CONSCIÊNCIA HISTÓRICA SOBRE O MOVIMENTO DOS CARAS PINTADAS HISTORICAL CONSCIOUSNESS ON MOVEMENT ON THE PAINTED FACES CONCIENCIA HISTÓRICA SOBRE EL MOVIMIENTO DE LOS CARAS PINTADAS Douglas Ferreira dos Santos Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG; Mestrando do Programa de PósGraduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande-FURG; E-mail: [email protected] Profª. Drª. Júlia Silveira Matos Orientadora do trabalho; Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande –FURG; E-mail: [email protected] Resumo A referida pesquisa é parte do trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em História pela universidade Federal do Rio Grande (FURG) localizada na cidade de mesmo nome. O objetivo deste estudo foi perceber os discursos sobre o movimento dos caras pintadas composto por jovens que saíram as ruas em manifestações exigindo a saída do então presidente Fernando Collor de Mello. O referencial utilizado para compreender os discursos, ou seja, a consciência histórica sobre o fato em questão foi de Fernando Cerri. Para coletar os dados e apropriar-se dos discursos foi realizada oficinas com estudantes do curso de História utilizando a metodologia de Isabel Barca. Nos materiais produzidos foi empregada analise de conteúdo a partir da perspectiva de Roque Moraes. Para finalizar, algumas considerações finais. Palavras-chave: Consciência História, Caras Pintadas, Juventudes. Abstract This such research it is a part of the job of completing the Bachelor's Degree in History from the Federal University of Rio Grande (FURG) located in Rio Grande city. The aim of this study was to understand the discourses on the movement of painted faces composed by young people who came out to the streets in demonstrations demanding the departure of President Fernando Collor de Mello. The framework used to understand the discourse of the historical awareness of the fact in question was Fernando Cerri. To collect data and appropriating the discourse workshops with students of history using the methodology of Isabel Barca was performed. The produced materials was employed content analysis from the perspective of Roque Moraes. Finally some concluding remarks. Keywords: Historical Consciousness, painted faces, youths. Resumen Esta investigación es parte Del trabajo de conclusión del curso de Licenciatura en Historia de Universidad Federal de Río Grande (FURG), ubicado en la ciudad del mismo nombre. El objetivo de este estudio fue comprender los discursos sobre el movimiento de las caras pintadas compuestas de jóvenes que salieron a las calles en manifestaciones para exigir la salida del presidente Fernando Collor de Mello. La referencia utilizada para entender el discurso, es decir, la conciencia histórica del hecho en cuestión fue de Fernando Cerri. Para recoger los datos y apropiarmos de los discursos, fueram realizadas oficinas con los estudiantes del curso de historia utilizando la metodología de Isabel Barca. En los materiales producidos se empleó el análisis de contenido desde la perspectiva de Roque Moraes. Por último, algunas observaciones finales. Palabras clave: la conciencia histórica, caras pintadas, jóvenes. Introdução A escolha desta temática, além de ser de interesse do autor no que tange sobre a atuação dos jovens na História, refere-se à necessidade de compreender como esse fato histórico do tempo presente é visto. Essa pesquisa faz parte do trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em História na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) que teve como objetivo perceber as representações do movimento dos caras pintadas nos livros didáticos e os discursos sobre as manifestações que exigiram a saída de Collor da presidência. O movimento dos caras pintadas foi composto, em sua maioria, por jovens que exigiram o impeachment do presidente Fernando Affonso Collor de Mello, envolvido em esquemas de corrupções e denunciado pelo irmão, Pedro Collor. O nome do movimento é por causa da utilização da tinta guache nas cores verde e amarela usada nos rostos em sinal de patriotismo e expressão. Os caras pintadas foi considerado por vários pesquisadores o último manifesto de forma massiva realizado pela juventude brasileira até o advento das manifestações em prol do transporte coletivo, que ocorreram no ano de 2013. Por se tratar de um acontecimento da História do tempo presente e protagonizado pela juventude, o movimento dos caras pintadas permite, além de trabalhar a História recente da política brasileira, abordar as questões que envolvem o público juvenil como protagonismo e participação política. Após as analises nos livros didáticos e percebendo que esse material didático distribuído gratuitamente para as escolas públicas brasileiras traz uma representação padronizada sobre o assunto, sentiu-se necessidade de apropriar-se da consciência histórica de sujeitos para compreender quais as narrativas sobre o fato pesquisado. Foi realizada uma oficina sobre o comportamento juvenil com os acadêmicos do curso de História (Licenciatura e Bacharelado) da Universidade Federal de Rio Grande, localizada na cidade de mesmo nome. Durante a atividade, foi produzido material de forma escrita, que foi utilizado para análise de conteúdo para conhecer as narrativas sobre os caras pintadas. Consciências Históricas A História está sempre em movimento, não é estática, e o que hoje é tido como verdade amanhã pode ser descartado. É papel do historiador questionar constantemente a História e estar atento ao contexto histórico produzido. Para isso, é preciso observar por quem tal fato histórico é descrito e quais as possíveis intenções que motivaram o discurso. A história permite, afinal, compreender que todas as coisas estão sempre vinculadas a contextos, e só são compreendidas se os contextos em que surgem e se desenvolvem são esmiuçados. Por isso são relativas, por relacionarem-se a contextos, condições, pessoas e posicionamentos (CERRI; 2011; p.65). Cerri discorreu sobre a relevância em compreender o contexto considerando as condições, pessoas e posicionamentos. É comum o ser humano querer fazer memória sobre acontecimentos do passado que vivenciou ou que ouviu falar, e ao relatar utiliza-se da organização do pensamento e de características muitas vezes construídas coletivamente. Com a consciência histórica, é possível realizar uma leitura do passado mesmo que o fato tenha acontecido em temporalidade diferente a do sujeito. Mesmo assim, ele é capaz de contar particularidades sobre os acontecimentos realizando uma leitura a partir do presente. “O passado não está a salvo das intenções do presente de dar tal qual significado ao tempo, aos personagens históricos, à nação. O presente - bem como o futuro - depende de um passado relativamente móvel, que possa ser relido” (CERRI; 2011; p.11-12). O movimento dos caras pintadas, fato histórico do Tempo Presente na História da política brasileira, marcado pelas manifestações populares com a participação predominante de jovens, era considerado, até as manifestações que aconteceram em 2013, a última manifestação com a participação massiva da população brasileira. Muitos sujeitos participaram ativamente dos protestos, acompanharam pela imprensa ou se comportaram com indiferença, porém todos certamente têm narrativas sobre o episódio. Os sujeitos que hoje estão dentro da faixa etária juvenil, em 1992 eram crianças ou ainda nem tinham sidos gerados, porém de alguma forma são capazes de realizar uma leitura do fato histórico em questão, seja pelo conhecimento adquirido no ambiente escolar, pela mídia, família ou até mesmo a partir das redes sociais, em virtude das constantes comparações entre o movimento dos caras pintadas com as manifestações realizadas em várias cidades brasileiras em 2013. As narrativas predominantes sobre o movimento dos jovens que pintaram os rostos como expressão da insatisfação com a política brasileira hoje são legitimadas, e uma das causas para tal afirmação é o posicionamento da mídia. A mídia televisiva foi mudando seu discurso à medida que as manifestações foram ganhando visibilidade e adeptos pelo Brasil. Com isso, os discursos sobre o movimento dos caras pintadas se alteraram, passando a fazer parte positivamente da consciência histórica. As manifestações de 2013 tiveram o processo parecido, porém na atualidade ainda é ressaltado os aspectos considerados negativos pelas empresas de televisão, como a depredação do patrimônio público e privado. Essa construção de discurso e definição sobre identidade coletiva (que também é individual) é a leitura de uma memória inserida, conforme discorreu Luis Fernando Cerri (2011): Tais questões, de fundo identitário, estão na base do conceito de consciência histórica que, em poucas palavras, podemos definir como um das estruturas do pensamento humano, o qual coloca em movimento a definição da identidade coletiva e pessoal, a memória e a imperiosidade de agir no mundo em que se está inserido (CERRI; 2011, p. 13). Outro fator determinante para compreender as diferentes leituras sobre o mesmo fato histórico se refere às experiências pessoais de cada sujeito. A trajetória é relevante para a construção e o entendimento da consciência história, que pode ser sobre o passado ou sobre o futuro. A identidade e a cultura são características que influenciam a memória para a ação no presente. “A consciência histórica, entretanto, não se resume ao passado e à memória, mas às projeções que fazemos para o nosso futuro” (CERRI; 2011; p. 15). A organização individual do pensamento, visão de mundo, leitura sobre o passado, são narrativas decorrentes do planejamento, organização da consciência e construção da identidade. Cerri (2011) aponta para essas considerações: Projeto o futuro, imediato, de médio prazo ou distante, e com isso tomo as decisões que me permitem agir, porque nunca ajo apenas para que hoje seja igual a ontem, mas trabalho a partir da possibilidade de que no amanhã se realizem minhas expectativas, mesmo que de um cotidiano pacato e seguro. Nessa dinâmica, a minha identidade (construída em grande parte pela minha história) e a identidade coletiva (construída em grande parte pela história nacional) são fundamentais. E aqui está a ligação entre a consciência histórica e o ensino de história, bem como com os vários usos sociais que o conhecimento histórico assume (CERRI; 2011; p. 15). Os professores também são responsáveis pela construção da consciência histórica, podendo legitimar aquelas estabelecidas e/ou contribuir em novos discursos a partir da identidade. Cerri (2011) discorreu sobre o que se acabou de afirmar: Logo, os professores de história somos também protagonistas desse jogo, voluntária ou involuntariamente, consciente ou inconscientemente. Produzimos, com nosso trabalho, parte de nossas identidades pessoais, políticas e profissionais, e participamos da constituição das identidades dos outros (CERRI; 2011; p. 16). A identidade coletiva se confunde com a identidade individual. Pode ser que a identidade individual tenha características particulares, porém é rodeada de influências externas (coletivo) com as quais o mesmo sujeito também contribuiu para essa criação. A consciência histórica, do mesmo modo que a identidade é construída pelo coletivo. As narrativas sobre o movimento dos caras pintadas são consciências históricas construídas ao longo da História pelos sujeitos oriundos de diversas realidades, politizados ou não, participantes ou não do fato histórico, com mais ou menos saberes. Luis Fernando Cerri (2011) discorreu sobre a vertente de dois pensadores de tempos diferentes, Agnes Heller e Jörn Rüsen. Para eles, a consciência histórica é um das condições do pensamento e não está restrita a um determinado período de tempo (CERRI; 2011; p. 28). Cerri ainda aponta que o professor é capaz de identificar e trabalhar com a consciência histórica dos sujeitos no processo educativo: Se o ensino da história implica o gerenciamento dos objetivos curriculares e das concepções de tempo e de história que os alunos já trazem consigo desde fora da escola, então o professor de história definitivamente não é um tradutor de conhecimento erudito para o conhecimento escolar, um simplificador de conteúdos. É, sim, um intelectual capaz de identificar os quadros de consciência histórica subjacente aos sujeitos do processo educativo – inclusive o seu próprio – e de assessorar a comunidade na compreensão crítica do tempo, da identidade e da ação na história (CERRI; 2011; p.18). Essa afirmação de Cerri (2011) vai ao encontro do que já foi discorrido, ou seja, a consciência história está presente no ser humano independente do nível de sua intelectualidade. O caminho percorrido pelo sujeito agrega experiência na construção da identidade pessoal e coletiva, é o espaço que a consciência histórica ocupa nas relações humanas: O espaço que a consciência histórica ocupa nas relações humanas pode ser percebido por diversos elementos, mas o principal (e provavelmente aquele do qual os demais derivam) é a identidade coletiva, ou seja, tudo aquilo que possibilita que digamos nós (e eles) (CERRI; 2011; p.41). As narrativas construídas pela consciência histórica devem ser enxergadas a partir dos contextos de seus criadores. As ideias enraizadas podem proporcionar dificuldades para serem analisadas, dificultando novas abordagens porque foram concedidas com preconceitos (CERRI; 2011; p.62). Sendo assim, as memórias sobre determinados fatos podem ser realizadas negativamente a partir dos discursos gerados pelos dominantes, cujo interesse é defender seus interesses nem que seja preciso omitir ou empregar informações distorcidas. A partir dessa discussão, nos questionamos sobre quais percepções teriam os jovens que ingressaram no curso de História da Universidade Federal do Rio Grande, os quais saíram a pouco do Ensino Médio, tema que discorreremos a seguir. 4.2- Oficina sobre Comportamento Juvenil na História do Tempo Presente A oficina foi realizada com acadêmicos do curso de História (Licenciatura e Bacharelado) da Universidade Federal do Rio Grande em duas etapas e foram destinados quatro períodos de 50 minutos cada. O objetivo desta atividade é se apropriar das narrativas realizadas sobre o movimento dos caras pintadas e compreender qual a relação das abordagens realizadas pelos livros didáticos utilizados pelos universitários no terceiro ano do ensino médio. A escolha da realização da oficina na universidade é por considerar que os graduandos matriculados no segundo semestre do ano de 2013 na disciplina de Teorias e Metodologia I têm uma consciência histórica diferenciada dos sujeitos de outras áreas. Defende-se a hipótese de que os alunos de graduação, principalmente dos cursos das humanas, são mais contestadores e questionadores. Outro fator decisivo para essa escolha é por acreditar na afinidade dos sujeitos que participaram da atividade com a ciência histórica. No início do primeiro dia de oficina, foi entregue aos participantes um questionário (ver anexo) para se obter algumas informações em relação à trajetória dos sujeitos e conhecimentos prévios sobre o assunto. Após todos terem respondido e o material ser recolhido, foi realizado uma dinâmica de leituras de imagens. Foram espalhadas imagens do movimento dos caras pintadas e das manifestações que aconteceram em 2013 pela sala enquanto os participantes as analisavam. Após alguns minutos, foi solicitado que cada estudante permanecesse próximo a imagem que mais lhe chamou atenção e conversasse com os demais, partilhando as impressões e sentimentos ao visualizá-la. Diante do grande grupo, foi solicitado que um representante do grupo menor fizesse uma explanação sobre o contexto histórico, quais sensações e percepções que tiveram a partir das observações. Após as análises das imagens, foi realizada uma “explosão de ideias”, que consiste em escrever palavras, neste caso um conceito, no quadro ou em qualquer outro material para provocar os demais para uma reflexão no coletivo. A reflexão em questão foi sobre “protagonismo juvenil”. À medida que cada acadêmico partilhava uma ideia sobre o termo proposto para reflexão, anotações foram sendo realizadas. No segundo dia da oficina, foi exibido um documentário1 intitulado Era uma vez um presidente - Collor, impeachment e os caras pintadas, produzido por Marina Camargo, Thaísa Gazelli e Ana Pereira, disponível no canal do Youtube. Após a exibição, foi realizada uma reflexão sobre o vídeo e foi criado o perfil da juventude das décadas de 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010 a partir das contribuições e memórias dos acadêmicos. Em cada década, procurou-se pensar sobre a vestimenta, música, fatos históricos, filme, culinária, esporte, moda... Para finalizar, foram entregues alguns questionamentos (ver anexo) sobre o tema estudado para perceber quais os conhecimentos adquiridos e quais os discursos adotados pelos acadêmicos depois dos momentos de discussões na oficina. As questões deveriam ser respondidas após análises de três fontes: o documentário exibido, imagem e trecho de um artigo sobre o movimento dos caras pintadas, disponibilizados no próprio material entregue. A atividade foi preparada a partir das orientações de Isabel Barca (2004), que propõe a metodologia oficina aula, que permite que os sujeitos participem ativamente em todo o processo, construindo de forma coletiva o conhecimento. Ela aponta para a relevância dos conhecimentos prévios e que o conteúdo a ser trabalhado tenha alguma ligação com os educandos: Lecantar e trabalhar de forma diferenciada as idéias iniciais que os alunos manifestam tacitamente, tendo em atenção que estas idéias prévias podem ser vagas ou mais precisas, mais alternativas à ciência ou mais consistentes com esta. Propor questões orientadoras problematizadoras, que constituam um desafio cognitivo adequado aos alunos em presença e não apenas um simples percorrer de conteúdos sem significado para os jovens (BARCA; 2004; p.135). Para a autora, é importante identificar os conhecimentos existentes nos educandos através de tarefas e outras estratégias (trabalho escrito individualmente ou em grupos) para, a partir daí, avançar no objetivo da atividade. A interação e troca de conhecimento entre os pares é relevante para o estudo. 4.3- Perfil dos Participantes e Narrativas sobre o Movimento dos Caras Pintadas Diante das narrativas que o ser humano é capaz de realizar e considerando que são construídas ao longo de sua trajetória, experiências formativas adquiridas e de materiais 1 Documentário: Era uma vez um presidente - Collor, impeachment e os caras pintadas. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=QQjs9nMdT7I acessados que influenciam na construção de um conhecimento histórico, indaga-se sobre a influência do livro didático na construção de uma leitura sobre o movimento dos caras pintadas. Para isso, é preciso tecer algumas considerações sobre a trajetória dos participantes da oficina para compreender as visões sobre o fato histórico. Participaram da oficina 39 acadêmicos, porém somente 21 (11 mulheres e 10 homens) se fizeram presente nos dois dias da atividade. Serão utilizados para análises somente os materiais produzidos por aqueles que se fizeram presente nas duas etapas da oficina. As análises qualitativas, assim como realizadas nos livros didáticos, foram a partir da perspectiva de Moraes (2007). No gráfico a seguir, podem-se observar algumas informações sobre os acadêmicos que participaram da oficina realizada. No público participante da oficina, no que refere ao sexo feminino, a predominância é de jovens e, no sexo masculino, a quantidade é igual entre jovens e adultos. Os sujeitos que estão acima de 30 anos, a maioria, são homens, diferentemente daqueles que estão na faixa etária entre 15 a 29 anos, que são do sexo feminino. A maioria estudou em escola pública e 71% (totalizando homens e mulheres) utilizaram o livro didático no terceiro ano do ensino médio. Ao relatar sobre a utilização do livro didático, é notável a mudança de opiniões sobre esse recurso didático e a utilização, muitas vezes mecânica, conforme se pode perceber nas seguintes frases: - Na minha escola da época, o livro era utilizado apenas para a realização de pequenos questionários e, mesmo assim, era raro (Sujeito D). - Eu acreditava no que estava no livro, era a verdade absoluta. Não discordava e não tentava saber se realmente era a verdade absoluta (Sujeito Q). - Eram Livros que contavam apenas uma versão da história (Sujeito M). - De que o livro seria absoluto, de que nele teríamos uma base sólida de conhecimento (Sujeito P). O sujeito D expõe que a utilização do livro pelo professor não era frequente, porém, quando usado era da mesma forma. Os sujeitos Q e P afirmam que tinham o livro didático como verdade absoluta, já o sujeito M aponta que era apresentada apenas uma versão da História. Essas afirmações realizadas comprovam o que foi discutido no primeiro capítulo no que se refere à importância dada pela comunidade escolar ao livro didático e que, na maioria das vezes, o educador não adverte os alunos sobre a capacidade da construção ideológica deste material, que é tendencioso. Nos dados sobre a participação em organizações, percebe-se que as mulheres estão mais engajadas do que os homens. Cabe salientar que tanto no sexo masculino quanto no sexo feminino aqueles que estudaram na escola privada participavam de alguma organização. Dentre as organizações que foram citadas, as que mais apareceram foram: grupos de jovens da Igreja Católica, grupo de jovens Espíritas, movimentos sociais e sindicatos dos trabalhadores. A partir destas informações e das que foram discorridas nos questionários, é visível a presença das religiões para a fomentação do protagonismo. Inspirado por Barca (2001), que se utilizou de outros referenciais, estabeleceu-se três perfis em relação às argumentações prévias sobre o assunto, como: respostas menos elaboradas e fragmentadas; posicionamentos padrões e do senso comum e respostas reflexivas e críticas. O perfil 1- caracteriza-se por respostas rápidas e fragmentadas, ideias sem conclusão e confusas, muitas vezes sem argumentações. Quando indagados sobre a compreensão do protagonismo juvenil, este perfil, em geral, responderam que é tudo aquilo referente ao jovem e que chama atenção para si. É a liberdade da juventude em se comportar como deseja. A seguir, algumas frases que elucidam o que foi discorrido: - Quantos certos aspectos e estatísticas são liderados por jovens (Sujeito S). - É quando se toma as decisões, somos nós mesmos, agimos da forma que achamos certo (Sujeito G). - Compreendo que o protagonimo juvenil é a área onde só o jovem atua como prioridade (Sujeito E). - A grande atuação dos jovens nos movimentos sociais (Sujeito A). - Minha compreensão a respeito do protagonismo juvenil, tendo em vista a área da educação, onde o jovem assimila as informações que são passadas, e em contra partida gera informações de acordo com assunto, no final atribuirá o seu posicionamento de ponto de vista próprio (Sujeito T). Nas respostas destes sujeitos pertencentes ao perfil 1, percebe-se que o posicionamento em relação ao protagonismo juvenil é considerado simplesmente qualquer ação desempenhada por jovens (sujeito S, G e E). Ainda afirmaram que o protagonismo juvenil está ligado a uma área de atuação, como os movimentos sociais (sujeito A), desconsiderando outras organizações. O sujeito T, ao relatar sua compreensão sobre protagonismo, o realiza de forma confusa, como se o jovem fosse um agente propagador de ideias já estabelecidas. Em relação ao movimento dos caras pintadas, os universitários fizeram considerações sobre a saída do presidente Fernando Collor de Mello. Vários não souberam responder ou mencionaram a fonte de seus conhecimentos, mas é visível que o movimento é caracterizado por 57, 1 % dos que participaram da oficina, como uma organização que simplesmente exigiu a saído do presidente, porém, não é atribuída ao jovem a participação nos caras pintadas e nem considerado o papel da mídia durante esses acontecimentos. As frases a seguir comprovam o que foi afirmado acima. - Foi um movimento criado para o impeachment do presidente Collor (Sujeito E). - Nenhum, não era nascido (Sujeito F). - Foi um movimento para pedir impeachment do então presidente Collor (Sujeito G). - Foi o movimento que os brasileiros fizeram para a retirada do presidente Collor da presidência (Sujeito J). - Movimento Juvenil em protesto à situação política no governo de Collor (Sujeito D). - Caras pintadas ficou marcado como o protesto para o impeachment do presidente Collor (Sujeito Q). - Quase nenhum. Só que foi o movimento para tirar o Collor do poder (Sujeito S). Quando questionados sobre as motivações que levam a juventude a se organizar para reivindicar e assegurar os seus direitos, as respostas obtidas foram: a busca por melhorias nas condições de vida, insatisfação em relação ao status quo e insatisfação ao governo. Apenas o sujeito N apontou para outra visão no que se refere às motivações da organização juvenil, conforme frase a seguir: - Na sua grande maioria, nem sabem o que estão falando nas passeatas, vão porque outros estão lá (Sujeito N). O sujeito em questão se contradiz ao afirmar que a juventude participa das manifestações por causa da presença de outros jovens, negando as lideranças que pensaram e organizaram os atos públicos. Ou ele ignora a juventude organizada ou esqueceu-se de mencionar quem foi que motivou os demais a saírem às ruas. No perfil 2 predominam-se posicionamentos padronizados com resposta do senso comum, com informações certamente influenciadas pelos livros didáticos e sem reformulação pessoal. No que tange as respostas sobre o protagonismo juvenil, ficou evidente uma visão mais elaborada que no perfil anterior. Segue alguns posicionamentos sobre a questão: - Penso que seria uma juventude atuante, protagonista de seu tempo (Sujeito P). - O protagonismo seria a participação do jovem em diferentes movimentos ou grupos sociais, os quais estão reunidos por direitos ou enfatizando uma causa específica (Sujeito K). - Protagonismo juvenil, no meu ponto de vista, é a participação da juventude nas questões decorrentes de uma sociedade, sejam elas políticas, sociais, religiosas... (Sujeito I). - Penso que protagonismo juvenil consiste em ter a participação social, independente do grupo, se for político, religioso, etc. Tentando sempre fazer a diferença no seu meio onde vive. - Protagonismo é a pessoa que atua ou participa de grupos, ou se insere na sociedade de maneira atuante (Sujeito O). - Protagonismo Juvenil seria a participação mais intensa do jovem em atividades que, geralmente, não são de interesse da juventude. Seria possível dizer que é a tomada de consciência, pelo jovem ou adolescente da dianteira dos movimentos e situações fora do seu cotidiano. (Sujeito B). Embora a percepção acerca do protagonismo juvenil seja mais elaborada, as posições estabelecidas do que é ser protagonista estão relacionadas a atuar nas questões fora do cotidiano, como ficou evidente na resposta do sujeito B. Protagonismo juvenil está muito mais associado à participação política do que escolhas conscientes dos jovens, independente das ideologias. Há semelhanças nas narrativas sobre o movimento dos caras pintadas realizadas pelos universitários e as abordagens feitas pelos autores nos livros didáticos. - Foi um movimento que começou pela mídia, que ganhou notoriedade pela mídia, mas que ajudou no processo do impeachment do então presidente Fernando Collor, acusado de corrupção (Sujeito B). - Foi o movimento estudantil liderado pela UNE, que convocou todos a irem às ruas pedirem o afastamento do então presidente eleito Fernando Collor de Mello, e resultou na sua cassação (Sujeito O). - Foi o movimento em que o povo saiu para rua pedindo a saída do presidente Fernando Collor de Mello (o caçador de marajás), movimento esse que começou com os jovens nas faculdades (sujeito C). - Foi um movimento pelo impeachment do presidente da época, Collor. Eles foram às ruas protestar com os rostos pintados, reivindicando a saída de Collor da presidência (Sujeito P). - Foi um movimento que pediu o afastamento do presidente Collor. Esse movimento foi organizado principalmente por estudantes que saíram às ruas com as caras-pintadas (Sujeito M). Embora o movimento dos caras pintadas tenha sido uma organização, sobretudo de jovens ligados à União Nacional dos Estudantes, com sentimento de insatisfação contra o governo de Fernando Collor de Mello, alguns aspectos além deste são relevantes salientar no que diz respeito sobre o comportamento da juventude. A mídia com certeza influenciou muitos sujeitos a participarem das manifestações, mas não a ponto da organização em âmbito nacional, conforme afirmado em livros didáticos e narrativas realizadas sobre os caras pintadas. Ao serem questionados sobre os sentimentos que motivaram as juventudes a se organizarem, as respostas que expressam o pensamento de todos os sujeitos do perfil 2 foram as seguintes: - Uma forma de consciência coletiva e que influenciada por outras coisas acaba levando todo mundo a protestar (Sujeito M). - Descontentamento com a política, condições de vida que vão contra as condições necessárias (Sujeito P). Assim como no perfil 1, as motivações para a organização da juventude são a insatisfação com o que está estabelecido, decepções com o governo e descontentamento com a política. Somente um dos participantes se enquadrou no perfil 3, cujas características são de aprofundamento, críticas e reflexões em relação ao movimento dos caras pintadas, porém, ao discorrer sobre sua compreensão acerca do protagonismo juvenil, poderia pertencer ao perfil 2, conforme pode-se comprovar a seguir: - Movimentos juvenis de engajamento político, que se organizam com a perspectiva de reivindicarem um conjunto de ideias (Sujeito R). Ao relatar sobre o movimento dos caras pintadas, o sujeito traz personagens desconhecidos para os demais participantes da oficina, além de realizar uma reflexão sobre o comportamento da juventude e da mídia frente ao fato histórico. - O movimento dos Caras Pintadas ocorreu no início de 90, no governo de Collor, protagonista da campanha “Fora Collor”. O movimento foi composto, essencialmente, pela juventude e tinha a figura de Lindberg Farias, então presidente da UNE, seu líder. Apesar da sua legitimidade, os caras pintadas também é um belo exemplo de manipulação da grande mídia. Sabe-se que o Sr. Fernando Collor foi eleito graças a Rede Globo de Televisão, porque naquele momento o mesmo se apresentava como o que atendia seus interesses. Depois do desastroso início de governo, a Globo percebendo que representava mais como um problema que solução (Sujeito R). Apesar da padronização ao narrar sobre o movimento dos caras pintadas, o sujeito R realizou reflexões sobre o comportamento da mídia no fato histórico. Não cabe aqui avaliar se as considerações são corretas ou incorretas, mas conhecer as narrativas sobre o movimento dos caras pintadas. No que se refere sobre as motivações que levaram as juventudes a se organizarem, o sujeito relatou duas possibilidades, sendo uma delas o processo histórico de engajamento social e a outra a manipulação da mídia. Para estabelecer breves comparativos entre o movimento dos caras pintadas e as manifestações que aconteceram no ano de 2013, intituladas Black Bloc2, as perguntas finais se referiram à participação dos sujeitos em ambas as manifestações e o papel da mídia na cobertura dos fatos. Todos os sujeitos aqui organizados por perfil dão legitimidade ao movimento dos caras pintas e questionam as pautas das manifestações juvenis que aconteceram no ano de 2013. Nos dois fatos históricos, a mídia não deixou de ser tendenciosa, legitimou o movimento dos caras pintadas e marginalizou o Black Bloc. Ninguém participou do movimento dos caras pintadas devido à idade ou por ser militar, como ficou evidente em duas respostas. Já nas manifestações ocorridas no ano de 2013, os números de participantes totalizaram seis, dos quais alguns destes fizeram questão de salientar que participaram enquanto os protestos eram pacíficos. Na segunda etapa da oficina, foi exibido o documentário e construído um perfil de cada década do jovem, com o intuito de apropriar-se do contexto histórico, lutas e organizações juvenis. Essas atividades contribuíram para realizar comparações entre três fontes, fazendo, assim, uma nova leitura sobre o movimento dos caras pintadas, agora com o aporte teórico. Foram usados como fonte o documentário exibido, imagem e trecho de um artigo sobre o movimento dos caras pintadas, que possibilitou analisar e perceber os discursos dos acadêmicos antes e depois da participação na oficina e quais pontos que continuaram fazendo parte das narrativas. Dos 21 participantes, 17 não lembram como foi trabalhado esse acontecimento no terceiro ano do ensino médio e dentre as justificavas estão entre a conclusão do ensino básico a partir de supletivos e que o professor não conseguiu chegar a abordar a História até a década de 1990 por causa do tempo. Alguns mencionaram que os conhecimentos que possuem são a partir dos relatos de familiares e reportagens vinculados na mídia. Aqueles que apontaram a forma como foi trabalhada no último ano afirmaram que o conteúdo foi realizado de forma rápida, sem a utilização de fontes. O segundo questionário possibilitou material para análise para compreender quais as leituras sobre o movimentos dos caras pintadas, a partir de seis questões. A primeira, sobre as 2 Alguns pesquisadores (sociólogos, historiadores, antropólogos...) utilizam-se desse termo para retratar as manifestações juvenis ocorridas esse ano no Brasil. Black Blocks, blocos negros, foi uma estratégica política anticapitalista de que nasceu na Alemanha na década de 1970 com o intuito de destruir patrimônios símbolos do capitalismo, como Mc Donald’s. Utiliza-se de máscaras e roupas pretas como cor da negação, segundo Carvalho (2013). fontes, com o intuito de perceber se os universitários conseguiam perceber as diferentes vertentes sobre o mesmo assunto. Já a segunda, indagação do objetivo, era perceber, através de suas leituras, a posição da mídia em relação ao movimento, como ele foi retratado e fluências para a construção do discurso hoje empregado ao movimento. Na quarta pergunta, a ideia foi de provocar os estudantes para analisar o movimento dos caras pintadas e as manifestações de 2013 para possíveis semelhanças. Na penúltima questão sobre qual das fontes apresentadas se aproximava mais com o conhecimento histórico de cada sujeito, o objetivo foi de se apropriar do material mais presente na construção das narrativas. Por fim, foi perguntado de que forma o movimento dos caras pintadas foi abordado no último ano do ensino médio, cujos resultados já foram explanados anteriormente. Obtidas as seguintes informações, foi possível a construção deste quadro ilustrativo que possibilitou discorrer sobre o assunto. A necessidade desta visualização partiu utilizando a proposta de Moraes (2007) sobre categorias emergentes. Categoria: Movimento dos Caras Pintadas Unidade de Referencia Relações Visão sobre Motivações estabelecidas a mídia para entre as fontes surgimento dos pintadas Satisfatório Satisfatório Sujeito Sim Sim A X Não X Satisfatório Sim Não X Satisfatório Sim X C X X X X E F X X X X G X X H X X I X X J X X K X X X X X X X X X X Não X X X Sim X X X Satisfatório X X X Não histórico X X ao e conhecimento Black Bloc B D Fontes o entre os caras próximas caras pintadas Não Semelhanças X X X X X X X X X X X X X L X M N X X X X X X X O X P X X X X X X X X X X X X X X X X Q X X X X X R X X X X X S X X X T X X X X X X X X U X X X X Compreender a capacidade dos participantes da oficina em ler fontes diferenciadas sobre o mesmo fato histórico foi o objetivo neste primeiro momento. Conforme se pode notar, 52,4% responderam de forma satisfatória, percebendo que as fontes além de serem de linguagens diferentes, traziam pontos de vistas variados. Apontaram para as defesas dos jornalistas no documentário e ainda questionaram sobre as origens do material pesquisado. Os demais, totalizando 47,6%, simplesmente descreveram as informações que cada fonte apresentava, sem fazer relações entre elas. Para elucidar, utilizou-se a resposta do sujeito A, que conseguiu atingir o esperado, discorrendo de forma simples e breve, e do sujeito C, que analisou de forma superficial, não aproveitando as particularidades de cada uma: - Elas apresentam visões diferenciadas do mesmo fato. Cada qual mostrou a atuação dos estudantes diante do movimento Fora-Collor, porém com visões diferenciadas, algumas valorizando menos a participação e outras mais (Sujeito A). - As relações são as razões das manifestações, a pedido de saída, ou seja, impeachment do presidente (Sujeito C). A resposta do sujeito C demonstra a dificuldade em analisar as fontes, considerando os diversos contextos históricos e por quem foi produzido. Os resultados em relação ao comportamento da mídia em retratar o movimento dos caras pintadas foram iguais se tratando de porcentagem em relação ao primeiro questionamento. Porém, no que se referem a respostas satisfatórias, os acadêmicos mencionaram sobre a mudança de discurso da mídia sobre os caras pintadas, percebendo que ela criminalizou, em alguns momentos, as manifestações, não fazendo questão de tentar esconder a imparcialidade, manipulando a opinião pública. A resposta do sujeito J demonstra, de forma geral, as reflexões realizadas pelos universitários, que de forma satisfatória responderam a questão: - A mídia, após ter apoiado muito a eleição do presidente Collor, após a descoberta do desvio ficou contra o presidente. A mídia começou a “valorizar” os caras pintadas e eles não foram colocados como vândalos ou baderneiros e sim jovens que foram às ruas pelo país (Sujeito J). A resposta que acabou de ser discorrida traz os pontos abordados pela maioria dos acadêmicos. As posições consideradas insatisfatórias responderam generalizando o comportamento da mídia, não percebendo seus diversos interesses. Nesta outra resposta, fica clara a falta de argumentos sobre os meios de comunicação, neste caso a televisão: - Do conhecimento que tenho sobre isso, a mídia, por já ter apoiado o Collor em sua eleição, fez o que pode para que ele continuasse no cargo de presidente, indo contra os movimentos dos caras pintadas (Sujeito P). Para as considerações sobre as motivações que levaram à organização dos movimentos dos caras pintadas, as respostas satisfatórias totalizaram 66,7%. Porém, cabe salientar que em nenhuma das respostas foi mencionado que a União Nacional dos Estudantes foi a organização que tomou iniciativa nos protestos e que as manifestações que acorreram em diversas cidades brasileiras foram aderidas pela comunidade civil e outras organizações. Nas respostas, destaca-se o desgosto pelo governo de Fernando Collor de Mello, envolvimento em escândalos e esquemas de corrupção, como se pode perceber a partir dessas respostas: - A forte problemática na economia brasileira, péssimas condições sociais, desemprego, instabilidade da moeda, inflação... entre outros (Sujeito D). - A insatisfação quanto a situação do Brasil no período governado por Collor, como também pode-se apontar o foco dado pela mídia nas questões sociais e econômicas do país (Sujeito K). Foram consideradas respostas insatisfatórias aquelas que, de forma breve, responderam sem argumentar e problematizar a questão. A maioria respondeu que o que motivou a organização dos protestos foi a saída de Collor do poder, porém não mencionou por que ele deveria sair da presidência ou afirmou que a mídia simplesmente organizou o movimento, pois tinha interesse de retirar o mesmo presidente que ajudou a eleger. - Queriam ver Collor fora do poder (Sujeito F). Em relação às respostas sobre as semelhanças entre o movimento dos caras pintadas e os black bloc, 15 das 21 foram consideradas satisfatórias, pois os universitários fizeram críticas e pautaram suas considerações sobre o questionamento. As respostas realizaram ponderações sobre os diferentes contextos históricos e reivindicações, porém, consideraram que a participação foi em sua maioria de jovens e pelo fim da corrupção na política brasileira, conforme podemos notar nestas respostas: - Sim, principalmente no que diz respeito a necessidade de um Brasil melhor e menos corrupto (Sujeito P). - Ocorrem semelhanças quando se refere à mobilização dos jovens insatisfeitos por inúmeras situações do país (Sujeito K). As respostas consideradas insatisfatórias são aquelas que os universitários realizaram de forma confusa, generalizada ou com uma leitura já padronizada que faz parte do discurso do senso comum. Nas respostas a seguir, é possível identificar a distorção das pautas dos movimentos, neste caso dos que aconteceram em 2013 e de sua constituição enquanto grupo. - Não há semelhanças. A do Collor havia uma grande união da população e as do ano de 2013 não havia união (Sujeito M). - Sim. Ambas tinham como objetivo tirar alguém do poder e garantir melhorias (Sujeito S). A última resposta aqui explicitada afirma que em ambas as manifestações o objetivo era a retirada de alguém do poder. Em 1992, a pauta maior do movimento dos caras pintadas foi o impeachment de Collor. As manifestações intituladas Black Bloc foram motivadas por diversas pautas, dentre elas o transporte público, que acabou dando visibilidade e formação de grupo por um único objetivo. O discurso da saída de “alguém do poder” foi iniciado por poucos sujeitos de oposição ao atual governo, porém não teve êxito nas ruas. Essa afirmação demonstra que os discursos propagados pelos sujeitos não são questionados ao serem ingeridos ou aproveitam-se de tais acontecimentos para legitimar suas ideias ou distorcer os fatos. Quando questionados sobre qual a fonte mais próxima dos conhecimentos históricos, a resposta foi de 85,7% satisfatório, enquanto 13,3% dos acadêmicos responderam de forma insatisfatória. Foram consideradas respostas insatisfatórias todas aquelas que fugiram da pergunta ou que responderam de forma confusa, não justificando sua escolha, conforme as respostas a seguir: - Fotografia, acho mais acessível (Sujeito N). - As duas. Vivenciei ambas e a primeira marcou mais, pois o desrespeito de ser demitido junto com outros 107.000 (cento e sete mil) trabalhadores de empresas estatais e até hoje não recebemos a anistia, as demissões foi considerado ato político. A atual participei, sobretudo o que na realidade não seriam 20 centavos o moti principal da luta, mas novamente os políticos que nós colocamos em seus mandatos que nos traem (Sujeito O). Percebe-se que na última resposta o sujeito confundiu-se ao responder o que foi solicitado, pois ele não faz nenhuma relação com as fontes trabalhadas na oficina. Já a primeira resposta, apesar de justificar, faz isso de maneira ampla e vaga. As respostas consideradas satisfatórias foram todas aquelas que justificaram de forma clara a indicação da fonte que traz mais informações e se aproxima do conhecimento histórico de cada sujeito. A grande maioria informou o documentário e, nas justificativas, informaram que as narrativas que possuem sobre o movimento dos caras pintadas são parecidas com as vinculadas na mídia e com o conhecimento repassado na escola. A imagem foi a segunda fonte mais escolhida e as respostas a seguir demonstram a capacidade de construção de uma consciência histórica produzida pelos livros didáticos: - Fonte 2, pois muitos livros históricos trazem esses fatos do movimento (Sujeito H). - A imagem, porque me lembro dela num livro didático que tive no médio e acho que é uma ótima forma de representar o movimento (Sujeito J). - A fonte A se aproxima mais ao conhecimento, pois se faz muito próxima à forma apresentada no livro didático, assim como a fonte 2 (Sujeito K). Nestas respostas, ficou claro o quanto a mídia e o livro didático contribuíram para a formação da consciência histórica dos sujeitos. Ambos os materiais, televisão e livro didático, estão acessíveis à maioria dos brasileiros. A primeira é considerada o meio de comunicação mais difundido e presente nas diversas realidades brasileiras, independente de condições sociais. O livro didático é distribuído gratuitamente através de programas do governo a todos os estudantes da rede pública de ensino. Mesmo nas escolas, onde o número de exemplares não é suficiente para serem distribuídos para os educandos, os livros ficam disponíveis na biblioteca para empréstimos ou utilização pelos educadores na sala de aula. Nas narrativas e participação dos universitários na oficina, ficou evidente a dificuldade em interpretar os documentos, cuidando para compreender o contexto em que foi produzido e por quem. Mesmo com material diferenciado sobre o movimento dos caras pintadas com informações com outro viés, os discursos prévios que estão enraizados são presenças fortes em suas narrativas. Inúmeros foram os momentos, durante a oficina, na partilha para o grande grupo, de forma padronizada ao legitimar o movimento dos caras pintadas como um grupo uniforme e de membros com pauta definidas. Já as narrativas sobre as manifestações que aconteceram no ano de 2013, a maioria fazia questão de salientar a presença dos baderneiros e dos pacíficos. Estas últimas não tinham a mesma união e foco que o movimento dos caras pintadas na perspectiva dos participantes da oficina. O conhecimento histórico adquirido durante a formação básica com certeza faz parte da consciência histórica destes sujeitos, porém, são mais evidentes os posicionamentos da mídia do que uma posição contrária. Cabe salientar que a forma como o movimento dos caras pintadas é retratado nos livros que foram analisados no capítulo anterior se aproxima muito mais do discurso midiático e dos grupos dominantes do que de um material que fomenta a criticidade do educando. Outro fator é em relação ao protagonismo juvenil. A maioria dos participantes está na faixa etária considerada jovem pelo estatuto da juventude e grande parte está cursando licenciatura em História e possivelmente irão trabalhar com jovens em sala de aula, porém, não fazem reflexões sobre o assunto ou reproduzem preconceitos já estabelecidos para o público juvenil. É relevante salientar que os livros didáticos, o recurso mais utilizado na aula de História a partir dos relatos dos participantes de oficina, não trazem essas abordagens e não contribuíram para a formação do educando enquanto sujeitos históricos, simplesmente trazem informações sobre o passado e o educador deve estar atento. Considerações Finais Por se tratar de um fato histórico recente, ainda é possível realizar rodas de conversas e pesquisas com militantes do movimento, sendo que os pais dos próprios educandos podem ter participado das manifestações. É relevante dar atenção a essa abordagem do movimento dos caras pintadas, e também de outros fatos históricos que demonstram o protagonismo juvenil, pelo simples fato de os educandos poderem se enxergar como sujeitos transformadores da realidade. Na oficina realizada com os acadêmicos dos cursos de História Bacharelado e Licenciatura, ficou evidente que, mesmo a maioria estando na faixa estaria considerada jovem pelo estatuto da juventude, eles têm dificuldade de se posicionarem nos assuntos referentes às juventudes. As narrativas realizadas sobre as manifestações do ano de 2013 foram reproduções, em sua maioria, dos discursos disseminados pela mídia, assim como a representação do movimento dos caras pintadas. Esse último ainda sofre influência da forma como foi representado nos livros didáticos. É possível perceber que as leituras dos universitários sobre o movimento que exigiu a saída de Fernando Collor da presidência da república é padronizada e semelhante à forma como é abordado no livro. Diante destas circunstâncias, percebe-se que o livro é propagador de discursos e ideologias e estas estão a serviço de um grupo dominante que autoriza ou não a publicação das obras que serão distribuídas gratuitamente nas escolas públicas brasileiras. A utilização mecânica do livro didático ou manual a ser seguido sem ser contestado contribui para estabelecer o descrédito com a disciplina de História em alguns espaços escolares. Na atualidade, a atenção dos jovens está voltada para muitas outras possibilidades mais atraentes do que o conteudismo ou a reprodução deste material didático que deveria auxiliar e não conduzir as aulas de História. Referenciais bibliográficos BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In. Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131 – 144. CERRI, Luis Fernando. Ensino de história e consciência histórica. Rio de Janeiro: Editora FGV; 2011. MORAES, Roque. Mergulhos discursivos análise textual qualitativa entendida como processo integrado de aprender, comunicar e interferir em discursos. In: GALIAZZI, Maria do Carmo; FREITAS, José Vicente de (Orgs.). Metodologia emergentes de pesquisa em educação ambiental. 2.ed. Ijuí : Editora Unijuí, 2007. ANEXOS Oficina - Comportamento Juvenil na História do Tempo Presente As narrativas deste questionário serão utilizadas na escrita do trabalho de conclusão de curso. Responda com atenção e com o máximo de informações possíveis. Desde já, muito obrigado pela participação. O que você compreende por protagonismo juvenil? Marca a alternativa que compreende sua faixa etária. □ 15 aos 18 anos □ 19 aos 21 anos □ 22 aos 25 anos □ 26 aos 29 anos □ Mais de 30 anos Participa/participou de algum grupo juvenil (igreja, partidos políticos, movimentos sociais...)? Discorra sobre sua participação e objetivo do grupo. Em qual instituição você cursou o 3º ano do ensino médio? □ Pública □ Privada Quais lembranças que você tem do ensino de História no 3º ano do ensino médio? Quais materiais didáticos utilizados pelo seu educador de História no 3ª ano do ensino médio em sala de aula? Quais lembranças que você tem em relação ao livro didático de história durante sua formação na educação básica? Quais conhecimentos você tem sobre o movimento dos caras pintadas? Você foi um cara pintada? De que forma você participou das manifestações? Em sua opinião o que leva a juventude a se organizar e participar de manifestações como o movimento dos caras pintadas? Quais relações podem ser estabelecidas entre os movimentos dos caras pintadas e o Black Bloc? Você participou das manifestações, intitulada Black Bloc, em sua cidade? Em sua opinião, qual o papel da mídia em ambas as manifestações? Oficina - Comportamento Juvenil na História do Tempo Presente Fonte 1 Os caras pintadas surgiram nesse período como figuras de destaque entre as diversas forças responsáveis pela derrocada do primeiro presidente eleito por voto direto em quase trinta anos. Esse movimento de caráter estudantil se tornou uma espécie de “porta-voz” do movimento Fora - Collor junto à esfera pública, mesmo existindo outras entidades civis nesse cenário e com esse mesmo objetivo. Suas manifestações se tornaram emblemas da participação popular na campanha para a saída de Collor devido, principalmente, a sua visibilidade adquirida. Thales Torres Quintão. Disponível em: http://www.usp.br/anagrama/Quintao_caraspintadas.pdf Fonte 2 Fonte 3 Vídeo: Era Uma vez um Presidente Collor, Impeachment e os Caras Pintadas Produção Marina Camargo e Thaísa Gazelli ARAÙJO, Jorge. Sem título. São Paulo; Fotografia; 16/8/1992. Foto 1 1) Quais as relações que você estabelece entre as fontes? 2) Qual foi o comportamento da mídia em relação ao movimento dos caras pintadas? 3) Quais motivações que levaram para o surgimento dos caras pintadas? 4) Há semelhanças entre os caras pintadas e as manifestações ocorridas no ano de 2013? 5) De todas as fontes, qual mais se aproxima mais com os teus conhecimentos históricos? Por quê? Você lembra como esse fato histórico foi trabalhado no 3º ano do ensino médio? Discorra sobre.