COMPORTAMENTO SEXUAL DE RISCO EM ESTUDANTES DE
PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Ellidja Evelyn de Sousa Barbalho
Lúcia Maria de Oliveira Santos
Departamento de Psicologia – GEPS – UFRN
Orientadora: Profª. Drª. Neuciane Gomes da Silva
Departamento de Psicologia – GEPS – UFRN
RESUMO
A primeira relação sexual é considerada um marco na vida reprodutiva de qualquer
indivíduo e tem ocorrido cada vez mais cedo, fenômeno que tem sido acompanhado por
alguns estudiosos brasileiros. As práticas sexuais na juventude, quando se configura
como práticas de risco a qual podemos especificar como sexo sem proteção, podem
acarretar impactos significativos na vida reprodutiva desses jovens, como por exemplo,
uma gravidez precoce não desejada ou a ocorrência de doenças sexualmente
transmissíveis como a AIDS. O que pode acarretar em uma interrupção de planos e
consequente adiamento de projetos futuros. Diante disso, objetivou-se investigar a idade
de início da primeira relação sexual, a prática e a frequência de comportamento sexual
de risco no que se refere ao não uso de métodos contraceptivos, em especial a
camisinha, em universitários do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio
grande do Norte. Além disso, também investigou-se a frequência de informações
recebidas na instituição. A amostra foi composta de 35 estudantes, numa média de idade
de 20.66 anos, sendo 80% do sexo feminino. A maioria (65,7%) informou morar com os
pais ou responsáveis. 42,9% possuem renda familiar acima de sete salários mínimos.
68,6% já iniciaram a vida sexual, sendo que 29,16% praticaram sexo pela primeira vez
antes dos 16 anos de idade. Dos que já iniciaram vida sexual 91.66% fazem uso de
contraceptivos, destes 54,16% utilizam pílulas anticoncepcionais e quando se perguntou
sobre o uso de preservativo na última relação sexual apenas 50% fizeram uso. Ao se
questionar sobre informações recebidas no ambiente universitário em relação as
condutas aqui relatadas, 31,4% receberam orientações sobre DSTs e 25,7% sobre HIV.
Logo, o grupo universitário apresenta um perfil interessante em relação à vida sexual e
reprodutiva, uma vez que a aderência à métodos contraceptivos foi satisfatória. No
entanto, observa-se que, embora a amostra seja composta de jovens altamente
escolarizados, a contracepção é cercada por vicissitudes, visto que o índice de uso da
camisinha é baixo, indicando que uma parcela desta população precisa aderi-la como
uso necessário em todas as relações.
Palavras-chave: Comportamento sexual de risco; Psicologia da Saúde; Universitários;
Prevenção.
INTRODUÇÃO
O início da vida sexual, em sua maioria, tem acontecido na adolescência e pode
se configurar como experiências diferenciadas para homens e mulheres. Este é um fator
preponderante que deve ser considerado quando se traz este tema, uma vez que as
questões de gênero têm se mostrado importantes para direcionar escolhas reprodutivas
de adolescentes, particularmente o momento da primeira relação sexual e o primeiro
parceiro sexual. Na maioria das vezes, a iniciação sexual de jovens do sexo masculino
ocorre mais precocemente que a de jovens do sexo feminino. No Brasil, em um estudo
comparativo, a mediana de idade da primeira relação sexual foi de 19,5 anos para as
mulheres e 16,7 anos para os homens em 1996 (SOCIEDADE CIVIL BEM-ESTAR
FAMILIAR NO BRASIL, 1997). Em 1998, 46,7% dos adolescentes do sexo masculino
já haviam iniciado sua vida sexual antes dos 14 anos de idade, ao passo que a proporção
de adolescentes do sexo feminino foi de 32,3% (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). Um
estudo realizado pelo UNESCO em 2002 verificou que os jovens do sexo masculino se
iniciaram, sexualmente, mais cedo, em comparação com as mulheres (AZEVEDO et al.,
2006, citado por RIBEIRO & FERNANDES, 2009). Outro estudo realizado por Pirotta
(2003) mostrou que estudantes de graduação matriculados em uma universidade
estadual paulista a mediana de idade da primeira relação sexual foi de 17 anos no grupo
masculino e 18 anos no grupo feminino.
A primeira relação sexual é considerada um marco na vida reprodutiva de
qualquer indivíduo e tem ocorrido cada vez mais precocemente, fenômeno que tem sido
acompanhado por alguns estudiosos brasileiros. Ferraz e Ferreira (1998) constatam que,
em 1986, apenas 14% dos jovens entre 15 e 19 anos tiveram relação sexual pré-marital,
enquanto que, em 1996, esta proporção subiu para 30%. O estudo feito pelo Ministério
da Saúde (2000) mostrou que a idade média do início da vida sexual encontrada em
1984 foi 15,3 anos entre os homens 16 anos entre as mulheres. Já em 1998, a idade
média verificada diminuiu para 14,5 e 15,2 anos respectivamente.
Esses dados são relevantes porque as práticas sexuais na juventude, quando se
configuram como práticas de risco – a qual podemos especificar como sexo sem
proteção – podem acarretar impactos significativos na vida reprodutiva desses jovens,
como por exemplo, uma gravidez precoce não desejada ou a ocorrência de doenças
sexualmente transmissíveis como a AIDS. Tais acontecimentos podem implicar na
interrupção e consequente adiamento dos planos desses jovens, principalmente no que
diz respeito a conclusão do curso.
Borges e Schor (2007) salientam que a antecipação da primeira relação sexual
está presente nos diferentes estratos sociais, podendo ser considerada como uma
tendência generalizada. No entanto, Melo e Yazaki (1998) mencionam que, entre 1986 e
1996, observou-se uma antecipação do início da vida sexual entre as adolescentes e as
jovens sendo maior entre aquelas que apresentavam menos de quatro anos de
escolarização. A utilização de métodos contraceptivos, por sua vez, também está
fortemente relacionada com o nível de instrução.
Nesse sentido, apesar das informações sobre métodos contraceptivos está
fortemente difundidos, principalmente no que diz respeito à pílula e à camisinha, Vieira
(2003) salientou que não há um conhecimento qualitativamente adequado por parte dos
jovens e adolescentes. Isto facilita o uso inadequado e aumenta a probabilidade de
falhas, o que pode favorecer situações nas quais mitos sobre a eficácia dos
anticoncepcionais são criados ou reforçados. Em contrapartida, alguns estudos não
encontraram associação entre o nível de conhecimento acerca dos métodos
contraceptivos e seu uso entre jovens e adolescentes, revelando que outros fatores
fazem-se presentes na determinação do uso da anticoncepção na primeira e nas relações
sexuais posteriores (ROMER et al., 1994; ALMEIDA et al., 2003). Pirrota (2003)
também corrobora com esta ideia afirmando que o conhecimento dos métodos
anticoncepcionais pelos adolescentes e jovens não possuem correlação com o não-uso.
Para tanto, outros fatores estão implicados nesta dinâmica, como a falta de planejamento
das relações sexuais, os mitos em relação à performance sexual, entre outros como já
mencionado anteriormente.
Leite et al (2007) em seu estudo constataram que os jovens universitários pouco
associam a camisinha à prevenção da AIDS ou outras doenças sexualmente
transmissíveis, bem como da relevância das práticas sexuais seguras e dos riscos
provenientes de relações sexuais desprotegidas.
A situação é preocupante quando, mesmo esperando que o nível de
conhecimento acerca das consequências de determinadas práticas aumente com a
escolaridade, estes jovens continuam praticando-as de forma significativa, como
mostram estudos realizados com jovens universitários. (MIRANDA; GADELHA;
SZWARCWALD, 2005; LEITE et al., 2007; ALVES; LOPES, 2007).
Diante disso, objetivou-se investigar a idade de início da primeira relação sexual,
a prática e a frequência de comportamento sexual de risco no que se refere ao não uso
de métodos contraceptivos – em especial a camisinha – em universitários do curso de
Psicologia da Universidade Federal do Rio grande do Norte. Além disso, também
investigou-se a frequência de informações recebidas pelos alunos da amostra na
instituição.
METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de um recorte procedente de um estudo piloto mais amplo
o qual visa corrigir possíveis falhas, bem como delinear corretamente o estudo em toda
sua amplitude e procedimentos. Por questões de conveniência realizou-se com 35
estudantes do curso de Psicologia de todos os períodos, os quais concordaram em
responder dois questionário: o sócio-demográfico e o National College Health Risk
Behavior Survey (NCHRBS) sobre condutas de saúde desenvolvido pelo Centers for
Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos e validado para estudantes
universitários do Brasil, abarcando uma faixa etária dos 18 aos 28 anos. Este
questionário aborda, entre outros temas, comportamento sexual e informações recebidas
pela universidade sobre tais condutas. A coleta de dados foi realizada nas dependências
da UFRN onde os alunos foram abordados aleatoriamente e informados sobre os
objetivos do estudo piloto. O questionário é individual, anônimo e auto-aplicável. Para a
análise dos dados foram utilizadas técnicas de estatística descritiva. Além disso,
realizou-se também uma análise exploratória univariada para observar a distribuição de
frequências das variáveis estudadas.
RESULTADOS
Participaram do estudo piloto 35 estudantes, numa média de idade de 20.66 anos, sendo
80% do sexo feminino. A maioria (65,7%) informou morar com os pais ou
responsáveis. 42,9% possuem renda familiar acima de sete salários mínimos. 68,6% já
iniciaram a vida sexual, sendo que 29.16% praticaram sexo pela primeira vez antes dos
16 anos de idade. Dos que já iniciaram a vida sexual, 91.66% fazem uso de
contraceptivos, destes 54.16% utilizam pílulas anticoncepcionais e quando se perguntou
sobre o uso de preservativo na última relação sexual apenas 50% fizeram uso. Ao se
questionar sobre informações recebidas no ambiente universitário sobre as condutas
aqui relatadas, 31,4% receberam orientações sobre DSTs e 25,7% sobre HIV.
DISCUSSÃO
Frente ao exposto, verificou-se que, neste grupo de universitários, a maioria já
iniciou a vida sexual, contando com uma parcela significativa que o fizeram antes dos
16 anos de idade, salientando-se que o preservativo foi o método mais utilizado. Esse
dado corrobora com outros estudos que apontam uma queda da idade média do início da
vida sexual, como o estudo do Ministério da Saúde que constatou – em 1998 – como
idade média para o início da vida sexual, 14,5 anos para os homens e 15,2 anos para as
mulheres. No entanto, em estudos realizados por Alves e Lopes (2008) e por Ribeiro e
Fernandes (2009), os estudantes iniciaram a vida sexual um pouco mais tarde (em torno
dos 17,5 anos), indicando que em nossa amostra há certa precocidade no início da vida
sexual, se comparada a amostra desse estudo.
Contudo, a pouca idade não está relacionada necessariamente a comportamentos
sexuais de risco. Ribeiro e Fernandes (2009) em seus estudos mostram que, caso esse
jovem, que inicia a sua vida sexual mais cedo, estiver bem orientado – sobretudo se o
seu parceiro é da mesma idade – o risco envolvido nessa relação não é tão elevado;
todavia, “sem a orientação necessária, a sexualidade precoce pode causar prejuízos
físicos e emocionais, além de aumentar os riscos de doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs) e de uma gravidez indesejada (ALVES; LOPES, 2008, citados por RIBEIRO;
FERNANDES, 2009).
Na verdade, estudos aponta que há uma relação inversamente proporcional entre
a idade e o uso constante de métodos contraceptivos, isto é, quanto maior a idade,
menor o uso constante do preservativo, ou seja, parece que os jovens estão se
prevenindo mais do que os indivíduos mais velhos, no que concerne às DST's/AIDS.
(BRAGA et al., 2009).
Isso pode ser explicado pelo fato de haver uma prevalência de relacionamentos
mais estáveis com o aumento da idade, levando a um relaxamento do uso da camisinha.
Vários estudos revelam que o não uso do preservativo está associado à confiança
depositada nos parceiros (MOSER; REGGIANI; URBANETZ, 2007; ALVES; LOPES,
2008; BRAGA et al., 2009; RIBEIRO; FERNANDES, 2009). Podemos citar ainda que
há uma tendência de o preservativo ser substituído pela pílula nos relacionamentos
estáveis, correndo-se o risco de o cuidado com a contracepção e a prevenção de
DST's/AIDS ser negligenciado. (ALVES; LOPES, 2008).
Entre as mulheres, o “mito do amor romântico” exerce forte influência no
comportamento preventivo, uma vez que a fidelidade e a confiança no parceiro fixo
tornam a mulher ainda mais vulnerável, salientando-se a dificuldade encontrada por
muitas delas em negociar o uso do condom com seus parceiros fixos, situação que as
tornam potencialmente expostas ao risco de contrair DST/AIDS (RIBEIRO;
FERNANDES, 2009; BRAGA et al., 2009). Já entre os homens verifica-se o uso mais
frequente do preservativo o que estaria associado ao alto número de parceiras sexuais
casuais, pouco conhecidas (BRAGA et al., 2009).
No que diz respeito aos mais jovens, acredita-se que eles encontram-se bem
informados sobre os métodos contraceptivos existentes e as formas de se prevenir das
DST's/AIDS. Em estudo realizado por Alves e Lopes, 2008, há achados de que os
adolescentes universitários apresentaram atitudes positivas em relação à prática
contraceptiva, pois 92,6% opinaram que devem utilizar métodos anticoncepcionais, e
dentre os adolescentes com vida sexual ativa, aproximadamente 82% responderam que
utilizavam algum método em todas as relações sexuais. Contudo, na prática, apesar do
conhecimento adquirido sobre as doenças sexualmente transmissíveis, nem todos
associam o uso da camisinha à prevenção de doenças e sim ao fato de manterem
relações sexuais esporádicas.
Em consonância com esse quadro temos que no Brasil a prevalência de uso dos
métodos anticoncepcionais é alta, concentrada na esterilização tubária (laqueadura) e na
pílula anticoncepcional, utilizadas por 40% e 21% das mulheres, respectivamente
(ALVES; LOPES, 2008).
No presente estudo, 80% dos entrevistados são do sexo feminino, 50% do total
utilizam a camisinha como método contraceptivo, sendo que 54,16% utilizam pílulas
anticoncepcionais, indo ao encontro dos resultados encontrados em outros estudos e que
já foram problematizados nos parágrafos acima sobre o perfil do comportamento sexual
dos jovens universitários, salientando-se as especificidades da população feminina
constituinte desse grupo.
Em nossa amostra, 31,4% dos pesquisados afirmaram terem recebido
orientações sobre DSTs e 25,7% sobre HIV. É um número baixo, corroborando com
estudos que afirmam que a escola/universidade não é o único meio utilizado pelos
jovens para receber informações sobre o tema, apesar de ser um dos meios mais
eficazes. Ribeiro e Fernandes (2009), revelam os meios que os jovens utilizam para
obter informações desse tipo, sendo as revistas e a conversas com colegas os meios mais
utilizados (98,2% e 97, 5%, respectivamente), seguida da abordagem desta temática na
sala de aula (88,5%) e das conversas com familiares (79,2%). Moser, Reggiani e
Urbanetz (2007) defendem que a educação sexual oferecida pelas escolas ainda é um
dos meios mais eficazes de conscientização, levando os jovens a um exercício mais
responsável da sexualidade, por oferecer informações mais adequadas e com maior
nível de veracidade.
Esses dados comprovam a necessidade de aumentar a divulgação de informações
a respeito da sexualidade, já que constatamos o baixo nível de informação em
consonância com o reduzido número de jovens se utilizando de métodos contraceptivos
e da camisinha em nossa pesquisa; embora se saiba que nem sempre o recebimento de
informações determina a prática de condutas sexuais protegidas.
CONCLUSÃO
Acreditamos que a educação sexual sistematizada, que desmistifica as crenças
negativas, e associa o uso dos métodos anticoncepcionais ao prazer resultante da
segurança que eles proporcionam, é um meio eficaz de promover uma mudança nas
práticas sexuais dos jovens universitários. As pessoas precisam ser sensibilizadas
quanto aos riscos reais que elas correm, para que ocorram mudanças de
comportamentos e atitudes, para um exercício sexual seguro. (ALVES; LOPES, 2008).
Evidenciando o fato da nossa amostra ser formada essencialmente por mulheres
(80%), das quais uma grande parcela não utilizou nenhum método preventivo em sua
ultima relação sexual, concluímos que é mister a implantação de políticas voltadas para
uma ampliação da educação sexual que leve em consideração as especificidades desse
gênero e dessa faixa etária.
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