ácidos voláteis na linha de tratamento integrado (linha 3).................................. ....................122 Figura 5.22: Variação da relação AGV/AT em ambas as linhas de operação.... ....................124 Figura 5.23: Concentrações médias de ácidos graxos voláteis em ambas as . linhas de operação e no efluente do reator UASB, imediatamente antes do . início dos procedimentos de correção do pH da linha 3, determinadas por cromatografia gasosa (N = 6 amostras).............................................................. ....................125 Figura 5.24: Evolução temporal das concentrações de cloreto nas duas linhas de operação.......................................................................................................... ....................126 Figura 5.25: Evolução temporal das concentrações de sulfeto nas duas linhas de operação.......................................................................................................... .....................127 Figura 5.26: Avaliação da redução das concentrações de sulfeto no efluente do reator UASB................................................................................................... .....................128 Figura 5.27: Evolução temporal das concentrações de nitrogênio amoniacal em ambas as linhas de operação.......................................................................... .....................128 Figura 5.28: Evolução da concentração de nitrogênio amoniacal no afluente e efluente do reator UASB..................................................................................... .....................128 Figura 5.29: Evolução das concentrações de manganês e alumínio nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB.............................................. .....................130 Figura 5.30: Evolução das concentrações de zinco e ferro nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB.............................................................. .....................130 Figura 5.31: Evolução das concentrações de cálcio e magnésio nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB......................................................... .....................131 Figura 5.32: Evolução das concentrações de níquel e cobre nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB.............................................................. .....................131 Figura 5.33: Evolução da concentração de cromo nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB............................................................................. .....................131 Figura 5.34: Evolução das concentrações médias de metano e dióxido de . carbono nas 2 linhas de operação e no reator UASB, por cromatografia gasosa.................................................................................................................. .....................133 Figura 5.35: Produção acumulada de biogás nas duas linhas de operação......... .....................134 Figura 5.36: Avaliação qualitativa da produção de sólidos na digestão anaeróbia, destacando-se a correlação dos principais fatores intervenientes. (substrato e microrganismos). Adaptado de CHERNICHARO (1997).............. .....................136 Figura 5.37: Balanço de massa no sistema de tratamento integrado dos RSU e do chorume.......................................................................................................... .....................137 Figura 5.38: Evolução do perfil de sólidos no reator UASB, determinado nas 4 fases de operação do sistema integrado (linha 3)............................................. .....................139 Figura 5.39: Avaliação das concentrações de metais pesados no lodo biológico em diferentes níveis do reator UASB, no início e término do. período de monitoramento.................................................................................. .....................141 LISTA DE TABELAS Tabela 4.1: Critérios adotados para caracterização dos resíduos sólidos urbanos.. .............................61 Tabela 4.2: Dados relativos às condições climáticas e ao caminhão de coleta, nos dias de amostragem dos resíduos sólidos urbanos de Belo Horizonte..................................................65 Tabela 4.3: Evolução do preenchimento dos reatores anaeróbios........................... .............................68 Tabela 4.4: Identificação das fases de operação do sistema integrado (linha 3)..... .............................84 Tabela 4.5: Parâmetros hidráulicos de operação do reator UASB.......................... .............................84 Tabela 4.6: Relação dos parâmetros físico-químicos de interesse, freqüência das análises, e dos respectivos métodos de preparação de amostras e de determinação. de seus valores. ................................................................................. .............................86 Tabela 4.7: Relação dos parâmetros físico-químicos de interesse, freqüência das análises, e dos respectivos métodos de preparação de amostras, utilizando-se . técnicas de instrumentação por cromatografia líquida, gasosa e . espectrofotometria de absorção atômica.................................................................. .............................89 Tabela 5.1: Estimativa da densidade inicial dos resíduos sólidos urbanos.............. .............................95 Tabela 5.2: Avaliação do grau de compactação dos resíduos sólidos urbanos....... .............................95 Tabela 5.3: Composição gravimétrica do lixo urbano amostrado nas diversas regionais................................................................................................................... ............................ 98 Tabela 5.4: Determinação da composição gravimétrica do lixo urbano segundo diferentes metodologias e em épocas distintas........................................................ ...........................100 Tabela 5.5: Teor de umidade da fração “potencialmente biodegradável” do lixo urbano...................................................................................................................... ...........................102 Tabela 5.6: Teor de umidade corrigido, considerando-se a massa total de resíduos amostrada................................................................................................... ...........................103 Tabela 5.7: Teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio pela análise instrumental............................................................................................................. ...........................104 Tabela 5.8: Estimativa da composição química de materiais constituintes do lixo urbano...................................................................................................................... ...........................105 Tabela 5.9: Teores de sólidos voláteis no lixo urbano amostrado........................... ...........................106 Tabela 5.10: Teores de metais pesados determinados em amostras de RSU, por espectrofotometria de absorção atômica (EAA)...................................................... ...........................109 Tabela 5.11: Comparação entre os teores de metais pesados em amostras de RSU aferidos no presente estudo e em outros trabalhos.................................................. ...........................109 Tabela 5.12: Relação entre as concentrações de DQO total, nitrogênio Kjeldahl . (NTK) e fósforo total, aferidas no chorume drenado dos reatores de RSU de ambas as linhas de operação.................................................................................... ...........................120 Tabela 5.13: Avaliação da produção de biogás e metano nas duas linhas de operação................................................................................................................... ...........................134 Tabela 5.14: Comparação entre os teores de metais pesados em amostras do lodo biológico do reator UASB tratando chorume, após 140 dias de operação, e . aqueles referenciados em alguns outros trabalhos, relativos ao lodo de esgoto . sanitário.................................................................................................................... ...........................142 Tabela 5.15: Avaliação da possibilidade de reciclagem do lodo biológico do reator UASB............................................................................................................ ...........................142 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 1. INTRODUÇÃO 1.1. A Questão dos Resíduos Sólidos Desde o fim do feudalismo europeu, observa-se o fenômeno do êxodo rural na sociedade ocidental, mas, somente a partir da Revolução Industrial, pôde-se notar uma significante deterioração da qualidade de vida nos aglomerados populacionais, evidenciada pela insalubridade e ausência das mínimas condições de saneamento e higiene em residências e locais de trabalho. No Brasil, a segunda metade do século XX foi marcada pela transição entre uma sociedade tipicamente rural, caracterizada por um padrão de vida médio simples, e uma população urbana extremamente heterogênea e desigual. O crescimento acelerado dos centros urbanos nos últimos cinqüenta anos pôs em cheque a capacidade do homem moderno de solucionar a equação do “desenvolvimento com preservação” ou, simplesmente, “desenvolvimento sustentável”, isto é, produzir os bens necessários à civilização sem, no entanto, comprometer o bem estar e a sobrevivência das gerações futuras. Diferentemente de épocas passadas, nas quais a maior preocupação se restringia ao atendimento das necessidades vitais primárias e à manutenção da estrutura sócio-econômica; devido ao crescente esgotamento das reservas naturais de mais fácil exploração e à severa deterioração das condições de seu hábitat, a humanidade começou a voltar seus olhos na busca de um equilíbrio estável entre o homem e o meio ambiente. Neste sentido, a gestão dos resíduos sólidos urbanos, juntamente com o suprimento da demanda hídrica, serão, possivelmente, os maiores desafios da sociedade no século XXI. Apesar do enorme conhecimento e sofisticada tecnologia sob domínio do homem, não se pode prever, no campo das ciências aplicadas, processos com eficiência absoluta, sem nenhuma perda de massa ou de energia. A geração de “resíduos”, sejam eles líquidos, gases ou sólidos, é uma realidade inerente a toda e qualquer operação física ou processo bioquímico pertinentes à transformação e utilização dos recursos naturais e, portanto, de interesse da engenharia sanitária e ambiental. -1- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Os resíduos sólidos se constituem basicamente de subprodutos ou rejeitos do setor primário, industrial e de serviço, de materiais e utilitários sem mais valia ou com algum grau de periculosidade, bem como dos próprios poluentes retidos em estações e equipamentos de controle da poluição. Desta forma, é interessante destacar que, caso viabilizem-se meios de re-inserção e aproveitamento econômico, a denominação de “resíduo” ou simplesmente “lixo” não mais se aplicará a um grande contingente de materiais hoje descartados. Estes resíduos são gerados em diversos momentos do processo produtivo, desde a extração da matéria-prima, passando pelo transporte e beneficiamento em indústrias de base ou de bens duráveis, até as etapas de distribuição e consumo das mercadorias. Como apresentado na Figura 1.1, ao se analisar a delicada relação produção versus poluição, os resíduos sólidos podem ser classificados em dois grandes grupos: industriais e urbanos. Figura 1.1: Geração dos resíduos sólidos em diversos momentos da seqüência de transformação e utilização dos recursos naturais. Os resíduos sólidos industriais estão intrinsecamente relacionados às atividades iniciais de exploração dos recursos naturais, transporte, e transformação de materiais em estado bruto em produtos semi-acabados ou manufaturados, de maior valor agregado. Devido à considerável gama de processos industriais e produtos auxiliares envolvidos – corantes, catalisadores, solventes e outros – os resíduos sólidos resultantes da atividade industrial comumente apresentam riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, merecendo especial atenção no seu trato. O ônus e a responsabilidade pelo manuseio, acondicionamento, armazenagem, coleta, transporte e disposição final dos resíduos industriais ficam geralmente a cargo das -2- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ próprias indústrias, cabendo às autoridades e órgãos públicos a fiscalização e coibição do descumprimento à legislação ambiental vigente. No Brasil, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – editou um conjunto de normas que tratam dos procedimentos e critérios para classificação dos resíduos sólidos industriais: perigosos, não inertes e inertes; classes I, II e III, respectivamente (ABNT, 1987). Por sua vez, a geração dos resíduos sólidos urbanos (RSU) se dá nas etapas finais de distribuição das mercadorias ou após o consumo dos bens, envolvendo o descarte ou perda de uma infinidade de materiais: embalagens plásticas, de papel ou papelão; recipientes de vidro, lata ou alumínio; produtos putrescíveis; objetos de uso pessoal, artigos de higiene, peças de vestuário e diversos utilitários; bens duráveis tais como eletrodomésticos, mobílias e outros. Somam-se ainda aqueles provenientes da prestação de serviço público – varrição, capina e poda –, unidades de saúde, entulhos da construção civil e materiais de disposição complicada, como medicamentos, pilhas e baterias. A coleta e disposição final dos resíduos sólidos urbanos, diferentemente daqueles de origem industrial, são usualmente de responsabilidade do poder público municipal. Apesar dos primeiros muitas vezes não apresentarem a mesma periculosidade dos últimos, por não possuírem a mesma natureza inflamável, tóxica ou reativa, o equacionamento da questão dos resíduos sólidos urbanos nas municipalidades se mostra ainda mais aflitivo e de difícil solução. Tal assertiva é mais facilmente crível se observados alguns fatores de distinção entre estes dois grandes grupos de resíduos sólidos. Primeiramente, devido aos meios e recursos disponíveis, à responsabilidade da gestão dos próprios resíduos, e ao ambiente organizado e disciplinado, os resíduos gerados no processo industrial podem ser mais facilmente coletados e dispostos em separado, por etapa, processo ou máquina, evitando-se, assim, a contaminação de materiais inertes por aqueles considerados não-inertes ou perigosos. A coleta e acondicionamento em separado dos resíduos permitem a reutilização de certos materiais pela própria indústria ou por outras, seja como matéria-prima ou combustível. -3- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Diferentemente, a coleta em separado dos materiais constituintes do lixo urbano, conhecida por “coleta seletiva”, se mostra muito mais complicada, devido à natureza extremamente heterogênea dos resíduos e à necessidade de viabilização de toda uma infra-estrutura de coleta e transporte dos resíduos segregados nos domicílios, estabelecimentos comerciais ou prédios públicos. Além disto, o sucesso desta estratégia depende da ampla aceitação dos produtos reciclados e da constante mobilização social. Outros fatores complicadores da gestão dos resíduos sólidos urbanos residem na descontinuidade de políticas públicas de saneamento a médio e longo prazo, e na menor eficiência e comprometimento do poder público municipal, pouco exigido e fiscalizado pela sociedade e órgãos competentes, com seus recursos financeiros quase sempre limitados. Considerando-se estas dificuldades encontradas para uma adequada gestão do lixo urbano, o que se observa é um quadro alarmante nos municípios de pequeno, médio e grande porte. Enquanto os primeiros sofrem pela carência de uma infra-estrutura adequada, com baixos índices de atendimento à população pelos serviços de limpeza pública, os últimos se deparam com o esgotamento da capacidade instalada para disposição final das enormes quantidades de resíduos diariamente coletadas. A consciência ainda incipiente da sociedade, traduzida no descaso das classes mais abastadas pela questão do lixo urbano, compromete o desejável “desenvolvimento sustentável”. Ironicamente, a “revolução” dos costumes e hábitos, tão necessária neste caso, vem sendo impulsionada não pelas elites, mas sim, pela população excluída da estrutura social e econômica, e que, diante de sua miséria e instinto de sobrevivência, conseguiu atribuir valor a diversos materiais constituintes do lixo urbano. -4- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 1.2. Digestão Anaeróbia de Resíduos Sólidos Urbanos em Aterros Apesar das inúmeras experiências bem sucedidas na recuperação e reciclagem de constituintes dos resíduos sólidos urbanos, o montante total reaproveitado ainda não faz frente ao volume de lixo gerado diariamente. Assim, tendo em vista que a incineração dos resíduos tem sua aplicabilidade técnica e econômica restrita àqueles considerados perigosos, usualmente de origem industrial ou hospitalar, o aterramento do lixo urbano responde, forçosamente, pela destinação final da quase totalidade dos resíduos coletados. Os aterros não devem ser entendidos meramente como locais de confinamento do lixo urbano, mas sim como obras de engenharia, reatores dentro dos quais se processam inúmeros fenômenos físicos, químicos e biológicos, sendo necessárias diversas intervenções para contenção de poluentes líquidos e gasosos. Assim, faz-se urgente e necessário o conhecimento destes processos e domínio das técnicas de operação. Esta preocupação consta de dois dos quatro temas prioritários do PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico: “alternativas de disposição de resíduos sólidos urbanos para pequenas comunidades” (Tema 3) e “digestão anaeróbia de resíduos sólidos orgânicos e aproveitamento de biogás” (Tema 4). Este estudo se insere no contexto de um projeto maior de doutoramento, financiado pelo PROSAB, Edital III, Tema 4, no qual buscar-se-á entender mais objetivamente a dinâmica dos processos físicos e bioquímicos observados durante a digestão anaeróbia do lixo urbano aterrado, submetido a diferentes condições de operação. Desta forma, a avaliação de procedimentos operacionais que visam a redução dos tempos de estabilização da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (FORSU) confinados em aterros, através do tratamento e recirculação dos líquidos drenados, será o eixo norteador da dissertação. -5- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 2. OBJETIVOS O objetivo geral desta pesquisa é a avaliação, em laboratório, da eficiência e aplicabilidade de um sistema integrado “aterro celular / reator UASB” no tratamento de resíduos sólidos urbanos e de chorume. Este tratamento consiste na recirculação contínua do chorume, através das duas unidades complementares (aterro celular e reator UASB), e inoculação da digestão anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos (RSU) com o lodo biológico excedente produzido no reator UASB. Por sua vez, ter-se-ão ainda como objetivos específicos: • caracterização físico-química dos resíduos sólidos urbanos amostrados em aterro sanitário e confinados nos reatores experimentais; • verificação da evolução de parâmetros físico-químicos do chorume drenado nos reatores anaeróbios de resíduos sólidos urbanos; • quantificação da produção de biogás nos reatores anaeróbios de resíduos sólidos urbanos e no reator UASB, determinando-se as concentrações de seus principais constituintes: metano e dióxido de carbono; • avaliação do comportamento e eficiência do tratamento biológico do chorume por via anaeróbia, com a quantificação da produção e aferição das características do lodo biológico no interior do reator UASB. -6- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1. Considerações sobre a Realidade dos Resíduos Sólidos 3.1.1 Alguns Aspectos sobre a Realidade no Brasil e no Mundo Desejosa de um número cada vez maior de objetos manufaturados, outrora não tão indispensáveis, senhora de técnicas e meios de produção agrícola e industrial capazes de suprir por completo uma demanda voraz, a população dos grandes centros urbanos acostumou-se ao superconsumismo, não significando, contudo, a supressão das básicas necessidades de um enorme contingente de pessoas. A capitalização das classes menos abastadas, refugiadas em zonas periféricas geralmente não atendidas pelo poder público, não se traduziu na melhoria das condições de vida dessas populações, mas sim, no simples incremento do consumo, tão desejável em uma sociedade industrializada. Ademais, a extremada injustiça social, somada à conscientização ainda incipiente acerca da preservação ambiental, contribuem para o agravamento do quadro sanitário e de saúde púbica na grande maioria dos países em desenvolvimento. Por outro lado, a mesma sociedade ainda não conseguiu administrar as enormes quantidades de rejeitos sólidos geradas ao longo do processo produtivo ou após o consumo final. Vários fenômenos contribuem para o incremento da geração de resíduos sólidos per capita, entre os quais destacam-se a forte tendência de substituição do renovável e necessário pelo descartável e fugaz, e o aumento do valor agregado de manufaturados pela inserção de subprodutos na cadeia produtiva. No Brasil, uma pesquisa realizada pelo IPT/CEMPRE (1995) apud TÁVORA JÚNIOR et al. (2000) apontou o aumento na quantidade de lixo gerado, destacando uma rápida mudança na composição do lixo urbano, com o decréscimo dos resíduos orgânicos facilmente degradados – 76% em 1965 para cerca de 47% em 1990 – e uma maior presença de resíduos inertes ou lentamente biodegradáveis, embora os primeiros continuem sendo a fração predominante. -7- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Em seu trabalho, LIMA et al. (2000b) apresentaram uma série histórica de dados sobre a composição gravimétrica do lixo urbano no município do Rio de Janeiro, verificando uma estreita relação entre o percentual de matéria orgânica e o poder aquisitivo da população. Os autores observaram, ainda, uma nítida tendência de queda na proporção de papel e papelão, atribuindo tal fato à substituição destes materiais por embalagens plásticas e à maior reciclagem dos mesmos. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos descreve a forte correlação observada entre o incremento da geração de resíduos sólidos urbanos e o crescimento da atividade econômica, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB) e pelos gastos no consumo, estimando um volume total de 217 milhões de toneladas de lixo urbano em 1997, cerca de aproximadamente 1,5 kg/hab.dia. Este montante é bem superior àquele reportado no período entre 1960 e 1990, que subiu de aproximadamente 90 para 200 milhões de toneladas/ano. Papel e papelão, e os resíduos orgânicos vegetais – podas, folhagens, restos de jardinagem, capina e roçagem – foram as duas maiores categorias identificadas, respectivamente, respondendo por 51% da massa de lixo urbano. (EPA, 1999). O papel é o maior constituinte do lixo urbano em países industrializados, 40% nos Estados Unidos e 33% no Reino Unido (CAIRNCROSS, 1993). Ademais, face às rápidas mudanças nos hábitos de consumo e da escala de produção industrial, a escolha da melhor tecnologia para tratamento dos resíduos sólidos, bem como a determinação da forma mais adequada de dispô-los no meio ambiente, tornou-se uma equação crucial e de difícil solução. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada em 1991 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e de Estatística (IBGE), estimou uma produção diária de 90.000 toneladas de lixo doméstico no Brasil, sendo uma grande parcela não coletada ou descartada em locais impróprios, próximos à população e cursos d’água, enquanto que do volume coletado, 76% eram transportados para lixões, locais sem nenhuma infra-estrutura, igualmente inapropriados à destinação final dos rejeitos. -8- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ A Figura 3.1 apresenta uma compilação dos dados estatísticos do censo demográfico do IBGE (1991), referentes à porcentagem da população segundo a destinação de seu lixo. Pode-se observar que o atendimento à população pelo serviço público de coleta é bem mais significativo nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, havendo uma carência maior nas regiões Norte e Nordeste. Porcentagem da população (%) 80 70 60 50 Coletado Queimado Enterrado Jogado em local impróprio * Outro 40 30 20 10 0 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Região * Terrenos baldios, rios, lagos e mares Figura 3.1: Comparação entre as diferentes regiões do território nacional quanto à destinação final dos resíduos domiciliares. Adaptado do IBGE (1991). SOARES et al. (2000) citaram um estudo do Ministério da Ação Social, no qual constatou-se que das 80 mil toneladas de resíduos geradas diariamente nas cidades, apenas a metade era coletada, sendo o restante disposto indevidamente em logradouros públicos, encostas de morros, terrenos baldios ou às margens de cursos d’água. A situação descrita é ainda pior, uma vez que o mesmo estudo ainda revela que, do volume total coletado, somente 3% têm uma destinação final adequada, enquanto os demais são transportados pelo próprio serviço de coleta até os lixões ou “bota-foras”, locais sem a mínima infra-estrutura para contenção dos poluentes e impedimento da proliferação de vetores sanitários. Conforme descrito por TÁVORA JÚNIOR et al. (2000), o despejo a céu aberto corresponde a 90% da destinação dos resíduos sólidos urbanos coletados na região Nordeste do país. -9- DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Segundo os autores, os aterros controlados e sanitários respondem, respectivamente, por 10 e 13% da disposição final do lixo coletado, estando estes últimos concentrados na região Sudeste. Usualmente, no Brasil, a incineração destina-se basicamente aos resíduos perigosos sendo, portanto, pouco praticada com o lixo urbano. Assim, este tratamento é empregado com apenas 0,1% dos resíduos sólidos, correspondente aos resíduos provenientes de centros de saúde (TÁVORA JÚNIOR et al., 2000). Segundo CAIRNCROSS (1993), os hospitais norteamericanos geram diariamente, em média, cerca de 2 kg de resíduos sólidos por leito, desde seringas e agulhas descartáveis até lençóis e restos cirúrgicos, sendo 80% destes resíduos incinerados. A compostagem e reciclagem respondem por apenas 0,9 e 2,2% do lixo urbano gerado e coletado no país (TÁVORA JÚNIOR et al., 2000). Estas estatísticas demonstram que tais alternativas de tratamento ainda têm uma utilização muito aquém de seu potencial, sendo inexpressivas quando comparadas às de outros países. Segundo PEREIRA NETO (1993) apud LEITE et al. (1996), do volume total dos resíduos coletados no país, apenas 1% destina-se às usinas de compostagem. Vale destacar que são os catadores, trabalhadores informais, de baixa renda e que, salvas raras exceções, trabalham em condições inadequadas, os responsáveis por 80% do “negócio” da reciclagem, coletando, classificando, separando e preparando os materiais recicláveis para a comercialização (DIAS, 2001). DIAS (2001) apresentou estatísticas diferentes e ainda mais preocupantes, afirmando que os serviços de coleta de lixo atendem a 76% da população urbana do país. Infelizmente, 97% dos quase 12 mil locais de destinação final dos resíduos sólidos utilizados pelas municipalidades em todo o país são impróprios e tecnicamente condenáveis – 63% são corpos d’água e 34% são vazadouros ou lixões a céu aberto – e, apenas 3%, dispostos por meios adequados – aterro sanitário, compostagem, reciclagem ou incineração. Nos Estados Unidos, os percentuais de recuperação de materiais constituintes do lixo urbano, por compostagem ou reciclagem, cresceram de 2,0 e 14,2%, em 1990, para 5,6 e 22,4%, - 10 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ respectivamente, em 1997 (EPA, 1999). A Figura 3.2 ilustra a diferente situação no Brasil e nos Estados Unidos, em 2000, concernentes ao tratamento e disposição final dos resíduos sólidos urbanos. Porcentagem da Geração (%) 60 50 53,3 Brasil (TÁVORA JÚNIOR et al., 2000) * Estados Unidos (EPA,1998) ** 40 30 24,1 23 16,7 20 10 5,9 2,2 0,9 0,1 0 Reciclagem Compostagem Incineração Aterramento Destinação Final dos RSU * Dados relativos aos resíduos coletados. ** Estimativas apresentadas no relatório para o ano de 2000. LIBÂNIO (2002) Figura 3.2: Comparação entre as alternativas empregadas na destinação final dos resíduos sólidos urbanos, no Brasil e nos Estados Unidos. 3.1.2 Alguns Aspectos sobre a Realidade em Belo Horizonte Diferentemente, a situação da limpeza urbana em Belo Horizonte é bem melhor que a realidade nacional, com atendimento de 91% de sua população, sendo 78% o índice de atendimento por coleta em vilas e favelas (PBH, 2001). Ademais, a capital mineira possui programas que visam a recuperação e reaproveitamento dos resíduos recicláveis e orgânicos. Existem duas estações de reciclagem de entulho da construção civil (Pampulha e Estoril) que produzem, juntas, cerca de 260 toneladas de material britado por dia. Este material retorna à construção civil, substituindo os agregados (areia e brita) ou o minério de ferro em obras de pavimentação, como base e sub-base de vias públicas. Entretanto, a maior parte do entulho de - 11 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ obras civis – aproximadamente 1800 toneladas/dia ou 40% da massa total de resíduos aterrados diariamente – destina-se, ainda, ao aterro sanitário do município, compondo o material de cobertura das células. Os materiais recicláveis, obtidos em locais de entrega voluntária, por veículos da Prefeitura e da Associação dos Catadores de Papel e de Materiais Recuperáveis (ASMARE), ou recolhidos junto aos estabelecimentos comerciais, instituições públicas e privadas, através de carrinhos individuais de tração humana, são levados aos galpões de triagem, nos quais os materiais são segregados e, então, encaminhados para a ASMARE para sua comercialização. A coleta seletiva de materiais recicláveis – vidro, papel/papelão, metal e plástico – é ainda bem modesta, de aproximadamente 500 a 600 toneladas/mês, ou seja, 0,5% da geração total de resíduos no município (PBH, 2001). Por sua vez, uma pequena fração dos resíduos orgânicos, constituídos da mistura de material palhoso e restos de alimentos putrescíveis, é encaminhada à unidade de compostagem, situada no aterro sanitário municipal. O composto orgânico obtido é destinado às hortas de escolas públicas e às áreas verdes da cidade, para condicionamento do solo (PBH, 2001). A Figura 3.3 apresenta um esquema geral da gestão do lixo urbano no município de Belo Horizonte. - 12 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ LIBÂNIO (2002) Figura 3.3: Destinação do lixo urbano coletado no município de Belo Horizonte. Adaptado de PBH (2001). Entretanto, apesar dos esforços da prefeitura em minimizar a quantidade de resíduos sólidos urbanos destinados ao aterro sanitário municipal, a cidade enfrentará sérios problemas para dispor de aproximadamente 3,5 a 4 mil toneladas de lixo geradas diariamente. A Central de Tratamento de Resíduos Sólidos da BR-040, único aterro sanitário do município, encontra-se em fase final de operação. A outra área disponível para a destinação do lixo urbano de Belo Horizonte, Capitão Eduardo, foi ocupada pela população na administração do ex-prefeito Ferrara, dificultando a implantação de um novo aterro sanitário naquele local, pois conflita com os interesses dos moradores da região, receosos de eventuais riscos à sua saúde e de problemas com odor e poeira, ocasionados pela proximidade deste empreendimento. Desta forma, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (SMLU) busca meios de prorrogar ao máximo o término das operações no aterro municipal, adotando, desde 1996, a técnica de - 13 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ recirculação do chorume drenado, com objetivo de acelerar o tratamento dos resíduos sólidos confinados. Todavia, apesar dos aspectos benéficos da recirculação do chorume para a estabilização da fração orgânica dos resíduos aterrados (LIMA, 1988; BALDOCHI et al., 1996; PESSIN et al., 1997; CINTRA et al., 2001b), muito ainda se desconhece sobre a real influência e magnitude de seus efeitos. Adicionalmente, é difícil de se imaginar quais os ganhos advindos deste procedimento referentes ao reaproveitamento das enormes quantidades aterradas de materiais inertes, pouco ou lentamente biodegradáveis. - 14 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.2. Possibilidades de Minimização da Geração de Resíduos Sólidos O incremento da parcela de resíduos sólidos recuperados junto aos rejeitos públicos ou provenientes das indústrias, sendo, então, reaproveitados pela atividade econômica, será a questão crucial e definitiva para o desenvolvimento sustentável da sociedade atual e futura. Entretanto, a minimização dos impactos ambientais relativos aos resíduos sólidos passa pela sensibilização dos diversos agentes – governo, indústria, comércio, sociedade civil organizada, entre outros – e por diversas ações integradas. Além disto, as alternativas usualmente adotadas mostram-se, por vezes, inadequadas à realidade local de pequenas e grandes cidades. A Figura 3.4 correlaciona algumas das diversas alternativas de recuperação dos resíduos com as respectivas etapas do processo produtivo, na geração e/ou recebimento dos rejeitos: reciclagem primária ou industrial, secundária ou pós-consumo, terciária ou química, e quaternária ou energética (TEIXEIRA et al., 1999). LIBÂNIO (2002) Figura 3.4: Possibilidades de minimização dos impactos ambientais devido à menor geração de resíduos sólidos e utilização de recursos naturais. Segundo a CETESB (1992), a minimização dos resíduos sólidos industriais objetiva a redução da sua carga poluidora, obtida pela diminuição dos volumes gerados ou de sua toxicidade, existindo, basicamente, duas estratégias possíveis a serem adotadas: redução na fonte e/ou - 15 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ reciclagem. A primeira consiste em modificações dentro do próprio processo industrial, com alterações de matérias-primas, produtos auxiliares, tecnologia ou de procedimentos operacionais. A reciclagem, por sua vez, implica na recuperação ou reuso de resíduos ou de seus constituintes que apresentem algum valor econômico. O reaproveitamento dos resíduos sólidos industriais é, hoje, uma realidade para diversos setores industriais, que se beneficiam pela aquisição de matérias-primas ou combustível de menor custo, pela redução do ônus com o tratamento e disposição de seus resíduos, ou, ainda, pela receita advinda com o recebimento e destinação final dos resíduos gerados em outras indústrias. Diversas experiências bem sucedidas são relatadas na literatura (SILVA et al., 1992; CERQUEIRA & ALVES, 1999; DIAS, 2001), com soluções que envolvem diferentes modalidades de gestão, desde o co-processamento dos resíduos sólidos, até a venda ou doação dos rejeitos sólidos em “bolsas de resíduos”. Entretanto, o cenário relativo à recuperação dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, seja através da reciclagem de alguns de seus materiais constituintes, seja através da compostagem da fração orgânica, mostra-se pouco significativo e restrito a alguns poucos elementos: metais, papel e papelão, plástico e vidro. Salvo algumas exceções, notadamente o alumínio, os índices de reciclagem e reaproveitamento no Brasil são bem inferiores aos de outros países desenvolvidos. A Figura 3.5 ilustra a evolução temporal da geração de resíduos sólidos urbanos nos Estados Unidos, e o aumento significativo da importância da reciclagem e compostagem, dentre as alternativas de disposição final. - 16 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 3.5: Crescimento da reciclagem e compostagem nos Estados Unidos, possibilitando a manutenção das quantidades de lixo urbano destinadas à incineração ou aterramento. Dados de pesquisas realizadas entre 1960 e 1997 e projeções até 2005. Adaptado de EPA (1999). Entretanto, apesar de todas as possibilidades e estratégias de minimização da geração de resíduos sólidos, enormes quantidades de resíduos ainda não se mostram potencialmente recuperáveis, seja pela inexistência de tecnologias economicamente viáveis ou pela indisponibilidade das mesmas, sendo, então, submetidos a processos de pré-tratamento ou simplesmente incinerados e/ou aterrados. Ademais, parte dos resíduos sólidos submetidos aos processos de recuperação permanecem inapropriados para uma posterior utilização. Especificamente com relação aos resíduos sólidos urbanos, os itens seguintes apresentam uma breve descrição das alternativas usualmente empregadas no pré-tratamento, tratamento e destinação final dos mesmos. Ademais, procura-se mostrar a importância da técnica de aterramento do lixo urbano dentro do quadro de alternativas existentes e, ao mesmo tempo, a necessidade de aprimoramento ou reformulação de algumas das variáveis operacionais envolvidas. - 17 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.3. Tratamento e Disposição Final dos Resíduos Sólidos Urbanos 3.3.1. Incineração A incineração, entendida como a queima controlada de resíduos sólidos ou semi-sólidos, é amplamente empregada em países desenvolvidos, nos quais a indisponibilidade de área, o elevado custo com mão-de-obra qualificada e a possibilidade de grandes investimentos iniciais, justificam a automação de processos e a adoção de operações de controle da poluição sofisticadas. Esta não é, ainda, a realidade dos países em desenvolvimento, onde a incineração tem sua aplicabilidade restrita a alguns casos, notadamente resíduos de unidades de saúde e perigosos, secagem de lodos de estações de tratamento de esgotos e outros. A incineração é mais usualmente empregada no tratamento dos resíduos sólidos industriais. A CETESB (1992) aponta a incineração como a melhor solução para tratar resíduos altamente persistentes, tóxicos e muito inflamáveis, tais como solventes e óleos não passíveis de recuperação, defensivos agrícolas halogenados e várias drogas farmacêuticas. No caso dos resíduos sólidos urbanos, sua aplicabilidade é bem mais restrita. Todavia, seu emprego justifica-se em alguns casos como, por exemplo, em grandes metrópoles, onde, por indisponibilidade de áreas, ou pelo elevado custo com o transporte dos resíduos até regiões mais distantes, a incineração se faz mais interessante que o simples aterramento. Adicionalmente, existe a possibilidade de produção de energia através da combustão do lixo urbano. Nos Estados Unidos, em 1997, 36,7 milhões de toneladas de resíduos foram queimadas (17% da geração de lixo urbano), sendo 97,6% em plantas de combustão de resíduos com geração de energia e apenas 2,4% em incineradores, sem geração de energia (EPA, 1999). Apesar dos rigorosos procedimentos operacionais na incineração dos resíduos sólidos urbanos, cerca de 25% do lixo incinerado tornam-se cinzas remanescentes da combustão, devendo-se, então, dispô-las em separado, nos aterros. O percentual de resíduos da combustão do lixo urbano pode variar conforme a eficiência e configuração dos equipamentos, e dos tipos de resíduos incinerados (EPA, 1999). - 18 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.3.2. Compostagem Num primeiro momento, a compostagem – processo aeróbio de bioestabilização da matéria orgânica – revela-se interessante devido à relativa simplicidade operacional e vasto conhecimento acerca da produção do composto, condicionador orgânico do solo. Porém, tal prática necessita fundamentalmente da separação da fração orgânica putrescível – restos de alimentos, podas de árvores e produto da capina e roçagem – dos demais constituintes do lixo urbano, seja ainda nas residências e estabelecimentos comerciais ou, posteriormente, em locais usualmente denominados “Unidades de Triagem e Compostagem (UTC)”. No primeiro caso, faz-se necessário não somente o envolvimento da comunidade, mas, também, a implementação da coleta seletiva pelo poder público e toda infra-estrutura para transformação dos materiais potencialmente recicláveis. Por sua vez, a posterior separação da fração orgânica e dos materiais recicláveis é algo extremamente difícil em larga escala pois, se realizada manualmente, requer um grande número de pessoas para segregação de quantidades modestas e, quando a automação é possível, nem sempre o ônus da instalação e manutenção pode ser acomodado no orçamento municipal. Desta forma, o emprego da técnica de compostagem fica geralmente restrito às pequenas comunidades, nas quais se verificam benefícios sócio-educativos, ainda que a receita gerada seja inferior aos custos de manutenção e operação. Em alguns casos, quando há um modelo descentralizado de gestão dos resíduos sólidos urbanos, no qual diversas instituições são coresponsáveis pela destinação e tratamento de seus resíduos, a compostagem pode se mostrar uma alternativa interessante em centros urbanos de maior porte. Semelhantemente às demais modalidades de tratamento dos resíduos sólidos, a compostagem também produz rejeitos. Após a fase final de maturação, o material é peneirado para retirada de possíveis materiais inertes, tais como pedras, fragmentos de metais, plásticos, ossos e resíduos orgânicos de difícil degradação, presentes na fração de lixo urbano utilizada quando da montagem das leiras. Os resíduos inertes, segregados do composto maturado, devem ser - 19 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ aterrados, enquanto que os rejeitos orgânicos, ainda não estabilizados, podem ser incorporados na configuração de novas leiras (PEREIRA NETO, 1999). 3.3.3. Reciclagem Utopicamente, poder-se-ia prever o reaproveitamento de toda massa de resíduos sólidos gerada na produção e consumo de mercadorias – reutilização ou reciclagem – porém, seja pela inexistência de tecnologia viável, pelo descaso ou despreparo das autoridades responsáveis, ou mesmo pela necessidade de uma grande e perpétua mobilização social, tal idéia torna-se proibitiva e impraticável. A reciclagem não é, portanto, suficientemente importante para se prescindir de um aterro e, ainda se fosse, não se poderia desconsiderar as perdas significativas inerentes ao processo de reciclagem. A EPA (1999) cita que, em média, de 5 a 10% do volume total de resíduos processados não são recuperados. 3.3.4. Aterros O aterramento dos resíduos sólidos implica no seu confinamento no solo, objetivando o tratamento e/ou disposição final dos mesmos. É a forma de destinação dos resíduos sólidos mais difundida e de menor custo (CETESB, 1992). Conforme descrito nos itens anteriores, independentemente da forma de gestão dos resíduos sólidos, a técnica de aterramento deve ser sempre considerada, seja para dispor do volume de resíduos excedentes à capacidade instalada de tratamento ou recuperação, seja para dispor dos rejeitos gerados nestes processos. Portanto, deve-se reconhecer que por mais antipática e casual que possa parecer a idéia de aterrar os rejeitos sólidos, é sempre necessário prever no balanço de massa, a destinação de consideráveis quantidades de materiais não recuperáveis para confinamento adequado no solo (Figura 3.6). - 20 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ LIBÂNIO (2002) Figura 3.6: Importância da técnica de aterramento no atual quadro de alternativas de tratamento e disposição final do lixo urbano. Os aterros devem ser capazes de conter os poluentes, reduzindo os riscos à saúde pública e ao meio ambiente, destinando-se para estes somente aqueles resíduos que contêm poluentes passíveis de atenuação no solo, por processos de degradação ou retenção físico-química (CETESB, 1992). A configuração dos aterros industriais, usualmente responsáveis pela destinação final da maior parcela dos resíduos sólidos industriais, depende basicamente da caracterização e classificação dos resíduos – perigosos (Classe I) ou não perigosos e não inertes (Classe II) – e das condições locais geotécnicas e climatológicas, podendo-se prescindir ou não de alguns elementos de projeto (CETESB, 1992). DIAS (2001) apresentou um levantamento estatístico que confirma a maior importância do aterramento dentre as outras modalidades de tratamento e destinação dos resíduos industriais no país (Figura 3.7). - 21 - DESA/UFMG Porcentagem de Resíduos Industriais (%) __________________________________________________________________________________________ 80 71,3 70 60 50 40 30 24,4 20 10 4,0 0,3 0 Aterro Co-Processamento Incinerador Tratamento Figura 3.7: Destinação final dos resíduos sólidos industriais gerados pelas empresas associadas à Abetre – Associação Brasileira de Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição Final de Resíduos Especiais. Modificado de DIAS (2001). Algumas situações podem exigir certos cuidados adicionais no aterramento dos resíduos sólidos industriais, sendo necessário o pré-tratamento dos resíduos – estabilização/solidificação – ou mesmo, a cobertura de toda a superfície exposta do aterro, eliminando-se a infiltração de água pela precipitação diretamente incidente. Apesar de todos estes cuidados, não se recomenda a disposição de certos tipos de resíduos industriais em aterros, notadamente aqueles inflamáveis, oleosos, orgânico-persistentes ou que contenham líquidos livres (CETESB, 1992). Por sua vez, os resíduos sólidos urbanos podem ser dispostos em aterros controlados ou sanitários. A operação dos aterros controlados se restringe basicamente à cobertura dos resíduos, objetivando minimizar os riscos advindos da proliferação de vetores sanitários, bem como impedir o carreamento do lixo despejado pelas águas pluviais. Ainda assim, diversos problemas não são devidamente contemplados por esta técnica de aterramento. Os aterros sanitários apresentam uma melhor infra-estrutura para o controle da poluição, dispondo de drenos para coleta de gases e líquidos lixiviados, e impermeabilização da base. Existem diferentes métodos para execução de aterros sanitários – método da trincheira, rampa - 22 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ e área – adotados em função das condições do relevo, profundidade do lençol freático, disponibilidade de área e material de cobertura, entre outros. O aterro sanitário é a forma de disposição de resíduos sólidos urbanos mais utilizada em todo o mundo, entretanto, em diversos momentos esta técnica é mal empregada (BORZACCONI et al., 1996b). No Brasil, os aterros sanitários respondem por somente 10% da disposição final dos resíduos sólidos urbanos coletados (IBGE, 1991). Existe, ainda, a possibilidade de co-disposição de resíduos urbanos e industriais em aterros. Segundo PIMENTEL JÚNIOR (1996), a co-disposição de resíduos sólidos industriais, inertes e não-inertes, com os resíduos sólidos domiciliares, em aterros sanitários, tem se mostrado uma alternativa interessante para municípios e indústrias. 3.4. Processos Anaeróbios 3.4.1. Fundamentos da Digestão Anaeróbia Os ciclos dos elementos na biosfera, ou ciclos biogeoquímicos, se caracterizam pela contínua e cíclica transformação da matéria, com o aproveitamento energético (fluxo energético) através da cadeia trófica e o contínuo intercâmbio de elementos químicos entre meio biótico e abiótico (MOTA, 1997). Mais especificamente, tais fenômenos são possíveis pela constante síntese (seres autótrofos fotossintetizantes, como vegetais e algas, ou bactérias quimiossintetizantes) e decomposição de compostos orgânicos (seres heterótrofos, consumidores ou decompositores, através da digestão aeróbia ou anaeróbia). Enquanto na decomposição aeróbia, reação inversa à fotossíntese, ocorre a oxidação completa dos compostos orgânicos, convertidos em água, gás carbônico e sais minerais, a decomposição anaeróbia resultada em subprodutos orgânicos – metano, álcoois, sulfetos, amônia – ainda passíveis de posterior oxidação. Na decomposição por via anaeróbia, diferentemente da aeróbia, o oxigênio não é utilizado como aceptor de elétrons, mas sim, outros compostos, tais como nitratos, sulfatos e o dióxido de carbono. - 23 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Na engenharia ambiental, os fundamentos da digestão anaeróbia vêm sendo aplicados na concepção de sistemas de tratamento de águas residuárias (efluentes industriais líquidos e esgotos dométicos), aterros de resíduos sólidos, digestores (lodo de esgoto sanitário, biomassa vegetal) com ou sem aproveitamento energético do biogás. As possibilidades de sucesso para redução significativa do teor de matéria orgânica em efluentes tratados por reatores anaeróbios dependem da observância de uma série de requisitos ambientais para desenvolvimento de organismos decompositores. Entre os fatores ambientais, pode-se citar a temperatura e o pH, assim como a presença de nutrientes ou de compostos em concentrações suficientemente tóxicas. Primeiramente, seja pelo fato dos microrganismos não possuírem mecanismos para controle de sua temperatura interna, seja pela intrínseca relação entre a temperatura e as taxas de reação do meio – síntese ou dissolução de compostos – os microrganismos, notadamente os anaeróbios, são bastante sensíveis às variações de temperatura. Segundo LETTINGA et al. (1996) apud CHERNICHARO (1997), existem três faixas de temperatura associadas ao crescimento microbiano: psicrófila (0 a 20oC), mesófila (20 a 45oC) e termófila (45 a 70oC). Na faixa mesófila, a temperatura ótima para a atividade metanogênica situa-se entre 30 e 35oC e, para valores de temperaturas acima desta faixa observa-se a inibição da metanogênese (ARAGÃO et al., 1999). Outra questão de grande importância diz respeito ao sistema ácido/base, descrito conjuntamente por três parâmetros de controle: pH, alcalinidade e ácidos voláteis. A faixa de pH ótima ao desenvolvimento de algum tipo de microrganismo depende de suas próprias características e também do tipo de substrato metabolizado. Os microrganismos formadores de metano se desenvolvem satisfatoriamente em uma faixa de pH bem mais restrita (pH entre 6,6 e 7,4) que os de outros grupos, tais como os acidogênicos, capazes de tolerar valores de pH abaixo de 5,0 (CHERNICHARO, 1997). Por sua vez, o efeito da toxicidade se dá, basicamente, pela presença de compostos inibidores do crescimento dos microrganismos, ou mesmo pela eliminação total da atividade microbiana. - 24 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ A toxicidade se manifesta pela presença de determinados compostos em concentrações nocivas à atividade biológica, tais como cátions de sais inorgânicos dissolvidos (Na+, NH4+, K+ e outros), amônia (amônia livre, mais tóxica, ou íon amônia, menos tóxica), sulfeto (forma não dissociada, mais tóxica, ou dissociada, menos tóxica), metais pesados (Cr, Ni, Zn, Cu), e outras toxinas inorgânicas (cianetos) e orgânicas (detergentes, pesticidas). Finalmente, deve-se ressaltar a necessidade de suprimento dos requisitos nutricionais, macronutrientes e micronutrientes. MALINA (1992) apud NASCIMENTO et al. (1996) propõe a seguinte aproximação para descrever a composição química típica das células procarióticas: C60H87O23N12P, com teores de 12 a 13% em peso de nitrogênio e 2 a 3% de fósforo. Ainda segundo o autor, o desempenho de todo o processo anaeróbio pode ficar comprometido caso não se satisfaçam todos os requisitos nutricionais para o metabolismo microbiano: energia (carbono), macronutrientes inorgânicos (nitrogênio e fósforo), micronutrientes inorgânicos principais (enxofre, potássio, cálcio, magnésio, ferro, sódio e cloro) e secundários (zinco, manganês, molibdênio, selênio, cobalto, cobre, níquel, vanádio e tungstênio), bem como fatores orgânicos de crescimento (vitaminas, aminoácidos, pirimidinas e outros). 3.4.2. Digestão anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos aterrados A digestão anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos em aterros é, usualmente, sub-dividida em três etapas: decomposição aeróbia, fermentação e, por fim, metanogênese. Conforme descrito pelo IPT/CEMPRE (2000), a decomposição aeróbia é relativamente curta, com duração média de aproximadamente um mês, período no qual a quantidade ainda disponível de oxigênio é consumida rapidamente. Segundo LO (1996) apud IPT/CEMPRE (2000), em aterros rasos, com profundidades de até 3 metros, esta fase pode perdurar mais tempo. A etapa seguinte de fermentação pode ser entendida como a sucessão de três momentos distintos: hidrólise, acidogênese e acetogênese. Estas etapas ocorrem de forma semelhante ao - 25 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ que foi descrito no item anterior, com a conversão do material orgânico particulado em compostos mais simples, solúveis, assimiláveis pelos microrganismos. Durante este período, o lixiviado drenado de aterros sanitários caracteriza-se por uma elevada concentração de nitrogênio amoniacal e ácidos graxos voláteis, com a solubilização de materiais inorgânicos e metais pesados (IPT/CEMPRE, 2000). Se mantidas condições minimamente favoráveis, desenvolver-se-á um grupo específico de microrganismos responsáveis pelo consumo dos ácidos orgânicos simples: as arqueas metanogênicas. Estes microrganismos, se valendo da grande disponibilidade de substrato acidificado para seu metabolismo, produzem grandes quantidades de metano que, por ser pouco solúvel, perde-se facilmente para a atmosfera ou, preferivelmente, é tratado e/ou aproveitado na geração de energia. Por fim, após a redução da concentração de ácidos voláteis, restam os compostos recalcitrantes, de difícil degradação bioquímica, como os ácidos fúlvicos e húmicos, resultantes da decomposição de tecido vegetal morto, que contribuem significativamente para a coloração escura do chorume nesta etapa (IPT/CEMPRE, 2000). LIMA (2000a) propõe, ainda, uma fase posterior à metanogênese, denominada de “fase alcalinogênica”, caracterizada essencialmente pela formação de hidróxidos e a precipitação de metais pesados que se tornam, assim, mais estáveis e pouco solúveis. Conforme descrito por CHERNICHARO (1997), a degradação de certos compostos orgânicos podem resultar no incremento da alcalinidade do meio – por exemplo, conversão de ácidos graxos voláteis intermediários, proteínas e aminoácidos, com a formação de bicarbonatos. Entretanto, apesar de haver uma compreensão geral do encadeamento e das fases de decomposição anaeróbia do lixo urbano aterrado, faz-se necessário o entendimento mais completo e aprofundado dos fenômenos observados. Isto, passa, primeiramente, pela caracterização do lixo, através da determinação de suas propriedades físico-químicas e da comunidade microbiana presente. - 26 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Neste sentido, a determinação da composição química do lixo é, por certo, uma ferramenta valiosa para a elaboração de diagnósticos precisos e de modelos probabilísticos para estimativas do comportamento de variáveis de controle: carga orgânica dos líquidos lixiviados, produção de biogás, lixiviação de metais, solubilização de compostos tóxicos e outros. Segundo GOMES et al. (1999), a celulose constitui a maior fração de carbono orgânico nos resíduos sólidos. Em seu trabalho, os autores verificaram a degradação da celulose a açúcares e ácidos orgânicos, afirmando o potencial dos microrganismos anaeróbios celulolíticos na degradação da fração celulósica dos resíduos sólidos urbanos. Ademais, faz-se também necessário o monitoramento da evolução temporal das condições de biodegradação anaeróbia dos resíduos, o que possibilita a identificação e correção de situações anômalas de temperatura, umidade, pressão, acidez e outros. A determinação in situ da temperatura no interior das células de aterramento pode fornecer dados importantes sobre a digestão anaeróbia do lixo. ARAGÃO et al. (1999) aferiram, através do uso de termopares, uma grande variação de temperatura a partir da superfície do aterro, da ordem de 27 a 56oC, atribuindo tais resultados ao aumento da umidade e, conseqüentemente, da atividade microbiana nas zonas mais profundas. O mesmo autor ainda cita como possível causa da elevação da temperatura, a conversão de óxidos de cálcio e magnésio a hidróxidos, com liberação de grande quantidade de calor. TCHOBANOGLOUS et al. (1993) descreveram que a degradação da massa orgânica de resíduos é acompanhada pela elevação da temperatura. O teor de umidade constitui-se em outro fator de interesse. CHRISTENSEN et al. (1989) apud HAMADA (1997) estimaram o consumo de água durante a decomposição anaeróbia dos constituintes orgânicos facilmente degradáveis através da seguinte formulação química aproximada: C66H111O50N + 16H2O → 35CH4 + 33CO2 + NH3 - 27 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Alguns autores propuseram faixas ótimas de umidade, correspondentes às condições nas quais a biodigestão anaeróbia da fração putrescível se processa em taxas elevadas. PINTO et al. (2000b), ao se reportar à literatura, comentou que um teor de umidade igual a 74% é ideal para ocorrer a metanogênese. Segundo PALMA et al. (2000), observa-se uma notável melhoria no processo de bioestabilização da fração orgânica dos resíduos aterrados quando o teor de umidade situa-se entre 50 e 70%. Todavia, aparentemente, não faz nenhum sentido a definição de um limite máximo de umidade para a digestão anaeróbia. Esta preocupação se justifica somente na biodegradação de resíduos orgânicos por via aeróbia – por exemplo, na compostagem – pois, neste caso, um alto teor de umidade pode ocasionar a colmatação de macroporos, restringindo a disponibilidade de ar e, conseqüentemente, de oxigênio no meio. Se por um lado, é usualmente simples a verificação e manutenção de condições ambientais adequadas para o desenvolvimento da comunidade de microrganismos decompositores, por outro, o amplo entendimento das interações entre os seus diversos grupos, bem como a definição precisa de seus papéis na complicada trama da biodigestão dos resíduos aterrados, nem sempre é fácil ou, mesmo, possível. BARLAZ et al. (1990) apud GOMES et al. (1999) destacaram a necessidade de uma melhor compreensão da comunidade de microrganismos em aterros sanitários, definido-se, claramente, os níveis tróficos existentes e, em particular, as relações entre bactérias acetogênicas e arqueas metanogênicas hidrogenotróficas na competição pelo mesmo substrato gasoso. Várias pesquisas têm apresentado esforços neste sentido, dentre as quais merecem destaque as referenciadas por BALDOCHI et al. (1996), que citam diversos estudos nos quais muitas das espécies de microrganismos envolvidos nos processos anaeróbios de degradação dos RSU foram isoladas e identificadas: arqueas metanogênicas – Methanosarcina sp, Methanobrevibacter sp, Methanobacterium sp, Methanosarcina barkeri, Methanogenium sp – e bactérias acidogênicas – Megasphaera elsdenii, Selenomonas sp. - 28 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ SOARES et al. (2000) citaram alguns trabalhos que registram um alto grau de contaminação dos resíduos sólidos domésticos por microrganismos patogênicos. Entre os trabalhos referenciados, deve-se destacar os de ALTHUS et al. (1983) e de ZANON e EIGENHEER (1991), ambos afirmando que os resíduos domiciliares apresentam maior contaminação que os resíduos de serviços de saúde, bem como o estudo de COLLINS e KENNEDY (1992) que alertaram para o risco de contaminação microbiana do chorume de aterros, após serem identificadas várias espécies de patógenos. TUMBERG (1991) apud SOARES et al. (2000) atribuiu a elevada contaminação dos resíduos domiciliares à eventual presença de fezes, sangue, excreções e secreções em lenços de papel, absorventes higiênicos, preservativos, curativos, seringas e outros descartáveis. Entretanto, SOARES et al. (2000) alertaram para a incorreção quando da análise somente do número de microrganismos encontrados, desconsiderando-se a cepa a qual pertencem. Os autores ressalvaram que as cepas presentes nos resíduos hospitalares são mais resistentes que aquelas presentes nos resíduos domiciliares e, portanto, oferecem um risco maior à saúde pública. Assim, justifica-se a preocupação de confinamento em separado dos resíduos de centros de saúde em aterros sanitários. Finalmente, o conhecimento prévio dos tempos médios usualmente observados na degradação dos diversos constituintes do lixo urbano aterrado, bem como das taxas pelas quais se processam tais fenômenos, permite a elaboração de estudos de concepção e dimensionamentos da infra-estrutura de aterros com maior precisão e acuidade. Na avaliação da inoculação da digestão de RSU com lodo de esgoto sanitário, LEITE et al. (1999) verificaram um tempo de bioestabilização da fração orgânica putrescível dos resíduos sólidos urbanos superior a 600 dias. Segundo HAMADA (1997), sob condições normais de operação, os resíduos considerados “rapidamente biodegradáveis” – restos de alimentos, papel, papelão – levam, em média, 6 anos para sua estabilização. Por sua vez, os resíduos “lentamente biodegradáveis” – têxteis, madeira – necessitam de um período bem maior, estimando-se um tempo médio para sua total estabilização de aproximadamente 16 anos. - 29 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Entretanto, os processos de biodegradação do lixo urbano confinado em aterros sanitários podem se estender por muitos anos, fazendo-se necessário o monitoramento por até mais 30 anos após o encerramento das operações de aterramento, período durante o qual ainda se pode detectar alguma produção de biogás (GONZÁLEZ et al., 1996). 3.5. Emissão de Gases A produção de gás é efeito direto do processo de estabilização de materiais orgânicos biologicamente decomponíveis. No caso dos aterros, a estabilização dos resíduos orgânicos ocorre basicamente por via anaeróbia e, portanto, os subprodutos gasosos do metabolismo intracelular são majoritariamente o gás metano e o dióxido de carbono e, em menor monta, gás sulfídrico e outros, cabendo ainda ressaltar que, normalmente, os gases de aterro encontram-se saturados de vapor d’água (IPT/CEMPRE, 2000). A proporção destes gases no biogás gerado em aterros, é função das condições de biodigestão existentes – substrato, presença das populações de bactérias específicas, equilíbrio entre os grupos de microrganismos, pressão parcial do gás dissolvido na fase líquida, e outros – sendo variáveis ao longo do tempo, com a sucessão de fases mais ou menos definidas. Enquanto, por um lado, a produção de biogás é desejável do ponto de vista do seu aproveitamento como matriz energética, por outro lado, diversos riscos estão associados à migração do biogás em aterros. GANDOLLA (2000) ressaltou que a migração dos gases e sua progressiva diluição não diminuem seu perigo potencial, haja visto que a mistura do gás metano com o ar é inflamável mesmo em baixas proporções (5 a 15%). Devem ser citados, ainda, os problemas relativos à emanação de maus odores, notadamente devido à presença de gás sulfídrico, assim como os prejuízos ambientais ocasionados pela emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa, tais como CH4 e CO2. - 30 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.6. Poluição por Lixiviado de Aterros 3.6.1. Fatores Determinantes da Vazão e das Características FísicoQuímicas do Chorume A vazão e as características do chorume estão intrinsecamente relacionadas e dependem, basicamente, das condições climatológicas e hidrogeológicas existentes na região do aterro (precipitação pluviométrica, contribuições pelo escoamento superficial ou subterrâneo), das características dos resíduos aterrados (teor de umidade, composição química de seus constituintes), e, por fim, da infra-estrutura e das condições de operação do aterro (existência de drenos para coleção das águas superficiais, tipo de material utilizado na cobertura das células de aterramento, grau de compactação dos resíduos, recirculação ou não dos líquidos lixiviados). Desta forma, ao se considerar os limites do volume de resíduos aterrados, todos estes fatores impõem as condições de contorno do problema, sendo possível , então, estimar a produção dos líquidos lixiviados e a concentração de seus poluentes através do balanço hídrico e de massa, identificando-se as mais significativas contribuições e perdas de massa e de água no sistema. A compreensão do balanço de massa e do balanço hídrico, com a identificação das principais rotas metabólicas de transformação microbiana do substrato orgânico e de assimilação de nutrientes, permite dimensionar apropriadamente as unidades de tratamento do chorume. Adicionalmente, o balanço de massa e o balanço hídrico são ferramentas essenciais para a construção de modelos teóricos que possibilitam vislumbrar cenários futuros prováveis, sendo possível estimar o tempo médio para observação dos diversos estágios de degradação dos resíduos sólidos. - 31 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ TCHOBANOGLOUS (1993) apresentou uma equação geral para o balanço hídrico de um aterro, computando-se toda a massa de água por unidade de área para uma determinada camada. Além do teor de umidade presente no lixo a ser confinado e no material de cobertura, deve-se prever a infiltração de água superficial e as perdas de água na formação do biogás, como vapor d’água saturado, assim como na evaporação e na drenagem do lixiviado. Assim, após o cálculo da variação da quantidade de água armazenada no interior do aterro e, considerando-se a capacidade de campo, ou seja, a capacidade de retenção de água submetida ao empuxo gravitacional, pode-se estimar a produção do chorume. Por sua vez, o balanço de massa traduz-se na metabolização contínua, por via anaeróbia, da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos, lentamente ou rapidamente biodegradáveis, por comunidades de microorganismos decompositores, principalmente fungos e bactérias saprófitas. Os fenômenos físico-químicos observados ao longo do lento mecanismo de conversão microbiana dos compostos orgânicos encontram-se descritos em maiores detalhes nos itens 3.4.1 e 3.4.2. - 32 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.6.2. Alternativas de tratamento do chorume Existem diversas alternativas para o tratamento dos líquidos lixiviados de aterro sanitário que, sob uma perspectiva mais geral, podem ser classificadas em três grandes grupos: tratamento por meio de equipamentos e unidades internas aos limites do próprio aterro – tratamento in situ –, tratamento conjunto com o esgoto sanitário em estações localizadas fora dos domínios do aterro, ou mesmo, a combinação das duas possibilidades anteriores. Nos Estados Unidos, a opção mais comum de tratamento do chorume se dá através de sua descarga na rede pública de esgotamento sanitário, e tratamento combinado com o esgoto doméstico. Entretanto, diversos estudos mostram que, caso a aplicação do lixiviado for superior a 2% da carga hidráulica afluente de esgoto sanitário, as estações de tratamento de esgoto podem ter suas operações prejudicadas (EPA, 1995). ROBINSON & MARIS (1985) apud CLARETO et al. (1996) constataram que o tratamento combinado do chorume e das águas residuárias, através de processo aeróbio, foi capaz de remover DBO e DQO com eficiência superior a 90%. Por sua vez, independentemente do local de tratamento dos líquidos lixiviados, sob a perspectiva da natureza dos processos envolvidos na remoção dos poluentes, o tratamento do chorume usualmente envolve ambas ou alguma das seguintes modalidades de processo: físico-químico e biológico. O tratamento físico-químico do chorume pode envolver o emprego de diversas tecnologias, dentre as quais pode-se citar: diluição, filtração/ultrafiltração, coagulação/floculação, precipitação, sedimentação, adsorção/absorção, troca iônica, oxidação química, osmose reversa, evaporação/vaporização e lavagem com ar (QASIM & CHIANG, 1994 e CHRISTENSEN et al., 1989 apud IPT/CEMPRE, 2000). ARRUDA et al. (1996) apud PESSIN et al. (1997) citaram que a eficiência do tratamento físico-químico do chorume do aterro sanitário de São Giácomo (Caxias do Sul – RS), no qual se empregam operações de coagulação, floculação, sedimentação, filtração e oxidação, tem atingido valores de 60% de remoção de metais pesados e 30% de DQO. - 33 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ SILVA et al. (2000) ressaltaram que a eficiência da precipitação química depende da quantidade e do controle da dosagem do produto, citando valores de 80 a 90% de remoção de sólidos suspensos, 70 a 80% de DBO5 e 80 a 90% de bactérias. Estes autores sugeriram ainda a aplicação de cloreto férrico como coagulante/floculante, ao invés sulfato de alumínio, devido ao elevado grau de impurezas deste último e à dificuldade de solubilização em elevadas concentrações. É ainda possível o emprego de processos físico-químicos no tratamento de lixiviados oriundos de aterros que apresentam baixa relação área/volume e, conseqüentemente, menor vazão drenada. Isto se justifica pois, o aumento do consumo de produtos químicos não é proporcional ao incremento da concentração de contaminantes no chorume. FORGIE (1988) apud HAMADA et al. (2000) diz ser indicado o tratamento biológico (aeróbio ou anaeróbio) do chorume quando o mesmo apresenta elevada DQO (acima de 10.000 mg/L), baixa concentração de nitrogênio amoniacal, uma relação DBO5/DQO entre 0,4 e 0,8 e elevada concentração de ácidos graxos voláteis. No caso de um chorume mais antigo, com DQO na faixa de 1.500 a 3.000 mg/L, DBO5/DQO menor que 0,4 e elevada concentração de nitrogênio amoniacal, o autor indica o tratamento físico-químico, sendo ainda interessante o emprego do tratamento aeróbio como auxiliar na remoção de nitrogênio amoniacal (N-NH3 ou N-NH4+). Para uma relação DBO5/DQO muito baixa, menor que 0,1, possivelmente devido à baixa concentração de ácidos voláteis, a única alternativa apontada é o tratamento físico-químico. Segundo HAMADA et al. (2000), o tratamento físico-químico deve ser entendido como uma alternativa complementar ao tratamento biológico pois, se considerado isoladamente, sua aplicabilidade fica restrita ao chorume proveniente de aterros bastante antigos. Entretanto, não é correto imaginar que o tratamento do chorume, drenado em células antigas de aterro sanitário, encontra-se restrito aos processos físico-químicos. Alguns trabalhos afirmaram que a vermicompostagem propicia um efetivo arrefecimento das cargas poluidoras do lixiviado de células antigas (BIDONE, 1999; REICHERT et al., 2000). Em seu experimento, REICHERT et al. (2000) utilizaram o chorume para a rega de leiras constituídas de composto de lixo urbano e estrume bovino, na presença ou ausência de minhocas (minhoca - 34 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ vermelha da Califórnia, Eisenia Foetida). Em ambos os casos, ou seja, durante a vermicompostagem ou após a obtenção do vermicomposto, os autores aferiram uma elevada remoção das cargas orgânicas, metais pesados e, principalmente, nitrogênio total Kjeldahl, atribuindo tal fato à capacidade quelante e complexante do húmus. Algumas outras modalidades de tratamento biológico consistem na aplicação do lixiviado de aterros em ecossistemas especiais, wetlands naturais ou construídos, com a metabolização dos compostos orgânicos, e incorporação e fixação de poluentes na biomassa vegetal (GOMES et al., 1996; GSCHLOBL et al., 1998; ROBINSON et al., 1991 apud FERREIRA et al., 2001). A partir da constatação da elevada produtividade de biomassa vegetal em um banhado recebendo o lixiviado de aterro sanitário, previamente tratado em reatores anaeróbios e num sistema de lagoas de estabilização e maturação, WALDEMAR (2000) ressalta o elevado potencial de um conjunto de espécies de macrófitas aquáticas atuando em consórcio com microrganismos no tratamento do chorume. Existem, ainda, diversos outros tipos de tratamento biológico de chorume descritos na literatura, envolvendo o emprego de processos aeróbios e/ou anaeróbios. Os processos aeróbios incluem, necessariamente, os sistemas de lodos ativados, filtros biológicos aerados e lagoas aeradas. Por sua vez, os processos de digestão anaeróbia de lixiviados de aterros podem se dar em lagoas anaeróbias, filtros percoladores anaeróbios, reatores UASB e outros. EPA (1995) citou que, na impossibilidade de tratamento combinado do esgoto doméstico com o chorume diretamente lançado na rede pública de coleta, sem nenhum tratamento prévio, o sistema de lagoas de estabilização – lagoas aeradas ou facultativas – mostra-se uma alternativa interessante. O pré-tratamento em sistemas de lagoas de estabilização é capaz de tratar líquidos lixiviados com DBO < 100 mg/L e promover a nitrificação, viabilizando o tratamento posterior destes efluentes conjuntamente com o esgoto sanitário. Semelhantemente, MAEHLUM et al. (1995) apud FERREIRA et al. (2001) comentaram que as lagoas aeradas são utilizadas como etapa que precede o tratamento combinado do chorume em estações de tratamento de esgoto. - 35 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Adicionalmente, em seu estudo de concepção para implantação de um sistema de tratamento de lixiviado de aterro sanitário, HAMADA et al. (2000) apontaram o tratamento anaeróbio seguido de lagoa facultativa como uma alternativa bastante interessante. Enquanto o primeiro é recomendável para redução de elevadas cargas orgânicas, a lagoa facultativa, na ausência de bacias de equalização e devido à sua elevada capacidade volumétrica, torna-se capaz de responder bem às variações de carga hidráulica aplicada, bem como de promover a nitrificação e desnitrificação. BORZACCONI et al. (1996a), avaliando experiências passadas, consideraram a combinação do tratamento anaeróbio seguido do aeróbio como a melhor alternativa. Alguns autores consideram os processos de tratamento do chorume por via anaeróbia mais vantajosos que os aeróbios (IGLESIAS et al., 1999; BORZACCONI et al., 1999 apud FERREIRA et al., 2001) e, usualmente, recomendam seu emprego quando do tratamento de chorume proveniente de aterros “jovens”, com elevada carga orgânica e razão DBO/DQO. Conforme descrito pela EPA (1995), o tratamento anaeróbio do chorume com tais características propicia uma remoção maior ou igual a 90% da DBO afluente. Entretanto, devido à elevada carga orgânica do chorume acidificado, correspondente às fases iniciais de digestão dos RSU em aterros, com a fermentação pela hidrólise de polímeros e formação de ácidos orgânicos, BOOPATHY e TILCHE (1991) apud CLARETO et al. (1996) sugeriram a utilização de reatores compartimentados para o tratamento do chorume, ao invés daqueles de câmara única. Os filtros biológicos, dentre as alternativas de tratamento por via anaeróbia, são uma das modalidades mais extensivamente pesquisadas. BIDONE et al. (1997) afirmaram que a utilização de aparas de couro “wet blue” como meio suporte de filtros percoladores no tratamento de lixiviados de aterros é uma interessante opção técnica e econômica. Além disto, deve-se também ressaltar o grande potencial de aplicação dos reatores anaeróbios de fluxo ascendente e manta de lodo (reatores UASB) no tratamento dos líquidos lixiviados de aterros sanitários. IPT/CEMPRE (2000) apontaram o reator UASB como uma alternativa - 36 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ “privilegiada” para o tratamento do chorume, justificando tal assertiva pela pequena área requerida, baixo custo de implantação e relativa simplicidade operacional do sistema. BARRUETA & CASTRILLÓN (1992) apud CLARETO et al. (1996) observaram uma eficiência de remoção de DBO de 88% para o tratamento de chorume em reator UASB operando com um tempo de detenção hidráulica de 2,4 dias. Além da já reconhecida capacidade e viabilidade de tratamento dos esgotos municipais em reatores UASB, SIEGFRIED et al. (1996) discursaram acerca da utilização destes reatores para o tratamento de diversos outros tipos de efluentes no Brasil: vinhaça gerada na produção do álcool etílico, efluentes das indústrias de papel, amido, laticínios e cerveja. Entretanto, especificamente quanto ao tratamento do lixiviado de aterros sanitários em reator UASB, ainda não se dispõem de muitos dados sobre a partida destes reatores (IPT/CEMPRE, 2000). Por fim, a recirculação do chorume para as células do aterro, além dos benefícios advindos da inoculação da digestão anaeróbia do lixo urbano aterrado (item 3.7.1), se apresenta como uma interessante alternativa para o tratamento do chorume. Esta técnica de tratamento combina uma etapa de pré-tratamento anaeróbio no interior do aterro, com a perda por evaporação dos líquidos recirculados. Em regiões com condições climáticas favoráveis (temperatura, ventos, radiação solar), a evaporação de parte dos líquidos lixiviados que retornam ao aterro propicia uma considerável redução da demanda sobre as unidades de tratamento (IPT/CEMPRE, 2000). Segundo FERREIRA et al. (2001), a recirculação do chorume permite uma maior flexibilidade operacional ao possibilitar o gerenciamento das vazões afluentes às unidades de tratamento. A Figura 3.8 apresenta um resumo das principais possibilidades de tratamento dos líquidos lixiviados de aterros sanitários. - 37 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 3.8: Alternativas de tratamento dos líquidos lixiviados de aterros sanitários por processos biológicos e físico-químicos, em unidades de tratamento próprias ou em estação de tratamento de esgoto sanitário. - 38 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.7. Aprimoramento da Operação de Aterros A busca pelo aprimoramento dos procedimentos operacionais em aterros, seja pela necessidade de se estender ao máximo o tempo de vida útil dos mesmos, através da aceleração do processo de estabilização da fração putrescível dos resíduos, seja pela maior exigência no cumprimento à legislação ambiental, transcrita em parâmetros de controle mais rigorosos e restritivos, tornou-se uma das principais questões abordadas por pesquisadores e instituições envolvidas com o projeto e gerenciamento de aterros. CAIRNCROSS (1993) citou estimativas da Agência de Proteção Ambiental norte-americana, segundo as quais, até 2006, haveria uma redução de 80% do número de aterros em operação nos Estados Unidos. Em seu relatório sobre a situação dos resíduos sólidos urbanos nos Estados Unidos, a EPA (1999) confirmou a redução do número de aterros em operação, ressaltando, porém, que a capacidade para aterramento se manteve constante. O relatório informou que, para 42 estados americanos, ainda restavam mais de 10 anos de capacidade de aterramento e, em outros 6 estados, a capacidade já havia se esgotado. Segundo CAINRCROSS (1993), a capacidade de operação dos aterros na Holanda já se esgotara, e prevê o mesmo para o Japão até 2005, atribuindo a indisponibilidade de área para aterramento às crescentes exigências da legislação ambiental, com maior controle e regulação da atividade, e não propriamente, à inexistência de espaço físico. O aprimoramento das operações e da concepção dos aterros sanitários é uma necessidade verificada em vários países. CAIRNCROSS (1993) citou um estudo realizado no Reino Unido, divulgado em 1990, o qual descreve um quadro alarmante quanto à realidade dos aterros naquele país. Segundo este estudo, dos 100 aterros pesquisados, 62% não apresentavam medidas para drenagem da água de chuva superficial, 54% não verificavam a possível contaminação das águas subterrâneas nas áreas adjacentes, 63% não dispunham de poços para monitorar o acúmulo de gases tóxicos, e 80% não se preocupavam com a gestão de odores. - 39 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ O simples confinamento dos resíduos no solo, ainda que de forma adequada, com a drenagem e tratamento dos líquidos lixiviados, controle da emissão de gases tóxicos, poeira e demais matérias particulados, e gestão de odores, não mais atende às demandas de grandes centros urbanos. Cada vez mais, faz-se necessário entender e conceber os aterros de lixo urbano não como meros volumes recipientes de materiais indesejados, mas sim, como “reatores”, devendo-se, então, operá-los como tal. Neste sentido, a inoculação da digestão anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos aterrados é uma das variáveis de controle mais importantes. 3.7.1. Inoculação da digestão anaeróbia dos RSU A inoculação da massa de RSU com organismos metanogênicos é essencial para aceleração da etapa de produção de metano (COLMANETTI et al., 2000). Este procedimento pode se dar de diversas formas: recirculação do chorume, recirculação do chorume com adição de algum inóculo – rúmen e/ou fezes de bovinos, lodo biológico proveniente do tratamento anaeróbio de esgoto sanitário, efluente industrial (LEITE, 1997) ou do próprio chorume, ou ainda, uma combinação de alguns destes materiais – ou, apenas, recirculação de lodos concentrados. 3.7.1.1. Recirculação do chorume A técnica da recirculação de chorume é uma das formas mais conhecidas e empregadas na promoção da digestão acelerada dos resíduos sólidos urbanos confinados em aterros. Segundo PALMA et al. (2000), a técnica de recirculação dos líquidos drenados em aterros sanitários vem sendo aplicada em diferentes países desenvolvidos da Europa, na Austrália, Estados Unidos e outros. No Brasil, LIMA (2000) descreveu diversas experiências nas quais buscouse, através da recirculação de chorume inoculado, a remediação de sítios contaminados ou a aceleração dos processos de degradação dos resíduos, em municípios de médio e grande porte. LACAVA et al. (1987) trataram o chorume em reatores de fluxo ascendente, filtro biológico e suporte poroso, de forma que se constituísse em diferentes inóculos para ensaios laboratoriais relativos à otimização da digestão anaeróbia. Utilizando diferentes tipos de inóculos, os - 40 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ autores demonstraram que o lixiviado tratado em reatores biológicos apresentou propriedades interessantes, consistindo de um complexo enzimático extracelular com capacidade celulolítica, lipolítica e proteolítica, e com elevado número de células microbianas específicas, tais como os organismos metanogênicos, termofílicos e fungos de alta capacidade celulolítica. LIMA (1984) constatou o elevado potencial da inoculação através da recirculação do chorume ao observar os efeitos sobre o processo de biodegradação. Ao final de seu doutoramento, LIMA (1988) apontou a recirculação do percolado tratado biologicamente como uma das mais promissoras tentativas de tratamento de resíduos, lembrando que tal procedimento fundamenta-se no mesmo princípio dos “lodos ativados”: refluxo da biomassa, com vistas à manutenção de uma alta concentração de microrganismos ativos. Todavia, LIMA (2000) ao comentar sobre sérios problemas advindos da recirculação do chorume tratado em lagoas de estabilização – inibição da degradação dos resíduos confinados, liberação de odores – para remediação do lixão de Santa Bárbara, em Campinas (SP), afirmou que a simples recirculação de chorume, sem inoculação prévia, não é benéfica ao processo de biodigestão dos resíduos aterrados. GANDOLLA (1983) comentou acerca dos benefícios ao fenômeno da metanogênese em aterros sanitários, consubstanciados na utilização da atividade biológica existente nas partes mais antigas do aterro, para tratamento do percolado produzido nas partes mais recentes, através da inoculação com lodo de esgoto e a recirculação de chorume bruto ou biologicamente tratado, com a adição de soluções tampão e nutrientes. Contudo, devido à presença de diversos micropoluentes orgânicos e inorgânicos no líquido drenado nas camadas inferiores dos aterros, deve-se prestar especial atenção à manutenção das condições ótimas de adaptação e crescimento de uma biomassa ativa, capaz de interagir com o substrato orgânico complexo e assimilá-lo. BALDOCHI et al. (1996) verificaram que a inoculação de reatores de RSU promoveu uma maior diversidade de espécies fluorescentes e morfologias bacterianas, favorecendo o - 41 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ desenvolvimento de algumas espécies de bactérias, notadamente aquelas de morfologia semelhante às das sarcinas metanogênicas. Além disto, os autores constataram através do potencial metanogênico (produto da atividade metanogênica pela concentração de biomassa) um elevado metabolismo celular nos reatores inoculados, concluindo pela potencialidade da utilização do chorume como inóculo na digestão anaeróbia do lixo “fresco”. POHLAND & MAYER (1973) verificaram que os procedimentos de recirculação do chorume, com adição de lodo de esgoto digerido e solução tampão, favoreceram a digestão anaeróbia dos resíduos sólidos. Posteriormente, POHLAND (1996) ressaltou os benefícios da recirculação do percolado devido ao largo alcance para a estabilização acelerada dos resíduos, dentro de um período de tempo mais curto e previsível que aquele observado em um aterro convencional. Entretanto, através da recirculação dos líquidos lixiviados de aterros sanitários, com ou sem adição de inóculo, e não somente do lodo concentrado, os benefícios à digestão anaeróbia do lixo urbano confinado não se restringem somente à inoculação de organismos metanogênicos. Esta técnica pode também ser benéfica na digestão dos resíduos aterrados, ao contribuir para a disponibilidade de nutrientes, correção do pH e manutenção do teor de água, substância e meio essencial para as mais diversas reações bioquímicas. Segundo PALMA et al. (2000), a recirculação do chorume pode ser uma opção muito interessante para a manutenção da umidade ótima no interior de aterros situados em zonas de baixo índice pluviométrico. GONZÁLEZ et al. (1996) discursaram sobre a necessidade de aprimoramento das operações convencionais em aterros sanitários, apontando a recirculação do chorume como uma das técnicas mais promissoras para tratamento dos resíduos sólidos urbanos confinados. Conforme descrito pelo autor, a recirculação do chorume permite a manutenção de uma umidade adequada aos processos de degradação dos resíduos sólidos confinados. Outra significativa vantagem na adoção deste procedimento operacional consiste na atenuação da carga poluente do chorume. PALMA et al. (2000) apontaram a recirculação do chorume - 42 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ tratado em filtro anaeróbio como um dos métodos de tratamento dos líquidos lixiviados mais atrativos e de maior aplicabilidade no Chile. Segundo PIMENTEL JÚNIOR (1996), a técnica da recirculação de chorume, além de ser benéfica para a degradação da massa de resíduos aterrada, mostrou-se eficiente no tratamento dos líquidos lixiviados do aterro sanitário de Limeira (SP), no qual se praticava a codisposição de resíduos sólidos industriais classes II e III com resíduos domiciliares. PESSIN et al. (1997) observaram uma drástica redução do potencial poluidor dos líquidos lixiviados do aterro sanitário de São Giácomo, em Caxias do Sul (RS), após 400 dias de operação de um sistema de tratamento constituído de um filtro biológico anaeróbio cujo efluente é recirculado para o interior das células. Os autores descreveram a técnica de recirculação como de fundamental importância para manutenção das condições ótimas de desenvolvimento de microrganismos anaeróbios no interior das células do aterro (pH, umidade e nutrientes), redução da carga orgânica e viabilização da etapa posterior de tratamento físico-químico. Posteriormente, após um período maior de monitoramento, PESSIN et al. (2000b) afirmaram que a célula do aterro monitorada, recebendo o chorume tratado e recirculado, apresentou comportamento análogo ao de um filtro biológico operando em regime de carregamento contínuo. Entretanto, as taxas de recirculação do chorume devem ser cuidadosamente controladas pois, caso haja uma aplicação em excesso, podem surgir problemas geotécnicos relativos à estabilidade dos taludes. PALMA et al. (2000) afirmaram que os recalques observados em aterros sanitários, operados com a recirculação dos líquidos lixiviados, estão associados, principalmente, ao colapso estrutural ocasionado pela manta líquida, e não, pela atividade microbiana de degradação dos resíduos. Adicionalmente, a infiltração do excesso de chorume recirculado pode ocasionar a poluição do solo e das águas subterrâneas (IPT/CEMPRE 2000). - 43 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.7.1.2. Outras modalidades de inoculação da digestão de RSU Algumas formas de inoculação da digestão de RSU consistem na introdução de substâncias e/ou microrganismos estranhos ao meio abiótico e biótico existente em aterros. LIMA (2000), ao apresentar os procedimentos adotados na inoculação e partida de um sistema integrado de tratamento dos resíduos aterrados, proposto pelo próprio autor, descreveu mecanismos de recombinação do genótipo de bactérias presentes no trato de ruminantes e no lixiviado de aterros sanitários – conjugação e transformação – através dos quais, torna-se-ia possível a obtenção de uma biomassa melhor adaptada ao ambiente inóspito. Entretanto, o autor parece ter desconsiderado aspectos de extrema relevância em processos de biotecnologia, referentes às técnicas de DNA recombinante, não descrevendo em maiores detalhes as condições de reação e de compatibilidade genômica entre os organismos. Outra possibilidade de utilização de inóculo “exógeno” na digestão anaeróbia do lixo urbano é a inoculação com lodo de esgoto doméstico, citada na literatura por vários pesquisadores. GANDOLLA (1983) avaliou um sistema em escala real de disposição final do lixo, no qual, antes do aterramento dos resíduos, procedia-se à segregação mecânica e inoculação dos mesmos com lodo de esgoto digerido. LEITE et al. (1996) observaram uma considerável redução no tempo de bioestabilização dos RSU inoculados com lodo de esgoto sanitário. Posteriormente, LEITE et al. (1999) constataram uma redução do tempo de bioestabilização dos líquidos percolados, diretamente proporcional a percentagem em peso de inóculo (lodo de esgoto sanitário) adicionado ao substrato. Entretanto, a inoculação da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos com o lodo de esgoto tem sua aplicabilidade comprometida, primeiramente, pela dificuldade em se estabelecer, no mesmo local, ou nas proximidades do aterro sanitário, uma planta de tratamento de águas residuárias, eliminando-se, assim, os inconvenientes relativos ao manuseio, acondicionamento e transporte do lodo. Os critérios e requisitos a serem observados na seleção de áreas para implantação de estações de tratamento de esgoto doméstico e aterros sanitários são bem diferentes. No primeiro caso, - 44 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ usualmente, buscam-se locais de menor altitude, pois o esgotamento sanitário, em quase toda sua extensão, se dá por escoamento em conduto livre, por diferença de carga potencial. Adicionalmente, por vezes, é interessante o tratamento descentralizado, em plantas menores, localizadas possivelmente próximas a corpos d’água. Diferentemente, a disposição final do lixo urbano ocorre freqüentemente em um único local, de forma centralizada, em regiões de maior cota altimétrica, suficientemente distantes do lençol freático e dos mananciais hídricos. Esta preocupação não se faz presente quando utilizado o lodo biológico proveniente do tratamento do chorume pois, em muitas situações, o tratamento ocorre in situ, em unidades de tratamento próprias, nos limites do aterro sanitário. Adicionalmente, a disposição final de lodos de esgoto sanitário em aterros, embora bastante utilizada, sofre cada vez maiores restrições e, desta forma, os indicadores atuais apontam para o crescimento do seu uso na agricultura, ou sua incineração nos grandes centros urbanos. A Comunidade Econômica Européia apresenta diretriz que proíbe a disposição de resíduos sólidos em aterros a partir de 2002, com exceção dos chamados resíduos últimos : teor de matéria orgânica e água inferior a 5% (PROSAB, 1999). Por sua vez, caso a idéia seja dispor da matéria orgânica putrescível em biodigestores, inoculados com o lodo de esgoto sanitário, para o aproveitamento energético do biogás e aplicação da fração estabilizada na agricultura, seria necessário a viabilização da coleta seletiva destes materiais ou de sua segregação em larga escala, algo ainda pouco crível. Desta forma, pelos motivos descritos anteriormente, o confinamento do lixo urbano em aterros sanitários, e a inoculação da digestão anaeróbia destes resíduos com o lodo biológico excedente, proveniente de reatores que tratam o próprio chorume, ainda se constituem numa melhor alternativa para gestão dos resíduos sólidos urbanos. Deve-se também ressaltar o fato de que, neste caso, a biomassa já se encontra aclimatada ao substrato e à toxicidade do meio. Segundo RUSSO et al. (2000a) a recirculação de lodos com concentração de sólidos superior a 90%, proveniente do tratamento do chorume por processos de separação físicos, físicoquímicos e térmicos – membranas, evaporação, adsorção e outros – juntamente com cerca de - 45 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 30% do chorume, visando facilitar seu bombeamento, é um procedimento bastante comum em vários países (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Itália, Holanda, Áustria). 3.7.2. Sistema integrado de tratamento de chorume e de resíduos sólidos urbanos Conforme descrito no item 3.7, o aterramento do lixo urbano, apesar de se constituir numa obra civil por vezes adequada à contenção de contaminantes e substâncias tóxicas presentes nos resíduos sólidos e no percolado, à eliminação de maus odores e ao impedimento da proliferação de vetores, não é uma solução viável e “auto-sustentável” quando examinadas as condições limites futuras relativas à disponibilidade de área e recursos. A escassez de áreas apropriadas não muito distantes dos centros produtores de lixo, a difícil remediação e a restrita incorporação dos aterros ao patrimônio público após seu preenchimento total, assim como a dificuldade no tratamento adequado dos líquidos e gases gerados pela degradação biológica dos resíduos sólidos, exigem o aprimoramento da concepção convencional dos aterros. LIMA (2000), ao fazer uma revisão da literatura, aponta inúmeras vantagens de um sistema postulado por ele próprio e denominado “sistema integrado”, o qual permitiria a aceleração do processo de degradação do lixo urbano aterrado em até 10 vezes, e a ampliação da vida útil dos aterros por períodos não inferiores a 20 anos. O sistema descrito consiste, basicamente, de uma célula de aterramento de lixo urbano e três reatores, dois reatores físico-químicos, e um terceiro reator biológico, com fluxo misto e crescimento de biomassa aderida a meio suporte. Segundo LIMA (2000), a execução do sistema se dá em 4 fases distintas: estudo preliminar, tratamento primário (aterramento do lixo urbano), secundário (inoculação e partida dos reatores) e terciário (abertura das células do aterro e recuperação dos resíduos sólidos aterrados). Durante a segunda etapa, os reatores atuariam em circuito fechado, com a inoculação do chorume no reator biológico e recirculação para os demais por 5 dias consecutivos e, então, para o aterro celular. Somente após a conclusão desta fase, - 46 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ correspondente à sucessão das fases acetogênica e metanogênica, haveria, então, o descarte do lixiviado drenado do aterro, empregando-se os reatores contíguos no arrefecimento de seu potencial poluidor. Diferentemente do que é descrito por LIMA (2000), o termo “sistema integrado” empregado no presente estudo, não se refere simplesmente ao tratamento dos resíduos aterrados em um conjunto “reator biológico e aterro celular”, mas sim, à possibilidade de tratamento simultâneo dos resíduos sólidos aterrados e do chorume. Esta última idéia consiste na utilização do lodo biológico excedente, produzido no tratamento do lixiviado por via anaeróbia, para a inoculação da digestão dos resíduos sólidos biodegradáveis no interior das células do aterro. A concepção de “sistema integrado” apresentada neste estudo, pressupõe, portanto, o funcionamento de um sistema de tratamento em fluxo contínuo, prevendo-se possíveis intervenções a partir do monitoramento das variáveis inerentes ao processo, sem a distinção de fases para execução de procedimentos específicos. Isto se justifica pois, na maioria das situações, por melhor que seja o planejamento e a execução das operações em aterros, é quase sempre muito difícil isolar os grupos de células mais antigas daquelas contendo resíduos recentemente aterrados. Ademais, ainda que isto fosse possível, a intervenção específica em cada célula de aterramento necessitaria de sistemas de drenagem e recirculação próprios, o que é certamente mais oneroso. A Figura 3.9 apresenta um esquema geral do conceito de sistema integrado postulado neste trabalho. - 47 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ LIBÂNIO (2002) Figura 3.9: Sistema integrado de tratamento dos RSU e do lixiviado de aterro sanitário, proposto no presente estudo. - 48 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Adicionalmente, o sistema proposto por LIMA (2000) se vale da premissa de que é viável a recuperação dos resíduos já aterrados, após a mineralização da fração orgânica putrescível, visando seu reaproveitamento econômico e, ao mesmo tempo, disponibilizando novos volumes para futuros aterramentos. Entretanto, em nenhum dos projetos existentes referenciados por LIMA (2000), o autor cita a conclusão das etapas propostas em seu sistema, ou seja, a abertura de células do aterro e o reaproveitamento do material potencialmente reciclável. A inertização ou mineralização de diversos dos materiais constituintes do lixo urbano, rapidamente ou lentamente biodegradáveis, mesmo quando propiciadas as condições ótimas de crescimento da população de microrganismos decompositores, necessitam, por vezes, de longos períodos para sua finalização. CAIRNCROSS (1993) citou o trabalho de um arqueólogo do Arizona, Estados Unidos, que ao perfurar poços em aterros sanitários, a fim de determinar o percentual de cada um dos materiais aterrados, afirmou ter encontrado folhas de jornais, datando de 1952, “tão legíveis quanto as que havia lido no seu café da manhã”. Adicionalmente, o sistema descrito por LIMA (2000), ainda que viável, é possivelmente mais oneroso que a alternativa de se promover a coleta seletiva e/ou segregação de materiais recicláveis antes de seu aterramento, considerando-se todos os esforços e recursos dispensados em sua operacionalização: aterramento, implantação e manutenção de sistemas de recirculação, desterramento e, então, segregação final dos resíduos desterrados. Por fim, pode-se imaginar um cenário bastante promissor a partir de um sistema integrado de tratamento dos resíduos sólidos e do percolado em unidades complementares, aterro celular e reator UASB, com a recirculação contínua da fase líquida e a retenção prolongada dos biossólidos. Tal perspectiva de tratamento em larga escala do lixo urbano, através da conversão hidrolítica da matéria orgânica (carboidratos, proteínas, lipídios) em subprodutos intermediários (ácidos voláteis) e destes, em produtos finais (metano, gás carbônico e água) por via anaeróbia, seja nas células do aterro ou na câmara de digestão do reator UASB, é a motivação fundamental do presente trabalho, no qual avaliar-se-á, em laboratório, sua eficiência e aplicabilidade. - 49 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 3.8. Definições importantes 3.8.1. Definição de “resíduos sólidos urbanos” Primeiramente, é importante definir claramente um dos objetos do presente estudo: os resíduos sólidos urbanos ou, simplesmente, o lixo urbano. Assim, faz-se necessário destacar algumas das definições propostas por diferentes autores e instituições envolvidas com a pesquisa do tema, a fim de se compreender melhor as limitações e abrangência de tais assertivas. Por se tratar de um material de natureza extremamente heterogênea, cujas características físicas, químicas e biológicas são as mais diversas possíveis – função da combinação de inúmeros fatores geográficos, sócio-culturais, econômicos e, por fim, ainda, sujeitos às variações temporais periódicas (diárias ou sazonais) e irreversíveis (aparecimento de novos materiais e técnicas incorporadas ao processo produtivo) – a definição dos resíduos sólidos urbanos não deve se propor a discriminar em pormenores os constituintes da massa de resíduos, mas sim, delinear o conjunto das atividades que contribuem mais diretamente para sua geração. Neste sentido, transcreve-se uma importante e abrangente definição de “resíduos sólidos” da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), apresentada na NBR 10.004 de 1987: “Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição lodos (...), bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.” Outra definição interessante é dada por BARROS (1998), que define “resíduos públicos” como sendo aqueles que: “(...) ainda que possam ser domésticos, industriais, comerciais, etc (...), produzidos por pessoas físicas e/ou instituições, interessa aqui que eles são deixados em - 50 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ logradouros públicos, cabendo ao governo municipal a função de recolhê-los e dar-lhes destino adequado.” Estas definições compreendem um universo de resíduos ou rejeitos bem mais extenso que o dos resíduos sólidos urbanos, podendo-se excluir deste último os sólidos de origem industrial, hospitalar e agrícola; os semi-sólidos, tais como os lodos de estações de tratamento de águas residuárias; e os próprios efluentes líquidos industriais. Portanto, a fim de se restringir melhor o campo de estudo, deve-se mencionar TCHOBANOGLOUS (1993) que define “resíduos sólidos municipais” : “(...) resíduos sólidos municipais incluem todos os resíduos gerados pela comunidade à exceção daqueles de origem industrial ou agrícola.” Esta definição de “resíduos sólidos municipais” (municipal solid waste or MSW) é a que melhor descreve os resíduos investigados neste estudo, podendo-se, então, entender por estes o mesmo que “resíduos sólidos urbanos” ou, simplesmente, “lixo urbano”. 3.8.2. Definição de “chorume” O IPT/CEMPRE (2000) descreve o “chorume” como um líquido de coloração escura, turvo e malcheiroso, resultante do armazenamento e tratamento do lixo. Estas instituições apresentam, ainda, outras denominações comuns deste líquido, tais como: sumeiro, chumeiro, lixiviado e percolado. A discussão pretendida neste item concentra-se nas duas últimas nomenclaturas apresentadas, percolado e lixiviado, a fim de se estabelecer critérios de diferenciação no seu uso, evitandose, assim, incorreções comuns quando do emprego destas terminologias. Segundo SILVEIRA BUENO (1980), “percolação” é a “ação ou processo de um líquido que atravessa os interstícios, como o movimento das águas no subsolo”. PRADO & SILVA - 51 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ (1979) registram dois significados de interesse: “1. Passagem lenta de um líquido através de um meio filtrante, 2. Métodos de extração ou purificação por meio de filtros”. Como se pode observar, a ação de “percolação” implica na idéia do simples movimento de um fluido através de um meio poroso, sem a solubilização de substâncias ou transporte de materiais particulados em suspensão ou, ao contrário, com a retenção de seus poluentes no meio “percolador” e conseqüente redução da concentração dos mesmos na fase líquida. Por exemplo, poder-se-ia utilizar o termo “percolado” ao se referenciar ao efluente filtrado de plantas de potabilização de água, ou às águas de mananciais subterrâneos cujas propriedades físico-químicas – concentração de sais, metais e outros – não tenham sofrido deterioração. Contrariamente, tal terminologia não se mostra adequada para denominar os líquidos drenados em células do aterro sanitário. Apesar de SILVEIRA BUENO (1980) apresentar o substantivo “percolação” como sinônimo de “lixiviação”, os outros significados listados por ele próprio conduzem a uma idéia distinta: “(...) lavagem das cinzas para extrair as partes solúveis; esgotamento de uma substância, pulverizada por líquido dissolvente”. Na descrição do dicionário AURÉLIO (1986), o termo “percolação” admite duas idéias opostas, ou seja, a transferência de poluentes da fase líquida para a sólida e vice-versa: “operação de passar um líquido através de um meio para filtrá-lo ou para extrair substâncias deste meio.” Entretanto, uma vez que o substantivo “lixiviação” é descrito neste mesmo dicionário como “(...) operação de separar de certas substâncias, por meio de lavagem, os sais nelas contidos”, tal termo implica apenas na idéia de transferência de poluentes para a fase líquida, não correspondendo totalmente ao significado de “percolação”. PRADO & SILVA (1979) citaram significados semelhantes para lixiviação: “operação que consiste em fazer passar um solvente através de um material pulverizado (como cinzas ou resíduos), para conseguir a separação de um ou vários elementos solúveis”. Tal idéia explica melhor os fenômenos que ocorrem com a águas que se infiltram na massa de resíduos aterrados, participando das reações bioquímicas de degradação dos mesmos, dissolvendo - 52 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ poluentes e carreando sólidos suspensos, e finalmente, após vencida a capacidade de campo, escoam pelos drenos construídos sobre uma base impermeável. Entretanto, o termo “lixiviado” pode ser aplicado a uma infinidade de líquidos sob diversas condições – águas pluviais em escoamento superficial sobre solos sem cobertura vegetal, água de infiltração em aterros industriais e outros – só podendo ser entendido por “chorume”, quando sua origem estiver bem explícita: aterros contendo lixo urbano. Resumidamente, enquanto as terminologias “percolação” e “percolado” dão a idéia de transferência de poluentes da fase líquida para a fase sólida, com a retenção de poluentes no leito percolador, “lixiviação” implica necessariamente no fenômeno em sentido oposto, ou seja, solubilização de substâncias da fase sólida para a fase líquida. Portanto, ou se diz “lixiviado de aterro sanitário”, “lixiviado de lixão” ou se diz, simplesmente “chorume”; e não “percolado”. 3.8.3. Definição de “inóculo” Especificamente neste trabalho, entender-se-á por inóculo, a comunidade de microrganismos decompositores – fermentativos, acidogênicos, acetogênicos ou metanogênicos – que crescem em suspensão, nos interstícios da massa de resíduos sólidos confinados nos reatores experimentais de RSU, aderidos à superfície destes resíduos, ou ainda, em suspensão na manta de lodo do reator UASB, em consórcio com demais grupos de micróbios, formando grânulos ou flocos. Assim, a inoculação pretendida ocorrerá de duas maneiras combinadas: com a recirculação do efluente tratado no reator UASB e de seu lodo biológico excedente. Ademais, será também descrita uma breve avaliação do emprego de inóculo no teste da DBO (item 4.9.2.1), o qual necessita da existência de uma biomassa aeróbia ativa, aclimatada ao substrato e à presença de fatores de inibição. Esta é uma preocupação concernente à análise de DBO para qualquer efluente de processo ou tratamento anaeróbio. - 53 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1. Plano de Amostragem dos Resíduos Sólidos Urbanos Em maio de 2001, objetivando-se o preenchimento dos nove reatores anaeróbios com os resíduos sólidos urbanos de Belo Horizonte, nos quais se simulariam diferentes condições operacionais de um aterro celular e, após a constatação da ausência de uma padronização de metodologias de amostragem e caracterização do lixo urbano, fez-se necessária à elaboração e execução de um plano de trabalho viável e adequado, respaldado por uma análise crítica de trabalhos concernentes ao tema. O plano deveria contemplar as atividades concernentes à amostragem do lixo fresco, transporte dos resíduos desde o aterro até o local do experimento, preenchimento dos reatores de RSU, determinação da composição gravimétrica, bem como a obtenção e preparação de amostras para análises laboratoriais (LIBÂNIO et al., 2001). Desta forma, após uma ampla revisão das metodologias empregadas em análises de amostras de resíduos sólidos urbanos e outros materiais (MALAVOLTA et al., 1989; ALEF & NANNIPIERI; SILVA, 1981; OHLWEILER; EMBRAPA; WHO, 1978) e da realização de inúmeras reuniões entre os docentes do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Departamento de Química da UFMG com os alunos de pós-graduação diretamente envolvidos com o experimento, definiram-se metodologias próprias para cada etapa do trabalho – amostragem, preparação das amostras e análise de parâmetros físico-químicos. As metodologias investigadas e a discussão dos pontos conflitantes nas análises dos parâmetros de interesse, constam do documento intitulado “Avaliação e Proposta Inicial de Metodologias para Análises dos Resíduos Sólidos Urbanos na Rede 4 do PROSAB” (CINTRA et al., 2001c), apresentado na reunião do PROSAB, Edital III, Tema IV, em Florianópolis. A Figura 4.1 apresenta um delineamento das diversas atividades previstas no plano de trabalho elaborado. - 54 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 4.1: Procedimentos de amostragem e caracterização dos resíduos sólidos. 4.1.1. Definição do Tipo de Amostra Inicialmente, verificou-se a possibilidade de preenchimento dos reatores com uma massa de resíduos composta de materiais segregados e não contaminados, em proporções usualmente descritas na literatura. Entretanto, devido ao grande volume dos reatores experimentais (cerca de 700 litros cada) e à preocupação com a perda do caráter fidedigno do experimento, seja pela dificuldade em se reproduzir com veracidade a atual composição do lixo urbano, seja pela interferência em fatores cujos efeitos são desconhecidos – ausência de populações de microrganismos, compostos tóxicos – tal hipótese foi rejeitada. Desta forma, escolhida a opção de amostragem do lixo urbano gerado no município, outra questão se punha ao grupo de trabalho: Como obter uma amostra representativa, evitando possíveis distorções na composição dos resíduos amostrados, considerando-se a grande variabilidade da natureza do lixo urbano e a existência das diversas atividades econômicas no município de Belo Horizonte? - 55 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Primeiramente, considerando-se a escala do experimento, correspondente a três módulos ou linhas de operação distintas com 2,1 m3 cada (3 reatores de 700 litros, por linha), tomou-se como válida a premissa de que a exclusão de materiais potencialmente tóxicos à comunidade de microrganismos decompositores era necessária. Adicionalmente, em muitos casos, não se pratica a co-disposição do lixo urbano com o lixo hospitalar – drogas farmacêuticas, seringas, materiais descartáveis contaminados e demais resíduos provenientes de farmácias, postos de saúde, hospitais, clínicas médicas, odontológicas, veterinárias e outras – que é destinado a uma célula em separado. Diferentemente, a Resolução CONAMA no 283/2001 torna facultativa a disposição em separado dos resíduos infectantes provenientes dos serviços de saúde, à exceção de medicamentos com data de validade prescrita, os quais devem ser devolvidos ao fabricante. No aterro sanitário de Belo Horizonte, a SMLU pratica a co-disposição destes resíduos com o lixo urbano desde 1999. Por sua vez, para outros resíduos perigosos, tais como pilhas e baterias, existe uma legislação em vigor – Resolução CONAMA no 257/1999 – que induz as indústrias à reciclagem ou reutilização de seus produtos, prolongando o ciclo de vida destes materiais e restringindo a disposição final dos mesmos em aterros, mesmo que, ainda, a realidade seja bastante diferente. Procurar-se-ia, então, excluir da massa de lixo amostrada todos os resíduos potencialmente tóxicos ou cujas dimensões inviabilizassem seu confinamento no interior dos reatores experimentais: pneus, mobílias, eletrodomésticos, etc. Neste sentido, buscou-se preencher os digestores (reatores de RSU) com o lixo de origem predominantemente domiciliar (ou residencial), retirando algum destes materiais da amostra, caso identificados por simples inspeção visual. - 56 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.1.2. Definição da forma de amostragem Após a definição do tipo da amostra – lixo urbano majoritariamente composto por resíduos gerados nas residências, isento de materiais potencialmente tóxicos – fez-se necessário decidir qual a forma de obtenção das amostras, se através da coleta do lixo em domicílios préestabelecidos ou se pela amostragem aleatória da carga de um veículo coletor. A primeira opção fazia-se interessante pela possibilidade de se amostrar o lixo em regiões previamente conhecidas, evitando-se, assim, resíduos de origem predominantemente comercial, hospitalar, industrial ou oriundos de atividades atípicas – feiras-livres, entulho de obras civis ou “bota-foras” – e, com isso, reduzir a probabilidade de distorções pela especificidade da natureza destes resíduos. Ademais, a etapa de segregação dos materiais seria facilitada pois os resíduos ainda não teriam sofrido uma mistura mais íntima durante a coleta por caminhão tipo “compactador”. Contudo, considerando-se as restrições de equipamento e os prazos relativamente curtos para a realização desta atividade, somadas à possibilidade de não concordância por parte dos moradores dos domicílios selecionados em ter seu lixo “investigado”, a opção de recolhimento do lixo porta a porta ficou comprometida. Logo, restou a segunda opção, ou seja, de se amostrar aleatoriamente o lixo urbano coletado e transportado até o aterro municipal. Desta forma, conjuntamente com a instituição parceira do projeto (SMLU) e, observando-se o disposto na definição do tipo de amostra (item 4.1.1), foram listados uma série de distritos de coleta que deveriam ser excluídos quando da amostragem do lixo no aterro sanitário. Estes distritos correspondiam a trechos percorridos pelos caminhões de coleta nos quais havia uma intensa densidade ocupacional por pequenos e médios estabelecimentos comerciais, industriais ou centros de saúde. Uma vez reduzida a possibilidade de amostragem de resíduos de origem predominantemente comercial, industrial ou hospitalar, e, na impossibilidade de realização de uma ampla campanha de amostragem do lixo urbano de Belo Horizonte, definiu-se pela amostragem de 9 das 10 regionais de limpeza pública do município, à exceção da regional Centro. - 57 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tal medida se justifica pelo fato de que a coleta dos resíduos nesta regional é noturna, sendo, assim, difícil adequá-la ao cronograma de trabalho. Ademais, o lixo gerado na regional centro é predominantemente comercial e, portanto, apresenta composição gravimétrica significantemente diferente à do lixo urbano amostrado nas demais regionais, nas quais Porcentagem (%) predominam residências (Figura 4.2). 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Regional Centro Belo Horizonte Comercial Residencial Geração de Resíduos Figura 4.2: Avaliação comparativa da geração média de resíduos na regional centro e em Belo Horizonte. Modificado de MERCEDES (1997). MERCEDES (1997) apresentou um levantamento das características sócio-econômicas em todas as regionais de limpeza pública do município de Belo Horizonte, no qual se verificam, através dos indicadores estatísticos, grandes diferenças entre estas regiões. Como ilustração, a Figura 4.3 apresenta uma síntese dos resultados obtidos na avaliação sócio-econômica da população de duas regionais. 40 100 30 Porcentagem (%) Porcentagem (%) Regional Barreiro Regional Sul 20 10 0 80 Regional Barreiro Regional Sul 60 40 20 0 Alto Baixo Prédios Padrão das Habitações Térreos Grau de Verticalização Figuras 4.3: Avaliação das diferentes condições sócio-econômicas entre as regionais de limpeza pública do Barreiro e Sul. Modificado de MERCEDES (1997). - 58 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.1.3. Definição dos critérios de classificação dos materiais constituintes do lixo urbano Outra dificuldade encontrada no planejamento da amostragem dos resíduos sólidos urbanos foi a adoção de critérios para segregação e classificação dos materiais constituintes da massa de resíduos. Devido à composição extremamente heterogênea e diversificada do lixo, função de uma série de variáveis sócio-econômicas, temporais e sazonais, particulares de cada região, não existe um consenso geral entre os pesquisadores ou uma regra geral previamente estabelecida na definição dos critérios classificatórios, cabendo a cada um a identificação dos critérios prioritários, sejam eles referentes à natureza dos materiais, tratabilidade ou mesmo ao valor econômico agregado – por exemplo, a possibilidade ou não da reciclagem ou recuperação dos resíduos. BARROS (1998) apontou possíveis critérios para classificação dos resíduos, entre os quais pode-se citar aqueles referentes à origem (domiciliar, comercial, público), tratabilidade (biodegradável, descartável, reciclável), biodegradabilidade (facilmente, dificilmente ou não degradável) e reatividade (inerte, orgânico, reativo). Entretanto, a inexistência de uma abordagem única e amplamente aceita, que satisfaça o rigor técnico-científico, dificulta um entendimento mais amplo das características físico-químicas e biológicas dos resíduos sólidos urbanos e, conseqüentemente, a construção de modelos teóricos capazes de explicar os fenômenos de estabilização dos materiais potencialmente biodegradáveis. GOMES (1989) discursou acerca da falta de apresentação franca das metodologias de amostragem empregadas para determinação da composição física dos resíduos sólidos, apontando tal problema como um grande empecilho à realização de pesquisas futuras na área. O autor alerta ainda para a necessidade de uma maior normatização neste campo de estudo. - 59 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ CASTILHOS JÚNIOR apud PINTO (2000b) ressaltou que a variedade e a complexidade dos resíduos sólidos são uma questão delicada do ponto de vista experimental, devido à dificuldade em se reproduzir os experimentos quando se utiliza, como substrato, pequenas quantidades de resíduos. Além disso, a sua aplicação fica limitada para estudos em diferentes locais e momentos. Havia duas possibilidades a serem consideradas: a relação de materiais apresentada na literatura especializada ou a identificação dos principais materiais constituintes do lixo urbano de Belo Horizonte em trabalhos de caracterização física preliminares, antes do início do experimento. Por não se encontrarem disponíveis dados atualizados e confiáveis na região de interesse do estudo, uma vez que o estudo mais recente (MERCEDES, 1997) reportava-se a um trabalho desenvolvido entre maio de 1995 a maio de 1996 pela extinta autarquia SLU (Superintendência de Limpeza Urbana), optou-se pela realização de estudos prévios de determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos de Belo Horizonte. Assim, em dezembro de 2000 e abril de 2001, foram amostrados os resíduos sólidos urbanos coletados nas regionais de limpeza publica noroeste e nordeste, respectivamente. Os resultados e conclusões concernentes a ambos os trabalhos foram descritos por COSTA et al. (2001), e se mostraram de fundamental importância na elaboração de uma proposta de classificação dos resíduos sólidos urbanos de Belo Horizonte, quando da determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos confinados nos reatores anaeróbios. Finalmente, a partir da revisão bibliográfica e, principalmente, destes trabalhos preliminares de caracterização, decidiu-se pelo critério de classificação apresentado na Tabela 4.1, elaborando-se planilhas para o registro da pesagem. Assim, cada material foi classificado como “excluído”, “não identificável” ou “identificável”, sendo este último subdividido em três grandes grupos: “rapidamente biodegradável” (grupo I), “lentamente biodegradável” (grupo II) e “inerte ou pouco biodegradável” (grupo III). - 60 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tabela 4.1: Critérios adotados para caracterização dos resíduos sólidos urbanos. Definição Grupo GRUPO III Inertes ou Pouco Biodegradáveis Categoria Vidro Metal ferroso Metal não ferroso Plástico fino Plástico duro PET Entulho Outros (1) Identificável Exemplos Embalagens, espelho, superfícies vítreas Arames, peças, lâminas Embalagens de alumínio, fios de cobre Sacos plásticos Garrafas, tampas e embalagens plásticas Garrafas de refrigerante Entulhos da construção civil, pedras Material de higiene pessoal (fraldas descartáveis, absorventes), palhas de aço, parafinas, drogas farmacêuticas, látex (borrachas, preservativos, películas), peças de couro e derivados de petróleo (isopor, espumas) Papel de escritório, jornais, revistas Embalagens de alimentos, papel higiênico Embalagens de papelão Embalagens de sucos e leite Roupas, trapos Peças de madeira, mobílias Restos de alimento, tecido animal morto Papel reciclável Papel não reciclável Papelão Lentamente Tetra Pak Biodegradáveis Tecidos Madeira Matéria Orgânica GRUPO I Putrescível Rapidamente Podas Folhas, galhos, restos da capina Biodegradáveis Ossos Ossos de animais Não Material Particulado de Difícil Material orgânico e inertes úmidos e miúdos, grãos Identificável Identificação de solo, todos intimamente misturados. Material hospitalar Seringas, restos de operação Excluído (2) Material condenável (3) Pneus, pilhas, baterias (1) – Todo material não excluído, identificado, não passível de classificação nas demais categorias (2) – Material segregado da massa de resíduos, descartados antes da determinação de seu peso úmido (3) – Material cuja destinação ao aterro sanitário acredita-se tecnicamente inadequada ou condenável por força da legislação ambiental GRUPO II 4.1.4. Definição do volume das amostras A definição do volume de amostra necessária à determinação da composição gravimétrica da massa total de resíduos amostrados fez-se segundo TCHOBANOGLOUS (1993), o qual considerou a carga total de um caminhão, em um dia típico de coleta, uma amostra representativa do lixo urbano residencial. O mesmo autor citou ainda outros estudos nos quais aferiram-se variações pouco significativas entre amostras de 90 kg a 770 kg (200 a 1700 libras). Assim, devido à dificuldade em se pesar os resíduos no local de amostragem – pátio de triagem e compostagem do aterro sanitário de Belo Horizonte – e, estimando-se o peso específico médio do lixo não compactado em torno de 200 kg/m3, procurou-se preencher plenamente o volume correspondente a cinco tambores metálicos de 100 litros cada. - 61 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Por sua vez, devido às condições operacionais relativas aos equipamentos, tempo e mão-deobra disponíveis, definiu-se um volume de preenchimento diário, por reator, de cerca de 40 kg (2 tambores metálicos de 100 litros), ou seja, um volume diário correspondente a 360 kg (18 tambores metálicos de 100 litros). Desta forma, planejou-se a amostragem de um volume diário total de 460 kg de lixo urbano, sendo 360 kg para preenchimento simultâneo dos nove reatores de RSU e 100 kg para determinação da composição gravimétrica. Diante da impossibilidade de se determinar a variação do peso durante os procedimentos de amostragem, estimou-se um volume inicial da ordem de 7 a 9 toneladas e a redução da massa de resíduos pela metade após cada quarteamento. A Figura 4.4 apresenta o esquema geral de amostragem e caracterização física dos resíduos sólidos urbanos utilizados para o preenchimento dos reatores anaeróbios. Figura 4.4: Esquema diário de trabalho para amostragem, determinação da composição gravimétrica e preenchimento dos reatores. - 62 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.1.5. Composição da equipe de trabalho Nos trabalhos anteriores de amostragem e caracterização dos resíduos da regional noroeste e nordeste, devido à natural rejeição ao manuseio dos materiais presentes na massa de resíduos, verificou-se uma grande dificuldade em se compor uma equipe apta ao cumprimento das atividades planejadas. Os funcionários da SMLU mostraram-se descontentes com as tarefas propostas e, nas duas oportunidades, após pouco tempo iniciada a segregação dos materiais, o rendimento do trabalho já era insatisfatório e incompatível com o tempo disponível. Tal fato motivou a contratação de pessoal junto à Associação dos Catadores de Papel e Materiais Recicláveis de Belo Horizonte (ASMARE). A equipe ASMARE, em sua totalidade de mulheres, já afeitas ao trabalho árduo e minucioso de segregação de diversos materiais no lixo, conseguiu cumprir com eficiência as tarefas designadas. A equipe ASMARE foi dividida em duas frentes de atividades. Na primeira frente, após a segregação mecanizada da massa de resíduos, ainda pela manhã, juntamente com a equipe UFMG (2 mestrandos e 1 doutoranda), 2 contratadas ajudavam no preenchimento dos 23 tambores metálicos de 100 litros para transporte até o laboratório (Figuras 4.12 e 4.26). A segunda frente da ASMARE, por sua vez, contava com o auxílio de mais 3 contratadas que, juntamente com as outras 2 da 1a frente e, sob a orientação da doutoranda Ilka Soares Cintra, faziam a identificação, segregação e pesagem dos materiais contidos em 5 tambores aleatoriamente escolhidos. À tarde, após o término desta atividade, as equipes UFMG e ASMARE trabalhavam conjuntamente no preenchimento dos reatores anaeróbios, com o despejo do conteúdo dos 18 tambores restantes (2 tambores por reator). - 63 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.2. Amostragem dos resíduos sólidos urbanos de Belo Horizonte no aterro sanitário municipal Em maio de 2001, iniciaram-se os procedimentos de amostragem do lixo urbano de Belo Horizonte, objetivando-se o preenchimento dos reatores anaeróbios. A amostragem dos resíduos repetiu-se por nove dias, em duas semanas consecutivas: de 7 a 11/05/2001 e de 14 a 17/05/2001. Em cada dia, foi amostrado o lixo urbano coletado em uma regional diferente, abrangendo-se, assim, todas as regionais do município à exceção da regional centro. As Figuras 4.5 e 4.6 apresentam o mapa do município de Belo Horizonte com a identificação das regionais de limpeza pública e dos distritos amostrados, respectivamente. Figura 4.5: Identificação das regionais de limpeza pública de Belo Horizonte Figura 4.6: Identificação dos distritos amostrados durante o preenchimento dos reatores. - 64 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ As amostras foram obtidas com seguidas etapas de espalhamento, quarteamento, descarte dos quartos vis a vis e homogeneização da metade restante, até a obtenção de uma massa final de aproximadamente 460 kg, necessária ao preenchimento dos reatores e caracterização dos resíduos. Assim, registrava-se, diariamente, pela manhã, os dados relativos ao caminhão de coleta – tipo, procedência, carga – e às condições climáticas, como recomendado por alguns autores, entre os quais LIMA (1988), que sugerem o registro da umidade relativa do ar e da temperatura ambiente no dia da amostragem. A Tabela 4.2 apresenta os dados relativos aos dias de amostragem dos resíduos. Tabela 4.2: Dados relativos às condições climáticas e ao caminhão de coleta, nos dias de amostragem dos resíduos sólidos urbanos de Belo Horizonte. LIBÂNIO (2002) Dia Data Tempo Temperatura1 (oC) Umidade1 (%) Tipo Placa Regional Distrito Peso Bruto Peso Líquido Dia Data Tempo Temperatura1 (oC) Umidade1 (%) Tipo Placa Regional Distrito Peso Bruto Peso Líquido Segunda 7/5/2001 Ensolarado 20.3 50 Empreiteira JZZ 8296 Oeste O13A 16000 6760 Segunda 14/5/2001 Ensolarado 20.6 71 Empreiteira CDL 6167 Venda Nova V10A 18040 8220 Terça 8/5/2001 Ensolarado 20.1 57 Empreiteira JJZ 8236 Barreiro B9B 15720 6320 Quarta 9/5/2001 Ensolarado 22.3 50 SLU GMM 3250 Noroeste NO22A 15580 6080 Terça 15/5/2001 Nublado 19.5 73 Empreiteira JJZ 8326 Sul SXD 15980 6660 Quinta 10/5/2001 Ensolarado 23.5 48 Empreiteira CXA 0138 Pampulha P3B 17380 7040 Quarta 16/5/2001 Nublado 18.9 76 Empreiteira CDL 8481 Nordeste NE19A 17060 7220 (1) - Fonte: Seção de Observação e Meteorologia Aplicada do 5o Distrito do INMET - 65 - Sexta 11/5/2001 Ensolarado 23.2 57 SLU HMM 0605 Leste L12A 12720 4420 Quinta 17/5/2001 Nublado 17.7 87 Empreiteira CDL 6980 Norte N5B 15900 6160 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Como se pode observar nas fotos das Figuras 4.7 e 4.8, o grande volume inicial de resíduos, descarregados diariamente no pátio de triagem e compostagem do aterro sanitário, exigiu o emprego de uma pá mecânica durante os procedimentos de amostragem. Figura 4.7: Descarregamento do lixo urbano Figura 4.8: Volume inicial amostrado Figura 4.9: Quarteamento com pá mecânica Figura 4.10: Vista dos quartos vis a vis. Como descrito anteriormente, utilizando-se a pá mecânica, realizaram-se , por 4 vezes, etapas consecutivas de espalhamento e mistura dos resíduos (homogeneização da amostra), quarteamento e descarte dos quartos vis a vis, até a obtenção de uma massa de aproximadamente 460 kg. Então, ao final desta rotina, ainda pela manhã, preenchiam-se os 23 tambores metálicos (100 litros cada) com o volume final amostrado (Figura 4.10). Deve-se ressaltar que grande parte do lixo se encontrava envolta por sacos plásticos, os quais foram rasgados um a um, - 66 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ despejando-se seu conteúdo no interior dos tambores metálicos. Tal preocupação justifica-se pelo volume limitado de resíduos confinados no interior dos reatores, os quais poderiam não ser efetivamente degradados, caso isolados da massa de lixo pela película plástica. Além disto, não se poderia alegar uma distorção da realidade do aterramento dos resíduos, uma vez que, em escala real, grande parte dos sacos plásticos é destruída durante as operações na frente de serviço. Figura 4.11: Identificação dos tambores. Figura 4.12: Equipe da UFMG e ASMARE Finalmente, efetuava-se o transporte dos tambores metálicos, devidamente envoltos por lona plástica, até o local do experimento, em um caminhão tipo “carroceria” cedido pela Secretaria Municipal de Limpeza Pública de Belo Horizonte (SMLU), instituição parceira na pesquisa (Figura 4.13). Figura 4.13: Caminhão “carroceria” utilizado no transporte dos tambores metálicos - 67 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.3. Preenchimento dos Reatores Anaeróbios com os Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados O preenchimento dos reatores anaeróbios se deu simultaneamente, procurando-se, assim, evitar uma desigual distribuição das frações constituintes do lixo urbano entre os reatores e entre as linhas de operação. Tal preocupação se justifica dada a grande variabilidade das características do lixo urbano em função de diversos fatores, como os reportados por BARROS (1998) e outros. Entre estes fatores, destacam-se neste trabalho aqueles referentes à condição sócio-econômica do local de geração dos resíduos e às variações temporais (dia da semana), descritas nos itens 4.1.2 e 4.1.3. Conforme o plano de amostragem descrito no item 4.1, registravam-se os pesos e o destino de cada um dos 18 tambores metálicos, ou seja, em qual reator o conteúdo do tambor seria despejado. Desta forma, ao final de cada dia, podia-se calcular com precisão a massa total de resíduos já confinada em cada reator. A Tabela 4.3 apresenta os pesos diários adicionados nos reatores anaeróbios de interesse neste estudo. Tabela 4.3: Evolução do preenchimento dos reatores anaeróbios. DIA DA SEMANA DATA REATORES ANAERÓBIOS R1 R2 R3 R7 R8 R9 Segunda 7/5/2001 45,06 70,66 15,46 19,82 21,76 24,34 Terça 8/5/2001 23,96 38,26 60,62 55,58 65,14 38,24 Quarta 9/5/2001 20,52 42,38 36,70 21,74 22,20 45,46 Quinta 10/5/2001 20,14 28,36 46,92 17,28 12,00 35,72 Sexta 11/5/2001 51,30 45,78 14,52 23,58 25,26 23,82 Segunda 14/5/2001 50,42 46,14 48,60 46,50 57,92 46,98 Terça 15/5/2001 36,04 34,96 39,62 37,70 35,26 36,34 Quarta 16/5/2001 56,20 32,08 36,58 40,22 32,30 21,32 Quinta 17/5/2001 65,04 19,38 26,10 84,54 74,50 64,22 368,68 358,00 325,12 346,96 346,34 336,44 PESO TOTAL (kg) - 68 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Diariamente, na manhã seguinte ao despejo dos resíduos, enquanto se realizava uma nova amostragem, dois operários contratados realizavam a compactação manual dos resíduos despejados no interior dos reatores no dia anterior, desferindo golpes com um soquete de haste longa em toda a superfície exposta de cada reator. Figura 4.14: Compactação manual dos resíduos 4.4. Preenchimento dos Reatores Anaeróbios com Chorume de Aterro Sanitário Após o término da amostragem e caracterização dos resíduos sólidos urbanos, procedeu-se, então, em cada reator, à inserção de 200 litros de chorume proveniente da célula AC-05 do aterro sanitário de Belo Horizonte. O aterro municipal da BR-040 teve suas operações iniciadas em 1972 e, desde 1996, vem se praticando a recirculação do chorume produzido, objetivando-se o tratamento dos resíduos sólidos confinados. Figura 4.15: Frente de aterramento do lixo urbano na célula AC-05 (maio/2001). - 69 - Figura 4.16: Impermeabilização da área ainda não ocupada pela célula AC-05 (maio/2001). DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ A célula AC-05 é a mais recente do aterro sanitário municipal, tendo sua operação iniciada em dezembro de 2000 e, portanto, quando da amostragem do chorume, os resíduos sólidos urbanos encontravam-se confinados há apenas 6 meses, ou seja, em fase inicial de degradação. Ademais, a célula AC-05 corresponde à última frente de aterramento do lixo urbano do aterro municipal da BR-040, uma vez que o encerramento de sua operação está previsto para o final de 2004. A idéia inicial era de se coletar os líquidos lixiviados e drenados em células antigas do aterro, nas quais a estabilização da fração biodegradável do lixo urbano encontrar-se-ia em estágio avançado, com a presença de uma comunidade microbiana já bem adaptada à toxicidade e às outras condições ambientais adversas e, conseqüentemente, capaz de utilizar prontamente o substrato disponível na síntese celular. Adicionalmente, tal idéia estaria em conformidade com os preceitos da técnica de recirculação do chorume, segundo a qual uma célula recente, ainda com baixo teor de umidade, recebe o chorume de uma região mais antiga do aterro, por vezes saturada, com a acumulação do lixiviado em “bolsões” e afloramento da manta líquida. Entretanto, a escolha pela amostragem do chorume em uma célula nova do aterro se impôs pela razão de que as demais células do aterro sanitário municipal já haviam recebido chorume inoculado, seja pelo bombeamento de parte dos líquidos drenados das diversas células e acumulados em tanques, seja pela possibilidade de infiltração sub-superficial da manta líquida entre células adjacentes. Tal fato se tornou um empecilho devido à impossibilidade de total conhecimento das características físico-químicas do inóculo adicionado ao chorume recirculado. Este inóculo utilizado é um “segredo comercial” da empresa contratada pela Prefeitura Municipal, co-responsável pelo gerenciamento das operações de tratamento e disposição final do lixo urbano de Belo Horizonte. Assim, em maio de 2001, realizou-se a coleta do chorume da célula AC-05 através do bombeamento de aproximadamente 1800 litros do poço piezométrico PLQ-5 (Figura 4.17). O chorume bombeado era coletado em um recipiente de “boca larga” e, então, transferido com auxílio de um funil para uma bombona plástica de 50 litros (Figuras 4.18 e 4.19). - 70 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 4.17: Poço PLQ-5. Figura 4.18: Coleta do chorume bombeado do poço PLQ-5. Após o preenchimento das 20 bombonas disponíveis, as mesmas foram transportadas até o local do experimento por um caminhão tipo “carroceria” cedido pelo Departamento de Serviços Gerais da UFMG (Figura 4.20). Este procedimento repetiu-se por mais uma vez, na semana seguinte. O chorume amostrado foi inserido até saturação de toda a massa de resíduos confinados nos reatores experimentais. Figura 4.19: Transferência do chorume para bombonas Figura 4.20: Transporte das bombonas plásticas de 50 litros em caminhão tipo “carroceria”. - 71 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.5. Preparação das amostras dos RSU para as análises laboratoriais Após a identificação e pesagem das diversas categorias listadas na Tabela 4.1, determinandose a composição gravimétrica do lixo urbano amostrado, aquelas pertencentes ao Grupo III, ou seja, correspondentes à fração inerte ou pouco biodegradável, eram descartadas. Por sua vez, os materiais denominados “excluídos” eram segregados da massa de resíduos já durante o preenchimento dos tambores e, eventualmente, na determinação da composição gravimétrica, caso algum fosse encontrado por mera inspeção visual, sem nenhum registro da quantidade ou peso dos mesmos. O restante da massa de resíduos, já identificados, segregados e pesados, correspondentes àqueles classificados como “material particulado não identificável”, “rapidamente biodegradável” (Grupo I) ou “lentamente biodegradável” (Grupo II), eram encaminhados para uma nova série de procedimentos de quarteamento e homogeneização consecutivos, até a obtenção de uma amostra de aproximadamente 2 kg para determinação de parâmetros físicoquímicos. Esta amostra era, então, dividida em duas outras, dispostas em duas bandejas de alumínio. Posteriormente, ainda ao final dos dias de preenchimento, colocavam-se as bandejas de alumínio com as amostras já devidamente pesadas no interior de uma estufa (Estufa FANEM Modelo 315/2), deixando-as por um período inicial de 24 horas (65oC) e, por fim, mais 4 horas de desidratação (105oC). Uma vez já secas, as amostras foram, primeiramente, trituradas em um moinho de faca pertencente ao Laboratório de Operações Unitárias do Departamento de Engenharia Química da UFMG (Figura 4.21), e em seguida, conservadas à baixa temperatura, em sacos plásticos hermeticamente vedados, no interior de um refrigerador (Figura 4.22). - 72 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 4.21: Vista do moinho de faca. Figura 4.22: Amostras secas e trituradas em sacos plásticos hermeticamente vedados. Entretanto, observou-se que o processo de moagem no moinho de faca não foi suficiente para obtenção de uma amostra com granulometria máxima inferior a 100 mesh, ideal para sua utilização na determinação do teor de metais. Sendo assim, as amostras sofreram novamente uma moagem, desta vez, num moinho de bolas do DESA/UFMG (Figura 4.23). A cada ciclo de trituração, os grãos das amostras eram segregados em um conjunto de peneiras vibratórias (Pavitest Contenco), retornando-se ao moinho de bolas (Pulverisette 5 Fritsch) aqueles de granulometria superior a 100 mesh (Figuras 4.24). Finalmente, após a obtenção de uma granulometria máxima inferior ao limite estabelecido, preservou-se as amostras, conservando-as em tubos de ensaio, à baixa temperatura. Figura 4.23: Vista do moinho de bola. Figura 4.24: Vista da peneira vibratória. - 73 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.6. Caracterização físico-química dos resíduos sólidos urbanos 4.6.1. Determinação da composição gravimétrica A determinação da composição gravimétrica do lixo urbano de Belo Horizonte se deu segundo a classificação apresentada na Tabela 4.1 (item 4.1.3), durante os nove dias de amostragem dos resíduos para preenchimento dos reatores anaeróbios, simulando células de um aterro sanitário. Simultaneamente ao preenchimento, foram caracterizados aproximadamente 100 kg de lixo, dos 460 kg amostrados diariamente, determinando-se, após a segregação manual e pesagem dos mesmos em balança de prato digital (Figuras 4.25 e 4.26), a porcentagem em peso úmido de seus diversos componentes. Figura 4.25: Segregação manual dos diversos Figura 4.26: Pesagem dos tambores ao componentes do lixo pela equipe ASMARE. chegarem ao galpão para triagem e segregação 4.6.2. Determinação do teor de umidade Como descrito anteriormente, ao final de cada um dos dias de amostragem e preenchimento, obtinham-se 2 amostras representativas (aproximadamente 1 kg cada) do conjunto daqueles materiais considerados “potencialmente biodegradáveis”, ou seja, “material particulado” e dos Grupos I e II. - 74 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Estas amostras eram dispostas em bandejas de alumínio, pesadas e, por fim, mantidas no interior de uma estufa por um período de 24 horas à temperatura de 65oC. Durante este tempo, as amostras eram reviradas, buscando-se uma desidratação por igual em toda a amostra. Seguia-se, então, a 1a determinação do peso seco, um novo período de desidratação (105oC, 4 horas) e, finalmente, a última pesagem. A Figura 4.27 ilustra os procedimentos descritos. Figura 4.27: Esquema de determinação do teor de umidade nas amostras de RSU. 4.6.3. Determinação do teor de metais As amostras já devidamente preparadas – desidratadas, trituradas, peneiradas e conservadas à baixa temperatura – foram digeridas através do ataque com ácidos nítrico e sulfúrico concentrado (3030 G), com aquecimento em banho-maria, no interior de uma capela para exaustão de gases tóxicos. Em seguida, os teores de metais pesados foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica, através da técnica da emissão por chama (método 3111 B), descrito no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (AWWA/APHA/WEF,1998). Após a digestão, as soluções eram filtradas em papel de filtro e recolhidas em um balão volumétrico. Finalmente, para a determinação de alguns “analitos”, faziam-se diluições da solução inicial de forma que, como observado em estudo preliminar (OSÓRIO NETO et al., 2001), era possível determinar suas concentrações na faixa ideal de leitura do aparelho (Perkin-Elmer 3300). - 75 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 4.28: Frascos plásticos contendo soluções Figura 4.29: Detalhe do espectrofotômetro de diluídas e concentradas de amostras já digeridas e absorção atômica. filtradas. 4.6.4. Determinação dos teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio Na impossibilidade da realização destas análises no DESA/UFMG, as mesmas amostras utilizadas na determinação do teor de metais foram encaminhadas à Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) para determinação das concentrações de carbono, nitrogênio e hidrogênio, através da análise instrumental. Semelhantemente ao realizado nas análises de metais, foram investigadas as amostras correspondentes a cada um dos dias de amostragem e mais outras quatro correspondentes à mistura de todos estes dias. 4.6.5. Determinação do teor de sólidos voláteis As amostras já preparadas, utilizadas na determinação do teor de umidade, metais pesados e na análise instrumental das concentrações de carbono, hidrogênio e nitrogênio, foram submetidas à calcinação em mufla (550oC, 2h, cadinhos destampados) e resfriamento em dessecador (60 min). Deve-se ressaltar que as amostras não foram pré-calcinadas (bico de gás, 10 a 15 minutos, 550oC) como recomendado por EGREJA (1996), o qual relata a importância da pré-calcinação e aponta discrepância nos teores de sólidos voláteis obtidos em experiências com e sem este procedimento. - 76 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.7. Aparato Experimental Primeiramente, deve-se destacar que, como mencionado anteriormente, este estudo compõe um projeto de pesquisa maior, que objetiva avaliar a influência da recirculação do chorume, inoculado ou não, na degradação dos resíduos sólidos urbanos. Neste projeto maior, foram instalados 9 reatores experimentais no Laboratório de Instalações Piloto (LIP) do DESA/UFMG (Figura 4.30), subdivididos em três conjuntos, com três reatores por conjunto – experimento em triplicata, buscando-se reduzir a interferência devido à heterogeneidade dos resíduos sólidos urbanos – correspondentes a condições de operação distintas: linha 1 (vermelha): aterramento convencional dos resíduos, sem recirculação de chorume; linha 2 (verde): aterramento dos resíduos com recirculação de chorume não inoculado; linha 3 (azul): aterramento dos resíduos com recirculação de chorume inoculado. Desta forma, somente as linhas de operação 1 e 3, correspondentes ao tratamento convencional e ao “sistema integrado” de tratamento do chorume e dos RSU, respectivamente, serão de interesse desta dissertação. Figura 4.30: Vista geral do aparato experimental utilizado na pesquisa. - 77 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Cada reator foi composto por uma coluna de fibra de vidro de 2,50 m de altura útil e diâmetro interno de 60 cm, perfazendo um volume de aproximadamente 700 litros. Os reatores são equipados com 2 piezômetros correspondentes a mangueiras plásticas tipo cristal, dispositivos de coleta dos líquidos e gases, recirculação e distribuição do chorume no seu topo, conforme observado na Figura 4.31. Ao final de seu preenchimento, as células foram hermeticamente fechadas com a colocação do flange superior e vedação com anel de borracha, garantido-se a condição de anaerobiose no interior destes reatores. Figura 4.31: Esquema dos reatores experimentais de digestão dos resíduos sólidos urbanos. O dispositivo de coleta do chorume foi basicamente composto por um dreno de brita de gnaisse no fundo dos reatores, seguido de registro e tubos de PVC. No trecho de tubo vertical foram introduzidas as mangueiras de sucção das bombas peristálticas, responsáveis pela recirculação do chorume e alimentação do reator UASB. Neste tubo vertical, conectou-se um registro para amostragem do chorume drenado em ambas as linhas operacionais (Figura 4.32). - 78 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 4.32: Dispositivos de amostragem do chorume drenado nos reatores de RSU Figura 4.33: Vista do topo dos reatores de RSU. Detalhe do sifão e do dispositivo de coleta do biogás. Na linha 3, o efluente do reator UASB, após passar pela caixa de mistura e distribuição, retornava por gravidade aos digestores, passando primeiramente por um sifão que não permite a perda do biogás através do conduto de recirculação. O chorume recirculado, era lançado em uma camada superior de brita, objetivando-se uma melhor distribuição do fluxo pelo digestor. Por sua vez, os gases gerados nos reatores de RSU e reator UASB eram coletados em mangueiras plásticas tipo cristal de ½” (Figura 4.33), e conduzidos até seus respectivos frascos lavadores. Após vencida a coluna d’água no interior dos mesmos, os volumes de biogás são armazenados e periodicamente determinados em gasômetros (Figura 4.34). Figura 4.34: Sistema de coleta, amostragem e medição do biogás, e bombas peristálticas para recirculação do chorume. - 79 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Na linha de operação com recirculação de chorume inoculado (linha 3), objetivando-se a produção de inóculo a partir do próprio sistema, sem a introdução de nenhum fator externo, substância exógena, implantou-se um reator UASB (Figuras 4.35 a 4.37), confeccionado em tubos de PVC e com volume útil de aproximadamente 30 litros, inoculado inicialmente com lodo biológico granulado de outro reator UASB tratando águas residuárias. Figura 4.35: Configuração geral do reator UASB. Figura 4.36: Dispositivo de entrada do reator UASB. A configuração da câmara de digestão, composta de dois trechos consecutivos de mesmo comprimento mas com diferentes diâmetros – 54,6 mm (tubo de PVC DN 50) e 100 mm (tubo de PVC DN 100), respectivamente – permitiu atender simultaneamente os requisitos operacionais relativos ao tempo de detenção hidráulica (TDH) e velocidade ascensional do fluxo, dentro das limitações de espaço físico existentes no laboratório. Considerando-se a pequena vazão afluente na partida do reator UASB, caso fosse adotada a menor bitola em toda sua extensão, a altura necessária para atendimento de um TDH mínimo – TDH > 4,8 horas, usualmente 8 < TDH < 10 horas no tratamento de esgotos domésticos, a 20oC (CHERNICHARO, 1997) – seria incompatível com o pé direito disponível. Por outro lado, se a câmara de digestão fosse projetada como um trecho contínuo de bitola maior, a velocidade ascensional do fluxo seria muito menor que os valores preconizados na literatura – 0,5 < U < 0,7 m/h para 5 < COV < 6 kgDQO/m3.dia (CHERNICHARO, 1997) – e, - 80 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ conseqüentemente, não propiciaria um mistura adequada entre a biomassa em suspensão (manta de lodo) e o substrato orgânico afluente. Desta forma, projetou-se a câmara de digestão do reator UASB com um trecho inicial de menor diâmetro, propiciando-se um maior grau de mistura na entrada do reator, região na qual, devido à existência de uma atividade biológica mais intensa, grande parte da matéria orgânica afluente é prontamente consumida (CALLADO et al., 1997). O trecho consecutivo, de maior diâmetro, serviria basicamente para abrigar a biomassa “reserva”, responsável por conferir ao reator uma maior resistência à inibição (LEWANDOUSKI, 1986 apud CALLADO et al., 1997), não sendo necessário, então, o mesmo grau de mistura anterior. Procurou-se desenvolver, no interior do reator UASB, uma biomassa apta à degradação ativa do substrato orgânico presente no efluente dos digestores (reatores de RSU). Caso não houvesse o descarte periódico do lodo biológico excedente produzido, as células bacterianas se perderiam no efluente tratado do reator UASB, implicando em uma inoculação “não controlada” da digestão dos reatores de RSU. Entretanto, se fosse adotado o procedimento de inoculação “controlada”, a caixa de mistura e distribuição do efluente tratado do reator UASB (Figura 4.38) serviria, também, para a adição do inóculo. Figura 4.37: Vista do compartimento de decantação do Figura 4.38: Detalhe da caixa de reator UASB, bomba de dosagem de solução tampão, e distribuição e mistura do chorume tratado em reator UASB. caixa de distribuição do chorume tratado. - 81 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Ademais, em vista da necessidade de correção do pH do chorume afluente ao reator UASB, favorecendo-se a atividade metanogênica e, conseqüentemente, evitando-se o acúmulo de ácidos orgânicos voláteis e o “azedamento” do sistema, instalou-se uma linha de dosagem de solução tampão de hidróxido de sódio junto à linha de alimentação do reator UASB, controlada por uma bomba peristáltica de baixa rotação (Figura 4.37). Finalmente, a Figura 4.39 apresenta um fluxograma completo do experimento, com a recirculação contínua do chorume entre os reatores anaeróbios de resíduos sólidos urbanos e o reator UASB (linha 3), e a coleta, medição e descarte do biogás (linhas 1 e 3). Figura 4.39: Fluxograma das duas linhas operacionais do experimento contempladas neste estudo. - 82 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.8. Operação do sistema Na linha de tratamento convencional dos resíduos sólidos urbanos (linha 1), à exceção do reator experimental R3, que não recebeu nenhum chorume da célula AC-05 do aterro sanitário de Belo Horizonte (item 4.4), os procedimentos operacionais se restringiram à amostragem semanal do chorume e do biogás através dispositivos de coleta próprios (Figuras 4.32 e 4.34). A opção de não preencher o reator R3 com chorume se deu pela consideração de que seria interessante e necessário avaliar a digestão anaeróbia dos RSU sob tais condições, ou seja, sem nenhuma inoculação. O reator R3 poderia receber, posteriormente, volumes de água de chuva correspondentes aos dados estatísticos de precipitação pluviométrica no município de Belo Horizonte, reproduzindo-se as condições reais de campo. Por sua vez, a operação da linha de tratamento integrado dos RSU e do chorume (linha 1) foi mais complexa, envolvendo a manutenção periódica dos equipamentos e dispositivos de recirculação do chorume, bem como o acompanhamento constante e intervenções periódicas nas condições hidráulicas de operação do reator UASB. Além disto, devido ao baixo pH do chorume, após os 100 primeiros dias de monitoramento, deu-se início aos procedimentos de correção do pH afluente ao reator UASB, através da injeção de solução de hidróxido de sódio na linha alimentação do reator UASB, controlada por uma bomba peristáltica de baixa rotação (Figura 4.37). A dosagem requerida para correção do pH do chorume – fornecimento de alcalinidade bicarbonato – foi determinada num experimento de bancada, adicionando-se volumes de solução de NaOH com concentração conhecida, até a elevação do pH em valores adequados à metanogênese (entre 6,5 e 7,5). Assim, considerando a vazão de recirculação aplicada aos reatores de RSU e os procedimentos de correção do pH do chorume afluente ao reator UASB, pode-se identificar 4 fases de operação na linha 3. A Tabela 4.4 lista estas diferentes fases de operação do sistema integrado, apresentando os principais parâmetros operacionais. - 83 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tabela 4.4: Identificação das fases de operação do sistema integrado (linha 3). Fase Período Duração Vazão de (1) recirculação (L/d) DQOCHORUME (2) Vazão de adição Concentração solução NaOH solução NaOH (L/d) (gNaOH/L) (dias) (gDQO/L) 12/7/2001 1 a 100 3 41,75 20/10/2001 21/10/2001 2 a 20 3 48,58 0,3 0,02 10/11/2001 11/11/2001 a 3 20 6 31,13 0,3 0,04 31/11/2001 1/12/2001 4 a 20 36 8,52 20/12/2001 Total 160 (1) – Vazão conjunta dos reatores R7,R8 e R9, afluente ao reator UASB (2) – Concentração de DQO filtrada média, nos respectivos períodos de operação (item 5.2.1) Por sua vez, o reator UASB também foi submetido a diferentes condições de operação, as quais podem ser caracterizadas pelos parâmetros hidráulicos listados na Tabela 4.5. Tabela 4.5: Parâmetros hidráulicos de operação do reator UASB. Fase Período Duração (dias) U(1) (m/h) 0,053 0,016 0,005 0,107 0,032 0,010 0,107 0,032 0,010 0,641 0,191 0,058 COV(2) (gDQO/m3.d ) CB(3) (gDQO/gSTV.d) TDH(1) (h) 43,2 145,6 41,6 43,2 145,6 41,6 21,6 72,8 20,8 3,6 12,3 3,5 12/7/2001 a 100 4,35 0,08 20/10/2001 21/10/2001 2 a 20 5,06 0,11 10/11/2001 11/11/2001 a 3 20 6,48 0,15 31/11/2001 1/12/2001 4 a 20 10,65 0,23 20/12/2001 Total 160 (1) – Valores relativos à câmara de digestão (1o e 2o trechos) e ao compartimento de decantação (2) – Carga orgânica volumétrica calculada considerando-se a DQO filtrada média (Tabela 4.4) (3) – Carga biológica calculada a partir das concentrações STV no perfil de sólidos (item 5.4) 1 - 84 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.9. Monitoramento do sistema O monitoramento do sistema se deu através da analise conjunta de parâmetros físico-químicos de interesse, determinados no chorume drenado dos 6 reatores de RSU (afluente ao reator UASB na linha 3), efluente tratado do reator UASB (chorume recirculado para os reatores de RSU), lodo biológico do reator UASB, e no biogás produzido nos 6 reatores de RSU (3 em cada linha) e no reator UASB. Os valores determinados serviram para a avaliação comparativa da evolução da digestão anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos confinados nos reatores experimentais – redução da carga orgânica, produção de sólidos, produção de biogás – e observação das condições ambientais internas ao experimento em ambas as linhas de operação: sistema ácido/base, nutrientes e toxicidade. 4.9.1. Inferências analíticas Em diversas das análises listadas na Tabela 4.6, fez-se necessário algum tipo de modificação ou cuidado especial, seja através de adaptações de metodologias constantes do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (AWWA/APHA/WEF,1998), seja pela adoção de outros métodos mais adequados à realização destas análises. Estas preocupações e os procedimentos de preparação das amostras e de análise adotados são descritos mais detalhadamente no item 4.9.2. - 85 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tabela 4.6: Relação dos parâmetros físico-químicos de interesse, freqüência das análises, e dos respectivos métodos de preparação de amostras e de determinação de seus valores. Método(1) Parâmetro Freqüência Preparação Determinação Chorume drenado nos reatores de RSU pH semanal 4500-H+ B 4500-H+ B Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO5) (2) semanal 5210 B 4500-O B Demanda Química de Oxigênio (DQOtotal e filtrada) semanal 5220 C 5220 C Alcalinidade bicarbornato (AB) (2) Alcalinidade de ácidos voláteis (AAV) Alcalinidade total (AT) semanal (2) semanal (2) método de Buchauer (1998) semanal Ácidos graxos voláteis (AGV) (2) semanal Sólidos Totais, Fixos e Voláteis semanal 2540 B e E 2540 B e E Sólidos Suspensos, Fixos e Voláteis semanal 2540 D e E 2540 D e E semanal 4500-Norg B 4500-NH3 C semanal 4500-NH3 C 4500-NH3 C quinzenal 4500-P B.4 4500-P C quinzenal 2- 4500-S B e C 4500-S2- F semanal 4500-Cl- C 4500-Cl- C 2540 B e E 2540 B e E Nitrogênio Orgânico (2) Nitrogênio Amoniacal Fósforo total Sulfeto (2) (2) Cloreto Lodo Biológico do reator UASB mensal Sólidos Totais, Fixos e Voláteis (1) – AWWA/APHA/WEF (1998). (2) – Análise especial, com alguma modificação, ou que não consta da AWWA/APHA/WEF (1998). 4.9.2. Metodologias modificadas 4.9.2.1. Demanda Bioquímica de Oxigênio Entre os diversos fatores interferentes da análise de DBO de efluentes anaeróbios, talvez o mais importante e, na maioria das vezes, pouco observado pelos laboratoristas e pesquisadores, seja a inexistência de uma biomassa aeróbia ativa, capaz de degradar o substrato orgânico disponível, utilizando o oxigênio dissolvido em seu metabolismo celular. Esta foi uma das preocupações quando da realização das análises do chorume drenado dos reatores experimentais, sendo necessário um estudo preliminar, objetivando-se a obtenção de um inóculo para o teste da DBO. - 86 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ O inóculo foi obtido conforme proposto no item 5210B.4d. pela AWWA/APHA/WEF (1998), e pela FEEMA (1983), através da aeração contínua da mistura de esgoto doméstico com uma proporção crescente de chorume (Figura 4.40). Os procedimentos para obtenção deste inóculo, adaptado ao substrato orgânico e à presença de compostos em concentrações tóxicas no chorume analisado, são detalhadamente descritos por CINTRA et al. (2001a). Figura 4.40: Recipiente contendo o inóculo para análise de DBO. Aeração contínua do chorume por um soprador. 4.9.2.2. Alcalinidade e ácidos voláteis A determinação da alcalinidade total, bicarbonato e de ácidos voláteis (negativa), bem como a concentração total de ácidos graxos voláteis, se deu segundo o método Kapp (BUCHAUER, 1998). O método Kapp consiste da titulação acidimétrica das amostras até 3 valores específicos de pH e, através da determinação dos volumes correspondentes titulados, obtêmse, por meio de equações derivadas de procedimentos interativos, os valores de alcalinidade (AT, AAV, AB) e ácidos graxos voláteis (AGV). CAVALCANTI & VAN HAANDEL (2001) fizeram uma comparação entre os métodos titulométricos de Dilallo, Dilallo Modificado e Kapp, recomendando, por fim, a utilização do método Kapp para as análises de rotina de controle de processos de digestão anaeróbia e caracterização de efluentes. Os autores justificaram sua opção pelos seguintes aspectos: equivalência entre os métodos investigados; capacidade de recuperação significativamente maior, quando da determinação dos ácidos voláteis; e pela sua maior simplicidade de execução (sem fervura prévia da amostras). - 87 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.9.2.3. Nitrogênio Kjeldahl Segundo AWWA/APHA/WEF (1998) os métodos Kjeldahl – macro e semi-micro-kjeldahl – determinam o nitrogênio no seu estado de valência (–3). A escolha por um dos métodos consiste basicamente na concentração de nitrogênio orgânico da amostra. Em função do aparato de destilação disponível – Destilador Büchi K-314 (Figura 4.41) – e da elevada concentração de nitrogênio orgânico no chorume, bem superior à concentração limite do método macro-Kjeldahl (100 mg/L), procedeu-se à diluição prévia da amostra na razão 1:5. Tal procedimento permitiu a determinação do nitrogênio orgânico segundo o método macro-Kjeldahl, sem problemas com a formação de espumas no frasco de destilação. Figura 4.41: Destilador para análise do nitrogênio amoniacal e orgânico segundo método macroKjeldahl. 4.9.2.4. Fósforo Na determinação do fósforo, realizada através do método colorimétrico do ácido vanadomolibdofosfórico, fez-se necessário alguns cuidados especiais quanto à preparação das amostras. Primeiramente, devido à elevada concentração de material orgânico no chorume, procedeu-se uma diluição da amostra de 10 vezes. O diluído foi submetido à digestão com ácido sulfúrico e fosfórico, redução do volume (aquecimento em chapa), resfriamento e, - 88 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ então, neutralização com adição de NaOH até coloração rosa-claro (indicador fenolftaleína), todos procedimentos constantes do item 4500-P B.4c. (AWWA/APHA/WEF, 1998). A modificação do método se deu após tais procedimentos, com a adição de carvão ativado e agitação por 5 minutos, eliminando-se, assim, a interferência da cor das amostras de chorume. A preparação das amostras foi concluída com a filtração para remoção do material particulado, adição de molibdato ao filtrado e, por fim, nova diluição. 4.9.2.5. Sulfeto Conforme apresentado na Tabela 4.6, após o pré-tratamento para remoção de interferências, determinou-se a concentração do sulfeto através do método iodométrico. A modificação neste procedimento refere-se à substituição do reagente bi-iodato, de difícil aquisição, pelo dicromato de potássio (1/60 N), na preparação da solução padrão de Na2S2O3 (4500-O.C.2e.), semelhante à utilizada na titulação de amostras para determinação do oxigênio dissolvido. 4.9.3. Análise Instrumental Tabela 4.7: Relação dos parâmetros físico-químicos de interesse, freqüência das análises, e dos respectivos métodos de preparação de amostras, utilizando-se técnicas de instrumentação por cromatografia líquida, gasosa e espectrofotometria de absorção atômica. Método Parâmetro Freqüência Preparação Determinação(1) Chorume drenado nos reatores de RSU Cromatografía gasosa Espectrofometria Metais pesados (3) semanal OSÓRIO NETO et al. de Absorção Atômica Lodo Biológico do reator UASB Espectrofometria (3) Metais pesados 2 vezes OSÓRIO NETO et al. de Absorção Atômica Biogás Cromatografía Metano e dióxido de carbono quinzenal gasosa (1) – AWWA/APHA/WEF (1998) (2) – Ácido acético, butírico, isobutírico, propiônico, valérico e isovalérico. (3) – Fe, Ca, Mg, Mn, Al, Zn, Ni, Cu, Pb, Cd e Cr. Ácidos graxos voláteis (2) semanal - 89 - MORAES et al. DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 4.9.3.1. Ácidos Graxos Voláteis Além da determinação da concentração total de ácidos graxos voláteis no chorume drenado dos reatores de RSU, pelo método titulométrico de Kapp (item 4.9.2.2), foram também quantificadas, por cromatografia gasosa, as concentrações específicas para algumas espécies: ácido acético, butírico, isobutírico, propiônico, valérico e isovalérico. Adotou-se o método da microdestilação proposto por MORAES et al. (2001), que alertaram para a perda de sensibilidade das análises cromatográficas quando da análise de chorume rico em ácidos húmicos, devido ao comprometimento do injetor e detector pela impregnação de material não volátil. A metodologia proposta por MORAES et al. (2001) consiste na análise cromatográfica de destilados diluídos de soluções artificiais de chorume, extraídos com éter e contendo ácido crotônico como padrão interno. A destilação das amostras é realizada em um microdestilador de vidro idealizado por MORAES (Figuras 4.42 e 4.43), para volumes entre 100 mL e 1000mL, posteriormente diluídos para 10,00 mL. Figura 4.42: Microdestilador de idealizado por MORAES et al. (2001). vidro Figura 4.43: Microdestilação dos ácidos graxos voláteis (MORAES et al., 2001). - 90 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Após a microdestilação de brancos, padrões e das amostras, realizava-se a extração dos ácidos em solução etérea, no interior tubos de ensaio semelhantes àqueles utilizados na determinação da DQO, e a adição do padrão interno (ácido crotônico). Posteriormente, com o auxílio de um aparelho de ultra-som – Sonorex Super RK 103H (Figura 4.44) –, obtinha-se uma nítida separação das fases, removendo-se, então, através de uma seringa, a fase orgânica sobrenadante. A solução etérea contendo os ácidos voláteis era então, finalmente, injetada no cromatógrafo – Perkin Elmer AutoSystem GC (Figura 4.45) – para determinação das diversas espécies. Figura 4.44: Ultra-som para separação das Figura 4.45: Cromatógrafo para análise de fases orgânica e inorgânica. ácidos graxos voláteis. 4.9.3.2. Metais Pesados As concentrações de metais pesados no chorume foram aferidas semanalmente por espectrofotometria de absorção atômica, técnica de chama, através do método de rotina. Os metais analisados foram Fe, Ca, Mg, Mn, Al, Zn, Ni, Cu, Pb, Cd e Cr. Primeiramente, realizava-se a destruição do substrato orgânico através do ataque com HNO3 concentrado e redução do volume para 1/5 do inicial. Apesar deste ataque rigoroso, houve ainda necessidade de filtração das amostras (OSÓRIO NETO et al., 2001). É importante ressaltar que o resíduo retido no papel-filtro não foi testado para verificação quanto aos metais ainda remanescentes. - 91 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Outra importante questão diz respeito à complexidade da matriz do chorume. As amostras de chorume apresentavam maior viscosidade que os padrões, impossibilitando, assim, a determinação exata das concentrações dos metais por comparação direta entre suas absorbâncias através do método de rotina (OSÓRIO NETO, 1996). A diferença de viscosidade entre as amostras e os padrões implicou em diferentes velocidades de aspiração da solução através do tubo capilar e, portanto, em diferentes taxas de emissão de átomos em estado fundamental na chama. Em um estudo preliminar ao início do experimento, contatou-se esta interferência – efeito da matriz – pela leitura da absorbância em amostras diluídas de chorume que, por vezes, resultavam na determinação de teores de metais maiores que os aferidos em amostras mais concentradas. Entretanto, após a constatação de uma forte correlação entre os teores de metais determinados pelo método da rotina e método das adições (OSÓRIO NETO et al., 2001), observando-se um erro aproximadamente constante para diversas amostras, optou-se pela utilização do primeiro, mais rápido e simples, uma vez que o interesse maior consistia na avaliação da evolução destes parâmetros. Portanto, não era essencial um método exato, mas sim, um método preciso. A Figura 4.46 apresenta uma comparação entre as concentrações de ferro em amostras de chorume, obtidas pelo método da rotina e das adições. - 92 - DESA/UFMG 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 25 20 15 10 Método da Rotina Método da Adição Erro Erro (%) Concentração do Fe (mg/L) __________________________________________________________________________________________ 5 0 R1 R2 R4 R5 R6 R7 R8 R9 Ef. UASB Ponto de Amostragem Figura 4.46: Comparação de resultados de ferro em chorume, pelos métodos de rotina e adição. Diferentemente, na determinação de metais em amostras de resíduos sólidos, resíduos sólidos urbanos e lodo biológico, a interferência pelo efeito da matriz não foi uma preocupação, mas sim, os procedimentos de preparação das análises. Após a determinação do perfil de sólidos na câmara de digestão do reator UASB (concentrações de SST e SSV), as amostras de lodo calcinado eram maceradas e, então, submetidas às mesmas etapas de digestão, filtração e análise descritas para as amostras de resíduos sólidos urbanos (itens 4.5 e 4.6.3). 4.9.3.3. Biogás (Metano e Dióxido de Carbono) Após a amostragem do biogás através de um sistema adaptado de seringas de 50mL conectadas a um dispositivo de três vias (Figuras 4.47 e 4.48), as concentrações de metano e dióxido de carbono eram determinadas em termos percentuais, por cromatografia gasosa. As amostras do biogás produzido nos reatores experimentais eram injetadas no cromatógrafo – Perkin Elmer AutoSystem XL GC (Figura 4.49) – de forma semelhante quando de sua amostragem. - 93 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 4.47: Sistema adaptado para amostragem e injeção do biogás no cromatógrafo. Figura 4.48: Seringas conectadas a dispositivo Figura 4.49: Cromatógrafo para determinação de três vias para amostragem do biogás. dos teores de metano e dióxido de carbono. - 94 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados 5.1.1. Determinação da Densidade Média dos Resíduos Confinados nos Reatores Anaeróbios Experimentais Primeiramente, a densidade do lixo amostrado – lixo “solto” – pôde ser estimada a partir da relação peso/volume dos tambores metálicos plenamente preenchidos (Tabela 5.1). Tabela 5.1: Estimativa da densidade inicial dos resíduos sólidos urbanos DIAS DE AMOSTRAGEM Seg Ter Qua Qui Sex Seg Ter Qua Qui 7/5 8/5 9/5 10/5 11/5 14/5 15/5 16/5 17/5 lixo solto1 235 287 205 190 223 307 241 235 276 (kg/m3) (1) –Valor médio da densidade dos 23 tambores diariamente preenchidos Adicionalmente, após o preenchimento total dos reatores, de posse da massa contida em cada um deles, bem como do volume ocupado pelos resíduos compactados, tornou-se possível calcular sua densidade final. A Tabela 5.2 apresenta os resultados obtidos no cálculo do peso específico do lixo urbano após o adensamento no interior dos reatores anaeróbios. Tabela 5.2: Avaliação do grau de compactação dos resíduos sólidos urbanos REATORES DE RSU d (cm) vol. resíduos (m3) lixo adensado (kg/m3) - 95 - R1 R2 R3 R7 R8 R9 17 27 26 17 10 19 0,659 0,631 0,633 0,659 0,679 0,653 560 568 513 527 510 515 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Considerando-se a densidade do lixo antes (190 – 287 kg/m3, média de 244 kg/m3) e após a compactação dos mesmos (510 – 568 kg/m3, média de 532 kg/m3), pode-se aferir uma compressibilidade média da ordem de 1:2. Contudo, por mais bem executada que fosse, a compactação manual dos resíduos com soquete jamais alcançaria os resultados de campo, com o trabalho das máquinas. Segundo BARROS (1998), a compressibilidade do lixo situa-se em torno de 1:3 a 1:4 para uma pressão equivalente de 4 kg/cm2. Entretanto, deve-se ressaltar que o lixo amostrado apresenta uma densidade superior ao valor médio de 200 kg/m3 ao qual o mesmo autor se reporta, em função do adensamento prévio nos caminhões de coleta tipo “compactador”. DECKA (1995) apud GOMES et al. (1997) dizem que a densidade média do lixo fresco varia entre 100 e 300 kg/m3, após a compactação deste material nas células do aterro, a densidade situa-se entre 700 a 900 kg/m3 e, finalmente, devido aos processos de bioestabilização, chegase a valores de 1000 a 1300 kg/m3. O grau de compactação dos resíduos aterrados é uma importante variável de controle em campo, uma vez que esta pode influir significativamente na estabilidade dos taludes de contenção de aterros sanitários. Ademais, sabe-se que quanto maior for a compactação dos resíduos, menor será a produção de chorume e a livre drenagem. CETESB (1979) e LIMA (1995) apud IPT/CEMPRE (2000) predizem uma produção de chorume equivalente a 25 a 50% da precipitação média anual incidente sobre a área de aterros pouco compactados (400 a 700 kg/m3), e 15 a 25% em aterros mais compactados (densidade superior a 700 kg/m3). Adicionalmente, uma adequada compactação da massa de resíduos é essencial para a redução da porosidade e, conseqüentemente, da quantidade de ar e oxigênio disponíveis, abreviando a duração da etapa aeróbia inicial de degradação (GONZÁLEZ et al., 1996). Neste experimento, considerando-se a saturação completa da massa de resíduos com a adição de 200 litros de chorume por reator, assim como a vedação dos reatores experimentais com a colocação do flange superior, a compactação dos resíduos não se constituiu em uma real preocupação. - 96 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.1.2. Caracterização Física dos Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados 5.1.2.1. Composição Gravimétrica A composição gravimétrica do lixo urbano é uma importante informação para o planejamento de ações e intervenções relativas à gestão dos resíduos sólidos. Somente através do conhecimento prévio dos percentuais, em peso úmido, dos diversos materiais constituintes do lixo urbano, juntamente com a determinação de sua produção per capita, é possível a definição de parâmetros de projeto confiáveis, seja no dimensionamento de áreas e/ou volumes de aterros, seja na definição de outras estratégias para disposição final, recuperação ou reciclagem de parte dos resíduos. Devido à grande heterogeneidade do lixo, função de uma série de variáveis sócio-econômicas, temporais, sazonais e climáticas, recomenda-se a realização de campanhas de amostragem e caracterização física dos resíduos na região de interesse do projeto, preferencialmente à adoção de valores médios preconizados na literatura. Caso contrário, as políticas públicas, concernentes à minimização dos impactos negativos advindos da questão dos resíduos sólidos urbanos, podem ficar comprometidas pelo dispêndio de grandes quantias de recursos financeiros nos chamados “projetos prontos”, muitas vezes inadequados às condições locais. Neste estudo, especificamente, pretendeu-se, através da determinação da composição gravimétrica dos resíduos amostrados, aferir a razão entre a massa dos materiais “potencialmente biodegradáveis” e a dos considerados “pouco biodegradáveis ou inertes”. Deve-se ressaltar ainda que, apesar do considerável trabalho despendido na caracterização física do lixo urbano amostrado, não se tem subsídios para fazer uma extrapolação para a realidade global do município de Belo Horizonte, uma vez que seria necessária uma investigação mais ampla, como a realizada por MERCEDES (1997), com a definição de pesos proporcionais à geração dos resíduos nas diversas regionais de limpeza pública. Como objetivo maior do projeto de doutoramento, no qual este estudo está inserido, avaliar-se-á também, ao final da pesquisa, a redução de massa das diversas categorias do lixo urbano confinado nos reatores. - 97 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ A Tabela 5.3 lista os pesos e respectivos percentuais dos vários materiais identificados na massa de resíduos sólidos urbanos, determinados durante os nove dias de preenchimento dos reatores experimentais, segundo a classificação proposta pelo grupo de trabalho e apresentada no item 4.1.3. Tabela 5.3: Composição gravimétrica do lixo urbano amostrado nas diversas regionais. SEG TER QUA QUI SEX SEG TER QUA QUI 7/5 8/5 9/5 10/5 11/5 14/5 15/5 16/5 17/5 Regional Oeste Barreiro Amostra (kg) 83,52 112,74 Dia da Semana Data Noroeste Pampulha 96,76 Categorias 80,46 Leste V.Nova Sul 97,88 97,76 84,52 Nordeste Norte 92,10 89,64 Peso Úmido (%) Média Vidro 2,16 2,80 2,77 3,41 1,66 2,00 3,43 2,61 3,35 2,69 Metal ferroso 2,20 1,15 1,69 2,21 1,29 1,92 0,69 3,15 3,28 1,95 Metal não ferroso 0,43 0,43 0,58 0,50 0,94 0,45 0,52 0,39 0,54 0,53 Plástico fino 9,51 8,00 9,90 7,33 10,85 15,05 12,80 15,40 10,11 10,99 Plástico duro 4,77 3,69 3,06 1,84 3,60 3,14 3,98 2,43 3,24 3,30 PET 0,55 1,45 1,43 1,62 1,41 1,71 1,61 0,96 1,63 1,37 Entulho 6,49 6,46 0,89 1,22 1,82 0,86 - 0,65 0,96 2,15 Outros 6,13 7,24 5,13 7,31 4,47 3,00 4,50 9,66 6,76 6,06 Papel reciclável 4,26 10,43 7,67 5,42 6,85 10,70 11,88 7,49 7,83 8,06 Papel não reciclável 7,78 5,85 4,49 3,73 5,15 6,72 4,99 9,38 3,75 5,76 Papelão 4,53 2,41 1,32 5,15 1,49 1,43 2,46 2,50 3,41 2,74 Tetra Pak 1,29 1,61 1,53 1,79 1,35 1,51 1,42 1,24 1,12 1,43 Tecidos 2,97 2,34 2,17 3,63 1,35 1,84 1,56 2,17 1,32 2,15 Madeira 2,85 0,18 1,22 0,00 0,59 0,82 0,43 2,21 0,96 1,03 Matéria Orgânica 35,32 37,86 50,27 41,21 34,08 30,40 43,63 30,88 35,79 37,70 Podas 2,04 3,12 1,74 6,89 11,18 8,02 4,28 2,65 7,94 5,32 Ossos 0,00 0,50 0,54 1,24 0,78 1,33 0,35 0,78 0,83 0,70 Material Particulado 6,73 4,47 3,62 5,52 11,16 9,11 1,47 5,45 7,21 6,08 Biodegradáveis/Inertes 2,08 2,20 2,93 2,94 2,84 2,55 2,63 1,84 2,35 2,48 0,68 0,69 0,75 0,75 0,74 0,72 0,72 0,65 0,70 0,71 Biodegradáveis/Total Observando-se o gráfico da Figura 5.1, pode-se facilmente notar que as três maiores categorias, por ordem percentual em peso – matéria orgânica, plástico fino e papel reciclável – correspondem, conjuntamente, por aproximadamente 60% do peso total. - 98 - DESA/UFMG 100 40 80 Metal não ferroso Ossos Madeira PET Tetra Pak Metal ferroso Entulho Tecidos Vidro Papelão Plástico duro Podas Papel não reciclável Outros Material Particulado 10 Papel reciclável 20 60 Plástico fino 30 0 40 20 Porcentagem Acumulada (%) 50 Matéria Orgânica Peso Úmido (%) __________________________________________________________________________________________ 0 Figura 5.1: Composição gravimétrica média do lixo urbano amostrado para preenchimento dos reatores anaeróbios (LIBÂNIO, 2002). Este resultado é semelhante ao obtido no mais recente estudo de amostragem e caracterização dos resíduos sólidos urbanos de Belo Horizonte, realizado pela Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (SMLU) e descrito por MERCEDES (1997), no qual estas categorias se apresentam, também, como as três de maiores percentuais em peso úmido, respectivamente 20 Porcentagem Acumulada (%) 40 Ossos Papel não reciclável Metal não ferroso PET Entulho Tetra Pak Madeira 0 Outros Podas 15 Plástico duro 30 Metal ferroso 60 Tecidos 45 Vidro 80 Papelão 60 Papel reciclável 100 Plástico fino 75 Matéria Orgânica Peso Úmido (%) (Figura 5.2). 0 Figura 5.2: Composição gravimétrica média do lixo urbano do município de Belo Horizonte. Modificado de MERCEDES (1997). - 99 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Pode-se observar, ainda, que o percentual de matéria orgânica putrescível é inferior àquele usualmente reportado na literatura. Segundo COLMANETTI et al. (1996), a fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos compõe cerca de 50% em peso da massa total dos resíduos. Por sua vez, nos dois trabalhos preliminares de caracterização do lixo urbano das regionais de limpeza pública Noroeste e Nordeste, também se aferiu percentuais menores que 50%, iguais a 49,8% e 42,1%, respectivamente. Deve-se ressaltar, entretanto, que nesta análise comparativa, diferentemente da Tabela 5.3, somou-se o percentual correspondente à categoria “podas” àquele da “matéria orgânica putrescível”, a fim de se estabelecer um paralelo com os trabalhos anteriores. A Tabela 5.4 lista os percentuais em peso úmido dos diversos constituintes do lixo urbano identificados. Tabela 5.4: Determinação da composição gravimétrica do lixo urbano segundo diferentes metodologias e em épocas distintas. Trabalho Regional NO Data Metodologia Regional NE Preenchimento dos Reatores maio/2001 Convencional (2) Peso %Peso (kg) (%) 22,26 2,66 20,56 2,46 91,86 10,99 39,22 4,69 18,62 2,23 50,50 6,05 150,70 18,03 17,76 2,12 8,40 1,00 358,94 42,94 5,90 0,71 51,16 6,12 100,00 835,88 dezembro/2000 abril/2001 Simplificada (1) Convencional (2) Peso %Peso Peso %Peso Categoria (kg) (%) (kg) (%) Vidro 0,38 1,84 8,19 1,73 Metal 0,51 2,44 14,01 2,96 Plástico fino 2,09 10,10 49,11 10,37 Plástico duro e PET 0,43 2,05 25,18 5,32 Entulho 0,21 1,03 9,68 2,05 Outros 1,03 4,95 28,14 5,95 (3) 3,99 19,27 98,36 20,78 Papel Tecidos e Espuma 0,55 2,64 16,17 3,42 Madeira 0,20 0,98 9,14 1,93 (4) 10,32 49,82 199,39 42,13 Matéria Orgânica Putrescível Ossos 0,38 1,85 1,64 0,35 Material Particulado 0,63 3,02 14,30 3,02 TOTAL 100,00 100,00 20,71 473,32 (1) – Metodologia descrita por COSTA et al. (2001). (2) – Metodologia descrita por TCHOBANOGLOUS et al. (1993). (3) – Referente às categorias de “papel reciclável”, “não reciclável”, “papelão” e “tetra pak”. (4) – Incluindo a categoria “podas”. - 100 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Observa-se uma satisfatória coerência entre os resultados obtidos nos trabalhos preliminares (caracterização do lixo urbano das regionais Noroeste e Nordeste) e aqueles obtidos durante o preenchimento dos reatores experimentais, considerando-se que os estes trabalhos se reportam a épocas distintas e os volumes caracterizados são significativamente diferentes: 21, 473 e 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Madeira Entulho Vidro Ossos Plástico duro e PET Metal Tecidos e Espuma Material Particulado Outros Plástico fino Papel Regional NO - Dezembro/2000 Regional NE - Abril/2001 Preenchimento dos Reatores - Maio/2001 Matéria Orgânica Porcentagem em peso úmido (%) 836 kg, respectivamente (Figura 5.3) Figura 5.3: Comparação dos resultados obtidos na caracterização do lixo urbano em trabalhos preliminares e durante o preenchimento dos reatores experimentais. COSTA et al. (2001) descreve mais detalhadamente os procedimentos metodológicos utilizados na amostragem dos resíduos sólidos urbanos gerados na regional Noroeste, fazendo uma avaliação comparativa entre a metodologia simplificada, empregada nesta ocasião, e a metodologia convencional referida por TCHOBANOGLOUS et al. (1993), usualmente adotada pelos pesquisadores e empregada quando do preenchimento dos reatores experimentais. - 101 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.1.2.2. Teor de Umidade Conforme descrito no item 4.5, somente aqueles materiais constituintes da fração biodegradável do lixo urbano, sujeitos mais intensamente às transformações bioquímicas pela atividade microbiana, foram objeto das análises laboratoriais. A massa de inertes foi segregada e pesada, sendo de interesse somente quando da determinação da composição gravimétrica dos resíduos amostrados. Assim, ao final de cada dia de amostragem dos resíduos no aterro sanitário, duas amostras representativas do material “potencialmente biodegradável”, aproximadamente 1 kg cada, eram encaminhadas para desidratação em estufa. A Tabela 5.5 apresenta os resultados obtidos na determinação do teor de umidade destas amostras. Tabela 5.5: Teor de umidade da fração “potencialmente biodegradável” do lixo urbano. Data Dia da Semana Regional 7/5/2001 Segunda Oeste 8/5/2001 Terça Barreiro 9/5/2001 Quarta Noroeste 10/5/2001 Quinta Pampulha 11/5/2001 Sexta Leste 14/5/2001 Segunda Venda Nova 15/5/2001 Terça Sul 16/5/2001 Quarta Nordeste 17/5/2001 Quinta Norte - 102 - Amostra 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 Teor de Umidade (%) Amostra Médio 55,3 53,7 52,1 47,4 48,4 49,5 58,8 62,2 65,5 52,7 51,6 50,4 46,6 44,8 42,9 53,9 54,3 54,7 47,6 54,6 61,5 49,8 53,8 57,8 58,5 58,9 59,4 Média 53,6 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Logo, ao término do período de amostragem e preenchimento dos reatores anaeróbios, pôdese determinar um teor de umidade médio de 53,6% (44,8% a 62,2%). Deve-se ressaltar que estes valores correspondem à fração biodegradável e, assumindo-se desprezível o teor de umidade dos materiais inertes, pode-se facilmente estimar a umidade da massa total de resíduos, multiplicando-se os valores aferidos pela razão massa de resíduos potencialmente biodegradáveis / massa total de resíduos. Tabela 5.6: Teor de umidade corrigido, considerando-se a massa total de resíduos amostrada. Data Dia da Semana Regional 7/5/2001 8/5/2001 9/5/2001 10/5/2001 11/5/2001 14/5/2001 15/5/2001 16/5/2001 17/5/2001 Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Segunda Terça Quarta Quinta Oeste Barreiro Noroeste Pampulha Leste Venda Nova Sul Nordeste Norte Razão Biodegradáveis Total 0,68 0,69 0,75 0,75 0,74 0,72 0,72 0,65 0,70 Média Teor de Umidade Corrigido (%) 36,5 33,4 46,6 38,7 33,1 39,1 39,3 35,0 41,3 38,1 Finalmente, como apresentado na Tabela 5.6, chega-se a um teor médio de umidade corrigido de 38,1 % (33,1 a 46,6%). É importante destacar ainda a não ocorrência de chuvas durante a campanha de amostragem do lixo urbano no aterro municipal de Belo Horizonte (Tabela 4.2), o que poderia ter contribuído significativamente para o aumento do teor de umidade dos resíduos. Segundo BARROS (1998), o teor de umidade do lixo urbano no Brasil, devido à grande quantidade de matéria orgânica presente, pode ser bastante elevado, superior a 30%. IPT/CEMPRE (2000) estimaram um teor de umidade do lixo urbano bem superior, em uma faixa típica de 60 a 80% em peso. - 103 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.1.3. Caracterização Química dos Resíduos Sólidos Urbanos Amostrados 5.1.3.1. Teores de Carbono, Hidrogênio e Nitrogênio Os teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio foram determinados pela Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), através da análise instrumental das amostras já devidamente preparadas, correspondentes aos dias de amostragem e às diferentes granulometrias obtidas no processo de trituração em moinho de faca e de bolas, respectivamente. A Tabela 5.7 lista as concentrações destes elementos, determinadas em 10 diferentes amostras. Tabela 5.7: Teores de carbono, hidrogênio e nitrogênio pela análise instrumental. Amostra Carbono (%) Hidrogênio (%) Nitrogênio (%) Dia 08/05/2001 30,8 5,1 1,4 Dia 09/05/2001 41,9 6,3 2,4 Dia 10/05/2001 31,6 4,9 1,8 Dia 11/05/2001 21,6 3,1 1,7 Dia 14/05/2001 32,6 4,6 2,3 Dia 15/05/2001 35,9 5,7 2,4 Dia 16/05/2001 41,2 6,4 2,3 Dia 17/05/2001 28,1 4,5 1,8 Amostra composta (1) 35,3 5,5 2,4 (1) Amostra composta 37,3 5,7 2,4 33,6 5,2 2,1 Teores médios (%) (1) – Amostra composta pela mistura de iguais alíquotas de cada de dia amostragem. É importante observar que os valores extremos do teor de carbono, hidrogênio e nitrogênio são correspondentes, coincidindo com os mesmos dias de amostragem (dias 9, 11 e 16 de maio) nos quais se observam os percentuais extremos de matéria orgânica (Tabela 5.3). Assim, considerando-se as concentrações médias de 33,6 % Carbono (30,8 a 41,9%), 5,2% Hidrogênio (3,1 a 6,4%) e 2,1 % Nitrogênio (1,4 a 2,4%), bem como a massa atômica dos respectivos elementos, fez-se possível estimar a formulação empírica dos resíduos classificados como “potencialmente biodegradáveis”: No moles de Carbono ⇒ 33,6/12 * 14/2,1 = 18,7 ≅ 19 No moles de Hidrogênio ⇒ 5,2/1 * 14/2,1 = 34,7 ≅ 35 No moles de Nitrogênio ⇒ 2,1/14 * 14/2,1 = 1 - 104 - C19H35N DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tal estimativa mostra-se coerente com as formulações básicas de HAMADA (1997) para resíduos “lentamente e rapidamente biodegradáveis”, obtidas a partir de relações C:H:N aferidas em restos de alimentos, papel e papelão, têxteis e madeira, se observadas as razões C:H e C:N, listadas na Tabela 5.8. Tabela 5.8: Estimativa da composição química de materiais constituintes do lixo urbano. Resíduos Composição Química %C %H %N Restos de alimentos 48,0 6,4 2,6 Papel, papelão 44,0 6,0 0,3 Têxteis 55,0 6,6 4,6 Madeira 49,5 6,0 0,2 Velocidade de Degradação Formulação Rapidamente Biodegradável C40H64N Lentamente Biodegradável C16H23N Fonte: Modificado de HAMADA (1997). Pode-se notar que a razão C:H e C:N, iguais a 6,5 e 16, respectivamente, obtidas nas análises de amostras dos resíduos “potencialmente biodegradáveis” (Grupos I, II e material particulado), são bem próximas àquelas aferidas por HAMADA (1997) para a categoria denominada “restos de alimentos” (C:H = 7,5 e C:N = 18,5). Este resultado mostra-se válido, uma vez que a matéria orgânica putrescível, composta majoritariamente por restos de alimentos, corresponde a aproximadamente 53% da fração de resíduos analisada, ou seja, da fração de resíduos classificados como potencialmente biodegradáveis. 5.1.3.2. Teor de Sólidos Voláteis A massa de composto ou da fração orgânica dos resíduos sólidos perdida por ignição (550oC) é denominada por alguns pesquisadores, entre os quais KIEHL (1981) e PINTO (2000a), como teor de matéria orgânica total, ou simplesmente, teor de matéria orgânica. Por sua vez, AZEVEDO (1993), LIMA (1988), EGREJA (1996) e GOMES (1989) apresentaram os resultados do material volatilizado como teor de sólidos voláteis. A Tabela 5.9 apresenta os teores de sólidos voláteis determinados em amostras correspondentes aos dias de amostragem e em duas amostras compostas pela mistura de iguais alíquotas de cada de dia amostragem. - 105 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tabela 5.9: Teores de sólidos voláteis no lixo urbano amostrado. Amostra SV (%) Dia 08/05/2001 65,3 Dia 09/05/2001 73,2 Dia 10/05/2001 65,3 Dia 11/05/2001 41,7 Dia 14/05/2001 64,7 Dia 15/05/2001 80,2 Dia 16/05/2001 60,6 70,3 Dia 17/05/2001 68,9 Amostra composta (1) (1) 78,3 Amostra composta Teores médios (%) 66,3 (1) – Amostra composta pela mistura de iguais alíquotas de cada de dia amostragem. O teor médio de sólidos voláteis, determinado na fração dos resíduos “potencialmente biodegradáveis” do lixo urbano amostrado, variou significativamente, sendo de aproximadamente 66,3% (41,7% a 80,2%). 5.1.3.3. Verificação da Correlação entre o Teor de Carbono e de Sólidos Voláteis Diversos pesquisadores, na impossibilidade de determinar o teor de carbono total através da técnica instrumental, notadamente em amostras de solo ou composto, valem-se da correlação entre o teor de carbono e de sólidos voláteis, uma vez que a determinação deste último não apresenta grande dificuldade. Ademais, tal procedimento se justifica dado o elevado custo e a possível inacessibilidade aos instrumentos laboratoriais necessários à realização desta análise. Neste sentido, KIEHL (1981) propõe a inferência do teor de carbono total (C% total) e do teor de carbono orgânico total (C% orgânico) a partir das determinações da matéria orgânica total (método de ignição) e decomponível (por via úmida), respectivamente. Por sua vez, nas inferências analíticas de amostras essencialmente orgânicas – solos orgânicos, compostos, fração orgânica putrescível do lixo urbano – nas quais a massa de inertes é desprezível, deve valer a consideração de que a matéria orgânica decomponível equivale à total e, logo, % carbono total = % carbono orgânico total. Assim, considerando-se que a porcentagem de carbono na matéria volatilizada é fixa (56 a 58%), utiliza-se fatores de correlação que não expressam o teor real de carbono, uma vez que este varia em função de - 106 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ uma série de parâmetros, inclusive da composição da matéria-prima. No Brasil, um fator muito utilizado é 1,8, embora alguns autores sugiram 1,78; 1,72 e até 2 para a determinação do teor de carbono total. Neste estudo, objetivou-se avaliar a correlação entre o teor de carbono total e de sólidos voláteis, a partir da determinação de ambos em amostras do lixo urbano de Belo Horizonte, através da análise instrumental e método da ignição, respectivamente. Uma vez que tais amostras foram obtidas de acordo com os procedimentos descritos no item 4.5, ou seja, com quarteamentos e homogeneizações consecutivas da massa dos materiais potencialmente biodegradáveis (grupos I e II) e exclusão dos componentes inertes (grupo III), assumiu-se válida, como já mencionado, a hipótese de que os teores de carbono orgânico e total são equivalentes. Além disto, estes procedimentos de amostragem podem ter contribuído significativamente para minimização do carbono inorgânico – carbonatos, cianetos e carbono elementar, tal como grafite – reduzindo-se, assim, a necessidade de eliminá-lo antes da análise instrumental, o que, por outro lado, poderia também implicar na eliminação de ácidos graxos voláteis. As Figuras 5.4 e 5.5 os gráficos de dispersão dos teores de carbono e sólidos voláteis aferidos nas amostras de lixo urbano correspondentes a cada dia de amostragem e à mistura destes. y = 0,4316x + 3,6134 R2 = 0,9524 Figura 5.4: Dispersão dos pontos amostrais após ajuste inicial de modelo linear. Figura 5.5: Visualização da boa correlação entre as grandezas após tratamento estatístico. - 107 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Após a eliminação dos pontos amostrais fora do intervalo de confiança de 95% para o modelo de regressão linear, obteve-se um bom reajuste das observações à reta de regressão (coeficiente de correlação R > 0,97). Verificou-se também o reajuste de outro modelo de regressão linear com intercepto nulo, apresentado na Figura 5.6. %Carbono = 0,4857. %Sólidos Voláteis (coeficiente de correlação R > 0,95) 40,0 % Carbono y = 0,4857x R2 = 0,9370 35,0 Reescrevendo-se a equação, tem-se: 30,0 % Carbono = % Sólidos Voláteis / FC 25,0 sendo, 20,0 35,0 FC = fator de correlação = 1 / 0,4857 45,0 55,0 65,0 75,0 85,0 % Sólidos Voláteis %Carbono = %Sólidos Voláteis / 2,06 Figura 5.6: Determinação do fator de correlação para estimativa do teor de carbono a partir da determinação dos sólidos voláteis. Por fim, aferiu-se uma boa correlação entre o teor de carbono total (teor de carbono orgânico total) e o teor de sólidos voláteis em amostras correspondentes à fração potencialmente biodegradável do lixo urbano de Belo Horizonte. Assim, o modelo de regressão linear mostrou-se adequado para explicar a variabilidade amostral, determinando-se um fator de correlação (FC ≅ 2) bem próximo ao preconizado na literatura. 5.1.3.4. Teor de Metais Pesados As concentrações médias de metais pesados aferidas em amostras correspondentes aos volumes de resíduos sólidos urbanos amostrados, encontram-se listadas na Tabela 5.10. Apesar da significativa amplitude de valores entre os diferentes dias de amostragem, observase uma satisfatória coerência com relação à ordem de grandeza dos resultados. - 108 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tabela 5.10: Teores de metais pesados determinados em amostras de RSU, por espectrofotometria de absorção atômica (EAA). Metais Pesados (mg kg-1) Ni Cr Cd Pb Cu Mn Zn Ca Dia 08/05/2001 17 22 <1 54 375 63 321 26533 Dia 09/05/2001 44 24 <1 <10 217 95 125 15833 Dia 10/05/2001 30 27 1 78 262 176 283 14867 Dia 11/05/2001 22 36 <1 56 226 181 209 26600 Dia 14/05/2001 14 23 9,5 <10 71 160 156 22633 Dia 15/05/2001 10 16 2 <10 360 88 196 16356 Dia 16/05/2001 21 14 2 <10 102 261 113 31444 Dia 17/05/2001 16 13 <1 <10 58 92 102 18589 Amostra composta (1) 22 32 <1 <10 133 104 125 17433 Amostra composta (1) 22 25 <1 <10 189 115 153 21500 2 26 199 134 178 21179 Teores médios 22 23 (1) – Amostra composta pela mistura de iguais alíquotas de cada de dia amostragem. Amostra Mg 2027 1495 1163 2497 1700 1533 1364 1641 1760 2011 1719 Al 2709 1553 2761 4933 2899 2225 4742 3572 3157 2674 3123 Adicionalmente, devido ao caráter extremamente heterogêneo dos resíduos sólidos urbanos e à falta de padronização dos procedimentos de amostragem e caracterização, é possível observar, na Tabela 5.11, uma grande discrepância entre as concentrações de metais pesados aferidas em amostras de lixo urbano, apresentadas por diferentes autores. Tabela 5.11: Comparação entre os teores de metais pesados em amostras de RSU aferidos no presente estudo e em outros trabalhos. Referência Metais Pesados (mg kg-1) Pb Cu Mn Zn Ni Cr Cd Ca Mg Al Presente estudo 22 23 2 26 199 134 178 Rao & Shantaram, 1995 (1) 12 26 2 135 113 - 235 - - - Tisdell & Breslin, 1995 (1) 80 73 11 603 762 - 1190 - - - Miyazawa et al., 1998 (1) 4 23 <1 11 66 - 427 - - - Schalch, 1999 - - - - - 1 10 21 42 - 21179 1719 3123 (1) – Trabalhos referenciados por ANDREOLI et al. (1999). Por sua vez, os gráficos da Figura 5.7 destacam a importância dos procedimentos preparatórios, preliminares à determinação do teor de metais por EAA, uma vez que se observam, nas mesmas amostras, maiores concentrações dos metais em frações de menor granulometria. - 109 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 35 30 25 20 15 10 5 0 d < 35 mesh 35 < d < 60 mesh d > 60 mesh 200 150 100 50 0 Ni Cr Cd Pb 30000 Concentração (ppm) 250 Concentração (ppm) Concentração (ppm) 40 25000 20000 15000 10000 5000 0 Cu Mn Zn Ca Mg Al Figura 5.7: Avaliação da interferência da granulometria na determinação das concentrações médias dos diversos metais em amostras de resíduos sólidos urbanos (N = 10 amostras). Tal fato pode ser explicado pela maior área específica das amostras de menor granulometria, favorencendo o ataque das amostras quando da digestão com ácido forte (item 4.6.3). Adicionalmente, diversos trabalhos descrevem a associação das partículas ínfimas com os metais pesados. BRILHANTE (1990) apud PALADINO et al. (1997) sugeriram que a poeira das ruas e nos domicílios pode ser importante fonte de metais tóxicos, implicando em riscos à saúde pública quando da ingestão de alimentos sujos, contaminados por estas partículas. Apesar de que ainda não exista, no Brasil, padrões de qualidade do ar concernentes às concentrações de metais pesados (Resolução CONAMA no3 de 1990), tal realidade é uma preocupação em muitos centros urbanos, sendo recomendado o seu monitoramento e atendimento aos limites máximos preconizados pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1977). Desta forma, uma vez que seja significativa a presença destas partículas sedimentáveis (poeira total em suspensão na atmosfera) nos resíduos gerados pelo serviço de varrição da limpeza pública, os teores de metais podem ser consideravelmente maiores nas frações de menor granulometria, após trituração e peneiramento das amostras. - 110 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.2. Chorume Drenado nos Reatores de RSU O conjunto de dados apresentados neste item, relativos ao diversos parâmetros e variáveis de interesse na avaliação da digestão dos resíduos sólidos urbanos, refere-se ao monitoramento dos primeiros 160 dias de operação da linha de tratamento convencional dos RSU (linha 1) e da linha de tratamento integrado (linha 3). Considerando-se a lenta dinâmica de biodegradação da fração orgânica do lixo urbano, este período inicial de monitoramento deve ser entendido como a partida do sistema e, portanto, as discussões e conclusões devem ser relativizadas. Os valores relativos aos pontos amostrais, apresentados nos diversos gráficos, encontram-se listados nas tabelas em anexo (Tabelas A1 a A17). 5.2.1. Matéria Orgânica A avaliação do teor de matéria orgânica presente no chorume drenado dos reatores experimentais se deu, basicamente, pela determinação da DBO, DQO filtrada e total. A carga orgânica dos lixiviados de aterros sanitários pode variar significativamente em função de uma série de fatores: condições climatológicas e hidrogeológicas da região do aterro, livre drenagem dos líquidos lixiviados, constituição química dos resíduos aterrados, variáveis operacionais, idade do aterro, entre outros. Como se pode observar nas Figuras 5.8 e 5.9, diferentemente da linha de tratamento convencional dos RSU (linha 1), o sistema integrado (linha 3) apresentou uma forte tendência de redução da DBO e da DQO filtrada após 100 dias de operação do sistema, devido, certamente, à significativa diminuição da concentração dos compostos orgânicos solúveis, ou mais especificamente, à redução da concentração dos ácidos graxos voláteis (Figura 5.19). Os valores de DBO apresentados na Figura 5.8 correspondem às análises realizadas sem procedimento de inoculação. - 111 - DESA/UFMG 70 70 60 60 50 50 DBO (g/L) DBO (g/L) __________________________________________________________________________________________ 40 30 20 40 30 20 10 R1 R2 10 0 R7 R8 R9 30 60 90 0 0 30 60 90 120 150 180 0 Tempo de Operação (dias) 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.8: Evolução temporal da DBO nas duas linhas de operação. 80 DQO filtrada (g/L) DQO filtrada (g/L) 80 60 40 20 R1 R2 0 60 40 20 R7 R8 R9 0 0 30 60 90 120 150 180 0 Tempo de Operação (dias) 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.9: Evolução temporal da DQO filtrada nas duas linhas de operação. 80 DQO total (g/L) DQO total (g/L) 80 60 40 20 R1 R2 60 40 20 R7 R8 R9 0 0 0 30 60 90 120 150 180 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) Tempo de Operação (dias) Figura 5.10: Evolução temporal da DQO total nas duas linhas de operação. - 112 - 180 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Na linha 1, a razão DQO total / DQO filtrada permaneceu em torno de 70% (40% a 100%) ao longo de todo o período de observação. O mesmo é observado na linha 3 durante os primeiros 100 dias de operação, havendo, então, em função da redução da DQO filtrada (redução de AGV) uma drástica diminuição desta razão, obtendo-se valores da ordem de 20% da DQO total (Figura 5.11). DQO filt. / DQO total (%) DQO filt / DQO total (%) 100 80 60 40 R2 R1 20 100 80 60 40 R7 20 R8 R9 0 0 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) 0 180 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.11: Variação da razão DQO filtrada/DQO total nas duas linhas de operação. Adicionalmente, ao se avaliar a relação DBO/DQO total no lixiviado das linhas 1 e 3, pode-se perceber, nitidamente, uma acentuada diminuição deste valor na linha 3 (DBO/DQO ≅ 0,8 para < 0,4), enquanto, na linha 1, esta razão permaneceu em torno de 0,8 ao longo de todo o 1,0 1,0 0,8 0,8 DBO/DQO total DBO/DQO total período de observações (Figura 5.12). 0,6 0,4 0,2 R1 0,6 0,4 0,2 R7 R2 R8 R9 0,0 0,0 0 30 60 90 120 150 180 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) Tempo de Operação (dias) Figura 5.12: Variação da razão DBO/DQO total nas duas linhas de operação. - 113 - 180 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ A razão DBO/DQO é uma informação importante na avaliação da biodegradabilidade de efluentes líquidos, podendo auxiliar na definição do tipo de tratamento a ser adotado: biológico, físico-químico ou ambos. Diversos autores (HAMADA, 1997; RUSSO et al., 2000b) propuseram que a razão DBO5/DQO do chorume situa-se em torno de 0,5 ou maior na fase inicial de degradação dos resíduos aterrados, enquanto que, em aterros mais antigos, a mesma varia entre 0,05 e 0,2. Ademais, este quociente pode também fornecer informações importantes sobre a sucessão de etapas da digestão anaeróbia do lixo urbano aterrado. ROBINSON et al. (1979) apud PESSIN et al. (1997) afirmaram que uma razão DBO5/DQO no chorume igual 0,4 é indicativa da mudança da fase acetogênica para a metanogênica. Por sua vez, os gráficos da Figura 5.13 não evidenciam um bom desempenho do reator UASB na redução da carga orgânica afluente, independentemente dos parâmetros hidráulicos de operação. Ainda que se admita válida a hipótese de que toda a carga orgânica afluente em suspensão ter sido hidrolisada, ou seja, completa conversão da DQO particulada em DQO solúvel no interior do reator UASB, verifica-se uma baixa eficiência de remoção da DQO afluente. A Deliberação Normativa COPAM 46/2001, objetivando incentivar maiores investimentos do poder público no tratamento de águas residuárias e de lixiviados de aterros sanitários, alterou os limites de eficiência de remoção em termos de DBO e DQO até então vigentes (COPAM 10/86), admitindo um limite máximo de 60 e 90 mg/L, respectivamente, ou então, uma redução da carga poluidora em 60%, desde que a qualidade da água do corpo receptor permaneça compatível à sua classe de enquadramento. Ao flexibilizar estas restrições, o Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) pretendeu adequar as exigências da legislação ambiental às reais condições e possibilidades técnicas e econômicas de tratamento destes efluentes, favorecendo o emprego e a disseminação de tecnologias de tratamento de menor custo, notadamente os sistemas de tratamento anaeróbio. - 114 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Apesar disto, constata-se ainda a necessidade de um pós-tratamento para o cumprimento da legislação estadual concernente aos padrões de lançamento em coleções de águas, uma vez que as concentrações de DQO no efluente do reator UASB encontram-se muito acima do limite máximo estabelecido (DQO efluente >> 90 mg/L) e somente 20% dos resultados correspondem a uma eficiência superior a 60%. Todavia, tais resultados devem ser vistos com ressalvas, considerando-se tratar apenas da partida do reator. 100 Efluente do reator UASB 80 60 60 40 40 20 20 0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 20 40 60 80 Eficiência (%) 80 DQO (g/L) 100 DQO total afl. DQO filtrada ef. 0 100 Freqüência Acumulada (%) Figura 5.13: Avaliação da eficiência de remoção de DQO no reator UASB, considerando-se a hidrólise total da fração particulada. Apesar da baixa eficiência de remoção da carga orgânica afluente observada, diversos outros pesquisadores já obtiveram maior sucesso no tratamento anaeróbio do chorume. CLARETO et al. (1996) atestaram a eficiência de um reator anaeróbio compartimentado no tratamento de chorume proveniente de aterro sanitário “jovem”, com alta concentração de matéria orgânica, observando um bom desempenho até uma carga orgânica volumétrica máxima (COVmax) de 11 kgDQO/m3.dia. Posteriormente, CLARETO (1997) apud PESSIN et al. (2000) sugeriu uma Taxa de Carregamento Orgânico (ou Carga Orgânica Volumétrica) para sistemas de tratamento anaeróbio de chorume na faixa de 0,8 a 10 kgDQO/m3.d. BORZACCONI et al. (1996b), ao avaliarem o tratamento do chorume proveniente do aterro sanitário de Montevidéu (Uruguai), com características típicas de um lixiviado drenado de células recentemente aterradas – razão DBO5/DQO ≅ 0,6 e elevada carga orgânica, constataram um bom desempenho do reator UASB – até 80% remoção de DQO – operando em condições de COV < 10 kgDQO/m3.dia e TDH = 2 dias. - 115 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.2.2. Sólidos Como se pode observar pelos gráficos da Figura 5.14, a concentração de sólidos suspensos voláteis e sólidos dissolvidos voláteis na linha de tratamento convencional de RSU (linha 1) apresenta pequenas variações durante todo o período de observação. É importante também notar, em ambas as linhas de operação, a elevada concentração de sólidos voláteis dissolvidos, que respondem por cerca de 95% da concentração de sólidos totais voláteis. 80 5 R1 R1 SDV (g/L) SSV (g/L) 4 R2 3 2 R2 60 40 20 1 0 0 0 30 60 90 120 150 180 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Tempo de Operação (dias) Figura 5.14: Evolução temporal da concentração de sólidos suspensos e dissolvidos voláteis na linha de tratamento convencional dos RSU (linha 1). Diferentemente, na linha com recirculação do chorume e inoculação da digestão dos RSU com o lodo biológico (linha 3), observa-se uma nítida redução do teor de sólidos dissolvidos voláteis, enquanto que, por outro lado, a concentração de sólidos suspensos voláteis apresenta um incremento, passando de aproximadamente 1,5 para 2,5 g/L (Figura 5.15). 5 80 R7 R9 R7 SDV (g/L) SSV (g/L) 4 R8 3 2 R8 R9 60 40 20 1 0 0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.15: Evolução temporal da concentração de sólidos suspensos e dissolvidos voláteis na linha de tratamento integrado dos RSU (linha 3). - 116 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ A primeira constatação se justifica pois, uma vez que os ácidos orgânicos de cadeia curta (ácidos voláteis) são sólidos dissolvidos voláteis, a diminuição de sua concentração também implica na redução das concentrações destes últimos. Este fato também se mostra coerente com as observações referentes à redução das concentrações da matéria orgânica de mais fácil assimilação e na forma solúvel, aferidas pelos parâmetros DBO e DQO filtrada, respectivamente (Figuras 5.8 e 5.9). Por sua vez, o incremento na concentração de sólidos suspensos voláteis pode significar o crescimento da população de microrganismos a partir do consumo dos ácidos voláteis (por exemplo, organismos metanogênicos acetotróficos), uma vez que a biomassa responde, em parte, pela concentração de sólidos suspensos voláteis. A Figura 5.16 ilustra bem este mesmo comportamento, podendo-se observar, claramente, na linha 3, à exceção do reator R7, o aumento da razão SSV/STV de 5% para cerca de 25% da fração de sólidos totais voláteis. Na linha 1, entretanto, esta razão permaneceu constante, menor ou igual a 15%. 30 R1 Razão SSV/STV (%) Razão SSV/STV (%) 30 R2 20 10 0 R7 R8 R9 20 10 0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) Figura 5.16: Variação da razão SSV/STV nas duas linhas de operação. - 117 - 180 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.2.3. Nutrientes A presença de nutrientes, em concentrações adequadas ao metabolismo intracelular dos microrganismos é uma questão fundamental para o sucesso dos sistemas de tratamento biológico de efluentes. Se no tratamento dos esgotos sanitários, à exceção do ferro, verifica-se geralmente a disponibilidade de todos os tipos apropriados de nutrientes (CHERNICHARO, 1997), o mesmo não é válido para o tratamento de outros efluentes. Em ambas as linhas de operação do experimento, não se observou um padrão nítido quanto à utilização de nitrogênio orgânico pelos microrganismos anaeróbios, ocorrendo apenas variações pontuais das concentrações deste composto (Figura 5.17). 900 R1 750 R2 N orgânico (mg/L) N orgânico (mg/L) 900 600 450 300 150 R7 750 R8 R9 600 450 300 150 0 0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.17: Evolução temporal da concentração de nitrogênio orgânico nas duas linhas de operação. Enquanto na linha 1, a concentração de nitrogênio orgânico oscilou entre 100 e 300 mg/L (80% dos resultados), na linha 3, a sua concentração foi um pouco menor, entre 50 e 250 mg/L (75% dos resultados). Verifica-se, ainda, nos gráficos da Figura 5.18, um desempenho deficiente do reator UASB na remoção de nutrientes – nitrogênio total Kjeldahl e fósforo total – independentemente dos parâmetros hidráulicos de operação. - 118 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 100 NTK (mg/L) 120 1400 1200 1000 NTK (mg/L) 1600 800 600 400 200 0 Afl. reator UASB Efl. reator UASB 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) Afl. reator UASB Efl. reator UASB 80 60 40 20 0 180 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) 180 Figura 5.18: Evolução temporal das concentrações de nutrientes, NTK e fósforo, no afluente e efluente do reator UASB. Conforme descrito por REICHERT et al. (2000), o tratamento anaeróbio, que usualmente precede o tratamento aeróbio e/ou físico-químico do chorume, não é capaz de remover o nitrogênio. Porém, se por um lado, a baixa remoção dos teores de nitrogênio no tratamento anaeróbio é uma reconhecida desvantagem deste processo, havendo apenas a conversão do nitrogênio orgânico à amônia, é possível a obtenção de elevada eficiência na remoção de fósforo em reatores anaeróbios operando em faixas neutras de pH, com a formação de precipitados insolúveis, tais como fosfatos de cálcio e de ferro, que são incorporados aos grânulos do lodo biológico (SOUZA, 1997). Segundo BORZACCONI et al. (1996a), o fósforo não se encontra disponível no chorume em uma concentração adequada aos processos aeróbios e anaeróbios, sendo que, nestes últimos, o seu requerimento é de menor monta. O autor comentou que tal fato pode prejudicar as características de granulação do lodo biológico no interior do reator UASB. A Tabela 5.12 apresenta uma avaliação sucinta da disponibilidade de nutrientes na digestão anaeróbia dos resíduos sólidos urbanos confinados nos reatores anaeróbios de resíduos sólidos urbanos, nas duas linhas de operação do experimento. - 119 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Tabela 5.12: Relação entre as concentrações de DQO total, nitrogênio total Kjeldahl (NTK) e fósforo total, aferidas no chorume drenado dos reatores de RSU de ambas as linhas de operação. Linha de tratamento convencional (1) Dias de Operação Linha de tratamento integrado (2) NTK (mg/L) P (mg/L) NTK (mg/L) P (mg/L) 33 1001 34 1080 19 50 798 23 939 21 113 1527 66 1416 32 126 1239 153 1153 89 141 1148 181 985 91 155 1456 45 1503 32 Razões médias DQO : NTK : P 1195:22:1 1660:36:1 (1) – Valores médios determinados nos reatores R1 e R2. (2) – Valores médios determinados nos reatores R7, R8 e R9. Como se pode observar, com relação à demanda nutricional no metabolismo dos microrganismos anaeróbios, a disponibilidade de fósforo no chorume pode ter sido o fator limitante de seu crescimento. As razões médias entre as concentrações de DQO total, NTK e fósforo, determinadas nos líquidos lixiviados dos reatores experimentais, são superiores àquelas referidas por LETTINGA et al. (1996) apud CHERNICHARO (1997) no tratamento de esgotos domésticos: • DQO:NTK:P =1000 : 5 : 1 (arqueas metanogênicas) • DQO:NTK:P =350 : 5 : 1 (bactérias fermentativas) - 120 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.2.4. Sistema Ácido/Base O sistema ácido/base de processos biológicos anaeróbios é descrito basicamente por três parâmetros: pH, alcalinidade e ácidos graxos voláteis. Estes três fatores encontram-se intrinsecamente relacionados e, portanto, a interpretação dos dados relativos ao seu monitoramento envolve a compreensão conjunta dos mesmos. O sistema ácido/base descreve as condições nas quais os fenômenos bioquímicos se processam, direcionando as reações no sentido da síntese ou dissociação de certos compostos, favorecendo ou não sua concentração no meio, regulando as formas e espécies químicas predominantes. Conforme descrito por CHERNICHARO (1997), o efeito do pH pode se manifestar de forma direta sobre a atividade enzimática ou, ainda, afetar indiretamente a toxicidade do meio. Por sua vez, a alcalinidade tem papel fundamental na manutenção do pH, restringindo variações bruscas deste parâmetro que poderiam afetar significativamente a atividade microbiana. O monitoramento do pH, alcalinidade e dos ácidos voláteis nas duas linhas de operação do sistema, permitiu a constatação da elevada dependência dos processos biológicos de degradação quanto às condições do sistema ácido/base. As Figuras 5.19 a 5.21 apresentam os dados obtidos segundo a metodologia de análise de BUCHAUER (1998), ilustrando a íntima relação entre os parâmetros monitorados. 20 8 7 6 10 5 0 4 8 29 50 78 99 120 141 161 AGV AT pH 30 20 8 7 6 10 5 0 4 8 Tempo de Operação (dias) 9 pH 30 AGV e AT (g/L) AGV e AT (g/L) AGV AT pH Linha 3 40 9 pH Linha 1 40 29 50 78 99 120 141 161 Tempo de Operação (dias) Figura 5.19: Evolução temporal das concentrações de ácidos graxos voláteis, alcalinidade total e pH nas duas linhas de operação. - 121 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 30 7 20 6 10 5 0 4 8 15 8 Alcalinidade (g/L) AGV e AT (g/L) AGV AT pH pH Reator UASB 40 AB 12 AAV 9 6 3 0 29 50 78 99 120 141 161 0 Tempo de Operação (dias) 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.20: Evolução das concentrações de ácidos graxos voláteis, alcalinidade total e pH no efluente do reator UASB. Figura 5.21: Variação das concentrações de alcalinidade bicarbonato e de ácidos voláteis na linha de tratamento integrado (linha 3). É fácil observar que a correção do pH através da adição de solução de NaOH na linha 3 (item 4.8) foi acompanhada da acentuada diminuição da concentração de ácidos graxos voláteis. Tal fato pode ser explicado pela intensificação da atividade metanogênica após a correção do pH para valores neutros, com consumo dos ácidos voláteis e formação de metano. A intensificação da metanogênese neste período é também evidenciada pelo monitoramento dos outros parâmetros já mencionados: redução da DBO e DQO filtrada (item 5.2.1), diminuição do teor de sólidos dissolvidos voláteis e aumento da concentração de SSV (item 5.2.2). POHLAND (1973) verificou, em laboratório, que a recirculação do chorume, associada ao lodo de esgoto digerido e com adição de soluções tampão, consistiu em um procedimento eficiente para neutralização da acidez, estimulando a digestão anaeróbia dos resíduos sólidos. Conforme observado por BALDOCHI et al. (1996), a inoculação da digestão anaeróbia do lixo urbano com chorume de pH neutro favoreceu as interações entre as arqueas metanogênicas e os demais grupos de microrganismos envolvidos na biodigestão anaeróbia da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (FORSU). Adicionalmente, o monitoramento da alcalinidade forneceu outra informação relevante: a redução da alcalinidade de ácidos voláteis (AAV) e o aumento da alcalinidade bicarbonato (AB), coincidentes com o início dos procedimentos de correção do pH (Figura 5.21). - 122 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Apesar da elevada concentração de alcalinidade total nas duas linhas de operação durante todo o período inicial de monitoramento (AT > 10.000 mgCaCO3/L), quase toda ela correspondia à alcalinidade consumida por ácidos voláteis, sendo desprezível a concentração de alcalinidade bicarbonato. Desta forma, somente com a suplementação de alcalinidade bicarbonato de forma direta (adição de solução de NaOH), foi possível ajustar as condições do sistema ácido/base em níveis favoráveis à metanogênese. McCARTY (1964) apud MONTEGGIA et al. (1996) indicou ser necessário valores de alcalinidade bicarbonato entre 1.000 a 5.000 mgCaCO3/L para a manutenção do pH na faixa ótima de síntese celular dos microrganismos metanogênicos, ou seja, entre 6,5 e 7,5. A alcalinidade de bicarbonatos constitui a principal fonte de tamponamento do sistema anaeróbio em pH neutro, podendo ser fornecida pela degradação de compostos orgânicos nitrogenados, sabões ou sais de ácidos orgânicos, bem como pela redução de sulfitos e sulfatos (MONTEGGIA et al., 1996; CHERNICHARO, 1997). Entretanto, na fase inicial de digestão anaeróbia dos RSU em aterros, observam-se valores de pH mais baixos, compreendidos na faixa de 3,75 a 5,75, na qual a capacidade de tamponamento se deve basicamente à alcalinidade de ácidos voláteis (CHERNICHARO, 1997). Diferentemente, na etapa inicial de degradação do lixo urbano aterrado na célula AC-05 do aterro sanitário de Belo Horizonte, na qual foram obtidos os volumes iniciais de chorume para saturação do resíduos sólidos confinados nos reatores experimentais, verificou-se que o pH dos líquidos lixiviados provenientes desta célula encontravam-se na faixa de 5,7 a 7,6, ou seja, mais elevado que os valores teóricos esperados. Tal fato pode ser explicado pela grande presença de entulho da construção civil, rejeito que contêm substâncias ricas em bicarbonatos, utilizado na composição do material de cobertura das células de aterramento. PESSIN et al. (1997) apontaram o equilíbrio carbonato/bicarbonato e amônia/amônio como os possíveis responsáveis pela manutenção de uma elevada alcalinidade e do pH no interior das - 123 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ células do aterro monitorado, benéfica ao desenvolvimento dos microrganismos metanogênicos. BORZACCONI et al. (1996a) atribuiram a elevada alcalinidade do lixiviado de aterro sanitário à significativa presença de nitrogênio amoniacal, apesar da elevada concentração de ácidos voláteis. É importante, ainda, mencionar a variação da relação AGV/AT na linha de operação submetida aos procedimentos de correção do pH (linha 3). Verifica-se, nos gráficos da Figura 5.22, a manutenção da relação AGV/AT > 2,0 na linha 1 e o acentuado decaimento desta razão na linha 3 (AGV/AT < 0,5), após a suplementação de alcalinidade bicarbonato e 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 30 60 90 R1 R2 120 150 AGV/AT AGV/AT correção do pH para valores neutros. 180 Tempo de Operação (dias) 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 R7 R8 R9 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) 180 Figura 5.22: Variação da relação AGV/AT em ambas as linhas de operação. KASPAR & WHURMAN (1978) apud MONTEGGIA et al. (1996) indicaram o uso da relação entre acidez e alcalinidade como parâmetro de controle operacional, sendo indicado a manutenção de uma razão AGV/AT < 0,1. Particularmente, LOPES et al. (2000) sugeriram que a razão AGV/AT próxima a 0,5 é ideal para a digestão anaeróbia de resíduos sólidos. Por fim, a avaliação das concentrações de espécies específicas de ácidos orgânicos voláteis por cromatografia gasosa (Figura 5.23), correspondentes ao momento imediatamente anterior ao início dos procedimentos operacionais de correção do pH afluente ao reator UASB, evidenciou que a recirculação do chorume proporcionou um melhor desempenho das bactérias fermentativas – hidrolíticas, acidogênicas e/ou acetogênicas – com a produção dos principais ácidos precursores da metanização – acético, propiônico e butírico – em concentrações - 124 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ significativamente maiores que as observadas na linha de tratamento convencional (linha 1). Segundo GOMES et al. (1999), enquanto na digestão anaeróbia de lodos de esgotos, 70% do metano é formado a partir do ácido acético, não se pode supor valores semelhantes na degradação do lixo urbano aterrado. 2000 Linha 1 1800 Linha 3 Concentração (mg/L) 1600 Efl. UASB 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Acético Butírico Isobutírico Propiônico Isovalérico Valérico Ácidos Voláteis Figura 5.23: Concentrações médias de ácidos graxos voláteis em ambas as linhas de operação e no efluente do reator UASB, imediatamente antes do início dos procedimentos de correção do pH da linha 3, determinadas por cromatografia gasosa (N=6 amostras). Adicionalmente, é possível notar uma redução das concentrações de AGV no efluente do reator UASB, indicador da existência de alguma atividade metanogênica, ainda que incipiente, sob condições de pH bastante desfavoráveis. Esta constatação é coerente com o gradual incremento da concentração de metano no biogás, observado em ambas as linhas de monitoramento durante todo o período de investigação (item 5.3). - 125 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.2.5. Toxicidade 5.2.5.1. Cloreto Segundo CHERNICHARO (1997), a toxicidade por sais está normalmente associada ao cátion, e não ao ánion do sal. Ademais, a combinação de íons cloreto com cátions metálicos pode levar à formação de complexos estáveis (SAWYER & McCARTY, 1985), reduzindo a concentração e a toxicidade pela disponibilidade de metais solúveis. Ao se observar os gráficos da Figura 5.24, constata-se que as concentrações de cloretos (Cl-) foram de aproximadamente 4 g/L em ambas as linhas de operação, permanecendo aproximadamente constantes durante todo o período monitorado. 9000 9000 R1 7500 R2 Cloreto (mg/L) Cloreto (mg/L) 7500 6000 4500 3000 1500 R7 R8 R9 6000 4500 3000 1500 0 0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.24: Evolução temporal das concentrações de cloreto nas duas linhas de operação. Em seu trabalho sobre a influência da salinidade no tratamento aeróbio de efluentes de abatedouros, CHIURATO (1987) verificou que a presença de íons cloreto em concentrações inferiores a 10 g/L (baixa salinidade) estimulava a atividade microbiana. 5.2.5.2. Sulfeto O efeito inibitório do sulfeto, quando associado à presença de sulfato em altas concentrações, pode ocasionar alterações significativas nas rotas metabólicas da digestão anaeróbia em diversos momentos do processo, devido à competição entre as bactérias redutoras de sulfato - 126 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ (BRS) e outros microrganismos anaeróbios: competição com as bactérias fermentativas por compostos monoméricos (açúcares, peptídeos, aminoácidos), com as bactérias produtoras de hidrogênio pelos produtos intermediários da fermentação (propionato, butirato, etanol e outros), com as bactérias homoacetogênicas pelo hidrogênio gasoso ou, ainda, com as metanogênicas hidrogenotróficas e acetoclásticas pelos compostos precursores diretos da metanogânese, H2 e acetato, respectivamente (CALLADO et al., 1997). Segundo CALLADO et al. (1997), é ainda difícil concluir qual a causa principal da inibição da digestão anaeróbia, observada em reatores submetidos a altas concentrações de sulfato no afluente: competição pelo substrato, toxicidade do sulfeto, toxicidade do cátion, ou associação destes fatores? Na fase inicial do experimento, em ambas as linhas de operação, observa-se condições desfavoráveis quanto à toxicidade por sulfeto (Figura 5.25), uma vez que o mesmo encontrase predominantemente sob a forma não dissociada H2S (mais tóxica) na faixa de pH inferior a 300 300 250 250 Sulfeto (mg/L) Sulfeto (mg/L) 6, e em concentrações superiores a 200 mg/L (CHERNICHARO, 1997). 200 150 100 R1 50 200 150 100 50 R2 R7 R8 R9 90 120 0 0 0 30 60 90 120 Tempo de Operação (dias) 150 0 30 60 150 Tempo de Operação (dias) Figura 5.25: Evolução temporal das concentrações de sulfeto nas duas linhas de operação. Entretanto, a toxicidade por sulfeto não pode ser considerada significativa, haja visto o gradual incremento da proporção de metano nas linhas de operação 1 e 3, durante todo o experimento (Figura 5.34). Segundo SPEECE (1983) apud CALLADO et al. (1997), a inibição da metanogênese só ocorre a partir de concentrações de sulfeto dissolvido correspondentes a concentrações de 6% de gás sulfídrico no biogás. - 127 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Pode-se ainda observar, na Figura 5.26, uma redução do sulfeto no efluente do reator UASB, seja pela complexação com cátion metálicos, seja pela perda para a fase gasosa. 250 Sulfeto (mg/L) 200 150 100 Linha 3 50 Efl. UASB 0 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) 180 Figura 5.26: Avaliação da redução das concentrações de sulfeto no efluente do reator UASB. Assim, a presença de sulfeto pode ter sido benéfica ao sistema, com a precipitação de sais de sulfeto insolúveis (não tóxicos), a partir da reação entre o sulfeto na forma não dissociada (tóxico) e metais pesados em estado solúvel (tóxicos). 5.2.5.3. Nitrogênio Amoniacal Na fase inicial de operação do experimento, devido ao pH ácido, pode-se considerar a presença predominante do nitrogênio amoniacal sob a forma ionizada (menos tóxica), para a qual o limite máximo de tolerância das metanogênicas é da ordem de 3000 mg/L (CHERNICHARO, 1997). Assim, na linha 1, como observado na Figura 5.27, a toxicidade pelo íon amônia não foi motivo de preocupação, pois a concentração de nitrogênio amoniacal foi de aproximadamente de 800 a 1200 mg/L. 2000 R1 R2 N amoniacal (mg/L) N amoniacal (mg/L) 2000 1600 1200 800 400 0 R7 1600 R8 R9 1200 800 400 0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.27: Evolução temporal das concentrações de nitrogênio amoniacal em ambas as linhas de operação. - 128 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Entretanto, após a elevação do pH na linha 3, verifica-se que a concentração de amônia livre, apesar de bem superior ao limite de toxicidade de 150 mg N-NH3/L (CHERNICHARO, 1997), não parece ter causado efeitos adversos à metanogênese (itens 5.2.1, 5.2.2, 5.2.4 e 5.3). N amoniacal (mg/L) 1600 1200 800 400 Linha 3 Efl. UASB 0 0 30 60 90 120 Tempo de Operação (dias) 150 180 Figura 5.28: Evolução da concentração de nitrogênio amoniacal no afluente e efluente do reator UASB. Quanto ao reator UASB, apesar da provável conversão microbiológica do nitrogênio orgânico em nitrogênio amoniacal, por via anaeróbia, no interior do reator UASB, não se verifica um significativo acréscimo na concentração deste composto no efluente (Figura 5.28). Tal fato pode ser explicado pela adsorção do íon amônio em sítios negativamente carregados do material orgânico retido na manta de lodo. KIEHL (1985) apud REICHERT et al. (2000) descreve o trabalho de WAY (1950), o qual observou a retenção eletrostática de cátions metálicos e do amônio nas micelas coloidais húmicas. - 129 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.2.5.4. Metais Alguns metais pesados, tais como o cromo, níquel, zinco, cobre e outros são considerados toxinas inorgânicas altamente nocivas ao tratamento anaeróbio, seja no estado solúvel (cátions metálicos), seja na forma de sais (CHERNICHARO, 1997). Entretanto, como descrito no item 5.2.5.2, a disponibilidade de sulfetos pode ter minimizado os problemas relativos à toxicidade por metais, devido à formação de sulfetos metálicos bastante insolúveis e pouco tóxicos. As Figuras 5.29 a 5.33 apresentam os teores de metais aferidos no lixiviado dos reatores experimentais de ambas as linhas de tratamento dos RSU e no efluente do reator UASB, à exceção do cádmio e do chumbo, pois as concentrações destes 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB Alumínio (mg/L) Manganês (mg/L) elementos foram quase sempre inferiores aos limites de detecção do aparelho. CONAMA 20/86 0 30 60 90 120 150 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB 0 180 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Tempo de Operação (dias) Figura 5.29: Evolução das concentrações de manganês e alumínio nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB. 800 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB 20 15 10 CONAMA 20/86 5 Ferro (mg/L) Zinco (mg/L) 25 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB 600 400 200 CONAMA 20/86 0 0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.30: Evolução das concentrações de zinco e ferro nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB. - 130 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Linha 1 Linha 3 Efl. UASB Cálcio (mg/L) 500 400 300 200 100 700 Magnésio (mg/L) 600 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB 600 500 400 300 200 100 0 0 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) 180 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) 180 Figura 5.31: Evolução das concentrações de cálcio e magnésio nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB. 3,5 2,4 CONAMA 20/86 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB 1,6 1,2 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB 3,0 Cobre (mg/L) Níquel (mg/L) 2,0 0,8 0,4 2,5 2,0 1,5 CONAMA 20/86 1,0 0,5 0,0 0,0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) Figura 5.32: Evolução das concentrações de níquel e cobre nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB. Cromo (mg/L) 2,0 CONAMA 20/86 - Cr (III) 1,6 Linha 1 Linha 3 Efl. UASB 1,2 0,8 CONAMA 20/86 - Cr (VI) 0,4 0,0 0 30 60 90 120 150 180 Tempo de Operação (dias) - 131 - Figura 5.33: Evolução da concentração de cromo nas duas linhas de operação e no efluente do reator UASB. DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Observa-se, nos gráficos apresentados, a tendência de manutenção (Zn, Ni, Ca, Mg, Fe) ou redução (Mn, Al, Cu, Cr) dos teores inicialmente aferidos. Os elevados teores de cálcio e magnésio podem ser explicados pela considerável quantidade de material orgânico e entulhos da construção civil no lixo urbano amostrado (Tabela 5.3), enquanto que o material eletrônico, latas e outros metais ferrosos contribuem significativamente para a elevada concentração de ferro no chorume (IPT/CEMPRE, 2000). As concentrações de manganês e de ferro no lixiviado dos reatores de RSU e no efluente do reator UASB foram bem superiores aos limites máximos de lançamento estabelecidos pela Resolução CONAMA 20/86: Mn < 1 mg/L e Fe < 15 mg/L. Contrariamente, é interessante observar que o efluente tratado do reator UASB cumpriu satisfatoriamente os padrões de lançamento de efluentes (CONAMA 20/86) para vários dos metais analisados, durante os 120 primeiros dias de operação do sistema: zinco (<5,0 mg/L), níquel (<2,0 mg/L), cobre (<1,0 mg/L) e cromo (III) e (VI) (<2,0 mg/L e 0,5 mg/L, respectivamente). Entretanto, após este período, com o incremento da produção de biogás na linha de tratamento integrado dos RSU e do chorume (Figura 5.35), ocorreu possivelmente a “lavagem” do sulfeto no sistema, uma vez que, quanto maior a produção de metano, maior é a quantidade de sulfeto na forma gasosa retirada da fase líquida (CHERNICHARO, 1997). Desta forma, considerando-se ainda o fato do lodo biológico não ter sido descartado em momento algum, os metais pesados removidos, até então, sob a forma de sais de sulfeto junto à manta de sólidos em suspensão, podem ter se solubilizado, tornando-se disponíveis como cátions metálicos. Tal hipótese explica a deterioração do efluente do reator UASB verificada no período final de monitoramento, com grandes oscilações e sucessivos picos de concentração destes metais. - 132 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.3. Biogás Produzido na Digestão Anaeróbia dos Reatores de RSU O incremento gradual nas concentrações médias de metano em ambas as linhas de operação do experimento – de 20 para 40% (linha 1) e de 30% para 60% (linha 3) – desperta a atenção sobre um fato curioso: o desenvolvimento da atividade metanogênica no interior dos reatores anaeróbios de RSU, mesmo em condições iniciais de pH bastante desfavoráveis (pH ≅ 5,5). Adicionalmente, é fácil notar o enorme incremento da atividade metanogênica no interior do reator UASB após o início dos procedimentos de correção do pH afluente ao reator (100o dia de operação do sistema), com o aumento da proporção do gás metano de aproximadamente 10% para cerca de 80%, no final do período de monitoramento (Figura 5.34). Linha 1 Linha 3 Reator UASB 100 80 CO2 (%) CH4 (%) 80 60 40 60 40 20 20 0 0 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) Linha 1 Linha 3 Reator UASB 100 180 0 30 60 90 120 150 Tempo de Operação (dias) 180 Figura 5.34: Evolução das concentrações médias de metano e dióxido de carbono nas 2 linhas de operação e no reator UASB, por cromatografia gasosa. Os gráficos da Figura 5.34 evidenciam que os reatores de RSU apresentam uma dinâmica de reação mais lenta que a do reator UASB e, por conseguinte, menos susceptível às variações das condições de acidez/alcalinidade. Outro aspecto relevante diz respeito à produção de biogás nas duas linhas de operação. Após a correção do pH do chorume afluente ao reator UASB, verifica-se, também, um enorme salto na produção acumulada de biogás nos reatores da linha 3 (Figura 5.35). - 133 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Produção acumulada de biogás (litros) 10000 Linha 1 Linha 3 1000 100 10 1 0 0 30 60 90 120 150 180 Figura 5.35: Produção acumulada de biogás nas duas linhas de operação. Tempo de Operação (dias) Tal fato faz-se coincidente com a constatação de uma significativa redução da concentração dos ácidos graxos voláteis no chorume drenado destes reatores (Figura 5.19). Assim, é correto deduzir que o salto na quantidade de biogás produzido na linha 3 deve-se ao grande acúmulo e disponibilidade de substrato orgânico acidificado, até então não metabolizado pelas arqueas metanogênicas em taxas compatíveis com as das bactérias acidogênicas. Tabela 5.13: Avaliação da produção de biogás e metano nas duas linhas de operação. Produção acumulada (1) Produção acumulada Concentração de de biogás metano de metano Dia de Fase (litros) (%) (litros) Operação Linha 1 Linha 3 Linha 1 Linha 3 Linha 1 Linha 3 2 20,7 29,7 0,1 0,1 0,0 48 32,3 46,4 5,1 0,8 1,6 1 64 38,4 50,4 5,8 0,8 1,9 85 34,2 50,8 11,6 1,2 3,9 92 39,8 54,6 11,6 1,2 3,9 2 106 38,4 57,9 11,6 2,0 3,9 126 40,1 61,7 11,6 2,1 3,9 3 132 41,0 61,1 11,6 1906,4 3,9 135 41,7 61,2 11,6 3089,1 3,9 142 42,9 58,1 11,6 3375,1 3,9 149 45,4 59,9 11,6 3375,7 3,9 4 156 45,1 58,6 14,0 3598,2 5,0 163 44,7 58,5 14,0 4845,4 5,0 169 45,0 59,0 16,5 5342,4 6,1 (1) – Produção estimada de metano (litros) = CH4 (%) x Produção de biogás (litros) - 134 - 0,0 0,4 0,4 0,6 0,6 1,2 1,2 1164,7 1888,4 2054,6 2054,9 2185,2 2915,3 3208,5 DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Os reatores da linha 3 (sistema integrado de tratamento) produziram, conjuntamente, cerca de 5,30 m3 de biogás, enquanto que, na linha 1 (sistema convencional de aterramento), a produção acumulada total somou pouco mais de 0,01 m3 (Tabela 5.13). Assim, considerandose a redução da concentração da DQO filtrada na linha 3 neste mesmo período (Figura 5.9), e o volume total de chorume nesta linha (3 reatores com 200 litros cada), é possível estimar a relação entre a produção de biogás e metano, com a assimilação do substrato orgânico: Como pode-se observar, a produção de metano estimada a partir da remoção de DQO no sistema integrado de tratamento (linha 3) é um pouco inferior à produção teórica máxima (CHERNICHARO, 1997): - 135 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 5.4. Avaliação da Produção de Sólidos no Sistema Integrado A cinética de crescimento dos microrganismos está diretamente associada a uma série de fatores: temperatura, disponibilidade de nutrientes, toxicidade e outras. Entretanto, apesar das complexas interações entre o meio abiótico e a microflora bacteriana, o crescimento biológico pode ser estimado satisfatoriamente por modelos teóricos simplificados, construídos a partir da descrição de dois processos antagônicos por funções matemáticas aproximadas: crescimento celular específico (reação de primeira ordem e equação de Monod) e respiração endógena (reação de primeira ordem). Adicionalmente, a produção líquida de biossólidos pode variar significativamente em função da maior ou menor capacidade de assimilação de determinado tipo substrato (atividade específica da biomassa). A Figura 5.36 ilustra resumidamente a correlação entre a biomassa e o tipo de substrato metabolizado. Figura 5.36: Avaliação qualitativa da produção de sólidos na digestão anaeróbia, destacandose a correlação dos principais fatores intervenientes (substrato e microrganismos). Adaptado de CHERNICHARO (1997). - 136 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ O coeficiente de produção de biomassa é um parâmetro cinético importante, que correlaciona a produção de sólidos (SSV) com a utilização do substrato orgânico (DQO removida), mas, na prática, sua determinação mostra-se difícil. HENZE & HARREMOËS (1983) apud CHERNICHARO (1997) apresentam os seguintes coeficientes de produção de biomassa para organismos anaeróbios, determinados a 35oC: bactérias acidogênicas (0,15 gSSV/gDQO), arqueas metanogênicas (0,03 gSSV/gDQO), e população combinada (0,18 gSSV/gDQO). Neste experimento, considerando-se tratar de um “circuito fechado”, com a recirculação de todo o volume de lixiviado drenado dos reatores de RSU, após tratamento no reator UASB, e inoculação da digestão dos RSU com toda a massa de lodo biológico excedente, sem a manutenção do teor de umidade ou alguma outra contribuição ao balanço de massa do sistema, a única possibilidade de redução do teor de matéria orgânica consiste na conversão dos compostos orgânicos complexos (DQO particulada) em outros mais simples (AGV), e estes, por sua vez, em metano e dióxido de carbono (Figura 5.37). LIBÂNIO (2002) Figura 5.37: Balanço de massa no sistema de tratamento integrado dos RSU e do chorume. - 137 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Portanto, uma vez que a degradação da matéria orgânica está intrinsecamente relacionada à síntese celular dos microrganismos decompositores, pôde-se estimar o coeficiente de produção de biomassa na linha de tratamento integrado se considerados o incremento do teor de sólidos suspensos voláteis (Figura 5.14) e o decaimento da DQO filtrada (Figura 5.9), após o início dos procedimentos de correção do pH para favorecimento da atividade metanogênica: O valor estimado do coeficiente de produção de biomassa (Y ≅ 0,03 gSSV/gDQO removida), correspondente ao crescimento dos SSV na linha 3 (Figura 5.14) após a correção do pH, é igual ao valor preconizado na literatura para as arqueas metanogênicas (HENZE & HARREMOËS, 1983 apud CHERNICHARO, 1997). Através da regressão linear de pontos amostrais correspondentes à evolução temporal da massa de sólidos totais no lodo biológico de um reator UASB, submetido a diferentes cargas orgânicas afluentes, OLIVA et al. (1996) sugeriram a adoção de uma taxa de produção de sólidos igual a 0,025 gST/gDQOafluente. Por fim, considerando-se também as demais observações simultâneas referentes ao acentuado incremento da produção de biogás (item 5.3), redução da DBO, DQO filtrada e da razão DBO/DQO (item 5.2.1); além da constatação do aumento dos teores de sólidos suspensos voláteis e diminuição da concentração de sólidos dissolvidos voláteis (item 5.2.2) e de ácidos graxos voláteis (item 5.2.4), é correto afirmar que a correção do pH do lixiviado dos reatores experimentais da linha 3, de cerca de 5,5 até 7,5, propiciou o desenvolvimento da população de organismos metanogênicos. - 138 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Diferentemente, nada se pode afirmar quanto ao crescimento da biomassa no interior do reator UASB, haja visto que não se procedeu ao descarte periódico do lodo biológico. A determinação do perfil de sólidos, com a amostragem do lodo em três diferentes níveis (torneiras 1, 8 e 12) e análise da concentração de sólidos totais (voláteis e fixos), evidencia a simples manutenção da massa de sólidos quando da inoculação do reator (Figura 5.38). Figura 5.38: Evolução do perfil de sólidos no reator UASB, determinado nas 4 fases de operação do sistema integrado (linha 3). Ironicamente, se considerado o interesse no uso do lodo biológico excedente para inoculação da digestão dos resíduos sólidos urbanos aterrados, a baixa taxa de produção de biossólidos em reatores anaeróbios, atribuída por diversos autores como um das vantagens da estabilização da matéria orgânica por via anaeróbia, não pode ser apontada como um fator positivo no tratamento do lixiviado de aterros sanitários, pelo menos durante a fase inicial de operação dos aterros, quando uma maior quantidade de inóculo seria benéfica. A inoculação da digestão dos RSU com lodo biológico, seja através da recirculação de parte do chorume tratado, ou simplesmente, com a recirculação de lodos concentrados, minimiza os - 139 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ inconvenientes com o transporte, estabilização e disposição final do lodo. Uma vez que o seu destino são as próprias células de aterramento, o transporte do lodo consubstancia-se no carreamento destes sólidos junto à fase líquida que retorna por bombeamento, enquanto que a estabilização e disposição final do mesmo dar-se-ão no interior do aterro, que funciona como um verdadeiro biodigestor. Contudo, a caracterização físico-química do lodo biológico não pode ser negligenciada e, dentre as maiores preocupações concernentes ao seu uso ou disposição final, pode-se citar os elevados teores de metais pesados. A remoção de metais no chorume bruto, tratado biologicamente, pode ocorrer através da formação de sulfetos metálicos, por processo anaeróbio, ou de hidróxidos metálicos, por via aeróbia (HAMADA et al., 2000). Entretanto, por vezes, faz-se ainda necessário uma maior remoção de metais pesados, empregando-se usualmente a precipitação química entre outras alternativas de tratamento físico-químico. Neste experimento, efetuaram-se determinações de metais no lodo do reator UASB em duas oportunidades: quando do preenchimento do reator UASB com o lodo biológico excedente produzido por outro reator UASB tratando esgoto doméstico, e ao final dos primeiros 140 dias de operação do sistema, após a correção do pH do chorume afluente ao reator. A Figura 5.39 apresenta os teores de metais pesados determinados em três pontos distintos ao longo do perfil de lodo do reator UASB. - 140 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ Figura 5.39: Avaliação das concentrações de metais pesados no lodo biológico em diferentes níveis do reator UASB, no início e término do período de monitoramento. Pode-se observar que para todos os elementos analisados, à exceção do cálcio e do manganês, houve um acréscimo em suas concentrações após 140 dias de operação. Tal fato pode ser explicado pela formação de precipitados insolúveis, notadamente os sulfetos metálicos, que ficam retidos junto à biomassa em suspensão (item 5.2.5.2). - 141 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ As concentrações iniciais de metais pesados aferidas no lodo biológico do reator UASB são da mesma ordem daquelas determinadas em lodos de esgotos sanitários por outros autores, apresentadas na Tabela 5.14. Tabela 5.14: Comparação entre os teores de metais pesados em amostras do lodo biológico do reator UASB tratando chorume, após 140 dias de operação, e aqueles referenciados em alguns outros trabalhos, relativos ao lodo de esgoto sanitário. Referência Metais Pesados (mg kg-1) Cu Mn Zn Ca Ni Cr Cd 340 101 <5 626 943 2000 Miyazawa et al., 1996 (2) 81 125 <2,5 401 - Tsadilas et al., 1995 (2) 77 103 4,1 101 Tan, 1995 80 250 - 800 Presente estudo (1) Mg Al 73000 12000 27000 1340 - - - - 137 - - - - 3000 - - - (1) – Média ponderada das concentrações de metais pesados no lodo, correspondente aos diferentes trechos do reator UASB (torneiras 1, 6 e 11) (2) – Trabalhos referenciados por ANDREOLI et al. (1999). Ademais, verificou-se também que as concentrações de metais no lodo do reator UASB, após 140 dias de operação, à exceção do níquel, não são proibitivas com relação à sua aplicação na agricultura (Tabela 5.15), uma vez que seus valores são menores que os limites máximos recomendados por ANDREOLI et al. (1999). Entretanto, seu emprego dependerá ainda da avaliação dos efeitos cumulativos, das características químicas do solo e de outras especificidades da cultura agrícola em questão. Tabela 5.15: Avaliação da possibilidade de reciclagem do lodo biológico do reator UASB. Valor Limite (2) Concentração determinada no (1) Elemento Lodo Biológico do reator UASB p/ Reciclagem na Agricultura (mg/kg matéria seca) (mg/kg matéria seca) Cd <5 20 Cu 626 1000 Ni 340 300 Pb 750 Zn 2000 2500 Hg 16 Cr 101 1000 (1) – Análise do lodo biológico após 160 dias de operação. (2) – Valores recomendados por ANDREOLI et al. (1999). - 142 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 6. CONCLUSÕES Os procedimentos metodológicos adotados neste estudo consideraram alguns aspectos de caráter específico do lixo urbano, notadamente referentes à heterogeneidade destes resíduos, com a definição de critérios de classificação e segregação, e seleção dos constituintes a serem analisados. Além disto, em função da lacuna existente neste campo, buscou-se adaptar alguns métodos convencionais, já amplamente aceitos, empregados nas análises de outros materiais – composto de lixo urbano, solos orgânicos, alimentos e outros. Os resultados obtidos na caracterização físico-química dos resíduos sólidos urbanos amostrados – composição gravimétrica, teor de umidade, teor de carbono, hidrogênio e nitrogênio, teor de sólidos voláteis e de metais – se mostraram coerentes com aqueles divulgados em outros trabalhos técnicos concernentes ao tema. Assim, ainda que se faça necessária uma maior investigação acerca de sua aplicabilidade e da magnitude dos erros envolvidos, as premissas e metodologias adotadas mostram-se válidas e adequadas para estudos semelhantes. Por sua vez, o monitoramento da fase inicial de biodegradação da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos confinados nos reatores experimentais, submetidos a duas condições distintas de operação – sistema convencional de aterramento e sistema integrado de tratamento dos resíduos sólidos e do chorume, através da recirculação do efluente tratado em reator UASB e da inoculação da digestão anaeróbia dos resíduos com o lodo biológico produzido – permitiu a constatação de algumas premissas e observação de vários outros aspectos relevantes. No período inicial de operação das linhas 1 e 3, correspondente aos 100 primeiros dias de operação, a evolução dos parâmetros físico-químicos monitorados em ambas as linhas de tratamento se deu de forma bastante similar, à exceção dos teores de metano que foram sempre superiores na linha de tratamento integrado (linha 3). Assim, independentemente das condições de operação dos reatores, não foi possível identificar nenhuma nítida diferenciação - 143 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ no processo de biodigestão da fração orgânica putrescível pois, nas duas linhas de tratamento, verificou-se: • baixa produção acumulada de biogás, sendo o volume total de biogás produzido neste período inferior a 12 litros, e o volume total de metano inferior a 5 litros; • elevados teores de matéria orgânica solúvel e particulada, observando-se elevadas concentrações de DBO (> 30 g/L), DQO filtrada (≅ 40 g/L) e DQO total (≅ 60 g/L); • elevada razão DBO/DQO ≅ 0,8 , correspondente à fase inicial de degradação dos resíduos aterrados (DBO/DQO > 0,5), na qual, usualmente, existe uma grande disponibilidade de substrato facilmente biodegradável. Este quociente é ainda bem superior ao valor indicativo da sucessão entre as fases acetogênica e metanogênica (DBO/DQO ≅ 0,4). • elevado teor de sólidos dissolvidos voláteis (SDV > 20 g/L), os quais correspondem, em grande parte, aos ácidos orgânicos de cadeia curta, ou seja, ácidos graxos voláteis (AGV ≅ 20 g/L); • elevada alcalinidade total (AT ≅ 10 g/L) devida quase que integralmente à elevada alcalinidade de ácidos voláteis; Entretanto, a análise posterior de ácidos graxos voláteis por cromatografia gasosa, realizada ao final deste período, mostrou que a recirculação do chorume e a inoculação com o lodo biológico intensificaram a fermentação dos compostos orgânicos, promovendo um significativo incremento na concentração dos principais ácidos voláteis precursores da formação de metano. As concentrações de ácido acético, propiônico e butírico, determinadas na linha de tratamento integrado (linha 3), foram bem mais expressivas que aquelas aferidas na linha de tratamento convencional. Tal fato pode também explicar a maior proporção de gás metano no biogás coletado junto aos reatores da linha 3, verificada ao longo de todo o período inicial de monitoramento dos reatores de RSU, considerando-se a maior disponibilidade de substrato acidificado necessário ao metabolismo dos microrganismos metanogênicos. - 144 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ É importante ressaltar também que, neste período, ainda que de forma modesta, observa-se, em todos os reatores experimentais, a metanogênese em condições ambientais bastante desfavoráveis: • pH ácido (pH ≅ 5,5), abaixo da faixa ótima para a metanogênese (6,5 < pH < 7,5); • alcalinidade bicarbonato praticamente nula, bem inferior ao valores considerados adequados à manutenção do pH na faixa ótima de síntese celular das bactérias metanogênicas (1 < AB < 5 gCaCO3/L); • elevada toxicidade por sulfetos (S-2 ≅ 200 mg/L), os quais se encontram predominantemente sob a forma não dissociada (H2S), mais tóxica, em concentrações superiores aos níveis máximos de toxicidade (S-2 > 150 mg/L, pH < 6). Entretanto, após a suplementação da alcalinidade bicarbonato, iniciada no 100o dia de operação do sistema, com a elevação do pH até valores aproximadamente neutros e redução da razão AGV/AT até valores inferiores a 0,5, foi possível notar a sucessão entre as etapas de fermentação e metanogênese nos reatores experimentais de linha 3 (R7, R8 e R9), evidenciada por uma série de indicadores: • alteração das características organolépticas do lixiviado drenado, com o desenvolvimento de uma coloração escura, possivelmente pela presença de compostos recalcitrantes, como os ácidos fúlvicos e húmicos, e significativa suavização do odor; • acentuado incremento na produção de biogás, observando-se, neste período, uma produção total de biogás em torno de 5340 litros (≅ 0,25 L biogás/gDQO remov), correspondente a um volume acumulado total de aproximadamente 3208 litros de gás metano (0,15 L de CH4/g DQO remov); • redução da razão DBO/DQO até valores iguais ou inferiores a 0,4, indicativo da sucessão entre as fases acetogênica e metanogênica; - 145 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ • diminuição da concentração do substrato orgânico solúvel (DQO filtrada < 10 mg/L), acidificado (AGV ≅ 10 mg/L), e de mais fácil assimilação pelos microrganismos decompositores (DBO ≅ 10 mg/L). Adicionalmente, diferentemente dos reatores da linha 1, operados de forma similar a um aterro convencional, observa-se, neste mesmo período, o aumento da concentração de sólidos suspensos voláteis, de aproximadamente 1,5 para 2,5 gSSV/L. A verificação do aumento simultâneo na concentração de SSV na linha 3, e da correspondente redução de DQO filtrada, permitiu a correlação entre estas duas grandezas, obtendo-se um coeficiente de produção de biomassa com valor bem próximo ao dos microrganismos metanogênicos, Y ≅ 0,03 gSSV / gDQO removida. Tal constatação reforça a hipótese de uma significativa intensificação da atividade metanogênica na fase final de monitoramento, apesar do possível efeito inibidor ocasionado pela presença de nitrogênio amoniacal (1500 < N amoniacal < 3000 mg N-NH3/L, pH > 7,4). Desta forma, com relação aos procedimentos operacionais envolvidos neste estudo, verificase ser adequada e benéfica a implementação de um sistema de tratamento, com a recirculação dos líquidos lixiviados de aterros sanitários e inoculação da digestão anaeróbia dos resíduos aterrados com lodo biológico produzido no tratamento do chorume, considerando-se que: • a simples recirculação do chorume e a inoculação com lodo biológico produzido no próprio tratamento dos líquidos lixiviados, sem nenhuma adição de alcalinidade bicarbonato, ainda que não tenham se mostrado suficientes para promover o desenvolvimento da metanogênese, parecem ter favorecido significativamente a etapa anterior de fermentação. Todavia, é importante ressaltar que tais observações advém de um curto período de monitoramento, correspondente a apenas 160 dias de operação dos reatores. É possível que, após um maior período de observações, se constate que a recirculação do chorume também abrevia o início da metanogênese, favorecendo a digestão dos resíduos sólidos urbanos, conforme já demonstrado em outros estudos; - 146 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ • a suplementação da alcalinidade bicarbonato, requerida para o desenvolvimento da atividade metanogênica, mostrou ser imprescindível para a obtenção de um equilíbrio entre as diversas comunidades de microrganismos envolvidos na digestão anaeróbia dos resíduos aterrados. Somente através da recirculação do chorume com pH neutro foi possível observar a redução da carga orgânica do lixiviado, com a conversão final do substrato orgânico acidificado em gás metano e dióxido de carbono. Por fim, ao se constatar uma sucessão mais breve das fases de hidrólise e acetogênese para a fase final de metanogênese na linha correspondente ao sistema de tratamento integrado proposto neste estudo (linha 3), correspondente ao sistema integrado de tratamento dos RSU e do chorume, admite-se um melhor desempenho desta linha de operação. 7. RECOMENDAÇÕES Primeiramente, a discussão sobre os aspectos metodológicos, apresentada no item 4, ressalta a urgente necessidade de padronização e divulgação de metodologias de amostragem e preparação de amostras, na caracterização físico-química de resíduos sólidos urbanos. Verifica-se, também, a necessidade de continuidade do monitoramento do experimento por um período de tempo que possibilite a efetiva conversão da grande quantidade de matéria orgânica ainda remanescente em metano e dióxido de carbono, o que permitirá a aferição mais criteriosa das taxas e rotas metabólicas de bioestabilização dos resíduos sólidos por via anaeróbia. Adicionalmente, após o término deste período maior de monitoramento, com a abertura dos reatores experimentais de RSU e avaliação da quantidade remanescente da fração orgânica, será possível avaliar adequadamente a magnitude dos benefícios do sistema integrado de tratamento de lixo urbano e de chorume. - 147 - DESA/UFMG __________________________________________________________________________________________ 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT. Resíduos Sólidos – Classificação. NBR 10004, 63p. Rio de Janeiro, 1987. ALEF K.; NANNIPIERI P. Methods in Applied Soil Microbiology and Biochemistry. Soil Sampling, Handling, Storage and Analysis. p. 59-61, 1981. ANDREOLI, C.V.; LARA, A.I.; FERNANDES, F. Reciclagem de Biossólidos: Transformando Problemas em Soluções. SANEPAR, FINEP, 288p. Curitiba, 1999. ARAGÃO, J.M.S.; JUCÁ, J.F.T.; MARIANO M.O.H. Temperatura como um dos parâmetros no monitoramento ambiental do aterro da Muribeca, Recife – PE. 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